sábado, 6 de março de 2010

Governo bolivariano alvo do imperialismo


Venezuela repudia acusações espanholas


A Venezuela considera «inaceitáveis» e de «natureza e motivação política» as acusações da Audiência Nacional espanhola sobre uma suposta cooperação do executivo de Hugo Chávez com as FARC e a ETA, visando a realização de atentados contra altos funcionários do governo colombiano em território espanhol.


Original Jornal Avante
Em comunicado emitido segunda-feira pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE), o governo bolivariano diz ter tido conhecimento do auto emitido nesse mesmo dia por um juiz espanhol (Eloy Velasco), no qual se tecem «considerações inaceitáveis, de natureza e motivação política sobre o governo venezuelano» e «se toma a liberdade de fazer reiteradas referências desrespeitosas ao presidente de todos os venezuelanos, Hugo Chávez, proferindo acusações tão tendenciosas quanto infundadas».
O MNE da Venezuela responde, desta forma, ao texto assinado por um magistrado da mais alta instância judicial de Espanha, no qual se acusa a República Bolivariana de facilitar a cooperação entre os dois grupos armados. Velasco processa seis presumíveis membros da ETA e sete das FARC e sustenta que as organizações tinham como alvos em território espanhol o actual presidente colombiano, Álvaro Uribe, o ex-presidente daquele país, Andrés Pastrana - que reside em Madrid e terá mesmo sido vigiado, diz -, e, entre outras personalidades, acrescenta ainda, o actual vice-presidente da Colômbia e mais que provável candidato da direita colombiana às próximas eleições, Francisco Santos.

Vale tudo

Eloy Velasco, fundamenta esta autêntica teoria da conspiração na alegada correspondência encontrada no computador supostamente apreendido a Raúl Reys, morto pelo exército colombiano num bombardeamento realizado no território do Equador, em Março de 2008, que matou o então comandante das FARC e outros guerrilheiros, e vitimou vários civis.
Para envolver o Estado venezuelano, o juiz não mede as palavras e refere que os 13 acusados «utilizaram a cooperação governamental venezuelana na colaboração ilícita entre as FARC e a ETA». Velasco vai mesmo mais longe e, numa argumentação forçada para criminalizar a Venezuela e o seu executivo, traz a lume o nome de Arturo Cubillas Fontán.
Fontán, pretenso etarra, é casado com a venezuelana Goizeder Lataillade, a qual, por sua vez, ocupou cargos públicos no governo do presidente Hugo Chávez, mais concretamente no gabinete de Administração e Serviços do Ministério de Agricultura e Terras.
O magistrado da Audiência Nacional também especula que Fontán seria, desde 1999, «o dirigente da ETA para aquela área da América, encarregando-se de coordenar as relações com as FARC e a participação de integrantes do organização separatista basca em cursos de explosivos e armamentos e na difusão de técnicas de guerrilha urbana terrorista».

Ocultação maliciosa

A respeito deste rol de acusações, o MNE da Venezuela precisa que no auto de Eloy Velasco «faz-se referência a um cidadão residente na Venezuela desde Maio de 1989 em resultado dos acordos então alcançados entre Carlos Andrés Pérez [à data presidente da Venezuela] e Filipe González [então primeiro-ministro espanhol]» mas, «surpreendentemente, em nenhum momento se menciona o nome dos autores deste acordo».
Simultaneamente, prossegue a resposta do MNE da Venezuela, «o juiz tem a ousadia de referir-se reiteradamente e de maneira desrespeitosa ao presidente de todos os venezuelanos, Hugo Chávez, proferindo acusações tão tendenciosas quanto infundadas acerca do governo bolivariano».
«A totalidade das alegações deste magistrado são produto da utilização de arquivos contidos no computador supostamente apreendido a Raúl Reys durante a operação militar que implicou um bombardeamento ilegal em território equatoriano e durante o qual foram massacradas dezenas de pessoas. Resulta também surpreendente que o juiz ressuscite a desgastada farsa do computador, que passou já a fazer parte do folclore colombiano», acrescenta o comunicado.
«O ministro dos Negócios Estrangeiros da República Bolivariana da Venezuela, em comunicação com o responsável das relações externas do reino de Espanha, recordou que o acordo de 1989 ao abrigo do qual reside na Venezuela, a pedido do Estado espanhol, o cidadão em questão, repudiou as acusações infames deste juiz e reiterou o profundo apego aos valores democráticos e humanistas que caracterizam o governo bolivariano da Venezuela», conclui.

