Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
domingo, 24 de agosto de 2008
Dieta vegetariana pode ajudar a reduzir o consumo da água
Viva a Palestina!!!
Do eterno Mahmoud Darwish
Registre-me
Sou Árabe
O numero de minha identidade é cinqüenta mil
Tenho oito filhos
E o nono... Virá logo depois do verão
Vais te irritar por acaso?
Registre-me
Sou árabe
Trabalho com meus companheiros de luta
Em uma pedreira
Tenho oito filhos
Arranco das pedras
O pão, as roupas, os cadernos
E não venho mendigar em tua porta
E não me dobro
Diante das lajes de teu umbral
Vais te irritar por acaso?
Registre-me
Sou Árabe
Meu nome é muito comum
E sou paciente
Em um país que ferve de cólera
Minhas raízes
Fixadas antes do nascimento dos tempos
Antes da eclosão dos séculos
Antes dos ciprestes e oliveiras
Antes do crescimento vegetal
Meu pai... da família do arado
E não dos senhores do nujub
E meu avô era camponês
Sem árvore genealógica
Minha casa
Uma cabana de guarda
De cenas e ramagens
Satisfeito com minha condição
Meu nome é muito comum.
Registre-me
Sou árabe
Sou árabe
Cabelos... negros
Olhos... castanhos
Sinais particulares
Um kuffiah e uma faixa na cabeça
As palmas ásperas como rochas
Arranharam as mãos que estreitam
E amo acima de tudo.
www.socialismo.org.br
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sábado, 23 de agosto de 2008
E há os que defendem o "sistema capitalista"...
Os vendedores de doenças
Há cerca de trinta anos, o dirigente de uma das maiores empresas farmacêuticas do mundo fez declarações muito claras. Na época, perto da aposentadoria, o dinâmico diretor da Merck, Henry Gadsden, revelou à revista Fortune seu desespero por ver o mercado potencial de sua empresa confinado somente às doenças. Explicando preferiria ver a Merck transformada numa espécie de Wringley’s – fabricante e distribuidor de gomas de mascar –, Gadsden declarou que sonhava, havia muito tempo, produzir medicamentos destinados às... pessoas saudáveis. Porque, assim, a Merck teria a possibilidade de “vender para todo mundo”. Três décadas depois, o sonho entusiasta de Gadsden tornou-se realidade.
As estratégias de marketing das maiores empresas farmacêuticas almejam agora, e de maneira agressiva, as pessoas saudáveis. Os altos e baixos da vida diária tornaram-se problemas mentais. Queixas totalmente comuns são transformadas em síndromes de pânico. Pessoas normais são, cada vez mais pessoas, transformadas em doentes. Em meio a campanhas de promoção, a indústria farmacêutica, que movimenta cerca de 500 bilhões dólares por ano, explora os nossos mais profundos medos da morte, da decadência física e da doença – mudando assim literalmente o que significa ser humano. Recompensados com toda razão quando salvam vidas humanas e reduzem os sofrimentos, os gigantes farmacêuticos não se contentam mais em vender para aqueles que precisam. Pela pura e simples razão que, como bem sabe Wall Street, dá muito lucro dizer às pessoas saudáveis que estão doentes.
A fabricação das “síndromes”
A maioria de habitantes dos países desenvolvidos desfruta de vidas mais longas, mais saudáveis e mais dinâmicas que as de seus ancestrais. Mas o rolo compressor das campanhas publicitárias, e das campanhas de sensibilização diretamente conduzidas, transforma as pessoas saudáveis preocupadas com a saúde em doentes preocupados. Problemas menores são descritos como muitas síndomes graves, de tal modo que a timidez torna-se um “problema de ansiedade social”, e a tensão pré-menstrual, uma doença mental denominada “problema disfórico pré-menstrual”. O simples fato de ser um sujeito “predisposto” a desenvolver uma patologia torna-se uma doença em si.
O epicentro desse tipo de vendas situa-se nos Estados Unidos, abrigo de inúmeras multinacionais famacêuticas. Com menos de 5% da população mundial, esse país já representa cerca de 50% do mercado de medicamentos. As despesas com a saúde continuam a subir mais do que em qualquer outro lugar do mundo. Cresceram quase 100% em seis anos – e isso não só porque os preços dos medicamentos registram altas drásticas, mas também porque os médicos começaram a prescrever cada vez mais.
