sábado, 25 de julho de 2009

Enquanto isso em Honduras...

Zelaya afirmou que o país estava dando um "exemplo de paz" ao mundo






Adital -


O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, entrou ontem(24) no país, na cidade de Paraíso, pela fronteira com Nicarágua, através da cidade de Las Manos. Às 14h25 de Honduras (17h25 de Brasília), um coronel das Forças Armadas permitiu o ingresso de Zelaya, que foi recebido por milhares de hondurenhos. Até o fechamento desta edição, no entanto, o presidente se mantinha na fronteira.

Ao ingressar, Zelaya agradeceu ao povo hondurenho e afirmou que o país estava dando um "exemplo de paz" ao mundo. O presidente havia chegado à fronteira às 13 horas de Honduras. Inicialmente, o mandatário havia sido impedido de ingressar em sua nação pelas forças militares.

O presidente deposto pediu à nação que "não se use de violência, já que tenho o direito legítimo de regressar a meu país e atender o mandato que o povo hondurenho me deu", informou a TeleSul.

Ao chegar, Zelaya garantiu que os soldados iriam "baixar os rifles", "porque são bons hondurenhos". "Quero fazer um chamado ao povo hondurenho para que não se renda, porque estariam sacrificando o futuro de nossos filhos a um grupo golpista", afirmara o presidente constitucional, segundo a TeleSul.

"Mel", como é popularmente chamado, espera por sua família na cidade hondurenha de Paraíso. A primeira dama, Xiomara Castro de Zeleya, seus filhos, mãe e sogra ainda não puderam chegar ao local. Devido ao bloqueio da estrada, os parentes de Zelaya se deslocam à fronteira a pé.

A mãe de Zelaya, dona Hortenzia, pediu ao general Romeo Vásquez, chefe das Forças Armadas hondurenhas, que seja mais flexível e coopere com o povo.

O presidente provisório, Roberto Micheletti, havia decretado toque de recolher na fronteira, que foi tomada por hondurenhos que exigiam a entrada de Zelaya. A medida deveria impedir o trânsito de hondurenhos na fronteira das 12h da tarde até as 4h30 da manhã, mas os manifestantes pró-Zelaya se mantiveram no local.

No início da tarde, as Forças Armadas arremeteram contra os manifestantes que viajaram de diferentes cidades do país até a fronteira. Segundo informações da TeleSul, a polícia lançou bombas de gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes. Um manifestante disse ao canal de televisão que uma pessoa ficou ferida, mas a informação ainda não foi confirmada.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

A crise estrutural do capital...















Mészáros: Crise e Revolução

*Por Plínio de Arruda Sampaio Jr.

Os sete ensaios de interpretação histórica reunidos por István Mészáros em ‘A Crise Estrutural do Capital’ articulam-se em torno de um objetivo central: definir o marco histórico mais geral dentro do qual se dá a crise econômica mundial. Com textos escritos ao longo de várias décadas, o mais antigo em 1971 e o mais recente em 2009, a publicação condensa a quinta-essência da reflexão do filósofo húngaro - um dos expoentes do pensamento marxista contemporâneo - sobre as causas e as conseqüências da "crise estrutural do sistema de metabolismo do capital" – o processo que condiciona as mudanças tectônicas de nossa época. Preparado especialmente para o público brasileiro, o livro conta ainda com uma providencial introdução de Ricardo Antunes, na qual se encontra uma didática exposição do sistema teórico de Mészáros, o que facilita muito a vida dos leitores que não conhecem a complexidade de sua filosofia.

Tendo como prisma o papel primordial da luta de classes na determinação do movimento histórico, a reflexão apresentada em ‘A Crise Estrutural do Capital’ organiza-se em função de duas questões fundamentais: entender por que o capital não é mais capaz de encontrar soluções duradouras para seus próprios problemas, ficando, por essa razão, condenado a exacerbar todas as suas taras; e desvendar, nas contradições inscritas no próprio desenvolvimento capitalista, os requisitos e as condições para ir além do capital.

Tomando como substrato de sua interpretação o movimento histórico das últimas quatro décadas, seu diagnóstico sobre a natureza do capitalismo contemporâneo é implacável. Sem espaço para acomodar as contradições com o trabalho, o processo de valorização do capital assume um caráter particularmente reacionário, violento e predatório, inaugurando uma época histórica marcada por forte instabilidade econômica, grandes convulsões sociais e inevitáveis turbulências políticas.

Crítico das estratégias gradualistas, que buscam soluções institucionais para os problemas gerados pela crise estrutural, restringindo a ação política aos marcos da ordem. A razão desta impossibilidade é que a absoluta subordinação do Estado burguês à lógica do capital torna o poder público impotente para conter os excessos do capital. Em tais circunstâncias, a intervenção do Estado na economia perde todas as suas propriedades curativas para se converter em causa adicional de agravamento da crise do capital, realidade que fica evidente na patética estratégia de "nacionalização da bancarrota" que caracteriza a política econômica das potências imperialistas para combater as crises dos negócios, como a provocada pelo estouro da bolha especulativa em 2008.

Ainda que a crise estrutural do capital bloqueie o crescimento da economia mundial, desencadeando uma tendência estrutural à estagnação, não há em Mészáros nem sombra de uma teoria do colapso que poderia colocar em causa a própria sobrevivência do capitalismo. Neste ponto, seu raciocínio não deixa margem para confusão. Se as bases do regime não forem negadas, o capital sempre encontrará, à custa de grandes sacrifícios humanos e ambientais, um meio de restaurar as condições para a sua valorização, mesmo que apenas para preparar uma nova crise econômica ainda mais violenta no futuro. Em outras palavras, largado à sua própria sorte, o desenvolvimento capitalista torna-se uma crise permanente. Sua interpretação sobre o significado da crise estrutural para o futuro da humanidade segue por outro caminho.

A incapacidade de o capital encontrar soluções duradouras para seus problemas abre ‘brechas’ para a primazia da política, criando condições para o aparecimento de conjunturas revolucionárias que podem (ou não) ser aproveitadas para ir além do capital. Preocupado em tirar as conseqüências práticas de seu diagnóstico, Mészáros estabelece as diretrizes que devem orientar a organização da revolução e o caminho para o socialismo.