CIA reúne com Uribe

Menos divulgado que o auto do juiz Velasco foi o encontro que, por estes dias, ocorreu entre o director da CIA, León Panetta, o presidente colombiano, Álvaro Uribe, e alguns dos seus ministros, entre os quais o titular da Defesa, Gabriel Silva. Segundo fontes oficiais colombianas, Panetta encontrou-se igualmente com «peritos» locais da área da segurança, com o director da polícia, o general Óscar Naranjo, e outros altas patentes militares colombianas.
Esta é toda a informação oficial divulgada, mas nem por isso é menos interessante, sobretudo se tivermos em conta o clima de tensão entre a Venezuela e a Colômbia, fruto das permanentes provocações do governo de Bogotá, e o facto de o governo de Caracas, a par de outros governos do subcontinente, considerarem a cooperação militar entre a Colômbia e os EUA uma ameaça à sua soberania e um trampolim para a ingerência norte-americana na política de cada um dos Estados da América Latina que não sigam os ditames de Washington.
Há menos de quinze dias, Hugo Chávez alertou, mais uma vez, que o governo colombiano procura qualquer pretexto para agredir a Venezuela.
Não menos relevante neste contexto é o facto de estar provado - por documentação de acesso público e não por alegados arquivos de um suposto computador - que a CIA mantém relações, desde 1994, com o exército colombiano e com os paramiliatres, usados no combate às FARC e na defesa dos interesses do capital contra os trabalhadores colombianos.
Estes vínculos foram revelados pela National Security Archive (NSA), organização sem fins lucrativos sediada na Universidade George Washington. Nos documentos tornados públicos pela NSA, em Janeiro de 2009, seis dias antes de George W. Bush agraciar Álvaro Uribe com a Medalha Presidencial da Liberdade, confirma-se ainda que «a ideia de assassinar civis colombianos e fazê-los passar por guerrilheiros (os chamados falsos positivos) é antiga».
Recorde-se que mais de dois mil casos de falsos positivos estão a ser investigados pela justiça colombiana. O escândalo foi desencadeado depois da descoberta dos corpos de cerca de 20 jovens naturais da localidade de Soacha, recrutados por supostos angariadores de mão-de-obra que, posteriormente, os levaram à execução e os apresentaram como guerrilheiros das FARC abatidos em combate.
Aproximadamente 500 militares colombianos são suspeitos de envolvimento nos falsos positivos, diz o Ministério Público da Colômbia.

Narcotráfico como pretexto

Outra linha de ataque do imperialismo à Venezuela foi a divulgação, esta segunda-feira, do relatório anual do Departamento de Estado dos EUA relativo ao tráfico de estupefacientes. Diz Washington, segundo a AFP, que «há fortes evidências de que alguns elementos das forças de segurança da Venezuela assistem directamente» grupos colombianos designados como organizações terroristas pelos Estados Unidos, aludindo, claramente, às colombianas FARC.
Mas os EUA vão mesmo mais além alegando que o transito de droga no território venezuelano «aumentou bruscamente em 2009», que a Venezuela é «um importante país de trânsito», e, ainda, que o volume da exportação de estupefacientes é «extraordinário» desde o «sector adjacente à fronteira com a Colômbia».
Os norte-americanos não perdoam que desde 2006 a Venezuela tenha interrompido a cooperação com a agência americana antinarcóticos (DEA) e acusam igualmente os funcionários venezuelanos de não empreenderam «esforços significativos» para combater o narcotráfico, isto apesar de que contactos norte-americanos nesse sentido, prosseguem.
Em resultado de tudo isto, continua a Casa Branca, incrementou-se no território venezuelano «o nível de corrupção, crime e violência» e «a politização das investigações e a corrupção, que sufocam a confiança pública no sistema judiciário».
Esta declaração, para além de revelar nítidas acusações de natureza política e de ataque ao regime democrático venezuelano, e de pretender fazer passar a fronteira entre a Venezuela e a Colômbia por um território onde convivem o narcotráfico e o «terrorismo» com o beneplácito das autoridades, é mentirosa. Os dados divulgados no passado dia 26 pelo embaixador venezuelano nos EUA comprovam-no.

Venezuela na primeira linha

De acordo com Bernardo Álvarez, no último ano a Venezuela aumentou em 11 por cento as apreensões de droga no país.
Numa comunicação que pretendia rejeitar a politização da luta contra o tráfico de estupefacientes (que acabou por acontecer, quatro dias depois pela mãos dos EUA), Álvarez lembrou que a Venezuela partilha uma larga fronteira com o maior produtor de cocaína do mundo, a Colômbia, e encontra-se no mesmo continente que o maior consumidor do mundo, os EUA.
No que diz respeito a investimentos, o ano passado o governo boliviano canalizou 260 milhões de dólares para a compra e instalação de 10 radares de rastreio de voos ilegais, deteve cerca de 9 mil pessoas, destruiu 26 laboratórios clandestinos, começou a usar inceneradores (5 dos 10 previstos) dedicados à destruição de estupefacientes e reforçou os acordos internacionais de cooperação com 38 países.
No mesmo sentido, disse, foram preparadas e certificadas mais de 100 mil pessoas como assessores comunitários para a prevenção integral. Nos próximos três anos a meta é que este corpo de ligação entre a polícia e as comunidades se alargue a mais de 5 milhões de pessoas.
Já este ano, continuou o diplomata, a Venezuela interceptou 30 aviões, deportou três grandes narcotraficantes para a Colômbia, França e EUA, entre os quais Salomón Camacho, barão que figura no restrito lote dos 12 mais procurados pela DEA em todo o mundo.
Em suma, entre 2006 e 2008, o volume das apreensões feitas pelas autoridades venezuelanas aumentaram 38 por cento face ao registado no período de 2002 e 2005, quando o país cooperava com a DEA e os EUA, sublinhou para insistir que «a acusação de que a Venezuela não coopera no combate ao narcotráfico é puramente política».
Às palavras do embaixador venezuelano, juntam-se as informações oficiais das Nações Unidas, segundo as quais 90 por cento da cocaína que ingressa nos EUA segue a rota do Pacífico Oriental através do corredor mexicano e centro-americano. Na sua esmagadora maioria, esta droga provém da Colômbia, revela a ONU.

