sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

2012: acirram-se os conflitos, face a uma era perdida para os direitos sociais e trabalhistas

Escrito por Valéria Nader, da Redação - Colaborou Gabriel Brito   


Mensalão e eleição serão, inegavelmente, marcas registradas do ano de 2012. Daquelas que vêm primeiro à mente ou aparecem de maneira mais imediata ao senso comum. O primeiro, no entanto, passado o momento de arrebatamento inicial, repleto de rompantes e querelas políticas, ficará para a história como mais do mesmo da política nacional, com a sua equalização por baixo a partir do vale-tudo institucional.  E as últimas eleições municipais tampouco serão capazes de se registrarem mais qualificadamente na memória coletiva, vez que, no geral, não chegaram a modificar de modo substancial a atual composição de forças dominantes.

Na economia mundial, a desaceleração voltou a mostrar força retumbante em 2012, mais notadamente no continente europeu, às voltas com as imposições barbarizantes da chamada Troika. Um processo que, ressalte-se, já vem se delineando bem antes da explosão da crise financeira internacional de 2008, e que não chega a ser surpreendente para quem acompanha o desenrolar da vertente econômica dominante – norteada pela satisfação dos interesses do capital financeiro e das grandes corporações internacionais.

Se o Brasil pôde, por um bom tempo, passar relativamente incólume à degringolada do capitalismo mundial, em especial em sua vertente neoliberal, não foi bem assim em 2012. Estaria aqui uma das novidades do ano que finda? Sim, mas somente para aqueles que têm carregado a imagem do Brasil como uma das ‘meninas dos olhos do capital financeiro’ e que se iludem com a noção de que o país ascendeu socialmente, agora que a classe média comporia uma boa parte da população. Aos olhos de quem se atenta para as frágeis bases em que está assentado o modelo econômico interno, fortemente calcado no consumo de supérfluos, no endividamento familiar e, portanto, em uma expansão insustentável do crédito, não há como não antever que, cedo ou tarde, a barbárie vai se instalar em solo pátrio.

Movimentações e protestos mundiais em reação à forte crise externa e, especialmente, às medidas fiscais restritivas e pauperizantes que vêm sendo impostas têm se alastrado por vários países. E no Brasil, não foi diferente. É certo que, neste ano, houve um forte recrudescimento da reação popular aos atropelos dos direitos das populações urbanas vulneráveis e também às agressões aos povos originários. Os movimentos sindicais mais organizados também irromperam na arena política exigindo, dentre outros, a recomposição de rendimentos há longos anos defasados, em função da negligência dos governos com os setores e o funcionalismo público.

Toda esta movimentação é, sem dúvida, indicativa da agudização da percepção das mazelas e contradições no seio da sociedade, e de que possam começar a se mover alguns dos arraigados e retrógrados alicerces sociais. Trata-se, de todo modo, de uma movimentação ainda incipiente, carente de amplitude e organicidade. E tão ou mais essencial que este caráter incipiente, e a ele associada, esta reação tem sido respondida a partir da lógica vigente em nossa economia e sociedade, qual seja, a lógica de governos submissos aos interesses econômicos e financeiros. A repressão e a violência policial têm aparecido, assim, notoriamente como a resposta mais imediata aos grupos que se organizam na defesa de seus interesses.

Com esta visão em mente, o sociólogo do Trabalho e professor do departamento de Sociologia da USP, Ruy Braga, é o nosso entrevistado especial neste final de ano. Seus estudos, assim como seu mais recente livro, ‘A política do Precariado’ – do populismo à hegemonia lulista, são emblemáticos em meio a este cenário, visto lançarem sobre ele um profundo e sensível olhar.

Um dos destacados registros de seu último livro diz respeito ao processo de concessões reais que embasam aquela que é chamada de ‘hegemonia lulista’, basicamente calcada em um consentimento passivo das bases sociais e em um consentimento ativo por parte das direções sindicais. Neste sentido, o sociólogo ressalta que “as condições de vida e inserção da classe trabalhadora nas cidades e locais de trabalho são muito precárias. A despeito do que ocorreu no mercado de consumo, por conta da relativa desconcentração de renda, as condições de vida são muito limitadas, o que não tem mudado significativamente. Em alguns casos tem piorado, e muito. Portanto, temos um aumento de consumo e, ao mesmo tempo, condições de vida e trabalho muito degradantes”.

Leia a seguir a entrevista completa.

Correio da Cidadania: A ideia do ‘precariado’ é um dos temas de análise de seu último livro ‘A política do Precariado’ – do populismo à hegemonia lulista. O que você destacaria como essencial na apreensão deste conceito e o que o motivou a desenvolvê-lo?

Ruy Braga: O conceito sociológico de precariado já vem sendo utilizado por alguns sociólogos de forma bastante intensa na Europa, em especial na França e Inglaterra, a fim de se pensar a formação daquilo que eles próprios denominam uma classe social de novo tipo. E o que seria uma classe social de novo tipo? Seria aquele conjunto de indivíduos progressivamente expulsos da proteção do Estado de bem estar social, tendo em vista o avanço do neoliberalismo e o aprofundamento da crise econômica.

Significa que, com base nas políticas de ajuste, em especial as chamadas e debatidas políticas de austeridade impostas pela troika (mas, antes disso, com base nas políticas de ajuste que viabilizaram a criação da União Europeia como unidade econômica, a implantação do euro, o Tratado de Maastricht e tudo o que envolvia o contexto da expansão do neoliberalismo), houve uma diminuição da chamada proteção social, ou da amplitude de aplicação dos direitos sociais na Europa.

A flexibilização da contratação de trabalhadores – que em Portugal se dá via contratos livres, que são aqueles feitos via Pessoa Jurídica (PJ), de prestação de serviços – acaba produzindo uma diminuição muito grande do impacto da proteção trabalhista, em especial nos setores mais jovens dos trabalhadores. É a ampliação daquela franja desprotegida do mercado de trabalho, que cresceu nos anos 90 e se tornou muito vistosa e saliente agora, por conta do aprofundamento da crise econômica europeia. De modo que se identifica essa nova classe social, formada pelos indivíduos que sofrem a diminuição da proteção social na Europa.

E quanto à motivação para este estudo, havia uma inquietação da minha parte com relação a tal diagnóstico. Porque, olhando as coisas de uma perspectiva brasileira ou mesmo norte-americana, vemos que, a rigor, a insegurança é a regra, sempre foi assim. No Brasil é regra historicamente estabelecida, através da insegurança do mercado e dos trabalhadores. Eu olhava para aquela discussão e percebia problemas, que, diga-se de passagem, têm a ver basicamente com certa sobreavaliação do papel histórico do chamado compromisso socialdemocrata do pós-Segunda Guerra. Este compromisso foi de fato muito eficiente pra proteger aquela fração branca, masculina, nacional, sindicalizada e adulta da classe trabalhadora. Mas, evidentemente, não foi tão eficiente assim pra proteger a parcela feminina, jovem, imigrante, não qualificada e não sindicalizada – mesmo na classe trabalhadora européia, durante o auge do fordismo. O fordismo socialdemocrata também sempre teve seus descontentes. Mas isso não era muito discutido, não era tão exuberante, já que se tratava de trabalhadores periféricos.

A partir de certo momento, essa franja periférica cresceu muito, e daí vem o precariado. O precariado é nada mais nada menos que a boa e velha superpopulação relativa da qual já falava Marx, ou seja, aquela fração da classe trabalhadora composta majoritariamente por aqueles que entram e saem muito rápido do mercado por falta de qualificação - aquela parcela rural ou da informalidade, setores formados por jovens no primeiro emprego e aqueles que têm ocupações tão degradantes que os obrigam a produzir de forma anormal, ou seja, vender sua força de trabalho abaixo de seu valor. São todos esses fatores somados.

O que tentei fazer foi uma leitura construtivista, do ponto de vista da sociologia marxista, dessa parte da classe trabalhadora que podemos chamar de proletariado precarizado. Procurei separar setores mais qualificados da classe trabalhadora daqueles setores pauperizados (ou lumpenizados) e populares, e concentrar a análise neste proletariado precarizado, formado pelo conjunto de frações da classe trabalhadora. A isso chamei de precariado, aquela classe trabalhadora permanentemente pressionada pelo aumento da atual exploração capitalista e a ameaça de exclusão social.

Correio da Cidadania: Partindo deste olhar, como tem enxergado, de modo geral, o mundo do trabalho no Brasil, especialmente no que diz respeito à condução de políticas e medidas nas áreas trabalhista e sindical nestes dois últimos anos sob o governo de Dilma Rousseff?

Ruy Braga: Eu argumento no livro que o precariado é uma parte fundamental do mundo do trabalho no Brasil. Fundamental especialmente a partir dos anos 90, em função de uma profunda reestruturação produtiva, com integração da economia brasileira à economia internacional, através da liberalização comercial e financeira, mas também pelo fato de que foi a década da multiplicação das formas de contratação, quando tivemos o aprofundamento da precarização. Foi a década do desemprego.

Temos, assim, um manto bastante saliente, notável, do setor precarizado da classe trabalhadora. Viu-se um aumento da informalização, seguido de aumento do desemprego, da exploração, das formas de contrato por tempo determinado, enfim, essas formas não canônicas de contratação - a despeito de a década de 2000 representar certa guinada em algumas tendências, em especial, notavelmente, da informalização, já que esta década foi de maior formalização do trabalho. Apesar disso, o aumento da formalização foi acompanhado do aumento das taxas de volatilidade do trabalho, de flexibilização, da precarização, da terceirização e, consequentemente, do aumento daquele que é o aspecto mais visível da deterioração das condições reais de consumo da força de trabalho, isto é, o aumento dos acidentes e mortes no trabalho.