Sem se intimidar com assuntos-tabu, ‘A Crise Estrutural do Capital’ contém uma profunda crítica às experiências socialistas do século XX. Para evitar os impasses das revoluções operárias que ficam a meio caminho entre o capitalismo e o socialismo, sujeitas permanentemente aos riscos da restauração capitalista, a ruptura com o sistema de metabolismo do capital deve ser total. A superação das teias que atam a humanidade às determinações da lógica do capital requer não apenas a negação da santíssima trindade que sustenta o sistema de metabolismo do capital - propriedade privada, trabalho assalariado e Estado como aparelho de poder – como também a afirmação de um modo alternativo de organizar a vida material - a produção planejada de valores de uso por indivíduos sociais livremente associados.

Ainda que a forma de argumentação e a linguagem de Mészáros possam dar a impressão, muitas vezes, de que suas soluções sejam abstratas, descoladas da realidade, sua teoria da transição tem conseqüências práticas concretas. Revelando a forte influência de Rosa Luxemburgo em suas convicções políticas, o segredo da transição reside em devolver o controle efetivo das decisões estratégicas, econômicas e políticas aos produtores diretos, subordinando integralmente a esfera da produção material à esfera social, pois, somente assim as transformações promovidas no calor da luta revolucionária podem funcionar como ‘alavancas estratégicas’ de impulso permanente à criação de uma sociedade sem classes, baseada na igualdade substantiva como princípio organizador da vida social.

Publicado com a evidente intenção de dialogar com os intelectuais e os militantes do movimento socialista brasileiro, na expectativa de que o agravamento da crise estrutural do capital abra novas ‘brechas’ para a práxis revolucionária, ‘A Crise Estrutural do Capital’ é um livro criativo e ousado. Em suas páginas o leitor encontrará as grandes controvérsias que cercam o debate sobre as condições e os desafios da transição socialista. Sua leitura incita a reflexão e o estudo. É um convite não apenas para voltar a ler Marx, Engels, Lênin, Rosa Luxemburgo e todos os clássicos do marxismo revolucionário, como também para retomar a rica e profícua produção intelectual do próprio Mészáros.

*Plínio de Arruda Sampaio Jr. é professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas – IE/UNICAMP.

**Resenha do livro A Crise Estrutural do Capital, de István Mészaros, publicado pela Editora Boitempo, 2009. - Fonte: Correio da Cidadania

Breve biografia de Guimarães Rosa













João Guimarães Rosa, mais conhecido como Guimarães Rosa (Cordisburgo, 27 de junho de 1908 — Rio de Janeiro, 19 de novembro de 1967) foi um dos mais importantes escritores brasileiros de todos os tempos. Foi também médico e diplomata.



Os contos e romances escritos por João Guimarães Rosa ambientam-se quase todos no chamado sertão brasileiro. A sua obra destaca-se, sobretudo, pelas inovações de linguagem, sendo marcada pela influência de falares populares e regionais. Tudo isso, somado a sua erudição, permitiu a criação de inúmeros vocábulos a partir de arcaísmos e palavras populares, invenções e intervenções semânticas e sintáticas.


Guimarães Rosa foi o primeiro dos sete filhos de Florduardo Pinto Rosa ("Fulô") e de D. Francisca Guimarães Rosa ("Chiquitinha").


Autodidata, começou ainda criança a estudar diversos idiomas, iniciando pelo francês quando ainda não tinha 7 anos, como se pode verificar neste trecho de entrevista concedido a uma prima, anos mais tarde:


“Eu falo: português, alemão, francês, inglês, espanhol, italiano, esperanto, um pouco de russo; leio: sueco, holandês, latim e grego (mas com o dicionário agarrado); entendo alguns dialetos alemães; estudei a gramática: do húngaro, do árabe, do sânscrito, do lituano, do polonês, do tupi, do hebraico, do japonês, do checo, do finlandês, do dinamarquês; bisbilhotei um pouco a respeito de outras. Mas tudo mal. E acho que estudar o espírito e o mecanismo de outras línguas ajuda muito à compreensão mais profunda do idioma nacional. Principalmente, porém, estudando-se por divertimento, gosto e distração”.


Ainda pequeno, mudou-se para a casa dos avós, em Belo Horizonte, onde concluiu o curso primário. Iniciou o curso secundário no Colégio Santo Antônio, em São João del-Rei, mas logo retornou a Belo Horizonte, onde se formou. Em 1925, matriculou-se na então "Faculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais", com apenas 16 anos.


Em 27 de junho de 1930, casou-se com Lígia Cabral Penna, de apenas 16 anos, com quem teve duas filhas: Vilma e Agnes. Ainda nesse ano se formou e passou a exercer a profissão em Itaguara, então município de Itaúna (MG), onde permaneceu cerca de dois anos. Foi nessa localidade que passou a ter contato com os elementos do sertão que serviram de referência e inspiração a sua obra.


De volta de Itaguara, Guimarães Rosa serviu como médico voluntário da Força Pública (atual Polícia Militar), durante a Revolução Constitucionalista de 1932, indo para o setor do Túnel em Passa-Quatro (MG) onde tomou contato com o futuro presidente Juscelino Kubitschek, naquela ocasião o médico-chefe do Hospital de Sangue. Posteriormente, entrou para o quadro da Força Pública, por concurso. Em 1933, foi para Barbacena na qualidade de Oficial Médico do 9º Batalhão de Infantaria. Aprovado em concurso para o Itamaraty, passou alguns anos de sua vida como diplomata na Europa e na América Latina.


No início da carreira diplomática, exerceu, como primeira função no exterior, o cargo de Cônsul-adjunto do Brasil em Hamburgo, na Alemanha, de 1938 a 1942. No contexto da Segunda Guerra Mundial, para auxiliar judeus a fugir para o Brasil, emitiu, ao lado da segunda esposa, Aracy de Carvalho Guimarães Rosa, mais vistos do que as cotas legalmente estipuladas, tendo, por essa ação humanitária e de coragem, ganhado, no pós-Guerra, o reconhecimento do Estado de Israel. Aracy é a única mulher homenageada no Jardim dos Justos entre as Nações, no Museu do Holocausto, em Israel.


