quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Novo consenso capitalista está em gestação



Walden Bello - carta maior

As elites econômicas e políticas começam a convergir para uma solução global de tipo socialdemocrata como solução para a atual crise. Mas devemos buscar algo mais que uma gestão social, sustenta Walden Bello: precisamos perseguir modelos de organização social que apontem a igualdade e o controle democrático da economia, em escala nacional e global. O desafio é superar os limites impostos à imaginação política da esquerda pela combinação da agressividade do modelo neoliberal dos anos 80 com o colapso do socialismo burocrático no início dos 90.

Não é surpreendente que a rápida deterioração da economia global, combinada com a chegada à presidência dos Estados Unidos de um liberal de esquerda afroamericano, tenha despertado em milhões de pessoas a esperança de que o mundo se acha no umbral de uma nova era. É verdade que algumas das escolhas recentes de Obama – particularmente, a do ex-secretário do Tesouro, Larry Summers, para dirigir o Conselho Econômico Nacional, a de Tim Getihner, chefe do Comitê do Federal Reserve de Nova York, para desempenhar o cargo de secretário do Tesouro, e a do antigo prefeito de Dallas, Ron Kirk, para o Comércio, despertaram certo ceticismo. Mas a sensação de que as vetustas fórmulas neoliberais estão totalmente desacreditadas tem convencido a muitos de que a nova liderança democrata na maior economia do planeta romperá com as políticas fundamentalistas de mercado hegemônicas desde o início dos anos 80.

Uma questão importante passa por saber até que ponto a ruptura com o neoliberalismo será decisiva e definitiva. No entanto, outras questões para o coração mesmo do capitalismo. A propriedade pública, a intervenção e o controle serão exercidas simplesmente para estabilizar o capitalismo e, logo em seguida, devolver o controle às elites empresariais? Veremos uma segunda rodada de capitalismo keynesiano, na qual o Estado, as elites empresariais e as organizações sindicais colaborarão a partir de uma base de política industrial, crescimento e salários elevados (com o acréscimo de uma dimensão ecológica)? Ou assistiremos ao começo de uma série de alterações fundamentais na propriedade e no controle da economia em uma direção mais popular? O sistema global do capitalismo estabelece, certamente, limites ao alcance das reformas, mas em nenhum outro momento da última metade do século passado, esses limites foram tão fluidos e incertos.

O presidente francês Nicolas Sarkozy já fez sua aposta: após declarar que “o capitalismo laissez-faire morreu”, criou um fundo de investimentos estratégicos de 20 bilhões de euros para promover a inovação tecnológica, manter em mãos francesas os setores industriais avançados e conservar postos de trabalho. “No dia em que deixarmos de construir trens, aviões, automóveis e barcos, o que restará da economia francesa”, perguntava-se retoricamente há poucos dias. “Lembranças. Mas eu não quero que a França se converta em uma mera reserva turística”. Esse tipo de política industrial agressiva, pensada para a classe operária branca tradicional, poderia andar de mãos dadas com as políticas antiimigratórias excludentes defendidas pelo presidente francês.

Socialdemocracia global
No entanto, um novo keynesianismo nacional confirme as linhas propostas por Sarkozy, não é a única alternativa de que dispõem as elites. Dada a necessidade de legitimação global para promover seus interesses em um mundo cujo equilíbrio de poder está se deslocando para o Sul, pode ser mais atrativo para as elites ocidentais optar por uma mistura da socialdemocracia européia e do liberalismo New Deal que poderíamos chamar de “Socialdemocracia Global” (SDG).

Antes mesmo que se desenvolvesse por completo a atual crise financeira, os partidários da SDG já tinham começado a apontá-la como uma alternativa para a globalização neoliberal, respondendo às inquietudes e às pressões provocadas por esta última. Uma personalidade vinculada a SDG é o atual primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, que encabeçou a resposta européia ao desmonte financeiro por meio da nacionalização parcial dos bancos. Considerado por muitos como o padrinho da campanha “Convertamos a pobreza em história” no Reino Unido, Brown, como chanceler britânico das finanças, propôs o que chamou de “capitalismo fundado na aliança” entre o mercado e as instituições estatais, capaz de reproduzir em escala global o que, segundo ele, teria feito Franklin Delano Roosevelt em escala econômica nacional, a saber: “garantir os lucros gerados pelo mercado e, ao mesmo tempo, domar seus excessos”. Tratar-se-ia, segundo Brown, de um sistema que “incorporaria todos os benefícios dos mercados e dos fluxos de capitais globais, minimizaria os riscos de crises e desmoronamentos, maximizaria as oportunidades de todos e sustentaria os mais vulneráveis. Significaria, em uma palavra, restaurar, em escala econômica mundial, o empenho e os elevados ideais públicos”.

Na articulação de um discurso socialdemocrata global uniu-se a Brown um heterogêneo grupo formado, entre outros, pelo economista Jeffrey Sachs, por George Soros, pelo antigo secretário-geral da ONU Kofi Annan, pelo sociólogo David Held, pelo prêmio Nobel Joseph Stiglitz e até por Bill Gates. Há entre eles diferenças de matiz, mas a direção de suas perspectivas é a mesma: buscar uma ordem social reformada e obter a revitalização do consenso em torno do capitalismo global.

Entre as principais posições defendidas pelos partidários da SDG destacam-se as seguintes:

A globalização é essencialmente benéfica para o mundo; os neoliberais simplesmente arruinaram a gestão da mesma e a tarefa de vendê-la à opinião pública.

É urgente salvar, resgatar a globalização, arrancando-a das mãos neoliberais; a globalização é irreversível e já poderia ter iniciado o processo de reversão.

O crescimento e a equidade podem entrar em conflito, caso no qual é preciso dar prioridade à equidade.

É possível que o livre comércio não seja benéfico no longo prazo, e é possível que mantenha a maioria na pobreza; por isso, é importante que os acordos comerciais estejam sujeitos a condições sociais e ambientais.

É preciso evitar o unilateralismo e empreender reformas fundamentais das instituições e dos acordos multilaterais, um processo que poderia levar à liquidação ou à neutralização de vários deles, como o Acordo Comercial para os Direitos de Propriedade Intelectual (TRIP, em sua sigla em inglês) estabelecido no marco da Organização Mundial de Comércio (OMC).
A integração social global, ou a redução da desigualdade dentro das nações e entre elas, deve andar de mãos dadas com a integração do mercado global.

