ALERTA AMARELO: MÉDICO LEVANTA HIPÓTESE DE QUE VACINAÇÃO PODE PRODUZIR SUPER VÍRUS
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O fundador da Frente Popular de Libertação da Palestina (FPLP), George Habache, líder histórico da resistência palestina, morreu neste sábado aos 82 anos, em Amã, depois de anos afastado do cenário político por sua recusa frontal quanto a qualquer compromisso com Israel.
A notícia foi dada pelo embaixador da Autoridade Palestina na capital jordaniana, Atalah Jairy, que informou que Habache estava hospitalizado há dez dias por problemas cardíacos.
Filho de comerciantes greco-ortodoxos, nasceu em Lydda (atual Lod, em Israel), em 1925, e há anos estava doente e vivia afastado da política na Jordânia, país de sua esposa.
Nacionalista férreo, orador revolucionário que incendiava as massas com seu carisma, Habache fundou a FPLP em Damasco em 1967 e se fez reeleger constantemente secretário-geral desse movimento, que virou um dos três componentes da Organização de Libertação da Palestina (OLP).
O presidente de la Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, prestou homenagem ao "líder histórico" e decretou que as bandeiras fiquem a meio mastro durante três dias.
"A morte de Habache é uma grande perda para a causa palestina e para o povo palestino pelo qual combateu durante sessenta anos", afirmou o porta-voz de Abbas, Nabil Abu Rudeina.
Habache, que viveu muitos anos exilado na Síria, deixou a direção da FPLP em 2000, mantendo sua recusa a qualquer aproximação com Israel, uma posição o isolou pouco a pouco do cenário político.
Foi assim que se opôs ao processo de paz com o Estado hebreu iniciado por Yasser Arafat e considerava que o Estado palestino que podia surgir de tais negociações não seria mais que uma "caricatura".
Sua vida sofreu uma virada em julho de 1948, o ano da fundação de Israel, em uma estrada da Palestina. Em seus 22 anos, este estudante de medicina se encontrou no meio de uma maré de milhares de palestinos que fugiam ante o avanço das forças israelenses.
"É uma imagem que jamais esquecerei", explicou anos mais tarde. "Milhares de seres humanos expulsos de suas casas, fugindo, chorando, tremendo de terror. Depois de uma coisa assim, a pessoa só pode virar um revolucionário".
Refugiado em Beirute, retomou seus estudos na Universidade Americana e contribuiu para tornar esse centro um farol intelectual radical no Oriente Médio.
A partir de pequenos grupos convencidos de que só a violência permitiria a volta à Palestina, organiza um vasto movimento pan-árabe, o Movimento Nacionalista Árabe (MNA), do qual Habache se converteria no incentivador e inspirador.
A ruptura da união sírio-egípcia em 1961 e a derrota dos exércitos árabes em 1967 na Guerra dos Seis Dias contra Israel levaram Habache e o MNA a passar de uma ideologia puramente nacionalista para o marxismo.
No dia seguinte à Guerra dos Seis Dias, fundou a FPLP.
A Jordânia, onde morreu, foi um de seus primeiros inimigos.
A FPLP ficou conhecida nesse país pelos seqüestros de aviões e por tentar derrubar o regime antes de os sangrentos enfrentamentos de setembro de 1970 ("Setembro negro") entre a OLP e o exército jordaniano porem fim à resistência palestina nesse país.
Habache virou um dos homens mais procurados no Oriente Médio, onde contava com um grande apoio, particularmente nos campos de refugiados palestinos e nos territórios ocupados por Israel.
fonte; UltimoSegundo
Policiais egípcios observavam hoje na região da fronteira do país com a Faixa de Gaza o tráfego livre de palestinos que, pela primeira vez em grande número, usavam carros para fazer a travessia. Um dia depois de o Egito tentar em vão fechar os trechos de sua fronteira - destruída na quarta-feira -, as tropas do país receberam ordens de se afastarem da região na madrugada para evitar confronto com palestinos, informaram fontes ligadas à segurança egípcia.
Hoje, o ministro de Relações Exteriores do Egito, Ahmed Aboul Gheit, afirmou que mais de 50 integrantes das forças de segurança do país estavam hospitalizados - alguns em estado grave - por causa de incidentes ocorridos na fronteira nos últimos dias. Centenas de carros de passeio e caminhões de grande porte com a placa registrada em Gaza cruzaram hoje a fronteira em busca de combustível e alimentos, que estão em falta por causa do bloqueio de Israel ao território palestino. No entanto, o tráfego fluía em ambos os sentidos da fronteira e muitos carros do Egito foram vistos em Gaza, entre eles, um caminhão que levava mercadorias avaliadas em US$ 65 mil - como queijo, doces e materiais de limpeza - para um supermercado da cidade.