Percebo que, apesar desse processo de formalização dos anos 2000, temos a reprodução da centralidade de tal precariado no mercado de trabalho brasileiro, que acaba se tornando o principal mecanismo de ajuste anticíclico das empresas, contratando à vontade e consumindo a força de trabalho em condições muito duras. Intensificam turnos e assim têm uma espécie de fórmula de ajuste, com a volatilidade da demanda concentrada especialmente sobre essa fração precarizada do proletariado brasileiro.

Na transição do governo Lula para o governo Dilma, não tivemos grandes novidades do ponto de vista do mercado de trabalho, que continua relativamente estável, a despeito das ameaças de demissão de 2011. Estas ameaças foram contornadas por políticas específicas do governo, principalmente desonerações da folha de alguns setores estratégicos, que consomem muito trabalho, como notoriamente o faz a construção civil. A não ser no contexto da famosa desaceleração econômica, o que evidentemente coloca mais pressão sobre o desemprego e pressiona as empresas a demitirem, não temos percebido um mercado de trabalho muito diferente do que era no governo Lula.

Do ponto de vista sindical, a partir de 2008, percebe-se nitidamente uma elevação do número de greves no Brasil. Tem-se uma retomada da mobilização grevista, que, diga-se de passagem, se acentuou de 2010 para 2011, com um aumento de 27% do número de greves. Algumas delas de abrangência nacional, como a dos bancários e dos Correios. Foram greves longas e com pautas bastante agressivas, exigindo reajustes reais, ganhos e participações, melhorias da condição de trabalho, com forte adesão dos seus trabalhadores. Acredito que esta seja uma tendência para os próximos anos, até porque é uma tendência que vem de 2008.

Portanto, acredito que o futuro aponta para uma retomada da mobilização grevista.

Correio da Cidadania: Ainda neste sentido, um dos registros profundos de seu último livro diz respeito ao processo de concessões reais que embasam aquela que é chamada de ‘hegemonia lulista’, basicamente calcada em um consentimento passivo das bases sociais e em um consentimento ativo por parte das direções sindicais. Nesta linha de raciocínio, o que teria a dizer quanto ao atual patamar das lutas trabalhistas e sindicais e a direção para a qual têm apontado?

Ruy Braga: Eu costumo dizer que o precariado se encontra relativamente satisfeito com o modo de regulação lulista, isto é, com as políticas públicas. Mas, quando nota as relações de trabalho, percebe os limites do modelo de desenvolvimento pilotado por essa burocracia lulista e setores oriundos dos sindicatos.

O argumento é simples: o precariado se sente relativamente integrado pelas políticas públicas (Bolsa-família, aumento do salário mínimo, ampliação do sistema federal de ensino superior, políticas de ampliação do crédito consignado), através de um progresso material relativo e a desconcentração da renda. O precariado percebe tais questões.

Mas, ao mesmo tempo, se dá conta de que, a despeito de tudo isso, aumenta também o endividamento das famílias trabalhadoras. Apesar de existir emprego, é de baixa qualidade; apesar da formalização, ganha-se muito mal. Pra se ter uma ideia, durante o governo Lula foram criados 2,1 milhões de empregos por ano. Porém, destes, 94% (2 milhões) remuneram até 1,5 salário mínimo, ou seja, até 980, 1000 reais. São muitos empregos, mas remuneram muito mal, porque não se requer uma força de trabalho qualificada e sequer é necessária uma qualificação especial. Absorve-se bastante gente, mas em condições degradantes, com salários ruins.

O precariado percebe esta situação, pois a vive no dia a dia. Assim, desenvolve uma relação ambígua com o conjunto do modelo de desenvolvimento formado pelo modo de regulação e o nível de exploração. Esse é o meu argumento.

Correio da Cidadania: Como analisa o nível de inserção sindical, auto-organização e também leitura da realidade dessa parte mais precarizada de nossa classe trabalhadora?

Ruy Braga: O nível histórico de sindicalização da classe trabalhadora brasileira é baixo, historicamente baixo, em especial em setores privados da economia. Se encontrarmos setores com 10%, 15%, de sindicalização, já pode ser considerado muito elevado. Isso mudou profundamente na última década, quando, com o aumento do emprego formal, aumentou-se também o nível de sindicalização. Porém, ainda tem baixo impacto.

Mas o ponto que considero mais importante da questão diz respeito basicamente ao processo de reorganização sindical. Porque, afinal de contas, com um sindicato integrado à estrutura de governo, pelo fato de ter acontecido uma certa fusão entre sindicalismo e Estado, os trabalhadores se veem inseridos numa relação que é mais ou menos a seguinte: por um lado, não podem colocar muita pressão nos governos, porque são aliados; por outro, têm de satisfazer reivindicações de suas bases, pois o sindicalismo está lá pra isso e quem está no comando pode ser substituído numa eleição interna – deixando de lado, obviamente, a questão do gangsterismo sindical.

No entanto, o fato é que o poder sindical precisa de consentimento das bases, o que tem colocado pressão sobre alguns setores, até mesmo do sindicalismo governista. Isso pôde ser percebido na greve nacional bancária, na greve dos Correios, e em várias questões que dirigiram greves de outros trabalhadores. E mesmo sindicalistas lulistas, governistas, se veem pressionados em suas bases e precisam dar resposta - afinal, representar os interesses das bases é uma questão elementar do sindicalismo.

De todo modo, essa integração sindicatos-Estado coloca uma série de problemas. Se pegarmos os dados de greve, vemos que ela é muito forte no BB e na Caixa. E a negociação tende a ser bem mais favorável aos trabalhadores quando a economia cresce a 4%, 5% ao ano, como ocorreu até 2008, diferente de agora, com um crescimento na casa de 1,5%, 1,6%. Essa diferença se viu entre os governos Lula e Dilma. O governo que espera crescer 1% ou 2% ao ano vai endurecer a negociação, em comparação ao que ocorre quando a economia crescia 6%, 7%. Tal fato tem acrescentado tensões dentro do sindicalismo, o que vem levando a uma relativa reorganização do movimento sindical, com o reaparecimento de algumas centrais descoladas do governismo, como a Conlutas e a Intersindical.

Temos uma reacomodação do sindicalismo brasileiro e uma dinâmica mais tensa no sindicalismo governista.

Correio da Cidadania: Tomando os conflitos sociais de forma mais abrangente, o ano de 2012 marca-se de forma relevante por uma série de confrontos, envolvendo, além dos movimentos grevistas de categorias sindicais, a luta pelos direitos indígenas, movimentações sociais em várias esferas e embates das periferias urbanas pela conquista e/ou reconquista de seus direitos. O que poderia dizer sobre 2012 neste quesito e, principalmente, da forma com que os vários níveis de governo, municipal, estadual e federal, têm enfrentado tantas e legítimas demandas sociais?

Ruy Braga: Os governos estaduais e municipais são um desastre total. Governos que militarizaram o conflito social, colocaram a PM pra reprimir famílias de trabalhadores, como no Pinheirinho, enviaram 400 policiais pra desocupar uma reitoria ocupada por 70 estudantes, entre outras repressões policiais. É desastroso do ponto de vista social. Isso evidentemente vai cobrar seu preço, haja vista que em São Paulo já cobrou, com o governo municipal tendo sido conquistado pela oposição petista. E acho que o mesmo acontecerá no nível estadual, a fatura vai ser cobrada.

Isso porque as condições de vida e inserção da classe trabalhadora nas cidades e locais de trabalho são muito precárias, devemos ressaltar. A despeito do que ocorreu no mercado de consumo, por conta da relativa desconcentração de renda, as condições de vida são muito limitadas, o que não tem mudado significativamente. Em alguns casos tem piorado, e muito.

Portanto, temos um aumento de consumo e, ao mesmo tempo, condições de vida e trabalho muito degradantes. E evidentemente nada será resolvido com PM atirando bala de borracha em família de trabalhador. Trata-se de uma forma absolutamente desastrosa, trágica e equivocada de se lidar com a questão social.

O governo federal é um pouco diferente no quesito, mas também não vejo avanços realmente significativos nessa esfera de poder. Não existe reforma agrária séria, por exemplo. Pelo contrário, o governo federal legalizou terras griladas, esqueceu demandas históricas por terra e, através do Ministério das Cidades, fez muito pouco em termos de legalização de terras ocupadas.

Assim, não sou muito otimista quanto à relação entre governos e movimentos, em questões como moradia e luta pela terra.

Correio da Cidadania: 2012 foi também um ano de eleições municipais. O que os resultados dos pleitos municipais de 2012 enunciaram, a seu ver, quanto ao andamento e composição das forças políticas de nosso país?

Ruy Braga: Acredito que houve uma vitória do governismo, consolidando a hegemonia lulista nesse campo da sociedade, na versão micro, mais próxima do cidadão. Mas temos alguns movimentos contraditórios. Eu chamaria a atenção para que os setores populares, plebeus, mais empobrecidos, de fato procuram alternativas. Aqui em São Paulo houve a visibilidade estrondosa da candidatura Russomanno, especialmente em regiões periféricas, o que mostra certa disposição da parcela mais popular em buscar alternativas àquelas que são as opções mais tradicionais, representadas no caso por Haddad e Serra. O desempenho eleitoral do PSOL também mostra um pouco disso, uma aproximação de setores mais plebeus a opções mais descoladas do establishment, inclusive em São Paulo. Os eleitores do Russomanno mantiveram a postura de procurar alguém mais permeável a suas demandas, de modo que repassaram seus votos para o Haddad no segundo turno.

Estabeleceu-se uma hegemonia lulista, mas ela se reproduz em terreno não tão firme quanto se acredita.

Correio da Cidadania: Inescapável é a constatação de que 2012 se encerra também marcado pelo chamado mensalão. O que este episódio, com toda visibilidade e repercussão de que foi alvo, te diz a respeito de nosso contexto político?