A dívida global dos países em desenvolvimento deve ser cancelada, ou ao menos drasticamente reduzida, a fim de que os recursos possam ser utilizados para estimular a economia local, contribuindo assim para a recuperação da economia global.

A pobreza e a degradação ambiental são tão graves que é preciso implementar um programa massivo, uma espécie de “Plano Marshall” do Norte para as nações do Sul no marco dos “Objetivos do Desenvolvimento do Milênio”.

É preciso lançar uma “Segunda Revolução Verde”, particularmente na África, por meio da adoção generalizada de sementes geneticamente modificadas.

É preciso dedicar grandes investimentos para colocar a economia global em caminho ambientalmente mais sustentável; os governos devem encabeçar esses programas (“keinesianismo verde” ou “capitalismo verde”).

As ações militares para resolver problemas devem ser preteridas em favor da diplomacia e do “poder brando”, mas devem manter-se as intervenções militares humanitárias em situações de genocídio.

Os limites da Socialdemocracia Global
A Socialdemocracia Global não mereceu até agora muita discussão crítica, talvez porque o grosso dos progressistas siga empenhado na última guerra, isto é, a guerra contra o neoliberalismo. Mas fazer sua crítica é urgente, e não só porque a SDG é o candidato mais provável à sucessão do neoliberalismo. Mais importante ainda é o fato de que, ainda que tenha alguns elementos positivos, tem também, como seu antecessor, o paradigma socialdemocrata de corte keynesiano, traços bastante problemáticos.

Comecemos por ressaltar os problemas que apresentam quatro elementos centrais da perspectiva SDG.

Primeiro: a SDG compartilha com o neoliberalismo o viés favorável à globalização, diferenciando-se somente por sua promessa de promover uma globalização melhor que a dos neoliberais. Isso, contudo, importa tanto como decidir que basta acrescentar a dimensão da “integração social global” para que um processo que é intrinsecamente destruidor, tanto social como ecologicamente, resulte digerível a aceitável. A SDG parte do pressuposto de que os povos querem realmente fazer parte de uma economia global funcionalmente integrada na qual desapareçam as barreiras entre o nacional e o internacional. No entanto, cabe perguntar, os povos não prefeririam fazer parte de economias submetidas a controle local? Não é mais certo dizer que os povos prefeririam impor limites aos caprichos e extravagâncias da economia internacional? Na realidade, a atual trajetória descendente das economias interconectadas confirma a validade de uma das críticas básicas ao processo de globalização por parte do movimento antiglobalização.

Segundo: a SDG compartilha com o neoliberalismo a preferência pelo mercado como mecanismo principal de produção, distribuição e consumo, diferenciando-se fundamentalmente por sua insistência no papel do Estado para corrigir as falhas do mercado. O tipo de globalização de que o mundo necessita, segundo Jeffrey Sachs em seu livro “The End of Poverty” (“O Fim da Pobreza”), passaria por “represar...a formidável energia do comércio e do investimento, reconhecendo e corrigindo suas limitações mediante uma ação coletiva compensatória”. Isso é muito distinto de sustentar que a cidadania e a sociedade civil devem tomar as decisões econômicas fundamentais, limitando-se o mercado e a burocracia estatal a serem mecanismos de execução da tomada democrática de decisões.

Terceiro: a SDG é um projeto tecnocrático, com especialistas formulando e executando reformas sociais desde cima, não um projeto participativo no qual as iniciativas são tomadas de baixo para cima.

E quarto: a SDG, mesmo que crítica ao neoliberalismo, aceita o marco do capitalismo monopolista que repousa, basicamente, no lucro resultante da extração exploradora de mais valia procedente do trabalho, processo gerador de sucessivas crises por suas inerentes tendências à superprodução e que, com sua busca de rentabilidade, tende a chocar-se com os limites ambientais. Do mesmo modo que o keynesianismo tradicional em escala nacional, a SDG busca, em escala global, um novo compromisso de classe que ande ao lado de novos métodos para conter ou minimizar a tendência às crises consubstancial ao capitalismo. Assim como a velha socialdemocracia e o New Deal trouxeram estabilidade ao capitalismo em escala nacional, a função histórica da SDG é mitigar as contradições do capitalismo global contemporâneo e relegitimar o mesmo após a crise e o caos deixados pelo neoliberalismo. Em sua própria raiz, a SDG tem a ver com um problema de gestão social.

Obama tem o talento de construir pontes entre discursos políticos diferentes. Assim mesmo, é uma tabula rasa no tocante à economia. Como Roosevelt em seu tempo, não está atado a fórmulas do ancien regime. É um pragmático, cujo critério-chave é o êxito na gestão social. Como tal, encontra-se em uma posição única para encabeçar esse ambicioso empreendimento reformista.

A esquerda deve despertar
Enquanto a esquerda estava envolvida em uma guerra sem quartel contra o neoliberalismo, o pensamento reformista ia conquistando adeptos entre círculos reformistas do establishment. E esse pensamento está agora a ponto de se converter em política: a esquerda deve redobrar seus esforços para estar à altura. Não se trata apenas de passar das críticas às propostas construtivas. O desafio é superar os limites impostos à imaginação política da esquerda pela combinação da agressividade do desafio neoliberal dos anos 80 com o colapso dos regimes de socialismo burocrático no início dos anos 90. A esquerda deveria ser capaz, de novo, de atrever-se a buscar modelos de organização social que apontem sem reservas para a igualdade e o controle democrático e participativo tanto da economia nacional quanto da economia global, condições necessárias para a emancipação individual e coletiva.

Do mesmo modo que o velho regime keynesiano do pós guerra, a SDG está ligada à gestão social. Em troca a perspectiva da esquerda é a liberação social.

Walden Bello é professor de Ciências Políticas e Sociais na Universidade das Filipinas (Manila), membro do Transnational Institute de Amsterdã, presidente da Freedom from Debt Coalition e analista sênior do Focus on the Global South.