No Brasil, em sua segunda candidatura para a Academia Brasileira de Letras, foi eleito por unanimidade (1963). Temendo ser tomado por uma forte emoção, adiou a cerimônia de posse por quatro anos. Em seu discurso, quando enfim decidiu assumir a cadeira da Academia, em 1967, chegou a afirmar sob tom sarcástico: "...a gente morre é para provar que viveu."[1] Faleceu três dias mais tarde na cidade do Rio de Janeiro, em 19 de novembro. Se o laudo médico atestou um infarto, sua morte permanece um mistério inexplicável, sobretudo por estar previamente anunciada em sua obra mais marcante — Grande Sertão: Veredas —, romance qualificado por Rosa como uma "autobiografia irracional". Talvez a explicação esteja na própria travessia simbólica do rio e do sertão de Riobaldo, ou no amor inexplicável por Diadorim, maravilhoso demais e terrível demais, beleza e medo ao mesmo tempo, ser e não-ser, verdade e mentira.


Diadorim-Mediador, a alma que se perde na consumação do pacto com a linguagem e a poesia. Riobaldo (Rosa-IO-bardo), o poeta-guerreiro que, em estado de transe, dá à luz obras-primas da literatura universal. Biografia e ficção se fundem e se confundem nas páginas enigmáticas de João Guimarães Rosa, desaparecido prematuramente aos 59 anos de idade, no ápice de sua carreira literária e diplomática.


Contexto literário


Realismo mágico, regionalismo, liberdades e invenções lingüísticas e neologismos são algumas das características fundamentais da literatura de Guimarães Rosa, mas não as suficientes para explicar seu sucesso. Guimarães Rosa prova o quão importante é ter a linguagem a serviço da temática, e vice-versa, uma potencializando a outra. Nesse sentido, o escritor mineiro inaugura uma metamorfose no regionalismo brasileiro que o traria de novo ao centro da ficção brasileira.


Guimarães Rosa também seria incluído no cânone internacional a partir do boom da literatura latino-americano pós-1950. O romance entrara em decadência nos Estados Unidos (onde à época era vitrine da própria arte literária, concorrendo apenas com o cinema), especialmente após a morte de Céline (1951), Thomas Mann (1955), Albert Camus (1960), Hemingway (1961), Faulkner (1962). E, a partir de Cem anos de solidão (1967), do colombiano Gabriel García Márquez, a ficção latino-americana torna-se a representação de uma vitalidade artística e de uma capacidade de invenção ficcional que pareciam, naquele momento, perdidas para sempre. São desse período os imortais Vargas Llosa (Peru), Carlos Fuentes (México), Julio Cortázar (Argentina), Juan Rulfo (México), Alejo Carpentier (Cuba) e mais recentemente Angel Ramá (Uruguai).


(Extraído de Wikipédia, a Enciclopédia Livre, em http://pt.wikipedia.org/wiki/Guimar%C3%A3es_Rosa)

A China e os turcos...

A questão turca na China: o ocidente do oriente




Escrito por Isaac Bigio

Xinjiang em julho de 2009, assim como o Tibete em 2008, viu vários enfrentamentos sangrentos entre nativos e imigrantes urbanos provenientes do resto da China. Ambas são as duas regiões autônomas nas quais se divide o oeste da República Popular da China (RPC). Pequim promoveu a imigração de chineses Hans a essas zonas pouco povoadas, a fim de i-las homogeneizando.

Mesmo assim, no ‘oeste do leste’ as nações nativas têm tradições mais afins às de seus vizinhos da Ásia central que às da distante capital Pequim. As línguas, alfabetos e autoridades religiosas dali são diferentes em relação ao resto da China.

Os tibetanos têm um idioma e um alfabeto desenvolvido pelos lamas, cuja fé budista é proveniente da Índia.

Os uigures de Xinjiang se originaram nas tribos turcas das planícies da Ásia central que hoje dominam o arco que une Sibéria, o noroeste chinês, cinco ex-repúblicas soviéticas e a Turquia. Essas nações turcas compartilham uma língua similar (e escrevem com caracteres ocidentais ou arábicos) e muitas delas também aderem ao Islã sunita. O ocidente trata de influir sobre Xinjiang e Tibete para pressionar o gigante que vai se potencializando no Oriente.

Hans

Um de cada 5 humanos é han. Os 1,3 bilhão de hans são a maior etnia que o mundo já conheceu. Sua população é maior que a de continentes inteiros, como os das Américas, Europa e África.

Os hans possuem línguas, crenças e costumes diferentes, mas o que os une é sua adesão à civilização chinesa e que eles – ainda que não possam se entender ao se falarem – podem comunicar-se por meio do alfabeto de milhares de caracteres ideográficos dos mandarins.

Apesar de os hans representarem 92% da população da China, seguem sendo uma minoria em quase todas as regiões fronteiriças, como esta em questão.

Desde que em 1949 o Partido Comunista Chinês tomou o poder, este quis absorver ditas regiões (algumas das quais foram independentes) combinando a concessão de autonomias ou direitos nacionais a 54 minorias, com estímulo à luta de classes no interior dessas.

Hoje, Pequim já não promove o igualitarismo, mas sim o capitalismo. Este produziu um boom e uma nova classe de milionários hans, mas também choques entre estes e os trabalhadores ou novas competições empresariais não-hans, cujos reclames as potências ocidentais querem utilizar com a finalidade de ganhar terreno diante de Pequim.

Rebiya Kadeer

Ela se converteu no símbolo do novo nacionalismo uigur que se choca com Pequim. Nascida em Xinjiang, em 1947, e na pobreza, ela se beneficiaria da nova abertura ao mercado promovida por Deng Xiaoping para se converter numa próspera empresária. Entre 1999 e 2005, foi presa para que logo os EUA conseguissem que fosse libertada, exilada em seu solo e um ano depois se transformar na presidente do Congresso Mundial Uigur.