Amanhã, o presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, deve encontrar-se com o premiê de Israel, Ehud Olmert, para pedir que ele coloque um fim ao bloqueio israelense na região. Israel fechou suas passagens fronteiriças com Gaza no dia 17, em represália pelos ataques com foguetes lançados contra cidades israelenses. Na semana passada, militantes palestinos dispararam cerca de 200 foguetes contra Israel, sem deixar vítimas. As autoridades israelenses responderam lançando ataques que deixaram pelo menos 40 palestinos mortos. Sob forte pressão internacional, Israel amenizou o bloqueio na terça-feira, permitindo a passagem de combustível para a usina elétrica palestina, alimentos, remédios e gás de cozinha.
Fonte: ultimoSegundo
A ação foi investigada ao longo de cinco anos pela jornalista inglesa Frances Stonor Saunders e resultou em Quem Pagou as Contas? — A CIA na Guerra Fria da Cultura, originalmente lançado em 1999 pela Granta. Para sorte dos brasileiros, o livro acaba de chegar às livrarias do país.
Frances evita destacar um caso de interferência mais perturbadora: "O envolvimento da CIA na cultura foi uniformemente pernicioso e errado". Mas conta, por exemplo, que o expressionismo abstrato, de artistas como Jackson Pollock, foi a "arte oficial" do período. Tratava-se de um implícito ataque ao realismo tão amplamente desenvolvido pela União Soviética.
Segundo a autora, a área mais "frutífera" para a agência americana foi a de revistas e livros Autores progressistas — como o poeta chilena Pablo Neruda ou o filósofo francês Jean-Paul Sartre — “não eram bem-vindos como participantes”, revela Frances em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo. A CIA, por sinal, fez ardilosa campanha para que Neruda não recebesse o Nobel de Literatura.
Leia abaixo trechos da entrevista de Frances Stonor Saunders à Folha.
A senhora encontrou muitos obstáculos oficiais para a sua pesquisa?
Meu pedido por documentação na CIA não obteve êxito. O Ato de Liberdade de Informação tem muito pouco efeito quando se trata de extrair material da CIA. Mas outras fontes de arquivo são muito ricas em termos de material da agência, principalmente porque ela trabalhou bem de perto com o setor privado para promover seus programas.
Grandes instituições filantrópicas — a Fundação Ford, por exemplo — trabalharam com a CIA fornecendo dutos para seus dólares. E havia muitas fundações testas-de-ferro que, para manter as aparências, mantiveram suas contas e seus registros. Uma vez que era sabido quais foram criadas pela CIA, foi relativamente fácil inspecionar seus documentos.
Quais eram os objetivos da CIA?
A agência estava tentando promover uma idéia: a "pax" americana era a coisa certa. A cultura, a arte e as idéias americanas eram os lugares onde as liberdades eram expressas e protegidas. Tudo que tinha a ver com o comunismo era mau, e o antiamericanismo era uma traição dos princípios fundamentais que sustentavam a liberdade de expressão.
O que os "agentes culturais" da CIA fizeram para disfarçar suas verdadeiras intenções?
A CIA disfarçou seu investimento em cultura escondendo-se atrás de uma série de frentes de atuação, sendo a mais bem-sucedida delas o Congress for Cultural Freedom (congresso pela liberdade cultural). Para tanto, ela confiou a um círculo de intelectuais a proteção de seu segredo e o cultivo de seus investimentos.
Mas houve alguns descuidos incrivelmente estúpidos: a operação financeira deixou um rastro de documentos, como fios pendurados na parte anterior de um rádio. Uma vez que as suspeitas vieram à tona, foi fácil trilhar o caminho do dinheiro que levava à CIA. No meio da década de 60, muita gente sabia de onde o dinheiro vinha.
Mas muitas pessoas que estavam recebendo diárias da agência não queriam reconhecer o fato e enfiaram suas cabeças na areia. Elas sabiam, mas não queriam saber. Outras certamente sabiam em detalhes o que estava acontecendo e estavam envolvidas no engano a seus colegas e a seu público. E o legado desse acordo notório ainda está, acredito eu, sendo experimentado.
Entre todas as áreas da cultura, qual a senhora acha que a CIA investiu mais e por quê?