Professores de SP, entram em greve a partir de segunda...


Professores da rede estadual do Estado de São Paulo,  aprovaram ontem, em assembleia, uma greve por tempo indeterminado que será iniciada na segunda-feira. O ato reuniu 10 mil manifestantes.A principal reivindicação, segundo os sindicatos, é a ausência de reajuste salarial para a categoria, cujos salários estão congelados há cinco anos, segundo a Apeoesp. Eles pedem também o fim da política de conceder apenas gratificações e bônus.

Em nota divulgada ontem à noite, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB) diz considerar a aprovação da greve como uma decisão política da Apeoesp e que, os professores não tem notivos para fazer paralização

sexta-feira, 5 de março de 2010

Qual PT??

Do “maduro” ao podre
Escrito por Gilvan Rocha   - Correio da Cidadania
 
Quando no Brasil surgiu um partido de trabalhadores que encarnava seus interesses, não as suas migalhas, a burguesia apavorou-se. Criou toda forma de dificuldades jurídicas e criou o voto vinculado para impedir o êxito deste partido que tantas esperanças trazia para os trabalhadores.
 
A burguesia colocou um círculo de ferro para o partido não ser ultrapassado. Vendo, porém, não funcionar seus expedientes escusos, ela partiu para uma segunda tática. Procurou afagar com seus mimos o líder do partido no Congresso.
 
Tornou Genoíno em garoto propaganda da Globo, pois ele jogava um brando papel e a cada concessão sua a burguesia aplaudia e dizia: isso sim! Isto é que é um partido "maduro"! Juntaram-se a Genoíno: Delúbio Soares, Silvio Pereira, Ideli Salvatti, João Paulo, os dólares nas cuecas, os aloprados, os sanguessugas e formaram uma bela quadrilha.
 
Dizem que basta uma laranja podre para botar um cesto a perder e essa laranja podre já existia na figura de José Dirceu, franco arrivista do petismo. O partido ficou assim dividido: os bem intencionados, os beatos, os honestos, os ingênuos, que são muitos. Do outro lado ficaram aqueles que, de "maduros", ficaram podres, e eles representam uma minoria bem situada no aparelho do Estado e fora dele.
 
Assim como no Brasil, a Alemanha foi palco de uma tragédia política que é, sem dúvida, a matriz de uma tragédia, a começar pela Revolução Russa, que se estendeu através dos tentáculos da Terceira Internacional Comunista, pelo mundo afora, esbarrando o processo revolucionário mundial.
 
Assim, no Brasil, tivemos outro Gustavo Noske, que inveja não faz ao nosso conspirador José Dirceu, que a prática não junta à esquerda, mas junta a José Sarney, Romero Jucá, Renan Calheiros, Fernando Collor, Quércia e outros tantos fisiológicos de sua raça.
 
Agora, o José Dirceu faz intermediação de ricos negócios, tanto no Brasil como no estrangeiro, afinal, tal como a burguesia, ele não é nacionalista, ele visa apenas a fortuna. E dentro desse objetivo soube formar seu staff. Onde está o partido diferente de outrora?
 
Gilvan Rocha é presidente do Centro de Atividades e Estudos Políticos (CAEP).

quinta-feira, 4 de março de 2010

A américa latina estará se emancipando????

Frustração de Hillary: o ocaso do pan-americanismo imperialista

A secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, visitou o Brasil nesta quarta-feira (3). Chegou cheia de intenções sobre o estabelecimento de “relações especiais” com o Brasil e não pouca arrogância e atitudes imperiais no que se refere aos temas globais e aos assuntos em que os dois países mantêm posições diametralmente opostas. Sai de mãos vazias, levando consigo um imenso desgaste político. 

Por José Reinaldo Carvalho*
Os resultados que colheu em termos de “relações especiais” foram muito poucos. E os contenciosos, se não se agravaram pelo equilíbrio com que foram tratados pela parte brasileira, mantiveram-se sem solução.

Momentos antes da sua chegada a Embaixada dos Estados Unidos em Brasília disparava “press-realeases” para as redações dos principais veículos de comunicação do país, dando conta de que existem 16 mecanismos de consultas bilaterais sobre temas da maior relevância, variando da economia à defesa. O Itamaraty, por sua vez, generoso com a anfitriã, divulgava um número maior. Como informou a “Folha de São Paulo” em sua edição desta quarta-feira, 3, são 18 os mecanismos de consultas no âmbito da Chancelaria brasileira. Há quem ache pouco, como o ex-embaixador do Brasil nos Estrados Unidos, Rubens Barbosa, para quem o Brasil é passivo na implementação da cooperação bilateral. Ressente-se o ilustre diplomata da atual orientação do Itamaraty que não mais privilegia as relações com os Estados Unidos em detrimento do contato com outros parceiros e há muito tempo deixou de ser submissa, característica que marcou a diplomacia brasileira nos tempos de FHC à frente do Ministério das Relações Exteriores e da Presidência da República.