Bush a recebeu apresentando-a como alguém similar ao Dalai Lama. Assim como o patriarca tibetano, ela chama a uma luta pacífica e não-violenta para defender os direitos nacionais e religiosos de sua minoria contra o ‘colonialismo’ chinês (apesar de se opor a qualquer secessão), e se apresenta como uma vítima da ‘tirania comunista’ que encarna o sofrimento de seu povo (ainda que possua um alto padrão de vida).

Enquanto Washington usa Kadeer e o Dalai Lama para tentar romper o monopólio do Partido Comunista sobre o poder e o planejamento econômico na China, Pequim prefere que eles apareçam como os porta-vozes do protesto para desacreditá-la como se fosse um instrumento ocidental e também para debilitar os radicais e possíveis grupos violentos. 

A fundo:

Cabeças de turco

O termo ‘turco’ é algo que vem mudando muito com o tempo. Alguns sustentam que a primeira ilha que os europeus descobriram no Caribe foi a Gran Turca. Essa não foi batizada assim em homenagem ao império otomano, e sim porque Colombo ou seus acompanhantes viram que um cacto que havia ali tinha a forma do chapéu de seus inimigos turcos.

Foi o ódio aos turcos que levou os iberos a buscar cruzar o Atlântico. Meio século antes das viagens de Colombo, os otomanos conquistaram a Roma do leste (Bizâncio) e obstaculizaram o comércio com o Oriente, o que produziu o desejo de encontrar novas rotas.

‘Turco’, dessa forma, era sinônimo da maior ameaça muçulmana que já tinha visto a Cristandade. A principal obra em espanhol foi escrita depois que seu autor (Cervantes) ficou manco em uma batalha contra os otomanos.

Depois, nas Américas de antes da primeira guerra mundial (1914-1918) se denominavam ‘turcos’ os imigrantes que vinham do Mediterrâneo Oriental, ainda que muitos deles não fossem muçulmanos e nem falassem turco, pois eram árabes cristãos ou judeus dos territórios que logo seriam reconhecidos como Síria, Líbano, Palestina ou Jordânia.

Descendentes deles chegaram a ser chefes de Estado (Menem na Argentina, Saca em El Salvador, Turbay na Colômbia, Bucaram e Mahued no Equador), de governo (Simons, no Peru), de oposição (Handal, em El Salvador) ou da maior cidade (Maluf, em São Paulo). Johnson, o prefeito de Londres, é um nova-iorquino de pai turco. Até pouco tempo atrás, ser ‘turco’ equivalia a ser da República da Turquia.

De toda forma, há duas décadas a imprensa mundial começou a se encher de manchetes em que apareciam uns ‘turcos’, que até então haviam estado relativamente relegados. Em 1991, a União Soviética se desintegrou em 15 novas repúblicas (5 das quais falam uma língua turca: Azerbaijão, Turcomenistão, Uzbequistão, Cazaquistão e Quirguistão).

Esses novos membros da ONU começaram a se destacar, seja pelo boom de suas exportações de hidrocarbonetos ou algodão, por suas guerras ou pelos seus laços com o conflito afegão. Dostum, que lutou a favor da União Soviética na invasão do país, ainda tem um feudo turco-uzbeque no Afeganistão.

Os gagauzes da Moldávia, os tártaros da Ucrânia e diversas repúblicas turcas da Rússia foram reivindicando mais direitos nacionais ou mais autonomia. Um dos novos Estados da União Européia, o Chipre, tem em seu interior uma república separatista turca.

Moussavi, que desatou a maior crise do Irã pós-1979 ao questionar os resultados que não o levaram à presidência, nasceu na zona turca do Irã (Azerbaijão do leste), onde possui uma forte base social.

Hoje, ser turco não equivale a ser a ameaça islâmica sobre a Europa ou proveniente do império otomano. Deste último surgiram mais países na África, Ásia e Europa que as 15 repúblicas em que se desintegrou a URSS e nenhum deles, salvo a Turquia ou seu satélite Chipre, se reivindica atualmente como ‘turco’. E mais, cerca de 20% da população da Turquia podem potencialmente rechaçar ser catalogada como ‘turca’, pois falam uma língua indo-européia e podem reivindicar ser parte da maior nação sem Estado que há no mundo (os 25 milhões de curdos).

Turcas não são aquelas populações do Mar Mediterrâneo árabe do qual chegaram os ‘turcos americanos’, mas aquelas nações que se originaram da zona mais mediterrânea e afastada de todo o oceano que existe neste planeta: as planícies da Ásia central.

Há de 180 milhões a 200 milhões de pessoas que falam uma das trinta línguas turcas e que se encontram espalhadas em uma faixa (interrompida apenas pela Mongólia) que vai do sudoeste do Mediterrâneo até o Pacífico norte-oriental asiático. Somente de 30% a 40% deles residem na República da Turquia. O resto vive nas outras cinco repúblicas turcas ex-soviéticas, em uma dúzia de regiões ou repúblicas autônomas da Rússia, China, Moldávia, Ucrânia ou Chipre, em importantes regiões do Irã, Iraque, Afeganistão, Bulgária, Macedônia, Tadjiquistão e Mongólia e em significativas concentrações na Finlândia, Lituânia, Polônia, Alemanha e outras partes da União Européia.

A Turquia sempre mirou a Europa ou o Oriente Médio, enquanto que todas as zonas turcas da Ásia central foram áreas de influência dos impérios russo, persa ou chinês. A possibilidade de se gerar um movimento ou uma liga pan-turca não poderia se realizar antes do colapso soviético.

Paradoxalmente, a zona mais oriental e marginal onde habitam turcos (Sibéria norte-oriental) é aquela de que há mais de 10 milênios partiram os primeiros povoadores que cruzaram a região até o Alaska.

A ilha Gran Turca não foi povoada por turcos, mas os primeiros americanos estão geneticamente emparentados com os siberianos da grande faixa turca.

Na Alemanha se publicou um famoso livro cujo título ‘Cabeça de Turco’ não tinha nada a ver com a forma pela qual foi batizada essa ilha caribenha, mas com a maneira que os alemães vinham tratando os milhões de imigrantes turcos, como se fossem os novos bodes expiatórios.