De seu escritório situado no centro de Manhattan, Vince Parry representa o que há de melhor no marketing mundial. Especialista em publicidade, ele se dedica agora à mais sofisticada forma de venda de medicamentos: dedica-se, junto com as empresas farmacêuticas, a criar novas doenças. Em um artigo impressionante intitulado “A arte de catalogar um estado de saúde”, Parry revelou recentemente os artifícios utilizados por essas empresas para “favorecer a criação” dos problemas médicos [1]. Às vezes, trata-se de um estado de saúde pouco conhecido que ganha uma atenção renovada; às vezes, redefine-se uma doença conhecida há muito tempo, dando-lhe um novo nome; e outras vezes cria-se, do nada, uma nova “disfunção”. Entre as preferidas de Parry encontram-se a disfunção erétil, o problema da falta de atenção entre os adultos e a síndrome disfórica pré-menstrual – uma síndrome tão controvertida, que os pesquisadores avaliam que nem existe.
Médicos orientados por marqueteiros
Com uma rara franqueza, Perry explica a maneira como as empresas farmacêuticas não só catalogam e definem seus produtos com sucesso, tais como o Prozac ou o Viagra, mas definem e catalogam também as condições que criam o mercado para esses medicamentos.
Sob a liderança de marqueteiros da indústria farmacêutica, médicos especialistas e gurus como Perry sentam-se em volta de uma mesa para “criar novas idéias sobre doenças e estados de saúde”. O objetivo, diz ele, é fazer com que os clientes das empresas disponham, no mundo inteiro, “de uma nova maneira de pensar nessas coisas”. O objetivo é, sempre, estabelecer uma ligação entre o estado de saúde e o medicamento, de maneira a otimizar as vendas.
Para muitos, a idéia segundo a qual as multinacionais do setor ajudam a criar novas doenças parecerá estranha, mas ela é moeda corrente no meio da indústria. Destinado a seus diretores, um relatório recente de Business Insight mostrou que a capacidade de “criar mercados de novas doenças” traduz-se em vendas que chegam a bilhões de dólares. Uma das estratégias de melhor resultado, segundo esse relatório, consiste em mudar a maneira como as pessoas vêem suas disfunções sem gravidade. Elas devem ser “convencidas” de que “problemas até hoje aceitos no máximo como uma indisposição” são “dignos de uma intervenção médica”. Comemorando o sucesso do desenvolvimento de mercados lucrativos ligados a novos problemas da saúde, o relatório revelou grande otimismo em relação ao futuro financeiro da indústria farmacêutica: “Os próximos anos evidenciarão, de maneira privilegiada, a criação de doenças patrocinadas pela empresa”.
Dado o grande leque de disfunções possíveis, certamente é difícil traçar uma linha claramente definida entre as pessoas saudáveis e as doentes. As fronteiras que separam o “normal” do “anormal” são freqüentemente muito elásticas; elas podem variar drasticamente de um país para outro e evoluir ao longo do tempo. Mas o que se vê nitidamente é que, quanto mais se amplia o campo da definição de uma patologia, mais essa última atinge doentes em potencial, e mais vasto é o mercado para os fabricantes de pílulas e de cápsulas.
Em certas circunstâncias, os especialistas que dão as receitas são retribuídos pela indústria farmacêutica, cujo enriquecimento está ligado à forma como as prescrições de tratamentos forem feitas. Segundo esses especialistas, 90% dos norte-americanos idosos sofrem de um problema denominado “hipertensão arterial”; praticamente quase metade das norte-americanas são afetadas por uma disfunção sexual batizada FSD (disfunção sexual feminina); e mais de 40 milhões de norte-americanos deveriam ser acompanhados devido à sua taxa de colesterol alta. Com a ajuda dos meios de comunicação em busca de grandes manchetes, a última disfunção é constantemente anunciada como presente em grande parte da população: grave, mas sobretudo tratável, graças aos medicamentos. As vias alternativas para compreender e tratar dos problemas de saúde, ou para reduzir o número estimado de doentes, são sempre relegadas ao último plano, para satisfazer uma promoção frenética de medicamentos.
Quanto mais alienados, mais consumistas
A remuneração dos especialistas pela indústria não significa necessariamente tráfico de influências. Mas, aos olhos de um grande número de observadores, médicos e indústria farmacêutica mantêm laços extremamente estreitos.