Tradução: Katarina Peixoto

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

do blog www.patrialatina.com.br

GAZA: Israel usam fósforo branco em seus bombardeios









Gaza (Prensa Latina) Médicos, vítimas e grupos de direitos humanos em Gaza denunciaram nesta segunda-feira que Israel emprega fósforo branco em seus bombardeios, ainda que os hebreus tenham se justificado afirmando que usam "as mesmas munições" que os Estados Unidos e Grã-Bretanha.
O que já era motivo de especulações há dias, a julgar pelas fumaças brancas vistas depois de ataques a zonas com alta densidade populacional da faixa, foi verificado em pacientes com profundas queimaduras e no próprio titubeio dos porta-vozes de Tel Aviv. Médicos do hospital Al-Shifa, o principal de Gaza, declararam ao canal catarense Al Jazeera que vários dos feridos internados sofrem queimaduras muito profundas nunca antes observadas, que acredita-se foram causadas por químicas controversas como o fósforo branco.
Chagas que avançam rápido da carne aos ossos foram detectadas em pacientes enviados de várias zonas da cidade e de Jebaliyah (norte), confirmaram os médicos palestinos que contaram quase 900 mortos e 4.100 feridos em 17 dias de guerra.
Residentes ali disseram ver lançar sobre áreas civis um tipo de arma "sem precedentes", enquanto crianças nas ruas desse bairro brincavam com fragmentos de um material sólido do qual emanavam pequenas chamas e muita fumaça branca asfixiante e tóxica, segundo o descreveram.
Médicos garantem que uma substância identificada com as siglas DIME e o fósforo branco produzem danos irreversíveis que muitas vezes obrigam a amputações devido à gravidade das feridas.
Tanto o porta-voz do governo israelense, Mark Regev, como a porta-voz do exército Avital Leibovich desviaram-se de responder a insistentes perguntas sobre se está sendo utilizando fósforo branco com o freqüente "Israel não usa armas proibidas pelo direito internacional".
"A política do exército é não especificar os tipos de munições que usa, não fizemos antes e não faremos agora", declarou Leibovich à Al Jazeera, enquanto Regev foi incapaz de negar ou confirmar claramente o emprego de químicos.
Encurralado por um jornalista, o porta-voz do governo disse desconhecer detalhes do tipo de munição lançada sobre Gaza, mas insistiu que "só sei que Israel não usa munições que as forças da OTAN não usariam numa situação de combate similar".
Especialistas de grupos de direitos humanos disseram ter confirmado no terreno que as tropas terrestres judias atiraram fósforo branco, a partir das explosões, o fogo que provocou e outros indicadores próprios dessa substância lançada em massa sobre Jebaliyah.
A legislação internacional permite em conflitos armados o uso do referido químico para dar cobertura a movimentos de tropas e impedir que o inimigo recorra a certas armas teledirigidas.
No entanto, essa munição está cortantemente proibida em áreas densamente povoadas, como é o caso de Gaza, e seu lançamento viola o direito internacional humanitário no relativo às precauções possíveis de levar em conta para evitar feridas e mortes de civis.
Que benfeitores como Washington, Londres ou a OTAN em pleno, o utilizem, não exime de responsabilidade o regime sionista na brutal agressão contra a população palestina, máxime quando foi provado que o aplicou em sua fracassada guerra contra o Líbano, em 2006.
Nos 34 dias de confronto ao grupo xiita libanês Hezbollah descarregou fósforo branco em zonas civis, da mesma forma que os Estados Unidos fizeram em 2004 durante o polêmico sitio à cidade iraquiana de Faluja.

Texto: Prensa Latina

Daphne Loves Derby - Good Night, Witness Light(rock)-2007

http://i19.tinypic.com/2qbc0mu.jpg


01. Are Two Chords Enough, Dear?
02. Stranger, You And I
03. Iron In The Backseat
04. No One Is Convinced
05. Marching Band Intro
06. That's Our Hero Shot
07. To Struggle With Light
08. Cue The Sun
09. Minature Christmas Tree
10. Love & Mercy
11. Hello Color Red
12. Best Part About It Honey, The
13. How's It Going To End?

Brasil - O STF e a verdade histórica





Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) se encontram perante duas alternativas: reiterar a Lei de Anistia e isentar de punição os responsáveis por crimes da ditadura militar ou declarar que suas atrocidades são imprescritíveis e, portanto, passíveis de penalidades.

Escolhida a primeira alternativa, descansarão em paz com os setores militares que mancharam 21 anos de história do Brasil. E terão seus nomes incluídos, pelos historiadores do futuro, entre os que foram coniventes com os graves crimes praticados.

Se prevalecer a segunda alternativa, haverão de reafirmar a independência da corte suprema e terão seus nomes registrados na história por terem ouvido o clamor de justiça das vítimas.

O direito de justiça às vítimas é acentuado pela tradição bíblica. Javé não permite que o sangue de Abel se cristalize em lacre de silêncio, e os apóstolos identificam na ressurreição de Jesus a "volta por cima" daquele que, preso, torturado e assassinado por dois poderes políticos, tem a sua memória perpetuada pelos evangelistas. É o que faz da Igreja primitiva memorial dos mártires, elevados aos altares para que jamais se esqueça o valor de seu sacrifício.

A tese de que "é melhor não reabrir as feridas" é típica de quem se beneficiou de golpes e ditaduras, afirma o espanhol Prudêncio García, representante da ONU na apuração dos crimes da ditadura guatemalteca.

O argumento do ministro Gilmar Mendes, de que reabrir o debate traria instabilidade ao país, carece de precedente histórico. Chile, Argentina, Uruguai, Guatemala e El Salvador investigaram os crimes de suas respectivas ditaduras e, ao punir culpados, reforçaram ainda mais o Estado de Direito, pilar do regime democrático.

Na Argentina, a Comissão Nacional sobre o Desaparecimento de Pessoas (1984), presidida pelo escritor Ernesto Sábato, extirpou das Forças Armadas os resquícios da ditadura, fez justiça às vítimas, puniu os responsáveis e ainda tornou um dos denunciantes, Adolfo Perez Esquivel, merecedor o Prêmio Nobel da Paz. A Marinha argentina admitiu que utilizaram suas instalações (ESMA) para seqüestrar, torturar e assassinar cidadãos. Nem por isso a democracia se viu ameaçada.

No Chile, a Comissão de Verdade e Reconciliação (1990) passou a limpo a ditadura Pinochet. O Exército reconheceu que, na Villa Grimaldi, presos políticos sofreram torturas até a morte. A Marinha admitiu que o mesmo ocorreu a bordo do navio-escola Esmeralda. Nem por isso a democracia se viu ameaçada.

Em El Salvador, a Comissão da Verdade (1992) teve o patrocínio da ONU. O Exército assumiu sua responsabilidade nos massacres de El Mozote (1981) e dos seis jesuítas da Universidade Centro-Americana (1989), bem como no assassinato do arcebispo Oscar Romero (1980). Nem por isso a democracia se viu ameaçada.