Ruy Braga: O mensalão representa um pouco a constatação de que a política está muito igual, ou seja, o vale-tudo político-institucional absorve as mais diferentes forças políticas e sociais e equaliza tudo por baixo. O mesmo esquema de compra de votos utilizado pelo governo FHC foi também usado pelo PT, e com os mesmos operadores. Com isso, temos um nivelamento por baixo da política.

O grande problema é que a população não vê muitas alternativas, até o momento, a essa polaridade. Todo mundo sabe que é mais ou menos tudo farinha do mesmo saco. Mas o PT se destaca mais pelas políticas sociais e públicas, com uma interlocução maior com o movimento sindical e popular, o que evidentemente o coloca muito à frente do PSDB nesse quesito. O PT consegue representar e empunhar uma agenda (a despeito de todos os seus limites) da diminuição da desigualdade social. O PSDB não consegue fazer isso porque é tradicionalmente o partido da desigualdade.

De todo modo, prevalece a noção do vale-tudo eleitoral, que equaliza todo mundo por baixo - o cenário fica sem muita diferença. Assim, entre as opções existentes, a população se atrai mais para o lado de quem se apresenta com uma agenda de diminuir um pouco a desigualdade.

Correio da Cidadania: Pensando um pouco em termos mundiais, estamos diante do que se pode chamar de repique da crise de 2008, com a evidente e atual desaceleração da economia mundial, impactando a Europa de modo avassalador, e já reverberando notavelmente nos países em desenvolvimento, entre eles, o Brasil. Como vê esse cenário e o que pensa da conduta do governo Dilma na condução da política econômica interna, essencialmente no que diz respeito ao caráter das medidas que vêm sendo tomadas para evitar uma desaceleração maior da economia?
Ruy Braga: A crise mundial é muito intensa e o modelo de desenvolvimento brasileiro durante os anos 2000 foi se deslocando aceleradamente para aqueles que hoje são os principais motores da acumulação de capital no país: bancos, mineração, agronegócio, petróleo, siderurgia, construção civil... Muitos deles dependem notoriamente do mercado internacional. Agronegócio e mineração, dois motores importantes, dependem efetivamente de encomendas externas.

Com uma recessão mundial estabelecida, a economia brasileira é obviamente atingida. O governo tentou por um tempo aplicar medidas anticíclicas apoiadas no crédito, o que teve seu fôlego, mas, a partir de certo momento, começou a claudicar, pois as pessoas começaram a se intimidar e ver que não iriam conseguir pagar suas dívidas. O governo modificou, portanto, tal agenda, não radicalmente, mas acrescentando os investimentos em infraestrutura. Nos últimos quatro, cinco anos, a partir de 2008, isso se intensificou, com anúncios de obras de infraestrutura, integração da malha viária, qualificação dos portos, construção de barragens, concessão de aeroportos...

São medidas importantes, mas não têm capacidade de, por si mesmas, equacionarem o grande problema de uma economia com as características da brasileira, isto é, o investimento capitalista. O principal investidor é o próprio governo, através do BNDES. Fora ele, o investimento privado é muito baixo. O investidor privado efetivamente não se arrisca, até porque não precisa, além de buscar remunerações bastante generosas. Agora que a taxa de juros tem caído, o investidor se sente mais obrigado a investir o dinheiro, mas continua covarde. O que, então, acontece hoje? O governo não consegue seduzir o investidor privado, que por sua vez não é capaz de equacionar sozinho o problema do investimento no país.

A realidade é que crescemos pouco. Não estamos em recessão, mas vivemos um momento de flagrante desaceleração econômica, no qual praticamente só se vê um único jogador em campo, o governo. E ele não é capaz de resolver sozinho o problema.

Qual a solução? Ou se nacionalizam os grandes meios de produção, com a estatização dos grandes intermediários financeiros ou... Vai ser difícil.

Correio da Cidadania: Você possui uma visão esperançosa das movimentações sociais que vêm rondando o mundo, desde a primavera árabe até a grande quantidade de movimentos ‘Occupy’ que têm varrido diversos países, passando por alguns protestos massivos na Europa?

Ruy Braga: Eu costumo citar Antonio Gramsci, sendo muito pessimista na razão e otimista na vontade. Sinceramente, não coloco muita esperança nos movimentos ‘Occupy’, muito espontaneístas e pouco orgânicos. A primavera árabe é um processo diferente, no qual a palavra final não foi dada ainda, mas que ocorre num contexto muito contraditório, com várias forças internacionais assumindo protagonismo a partir de dado momento. Na Europa, sou mais otimista com as movimentações dos trabalhadores e da juventude, mas vejo grandes barreiras nacionais.

Assim, é necessário internacionalizar tais lutas, especialmente na Europa, onde há mais base para tal. Mas não tem ocorrido este contexto. Os trabalhadores gregos lutam na Grécia, os trabalhadores espanhóis lutam na Espanha... Não há até, o momento pelo menos, o desenvolvimento de um internacionalismo mais agudo e radical. Minha esperança é de que não fique assim, que haja uma internacionalização das lutas, em escala regional no caso da Europa, e em escala mundial, acrescentando-se EUA, países árabes, latinos...

Correio da Cidadania: Finalmente, 2012 acaba sob forte desaceleração econômica e 2014 é ano de Copa e eleições presidenciais. O que você espera pra 2013, no sentido de medidas a serem tomadas pelo governo para sanear as contas públicas e promover crescimento, visto o reduzido espaço que terá para empreender tais tarefas no ano seguinte?

Ruy Braga: O governo ainda tem mecanismos, bala na agulha pra gastar. O BNDES é um dos maiores bancos do mundo, o governo tributa muito fortemente, tem condições de reforçar mecanismos anticíclicos...
Quanto aos direitos trabalhistas, a pressão por flexibilização é grande, haja vista as propostas que têm pipocado, como o Acordo Coletivo Especial (onde deve prevalecer o negociado sobre o legislado), pressões do empresariado por desonerações em todos os setores, com impacto sobre a previdência, pressões pela diminuição do “custo Brasil”, flexibilização em contratações...

É o que eu digo, o mercado de trabalho brasileiro é excessivamente flexível, não é pouco, longe disso. O trabalhador precisa de mais direitos, não menos. Só que não vejo muita decisão do governo de atacar tal problema, pelo contrário. Se for aprovado o acordo especial, acredito que o princípio do acordado sobre o legislado, que vigoraria a partir de então, vai diminuir ou eliminar direitos para a grande parcela dos trabalhadores que não são representados nos sindicatos fortes.

Ao mesmo tempo, não vejo, como disse, disposição do governo em ampliar direitos trabalhistas. Afinal, passamos todo o período de crescimento econômico nos anos Lula sem ver nenhum novo direito acrescentado. Acho que há um único ponto que foge à regra histórica de não criação de novos direitos, que é a legislação sobre a empregada doméstica, a ser discutida e votada. Esta talvez seja a única iniciativa do governo que possa eventualmente ser alinhada aos ganhos de direitos. Fora isso, do ponto de vista dos direitos sociais e trabalhistas, tivemos uma era perdida.

Valéria Nader, jornalista e economista, é editora do Correio da Cidadania; Gabriel Brito é jornalista.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Michael Löwy: "Sem indignação, nada de grande e significativo ocorre na história humana"

Nesta entrevista à Fundação Oswaldo Cruz, no Brasil, o investigador do Centre National de la Recherce Scientifique (CNRS) diz que a dinâmica de movimentos como o dos “Indignados” é de uma crescente radicalização anticapitalista, embora nem sempre de forma consciente. 
 
 
As revoluções sempre tomam formas imprevistas, inovadoras, originais.

Michael Löwy esteve no Brasil no final de 2012 para lançar o livro ‘A teoria da revolução no jovem Marx', que foi publicado em 1970 na França e só agora tem uma edição em português.
Durante a sua estada no país, participou de muitos eventos e falou sobre temas diversos, como literatura e a questão ecológica. Nada que surpreenda no perfil de um pesquisador que circula com desenvoltura entre o estudo dos clássicos e a análise da conjuntura atual, e isso sem abrir mão da militância política de esquerda. Nesta entrevista, ele lança mão dos conceitos que aprendeu com os clássicos – principalmente Marx e Walter Benjamin – para discutir a crise que o capitalismo atravessa e os movimentos reivindicatórios que têm surgido em diferentes cantos do mundo. Além disso, explica os princípios e limitações da ideia de ‘ecossocialismo', com a propriedade de ter sido um dos autores do Manifesto que defende essa bandeira.
Brasileiro residente na França desde 1969, Löwy é diretor de pesquisas do Centre National de la Recherce Scientifique (CNRS) e responsável por um seminário na Écoles de Hautes Études en Sciences Sociales. Só em português, é autor de mais de 20 livros.
 
Como a teoria da revolução do jovem Marx, de que trata o seu livro, nos ajuda a entender o momento atual, com mobilizações de indignados no Estado espanhol, Grécia e vários outros países da Europa, além de movimentos de ‘ocupação' em vários locais do mundo? Esses são movimentos anticapitalistas?

Os movimentos de ‘Indignados' opõem-se às políticas ditadas pelo capital financeiro, pela oligarquia dos bancos e aplicadas por governos de corte neoliberal, cujo principal objetivo é fazer com que os trabalhadores, os pobres, a juventude, as mulheres, os pensionistas e aposentados – isto é, 99% da população – paguem a conta pela crise do capitalismo. Esta indignação é fundamental. Sem indignação, nada de grande e de significativo ocorre na história humana. A dinâmica destes movimentos é de uma crescente radicalização anticapitalista, embora nem sempre de forma consciente. É no curso de sua ação coletiva, de sua prática subversiva, que estes movimentos poderão tomar um caráter radical e emancipador. É o que explicava Marx na sua teoria da revolução, inspirada pela filosofia da práxis.
 