As definições das doenças são ampliadas, mas as causas dessas pretensas disfunções são, ao contrário, descritas da forma mais sumária possível. No universo desse tipo de marketing, um problema maior de saúde, tal como as doenças cardiovasculares, pode ser considerado pelo foco estreito da taxa de colesterol ou da tensão arterial de uma pessoa. A prevenção das fraturas da bacia em idosos confunde-se com a obsessão pela densidade óssea das mulheres de meia-idade com boa saúde. A tristeza pessoal resulta de um desequilíbrio químico da serotonina no célebro.
O fato de se concentrar em uma parte faz perder de vista as questões mais importantes, às vezes em prejuízo dos indivíduos e da comunidade. Por exemplo: se o objetivo é a melhora da saúde, alguns dos milhões investidos em caros medicamentos para baixar o colesterol em pessoas saudáveis, podem ser utilizados, de modo mais eficaz, em campanhas contra o tabagismo, ou para promover a atividade física e melhorar o equilíbrio alimentar.
A venda de doenças é feita de acordo com várias técnicas de marketing, mas a mais difundida é a do medo. Para vender às mulheres o hormônio de reposição no período da menopausa, brande-se o medo da crise cardíaca. Para vender aos pais a idéia segundo a qual a menor depressão requer um tratamento pesado, alardeia-se o suicídio de jovens. Para vender os medicamentos para baixar o colesterol, fala-se da morte prematura. E, no entanto, ironicamente, os próprios medicamentos que são objeto de publicidade exacerbada às vezes causam os problemas que deveriam evitar.
O tratamento de reposição hormonal (THS) aumenta o risco de crise cardíaca entre as mulheres; os antidepressivos aparentemente aumentam o risco de pensamento suicida entre os jovens. Pelo menos, um dos famosos medicamentos para baixar o colesterol foi retirado do mercado porque havia causado a morte de “pacientes”. Em um dos casos mais graves, o medicamento considerado bom para tratar problemas intestinais banais causou tamanha constipação que os pacientes morreram. No entanto, neste e em outros casos, as autoridades nacionais de regulação parecem mais interessadas em proteger os lucros das empresas farmacêuticas do que a saúde pública.
A “medicalização” interesseira da vida
A flexibilização da regulação da publicidade no final dos anos 1990, nos Estados Unidos, traduziu-se em um avanço sem precedentes do marketing farmacêutico dirigido a “toda e qualquer pessoa do mundo”. O público foi submetido, a partir de então, a uma média de dez ou mais mensagens publicitárias por dia. O lobby farmacêutico gostaria de impor o mesmo tipo de desregulamentação em outros lugares.
Há mais de trinta anos, um livre pensador de nome Ivan Illich deu o sinal de alerta, afirmando que a expansão do establishment médico estava prestes a “medicalizar” a própria vida, minando a capacidade das pessoas enfrentarem a realidade do sofrimento e da morte, e transformando um enorme número de cidadãos comuns em doentes. Ele criticava o sistema médico, “que pretende ter autoridade sobre as pessoas que ainda não estão doentes, sobre as pessoas de quem não se pode racionalmente esperar a cura, sobre as pessoas para quem os remédios receitados pelos médicos se revelam no mínimo tão eficazes quanto os oferecidos pelos tios e tias [2] ”.
Mais recentemente, Lynn Payer, uma redatora médica, descreveu um processo que denominou “a venda de doenças”: ou seja, o modo como os médicos e as empresas farmacêuticas ampliam sem necessidade as definições das doenças, de modo a receber mais pacientes e comercializar mais medicamentos [3]. Esses textos tornaram-se cada vez mais pertinentes, à medida que aumenta o rugido do marketing e que se consolidas as garras das multinacionais sobre o sistema de saúde.
(Tradução: Wanda Caldeira Brant) wbrant@globo.com
Bibliografia complementar:
* A revista médica PLoS Medecine traz, em seu número de abril de 2006, um importante dossiê sobre “A produção de doenças” – http://medicine.plosjournals.org/
* Na França, as revistas Pratiques (dirigida ao grande público) e Prescrire (destinada aos médicos) avaliam os medicamentos e trazem um olhar crítico sobre a definição das doenças.
*Jörg Blech, Les inventeurs de maladies. Manœuvres et manipulations de l’industrie pharmaceutique, Arles, Actes Sud, 2005.
* Philippe Pignarre, Comment la dépression est devenue une épidémie, Paris, Hachette-Littérature, col. Pluriel, 2003.
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Adital
"O objetivo era observar a situação político, social e econômica em que se encontram @s companheir@s, mostrar-lhes nossa solidariedade por meio da nossa presença, a entrega da coleta que levamos a elas e com o fim de mostrar aos três níveis de governo que nossos companheiros das bases de apoio zapatistas e o EZLN não estão sozinhos", ressaltam.