O programa de Guerra Fria cultural era muito abrangente, mas era em grande parte sofisticado e erudito. Ele não investiu muita energia ou dinheiro em cultura popular, mas se concentrou em atividades intelectuais — periódicos, seminários, concertos, exposições de arte — porque ele queria conquistar a elite intelectual e aproximá-la da idéia de que o futuro da liberdade estava indissociavelmente ligado aos valores americanos, ao poder americano.
Quais áreas da cultura foram mais "frutíferas" para a CIA?
Provavelmente, o melhor retorno para a agência foram as áreas dos periódicos e livros. A CIA tinha um programa de publicações e revistas bem abrangente e tinha um bom orçamento — com o qual foi possível atrair algumas das melhores mentes da era pós-guerra e dar a essas pessoas a plataforma para transmitir suas idéias. Não é necessário dizer que tais idéias tinham de dizer, em menor ou maior grau, simpáticas aos pagadores da CIA. Pablo Neruda ou Sartre não eram bem-vindos como participantes.
Alguns daqueles artistas não teriam hoje a mesma importância sem a influência da CIA?
É possível questionar a reputação de alguns escritores e artistas à luz do que sabemos sobre o envolvimento da CIA na Guerra Fria cultural. Por outro lado, a agência fez de tudo para prejudicar Pablo Neruda, não apenas por sua visão política mas também como escritor. Ela, em segredo, fez campanha contra a premiação dele com o Nobel.
Mas muitos escritores ou pensadores menores de repente se viram tirando proveito de passagens de primeira classe para viajar pelo mundo e fazer palestras tendo uma plataforma fornecida pelo braço secreto do governo americano. Quantos deles estavam destinados a parar nos porões dos sebos de livros?
No meu capítulo sobre o expressionismo abstrato, eu não questiono o valor estético do movimento ou o impacto que ele teve, e continua a ter, na história da arte. Mas mostro como a CIA estava envolvida num cartel cujo principal objetivo era asseverar os méritos do expressionismo abstrato como propaganda da liberdade americana, e isso foi feito em detrimento de outros tipos de arte.
O movimento se tornou a arte oficial da Guerra Fria americana, o tipo de arte que os diretores da CIA colocavam na parede de suas salas. Acho importante saber como isso ocorreu.
Pode-se comparar esta política ao que foi feito durante o nazismo e na União Soviética?
O que a CIA fez foi infinitamente mais sofisticado do que fizeram os nazistas ou os soviéticos. Não se tratava de armar estratégias para forçar pessoas a seguir a linha oficial. O que CIA desenvolveu foi uma forma muito sutil de propaganda: o tipo em que as pessoas envolvidas em sua produção, e aquelas envolvidas em seu consumo, sequer sabiam o que é propaganda.
Então, nada de agrupamentos de massa, pinturas realistas mostrando trabalhadores brandindo suas ferramentas contra a opressão dos capitalistas. Pelo contrário, você mostra às pessoas o expressionismo abstrato, que aparentemente não significa nada, e você diz "olhe como somos livres, tão livres que produzimos arte que significa tudo e nada ao mesmo tempo".
E o que você obtém é um dispositivo bem inteligente para encorajar a idéia de que a América é a campeã da liberdade, apesar do que esteja acontecendo em seu nome ou sob seus auspícios (o estabelecimento de ditaduras na América Latina, a interferência com esquadrões da morte, tortura, etc.).
Fonte: vermelho
As manifestações ocorrem na mesma data em que as elites promovem em Davos, na Suíça, o Fórum Econômico Mundial. "Com isso, no dia 26, o velho mundo, representado pelos produtores de violência, exploração, exclusão, pobreza, fome e aquecimento global do Fórum Econômico Mundial será confrontado por um outro mundo possível, defendido pelas organizações da sociedade civil componentes do Fórum Social Mundial", diz a convocatória do FSM.
Um ato político-teatral, inspirado na peça Rei Lear, de William Shakespeare, é um dos eventos que ocorrem em São Paulo. A partir das 12 horas, artistas, ativistas e movimentos sociais se concentram em três locais diferentes do Centro e, duas horas depois, se reúnem em frente à Prefeitura. Às 15 horas, todos se dirigem para a Praça Ramos de Azevedo, em frente ao Teatro Municipal, para o ato político de encerramento das atividades.
Já em Belém (PA), sede do Fórum Social Mundial 2009, dois atos políticos estão confirmados. O primeiro será contra a criminalização de rádios comunitárias e pela democratização dos meios de comunicação, enquanto o segundo protestará contra a construção de uma hidrelétrica em Belo Monte. Acontecerá ainda uma palestra sobre instrumentos disponíveis à contestação social, além de debates sobre a presença da mulher no FSM e sobre socialismo no século 21.