Marx escreveu no século XIX. As revoluções socialistas a que assistimos aconteceram no século 20. O que a realidade trouxe de diferente na forma como se concretizaram e na forma como se entende revolução nos séculos 19, 20 e 21?

As revoluções sempre tomam formas imprevistas, inovadoras, originais. Nenhuma se assemelha às anteriores. A Comuna de Paris (1871) foi um formidável levante da população trabalhadora da grande cidade e a Revolução Russa foi uma convergência explosiva entre proletariado urbano e massas camponesas. Nas demais revoluções do século 20, desde a Mexicana de 1911 até a Cubana de 1959, ou nas revoluções asiáticas (China, Vietname), foram os camponeses o principal sujeito do processo revolucionário. Não podemos prever como serão as revoluções do século 21: sem dúvida, não repetirão as experiências do passado. Por outro lado, existe o que Walter Benjamin chamava de ‘a tradição dos oprimidos': a experiência da Comuna de Paris inspirou a Revolução Russa e é ainda até hoje um exemplo de autoemancipação revolucionária das classes subalternas.
 
Com a crise capitalista de 2008 e o movimento de intervenção dos Estados para salvar a economia dos países, acreditou-se que a era neoliberal havia chegado ao fim. No entanto, tem sido intensificada cada vez mais a destruição dos direitos conquistados com o Estado de Bem-Estar Social, como temos visto acontecer na Europa (França, agora Espanha...). O que isso significa?

A intervenção dos Estados não significou de forma alguma o fim do neoliberalismo. O único objetivo desta intervenção era salvar os bancos, resgatar a dívida e assegurar os interesses dos mercados financeiros. Para este objetivo, foram sacrificadas conquistas de dezenas de anos de lutas dos trabalhadores: direitos sociais, serviços públicos, pensões e aposentadorias, etc. Para a lógica de chumbo do capitalismo neoliberal, tudo isto são ‘despesas inúteis'.
 
Um debate antigo da esquerda é sobre a relação entre revolução e reforma. O contexto do final do século 20 e do início do século 21, com situações como, por exemplo, a vitória eleitoral de partidos de esquerda na América Latina e mesmo em alguns países da Europa recolocam essa questão. Como analisa essa relação hoje?

Rosa Luxemburgo já havia explicado, em seu belo livro ‘Reforma ou Revolução?' (1899), que os marxistas não são contra as reformas; pelo contrário, apoiam qualquer reforma que seja favorável aos interesses dos trabalhadores: salário mínimo, seguro médico, seguro desemprego, por exemplo. Simplesmente, lembrava ela, não podemos chegar ao socialismo pela acumulação gradual de reformas; só uma ação revolucionária, que derruba o muro de pedra do poder político da burguesia, pode iniciar uma transição ao socialismo. O problema da maioria dos governos de centro-esquerda, seja na Europa ou na América Latina, é que as ‘reformas' que aplicam são muitas vezes de corte neoliberal: privatizações, regressões no estatuto dos pensionistas, etc. Tratam-se de variantes do social-liberalismo, que aceitam o quadro económico capitalista mas, contrariamente ao neoliberalismo reacionário, têm algumas preocupações sociais. É o caso dos governos Lula-Dilma no Brasil. Temo que no caso da França (François Hollande, recentemente eleito), nem a isto chegue...
 
Um desafio dessa esquerda que chegou ao poder na América Latina tem sido equacionar a dependência econômica da exploração de recursos naturais (como o petróleo na Venezuela e o gás natural na Bolívia) com a tentativa de superação da lógica capitalista de destruição do meio ambiente. Na sua opinião, essa equação é possível?

Contrariamente aos governos social-liberais, os da Venezuela, Bolívia e Equador têm levado adiante uma verdadeira rutura com o neoliberalismo, enfrentando as oligarquias locais e o imperialismo. Mas dependem, para a sua sobrevivência económica, e para financiar os seus programas sociais, da exploração de energias fósseis – petróleo, gás –, que são os principais responsáveis pelo desastre ecológico que ameaça o futuro da humanidade. É difícil exigir destes governos que deixem de explorar estes recursos naturais, mas eles poderiam utilizar uma parte do rendimento do petróleo para desenvolver energias sustentáveis – o que fazem muito pouco. Uma iniciativa interessante é o projeto ‘Parque Yasuni', do Equador, proposta dos movimentos indígenas e dos ecologistas assumida, após algumas hesitações, pelo governo de Rafael Correa. Trata-se de preservar uma vasta região de florestas tropicais, deixando o petróleo embaixo da terra, mas exigindo, ao mesmo tempo, que os países ricos paguem metade do valor (9 mil milhões de dólares) deste petróleo. Até agora, não houve iniciativas comparáveis na Venezuela ou na Bolívia.
 
A crítica à destruição do meio ambiente como intrínseca ao capitalismo já estava presente na obra de Marx?

Muitos ecologistas criticam Marx por considerá-lo um produtivista, tanto quanto os capitalistas. Tal crítica parece-me completamente equivocada: ao fazer a crítica do fetichismo da mercadoria, é justamente Marx quem coloca a crítica mais radical à lógica produtivista do capitalismo, à ideia de que a produção de mais e mais mercadorias é o objetivo fundamental da economia e da sociedade. O objetivo do socialismo, explica Marx, não é produzir uma quantidade infinita de bens, mas sim reduzir a jornada de trabalho, dar ao trabalhador tempo livre para participar da vida política, estudar, jogar, amar. Portanto, Marx fornece as armas para uma crítica radical do produtivismo e, notadamente, do produtivismo capitalista. No primeiro volume de O Capital, Marx explica como o capitalismo esgota não só as energias do trabalhador, mas também as próprias forças da Terra, esgotando as riquezas naturais, destruindo o próprio planeta. Assim, essa perspetiva, essa sensibilidade está presente nos escritos de Marx, embora não tenha sido suficientemente desenvolvida.
 
O Manifesto Ecossocialista, que o sr. ajudou a escrever em 2001, diz que o capitalismo não é capaz de resolver a crise ecológica que ele produz. Como o sr. analisa as soluções a esse problema que vêm sendo apresentadas pelo capitalismo, como é o caso da economia verde?

A assim chamada ‘economia verde', propagada por governos e instituições internacionais (Banco Mundial, etc), não é outra coisa senão uma economia capitalista de mercado que busca traduzir em termos de lucro e rentabilidade algumas propostas técnicas ‘verdes' bastante limitadas. Claro, tanto melhor se alguma empresa trata de desenvolver a energia eólica ou fotovoltaica, mas isto não trará modificações substanciais se não for acompanhado de drásticas reduções no consumo das energias fósseis. Mas nada disto é possível sem romper com a lógica de competição mercantil e rentabilidade do capital. Outras propostas ‘técnicas' são bem piores: por exemplo, os famigerados ‘biocombustíveis' que, como bem diz Frei Betto, deveriam ser chamados de ‘necrocombustíveis', pois tratam de utilizar os solos férteis para produzir uma pseudogasolina ‘verde', para encher os tanques dos carros – em vez de comida para encher o estômago dos famintos da terra.
 
É possível implementar uma perspetiva como a do ecossocialismo no capitalismo?

O ecossocialismo é anticapitalista por excelência. Como perspetiva, implica a superação do capitalismo, já que se propõe como uma alternativa radical à civilização capitalista/industrial ocidental moderna. Por outro lado, a luta pelo ecossocialismo começa aqui e agora, na convergência entre lutas sociais e ecológicas, no desenvolvimento de ações coletivas em defesa do meio ambiente e dos bens comuns. É através destas experiências de luta, de auto-organizaçâo, que se desenvolverá a consciência socialista e ecológica.
 
A perspectiva ecossocialista pressupõe uma crítica à noção de progresso. Em que consiste essa crítica?

Walter Benjamin insistia, com razão, que o marxismo precisa libertar-se da ideologia burguesa do progresso, que contaminou a cultura de amplos setores da esquerda. Trata-se de uma visão da história como processo linear, de avanços, levando, necessariamente, à democracia, ao socialismo. Estes avanços teriam sua base material no desenvolvimento das forças produtivas, nas conquistas da ciência e da técnica. Em rutura com esta visão – pouco compatível com a história do século 20, de guerras imperialistas, fascismo, massacres, bombas atómicas –, precisamos de uma visão radicalmente distinta do progresso humano, que não se mede pelo PIB [Produto Interno Bruto], pela produtividade ou pela quantidade de mercadorias vendidas e compradas, mas sim pela liberdade humana, pela possibilidade, para os individuos, de realizarem suas potencialidades; uma visão para a qual o progresso não é a quantidade de bens consumidos, mas a qualidade de vida, o tempo livre - para a cultura, o ócio, o desporto, o amor, a democracia - e uma nova relação com a natureza. Para o ecossocialismo, a emancipaçâo humana não é uma ‘lei da história', mas uma possibilidade objetiva.
 
Quais as principais diferenças entre o ecossocialismo e a forma como o socialismo real lidou com os problemas ambientais? E a socialdemocracia, conseguiu construir alternativas a essa lógica destrutiva do capital?