De acordo com a caravana, houve recuperação das terras que estavam em poder dos proprietários rurais e que hoje se encontra em mãos dos povos originários: "Os zapatistas trabalham e cultivam a terra de maneira comunitária e coletiva, o que permite a eles desenvolver sua autonomia em relação à alimentação. Isso, por sua vez, possibilita a realização de seus próprios sistemas de saúde, educação e um largo etcétera, por meio de suas próprias formas de governo, onde o povo manda e o governo obedece".
Sobre o sistema de saúde, os integrantes da caravana expõem que atualmente há promotores de saúde, clínicas, ambulâncias e instalações adequadas para o atendimento médico, cirúrgico e com aparatos de diagnóstico. Além disso, os moradores conservam sua prática de cultivar ervas e de medicina tradicional. "É importante comentar que esse sistema atende sem distinção pessoas que não são propriamente zapatistas", acrescentam.
Os representantes se surpreenderam ao visitar as escolas onde as crianças participam da sua própria educação, escutam e aprendem sua própria história: "Contaram-nos que antes, o tipo de educação era imposto, alheio a suas necessidades e em um só idioma. Agora, os promotores de educação são jovens da própria comunidade, e o modelo educativo se baseia no que eles necessitam e em sua realidade, de maneira ativa e bilíngüe. É importante mencionar que essa, como todas as atividades comunitárias, não recebe retribuição econômica".
A caravana também se inteirou sobre a questão da autonomia. De acordo com a caravana, as comunidades indígenas em resistência desenvolvem o autogoverno mediante o sistema do mandar obedecendo, com seu próprio esforço e o apoio de muitos. Enfatizam a participação das mulheres em todos os âmbitos de sua autonomia.
Dignidade, resistência, solidariedade e esperança são alguns dos fatores responsáveis pelos êxitos das comunidades zapatistas apontados pela caravana. Os integrantes reafirmam que vão continuar denunciando energicamente aos três níveis de governo qualquer tipo de perseguição, detenções, ameaças, provocações que tentem acabar com o processo de autonomia das comunidades zapatistas. Exigem também a desmilitarização e o fim da reativação dos paramilitares do território zapatista.
sexta-feira, 22 de agosto de 2008
Permacultura - cultura permanente
Gaia Terranova Habitats Sustentáveis
Charlie Parker - Bird's Best Bop on Verve (1995)
Entre a classe não | | | |
Waldemar Rossi | |
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Segundo reportagem do Diário de São Paulo de 19/08 (pág. B5), na tarde do sábado (dia 16) foi realizada uma plenária de trabalhadores da Volks do ABC (na sede do Sindicato dos Metalúrgicos) a fim de debater a questão das negociações sobre o valor da Participação nos Lucros e Resultados (PLR) da empresa. Entretanto, segundo a reportagem, houve a proposta de se aceitar o retorno do "banco de horas" – proposta que já tinha sido rejeitada em assembléia do conjunto dos trabalhadores da empresa.
Diante desse fato, que seria um desrespeito à soberania da referida assembléia, dois operários protestaram. Um deles é membro da Comissão de Fábrica, Ailton Ramos, e oposicionista à direção sindical. O outro é o funcionário Fábio Loredo. O protesto teria dado origem a uma discussão que culminou com a agressão, por membros da Comissão de Fábrica, aos seus dois companheiros de trabalho e de lutas. Os agredidos, feridos, foram submetidos a exames de copo delito e um B.O. foi registrado na Delegacia de Polícias.
"Ailton contou que foi derrubado por outros sindicalistas quando os membros da situação foram questionados sobre a proposta de retorno do banco de horas. ‘Não aceitamos isso porque a prorrogação dessa medida foi rejeitada em assembléia no fim de junho. Agora o sindicato quer recuperá-la para tentar negociar a PLR’".
Enquanto Fábio declarou: "Veio um dirigente e me agrediu. Depois chegaram outras pessoas e passaram a me bater na confusão generalizada".
Alguns aspectos importantes a serem refletidos por todos os trabalhadores brasileiros:
1 – Têm, uma comissão de fábrica e a direção sindical, o direito de desrespeitar uma decisão de assembléia, uma vez que todos os estatutos sindicais garantem que as decisões majoritariamente decididas pelos presentes são soberanas?