Mantras da política externa imperialista

O fato é que o saldo da visita da senhora Clinton ao Brasil é apenas a assinatura de três atos de cooperação. Um deles se refere à implementação de atividades conjuntas de cooperação técnica com outros países. Outro diz respeito às mudanças climáticas. E um terceiro propõe entendimentos entre os dois países para o avanço na condição da mulher.

A rigor, o fomento das “relações especiais” era apenas a envoltura na qual se escondiam os verdadeiros objetivos da visita. A esposa do ex-presidente dos Estados Unidos veio ao Brasil para pressionar o governo brasileiro a recitar os mesmos mantras da atual política externa norte-americana e o obrigar a transformá-los em ações práticas. Dois desses mantras fazem parte da cena política latino-americana – apoio a Pepe Lobo, presidente de Honduras eleito no rastro do golpe de estado que interrompeu uma breve experiência de democracia e independência no país centro-americano e condenação a Cuba por “violação” dos direitos humanos, com base em falsas acusações. Há poucos dias o presidente Lula esteve em Cuba, encontrou-se com os companheiros Fidel e Raúl, ocasião em que declarou alto e bom som que o Brasil é amigo de Cuba e condena o bloqueio ao país, assim como as tentativas de isolá-lo politicamente. A senhora Clinton não escutou algo diferente nas audiências com as autoridades brasileiras durante esta quarta-feira no Itamaraty e no gabinete presidencial.

“O Brasil não se curva a pressões”

Mas o motivo de maior frustração para a enviada do presidente Obama foi o rechaço às pressões para o Brasil aderir à orquestração do mantra anti-iraniano e se somar ao apelo para a adoção de sanções àquele país do Oriente Médio. “O Brasil não vai se curvar às pressões dos Estados Unidos”, disse o ministro das Relações Exteriores Celso Amorim. E no mesmo tom firme: “Nós pensamos com a própria cabeça. Nós queremos um mundo sem armas nucleares, certamente sem proliferação”, afirmou o chanceler brasileiro diante de uma frustrada secretária de Estado. Amorim pregou o entendimento, o diálogo e o caminho diplomático para lidar com o governo de Mahmud Ahmadinejad.

A visita da chefe da diplomacia estadunidense, prévia à que em breve o presidente Obama fará ao Brasil, ocorre num momento novo do cenário político latino-americano e numa etapa de amadurecimento da política externa independente do governo Lula. A América Latina não é mais o quintal dos fundos do imperialismo estadunidense, cujo pan-americanismo está sendo substituído pela verdadeira integração de povos e nações soberanas, com seus novos instrumentos de cooperação, como a Comunidade de Estados Latinoamericanos e Caribenhos (Celac). Por isso mesmo, os Estados Unidos, apesar da nova retórica, continuam ameaçadores e intervencionistas, como demonstram a recriação da Quarta Frota da Marinha de Guerra dos EUA e a instalação das bases militares na Colômbia. A política externa independente do governo Lula tem evoluído e amadurecido, com suas prioridades para a cooperação, a defesa da paz, o respeito ao direito internacional, o multilateralismo e o estabelecimento de parcerias estratégicas incômodas para o imperialismo e as classes dominantes internas, retrógradas e entreguistas.

Relações complexas

As relações bilaterais do Brasil com os Estados Unidos são bastante complexas e merecem um estudo à parte. Convivem nesta relação elementos de cooperação e conflito. Moniz Bandeira, um dos mais fecundos historiadores das relações entre o Brasil e os Estados Unidos, dá uma explicação geopolítica para as relações ambíguas entre os dois países no seu livro “As relações perigosas: Brasil-Estados Unidos (de Collor a Lula, 1990-2004)”. Diz o historiador: “Como candidato, Lula podia dizer, livremente, o que pensava. Como chefe de governo, tinha de preservar o relacionamento do Brasil com os Estados Unidos (...) Da mesma forma que Collor de Mello e Fernando Henrique Cardoso, que buscaram estabelecer um bom relacionamento entre os dois países, Lula da Silva não conseguiu evitar divergências e atritos (...) A contradição de interesses e de objetivos entre os dois países constituía acima de tudo um dado cartográfico (...) De um lado, os Estados Unidos, a superpotência, que tratavam de preservar a todo custo sua predominância na América do Sul, como no resto do mundo (...) De outro lado, o Brasil, potência industrial emergente, em desenvolvimento, que reservara inteiramente para si a definição dc seus interesses nacionais e tratava de dilatar seu próprio espaço econômico e político, defender sua autonomia, convencido de que a rígida estrutura de poder e riqueza no mundo devia mudar. Esse mesmo dado cartográfico (...) determinava, porém, a necessidade de cooperação entre os dois países, que necessitavam manter laços estreitos. Daí a ambivalência que desde o século 19 caracterizou as suas relações”.

A vida vai mostrando que outras determinações, para além das cartográficas, condicionam a relação entre os dois países e que à medida em que o Brasil se afirma como nação independente e soberana e em que cresce a consciência antiimperialista do povo brasileiro, prevalecerão as disputas de interesses. Foi-se o tempo do beija-mão, da cerviz inclinada, dos pés descalços no aeroporto, da submissão, do alinhamento automático, do pan-americanismo imperialista.

*editor do portal Vermelho

quarta-feira, 3 de março de 2010

Texto de Chomsky....