O assim chamado ‘socialismo real' - muito real, mas pouco socialista - que se instalou na URSS sob a ditadura burocrática de Stalin e seus sucessores tratou de imitar o produtivismo capitalista, com resultados ambientais desastrosos, tão negativos quanto os equivalentes no Ocidente. O mesmo vale para os outros países da Europa Oriental e para a China. As intuições ecológicas de Marx foram ignoradas e se levou a cabo uma forma de industrialização forçada, copiando os métodos do capitalismo. A social-democracia é um outro exemplo negativo: nem tentou questionar o sistema capitalista, limitando-se a uma gestão mais ‘social' de seu funcionamento. Mesmo nos países em que governou em aliança com os partidos verdes, a social-democracia não foi capaz de tomar nenhuma medida ecológica radical. O ecossocialismo corresponde ao projeto de um socialismo do século 21, que se distingue dos modelos que fracassaram no curso do século 20. Ele implica uma rutura com o modelo de civilização capitalista e propõe uma visão radicalmente democrática da planificação socialista e ecológica.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Fórum Social Temático: Um Fórum que é Social só no nome


 
(*) Erick da Silva

Foi anunciada oficialmente a realização, em Porto Alegre, do Fórum Social Temático (FST) com início marcado para o dia 27 de janeiro.
Claramente promovido e organizado pela prefeitura de Porto Alegre, em um primeiro momento, algum desavisado poderá pensar que Porto Alegre, mais uma vez, será palco de um evento ligado ao Fórum Social Mundial (FSM). Infelizmente, esta não é a realidade. Teremos sim um evento, que de forma oportunista, tenta se utilizar do simbolismo e prestígio do FSM, mas com um sentido político muito diverso, para dizer o mínimo. Mas quais seriam estas diferenças que o distanciam do “espírito de Porto Alegre” presentes no FSM?
“Um outro mundo é possível”, sob esta insignia, o FSM representou um importante momento de virada na luta e resistência contra o neoliberalismo. A “Carta de Princípios do Fórum Social Mundial”, define que: “O Fórum Social Mundial é um espaço plural e diversificado, não confessional, não governamental e não partidário, que articula de forma descentralizada, em rede, entidades e movimentos engajados em ações concretas, do nível local ao internacional, pela construção de um outro mundo.” Esta diversidade foi a maior virtude do FSM, em um momento onde se buscava superar o refluxo das esquerdas a partir da ascensão do neoliberalismo, o FSM de Porto Alegre foi um espaço de grande importância, mesmo com todas as dificuldades e limites, para colaborar na reorganização e avanço da resistência contra o neoliberalismo.
Este sentido político do FSM está ausente do FST proposto pela prefeitura de Porto Alegre, aliás, este é um elemento problemático com relação à concepção deste evento: à centralização da organização pela prefeitura e à ausência de um envolvimento das organizações da sociedade civil e dos movimentos sociais, salvo aquelas com relação mais estreita com a administração municipal. A composição das entidades que estão no comitê do FST, junto com a prefeitura, é revelador de uma opção política conservadora.
Coordenado pela Força Sindical, conta com apoio de representantes do velho sindicalismo “pelego” como a Nova Central Sindical, a UGT, etc e outras entidades pouco afeitas as lutas sociais, como a presença da loja maçônica do Grande Oriente do RS. Pode se argumentar que o FSM sempre caracterizou-se pela diversidade, mas esta diversidade se fazia forte a partir dos elementos comuns que a unificava, como a crítica ao neoliberalismo e à construção de um “outro mundo”, o que não se coloca nesta composição.
O FST está sendo proposto sem uma estreita articulação junto ao Comitê Internacional do FSM e a agenda global que está sendo construída para 2013, tendo em março o FSM na Tunísia, como destaque. O que é revelador da concepção do FST como um mero evento, não enquanto parte de um processo político. A participação do sindicato patronal das empresas de turismo do RS na organização é autoexplicativa.
Retira-se o conteúdo político e contestador que compõe a essência do FSM e o mantém apenas como um simulacro. Algo vazio, oco e desprovido de todo e qualquer sentido político de caráter transformador. A exemplo do que a atual gestão da prefeitura já havia feito com o Orçamento Participativo, mantido formalmente, mas esvaziado politicamente, desprovido de toda a centralidade que teve em outros tempos.
É nítido que este espaço do Fórum Social Temático será “Social” apenas no nome, sem guardar nenhuma relação ou compromisso efetivo com o FSM. Fica o alerta a todas e todos aqueles que construíram e se identificam com o FSM sobre o que está em jogo. O risco da vulgarização e esvaziamento do FSM em Porto Alegre é um perigoso processo que pode enfraquecer um importante espaço político de resistência, o que não podemos permitir que ocorra.
 
(*) Graduando em história e blogueiro http://www.aldeiagaulesa.net/

Na Fase-RS, a juventude que a sociedade não vê também tem sua noite de Natal


Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Rachel Duarte no SUL21

Esperança, Solidariedade e Fé. Talvez em poucos lugares estas palavras, comuns em época de Natal, façam tanto sentido quanto no local onde adolescentes em conflito com a lei vivem privados de liberdade. No mundo à margem das festas com ceias fartas e troca de presentes, jovens entre 12 e 18 anos acabam confrontados de forma solitária com o reflexo do que fizeram na rua. Para alguns internos da Fundação de Atendimento Sócio Educativo (Fase-RS) o Natal é também a única oportunidade de uma reunião em família. Antes da internação, a data era mais uma oportunidade para farras, álcool, drogas e quem sabe mais um crime.
Os mais de 800 adolescentes da Fase-RS convivem diariamente com a possibilidade de uma renovação das esperanças de poder voltar para casa e com a ansiedade de retomar a vida que tinham antes da internação. É na época do Natal, como para muitas pessoas que vivem em liberdade, que as emoções ficam afloradas. “Eles ficam muito sensíveis. Alguns ficam mais quietos do que o habitual. Outros se agitam mais e ficam muito ansiosos. Na noite de Natal é comum ao apagar das luzes uma pedalada coletiva nas portas das celas”, conta Terezinha Pires, funcionária com 28 anos de Fase.
O colega Jovaldoir Lanza, que já passou dois natais trabalhando na Fase, conta que é impossível ficar indiferente ao assistir o desespero de alguns adolescentes. “Essas emoções podem levar a atos mais sérios. A gente também se imagina com a nossa família nesta hora. Não passamos o Natal com eles para estar ali (na Fase), muitas vezes com medo de um possível motim”, fala.

Funcionários preparam presente de Natal para os adolescentes | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Mas o espírito natalino fortalece o sentimento de solidariedade e fé dos profissionais que se dedicam a fazer mais do que o trabalho de servidor público. Enquanto os adolescentes do Centro de Convivência da Fase participavam de uma festa de Natal (no dia em que esta matéria foi produzida), Terezinha, Jovaldoir e outros colegas que promovem oficinas profissionalizantes aos adolescentes confeccionavam com disposição 50 peças de gesso como lembrança de Natal para os internos. “Eles não sabem. Por isso estamos dando uma corrida para aprontar tudo hoje”, contou Terezinha enquanto passava um verniz na peça.
O presente é uma mensagem com a Bênção da Casa. “Nesta casa não virá tristeza, nesta moradia não virá sofrimento, nesta porta não virá temor. Neste lar não virá discórdia, neste lugar haverá somente bênção e paz”, Terezinha fez questão de ler para reportagem. Mas também salientou que tanto o presente quanto a decoração de pinheiro de Natal e presépio da unidade não foram impostos. “Aqui temos jovens com muitos credos. Respeitamos todos e sempre que alguma entidade vem realizar alguma atividade é bem-vinda”, conta.

A fábrica da ‘Mamãe Noel’ não produz brinquedos

Oficina de produtos de limpeza é resultado da insistência de uma socioeducadora que acredita na ressocialização dos jovens internos | Foto: Arquivo Pessoal

Ao lado do local onde ocorrem as oficinas, a unidade Padre Cacique reserva uma história de persistência e devoção que chega a evocar algum milagre natalino. Há nove anos, uma sócio-educadora se dedica a recuperar os adolescentes por acreditar na possibilidade de um mundo melhor para eles longe do crime. Rosane Maciel conseguiu começar uma oficina de fabricação de produtos de limpeza e higiene depois de sucessivas tentativas de convencimento das diferentes direções da Fase-RS. Hoje, é na produção dos produtos químicos caseiros que ela ensina valores diferentes dos que eles aprenderam até chegar à internação. “É algo que me gratifica. Para mim o sentido de estar aqui é esse. Fazer algo a mais”, diz.
Com a produção de mil litros de detergentes, amaciantes, desinfetantes e alvejantes por oficina, ela auxilia na garantia de uma fonte de renda aos internos contratados para seis meses de trabalho. Parte dos produtos é para a limpeza da própria Fase-RS; o restante é destinado para venda dentro do complexo. “Vendemos para funcionários. Os guris com possibilidade de atividade externa vão na Kombi comigo percorrer as unidades e vender os produtos”, explica Rosane. A renda média gira em torno de R$ 150 a R$ 200 reais por mês. Um funcionário da unidade é o encarregado de controlar o dinheiro dos adolescentes e fazer as compras do que eles desejam adquirir. Geralmente, a primeira coisa que eles querem fazer é comprar um tênis de marca. Algo que será um sonho realizado neste Natal para o jovem T.L, de 17 anos, que começou em dezembro a participar da oficina. “Eu vou dar de entrada no Nike que eu quero”, fala.
Adolescentes produzem produtos de limpeza e mandam para família. O dinheiro arrecadado na oficina também é enviado para casa ou serve para trazer a família para um dia de visita  Foto: Arquivo Pessoal
Antes de conseguir apoio para a realização da oficina de produtos químicos, Rosane Maciel tentou várias outras atividades por não conseguir aceitar a falta de opções para ocupação dos adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa. “Quando eu entrei aqui achei que ia mudar o mundo e que iria conseguir retirar todo mundo do crime”, disse, causando risadas entre os adolescentes que estavam na sala da oficina.
Ao descrever a batalha para conseguir o apoio da direção, adquirir os primeiros materiais da empresa de bases químicas e aprender a preparar os produtos — algo que ela não sabia fazer antes de começar a oficina –, a sócio-educadora causou outras reações além do riso nos adolescentes. “Bah, dona”, impressionou-se o jovem T.L.
Todos os natais Rosane prefere passar junto aos adolescentes para a intranquilidade dos filhos e da família. Ela já testemunhou três motins na Fase nesta época do ano, onde em um deles foi refém de um grupo disposto a fugir. “Eu já vi nestes anos muita coisa. Temos que ter esperança”, diz.
O adolescente M.V, de 17 anos, reincidente na Fase e há mais tempo na oficina, conta que costuma enviar os produtos de limpeza que fabrica para a mãe, em Osório. Este será o segundo Natal que passa privado de liberdade e ele espera poder passar de outra maneira os próximos. “Quando eles (familiares) vêm é muito sofrimento. Mas isso tudo a gente não pensa na hora da loucura. É ruim estar longe da família, mas cada um é responsável pelas suas escolhas. Eu estou sofrendo as minhas consequências”, afirma
Adolescentes que trabalham na oficina usam dinheiro para atender anseios de consumo iguais aos dos jovens de classe média alta. Nesta Natal, um dos internos dará entrada em um tênis Nike | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