Na Guatemala, a Comissão de Esclarecimento Histórico (1997) fez a filha de uma das vítimas, assassinada pela ditadura, também merecer o Nobel da Paz: Rigoberta Menchú. Os militares daquele país reconheceram que uma ala do Exército cometeu brutal genocídio contra as comunidades indígenas de El Quiché e Petén.

Segundo Prudêncio García, todas essas investigações tiveram em comum o fato de terem sido posteriores a períodos de terríveis conflitos internos; todas trouxeram luz à verdade histórica; todas reiteraram a supremacia da força do Direito sobre o "direito" da força. Em todos os casos, a única parcela da sociedade contrária às apurações foi exatamente a que se beneficiou das graves violações dos direitos humanos.

Walter Benjamin, ao assinar sua filosofia com o próprio sangue, nos adverte que a memória das vítimas jamais se apaga. Não se passa borracha na história. Toda tentativa de fazê-lo resulta em atrocidade intelectual: maculá-la de falsidade e mentira.

Na Alemanha pós-nazista, terminado o julgamento de Nuremberg, iniciou-se um movimento de ocultação da verdade histórica. Hannah Arendt, após 13 anos de exílio na França e nos EUA, reagiu indignada ao regressar: "Os alemães vivem da mentira e da estupidez!"

Israel jamais permitiu que a memória das vítimas do nazismo fosse apagada, esquecida ou suprimida da história. O anjo de Paul Klee continua a voar para frente e olhar para trás...

"Portar máscara durante longo tempo estraga a pele", exclama a escritora tcheca Monika Zgustova. "Algo parecido ocorre à sociedade que oculta sua própria culpa com a intenção de livrar-se dela, esquecendo-a. Sociedades e cidadãos devem assumir coletiva e individualmente a responsabilidade do que fazem ou fizeram nossos governos. Este é um dos mais importantes atos da dignidade humana".

O caráter da história do Brasil repousa em mãos dos ministros do STF.

[Autor de "Calendário do Poder" (Rocco), entre outros livros].


* Escritor e assessor de movimentos sociais

CORRELAÇÃO DE FORÇAS EM ISRAEL MUDOU PRA PIOR

Do blog do Rodrigo Vianna

por Élcio Siqueira

Agnóstico, formado numa família católica, tomei contato com a comunidade hebraica através dos judeus progressistas, no começo dos anos 80. Gente que eu encontrava em protestos em São Paulo contra a invasão israelense do Líbano em 1982, que realizava um debate muito sério com militantes da OLP e se referenciava no movimento Paz Agora e em outras iniciativas de diálogo originadas no interior do universo judaico. Para contato com as idéias dessa brava e honorável gente, recomendo o sítio http://www.pazagora.org/ no qual estão disponíveis, dentre outros textos interessantes, matérias muito recentes de jornais e pensadores israelenses traduzidas para o português.

Acredito que esses horríveis acontecimentos na Faixa de Gaza que ora estamos acompanhando pela mídia remetem a dois pontos de estrangulamento.

O principal (e mais imediato) é a recusa israelense a realizar quaisquer concessões significativas aos palestinos nos territórios ocupados, como ficou claro durante o governo de Ehud Barack (1999-2001). Eleito sob o signo da retomada do processo de negociações que tinha sido interrompido com o assassinato do premiê Yitzhak Rabin em 1995 e pela vitória do Likud nas eleições de 1996, Barack apresentou um projeto que, dentre outros problemas, devolveria uma parcela mínima da Cisjordânia aos palestinos e retalhava seu território no meio dos assentamentos judeus que não seriam retirados, proposição reconhecida pelos palestinos (e internacionalmente) como inaceitável.

Mesmo que esta proposta tenha resultado menos da inabilidade do governo de Barack (e mais da própria correlação de forças dentro do parlamento israelense), o fato é que, no fim das contas, a iniciativa representou uma derrota política da coalizão então hegemônica, à qual se somou o fracasso da busca de uma solução negociada que encerraria a ocupação israelense do sul do Líbano. Nessa área, o exército israelense vinha tendo um índice de baixas de 05% no contingente engajado, marca reconhecida em mundo como característica de guerra aberta entre forças equivalentes.

Partindo dessa contestação – que poderia, em tese, ter levado à obtenção de ganhos políticos e diplomáticos através da negociação de uma saída honrosa – o governo Barack acabou colhendo uma derrota espetacular; suas tropas foram simplesmente enxotadas das terras libanesas pelo Hesbollah, na primeira grande vitória de uma força árabe num confronto direto com Israel.

Entre os governos de Yitzhak Rabin em 1992-1995 (durante o qual foi assinado o Acordo de Oslo com a OLP que permitiu a criação da Autoridade Palestina) e Ehud Barack, a correlação de forças dentro da sociedade israelense mudou para pior com a chegada massiva de judeus da União Soviética em derrocada (que deram base a um partido bastante conservador) e com a proliferação de partidos confessionais de vários matizes, sem os quais é muito difícil compor uma maioria parlamentar estável.

O preço (literalmente) cobrado é a destinação de recursos públicos para escolas de feição religiosa fundamentalista e a imposição de impedimentos de toda sorte às conversações com as lideranças palestinas.

Outro sinal do mesmo processo de direitização da política israelense foi a criação do partido Kadima em 2005, reunindo antigos líderes do Likud e supostos adversários trabalhistas de épocas passadas, como Shimon Peres. Um denominador comum entre todos é que os assentamentos israelenses em terras árabes são entendidos como uma realidade que veio para se firmar em definitivo. Aliás, a maior concessão que qualquer governo israelense se permitiu nesta questão foram os supostos “congelamentos” de novos núcleos judeus em áreas palestinas.

Existem, claro, expressivos setores progressistas e lúcidos em Israel, capazes de se fazer sentir nas disputas internas como um fator de moderação contra propostas de novas aventuras militares. Entretanto, a idéia de que a sociedade israelense, no seu conjunto, tem feição politicamente avançada parece pertencer a um passado de retorno cada vez mais difícil.

O outro aspecto fundamental é a composição demográfica do Estado de Israel. De acordo com Sergio Della Pergola, reconhecido professor de Demografia Judia na Universidade Hebraica de Jerusalém, Israel contava, em 2005, com 10,5 milhões de habitantes, sendo 50% de hebreus. Os árabes nascidos em Israel eram 1,3 milhões e os palestinos nesse mesmo território somavam 3,3 milhões. Mantida a tendência ora verificada, o número de judeus cairá para 35% do total da população israelense até 2050: as mães judias têm uma média de 2,7 filhos contra 04 filhos por mulher entre as palestinas (conforme http://www.pazagora.org/impArtigo.cfm?IdArtigo=1215 e http://maierovitch.blog.terra.com.br/2009/01/09/em-gaza-a-lei-e-outra/). O mesmo estudioso assinala que, em todo o mundo, o crescimento da população judaica é negativo, com um percentual crescente de idosos em pouco mais de 13 milhões de indivíduos. 05 milhões vivem nos Estados Unidos, onde são 02% do contingente populacional.

