domingo, 12 de julho de 2009

ENTREVISTA COM MARINA SILVA

“O setor mais atrasado, ligado ao agronegócio, quer mudar toda a legislação ambiental”

Por Marcos Zibordi e Tatiana Merlino

Mulher, negra, pobre. Alfabetizada aos 16 anos. Do interior do Acre ao planalto central. De seringueira a ministra do Meio Ambiente. As muitas lutas de Marina Silva ao longo de sua vida parecem ser pequenas se comparadas à que trava atualmente: impedir que a mentalidade predatória de desenvolvimento que dita as regras no Brasil e no mundo não termine por destruir de vez o planeta Terra. A hoje senadora pelo PT define a recente investida ruralista para flexibilizar a legislação ambiental do Brasil como um “conjunto de mudanças que representam um retrocesso. Está se armando uma bomba de efeito retardado que não poderá ser contida na hora em que o país voltar a crescer”. Como principal exemplo, a Medida Provisória 458, editada pelo Executivo e sancionada no dia 25 de junho pelo presidente Lula, que pretende regularizar áreas de até 1500 hectares na Amazônia. Segundo Marina, a medida premiará a grilagem. “É um processo de privatização de 67 milhões de hectares de floresta”. A senadora Marina Silva conta porque que vive um dos pioresmomentos de sua vida, período em que o país enfrenta uma “operação desmonte da legislação ambiental”, encabeçada pelos ruralistas .
Marcos Zibordi: Sempre começamos as nossas entrevistas pedindo ao entrevistado que conte suas lembranças mais remotas de infância. Marina Silva: Tenho muitas lembranças, guardei muitas coisas de uma idade muito tenra. Uma lembrança muito boa é da minha coleção de bonecas de pano, que a minha avó fazia. Eu tinha doze bonecas de pano, lembro o nome de algumas delas: tinha a Estefânia, que era uma boneca mais ousada, usava umas roupas menos tímidas. Tinha a Hilda, que era a matriarca do conjunto das bonecas, porque eu sou de uma família de matriarcas, do lado da minha mãe e do lado do meu pai. E a minha avó, quando fez as bonecas, já disse que a Hilda era quem comandava o clã. Tinha o Jacinto, que era um menino bem levado, e o Catifum, que era um bonequinho aleijado, e tinha todos os cuidados especiais. Fui uma criança amplamente estimulada desde a mais tenra idade até a adolescência.

Marcos Zibordi: Fora essas lembranças mais tenras, por volta de dez, doze anos, o que você já estava fazendo? O primeiro namorado? Na verdade, essa ideia de namorado veio surgir muito depois, pois desde cedo eu queria ser freira. Aprendi sobre o cristianismo com a minha avó Júlia, que era analfabeta. Foi ela quem me ensinou rudimentos do cristianismo. Ela tinha um catecismo para analfabetos, com ilustrações da Capela Sistina. Desde aquela época eu dizia à minha avó que eu queria ser freira, e ela dizia: “minha filha, freira não pode ser analfabeta”. Então, para ser freira, eu tinha que estudar.

Tatiana Merlino: A família toda morava junto? Eu morava na casa da minha avó. Minha irmã morava com os meus pais.

Tatiana Merlino: Por que a senhora morava com a sua avó e não com os seus pais? Minha avó fez meu parto, em 1958, e se apegou muito a mim. Foi se criando um vínculo muito forte entre eu, minha avó e a minha tia que morava com ela. Eu passava o dia com ela, e às quatro, cinco horas da tarde, ela me trazia para dormir em casa com a minha mãe. Depois eu comecei a querer ficar dormindo lá e a insistir para a minha avó pedir para que eu fosse morar com ela. Até que um dia ela tomou coragem e foi falar com a minha mãe. E a minha mãe falou que iria falar com meu pai, e é lógico que ela queria um período para tentar me persuadir. Mas uma hora eu disse: “quero morar com a minha avó”. Só nos separamos quando eu fui morar na cidade, aos 16 anos.

Tatiana Merlino: E como era o trabalho no seringal? Era pesado, difícil, tinha que andar 14 quilômetros por dia, de segunda a sexta. Meu pai trabalhava nessa atividade, e nós começamos, eu e minha irmã mais velha, quando eu tinha dez ou onze anos, a ajudá-lo a cortar seringa. No nosso caso, era uma mistura de trabalho, mas também com muita diversão, porque nossos pais eram muito cuidadosos. A gente não trabalhava além daquilo que agüentava. E se enquanto a gente roçava, o sol começava a ficar quente, e as abelhas e os mosquitos começavam a apavorar, a gente tinha toda liberdade de ir para debaixo de uma moita, buscar uma água fresquinha. Então, a gente nadava no igarapé, ficava lá tomando banho e voltava. Mas a gente também tinha disciplina, eu e minha irmã. Para ler a entrevista completa e outras reportagens confira a edição de julho da revista Caros Amigos, já nas bancas, ou click aqui e compre a versão digital da Caros Amigos.

sábado, 11 de julho de 2009

Uma tentativa de golpe de Estado filo-imperialista no Irão
Domenico Losurdo





O imperialismo europeu, acolitado pelos serventuários dirigentes e governantes da UE, procura impor ao mundo um novo conceito de legitimidade eleitoral: os votos expressos nas urnas os resultados só serão legítimos se corresponderem aos desejos e interesses imperiais! A vitória do Hamas nas eleições palestinas em Janeiro de 2006 foi a primeira manifestação visível deste ilegítimo conceito de legitimidade…

Um país, os EUA, onde o Supremo Tribunal Federal sentenciou a validade de uma «chapelada» de votos decidir a eleição de um presidente (a primeira eleição de George W Bush), “na base de que princípios se arroga (…) o direito de proclamar, inapelavelmente, a legitimidade das eleições do ano passado no México, e a ilegitimidade das eleições de há duas semanas no Irão”?