Os não eleitos "arquitetos da política"

Noam Chomsky
Do The New York Times

Mudanças no poder global, potenciais ou em andamento, são um tema pulsante entre articuladores políticos e observadores. Uma questão é se (ou quando) a China poderia destronar os Estados Unidos como protagonista global dominante, talvez juntamente com a Índia.
Tal mudança restituiria o sistema global ao que era antes das conquistas europeias. O crescimento econômico da China e da Índia foi rápido e, graças a sua rejeição às políticas ocidentais de desregulação financeira, esses países sobreviveram à recessão melhor do que a maioria. No entanto, surgem algumas questões.
Uma medida-padrão de saúde social é o Índice de Desenvolvimento Humano da Organização das Nações Unidas, cujos dados mais recentes são de 2008. A Índia está em 134ª lugar no ranking, pouco acima do Camboja e abaixo do Laos e do Tadjiquistão, próximo da posição em que esteve por muitos anos. A China está em 92º - junto com Belize, um pouco acima da Jordânia e abaixo da República Dominicana e do Irã.
A Índia e a China também têm uma desigualdade muito alta, pois mais de um bilhão de seus habitantes estão no nível mais baixo da escala social. Outra preocupação é a dívida dos Estados Unidos, que, conforme se teme, transforma os Estados Unidos em cativos da China. Exceto por um breve interlúdio, o Japão foi por muito tempo o maior detentor da dívida do governo americano. A alavancagem dos credores, além disso, é superestimada.
Em uma perspectiva - o poder militar -, os Estados Unidos permanecem totalmente sozinhos. E Obama está estabelecendo novos recordes com seu orçamento militar. Quase metade do déficit dos Estados Unidos deve-se aos gastos militares, intocáveis no sistema político.
Ao considerar outros setores da economia dos Estados Unidos, o vencedor do prêmio Nobel Joseph Stiglitz e outros economistas alertaram que deveríamos ter cuidado com o "fetichismo do déficit". Um déficit é um estímulo à recuperação e pode ser compensado com crescimento da economia, como ocorreu depois da Segunda Guerra Mundial, quando o déficit era muito pior.
A expectativa é que a dívida aumente, principalmente por causa do irremediavelmente ineficaz sistema de saúde privatizado - também virtualmente intocável, graças à habilidade do mundo dos negócios em se sobrepor à vontade pública.
Porém, a estrutura dessas discussões está equivocada. O sistema global não é apenas uma interação entre estados, cada um defendendo algum "interesse nacional" subtraído da distribuição do poder doméstico. Isso tem sido compreendido há muito tempo.
Adam Smith concluiu que os "principais arquitetos" da política na Inglaterra foram os "comerciantes e manufatureiros", que procuram garantir que seus interesses "sejam satisfeitos da melhor forma possível", por mais "dolorosos" que sejam seus efeitos sobre os outros, inclusive as pessoas na Inglaterra.
A máxima de Smith ainda se mantém, embora, hoje, os "principais arquitetos" sejam corporações multinacionais e, particularmente, as instituições financeiras cuja participação na economia vem crescendo desde os anos 1970.
Nos Estados Unidos, acabamos de ver uma dramática ilustração do poder das instituições financeiras. Na última eleição presidencial, elas garantiram a base do financiamento do presidente Obama.
Naturalmente, esperavam ser recompensadas. E foram - com o programa de socorro aos bancos e muito mais. Considere o Goldman Sachs, líder da economia e do sistema financeiro. A instituição fez uma mina de ouro ao vender títulos lastreados em hipotecas e instrumentos financeiros mais complexos.
Consciente da fragilidade dos pacotes que comercializava, a companhia apostou, com a gigante dos seguros American International Group (AIG), que as ofertas cairiam. Quando o sistema financeiro entrou em crise, a AIG afundou com ele.
Os arquitetos da política do Goldman não apenas se beneficiaram de um socorro financeiro para o próprio Goldman, como também conseguiram que os contribuintes salvassem a AIG da falência, restagando, assim, o Goldman.
Agora, o Goldman está registrando lucros recordes e pagando robustos bônus e, assim como alguns outros bancos principais, está maior e mais poderoso do que nunca. O público está furioso. As pessoas podem ver que os bancos que foram os agentes primários da crise agem como bandidos, enquanto a população que os resgatou está enfrentando um desemprego de quase 10%.
A indignação popular finalmente provocou uma virada retórica da administração, que respondeu com acusações sobre banqueiros gananciosos e sugestões de políticas das quais o setor financeiro não gosta (a Volcker Rule, proposta de regulação dos bancos, e outras propostas).
Presumindo que Obama é o seu representante em Washington, os principais arquitetos perderam pouco tempo com orientações: a menos que Obama recue, eles vão transferir seus recursos para a oposição política.
Há alguns dias, Obama disse à imprensa que os banqueiros são "caras" legais, destacando os presidentes de duas grandes instituições, o JP Morgan Chase e o Goldman Sachs: "eu, como a maioria dos americanos, não invejo pessoas de sucesso ou riqueza. Isso é parte do sistema de livre mercado" - como "livre mercado", entenda-se a doutrina do estado capitalista.
Essa mudança de direção é uma reveladora fotografia instantânea da máxima de Smith na prática. Os arquitetos da política também estão a serviço de uma verdadeira mudança de poder: da força de trabalho global para o capital transnacional.
O economista e especialista em assuntos da China Martin Hart-Landsberg explora essa dinâmica. A China tornou-se uma linha de montagem para um sistema de produção regional. O Japão, Taiwan e outras economias avançadas da Ásia exportam partes e componentes de alta tecnologia para a China, que monta e exporta produtos acabados.
O crescente déficit comecial dos Estados Unidos com a China causa preocupação. O que menos se percebeu é que o déficit comercial dos Estados Unidos com o Japão e o resto da Ásia declinou fortemente à medida que o novo sistema de produção regional tomou forma. As indústrias americanas estão seguindo o mesmo caminho, fornecendo peças e componentes para a China montar e exportar, principalmente para os Estados Unidos. Para as instituições financeiras, gigantes varejistas, proprietários e dirigentes de indústrias manufatureiras e setores estreitamente ligados a esse nexo de poder, esses desenvolvimentos são sagrados.
E bem-entendidos. Em 2007, Ralph Gomory, dirigente da Fundação Alfred P. Sloan, disse no Congresso: "Em tempos de globalização, os interesses de empresas e países divergem". Em contraste com o passado, o que é bom para as corporações globais americanas já não é necessariamente bom para os cidadãos americanos.
Considere a IBM. No final de 2008, mais de 70% dos 400.000 trabalhadores da IBM estavam em outros países, segundo a Alfred P. Sloan. Em 2009, a IBM reduziu seus postos nos Estados Unidos em mais 8%.
Para a mão de obra, o resultado pode ser "doloroso", de acordo com a máxima de Smith, mas é bom para os principais arquitetos da política. Pesquisas atuais indicam que quase um quarto dos empregos dos Estados Unidos estarão "além das fronteiras" dentro de duas décadas e, no caso daqueles postos que forem mantidos, a segurança e os salários decentes vão diminuir em decorrência da crescente competição gerada pelos trabalhadores recolocados no mercado.
Esse padrão sucede a 30 anos de estagnação ou declínio para a maioria, na medida em que a riqueza recaiu sobre poucos bolsos, levando à provavelmente mais alta desigualdade na história dos Estados Unidos. Enquanto a China se torna a linha de montagem e a plataforma de exportação do mundo, os trabalhadores chineses estão sofrendo com o resto da mão de obra global, como poderíamos esperar de um sistema destinado a concentrar riqueza e poder e a incitar a competição entre as pessoas mundialmente.
Em termos globais, a participação dos trabalhadores na renda nacional caiu em muitos países - no caso da China, dramaticamente, levando a uma crescente inquietação nessa sociedade altamente desigual.
Portanto, temos outra mudança significativa no poder global: da população geral para os principais arquitetos do poder global, um processo favorecido pelo arrefecimento da democracia nos estados mais poderosos.
O futuro depende do quanto a grande maioria está disposta a resistir e do desenvolvimento de uma resposta construtiva que possa confrontar os problemas no núcleo do sistema do estado capitalista de dominação e controle. Caso contrário, os resultados poderão ser amargos, como a história mostra plenamente.