O Dia de Mobilização e Ação Global terá grandes manifestações em Curitiba, especialmente na Boca Maldita, onde ocorre o principal ato, a partir das 9 horas. Às vésperas de abrigar, em abril, a próxima edição do Fórum Social do Mercosul, a capital paranaense destacará a luta pela integração latino-americana, pela paz e contra a política imperialista dos Estados Unidos.
"A luta pela ação global deve valorizar a integração regional, não só no sentido econômico como também em termos culturais e sociais. Este é o nosso princípio", declarou ao Vermelho Joel Benin, membro da coordenação do Fórum Social do Mercosul.
Descentralização
De canto a canto do planeta, as atividades carregam consigo os princípios do Fórum Social Mundial, desenvolvendo as estratégias e articulações frente ao sistema neoliberal. Especificamente neste ano, o fórum não manterá a tradição de ter uma ou mais cidades como sedes.
A programação foi totalmente descentralizada, mas está de acordo com o pensamento de que o FSM não é um evento. "É um processo que está vivo nos fóruns locais, nacionais, regionais e temáticos, nas muitas lutas plurais, campanhas, alternativas para um outro mundo que são desenvolvidas em todo o planeta."
Foi uma decisão dos organizadores que o próximo FSM só se realize em 2009, em Belém, dois anos após o Fórum na africana Nairóbi (Quênia). Por isso, abriu-se espaço para que uma ampla mobilização global fosse realizada neste 2008.
Entre as principais pautas de discussão estão as novas ameaças de criminalização do protesto, as lutas contra as bases militares e a militarização, a insustentabilidade do modelo neoliberal e suas implicações para as regiões mais pobres, além da necessidade de construir modelos alternativos de consumo.
O dia 26 de janeiro foi escolhido como forma de manter o confronto - assim como os do FSM em anos anteriores - com o Fórum Econômico Mundial de Davos. A data comum com a reunião das potências neoliberais nos Alpes suíços é para aprofundar a teoria e a prática da dominação do mundo pelo capital.
Princípios
O FSM "é um espaço aberto de encontro para o aprofundamento da reflexão, o debate democrático de idéias, a formulação de propostas, a troca livre de experiências e a articulação para ações eficazes, de entidades e movimentos da sociedade civil que se opõem ao neoliberalismo e ao domínio do mundo pelo capital e por qualquer forma de imperialismo", diz a Carta de Princípios do FSM.
Essas entidades, de acordo com o texto, "estão empenhadas na construção de uma sociedade planetária orientada a uma relação fecunda entre os seres humanos e destes com a Terra". Assim, este sábado será cheio de debates, eventos culturais, intervenções artísticas, marchas, protestos, ações diretas e encontros.
Os movimentos sociais de cada lugar chamam a todos os prejudicados pelas políticas excludentes para dar visibilidade à sua luta. Mas cada rede, movimento, organização foi que decidiu como organizar suas próprias ações - e os temas e formato delas.
Camponeses, povos indígenas, mulheres, jovens, sindicatos, artistas, professores, médicos, migrantes, ambientalistas, portadores de necessidade se uniram - se não fisicamente - nas bandeiras que carregam. O Fórum Social Mundial se tornou o principal espaço no qual todos esses movimentos se encontram e constroem alianças.
Fonte:Vermelho
Por Luiz Carlos Azenha (*)
Eu concordo com o Paulo Henrique Amorim: o Jornalismo brasileiro é tecnicamente sofrível, especialmente se comparado aos padrões da BBC, por exemplo. É uma das piores "indústrias" do Brasil. Lá na frente estão a Embraer, a Embrapa, a Gerdau. Aqui atrás, quase na rabeira, estão as nossas grandes empresas de mídia. Eu já lhes disse que não entendo de economia. Mas sei o que significa "fazer" economia.
E, diante da necessidade de cortar custos para possibilitar o investimento em outras áreas, quase todas as grandes empresas da mídia brasileira cortaram pessoal. Cortaram por baixo, pelo meio e por cima. Jornalistas experientes, que ganhavam bem, foram "limados". Os que ficaram desempenham múltiplas tarefas. Os programas que antes eram feitos em três meses hoje são feitos em duas semanas.