M.V está migrando da oficina de produtos químicos para um trabalho de carteira assinada no Banrisul, por meio da iniciativa oferecida pela Secretaria Estadual de Justiça e Direitos Humanos. Ele espera conseguir manter a esperança de não ‘cair’ pela terceira vez na internação. “Eu vou tentar. A esperança é a última que morre”, diz.
Socio-educadora que promove oficina com jovens internos prefere passar o Natal trabalhando. Já passou por três motins e foi refém em uma tentativa de fuga dos adolescentes | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Internação é oportunidade para Natal em família 
“Natal em família a gente passa aqui. Lá fora a gente não pensa em nada”, diz jovem interno da Fase-RS | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Os adolescentes internados na unidade Padre Cacique são oriundos de fora de Porto Alegre, o que torna a oficina de trabalho remunerado uma oportunidade para as famílias estarem com os adolescentes. “Alguns enviam dinheiro para casa, outros já pagaram para trazer os pais no dia do Natal. É um dinheiro que ajuda nestas pequenas coisas, mas ensina a lutar e trabalhar para consegui-lo”, acredita.
O adolescente J.R, 17 anos, irá passar o primeiro Natal privado de liberdade e diz que será o primeiro que irá compartilhar com a família. “Natal lá fora a gente não passa com a família. A gente passava em casa só para dar um Feliz Natal. Depois saíamos para curtir. Lá fora, a gente não pensava em nada”, conta o jovem, que mudou a vida aos 13 anos quando se envolveu com o tráfico de drogas.
“Não gosto de comentários sobre os crimes que eles fizeram. Não gosto nem que conversem entre eles. Aqui são todos iguais para mim. A gente sempre orienta sobre outros valores. Claro que santo de casa não faz muito milagre. Porém, sempre temos a esperança de que eles assimilem alguma coisa”, diz a sócio-educadora Rosane Maciel.

domingo, 23 de dezembro de 2012

Os EUA constroem um búnker subterrâneo no valor de 100 milhões de dólares numa base secreta de mísseis israelita



Richard Silverstein 
Mais um elemento sobre a colaboração EUA/Israel na preparação das condições para a escalada da guerra no Médio-Oriente. Uma coisa é certa: sempre que o imperialismo toma medidas de defesa, é garantido que está a preparar o ataque. Não lhe basta a tragédia há décadas vivida na zona: tenciona ampliá-la, admitindo até um cenário de utilização de armamento nuclear.

Há alguns dias Walter Pincus informou no The Washington Post que o Corpo de Engenheiros do Exército dos EUA solicitou a apresentação de propostas com o fim de encontrar empreiteiros com garantias de segurança máxima para construir uma instalação militar subterrânea no valor de 100 milhões de dólares para o exército israelita. O que segue é a descrição do projecto:
O Corpo de Engenheiros do Exército dos EUA planeia a supervisão da construção de uma instalação subterrânea de cinco níveis para um complexo das Forças de Defesa de Israel, com o estranho nome de Instalação 911, numa Base da Força Aérea israelita próxima de Tel Aviv.
Espera-se que a construção demore mais de dois anos, a um custo de até 100 milhões de dólares. Terá salas de aulas no Nível 1, um auditório no Nível 3, um laboratório, portas resistentes ao impacto, protecção contra radiação não ionizante e uma segurança muito estrita. Todos os trabalhadores na construção darão garantias de segurança, haverá guardas na vedação e estará separada do resto da base por barreiras.
O artigo assinala também que no passado o Corpo já construiu instalações para mísseis nucleares de Israel. Portanto, não deveria surpreender-nos que uma fonte israelita de alto nível afirme que o local para este projecto é a base israelita de mísseis de máximo segredo Sdot Micha, localizada próximo de Beit Shemesh (a uns 24 quilómetros de Jerusalém). É aí que se encontra a frota de ICBM (mísseis com armas nucleares Jericó). O local é tão secreto que várias passagens de um artigo de 2010 al respeito em Yediot foram censurados. Provinha directamente do amplamente acessível sítio na web Global Security. Os censores costumam ser célebres pela sua subtileza, e muito menos pelo seu senso comum.
A instalação subterrânea construída pelos EUA será edificada à prova de armas nucleares, de modo que possa resistir a um ataque com armas de destruição massiva de um inimigo de Israel. Isso permitiria que o sistema de comando e controlo de mísseis de Israel se mantenha operacional mesmo nas condições de um possível ataque massivo e devastador. Segundo esta fonte, as FDI [exército israelita] já têm um centro de comando à prova de armas nucleares por debaixo de Kirya, a sua sede em Tel Aviv.
Como é sabido que Israel e os EUA se espiam um ao outro, considero que extraordinário que Israel confie nos EUA para construir uma das suas instalações militares mais confidenciais. De facto, tenho pessoalmente conhecimento de que o FBI interceptou durante anos a embaixada israelita em Washington D.C. A Mossad vem operando há décadas nos EUA ¿Por que não teme Israel que os EUA façam o mesmo no caso destas instalações?
Uma resposta pode ser que o projecto é financiado pelo programa de Vendas Militares ao Estrangeiro dos EUA, o que quer dizer que o nosso governo financia o projecto sem encargos para o contribuinte israelita. No caso de Israel, a economia triunfa sobre a própria segurança.
Há que preguntar: ¿de que inimigo se defende Israel ao construir este complexo? Como o projecto tardará dois anos a ficar concluído, isto será aproximadamente quando uma série de analistas crê que o Irão poderá ter capacidade nuclear se decidir criar uma arma.
Neste caso poderia haver duas considerações:
1. Israel prevê que o Irão terá armas de destruição massiva em 2014.
2. Israel prevê atacar o Irão em algum momento após a conclusão do Bunker subterrâneo.
Só pode haver um motivo para construir uma instalação semelhante: a protecção contra um ataque inimigo. Só há um inimigo que poderia pressupor uma ameaça semelhante para Israel: o Irão. De entre os inimigos actuais de Israel, só o Irão (para além da Síria, que está distraída pelos seus próprios problemas internos) tem capacidade de lançar mísseis de largo alcance contra ele. Ainda que actualmente não possa armá-los com uma ogiva nuclear, é concebível (na opinião de Israel) que esta situação mude. Por isso é crítico que Israel mantenha a sua própria capacidade nuclear para lançar um ataque e/ou responder a um ataque inimigo.
Uma vez que parece extremadamente improvável que os dirigentes iranianos lancem um ataque preventivo contra Israel, e certamente não um ataque nuclear, a construção de semelhante fortaleza indica que Israel prevê ele próprio a realização deste ataque e que tem que assegurar que as suas forças militares críticas permanecem intactas após uma reacção iraniana.
Mesmo que o nome de código do projecto 911 [acrónimo para 11-S] seja uma coincidência, é palpável o sentimento de um Armagedão iminente. Também há que assinalar que os três inimigos más formidáveis de Israel, Hezbollah, Hamas e Irão, têm consideráveis complexos militares subterrâneos. Pode admitir-se que Gilad Shalit tenha sido mantido em semelhantes búnkeres durante o seu cativeiro, e os altos dirigentes do Hamas retiram-se para complexos semelhantes durante os ataques israelitas, como o do mês passado.
Uma das tácticas mais efectivas do Hezbollah foi o uso de túneis que as FDI desconheciam para atacar as tropas israelitas a partir de diversos quadrantes com um efeito devastador. O Irão também enterrou a sua instalação avançada de enriquecimento de uranio Fordow sob 100 metros de montanha. Esta protecção impede que Israel destrua o local a menos que obtenha as bombas rebenta-búnkeres de 14 toneladas estado-unidenses. Portanto, Israel (juntamente com os seus adversários) está a colocar a sua infra-estrutura militar mais crítica e os seus sistemas de armamento debaixo de terra a fim de que possam resistir a uma possível sabotagem ou ataque frontal.
Pincus menciona algumas exigências religiosas verdadeiramente estranhas que são especificadas na solicitação da apresentação de propostas. Especifica as mezuzás :
O Corpo desenvolve uma detalhada descrição das mezuzás que o empreiteiro deve fornecer “para cada porta ou abertura com excepção dos serviços higiénicos ou cabines de duche” no edifício da Instalação 911. Uma mezuzá é um pergaminho com versos da Torá em hebreu, colocado num estojo e fixado na moldura da porta de uma casa de família judia como sinal de fé. Alguns interpretam que la lei judia requer –como neste caso– que em cada porta de uma casa seja fixada uma mezuzá.
Essas mezuzás, assinala o Corpo, “devem ser escritas em tinta indelével, em […] pergaminho de coiro sem revestimento” e escritas à mão por um escriba “possuidor de uma autorização escrita segundo a lei judia.” A escrita pode ser “asquenaze ou sefardita” mas “não uma mistura” e “deve ser uniforme”.
Também, “as mezuzás devem ser revistas por um computador numa instituição autorizada para a inspecção de mezuzás, bem como revistas manualmente no que diz respeito à forma das letras por um revisor autorizado pelo Rabinato Principal”. A mezuzá será fornecida com um estojo de alumínio com orifícios para que possa ser fixada à moldura da porta ou da abertura. Finalmente, “todas as mezuzás para a instalação serão fixadas pelo rabi da Base ou pelo seu representante nomeado e não pelo pessoal do empreiteiro”.
Francamente, nunca ouvi falar de alguma diferença entre mezuzás sefarditas ou asquenazes, nem de alguma diferença entre os estilos de escrita de uma tradição em relação à outra. O Parece mais que isto se terá baseado em informação inexacta sobre rituais judeus ou em interpretação errónea de alguma coisa que as FDI tenham indicado ao Corpo.
Mas, para além disso, sinto-me confiante ao saber que Deus, por meio deste poderosos amuletos religiosos, estará a proteger o povo judeu e seus defensores militares. A única interrogação que fica é ¿que divindade é mais poderosa: o Jeová judeu ou o Alá chiíta do Irão? ¿Mas não ofereceu Moisés um só Deus aos judeus? Que diria se visse agora o seu povo criar um Deus para Nós e outro Deus para Eles?. Espero que lhe provocasse tanto horror como me provoca a mim.