Domenico Losurdo* - Odiario.info

Não restam dúvidas de que temos assistido no Irão a uma tentativa de golpe de Estado fomentada e apoiada do exterior. É óbvio que tentativas deste género só podem ter possibilidade de sucesso se estivermos em presença de uma consistente oposição interna. Esse facto, todavia, não altera a substância do problema.

A técnica dos golpes de Estado filo-imperialistas, camuflados de «revoluções coloridas», segue um esquema já bem consolidado:

1) Na véspera das eleições ou imediatamente após a sua realização uma gigantesca engrenagem de base multimediática, digital e de redes móveis bombardeia obsessivamente a tese segundo a qual a oposição é proclamada vencedora, e os seus apoiantes convocados a manifestar-se na rua contra «as fraudes».

2) As «cores» e as palavras de ordem das manifestações estão programadas antecipadamente; a «guerra psicológica» está já definida em todos os detalhes de modo a mostrar a oposição filo-imperialista como expressão «pacífica» da vontade popular e para evidenciar como intrinsecamente fraudulentas e violentas as forças com orientação diferente e opostas a ela.

3) A reivindicação é a da anulação e repetição das eleições. Nenhum resultado será considerado válido se não for aprovado pelos juízes que residem em Washington e em Bruxelas, de cuja sentença não há apelo. Deste modo, a repetição da consulta eleitoral é destinada a produzir uma inversão do resultado anterior. O bloco político-social cuja expressão conduzira a um vencedor considerado ilegítimo por Washington e Bruxelas tende a desagregar-se: parece agora insensato opor-se aos patrões do mundo, que já demonstraram a sua omnipotência através da anulação das eleições; seria quixotesco tentar agora a oposição à corrente «irresistível» da história. Quixotesco e também perigoso: como o demonstra bem o exemplo de Gaza, um resultado eleitoral que não agrade aos patrões do mundo abre caminho ao embargo, ao bloqueio, aos bombardeamentos terroristas, à morte pela fome ou pelo fósforo branco. Em contrapartida, os «democratas» legitimados e abençoados por Washington e Bruxelas, para além de disporem da benevolência económica, multimediática, digital e telefónica do Ocidente, serão posteriormente compensados com a sensação de se movimentar em consonância com as aspirações dos patrões do mundo e com a corrente «irresistível» da história.

À luz destas conclusões fica bem evidente a miséria intelectual e política de boa parte da «esquerda» italiana. Nem sequer prestou qualquer atenção à tomada de posição do presidente Lula: Na base de que princípios se arroga o Ocidente o direito de proclamar, inapelavelmente, a legitimidade das eleições do ano passado no México, e a ilegitimidade das eleições de há duas semanas no Irão? E no entanto no primeiro caso o candidato derrotado denunciava fraudes, e ao fazê-lo exprimia um sentimento largamente partilhado pela população, que efectivamente acorria às ruas em manifestações não menos maciças do que as que se realizaram em Teerão. E deve acrescentar-se que no México a margem de vantagem do vencedor era bastante reduzida, ao contrário do que se verificou no Irão….

Deixarei para outra ocasião uma análise mais detalhada da revolução e da situação iraniana. Mas uma coisa fica desde já clara. No seu conformismo, uma certa «esquerda» acredita estar a defender a causa da democracia, mas na realidade está a tomar posição a favor de um ordenamento internacional profundamente antidemocrático, no quadro do qual as potências hoje mais poderosas económica e militarmente assumem a pretensão de decidir soberanamente sobre a legitimidade das eleições em qualquer parte do mundo, e também de condenar ao inferno da agressão militar e do estrangulamento económico os povos que manifestem preferências eleitorais «erradas»: a lição de Gaza!


* Domenico Losurdo, filósofo e historiador, é Professor da Universidade de Urbino, Itália

Este texto foi publicado em “L’ Ernesto” de 29 de Junho de 2009


Tradução de Filipe Diniz

Maria Bethânia - Maria Bethânia Ao Vivo (1995)




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Créditos: UmQueTenha

Do blog Agencia Chasque...

Estamos rumo ao apartheid ambiental

Felipe Amaral

Porto Alegre (RS) - Estudo divulgado pala organização Oxfam Internacional alerta que podemos regressar 50 anos na luta pela erradicação da pobreza. A Oxfam é uma aliança, uma confederação de 13 organizações que tem uma similar filosofia e trabalham conjuntamente, além do suporte de sócios e colaboradores em todo o mundo. Suas atividades estão voltadas para assegurar a melhoria de condições de vida dos pobres e das comunidades marginalizadas.

O informe intitulado “Evidências que doem: as mudanças climáticas, os povos e a pobreza”, combina os últimos descobrimentos científicos sobre as mudanças climáticas com os testemunhos de comunidades espalhadas por mais de 100 países. O conteúdo releva como as alterações no sistema climático estão influenciando a estabilidade dos sistemas produtivos, sobretudo em países mais pobres, comprometendo as colheitas e ampliando o estado de fome e miséria já endêmicas em muitas regiões do globo.

O estudo é enfático ao afirmar que se medidas reais, eficientes e contínuas para redução dos efeitos do aquecimento global não forem adotadas e implementadas imediatamente, teríamos um retrocesso irreparável de 50 anos em todas as conquistas e avanços na erradicação da fome. O que levaria a humanidade a uma tragédia ainda neste século.

O informe publicado simultaneamente ao encontro do G-8 na Itália trata de temas pontuais e estabelece suas correlações como a fome, agricultura, saúde, trabalho, água, desastres e desabrigados, ou como diria: os refugiados ambientais.

Sobre a fome e agricultura, destaca como a instabilidade climática das estações anuais, com a redução das chuvas, está comprometendo as culturas tradicionais na Nicarágua, Uganda e Bangladesh. E que o arroz e o milho, os cultivos mais importantes e base da cadeia alimentar na Ásia, América e África, estão gradativamente reduzindo suas colheitas e a produtividade. Segundo os dados apresentados, até 2020 as colheitas de milho terão uma queda em torno de 20%, principalmente na África Subsahariana e Índia, regiões já empobrecidas.