Portanto, uma eventual incorporação da população árabe dos territórios ocupados à política israelense simplesmente implodiria o Estado Judeu. Mas, até quando será possível tanto inviabilizar o Estado Palestino quanto negar direitos de cidadania às populações árabes da Cisjordânia e de Gaza? Aparentemente, os setores majoritários da opinião pública de Israel preferem acreditar que decisões dessa natureza podem ser proteladas indefinidamente e que quaisquer concessões feitas por um governo aos palestinos poderão ser canceladas por outro que vier, mais firme e decidido.

Nessas condições, não é surpreendente que, em 2001, Ariel Sharon tenha sucedido ao hesitante Ehud Barack na liderança de Israel. Já que os setores nominalmente favoráveis a negociações com os palestinos e com os Estados vizinhos não tinham nem firmeza de propósitos em suas ações, nem capacidade de articular uma maioria parlamentar coerente, Sharon propunha-se a realizar sem problemas de consciência a destruição da estrutura administrativa da Autoridade Palestina e a aplicação de uma política de extermínio seletivo das lideranças árabes nos territórios ocupados, combinada com um esforço sistemático para desmoralizar o governo do Presidente Yasser Arafat.

Outro ponto essencial de seu governo foi a construção de dezenas de quilômetros de muros para isolar as áreas de população majoritariamente palestina, com direito a portões de entrada vigiada, torres com homens pesadamente armados e limitações de acesso à água para os confinados. Essas medidas restringiram as possibilidades de obtenção de empregos para os palestinos fora das terras onde residem, agravando os índices de pobreza em seu meio.

Dessa maneira, o Estado de Israel tornou-se crescentemente parecido com o extinto regime sul-africano do apartheid, com a construção de barreiras físicas destinadas a proteger uma minoria privilegiada numa escala provavelmente nunca imaginada pela liderança africâner.

A incansavelmente repetida alegação de que Israel é um país democrático não invalida o paralelo, pois o apartheid era um regime democrático para a elite branca que tratava o principal movimento de oposição ao sistema (o Congresso Nacional Africano, de Nelson Mandela) como organização terrorista, tal como ocorre em Israel em relação a qualquer movimento palestino de resistência.

Nos primeiros dias de 2006, o premiê Sharon entrou em estado vegetativo, não podendo, conseqüentemente, testemunhar o principal resultado das ações de seu governo: a vitória do Hamas nas eleições palestinas de 25 de janeiro desse ano, à qual se seguiu (dentro do meio palestino), o rompimento com o governo moderado do Presidente Abbas, com a instauração de um domínio exclusivista dessa facção na Faixa de Gaza; catástrofes tão evidentes que as forças políticas dominantes em Israel viram-se na contingência inadiável de restabelecer relações com a Fatah, facção palestina do falecido Arafat. No entanto, o estrago estava concretizado: o Hamas emergiu como a liderança de enormes parcelas dos palestinos e nenhuma negociação séria sobre os territórios ocupados poderia ocorrer sem a sua presença a partir de então.

Ehud Olmert, continuador de Sharon no governo de Jerusalém, tem se revelado um colecionador de desastres. O primeiro foi a invasão do sul do Líbano em 2006 que resultou na segunda grande vitória do Hesbollah sobre Israel, ao qual se seguiram escândalos que reduziram o Premiê a uma personalidade desmoralizada. O terceiro grande fracasso pode estar ocorrendo neste momento, em Gaza, às vésperas das eleições israelenses marcadas para março próximo.

Estamos assistindo a um desgaste inédito de Israel e do sionismo perante a opinião pública de todo o mundo que assiste horrorizada à matança de centenas de crianças e a práticas como bombardear residências, escolas e hospitais para, em seguida, cercar as áreas atingidas para que o socorro humanitário não chegue a tempo. Por outro lado, o Exército Israelense até agora não foi capaz de apresentar evidências claras de qualquer ganho fundamental na suposta luta contra o terrorismo; alguma coisa como a eliminação da liderança ou da estrutura de funcionamento do Hamas ou de alguma outra organização palestina.

Uma meta desse tipo, aliás, dificilmente poderá ser realizada devido ao conhecido fato de que o Hamas e outras facções terroristas não possuem um comitê central ou uma estrutura hierarquizada que, ao ser destruída, paralisaria a organização. Muito ao contrário, o modelo vigente é o de pequenos núcleos que não se conhecem entre si cujos membros, se capturados, não têm nenhuma informação cuja revelação comprometeria de forma importante o movimento. Também é imprudente prometer a “destruição das bases de lançamento de mísseis contra o território de Israel” porque os artefatos que militantes palestinos disparam a partir de Gaza são de fabricação caseira, produzidos em boa parte com produtos de limpeza...

O governo israelense parece ignorar que, se Clausewitz estava certo ao conceber a guerra como continuidade da política, ações armadas não deveriam iniciar-se sem que, antes, seus objetivos tenham sido estabelecidos com clareza. Nessa maneira clássica de encarar o problema ora considerado, as alternativas são: ou a equipe de governo de Israel está jogando uma espécie de partida de xadrez visualizando os lances que ocorrerão sete ou oito jogadas adiante – num horizonte muito além da percepção do grande público – ou a aventura em Gaza prosseguirá até o momento em que se perceba que o isolamento político e diplomático de seu país atingiu níveis que nem mesmo a tradicional prepotência israelense pode permitir-se.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Ato de solidariedade ao povo palestino nesta terça, na Assembléia Legislativa do RS


Do blog RsUrgente


A Federação Árabe Palestina do Brasil, o Comitê de Solidariedade ao Povo Palestino e um conjunto de outras entidades e organizações sociais e políticas promovem nesta terça-feira (13), às 10 horas, no Plenarinho da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, um ato de solidariedade ao povo palestino e contra o massacre promovido por Israel em Gaza. Após o ato, será realizada uma marcha pelo centro de Porto Alegre.

