Atirador de sapatos: 'sem desculpas' a ninguém
Muntazer al-Zaidi, o jornalista iraquiano que atirou seus sapatos contra George W. Bush, presidente dos Estados Unidos, disse que não pedirá desculpas pelo ato, ao mesmo tempo que seu advogado afirmou que o jornalista foi torturado na prisão.
Dhiya'a al-Sa'adi, advogado de al-Zaidi disse à al-Jazira, a rede catariana de televisão, nesta segunda-feira, que ''Muntazer al-Zaidi considera que o que fez ao atirar seus sapatos contra Bush foi exercitar seu direito à liberdade de expressão, em oposição e rejeição à ocupação, que trouxe o caos ao Iraque''.
Al-Sa'adi disse que al-Zaidi não estava pensando em pedir desculpas ao presidente dos Estados Unidos, ''nem hoje, nem no futuro''.
Um porta-voz do premiê do Iraque, Nuri al-Maliki, afirmou na última quinta-feira (18), em uma coletiva de imprensa em Bagdá, que al-Zaidi teria reconhecido que atirar seus sapatos teria sido um ''ato hediondo''.
Entretanto, Dhargham al-Zaidi, o irmão do jornalista questionou a veracidade da afirmação. Ele disse que seu irmão foi surrado com uma barra de ferro logo depois que foi retirado da coletiva com o premiê e o presidente americano.
''Ele não volta atrás em relação ao que fez'', disse o advogado à al-Jazira.
''As suas ações objetivavam somente o presidente Buhs, para dizer a ele que rejeita a ocupação e tudo o que isso significa para o Iraque''
''Em particular, à luz da forma desumana pela qual os prisioneiros iraquianos foram tratados pelas forças americanas''.
Espancamentos
Permitiram a al-Zaidi ver seu advogado no domingo à tarde, que em seguida confirmou as informações iniciais de que ele teria sido espancado e que sua condição médica era ''muito ruim''.
''Há sinais visíveis de torturem em seu corpo, em resultado do espancamento com instrumentos de metal'', disse al-Sa'adi.
''Relatórios médicos mostraram que o espancamento a que foi foi submetido al-Zaidi levaram-no a perder um dente, assim como ferimentos em sua mandíbula e ouvidos.
''Ele teve sangramento no olho esquerdo, assim como marcas em seu rosto e abdôme. Quase nenhuma parte de seu corpo foi poupada de ser espancada.''
Hajar Smouni, um porta-voz do Doha Centre for Media Freedom no Catar disse que ''a forma como ele foi preso foi muito brital. Algumas pessoas relataram que havia sangue no chão no lugar onde ele foi detido''.
''Embora ele não tenha sido preso por causa de suas opiniões, nós não podemos permancer em silêncio, diante dos maus-tratos a que foi submetido pelas forças iraquianas de segurança. É vital que ele tenha acesso a cuidados médicos e que lhe seja dado um julgamento justo'', disse.
Reclamações
"O fato dele ter sido assistido por um advogado já é um sinal positivo, mas o que preocupa é que ele será julgado pela Corte Central Iraquiana, que é o tribunal que julga os casos dos acusados por terrorismo".
"Esse á um julgamenteo difícil. Ele pode ser sentenciado a 25 anos na prisão, e nós precisamos assegurar que a ele não seja dada uma pena excessiva".
"No passado, houve muitos casos que foram interpretados como
reveladores da submissão e falta de independência do sistema judicial iraquiano".
Al-Zaidi fez uma ação contra os guardas que o espancaram, de acordo com seu advogado, e solicitou que eles sejam julgados também pela Corte Central Iraquiana".
"A corte aceitou a ação e tomou as medidas cabíveis para que os guardas sejam levados à justiça e punidos por infração à lei", disse al-Sa'adi.
O julgamento de al-Zaidi está marcado para 31 de dezembro de 2008, quando será acusado de "insultar um líder estrangeiro".