O quadro apresentado para a saúde não deixa dúvidas sobre os efeitos das mudanças climáticas, principalmente pela ampliação de epidemias, pestes e enfermidades para regiões onde anteriormente não existiam registros de casos. Os cálculos estimam que ocorrerão em média 150 mil mortes a mais ao ano por distintas enfermidades, comparadas aos registros de 1970, principalmente por fatores ligados ao saneamento e à expansão de doenças para regiões climáticas onde não haviam registros.

Os desastres naturais estão mais freqüentes e mais intensos, com a previsão de triplicar os acontecimentos extremos até 2030, atingindo de forma desigual pobres e ricos, localizados em uma mesma região, área ou cidade. Isso se deve ao fato de que os mais abastados têm condições de mitigar seus danos e recompor sua vidas. Enquanto aqueles mais carentes e já debilitados economicamente não têm acesso a seguros e a outros meios, como financiamentos para habitação e construção, ficando reféns do poder público e do “mercado da caridade”.

Hoje os desabrigados ambientais, ou refugiados ambientais, somam 26 milhões de pessoas e as estimativas indicam um aporte anual de 1 milhão de pessoas.

Dentre os dados apresentados pelo estudo o mais surpreendente, pelas dimensões e efeitos sobre a economia de regiões industrializadas e urbanizadas, refere-se à influência do clima sobre o regime do trabalho. Onde o aumento das temperaturas pode reduzir o ritmo do trabalho, influenciando diretamente na jornada laboral e saúde dos trabalhadores. Principalmente para aquelas atividades desenvolvidas ao ar livre em cidades localizadas em regiões tropicais, podendo ter uma queda de até 30% na produtividade.

Enquanto líderes e chefes de estado discutem a possibilidade remota de efetivar medidas para redução dos efeitos do aquecimento global, com o protecionismo às atividades industriais e receio de encolhimento das economias, amplia-se a fome e a miséria.

O mundo dos ricos amplia os riscos para o mundo dos pobres. Implementa-se o apartheid climático ambiental.

Felipe Amaral é ecólogo e integrante do Instituto Biofilia (http://www.institutobiofilia.org.br).

Está no Patria Latina...

Mr. Presidente John Mccain – O oficial e o paralelo



Laerte Braga

Não é só Honduras que tem um governo constitucional e um governo paralelo por força de realidades golpistas. Os Estados Unidos também. Barak Obama venceu o senador John McCain nas eleições do ano passado. Venceu no voto popular e no Colégio Eleitoral. Diferente de George Bush, que perdeu em 2000 no voto popular e venceu no Colégio Eleitoral numa fraude bisonha, mas que norte-americanos engoliram goela abaixo para não “fraturar” a democracia do país.
Onde fraude impede fratura não sei, mas lá ficou assim.
Obama tomou posse, anunciou ao mundo uma nova era e transformou o governo do seu país num espetáculo itinerante. Primeiro presidente supostamente negro, de origem humilde, criado por muçulmanos e com uma estrela de primeira grandeza em seu ministério, a secretária de Estado Hilary Clinton, sua adversária no partido Democrata.
É o governo oficial.
McCain voltou ao Senado e juntou os cacos do governo Bush, principalmente Dick Chaney, o ex-vice-presidente, figura principal dos anos de terror republicano e montou o governo paralelo.
É que comanda os EUA.
O golpe militar em Honduras foi pensado, planejado e desfechado por militares hondurenhos a soldo de empresários de seu país associados a empresários norte-americanos, tudo por baixo dos panos da CIA e das articulações de Chaney e McCain.
Chamam isso de patriotismo. De defesa da democracia. São os “negócios”.
O governo oficial condenou o golpe, Obama falou em volta do presidente deposto Manuel Zelaya e tudo ficou do mesmo tamanho.
O governo paralelo de McCain convidou os golpistas a enviarem uma delegação a seu país, promoveu encontro com políticos, empresários e na prática, no paralelo, legitimou o golpe.
Não importa que Obama tenha se recusado a receber os “patriotas”. O golpe já estava consumado.
Hilary Clinton, mais na real, percebeu toda a movimentação, a impotência do governo oficial para enfrentar os golpistas sem “fraturar” a tal democracia norte-americana e foi logo propondo um acordo em que parece que a legalidade fica salva, mas a prática golpista permanece.
O governo paralelo está governando os EUA. O governo oficial ainda não achou o caminho ou a chave da porta do país. E conta de quebra com o vice-presidente Joe Binden para o meio de campo, coisa assim do tipo “os caras não vão engolir isso, é melhor assim ou assado”.
Nessa confusão toda vão assando Obama.
A solução de acordo agradaria a generais hondurenhos que não admitem o “desprestígio” de voltar atrás no golpe e contam com generais norte-americanos como aliados. Honduras já foi conhecida como “porta aviões” dos EUA. Há uma base com 500 soldados norte-americanos e forte armamento.
Obama não tem controle sobre os generais de seu país. McCain sabe como trata-los é considerado herói da guerra do Vietnã, exatamente a que perderam de forma clara e definitiva.
As ofensas racistas do “chanceler” do governo golpista ao presidente oficial dos EUA e que valeram hoje protestos oficias do governo de Obama, refletem o pensamento das elites de ambos os países. O mesmo embaixador que encaminhou o protesto, foi o artífice do golpe.
A primeira decisão de Obama ainda não foi tomada. Se é negro de fato, ou só de cor da pele e se assim o for, aí é branco.
“El negrito” não é da lavra do “chanceler.” É a forma como o governo paralelo de McCain enxerga e trata Obama. É como se referem ao presidente oficial os que detêm o poder real nos EUA.
Toda a virulência da linguagem do presidente golpista de Honduras Roberto Michelletti deriva daí. Ele e seu grupo, empresários hondurenhos ligados a empresários norte-americanos, enfrentam Barak Obama sem qualquer receio ou constrangimento, pois sabem que têm o apoio, mais que isso, o estímulo do governo paralelo de McCain.
Dick Chaney continua sendo o principal formulador das reais políticas dos EUA.
O golpe militar em Honduras é só um teste para aventuras maiores. Venezuela, Nicarágua, Bolívia, Paraguai, El Salvador, Cuba, Equador, todas as antigas colônias latino-americanas.
Não há exagero em dizer que o governo paralelo de McCain é como um esquadrão da morte em dimensão mundial. Aviões não tripulados atacaram um acampamento no Paquistão e mataram 45 pessoas. Segundo eles “insurgentes”. Segundo o governo do Paquistão – que é aliado dos norte-americanos – um ataque desnecessário, que revolta a população, viola a soberania do país e inflama o povo contra o governo e o leva a proteger “insurgentes”.
O grande problema de Barak Obama é que eles quebraram o país, mas deixaram a bomba em suas mãos. Se explodir a culpa é dele. Eles voltam, saem do paralelo (diferente de clandestinidade, pois agem à luz do dia). E muito pior que isso. O que parecia ser uma nova era, volta a ser um túnel tenebroso e sem perspectivas de saídas. Tem quem acredite nessas histórias de mocinho acabando com bandido versão Hollywood. Nunca se sabe quem é bandido ou qual é o mocinho em se tratando dos EUA.
Para os latino-americanos a alternativa é a luta. A organização popular. A resistência. Sabendo de antemão que o grosso de seus militares – que em tese seriam a garantia da soberania e da integridade territorial – são controlados à distância por Washington, pelos porões de Washington. Vide o caso do general brasileiro Augusto Heleno, ex-comandante militar da Amazônia e hoje garoto propaganda da VALE. Cumpre o ofício em palestras “patrióticas” Brasil afora.
O que está acontecendo em Honduras é bem mais que Honduras. Permanece intocada, muito bem guardada, a grande teia golpista que comandou as ditaduras militares na América Latina no século passado.
E levam de lambuja a mídia dominada, comprada e vendendo a idéia do colonizador. Yes, Barra da Tijuca. Yes, FIESP/DASLU. Yes, José Serra. Essa estranha cunha criada pelo capitalismo e que chamam de classe média achando que New York e a Broadway estão ali, é só virar a esquina. Ou apertar o controle remoto e ligar o aparelho de tevê.
Yes Tegucigalpa.
Tudo termina em Hollywood, ou, se for no Brasil, acaba no programa do Faustão. E congêneres.
Não deixe de tomar o remédio mágico do grande irmão, a pílula que nos transforma em consumidores desvairados no estrito cumprimento do dever. É servida diariamente em doses maciças no JORNAL NACIONAL. Ou qualquer veículo da grande mídia.
No mais, já está à disposição de todos na rede mundial de computadores o encontro de Elvis Presley e Michael Jackson no céu.
O governo paralelo de McCain é capaz de prodígios inimagináveis.
O governo oficial de Obama é de brincadeira. Para inglês ver. Se é que inglês enxerga alguma coisa desde Margareth Teatcher. Ou na versão de um tucano brasileiro, de plantão no assalto aos cofres públicos na cidade mineira de Juiz de Fora, prefeito, “a Inglaterra acabou depois que acabaram com o fog. Perdeu a graça”.
De tudo fica a lição da luta popular. De lutadores invencíveis. Em qualquer circunstância. Como naqueles filmes de ficção (nem tanto), em que humanos lutam com andróides.
Navegar é isso. Acaba sendo viver. E assim a luta não pára.
Eles também aprenderam isso e vão aprender mais, bem mais. Vão aprender que não têm a liberdade na palma da mão, não podem fechar os punhos e prendê-la. O povo de Honduras está mostrando isso.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