Richard Silverstein escreve o blog Tikun Olam que examina temas relacionados com a segurança nacional de Israel, os direitos humanos, e as ameaças contra a democracia israelita.

Este artículo foi publicado originalmente em Anti War
Fonte: http://www.informationclearinghouse.info/article33205.htm

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Golpe: a CNTE está abandonando a defesa do reajuste do piso para favorecer o governo federal, governadores e prefeitos


*Josenildo Vieira de Mello
 
No apagar das luzes, no final de ano, a CNTE golpeia a luta pela aplicação do Piso do Magistério, isso depois de ter corretamente lutado há anos em sua defesa e conquistado por meio de sucessivas mobilizações o Piso Salarial dos Profissionais do Magistério da Educação Básica Pública, assegurado no artigo 5º da Lei no 11.738/08, que estabelece:
Art. 5º - “O piso salarial profissional nacional do magistério público da educação básica será atualizado, anualmente, no mês de janeiro, a partir do ano de 2009”.  Parágrafo único. A atualização de que trata o caput deste artigo será calculada utilizando-se o mesmo percentual de crescimento do valor anual mínimo por aluno referente aos anos iniciais do ensino fundamental urbano, definido nacionalmente, nos termos da Lei n11.494, de 20 de junho de 2007.”

A CNTE dá um passo atrás

Após este artigo ter gerado mais uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN) de no 4.848, quando os governadores pedem a suspensão do critério do calculo atual, de forma retroativa e sugerem o INPC, como mecanismo do reajuste do piso, a CNTE, de forma conservadora e sem nenhum diálogo com a base das entidades fechou posição que vai contra a política de  valorização da categoria garantida através do artigo 5º da Lei 11.738/08, abrindo um precedente absurdo na luta histórica dos profissionais do magistério público da educação básica em defesa da valorização profissional, aumentando a dívida histórica que os governos têm para com o conjunto da categoria.
Em reunião com o Conselho Nacional de Entidades, no dia 19 de setembro de 2012, no Recife- PE, a CNTE aprovou uma proposta, no mínimo absurda pela posição política que ela representa, contrapondo ao artigo 5º da Lei, baseado no argumento da crise financeira que passam os municípios, os estados e a União, com dificuldades de manter a atual política de valorização da categoria e a grande possibilidade do cálculo passar a ser feito pelo INPC, de acordo com o Projeto de Lei nº 4.375/12, propondo assim, aplicação do valor do INPC + 50% do crescimento da receita agregado do FUNDEB, alegando que esta proposta supera todas as demais, como a do custo aluno ano ou a da variação do INPC, além de assegurar um ganho real permanente, mesmo na crise financeira, tendo ainda como preservar a capacidade financeira dos entes federados.
De que lado estão os dirigentes da CNTE e das entidades de base filiadas com esta tomada de posição, que vai contra todas as lutas e mobilizações dos últimos 30 anos de nossa categoria?
Como justificar para os profissionais do magistério a renuncia do avanço da Lei 11.738/08, no seu artigo 5º, em contraposição a esta postura que se alinha mais as reivindicações dos governadores e prefeitos, além de reduzir os gastos públicos com a educação?
A CNTE não buscou chamar uma discussão com a base dos profissionais do magistério nas suas entidades e já no dia 30/10/2012, em uma reunião de emergência com a UNDIME e Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados, chegaram a um consenso em cima da posição da Confederação, que para Daniel Cara, Coordenador Geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, foi muito positiva: “um dos principais méritos da nossa proposta coletiva é que ela permitirá, entre 7 a 10 anos, que o piso do Magistério alcance, ao menos, um patamar equivalente ao salário mínimo do DIEESE, que calcula uma remuneração capaz de garantir todas as necessidades do consumo para viabilizar um padrão mínimo de qualidade de vida. E esse é um importante passo”. Pura desfaçatez!
Ora, se as metas 17 e 18 do Plano Nacional de Educação dizem que os profissionais do magistério da educação básica, devem ter uma valorização para equiparar seus salários ao rendimento médio dos demais profissionais com escolaridade equivalente (hoje está em torno de R$ 3.432,02), com essa nova proposta que é contrária a estas duas metas, em 07 a 10 anos, o Piso Salarial do Magistério ficará em torno de R$ 2.616,41 (dois mil, seiscentos e dezesseis reais e quarenta e um centavos), ou seja, provocará uma perda salarial de aproximadamente mil reais ao magistério em poucos anos. Se tomarmos como referência o cálculo do reajuste de 2013, que em vez de ser de 21.75%, que é a variação da média do custo aluno ano dos últimos dois anos, os reajustes passariam a ser de 12,71%, sendo 5,5% do INPC e 7,21% da média das receitas do FUNDEB, que em 2012 foi de 14,42%, claramente gerando um grande retrocesso no campo da valorização profissional e uma perda salarial inadmissível.
Esta proposta foi apresentada ao presidente da Câmara dos Deputados, Deputado Marcos Maia (PT) no dia 31/10/2012 e que deverá receber ajustes finais para ser anunciada à Presidente Dilma, para que possa ser transformada em uma medida provisória, que tirará inclusive a eficácia a ADIN no 4.848 interposta pelos governadores. Ela teve o apoio da Frente Nacional dos Prefeitos (FNP), UNDIME (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação) e a CONSED (Conselho Nacional dos Secretários Estaduais de Educação), todos representantes patronais dos entes federados, além da Campanha Nacional pelo Direito a Educação, uma organização não governamental que representa os mais variados interesses, principalmente dos grupos econômicos que financiam suas atividades e dos representantes da Comissão de Educação e Cultura da Câmara, formada por representantes do Governo e da oposição e que em nada divergem da atual política de investimento de recursos públicos na educação.
A proposta da CNTE, que teve consenso de todos os demais que integram a Comissão de Educação encarregada de discutir os reajustes da categoria junto ao MEC, pegou a todos de surpresa. É uma política de conciliação entre as esferas da federação e os representantes dos trabalhadores da educação básica pública, o que para nós e entidades sindicais representativas deste segmento de trabalhadores e os próprios profissionais do magistério, não pode ser admitida. Trata-se de uma capitulação escancarada às políticas de ajustes fiscais impostas pela equipe econômica do Governo Dilma. Os professores e profissionais da educação não podem ser penalizados para supostamente  garantir aos governos sobras de recursos públicos, que com  certeza, irão ser canalizados para a corrupção ou desviados para finalidades obscuras, além de ajudar fazer o país atingir a meta do Superávit Fiscal Primário, encomendada pelos organismos financeiros internacionais, como o FMI .

Lutar e barrar esse retrocesso 

Esse famigerado acordo construído pela CNTE e seus “parceiros”, fará com que os governos das três esferas entrem com a “corda”, e nós trabalhadores na educação com o “pescoço”. Já tivemos grandes perdas salariais em 2009, 2010 e 2011, e por sinal estamos buscando nossos direitos na justiça, exatamente para assegurar os reajustes negados pelos governos, em especial o Governo Federal, o principal descumpridor da lei, que não assegurou o reajuste correto do Piso desde a sua implantação em 2008 conforme determina o artigo 5º da Lei 11.738/08, do qual agora a CNTE quer abrir mão, tentando desconstruir este direito já assegurado em Lei.
A CNTE precisa rever a sua posição e retirar esta proposta indecente da mesa de negociação sobre o reajuste salarial do Piso Salarial Profissional Nacional do Magistério e fazer valer o critério já está assegurado na Lei 11.738/08. Temos que lutar para não haver recuo financeiro em relação à garantia de valorização nos percentuais do custo aluno ano, que por sinal, nos países desenvolvidos, ultrapassa dez mil reais. Sem essa batalha não teremos garantidas as condições de assegurar aos nossos filhos o mínimo de direitos. Não teremos educação pública e gratuita.
A única saída para mantermos a política de valorização dos Profissionais do Magistério da Educação Básica é chamar à Greve Geral Nacional destes trabalhadores. Só assim poderemos assegurar a correção do Piso conforme determina a Lei e garantir, ao longo dos próximos oito anos, a equiparação salarial aos demais profissionais com a formação equivalente.. Esta luta tem que chegar a todas as regiões e rincões do Brasil, dando um norte político a partir de políticas reivindicativas, organizativas e de lutas, trazendo assim, avanços econômicos e sociais e garantindo melhores condições de trabalho para com isso assegurar uma educação verdadeiramente gratuita, publica e de boa qualidade para todos os filhos e filhas dos trabalhadores e para a maioria do povo.
A CNTE tem que cumprir o papel para a qual foi criada, a defesa intransigente dos direitos já assegurados à nossa categoria e a busca de avanços e novas conquistas. Ela não foi criada para desenvolver um papel de correia de transmissão ou braço sindical dos governos que sempre negaram a valorização dos profissionais do Magistério e desprezaram a educação pública e gratuita no Brasil. Estes governos que a CNTE quer salvar sempre representaram os interesses das elites econômicas e políticas que sempre deixaram a educação pública ao descaso e ao relento, como se fosse um mal necessário para manter os explorados e oprimidos subjugados. Queremos o direito humano universal de uma educação pública, gratuita e de qualidade para todos.
Ao se encerrar o ano letivo a categoria deve se preparar para a luta no ano que vem e desde já denunciar o engodo realizado pela CNTE!