"Cabeças de turco" podem ser considerados milhões de imigrantes (sobretudo muçulmanos) na Europa que fecha suas fronteiras, assim como os novos movimentos que se desatam na Ásia central. O mote ‘terrorismo uigur’ foi utilizado como se fosse ‘cabeça de turco’ por parte de Wang Lequan (secretário do Comitê Regional do Partido Comunista da China na Região Autônoma Uigur de Xinjiang), que há 15 anos esmaga toda dissidência em Xinjiang.

Por outro lado, uma das questões que mais seguirá convulsionando o mundo pós-guerra fria é a emergência de nações turcas que buscando maiores graus de autonomia ou independência encabecem novos protestos ou guerras.

Mapas das nações turcas no mundo

Isaac Bigio é analista internacional. Foi professor de política brasileira e latino-americana na London School of Economics & Political Sciences.

Este artigo foi retirado do Boletim ‘Análisis Global’, do próprio autor.

Traduzido por Gabriel Brito.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Pré-sal: a esquina de pedra...

Se correr, ele pega; se ficar, ele come; mas se mobilizar, é ele que se ferra




Escrito por Paulo Metri

Os ministros Lobão e Dilma vão aos Estados Unidos para uma reunião de executivos americanos e brasileiros, e para reuniões com autoridades americanas, incluindo o presidente Obama, com o tema principal dos debates sendo o pré-sal. Lembro, de pronto, que amigos me falam há anos sobre o Diálogo Interamericano, entidade com a qual as lideranças brasileiras submissas ao capital internacional, principalmente ao anglo-saxão, selam acordos antes de se candidatarem à Presidência da República, permitindo a elas ter acréscimos consideráveis em suas chances de vencer as eleições. Sempre achei que estes amigos tinham muito da "teoria da conspiração", conceito exposto no filme de mesmo nome, em que o personagem principal via conspiração de grupos e países fortes em diversos atos e fatos. Hoje, começo a achar que existe a possibilidade de eles não estarem tão errados.

Mesmo que não haja a submissão criminosa e impatriótica citada, até porque ela seria um complô contra a sociedade brasileira, existe na atitude dos ministros, inquestionavelmente, um erro de prioridade e outro de entendimento sobre o que representa o pré-sal, ambos muito preocupantes. Erro de prioridade porque os ministros não explicaram, salvo engano, as novas medidas a serem tomadas com relação ao pré-sal para sindicatos, associações de funcionários, federações sindicais, centrais de trabalhadores e nem para nenhum movimento social. A classe trabalhadora e os movimentos sociais não precisam ser ouvidos, segundo os ministros? Pensam eles que estes grupos não têm para onde correr em 2010?

O erro de entendimento é porque o pré-sal é a última oportunidade de redenção do nosso povo sofrido. Apesar de o governo Lula ter como discurso que o lucro da exploração da riqueza do pré-sal deve ser utilizado em programas sociais, a primeira ação dos seus ministros é buscar entregar o petróleo desta área para ser explorado e produzido por empresas estrangeiras, abrindo mão de boa parcela da riqueza. Se disserem que há a necessidade das empresas estrangeiras porque a Petrobrás não tem os recursos, esta afirmação não é verdadeira. A Petrobrás tem os recursos necessários para tocar o pré-sal na velocidade de interesse da sociedade brasileira.

O ministro Lobão parece estar querendo iludir a sociedade, quando diz, por exemplo, que: "60% das ações da Petrobrás estão nas mãos de investidores privados, assim, não podemos entregar o pré-sal para a Petrobrás". Obviamente, o leigo pensa que, se a entrega ocorrer, 60% do petróleo do pré-sal cairá nas mãos dos entes privados. Pois, não se trata disso.

A Petrobrás entrega para acionistas somente dividendos, que correspondem a 25% do "lucro após a retirada das reservas". As reservas são, no mínimo, 10% do "lucro após o pagamento de tributos". Este último lucro é igual a 60% do lucro, porque os tributos são da ordem de 40% do mesmo. Assim, como em mãos privadas estão 60% das ações, a parcela do lucro que vai para as mãos privadas corresponde a somente 8% do lucro (0,60 x 0,25 x 0,90 x 0,60 = 0,08).

Logo depois de confundir a população, o ministro Lobão, dando a impressão de ser grande nacionalista e estatizante, fala: "Por isso, temos que criar uma estatal com 100% das ações em mãos da União". Menos de dez minutos depois, ele continua: "Esta nova empresa ou a própria ANP irá fazer licitações de blocos do pré-sal, onde a Petrobrás e as empresas privadas poderão concorrer". Estas empresas privadas, na grande maioria das vezes, são estrangeiras. Assim, onde está a coerência do ministro nacionalista e estatizante?

Muito mais poderia ser falado, mas não temos que concluir todos os temas neste artigo. Contudo, o ponto mais importante ainda precisa ser dito. Com a orfandade em que a sociedade brasileira se encontra, em matéria de estadistas, e com a mídia do capital deformando a mesma e pobre sociedade, só resta aos movimentos sociais, às entidades de classe dos trabalhadores e aos sindicatos, suas federações e centrais, como repositório do que há de melhor, com relação ao compromisso social e ao sentimento de brasilidade, mobilizarem a sociedade brasileira para dar o recado ao governo: "Não importa o que tenham ouvido nossos ministros, de Obama e demais autoridades estrangeiras, o petróleo brasileiro, incluindo o do pré-sal, é só nosso. Acabou a farra."

Paulo Metri é conselheiro da Federação Brasileira de Associações de Engenheiros.

Grandes companhias farmacêuticas faturam bilhões com a gripe A



É o que informa o insuspeito Financial Times

Algumas das maiores companhias farmacêuticas do mundo estão auferindo bilhões de dólares em receita adicional, em meio à preocupação global sobre a expansão cada vez maior da gripe suína.
Analistas estimam alta significativa nas vendas da GlaxoSmithKline, da Roche e da Sanofi-Aventis, quando elas divulgarem nos próximos dias resultados do primeiro semestre engordados por encomendas governamentais de vacinas contra a gripe e medicamentos antivirais. A informação é do Financial Times.