O fabuloso destino de Tom Harrell


Ele é considerado por muitos um gênio em termos musicais. Possui uma habilidade de compor ao vivo solos em escalas e notas nunca antes ensaiadas com numa velocidade fora do comum. Ele é Tom Harrell, trompestista norte americano nascido Illinois. No seu currículo musical tocou com Dizzy Gillespie, Lionel Hampton, Horacer Silver, Bill Evans entre outros. A sua maestria em soprar o trompete e o seu status de band leader são atributos reconhecidos, mas é a doença de Tom que o particulariza no universo jazz.

Tom Harrell sofre de esquizofrenia paranóica há mais de 20 anos. A maneira como a doença se manifesta é psicológica, um distúrbio mental que o faz ter medo e fobia de pessoas e vozes e isto explica a sua performance em palco. Quem não o conhece e o ver tocar pela primeira vez no mínimo acha estranho aquele homem de mais de meia idade a tocar de maneira autista e isolada. Sua performance chega ser teatral: Enquanto os outros musicos interagem ele se isola no palco, fica imóvel. Quando chega a sua vez de solar se aproxima do microfone e o faz, no final se isola outra vez. Harrell não se comunica verbalmente com os músicos da seu banda, a comunicação é musical. Harrell tem medo de ouvir vozes e entrar em paranoia, tem medo de que os outros não queiram mais ouvir tocá-lo e por esta razão as vezes nem passa muito tempo em palco.

No palco existem riscos de Harrell manifestar algum surto ( mas não é sempre) o que consequentemente o faz imobilizar. Foi o que aconteceu na sua última perfomance em Itália no festival de jazz de Vicenza. Harrell dividiu o palco com o pianista italiano Dado Moroni, em concerto espetacular onde o diálogo entre os dois fruiu muito bem, mas, os aplausos do público por alguns momento fez Harrell ficar imóvel, sem reações aparente.

Apesar dessa particularidade, Tom Harrell é um músico de jazz por excelência. Começou a tocar aos oito anos de idade inspirado por Dizzy Gillespie. Harrell divide a sua vida entre a música e os medicamentos que toma para controlar esse distúrbio. É bastante filosofico ao refletir a sua arte: "I like to think of my music as a play of colors over a rhythm” he has said: “it’s like inviting the listeners to visit an art gallery to view an exhibition of various paintings. We express our feelings through timbres and colors within our world of sense, so as to then transcend them and enter the spiritual dimension”.