Sindicato é pra lutar e não para conciliar!

Os trabalhadores não pagarão pela crise! Que a paguem os patrões!

* Josenildo é Coordenador Geral do SINDUPROM-PE e militante da Esquerda Marxista

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

TV Globo e os terroristas do campo

Por Altamiro Borges
Em outubro de 2009, integrantes do MST ocuparam uma fazenda grilada pela empresa Cutrale no município de Iaras (SP). Revoltados com a lentidão da reforma agrária, ativistas destruíram pés de laranja com tratores. Apesar da direção do movimento ter criticado a iniciativa, a cena foi superexplorada pela mídia ruralista. A TV Globo, já em campanha para a sucessão de 2010, reproduziu o vídeo inúmeras vezes. Ontem, porém, ela silenciou sobre uma ação terrorista dos ruralistas em terras indígenas no Mato Grosso.
Segundo relato dos jornalistas Daniel Carvalho e Juca Varella, na Folha deste domingo, os fazendeiros que invadiram ilegalmente terras dos índios xavantes Marãiwatsédé, na cidade Alto da Boa Vista (MT), utilizaram métodos terroristas para sabotar ontem uma ação de despejo liderada por agentes do Incra e da Polícia Federal. “Eles usam táticas de guerrilha contra forças federais para tentar impedir despejo, queimam ponte, bloqueiam estrada e armam um ataque frustrado”. A emboscada poderia até ter causado mortes.
Emboscada e coquetéis molotov
Os grileiros chegaram a fabricar coquetéis molotov. “Quem está com bomba fica desse lado. Quem não está fica desse outro”, dizia um deles, de cima de uma caminhonete. “Era uma emboscada para os agentes de segurança. A ideia era atacá-los e depois tocar fogo ao caminhão com a mudança, em protesto. Um produtor da região, de cerca de 60 anos, puxou conversa com os jornalistas. Em tom jocoso, questionou se o repórter não estaria disposto a ‘pegar umas pedras’ e se juntar aos manifestantes”, descrevem os repórteres.
Ainda segundo os jornalistas, “a tensão ia aumentando. Uns, mais preocupados, diziam: ‘Dessa vez não vai ser bala de borracha’. Um homem retrucou: ‘Mas aqui também tem [bala de verdade]’. De repente, as luzes se apagaram. A escuridão era quebrada apenas pelos faróis do comboio de 20 carros de polícia que se aproximava. Um grupo de quatro manifestantes se aproximou do primeiro carro, de onde saíram quatro soldados armados. ‘Nem mais um passo, senão a gente atira’, gritou um soldado da Força Nacional”.
A seletividade da mídia ruralista
“O barril de pólvora que se armou na região não havia explodido até a conclusão desta reportagem, mas a disposição de quem está em Posto da Mata deixava claro que pode ser apenas uma questão de tempo. ‘Vai morrer homem, mulher. Estou disposto a morrer pelo que tenho’, dizia Odemir Perez”. A invasão da reserva dos Marãiwatsédé foi planejada por ricaços ruralistas, que alistaram pequenos produtores e contam com o apoio de políticos da direita. Dom Pedro Casaldáliga há muito denuncia o clima de tensão na região.
O conflito, porém, nunca foi destaque na mídia ruralista. Quando da ocupação da fazenda grilada da Cutrale em 2009, jornais, revistas e emissoras de tevê fizeram um baita escândalo. Eles ajudaram a criar o clima para a instalação da CPI do MST, visando criminalizar o movimento dos trabalhadores rurais sem-terra. Agora, a mídia nada fala sobre a ação terrorista dos ruralistas no Mato Grosso. Nem sequer um vídeo no Jornal Nacional da TV Globo. E ainda tem gente que acredita na neutralidade da imprensa burguesa!

domingo, 16 de dezembro de 2012

Mercado solidário na Suíça. Quando Natal rima com solidariedade


Sergio Ferrari
Colaborador de Adital na Suiça. Colaboração E-CHANGER
Tradução:ADITAL
- ONG de cooperação e migrantes juntos sob o mesmo teto
- "Que a população desfavorecida também possa festejar”



Esse ano, o Natal começou antes na Suíça. De 13 de dezembro até o sábado, 15, mais de 30 associações de cooperação e de solidariedade com o Sul animam o mercado solidário. Uma forma nova de antecipar as festas.

Produtos e comidas provenientes da América Latina, da África e da Ásia; um clima festivo e de encontro intercultural; cerca de 2 mil visitantes esperados durante os três dias; mais de 30 mil francos de benefício projetado. Em síntese, um exercício ativo de solidariedade.
Após a primeira jornada "já percebemos que esse sexto mercado será novamente coroado com um êxito total”, expressa Maxime Gindroz, responsável de comunicação da Federação de Cooperação do Cantão de Vaud (Fedevaco). Recordando o slogan que motivou a atividade: "para que o Natal seja também uma festa para a população desfavorecida do Sul”.
Com essa filosofia de referência, a Fedevaco, junto com o Centro de Animação Cultural Polo Sul, promovem uma vez mais, como há seis anos, esse espaço de encontro, festejo e vendas, assegurando a participação de ONGs e associações sustentadas por cooperantes ou projetos em diferentes países. Desde o Equador até a Índia, passado pelo Peru, Brasil, Tibet, Togo, Madagascar, Marrocos, Serra Leoa ou Palestina.
Um carrossel de culturas com um ponto de encontro comum e a perspectiva de promover uma relação de proximidade "entre migrantes que vivem na Suíça e os povos do Sul, aproximando essa dupla realidade à população do Cantão de vaud”, enfatiza Fabio Cattaneo, responsável animador de Polo Sul, o local anfitrião, localizado no bairro de Flon, em pleno centro de Lausanne.
Um posto da Bolsa de Trabalho, ativa associação de apoio aos migrantes, particularmente no setor da formação de mulheres, "agrega um valor especial a esta edição”, enfatiza o responsável por Polo Sul ao avaliar a contribuição intercultural dessa inovadora iniciativa.
Para Cattaneo, esse mercado solidário "constitui uma ponte adicional de encontro” do mundo da cooperação ao desenvolvimento e das comunidades migrantes. "Todo esse processo de preparação; o trabalho de instalar o mercado e os três dias partilhando espaços comuns permitem aproximar realidades, conhecer-se melhor e promover novas sinergias com vistas o futuro”. Na concepção do responsável pelo Centro Intercultural, a vivência dos imigrantes que chegam a Suíça e a Europa e a de suas comunidades de origem –muitas vezes beneficiárias da cooperação- constituem duas caras de um mesmo espelho social.
O mercado natalino solidário é uma importante iniciativa, "um espaço privilegiado que permite confluir ideias, utopias e atividades muito práticas, como oferecer uma comida típica de um país distante ou vender um produto autóctone do Sul, que se converterá em um presente muito especial para celebrar as festas”, insiste.

‘Vidraça’ do Sul

As organizações "estamos convencidas da contribuição que há em oferecer às pessoas da Suíça o típico de outras culturas, abrindo uma janela especial no Cantão de Vaud a realidades muito distantes”, enfatiza Maxime Gindroz, que reconhece também para a importância de valorizar a tarefa de cooperação ao desenvolvimento promovida pela Fedevaco e pelas organizações que a integram.
Apesar de que uma prioridade essencial de "nosso trabalho é chegar à classe política, sensibilizando-a sobre a cooperação, abrir esses espaços adicionais ao grande público é também transcendente”, reflete. Facilitar que se conheça o diferente reduz medos infundados e diminui as distâncias e incompreensões,
Gindroz ressalta dois aspectos significativos do evento: o contínuo fluxo em aumento do público a cada ano desde o começo do primeiro mercado, em 2006. E a forte presença, também em crescimento, de jovens, muitos dos quais têm entre 20 e 25 anos. "Eles manifestam um interesse particular em conhecer melhor a realidade de outros povos e culturas”, explica.
Ao avaliar saltos qualitativos em relação às edições anteriores, Gindroz não duvida em enumerar vários elementos. O vídeoclipde apresentação do mercado solidário 2012, que permitiu fazer uma publicidade ativa nas redes sociais. O apoio midiático do jornal Le Courrier, cuja linha editorial é particularmente sensível à temáticas do Sul. A mobilização de um público cada vez mais numeroso e interessado. Sem menosprezar o próprio resultado econômico do mercado solidário, que permite reforçar projetos latino-americanos, asiáticos e/ou africanos.
Dinâmica de participação cidadã, segundo Gindroz, que "fecha um 2012 muito positivo para as ONGs suíças, devido ao aumento do orçamento oficial destinado à cooperação ao desenvolvimento, resultado da mobilização da sociedade civil suíça que anos atrás impulsionou com êxito a petição ‘Unidos contra a Pobreza’, exigindo esse incremento.
[Sergio Ferrari, em colaboração com swissinfo.ch e E-CHANGER, membro da Fedevaco].