As novas vendas - ao mesmo tempo em que a suíça Novartis e a americana Baxter, que também produzem vacinas, já divulgaram resultados expressivos - surgem no momento em que o mais recente cômputo aponta para um total de mais de 700 vítimas fatais do vírus da gripe A (H1N1) e para milhões de pessoas infectadas em todo o mundo.

A britânica GlaxoSmithKline (GSK) confirmou que até o momento já vendeu 150 milhões de doses de uma vacina pandêmica contra a gripe (o equivalente ao total anual de vendas de vacinas sazonais contra a doença), a países como o Reino Unido, os EUA, a França e a Bélgica, e anunciou que estava se preparando para expandir a produção.

A GSK também produz o Relenza, um medicamento antivírus que reduz a duração e atenua a severidade da infecção, e está se preparando para ampliar a produção, rumo a uma meta de 60 milhões de doses anuais. O governo do Reino Unido encomendou 10 milhões de doses do medicamento neste ano.

Um dos principais beneficiários do temor crescente de uma pandemia foi a suíça Roche, que vende o Tamiflu, o principal medicamento antiviral usado no combate à gripe, e registra alta considerável nos pedidos de governos e empresas privadas.

Uma pesquisa do banco de investimento americano JPMorgan Chase estimou, na semana passada, que governos de todo o mundo já teriam encomendado quase 600 milhões de doses de vacinas contra a pandemia e adjuvantes (produtos químicos que aumentam sua eficácia). Isso representa US$ 4,3 bilhões em vendas, e existe o potencial de vender mais 342 milhões de doses de vacina, ou US$ 2,6 bilhões, no futuro próximo.

O JP Morgan Chase previu que novos pedidos de antivirais podem elevar as vendas da Roche e da GlaxoSmithKline em mais US$ 1,8 bilhão nos países desenvolvidos e, em potencialmente, mais US$ 1,2 bilhão nas nações em desenvolvimento.

Mas também existem incertezas para os fabricantes de produtos farmacêuticos. Com a probabilidade de demanda superior à oferta e os lotes iniciais de produção sugerindo que o rendimento da vacina contra a pandemia é relativamente baixo, as companhias podem ter de enfrentar escolhas difíceis na alocação de produtos aos diferentes países que estão apresentando encomendas.

As companhias também estão sob pressão para fornecer mais medicamentos e vacinas gratuitamente, ou a preços extremamente baixos, para os países em desenvolvimento.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

O caso Baader-Meinhof: as feridas não fecharam

Grupo nasceu durante os protestos estudantis na Alemanha, sobretudo em Berlim, ao final dos anos 60 (Foto: Divulgação)

Por Flavio Aguiar


Entre as muitas feridas abertas na história alemã e européia, sobressai o caso dos jovens que, a partir de 1967, pegaram em armas para provocar uma revolução que queriam anti-imperialista. São o tema do filme “O grupo Baader-Meinhof”, que tem pré-estréia nesta quinta-feira, 16 de julho, em São Paulo. (Em alemão, “Der Baader-Meinhof Komplex”, direção de Uli Edel, que concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro neste ano).

Eles se autointitulavam “Die Rote Armee Fraktion” (RAF), A Fração ou Facção do Exército Vermelho. Mas ficaram mais conhecidos pelos nomes de dois de seus líderes fundadores, Andréas Baader e Ulrike Meinhof.

O grupo nasceu durante os protestos estudantis na Alemanha, sobretudo em Berlim, ao final dos anos 60. A partir do assassinato do estudante Benno Ohnesorg, em 2 de junho de 1967, por um policial durante manifestação contra a visita do Xá do Irã Reza Pahlavi a Berlim, vários grupos estudantis e de intelectuais de esquerda radicalizaram suas posições, aderindo às propostas de luta armada que então proliferavam na América Latina, na África, na Ásia e inclusive na Europa (caso das Brigadas Vermelhas, na Itália). A tentativa de assassinato contra o líder estudantil Rudi Dutschke por um extremista de direita, em 11 de abril de 1968, sete dias depois do assassinato de Martin Luther King nos EUA, só jogou mais gasolina na fogueira. Dutschke sobreviveu, mas ficou paraplégico, e morreu em 1979 ainda por causa das seqüelas.

O grupo Baader-Meinhof é tema de filme (Foto: Divulgação)

Ulrike Meinhof (1934 – 1976) era a mais velha do grupo, uma jornalista de futuro que escrevia para a publicação pacifista Konkret. Até hoje se discute sobre como ela deu todos os passos decisivos até chegar a ser uma das mulheres mais procuradas da Europa, com a cabeça posta a prêmio, envolvida em tiroteios, seqüestros, assaltos e mortes de todo o tipo.

O nome com que o grupo ficou conhecido foi consagrado com a ação espetacular em que Ulrike, com outros companheiros, ajudou Baader, já prisioneiro, a fugir, o que marcou sua adesão definitiva às propostas de luta armada da RAF.

É impossível separar as propostas extremas (hoje muito criticadas mesmo pela esquerda) a que o grupo chegou do clima de sufocação na Berlim Ocidental cercada (pelo muro erguido pelos comunistas em 1961), ocupada militarmente pelos EUA, Grã-Bretanha e França, com os jornais conservadores alemães pregando uma dura repressão contra os movimentos estudantis. Uma das reivindicações constantes dos movimentos era a “desnazificação” completa do estado alemão e das universidades. Nessa época o governo alemão ocidental, pela primeira vez, era formado por uma coalizão entre os democratas cristãos (CDU) e os social-democratas (SPD). O próprio primeiro ministro Kurt Georg Kiesinger, da CDU, fora membro do Partido Nazista durante a guerra.

Desde o começo o grupo foi tratado – o que continua de certo modo – com expressões como “gangue”, “bando” e outras do tipo, sempre apontando para a dupla “Baader-Meinhof”. Essa é uma diferença marcante em relação ao Brasilo, por exemplo: com críticas ou sem críticas, os jovens e militantes que aderiram à luta armada nos anos 60 são tratados como “mártires ou até heróis da democracia”, lutadores da resistência contra a ditadura. Na Alemanha não houve essa rotação histórica.