Assim como qualquer outro músico respeitado de jazz, Harrell é bastante ativo com uma agenda cheia de shows pelos Estados Unidos e Europa. A sua doença não parece ser um obstáculo, mas o jazz é a sua cura e a música o seu fabuloso destino.


Pico Petrolífero...um ano depois...

Dia do Pico Petrolífero: 11 de Julho

por Richard Heinberg

Dia do Pico Petrolífero: 11 de Julho. No dia 11 de Julho de 2008 o preço de um barril de petróleo bateu um recorde de US$147,27 na cotação diária. Naquele mesmo mês, a produção mundial de petróleo bruto alcançou um recorde de 74,8 milhões de barris por dia.

Durante anos, uma crescente legião de analistas tem argumentado que a produção mundial de petróleo atingiria o máximo em torno do ano 2010 e começaria então a declinar por razões que têm a ver com a geologia (nós descobrimos e já apanhámos a "fruta pendente mais baixa" do mundo em termos de campos petrolíferos gigantes), assim como a falta de equipamentos de perfuração e de geólogos e engenheiros de exploração com treino. O "Pico Petrolífero", insistiam os analistas, marcaria o fim da fase de crescimento da civilização industrial, porque a expansão económica exige quantidades crescentes de energia de alta qualidade.

Durante o período 2005-2008, quando o preço do petróleo subia firmemente, a produção permaneceu estagnada. Embora novas fontes de petróleo começassem a produzir, elas mal compensavam os declínios de produção devidos ao esgotamento dos campos existentes. Em meados de 2008, quando os preços do petróleo subiram à estratosfera, os produtores de petróleo respondeu ao incentivo óbvio de extrair todo o barril possível. As taxas de produção escalaram para cima durante um par de meses, mas então tanto os preços como a produção caíram quando a procura por petróleo entrou em colapso.

Desde então, com preços do petróleo muito mais baixos, e com crédito escasso ou indisponível, evaporaram-se mais de US$150 mil milhões destinados ao desenvolvimento de futura capacidade de produção de petróleo. Isto significa que se um novo nível recorde de produção fosse alcançado, novos declínios na produção dos campos existentes teriam de ser ultrapassados, ou seja, que todos aqueles projectos de produção cancelados, e muitos mais adicionalmente, teriam de ser activados rapidamente. Pode não ser fisicamente possível ultrapassar a situação neste ponto, dado o facto de que os novos "jogos" são tecnicamente exigentes e portanto de desenvolvimento caro, além de terem potencial produtivo limitado.

No dia 4 de Maio deste ano, a Raymond James Associates, um importante corrector especializado em investimentos em energia, emitiu um relatório em que declarava: "Com a produção de petróleo da OPEP tendo aparentemente atingido o pico no primeiro trimestre de 2008, e o da não-OPEP ainda mais cedo em 2008, o pico petrolífero mundial parece ter tido lugar no princípio de 2008". Esta conclusão é corroborada por um conjunto de outros analistas.

Talvez seja forçado dizer que o pico da produção ocorreu num momento identificável, mas atribuí-lo ao dia em que os preços do óleo atingiram o seu mais alto nível pode ser um modo útil de fixar o acontecimento nas nossas mentes. Assim, sugiro que recordemos o 11 de Julho de 2008 como o Dia do Pico Petrolífero.

Estamos a aproximar-nos do primeiro aniversário do Dia do Pico Petrolífero. Onde estamos agora? A economia global está estilhaços, os preços do óleo recuperaram-se um pouco (estão agora cerca da metade do nível a que chegaram em Julho de 2008). O consumo mundial de energia está baixo, o comércio mundial está baixo, a indústria da aviação está a contrair-se e a maior parte dos fabricantes de automóveis do mundo estão nas salas das urgências ligados a aparelhos.

É demasiado tarde para preparar para o Pico Petrolífero — um ano demasiado tarde, de facto. Agora o nome do jogo é adaptação. Estamos num ambiente económico inteiramente novo, no qual as velhas suposições acerca da inevitabilidade do crescimento perpétuo, e a utilidade de alavancar investimentos com base em expectativas de crescimento futuro, estão a explodir em chamas. Mesmo que a actividade económica suba um pouco, isto ocorrerá no contexto de uma economia significativamente mais pequena do que aquela que existia em Julho de 2008, e a escassez de energia rapidamente levará a que a maior parte dos rebentos verdes definhem.

É impossível dizer o que acontecerá no futuro quanto aos preços do petróleo. Evidentemente, preços muito altos matam a procura ao cortarem actividade económica. Portanto é possível que o barril do preço de petróleo possa nunca mais romper o recorde do ano passado. Por outro lado, se valor do dólar entrar em colapso, então o céu é o limite para preços em dólares por barril.

É mais fácil prever a tendência da oferta de petróleo: embora no futuro possamos ver o nível de produção elevar-se temporariamente de vez em quando, em geral ele estará baixo, em fase descendente a partir de agora.

Muito embora o Pico Petrolífero esteja agora no passado, a sua comemoração anual no Dia do Pico Petrolífero pode servir à importante finalidade de recordar-nos porque a nossa economia está a encolher e de concentrar os nossos pensamentos nos meios destinados a facilitar a transição para um mundo pós petróleo.

Quais são os modos apropriados de comemorar o Dia do Pico Petrolífero? Sugiro passar algum tempo na natureza, entrar num jejum de petróleo de 24 horas, ou organizar uma parada de bicicletas nas vizinhanças com um cozinhado feito com forno solar.

Marque no seu calendário. O que estará você a fazer a 11 de Julho?