O Comitê de Solidariedade ao Povo Palestino defende as seguintes propostas:

1) A luta pela imediata retirada das tropas israelenses do território palestino;

2) O imediato reconhecimento do Estado Palestino;

3) O boicote aos produtos israelenses. A idéia é não comprar produtos fabricados pelos sionistas, que hoje escondem o “Made in Israel” para driblar a repulsa mundial, mas tem o código de barras iniciado com o número 0729;

4) Rompimento das relações diplomáticas entre Brasil e Israel;

5) Não ao acordo Mercosul/Israel;

6) Responsabilização pelas atrocidades cometidas por Israel.

AS VINHAS DA IRA - 1940 - CLÁSSICO DO CINEMA




Titulo original:The Grapes Of Wrath
Duração:129 minutos (2 horas e 9 minutos)
Gênero:Drama
Direção:John Ford
País de origem:EUA/1940
Roteiro:Nunnally Johnson, baseado em livro de John Steinbeck
Fotografia:Greg Tolland
Direção de arte:Richard Day
Figurino:Gwen Wakeling
Áudio: Inglês
RMVB Legendado PT
P/B
Créditos: F.A.R.R.A. - Eudes Honorato






Elenco
* Henry Fonda .... Tom Joad
* Jane Darwell .... Ma Joad
* John Carradine .... Casy
* Charley Grapewin .... avô Joad
* Dorris Bowdon .... Rose-of-Sharon Rivers
* Russell Simpson .... Pa Joad
* O.Z. Whitehead .... Al Joad
* John Qualen .... Muley Graves
* Eddie Quillan .... Connie Rivers
* Zeffie Tilbury .... avó Joad





Sinopse
É a história de uma família de pequenos agricultores que, expulsos de suas terras no Oklahoma durante a depressão, atravessam o país em busca de melhor sorte na Califórnia.
Ambientado na época da grande depressão que assolou os Estados Unidos nos anos 30, o filme escolhe uma família de fazendeiros para representar o drama de todas as outras que tiveram que deixar suas terras à força, oprimidos pelo "progresso" e o avanço industrial, comandados por antagonistas que não tinham rosto: os bancos e o capitalismo.
Este detalhe é ilustrado no filme, quando um pobre fazendeiro, desesperado em conter o avanço dos tratores que vieram destruir sua casa, não sabe para quem deve apontar sua arma. Antes, o "inimigo" era uma pessoa física, agora é uma instituição privada. Não há nada que eles possam fazer a não ser encarar a estrada e partir para um espécie de exôdo que tem paralelos com o da bíblia.

Crítica:


As Vinhas da Ira
(Grapes of Wrath, The, 1940)
Por Alexandre Koball



O melhor trabalho de John Ford e um dos grandes clássicos do cinema de todos os tempos.

Nos Estados Unidos após a Grande Depressão, milhões de americanos passaram a viver na miséria, tendo suas fazendas vendidas aos grandes bancos. A vida era horrível, e um senso de grande desumanidade era imperativo para essas pessoas. Vivendo como gado, indo e vindo atrás de um trabalho qualquer, por míseros centavos ao dia – o suficiente para poderem sobreviver, mas às vezes, nem isso!

É esse cenário infeliz que Tom Joad (o sempre inesquecível Henry Fonda, possivelmente no melhor papel de sua carreira ao lado de 12 Homens e Uma Sentença e Era uma Vez no Oeste) descobre logo no início de sua jornada. Voltando da prisão por homicídio depois de quatro anos, ele descobre a fazenda de seus pais abandonada, e descobre que eles estão prestes a se mudar para a Califórnia, terra das laranjas e do emprego fácil.

Então Vinhas da Ira vira... um road movie! Atravessando vários estados com esperança de emprego, toda a família de Joad – e mais um ex-padre – sobe em um pau-velho de um caminhão com tudo que pôde carregar da velha fazenda e parte em busca de um futuro melhor. Mal sabem eles que quanto mais andarem, mais difíceis vão ficar as coisas. O filme tem uma linha do tempo e um ritmo praticamente perfeitos nesse ato. Méritos de um roteiro bem adaptado e transposto para as telas, a partir de um romance do autor John Steinbeck. Os acontecimentos são fortes, vividos com intensidade, por causa de um dos melhores elencos que o cinema já viu.

Henry Fonda como o sofrido, mas sempre forte Joad, mostra as várias caras que uma interpretação histórica deve possuir. Suas últimas falas no filme são antológicas para o cinema – de arrepiar mesmo. John Steinbeck diz-se encantado pela sua interpretação após assistir ao filme. Todos os integrantes da família têm cenas muito boas, mostrando o cuidado que o roteiro teve ao desenvolver cada um de seus personagens. Enfim, até as duas crianças, mesmo com tempo limitado na tela, têm passagens muito bonitas. Atores mirins geralmente são irritantes, ainda mais quando utilizados para fins emocionais.

O filme apenas não é perfeito porque... bem, este é um filme de John Ford. O diretor sempre exagerou no sentimentalismo, e aqui algumas passagens tornam-se quase que muito melosas. Ainda assim pode-se considerar que ele tenha conseguido ficar no limite do aceitável (coisa que em seu filme posterior, Como Era Verde Meu Vale, não aconteceu) em termos de forçar as lágrimas dos espectadores. Ora, o tema já é sofrível por si só, não foi necessário nenhum empurrão do diretor (com ritmo cadenciado e música de fundo apropriada, por exemplo). Os vilões – os exploradores donos das terras – e os mocinhos – todos os explorados – estão, como sempre nos filmes do diretor, bem definidos. Até mesmo o fato de Joad ter comitido homicídio é cuidadosamente bem justificado, para não haver dúvidas de seu caráter.

A parte técnica do filme é igualmente esplendorosa às interpretações e ao roteiro. O filme é um retrato belíssimo dos Estados Unidos na primeira metade do século passado, mesmo que visto do seu pior ângulo. As paisagens amplas, rios largos, plantações enormes, estradas longínquas, são todos elementos que embelezam o filme e o tornam ainda mais especial e imperdível de se assistir nos dias atuais. A trilha sonora também é muito decente, com belos temas que fortalecem as imagens e também as interpretações.

Estranho é o fato de o filme ter perdido o Oscar principal em 1941. Rebecca, de Alfred Hitchcock, acabou levando o prêmio. Rebecca é também uma obra-prima (embora mais pessoal e menor), mas mesmo seus personagens bastante complexos não chegam perto do desenvolvimento que todos os personagens de Vinhas da Ira possuem. A parte técnica do filme de John Ford também é muito superior e, finalmente, o próprio roteiro é mais sólido e bem montado. Talvez perdeu porque outro filme sobre a pobreza norte-americana vencera um ano antes: o fraco E o Vento Levou..., que possuí personagens vagos e irritantes, mas isso é outra história.