Noam Chomsky é professor emérito de lingüística e filosofia no Instituto de Tecnologia de Massachusetts em Cambridge, Massachusetts. Artigo distribuído pelo The New York Times Syndicate.

terça-feira, 2 de março de 2010

Prefeito de Bagé-RS na posse de Pepe Mujica...

A prefeitura de Bage-Rs, na figura de seu Prefeito Luis Eduardo Colombo(DUDU) e de seu Coordenador de Assuntos Internacionais Glécio Rodrigues estiveram no Uruguai, no dia de ontem, para a posse do Presidente PEPE Mujica, eleito ano passado.Abaixo algumas fotos do evento, fornecidas por Glecio Rodrigues:

DUDU e Glecio


Grande mídia organiza campanha contra candidatura de Dilma


Grande mídia organiza campanha contra candidatura de Dilma
Em seminário promovido pelo Instituto Millenium em SP, representantes dos principais veículos de comunicação do país afirmaram que o PT é um partido contrário à liberdade de expressão e à democracia. Eles acreditam que se Dilma for eleita o stalinismo será implantado no Brasil. “Então tem que haver um trabalho a priori contra isso, uma atitude de precaução dos meios de comunicação. Temos que ser ofensivos e agressivos, não adianta reclamar depois”, sentenciou Arnaldo Jabor.

Se algum estudante ou profissional de comunicação desavisado pagou os R$ 500,00 que custavam a inscrição do 1º Fórum Democracia e Liberdade de Expressão, organizado pelo Instituto Millenium, acreditando que os debates no evento girariam em torno das reais ameaças a esses direitos fundamentais, pode ter se surpreendido com a verdadeira aula sobre como organizar uma campanha política que foi dada pelos representantes dos grandes veículos de comunicação nesta segunda-feira, em São Paulo.

Promovido por um instituto defensor de valores como a economia de mercado e o direito à propriedade, e que tem entre seus conselheiros nomes como João Roberto Marinho, Roberto Civita, Eurípedes Alcântara e Pedro Bial, o fórum contou com o apoio de entidades como a Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão), ANER (Associação Nacional de Editores de Revista), ANJ (Associação Nacional de Jornais) e Abap (Associação Brasileira de Agências de Publicidade). E dedicou boa parte das suas discussões ao que os palestrantes consideram um risco para a democracia brasileira: a eleição de Dilma Rousseff.