2 – É possível se admitir que seja negado a um trabalhador o direito constitucional de livre expressão e da divergência, direito esse garantido a todos os cidadãos em exercício de sua cidadania?
3 – Para se "conquistarem" mais alguns reais no sistema do PLR, é justo que se abra mão do direito de receber corretamente pelas horas trabalhadas, conquistado ao longo de muitos anos de lutas de toda a classe operária?
4 – Esse processo de abrir mão de uma conquista histórica, em troca de algum dinheiro temporário, não tem favorecido estrategicamente as empresas em prejuízo dos trabalhadores? Não foi isso o que aconteceu, por exemplo, com a aceitação da redução do quadro de funcionários da própria Volks, em troca de "estabilidade" dos demais por 2 anos, depois até por tempo menor, e assim progressivamente?
5 - Num sindicalismo democrático, opositores podem ser tratados como inimigos, sujeitos a covardes agressões, para fazer imperar a vontade de uma direção sindical ou mesmo a da Comissão de Fábrica, ainda mais em detrimento de decisões coletivas e soberanas?
Creio que respostas positivas a estas questões devem agradar muitíssimo às empresas, porque atende aos seus objetivos de fazer aumentar o grau da exploração dos seus funcionários e de gerar a divisão entre eles, enquanto vai enfraquecendo o conjunto da classe trabalhadora.
Lamentável tal fato entre trabalhadores de uma empresa que na década de 80 fizeram parte da liderança das lutas operárias no Brasil. Repetiram-se ali deploráveis fatos de agressão de trabalhadores a trabalhadores, como já tinha acontecido em São José dos Campos e em outras partes do país. Tais fatos devem merecer o mais veemente repúdio por parte de todos os movimentos sociais que, por sinal, vêm sendo criminalizados pelos governos de vários estados brasileiros, com anuência do governo federal, pois quem cala consente.
Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.
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quarta-feira, 20 de agosto de 2008
O jornalismo medieval de "Veja"
por Conceição Oliveira, no História em Projetos
Não há nada de novo na matéria de Veja que Kamel já não tenha feito e seus asseclas dado continuidade em matérias publicadas na Época, Estadão, Folha e afins em 2007.
Na reedição de Veja estão presentes as mesmas estratégias que buscam validar o antiesquerdismo doentio de seus editores neocons travestidas de 'verdades científicas'; 'jornalismo de isenção' e outras inverdades que a grande mídia neoconservadora deseja incutir na mente dos leitores.
Pergunto-me como os professores Romano, Villa e Schwartzman ainda se prestam a falar para Veja. Não está suficientemente claro para esses intelectuais que esta revista símbolo do anti-jornalismo buscará encaixar as opiniões acadêmicas (sempre retirando-as de seus contextos) para legitimar a caçada de Veja contra tudo o que se opõe ao seu projeto 'arremedo de liberalismo'?
Dentre tantas bobagens, repletas de juízos de valor, tão ideologizadas quanto a crítica que Veja pretende fazer a seus opositores, destaco um trecho no qual a revista acusa os professores brasileiros de idolatrarem figuras que, segundo ela, não trouxeram nenhuma contribuição significativa ao país e/ou humanidade:
"Ou idolatram personagens arcanos sem contribuição efetiva à civilização ocidental, como o educador Paulo Freire, autor de um método de doutrinação esquerdista disfarçado de alfabetização. Entre os professores brasileiros ouvidos na pesquisa, Freire goleia o físico teórico alemão Albert Einstein, talvez o maior gênio da história da humanidade. Paulo Freire 29 x 6 Einstein. Só isso já seria evidência suficiente de que se está diante de uma distorção gigantesca das prioridades educacionais dos senhores docentes, de uma deformação no espaço-tempo tão poderosa que talvez ajude a explicar o fato de eles viverem no passado."
Como levar a sério uma revista que tem a pretensão de qualificar pejorativamente de 'arcano' um dos pensadores mais significativos do século XX , cujas contribuições para a filosofia da educação são reconhecidas entre seus pares no mundo todo?
Como levar a sério um periódico que obriga seus leitores a escolherem (sob pena de serem taxados de ultrapassados e equivocados) entre um educador e um físico teórico e que, excetuando o que a revista denomina de 'civilização ocidental', não reconhece humanidade no resto do planeta?
Como levar a sério uma revista que sequer se dá ao trabalho de conhecer a vasta produção de Paulo Freire e a reduz a 'um método de doutrinação esquerdista'?