Ajude a "celebrar" o Dia do Pico Petrolífero assinando a petição:
http://www.thepetitionsite.com/1/peak-oil-day


O original encontra-se em http://www.postcarbon.org/peak-oil-day


Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

quinta-feira, 9 de julho de 2009

ANNA KARENINA - 1935(Tolstoy)




Anna Karenina


Links:

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Senha para descompactar: (tem que ter cadastro no sitio,é gratuito)

http://farra.clickforuns.net



Informações:

Arquivo: RMVB
Tamanho: 481 Mb
Título Original: Anna Karenina
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 93 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 1935
Estúdio: MGM
Distribuição: MGM
Direção: Clarence Brown
Roteiro: Clemence Dane, Salka Viertel e S.N. Behrman, baseado em romance de Leo Tolstoy
Produção: David O. Selznick
Música: Herbert Stothart
Fotografia: William H. Daniels
Desenho de Produção: Fredric Hope e Edwin B. Williams
Direção de Arte: Cedric Gibbons
Figurino: Adrian
Edição: Robert Kern





Sinopse:

Petersburgo, século XIX. Anna Karenina (Greta Garbo) é a esposa de Karenin (Basil Rathbone), um rico funcionário do governo.
Ela viaja até Moscou para tentar acalmar Dolly (Phoebe Foster), sua cunhada, pois o irmão de Anna, Stiva (Reginald Owen),
um mulherengo, foi infiel e agora o casamento passa por uma crise. Logo ao chegar na estação de trem ela conhece um oficial,
o Conde Alexei Vronsky (Fredric March). Ambos se sentem atraídos, sensação esta que aumenta ao participarem de um baile.
Anna decide voltar logo para São Petersburgo, pois tem um marido e um filho, Sergei (Freddie Bartholomow), esperando por ela.
Talvez tudo não passasse de um flerte se Vronsky não antecipasse sua ida para São Petersburgo, embarcando no mesmo trem. Ele confessa seu amor, sendo que ela também está apaixonada. Logo Anna deixa Karenin, que não quer lhe dar o divórcio, pois para ele as aparências importam, e a proíbe de ver Sergei. Anna e Vronsky vão para a Itália, onde continuam se amando intensamente.
Mas ao voltarem para a Rússia Anna sente que Vronsky está diferente.


Elenco:

Greta Garbo (Anna Karenina)
Fredric March (Conde Alexei Vronsky)
Freddie Bartholomew (Sergei)
Maureen O'Sullivan (Kitty)
May Robson (Condessa Vronsky)
Basil Rathbone (Karenin)
Reginald Owen (Stiva)
Phoebe Foster (Dolly)
Reginald Denny (Yashvin)
Gyles Isham (Levin)
Joan Marsh (Lili)
Ethel Griffies (Madame Kartasoff)
Harry Beresford (Matve)


Clique para ampliar as Screens Shots:





quarta-feira, 8 de julho de 2009

Xadrez, a ginástica dos neurônios...

Vacilo não tem vez

Democrática e de fácil acesso, a prática do xadrez ajuda a desenvolver a concentração, o raciocínio lógico, a imaginação e o potencial de aprendizad.

Por: Ricardo Criez - RedeBrasilAtual


Vacilo não tem vez

Despreocupada, Nathalia se diverte (fotos: Gerardo Lazzari)

A molecada corre de um lado para o outro para se distrair e driblar o friozinho da tarde de outono. O ruído e o clima dão ares de gincana aos intervalos de cada rodada. Os competidores e o público sentem-se num parque de diversões. Nem parecem estar num ambiente – um dos ginásios do complexo poliesportivo do Ibirapuera, em São Paulo – em que os protagonistas jogam emocionantes partidas de... xadrez. Trata-se da 6ª Copa Ayrton Senna de Xadrez Escolar, realizada sempre em junho pela Federação Paulista de Xadrez. Lucas Tavares Lira, de 8 anos, integrante de um grupo de 30 alunos de uma escola de Santos, considera o jogo “muito bom para a cabeça”. “Ele era muito inquieto, melhorou 100% depois que passou a jogar”, diz a mãe, Juliana Castro Tavares Lira, que sempre o acompanha nas competições.

Horácio
Horácio: incentivo
Marcio
Marcio: cada erro pode ser fatal

Nos últimos anos tem crescido o ensino de xadrez nas escolas públicas e privadas. Há projetos por todo o país, em iniciativas dos governos ou de clubes, entidades e federações. E há também o trabalho de formiguinha de voluntários e educadores dos mais variados campos do conhecimento (professores de educação física, ciências, matemática, história, português etc.), que perceberam como o xadrez pode ser uma poderosa ferramenta no processo de aprendizagem de um aluno.

“Batemos o recorde de inscritos”, disse Horácio Prol Medeiros, presidente da federação, sobre o evento de proporções gigantescas para os padrões do xadrez. Mais de 60 pessoas trabalharam na infraestrutura para acomodar 1.782 enxadristas de 210 cidades de todo o estado. “A ideia do xadrez escolar é exatamente incentivar aquelas crianças que ainda não participaram de competições oficiais”, explicou o dirigente.

Entre os alunos, ganhar era a última preocupação. “É divertido estar aqui”, disse Nathalia Soares Costa, de 8 anos, de uma escola particular paulistana, que venceu duas das quatro partidas que disputou. Ela garante que não fica chateada quando perde: “Quero continuar jogando e ganhar um troféu”.

Jogo e vida

Um dos motivos que levam professores a apostar no ensino do xadrez na escola é o fato de se poder traçar um paralelo entre o que ocorre no mágico tabuleiro quadricular de 64 casas e as situações do cotidiano. “Cada lance executado no tabuleiro corresponde a um efeito na partida, assim também são os próprios atos da vida”, destaca o Grande Mestre Internacional (GMI) Gilberto Milos Júnior, que chegou a ser número 34 no ranking mundial. O estudante Marcio Luiz da Costa Correia, de 13 anos, já compartilha esse pensamento. “É preciso pensar muito bem, um erro pode ser fatal”, diz o jovem aluno de uma escola de Santos.

Para Milos, atual número 4 do ranking brasileiro, o xadrez ajuda em primeiro lugar a organizar o raciocínio e administrar o tempo. Embora não tenham ido tão bem no torneio para iniciantes organizado pela FPX, os amigos Patrick Lanchotti e Renan Vianna Cardoso, ambos de 17 anos, estudantes da rede pública, procuram praticar esse pensamento. “O xadrez estimula o raciocínio lógico, a disciplina, a responsabilidade”, acredita Renan.