A explicação foi inicialmente dada pelo sociólogo Demétrio Magnoli, que passou os últimos anos combatendo, nos noticiários e páginas dos grandes veículos, políticas de ação afirmativa como as cotas para negros nas universidades. Segundo ele, no início de sua história, o PT abrangia em sua composição uma diversidade maior de correntes, incluindo a presença de lideranças social-democratas. Hoje, para Magnoli, o partido é um aparato controlado por sindicalistas e castristas, que têm respondido a suas bases pela retomada e restauração de um programa político reminiscente dos antigos partidos comunistas.

“Ao longo das quatro candidaturas de Lula, o PT realizou uma mudança muito importante em relação à economia. Mas ao mesmo tempo em que o governo adota um programa econômico ortodoxo e princípios da economia de mercado, o PT dá marcha ré em todos os assuntos que se referem à democracia. Como contraponto à adesão à economia de mercado, retoma as antigas idéias de partido dirigente e de democracia burguesa, cruciais num ideário anti-democrático, e consolida um aparato partidário muito forte que reduz brutalmente a diversidade política no PT. E este movimento é reforçado hoje pelo cenário de emergência do chavismo e pela aliança entre Venezuela e Cuba”, acredita. “O PT se tornou o maior partido do Brasil como fruto da democracia, mas é ambivalente em relação a esta democracia. Ele celebra a Venezuela de Chávez, aplaude o regime castrista em seus documentos oficiais e congressos, e solta uma nota oficial em apoio ao fechamento da RCTV”, diz.

A RCTV é a emissora de TV venezuelana que não teve sua concessão em canal aberto renovada por descumprir as leis do país e articular o golpe de 2000 contra o presidente Hugo Chávez, cujo presidente foi convidado de honra do evento do Instituto Millenium. Hoje, a RCTV opera apenas no cabo e segue enfrentando o governo por se recusar a cumprir a legislação nacional. Por esta atitude, Marcel Granier é considerado pelos organizadores do Fórum um símbolo mundial da luta pela liberdade de expressão – um direito a que, acreditam, o PT também é contra.

“O PT é um partido contra a liberdade de expressão. Não há dúvidas em relação a isso. Mas no Brasil vivemos um debate democrático e o PT, por intermédio do cerceamento da liberdade de imprensa, propõe subverter a democracia pelos processos democráticos”, declarou o filósofo Denis Rosenfield. “A idéia de controle social da mídia é oficial nos programas do PT. O partido poderia ter se tornado social-democrata, mas decidiu que seu caminho seria de restauração stalinista. E não por acaso o centro desta restauração stalinista é o ataque verbal à liberdade de imprensa e expressão”, completou Magnoli.

O tal ataque
Para os pensadores da mídia de direita, o cerco à liberdade de expressão não é novidade no Brasil. E tal cerceamento não nasce da brutal concentração da propriedade dos meios de comunicação característica do Brasil, mas vem se manifestando há anos em iniciativas do governo Lula, em projetos com o da Ancinav, que pretendia criar uma agência de regulação do setor audiovisual, considerado “autoritário, burocratizante, concentracionista e estatizante” pelos palestrantes do Fórum, e do Conselho Federal de Jornalistas, que tinha como prerrogativa fiscalizar o exercício da profissão no país.

“Se o CFJ tivesse vingado, o governo deteria o controle absoluto de uma atividade cuja liberdade está garantida na Constituição Federal. O veneno antidemocrático era forte demais. Mas o governo não desiste. Tanto que em novembro, o Diretório Nacional do PT aprovou propostas para a Conferência Nacional de Comunicação defendendo mecanismos de controle público e sanções à imprensa”, avalia o articulista do Estadão e conhecido membro da Opus Dei, Carlos Alberto Di Franco.

“Tínhamos um partido que passou 20 anos fazendo guerra de valores, sabotando tentativas, atrapalhadas ou não, de estabilização, e que chegou em 2002 com chances de vencer as eleições. E todos os setores acreditaram que eles não queriam fazer o socialismo. Eles nos ofereceram estabilidade e por isso aceitamos tudo”, lamenta Reinaldo Azevedo, colunista da revista Veja, que faz questão de assumir que Fernando Henrique Cardoso está à sua esquerda e para quem o DEM não defende os verdadeiros valores de direita. “A guerra da democracia do lado de cá esta sendo perdida”, disse, num momento de desespero.

O deputado petista Antonio Palocci, convidado do evento, até tentou tranqüilizar os participantes, dizendo que não vê no horizonte nenhum risco à liberdade de expressão no Brasil e que o Presidente Lula respeita e defende a liberdade de imprensa. O ministro Hélio Costa, velho amigo e conhecido dos donos da mídia, também. “Durante os procedimentos que levaram à Conferência de Comunicação, o governo foi unânime ao dizer que em hipótese alguma aceitaria uma discussão sobre o controle social da mídia. Isso não será permitido discutir, do ponto de vista governamental, porque consideramos absolutamente intocável”, garantiu.

Mas não adiantou. Nesta análise criteriosa sobre o Partido dos Trabalhadores, houve quem teorizasse até sobre os malefícios da militância partidária. Roberto Romano, convidado para falar em uma mesa sobre Estado Democrático de Direito, foi categórico ao atacar a prática política e apresentar elementos para a teoria da conspiração que ali se construía, defendendo a necessidade de surgimento de um partido de direita no país para quebrar o monopólio progressivo da esquerda.