As reações ao filme mostram isso: parentes das vítimas do grupo, que vão desde policiais ou funcionários de empresas atacadas, consideram que o filme glamouriza demais os “terroristas”; outros desses parentes, pelo contrário, dizem que o filme faz justiça, mostrando o grupo como um autêntico ajuntamento de bandidos. De outros pontos de vista surgem críticas de que o filme é por demais “superficial”, querendo juntar trinta anos de história (o grupo existiu de 1968 a 1998, quando os remanescentes se autodissolveram) em duas horas e meia de projeção. Há ainda quem aponte que o filme simplifica caráteres, como o de Ulrike Meinhof que, decididamente, era uma intelectual de bastante sofisticação.

Para completar a complexidade da cena, duas considerações. Em 1977, diante da evidência de que não seriam libertados durante um seqüestro de avião com esse fim, três membros do grupo, presos na prisão de Stammheim, entre eles Baader, supostamente se suicidaram. Uma quarta pessoa, que teria participado desse “pacto de morte”, Irmgard Möller, sobreviveu, foi solta e vive numa semiclandestinidade. Ela afirma que não houve suicídios, mas sim “execuções extrajudiciais”. Houve vários inquéritos, sempre apontando o sucídio. Mas é verdade que restam dúvidas substanciais. Entre elas, a mais evidente é a de que Baader e um dos outros morreram por tiros de revólver, ninguém ouviu os tiros e nenhum silenciador foi encontrado nas celas. Em 1976, Ulrike foi encontrada morta na cela, enforcada. A versão oficial é de suicídio, e também é contestada.

Finalmente, neste ano de 2009 revelou-se que Karl Heinz-Kurras, o policial que atirou no estudante Benno, em 1967, era agente secreto da Stasi, a polícia política da Alemanha Oriental.

Decididamente, as feridas não vão fechar por muito tempo. Nem as perguntas vão se calar.

Batukim Brasileiro – O Canto das Lavadeiras - Coral das Lavadeiras e Carlos Farias - 2002

Olha ai pessoal , a perfeição do regionalismo, um resgate perfeito de nossa cultura, chorei ao ouvir este disco, tenho ele e o encarte é lindo, comprem, comprem de verdade eu garanto, perfeito.Todo mundo fala que é uma das regiões mais pobres do mundo, o vale de jequitinhonha, mas eles nao conhecem a cultura de lá...
Saravá!!!
Daniel de Mello e a Música da Minha Gente

O patrimônio musical brasileiro ganhou em 2002 mais uma pedra preciosa em seu acervo, desta vez garimpada nas entranhas do Vale do Jequitinhonha: o CD-Livro "Batukim Brasileiro - o Canto das Lavadeiras", produzido pelo cantor e compositor Carlos Farias, com a participação especial do Coral das Lavadeiras, de Almenara (MG).
Com gravação totalmente acústica, a obra resgata em 12 maravilhosas canções o que há de mais belo na música regional do norte/nordeste mineiro: batuque, maracatu, toada, baião, afoxé, roda, semba e chorinho, numa mistura bem tramada de ritmos e versos de influência portuguesa, indígena e africana, revelando a essência da nossa brasilidade. São cânticos de trabalho de antigas lavadeiras, canoeiros e ribeirinhos, cuja origem já se perdeu na memória do tempo. Ele é resultado de pesquisas etnomusicais realizadas pelo compositor nessa interessante região de Minas, a partir de 1985.
O CD vem encartado dentro de um livrete com 52 páginas coloridas, contendo fotos, desenhos e textos em português e inglês, revelando aspectos interessantes do Vale do Jequitinhonha nos campos da história, do folclore, da ecologia e da cultura. Além das lavadeiras e de Carlos Farias, há a participação especial do cantor e humorista Saulo Laranjeira. O disco ainda possui uma faixa interativa, contendo fotos e textos que podem ser visualizados em um computador com recursos multimídia. Um trabalho ousado e surpreendente, que já causou impacto até na Europa: lançado primeiro em Portugal, em março de 2002, “Batukim Brasileiro” vem emocionando as pessoas pela sua beleza e autenticidade.

Fonte: Coral das Lavadeiras

Download: Batukim Brasileiro – O Canto das Lavadeiras - Coral das Lavadeiras e Carlos Farias - 2002

Golpe em Honduras...

Resistência hondurenha recusa qualquer retrocesso na luta popular, exige a volta incondicional de Zelaya e recusa pontos propostos por Arias

por Frente Nacional Contra o Golpe de Estado em Honduras

A Frente Nacional Contra o Golpe de Estado em Honduras, integrada pelas diferentes forças organizadas no país e unidas pela situação provocada à comunidade nacional e internacional a partir do golpe de Estado, informa o seguinte:

1- Reiteramos que a posição intransigente da comissão nomeada pelos golpistas torna impossível uma solução com êxito da mediação realizada em San José da Costa Rica.

2- Estamos de acordo com o primeiro ponto da proposta apresentada pelo cidadão presidente da Costa Rica, prémio Nobel da Paz, Oscar Aris, consistente na restituição imediata de Manuel Zelaya Rosales à presidência da República de Honduras, a qual exigimos que seja de carácter incondicional.

3- Recusamos o resto da referida proposta, porque não coincide com nossas colocações e exigências, o que argumentamos: O número 3 possibilita a inclusão de pessoas relacionadas com o golpe de Estado e, portanto, que cometeram delitos de lesa humanidade. O número 3 significa a negação do direito cidadão a uma democracia participativa. O número 4 promove a impunidade para aqueles que planearam, executaram e apoiam o Golpe de Estado. O número 5 implica a possibilidade de perpetrar uma fraude eleitoral da qual já se têm claros indícios. O número 6 desconhece a nossa posição de rever o papel constitucional das forças armadas e o seu envolvimento no golpe de Estado. O número 7 não tem razão de ser, enquanto não se eliminarem os pontos anteriores.