É senso comum entre os estudiosos e especialistas da arte da Caissa, a deusa mitológica dos tabuleiros, que a prática do jogo faz bem para o desenvolvimento de habilidades como atenção, concentração, raciocínio lógico, memória, organização de ideias, imaginação, antecipação, espírito de decisão, autocontrole, disciplina e perseverança. E até para a autoestima, a competição ética e o trabalho em equipe.

Livros
  • Xadrez Básico, de Orfeu D’Agostini
  • Xadrez para Todos, de James Mann de Toledo e Juliana Kyoko Kamada
  • Estratégia Moderna de Xadrez, de Ludek Pachman
Sites
Jogos on-line
  • O ICC é o maior clube de xadrez virtual do mundo. Pode-se acessá-lo sem gastar nada ou se cadastrar e pagar uma pequena anuidade.
  • Gratuito, o espanhol EducaRed também é muito bom.
Ouça
  • Brancas e Pretas, de Paulinho da Viola e Sérgio Natureza (Do álbum A Toda Hora Rola uma História, de 1982).

Para Antonio Villar Marques de Sá, professor da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília, o xadrez, por ser um jogo complexo, é uma das melhores atividades para desenvolver a capacidade intelectual dos jovens. Villar aponta o xadrez como uma atividade socializadora, que pode ser trabalhada com pessoas de todas as classes sociais, de qualquer idade ou sexo, e também por pessoas com deficiências.

A tenacidade e a disciplina de Margareth Giorghe são bons exemplos para os mais jovens. Ela aprendeu a jogar com o pai, na Áustria, mas só passou a praticar efetivamente após os 30 anos, quando veio para o Brasil. E não parou mais.

Aos 90 anos, segue disputando competições em São Bernardo do Campo em ótimo nível. “É uma ginástica para a mente”, garante ela, que joga até consigo mesma, em casa. Margareth já disputou finais de Campeo­nato Brasileiro, além de ter conquistado títulos municipais, regionais e estaduais. “Eu não teria chegado a essa idade, com essa lucidez, sem a prática diária do xadrez.”

“Assim como os demais esportes, o xadrez também funciona como um fator de inclusão social”, aponta o Mestre Internacional (MI) James Mann de Toledo, que trabalha há 25 anos como professor de xadrez e já formou vários campeões brasileiros de categorias menores. “E tem uma grande vantagem em relação às demais modalidades: é mais barato e precisa de pouca gente para ser praticado.”

O educador Mário Cardozo ajudou a disseminar o jogo nas escolas públicas de Belém e em instituições que cuidam de menores infratores na capital paraense, com bons resultados de inclusão. No ano passado, levou a modalidade para a aldeia indígena dos Tembé, na pequena cidade de Capitão Poço, a mais de 300 quilômetros de Belém. Atualmente todos jogam o “jogo dos reis” na tribo, onde já é possível mensurar uma verdadeira revolução: a soma de todas as médias de 5ª a 8ª série do ensino fundamental passou de 5,9 para 7,2 de um ano para o outro.

Famosos

A história é repleta de pessoas famosas em outras áreas da humanidade que se aventuraram no tabuleiro. Napoleão Bonaparte, um dos maiores estrategistas militares da história, foi um grande entusiasta do xadrez. Na corte, seu adversário mais constante era o general Michel Ney, seu mais brilhante estrategista, que sempre levava a melhor contra o “terrível corso”.

Por uma questão cultural e climática, o xadrez está para a Rússia assim como o futebol para o Brasil. Para ter uma ideia dessa distância quilométrica, há 170 GMI russos no mundo, ante 17 argentinos e apenas 8 brasileiros. Lenin, um fascinado pelo jogo, chegou a dizer que teve de optar “entre o xadrez e a revolução”.

Che Guevara e Fidel Castro também praticavam o jogo, inclusive na Sierra Maestra, antes da tomada de Havana. Che era reconhecidamente um jogador mais forte, tendo inclusive empatado em 1962 com o GMI argentino Miguel Najdorf, numa partida na qual o grande mestre teria sido muito “camarada”.

Albert Einstein, um dos maiores gênios do século 20, não cansava de massacrar Julius Robert Oppenheimer, o cabeça do Projeto Manhattan, que resultou na fabricação da primeira bomba atômica. Einstein também era muito amigo do campeão mundial e matemático alemão Emmanuel Lasker, a quem sempre pedia para “deixar esse jogo das pedrinhas para enfrentar, com ele, alguns problemas de matemática e física”.

O compositor ucraniano Sergey Prokofiev, autor de Concerto para Piano nº 3 e do balé Romeu e Julieta, era um enxadrista da maior categoria e obteve até uma fantástica vitória, em 1914, sobre o cubano José Raúl Capablanca, que posteriormente viria a ser campeão mundial.

Índia ou China

Há várias lendas sobre a origem do xadrez. Uma das histórias mais conhecidas – e que encontra suporte em fontes arqueo­lógicas – menciona o sábio Sissa. Ele era um brâmane que viveu no noroeste da Índia entre os anos 600 e 700 e foi incumbido pelo rajá Bahlait de inventar um jogo que embutisse valores éticos e morais, como a prudência, a determinação e a coragem. Sissa, então, criou o chaturanga, o “exército formado por quatro membros”, precursor do atual xadrez.

O rajá gostou e fez questão de presentea­r o sábio com qualquer coisa que ele solicitasse. Sissa pediu como recompensa um grão de trigo pela primeira casa do tabuleiro, dois pela segunda, quatro pela terceira, oito pela quarta e, assim, sucessiva e exponencialmente até a 64ª casa. Mal sabia Bahlait que nem mesmo uma camada de trigo de três metros de espessura que cobrisse todo o planeta seria capaz de pagar pelos serviços do sábio!

Da Índia, o chaturanga teria ido para a Pérsia (atual Irã) e se disseminado pelo mundo por meio da cultura árabe e da influência política e geográfica da nova força do Islã, a partir do século 7. A Europa sofreu grande influência, em particular com a invasão direta da Espanha pelos muçulmanos. Após a expulsão dos mouros, os europeus apropriaram-se da cultura árabe, alteraram as regras e criaram o xadrez moderno.