Em relação ao Oscar ainda, a verdade é que já no próximo ano a Academia resolveu consertar seu “erro”, elegendo como melhor filme em 1942 um trabalho de John Ford: Como Era Verde Meu Vale. Este sim, cheio de maniqueísmos baratos típicos do diretor e outros clichês inúmeros. Venceu Cidadão Kane, aliás, uma grande injustiça. Isso também daria discussão para dar e vender, e não cabe aqui. De qualquer forma, hoje em dia, Vinhas da Ira é um filme amplamente mais lembrado que aquele trabalho posterior do diretor, provando, de certa forma, sua superioridade em todos os sentidos. Vale lembrar ainda que John Ford levou Melhor Diretor os dois anos consecutivos. Desde lá, seu nome não saiu mais da história do cinema.

Vinhas da Ira foi recentemente relançado em DVD no Brasil, e esta é uma grande chance para colocar os olhos no filme. É o melhor trabalho de John Ford. Cada elemento presente no filme – literalmente – é algo de assustador em termos de cinema. Sua mensagem humana, política, as interpretações, o roteiro. É um filme mais que obrigatório, um daqueles trabalhos onde não me importo de utilizar o já tão antes utilizado clichê: não se fazem mais filmes como este nos dias atuais. Como este, definitivamente não!

“Eu estarei nos cantos escuros. Estarei em todo lugar. Onde quer que olhe. Onde houver uma luta para que os famintos possam comer, eu estarei lá. Onde houver um policial surrando um sujeito, eu estarei lá. Estarei onde os homens gritam quando estão enlouquecidos. Estarei onde as crianças riem quando estão com fome e sabem que o jantar está pronto. E, quando as pessoas estiverem comendo o que plantaram e vivendo nas casas que construíram, eu também estarei lá.”




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Créditos: UmQueTenha

Apoio a Mariza Abreu: "onda" de um segmento


Créditos:


Marlize Machry Bins escreve:

"Até para um leitor desatento chamou a atenção a divulgação maciça dos chamados formadores de opinião sobre a "onda" de apoios que fizeram com que a secretária Mariza Abreu permanecesse no comando da SEC. Especialmente nos programas de Lasier Martins e nos espaços destinados à jornalista Rosane de Oliveira.

A fórmula era simples: na famosa página 10, Rosane de Oliveira anunciava a saída da secretária e, à tarde, Lasier Matins entrevistava a governadora ou a própria secretária que informava que só ficaria "se a sociedade a apoiasse". O apoio maciço da "sociedade" veio. A "onda" de apoios da sociedade apareceu. São originárias do grande empresariado. Não apareceu um educador, um pedagogo, um sindicalista, um aluno, um professor. A "sociedade" que prestou solidariedade à secretária Mariza Abreu brota do grande empresariado.

E pasmem. A defesa de Mariza Abreu no jornal Zero Hora de hoje é apresentada por um economista (Gustavo Ioschpe). Não quero dizer que um economista não possa falar sobre educação, longe disso, mas é estranho que num tema tão palpitante como a educação a Zero Hora não consiga um especialista em EDUCAÇÃO para apoiar ou se contrapor à política implantada na SEC. Imagine se no ápice da crise dos mercados um pedagogo da UFRGS ou da Unisinos escrevesse um artigo sobre a explosão de Wall Street, preconizando soluções para o problema. O que se diria?

Nesta incrível "onda" de apoios informados pela RBS e pela própria secretária, não estão presentes alunos, professores, especialistas em educação, as universidades e sequer um DEPUTADO da base aliada. Estamos correndo um sério risco de assistir o debate deste tema ser pautado pelos grandes empresários. Para ser coerente, Zero Hora deveria ouvir os excluídos pedagogos sobre as renúncias fiscais, os subsídios, e os ICMS não recolhidos e etc."

Filme sobre a máfia italiana...

Filme italiano Gomorra nomeado aos prêmios Bafta 2009


Créditos:PatriaLatina


Londres (Prensa Latina) O filme italiano Gomorra, do diretor Mateo Garrone, competirá na categoria de melhor fita estrangeira nos prêmios Bafta 2009, os Oscar britânicos, cujos ganhadores se darão a conhecer em 8 de fevereiro.
A fita inspira-se no livro do escritor Roberto Saviano, ameaçado hoje de morte por contar 100 histórias nas quais revela interioridades da camorra, a máfia italiana, que desde 1980 assassinou mais de três mil 600 pessoas.
Nessa mesma categoria competirão Persépolis, dos iranianos Vincent Paronnaud e Marjane Satrapi; Il e a longtemps que je t'aime, do francês Philippe Claudel; O complexo Baader Meinhof, do alemão Uli Edel; e Waltz with Bashir, do israelense Ari Folman.
A Academia de Cinema da Grã-Bretanha anunciará na próxima quinta-feira os nomeados nas restantes categorias.

Texto: Prensa Latina

Faça download do filme neste link: Torrent e legenda


Arquivo anexado Gomorra.2008.iTALiAN.DVDRip.XviD_SVD_volpebianca_.torrent


e a legenda adequada para esta versão:

Arquivo anexado Gomorra.2008.iTALiAN.DVDRip.XviD_SVD.rar

Links alternativos para download:

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LEGENDAS


Duas criticas do filme:

I – Gomorra, de Matteo Garrone, é aquele tipo de filme que chega cercado de uma série de apelos externos. Em primeiro lugar, a sua origem, o livro homônimo de Roberto Saviano sobre as operações da Máfia napolitana, a Camorra. Tema indigesto. Em especial, para o escritor. Outro dia mesmo ficamos sabendo que Saviano está jurado de morte pela Camorra. A organização, como prova de espírito devoto, prometeu matá-lo "até o Natal". Provavelmente para não conspurcar a festa máxima da cristandade. Isto, quanto ao livro. O filme participou do Festival de Cannes e ganhou o Grande Prêmio do Júri. Junto com Il Divo, de Paolo Sorrentino, Gomorra apareceu para a crítica internacional como signo de renascimento do grande cinema italiano, este cinema que andava apresentando obras pouco mais que anódinas nos últimos anos. É também o escolhido para representar a Itália na competição do Oscar estrangeiro, cujos finalistas serão conhecidos dia 22 de janeiro. Enfim, um título badalado. E isso sem que faça qualquer concessão ao público médio ou ao gosto (suposto conservador) da Academia de Hollywood. Gomorra é, todo ele, um filme na contramão. Trabalha com tema e subtema incisivos - a ação do crime organizado em Nápoles e a atração que esses criminosos exercem sobre a juventude. Talvez, por essa segunda característica, Gomorra tenha sido chamado, e não apenas por brasileiros, de "Cidade de Deus napolitano". Existe a aproximação. Mas o espectador que for conferir o filme italiano, verá que, estilisticamente, ele é muito diferente do de Fernando Meirelles. É verdade que ambos tratam da criminalidade na juventude e na infância. Mas o fazem de maneira diferente, diria mesmo que oposta. Cidade de Deus é um trabalho muito mais comprometido com o prazer do espectador. Dá o seu recado sem abdicar de uma ginga, de um balanço, de uma agilidade narrativa e de um encanto fotográfico que fez com que parte da crítica mais sisuda torcesse o nariz para ele. "Cosmética da fome" foi o rótulo criado para defini-lo e a supostos congêneres que, segundo essa tese, estetizariam a miséria e a violência. Essa discussão já faz parte do passado. Lembrá-la serve apenas para definir Gomorra pelo seu contraste com Cidade de Deus. Garrone procura empregar uma linguagem mais seca e o mais despojada possível para tratar do seu assunto. Não existe qualquer pretensão de "embelezar" um plano, uma cena, uma seqüência para torná-los mais agradáveis ou palatáveis ao espectador. Pelo contrário. O realismo é cru. Como se o diretor dissesse: "Vou tratar de um assunto desagradável, fruto da miséria, da indiferença social, da conivência política e não tenho nenhuma intenção de transformar esse coquetel de dissabores em algo ameno, em espetáculo para desfrute da boa consciência da classe média." Portanto, Gomorra é um filme a palo seco, como dizem os espanhóis. Sem acompanhamento de qualquer espécie: pouca ou nenhuma música, iluminação desglamourizada, paisagens áridas, buscando o reverso da Nápoles de cartão-postal. Porque é lá, nesse lugar de rostos e práticas que lembram mais os de um país subdesenvolvido que os de uma economia do Primeiro Mundo, que se mexem essas relações sociais tensas e violentas. Um pouco à maneira coral (sem protagonista, dividindo-se a atenção entre vários personagens), Gomorra se distribui por várias histórias, episódios que comentam uma única e mesma realidade. O alfaiate que emprega seu talento na produção de grifes piratas, o chefão que paga as famílias dos presos, a mãe que será morta porque seu filho traiu a organização e, sobretudo, a dos dois rapazes que se encantam pelas armas e pelo poder que elas representam. Essa "vontade de potência" da juventude criminosa, tão bem expressa em Cidade de Deus, encontra a sua contrapartida em Gomorra. É talvez o que mais impressione no filme e o que mais incomode - no sentido positivo do termo. Já tem sido dito que Gomorra, o filme, é uma adaptação apenas parcial do livro de Saviano. Não contém, por exemplo, toda a análise econômica da presença do crime organizado na Itália. E nem poderia. Concentra-se apenas na exteriorização desse poder e o faz explodir na tela, em imagens fortes, eloqüentes, que falam por si, sem qualquer necessidade de explicação.

Luiz Zanin (http://blog.estadao.com.br/blog/zanin)

II – “Outros países têm a máfia. Na Bulgária, a máfia tem o país”, afirmou o parlamentar búlgaro Atanas Atanasov, ex-chefe de contra-inteligência do país, na edição da última quinta-feira do “New York Times”. “Gomorra” faz a região sul da Itália ficar muito parecida com a Bulgária descrita por Atanasov: como se o Estado só existisse ali para coletar impostos e recolher cadáveres, quem manda são os chefões do crime organizado que se mantêm no poder graças ao medo provocado na população por suas milícias, entre outros expedientes. Vencedor do Grande Prêmio (espécie de vice-campeonato) no Festival de Cannes deste ano, “Gomorra” é baseado em “romance de não-ficção” do jornalista napolitano Roberto Saviano, 29. Além de informações sobre os episódios verídicos recriados no livro, seu site traz diversos artigos publicados ao longo desta semana pela imprensa internacional sobre a sua inclusão entre os jurados de morte da Camorra (que planejaria assassiná-lo até o final do ano, segundo um informante anônimo) e sua decisão de abandonar a Itália. Desde 2006, ele tem escolta policial. O site de Saviano informa que o livro foi publicado em 33 países – entre eles o Brasil, onde teria sido editado pela “Editora Betrand”, supostamente a Bertrand Brasil, do grupo editorial Record, mas ele ainda não saiu por aqui – e deu origem também a uma peça teatral. Os direitos de distribuição do filme no Brasil foram comprados pela Paris, que ainda não informou a data prevista para o lançamento. Na adaptação do diretor e roteirista romano Matteo Garrone, 40, “Gomorra” se aproxima, com tintas bem contemporâneas, da forte tradição política do cinema italiano dos anos 60 e 70, homenageada pela 30ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo com a publicação de um livro de entrevistas e a exibição de clássicos como “Investigação Sobre um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita” (1969), de Elio Petri, e “O Caso Mattei” (1972), de Francesco Rosi. Logo na seqüência de abertura, uma carnificina deixa claro que não haverá nenhuma estilização da violência ou romantização de personagens; prevalece um registro semidocumental que sublinha a brutalidade com que agem as milícias e a banalização da vida em ambiente social de perspectivas muito restritas. Na primeira parte do filme, são apresentados diversos núcleos dramáticos, quase todos entrelaçados pelos apartamentos e corredores claustrofóbicos de um conjunto habitacional. Há um “doutor”, com pinta de respeitável, que faz os pagamentos da Camorra e ouve reclamações; um menino que observa com fascínio a integração dos mais velhos às milícias; dois jovens que resolvem agir por conta própria, cientes de que, na máfia ou contra ela, não viverão por muito tempo; um fabricantes de roupas, endividado com os chefões, e seu costureiro-chefe; um empresário que localiza terrenos para depósito ilegal de substâncias químicas e seu dedicado assistente; um grupo que procura desestabilizar o estado de coisas para tentar assumir o controle do crime na região. Em torno deles, aparecem colombianos que traficam drogas, chineses que tentam entrar a qualquer custo no mercado de alta costura e grandes corporações envolvidas em negócios escusos. A economia globalizada tem máfias, ou as máfias têm a economia globalizada?

Sérgio Rizzo (http://ilustradanocinema.folha.blog.uol.com.br)