Existe alguma explicação para o fato de que a Abril, a Folha e agora a TV Globo controlam uma aula optativa para os alunos da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo? É a privatização da USP para atender diretamente à demanda do mercado. Os jovens serão treinados em "técnicas" de Jornalismo de acordo com o manual de cada empresa. Vocês acham isso bom? É a garantia de mão-de-obra dócil e barata diretamente da fonte. Bancada com o dinheiro que você paga em imposto. Ou seja, você está financiando, indiretamente, as famílias Frias, Civita e Marinho.
A briga por uma vaga num dos grandes veículos de comunicação é tamanha que não estranho quando me dizem que os estagiários estão se tornando "soldados" das empresas. É uma reação natural: eles sabem que do bom comportamento depende a vaga e o salário. Ou seja, existe um grande estímulo ao puxa-saquismo, ainda que ele se dê apenas no local de trabalho.
Falo do que conheci por dentro: nos últimos anos, o "aquário" - que é onde se reúnem os chefes - ganhou poder. Os repórteres perderam. A matéria vem pronta de cima. Discordar de uma pauta é um desgaste diário para qualquer repórter quando ele descobre que os fatos não combinam com o formato pretendido. Passamos, então, ao jornalismo de comentaristas. Diz um amigo, do alto escalão da TV Globo, que os comentaristas se tornaram especialistas em tudo. Falam um dia sobre economia, no dia seguinte sobre febre amarela, na quarta-feira sobre futebol, na quinta sobre música, na sexta sobre o apagão elétrico, no sábado sobre nado sincronizado e no domingo sobre culinária. Aliás, eu mesmo ouvi estarrecido um especialista em culinária da TV Record dando palpite sobre o apagão aéreo...
Certa vez, um desses comentaristas fez uma comparação disfarçada entre Lula e o ditador da Coréia do Norte. Eu comentei o assunto com um superior, que me respondeu: "Ah, mas esse cara é o clown". Ou seja, é o palhaço da emissora. Não deve ser levado a sério, presumo. Mas alguém combinou com o público? Há uns dez anos anos, eu poderia ir à TV e falar uma besteira sobre Medicina, por exemplo. As reclamações levariam dois ou três dias para chegar, se chegassem. O mesmo se aplicava ao colunista de jornal. Ele escrevia, o texto era publicado, a carta do leitor levava tempo... Havia um espaço entre ação e reação, que desapareceu.
Hoje eu escrevo esse texto, publico e em menos de cinco minutos tem alguém me escrevendo para dizer que discorda, que estou errado, que não pensei naquele outro aspecto e assim por diante. Quem escreve? São médicos que entendem mais de Medicina do que eu. São engenheiros que entendem mais de Engenharia do que eu. São historiadores que entendem mais de História do que eu. Porém, qual é a reação dos "deuses" do Jornalismo a essa mudança?
Eles continuam tendo como referência apenas a "panela" de algumas dezenas de colegas, que estão no eixo São Paulo-Rio de Janeiro-Brasília. Hoje, em torno da mídia, existe uma indústria paralela, assim como a instalação de uma indústria automobilística trouxe consigo os fornecedores. Em torno da mídia existem hoje os sites que tratam da mídia, que tratam da crítica da mídia, que tratam das fofocas da mídia, que acham que existe alguma importância se o fulaninho que estava na Folha foi para a Globo ou vice-versa e se a fulana, apresentadora, fez implante de silicone.
Isso ajudou a completar o rompimento dos jornalistas com o "serviço ao público". Raríssimos são aqueles que se propõem a ralar na periferia de São Paulo atrás de uma reportagem socialmente relevante se é possível fazer meia dúzia de telefonemas e "fechar" a reportagem na redação, ouvindo sempre as mesmas "fontes" e "especialistas". Os comentaristas, então, se sentem completamente livres para escrever o que quiserem em nome da liberdade de opinião, como se a existência desta fosse licença para suspender o bom senso, a contextualização e o contraditório.
Daí nascem as conclusões definitivas, as convocações para tomar vacina, as condenações antecipadas...
E esse tipo de Jornalismo soa cada vez mais anacrônico quando, com algumas tecladas, o leitor descobre na internet que não é bem assim, que tem esse outro lado, que um trecho do discurso foi tirado do contexto, que não foi bem isso o que a refém falou. Talvez a História do Jornalismo seja a história do que não foi notícia e do que foi noticiado de maneira apressada e, por isso, com erros - para não falar em distorções e manipulações. Isso passou quase batido na era pré-internet. Agora, respeitar leitores, ouvintes e telespectadores - e ouví-los - é acima de tudo uma questão de sobrevivência.
(*) Luiz Carlos Azenha é jornalista, editor do site Vi O Mundo.