Estudos recentes, contudo, indicam que o xadrez poderia ser muito anterior ao chaturanga. Em 1985, o americano Sam Sloan­ escreveu um longo artigo intitulado “A origem do xadrez”, no qual cita fontes e documentos segundo os quais o jogo teria surgido na China, no século 3 a.C., e só posteriormente migrado para a Índia.

Lances inocentes
Laurence Fishburne e Max Pomeranc em Lances Inocentes

O tabuleiro no cinema
No cinema, uma das partidas mais famosas foi disputada entre o astronauta Frank Poole e o computador Hal 9000 no filme 2001: Uma Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick (1968), durante uma viagem entre a Terra e Júpiter. Poole utilizou como jogada uma variante inferior da Abertura Ruy López e facilitou o trabalho do computador, que ainda não tinha a velocidade e o cálculo destrutivo dos microprocessadores de hoje. Mas o melhor filme sobre xadrez já realizado chama-se Lances Inocentes – Procurando por Bobby Fischer (1993), de Steven Zaillian. Com estrelas como Ben Kingsley, Laurence Fishburne e Joe Mantegna no elenco, retrata bem o universo do jogo, do aprendizado ou da competição, e é uma ótima lição de vida para pais, professores e alunos.

Pirata Amélia

Partido Pirata, de Amélia Andersdotter, defende direitos a privacidade e ao compartilhamento de informações na internet (Foto: Divulgação)

Amélia Andersdotter, de 21 anos, estudante de Economia e Espanhol da Universidade de Lund, na Suécia, pode se tornar uma das mais jovens representantes do Parlamento Europeu na próxima legislatura, que começa em julho de 2009. Ela se candidatou pelo Partido Pirata Sueco, que já conquistou uma cadeira no Parlamento. Se Irlanda ratificar em breve o chamado Acordo de Lisboa, que amplia as representações, o partido e ela terão direito a mais uma cadeira.

Fundado em 2006, o Partido Pirata Sueco defende maior liberdade de acesso aos conteúdos na internet e já é um dos maiores em filiações no país, com quase 50 mil membros. Se conseguir a cadeira, Amélia considerar doar parte de seu salário para organizações como Attac, a Ordfront (uma editora alterantiva sueca), a Anistia Internacional e o Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher.

Entrevista

Amélia Andersdotter

estudante de Economia e Espanhol da Universidade de Lund, na Suécia e possível integrante do Parlamento Europeu pelo Partido Pirata

Blog Velho Mundo – Você pode apresentar quais serão as prioridades do Partido Pirata no Parlamento Europeu, na legislatura que começa em julho de 2009?

O “pacote Telecom” (o conjunto de regulamentos que rege as telecomunicações na União Européia) será uma de nossas prioridades mais importantes neste segundo semestre, na medida em que ele virá para o processo de conciliação no Parlamento. Também vamos trabalhar com excessos e limitações em matéria de copyright. Em geral esse não é um item prioritário no Parlamento, mas nós contamos transformá-lo numa prioridade exercendo pressão sobre a Comissão encarregada e sua presidência, que é de um sueco.

Há um trabalho contínuo da União Européia no que diz respeito à política para Tecnologia de Informação, tanto no que se refere ao combate a crimes quanto no que diz respeito à transparência nos processos de decisão. Também tentaremos trabalhar sobre essa questão.

"Temos eleitores tanto de grupos de esquerda quanto de grupos de direita. Então precisávamos ingressar num grupo tão neutro quanto o possível para não termos de tomar muitas definições no conflito entre direita e esquerda" – Amélia Andersdotter

Se depender de nós, vamos dar início a uma discussão sobre política de comércio, sobretudo no que diz respeito a medicamentos e também no que se refere a negociações sobre comércio.

Blog Velho Mundo – O Partido Pirata deve integrar o bloco dos Partidos Verdes Europeus – Aliança Europa Livre, que tem 55 cadeiras no Parlamento. Por quê? Que papel o Partido Pirata poderá desempenhar dentro dele.

Percebemos esse bloco como o mais neutro politicamente. Nós temos eleitores tanto de grupos de esquerda quanto de grupos de direita. Então precisávamos ingressar num grupo tão neutro quanto o possível para não termos de tomar muitas definições no conflito entre direita e esquerda. Também tivemos uma oferta vantajosa por parte deste bloco, em termos de benefícios, se entrássemos para ele.

Esperamos poder contribuir para a definição de uma política quanto à informação, por parte desse grupo, que seja digna do século 21.

Blog Velho Mundo – Caso você tenha sucesso em obter ainda uma cadeira para o seu partido no Parlamento Europeu, o que será possível com a ratificação do Acordo de Lisboa – e só falta a Irlanda ratificá-lo –, você se tornará uma das parlamentares mais jovens da história dessa instituição. Qual o significado disso? Os jovens europeus estão participando mais da política, seja no nível formal ou não?

Se eu entrasse para o Parlamento, isso mostraria que há uma jovem geração de políticos na Europa interessada nos rumos que essa União está tomando. Aparentemente, os jovens europeus se preocupam mais com questões específicas, como o meio ambiente, ou a política de informação. Eles têm os políticos de gerações mais velhas como um tanto quanto obtusos, porque eles (políticos) não conseguem perceber a importância dessas questões. Mas no interior desses agrupamentos em torno das questões ambientais ou do livre compartilhamento de arquivos na internet em relação aos direitos de propriedade intelectual, não estão apenas membros do Partido Verde ou do Partido Pirata. Há também uma miríade de grupos formados por jovens ativistas que trabalham 24 horas por dia por mudanças nesses setores. Infelizmente não dispomos até agora do sucesso e do alcance da “Big Media”, mas com o tempo nós vamos assumir o controle dessa área de uma vez por todas.

Blog Velho Mundo – Você ou o seu partido têm alguma proposta a respeito da presente crise econômico/financeira mundial?

Não.

Créditos: Flávio Aguiar - RedeBrasilAtual