Freire afirma que a pedagogia do oprimido, como pedagogia humanista e libertadora, é feita de dois momentos distintos: o primeiro, 'em que os oprimidos vão desvelando o mundo da opressão e vão comprometendo-se na práxis, com a sua transformação; o segundo, em que, transformada a realidade opressora, esta pedagogia deixa de ser do oprimido e passa a ser a pedagogia dos homens em processo de permanente libertação'. E o pensador complementava que em qualquer um destes momentos, fosse nos trabalhos educativos como parte do processo de organização dos oprimidos ou na educação sistemática como projeto político educacional de uma sociedade revolucionária, 'será sempre a ação profunda, através da qual se enfrentará, culturalmente, a cultura da dominação". (FREIRE, 1968: 44)
Não podemos afirmar que uma revista tão desinformada e capaz de subverter tanto os fatos e valores é um representante genuíno da 'cultura de dominação' da qual falava Freire e diante da qual os educadores comprometidos com a transformação da realidade opressora deveriam se opor. Veja não pode ser associada à cultura de espécie alguma, nem mesmo à dominante, pois o que esta revista produz é lixo cultural.
Veja sequer tem um pensador conservador à altura capaz de debater com um pensamento de esquerda do naipe da produção de Paulo Freire. Esse arremedo de revista nem é original em suas acusações a Freire: repete as mesmas falas dos ditadores e censores do período militar dirigidas ao educador libertário, reproduz a mesma ladainha preconceituosa contra a pedagogia freiriana que recentemente alguns procuradores ultraconservadores do MP-gaúcho que desejavam criminalizar o MST produziram. Veja só se dá ao trabalho de papagaiar tudo que existe de mais retrógrado no país, incluindo aí o jornalismo kameliano.
Não há debate no mundo de Veja, não há conflitos de interesses e projetos políticos que se opõem. Em Veja existe o dicotômico e tedioso mundo do 'bem contra o mal', do 'liberalismo estereotipado versus o esquerdismo estereotipado', do Brasil 'ame ou deixe-o', dos 'cristãos versus os infiéis'. O mundo de Veja é um binômio irreal, sem graça e sem importância no qual somos obrigados a escolher entre a filosofia da educação de Paulo Freire e teoria da relatividade de Albert Einstein. Não podemos buscar conhecer as diferentes contribuições destes dois importantes homens do século XX.
Talvez seja por isso que ao comemorar 40 anos, Pedagogia do Oprimido segue viva e original estimulando historiadores e educadores a refletirem sobre as contribuições e os limites da extensa e rica produção freiriana e Veja (que também faz quarenta anos) no máximo servirá aos historiadores interessados em pesquisar a capacidade de degradação de um veículo de comunicação: ao longo de quatro décadas quais diferenças existem entre a época áurea sob direção de Mino Carta e a era dos bobos da corte feito os Reinaldos e Mainardis, arremedos mal feitos dos neocons? Quem tiver paciência que faça a análise.
O que é patente aos leitores críticos que Paulo Freire ajudou a formar é que na atualidade Veja não faz jornalismo, ela arroga a si o direito de julgar produções, personalidades, projetos, políticas públicas e insiste em nos enfiar goela abaixo a sua visão pobre e restrita e deturpada do mundo.
Veja, tal qual os velhos senhores feudais encastelados que dominavam o governo, o poder de legislar e o poder de Justiça em suas possessões, sequer chegou ao século XIX onde ela julga estarem estagnados os professores que critica. A revista parou na Idade das Trevas seja qual for esse tempo-espaço (façam suas escolhas, qualquer um serve, desde que tenha sido uma era de truculência, intolerância e sectarismo bem ao estilo Veja - inquisição moderna, o terror, a ditadura, o fascismo, o nazismo, o macarthismo ou a era Bush de Guantânamo e Abugrai).
O que Veja ainda não descobriu é que os professores, proprietários de escolas e pais cada dia mais sabem distinguir o jornalismo medieval do estilo Veja do bom jornalismo produzido por profissionais menos subservientes e ignorantes. Veja precisa entender que quarenta anos de Pedagogia do Oprimido fizeram diferença positiva em nosso país, que grande parte da população pouco a pouco briga por sua cidadania, pelo direito de pensar, opinar, refletir e se recusa a permanecer na Idade das Trevas sob a batuta do tribunal arrogante de Veja. Pais e professores cada vez mais abrem mão, de bom grado, do jornalismo medieval produzido por Veja.
créditos: www.viomundo.com.br