4- Denunciamos a atitude de desconhecimento tácito de violação de direitos humanos de que vem sendo objecto a população por parte do governo de facto e dos seus aparelhos repressores, do qual é exemplo: 4 assassinatos, 1.158 detenções ilegais, busca e perseguição de representantes do movimento social; 14 meios de comunicação, 14 jornalistas e 4 organizações sociais sofreram atentados à liberdade de expressão; foram violentados os direitos individuais e fundamentais da vida do cidadão e cidadã contemplados na Constituição da República. Denunciamos também a involução que sofreu o país em matéria de direitos humanos, militarização de instituições públicas e a colocação em acção de membros de esquadrões de morte por todo o país; a qual se soma a acção em conluio do Ministério Publico, dos julgados e dos Tribunais da República com o governo de facto, o que provocou um estado de desamparo da cidadania.

5- Mantemos a nossa posição de alcançar processos políticos includentes que permitam a participação democrática de homens e mulheres, por meio da instalação de uma Assembleia Nacional Constituinte.

6- Continuamos firmes na nossa luta, até conseguir a recuperação da ordem institucional.

Tegucigalpa, M.D. 19 de Julho de 2009
Frente Nacional Contra o Golpe de Estado em Honduras

O original encontra-se em www.resumenlatinoamericano.org , Nº 2046

Este comunicado encontra-se em http://resistir.info/ .

Pobre RS...nós não merecemos um governo desses...



Leandro Fortes escreve no blog Brasília, eu vi:

Quem estava na Bahia, se lembra: nas eleições municipais de 1985, Antonio Carlos Magalhães, então todo-poderoso ministro das Comunicações do governo José Sarney, apareceu sorridente para votar no salão nobre do Clube Bahiano de Tênis, reduto da elite branca de Salvador. ACM vivia tempos de glória. Tinha virado a casaca e abandonado os militares, a quem servira como poucos na ditadura, para embarcar na canoa da Nova República de Tancredo Neves. Era uma tarde ensolarada de novembro, sol da Bahia, luz e calor. O coronel chegou sorridente, cercado de acólitos e puxa-sacos, como de costume, certo de estar lá, naquela hora, para viver mais um momento de glória. Bastou pisar nos salão do clube, no entanto, para ser escandalosamente vaiado. Ainda atordoado pelo vexame, ACM tentou usar da velha tática do nem-é-comigo para continuar sorrindo e cumprimentando providenciais correligionários apressadamente colocados em fila por assessores solícitos. Seria pouco para conter a besta-fera que sempre foi verdadeira alma do coronel.

A dois passos da urna, ACM foi abordado por um repórter com cara de menino, baixinho, calças exageradamente colocadas acima da cintura, um cabelo preto, liso e espetado, caído sobre a cabeça em forma de cuia. Chamava-se Antônio Fraga, tinha 19 anos e uma disposição dos diabos. Repórter-estagiário da TV Itapoan (à época, retransmissora do SBT), Fraga cursava comigo o primeiro ano da faculdade de jornalismo da Universidade Federal da Bahia. Era um jornalista precoce e hiperativo. Com a audácia tão típica da juventude, ele furou o séquito de bajuladores carlistas e perguntou, à queima-roupa, na cara de ACM, o que ele achava de estar sendo vaiado.

Com o rosto desfigurado de ódio, Antonio Carlos, primeiro, deu um soco no microfone que Fraga segurava com a mão direita, de maneira a atingi-lo na boca. Em seguida, chamou o jornalista de “filho da puta” e passou a ameaçá-lo de outras agressões, enquanto dois seguranças tentavam derrubá-lo desferindo chutes no calcanhar. Na aurora da redemocratização do Brasil, o garoto Fraga conseguiu mostrar para o país quem era, de fato, aquela triste e grotesca figura política que ainda iria reinar soberana nas colunas políticas da imprensa brasileira, por muitos anos, impune e cheia de prestígio.

Essa história antiga me veio à cabeça assim que vi, na internet, a máscara de rancor estampada no rosto da governadora Yeda Crusius, do Rio Grande do Sul, na semana passada, a chamar, histérica, os professores gaúchos de “torturadores de crianças”. Atrás das grades do portão da casa onde mora, casa, aliás, suspeita de ter sido adquirida com dinheiro de caixa dois de campanha, a tucana tornou-se um emblema da loucura que quando em vez acomete os bichos acuados, na iminência do extermínio, certos de que o próximo passo, de ré, será o vazio terrível de todo abismo. Diante do mundo, reproduzidos on line, os gestos alucinados de Yeda Crusius se tornaram o emblema de uma administração falida, desmoralizada e corrompida até a medula. O instantâneo da débâcle de uma administração que, ironicamente, arrogou-se de ser “um jeito novo de governar”.

Ao tentar incutir a pecha de “torturadores” em professores que assustaram seus netos com uma manifestação contra a precariedade da rede pública de ensino no estado, a governadora ultrapassou os limites da sanidade política minimamente exigida para o cargo que ocupa. Estivesse em um barco, seria alvo de um justificado motim. Ainda assim, achou-se no direito de usar a Brigada Militar contra os manifestantes. Incapaz de controlar a avalanche de denúncias que se amontoam sobre ela desde que a Polícia Federal descobriu, na Operação Rodin, a quadrilha de trambiqueiros que opera nos bastidores do Palácio do Piratini, Yeda Crusius decidiu esconder-se por trás de um discurso autista e surreal. Fala de uma gestão que não existe e enaltece a si mesmo como inspiração de governança.

Trata-se, como se vê, de um caso de intervenção humanitária. Seria, portanto, a chance de o senador Pedro Simon, do PMDB, que é franciscano, esquecer-se das circunstâncias políticas que o mantêm convenientemente calado e tomar uma atitude, digamos, cristã. Se não pela decência da política gaúcha, quem sabe em nome dos netos de Yeda, pobres crianças assustadas com o barulho da turba de professores de escolas – de lata, lotadas, imundas e apertadas – nas quais eles jamais irão estudar.

No fim das contas, não há nada mais cristão do que salvar uma mulher do apedrejamento, ainda que seja ela a jogar as pedras para o ar.

Foto: Roberto Vinicius