“O partido de militantes é um partido de corrosão de caráter. Você não tem mais, por exemplo, juiz ou jornalista; tem um militante que responde ao seu dirigente partidário (...) Há uma cultura da militância por baixo, que faz com que essas pessoas militem nos órgãos públicos. E a escolha do militante vai até a morte. (...) Você tem grupos políticos nas redações que se dão ao direito de fazer censura. Não é por acaso que o PT tem uma massa de pessoas que considera toda a imprensa burguesa como criminosa e mentirosa”, explica.

O “risco Dilma”
Convictos da imposição pelo presente governo de uma visão de mundo hegemônica e de um único conjunto de valores, que estaria lentamente sedimentando-se no país pelas ações do Presidente Lula, os debatedores do Fórum Democracia e Liberdade de Expressão apresentaram aos cerca de 180 presentes e aos internautas que acompanharam o evento pela rede mundial de computadores os riscos de uma eventual eleição de Dilma Rousseff. A análise é simples: ao contrário de Lula, que possui uma “autonomia bonapartista” em relação ao PT, a sustentação de Dilma depende fundamentalmente do Partido dos Trabalhadores. E isso, por si só, já representa um perigo para a democracia e a liberdade de expressão no Brasil.

“O que está na cabeça de quem pode assumir em definitivo o poder no país é um patrimonialismo de Estado. Lula, com seu temperamento conciliador, teve o mérito real de manter os bolcheviques e jacobinos fora do poder. Mas conheço a cabeça de comunistas, fui do PC, e isso não muda, é feito pedra. O perigo é que a cabeça deste novo patrimonialismo de estado acha que a sociedade não merece confiança. Se sentem realmente superiores a nós, donos de uma linha justa, com direito de dominar e corrigir a sociedade segundo seus direitos ideológicos”, afirma o cineasta e comentarista da Rede Globo, Arnaldo Jabor. “Minha preocupação é que se o próximo governo for da Dilma, será uma infiltração infinitas de formigas neste país. Quem vai mandar no país é o Zé Dirceu e o Vaccarezza. A questão é como impedir politicamente o pensamento de uma velha esquerda que não deveria mais existir no mundo”, alerta Jabor.

Para Denis Rosenfield, ao contrário de Lula, que ganhou as eleições fazendo um movimento para o centro do espectro político, Dilma e o PT radicalizaram o discurso por intermédio do debate de idéias em torno do Programa Nacional de Direitos Humanos 3, lançado pelo governo no final do ano passado. “Observamos no Brasil tendências cada vez maiores de cerceamento da liberdade de expressão. Além do CFJ e da Ancinav, tem a Conferência Nacional de Comunicação, o PNDH-3 e a Conferência de Cultura. Então o projeto é claro. Só não vê coerência quem não quer”, afirma. “Se muitas das intenções do PT não foram realizadas não foi por ausência de vontades, mas por ausência de condições, sobretudo porque a mídia é atuante”, admite.

Hora de reagir
E foi essa atuação consistente que o Instituto Millenium cobrou da imprensa brasileira. Sair da abstração literária e partir para o ataque.
“Se o Serra ganhasse, faríamos uma festa em termos das liberdades. Seria ruim para os fumantes, mas mudaria muito em relação à liberdade de expressão. Mas a perspectiva é que a Dilma vença”, alertou Demétrio Magnoli.

“Então o perigo maior que nos ronda é ficar abstratos enquanto os outros são objetivos e obstinados, furando nossa resistência. A classe, o grupo e as pessoas ligadas à imprensa têm que ter uma atitude ofensiva e não defensiva. Temos que combater os indícios, que estão todos aí. O mundo hoje é de muita liberdade de expressão, inclusive tecnológica, e isso provoca revolta nos velhos esquerdistas. Por isso tem que haver um trabalho a priori contra isso, uma atitude de precaução. Senão isso se esvai. Nossa atitude tem que ser agressiva”, disse Jabor, convocando os presentes para a guerra ideológica.

“Na hora em que a imprensa decidir e passar a defender os valores que são da democracia, da economia de mercado e do individualismo, e que não se vai dar trela para quem quer a solapar, começaremos a mudar uma certa cultura”, prevê Reinaldo Azevedo.

Um último conselho foi dado aos veículos de imprensa: assumam publicamente a candidatura que vão apoiar. Espera-se que ao menos esta recomendação seja seguida, para que a posição da grande mídia não seja conhecida apenas por aqueles que puderam pagar R$ 500,00 pela oficina de campanha eleitoral dada nesta segunda-feira.


Fotos: Bia Barbosa

Guinada cenográfica

Léo Lince   - Portal do PSOL
Léo Lince
Léo Lince

Nos tempos do saudoso Carlito Maia, quando era "pequeno e insolente", o Partido dos Trabalhadores fazia congressos bem mais animados. Mais criativos e sintonizados com o dinamismo que lhe chegava dos conflitos sociais. Agora, "grandalhão e indolente", o partido aderiu ao figurino "prêt-à-porter" da ordem dominante. Marqueteiro americanizado, brilho de aluguel, confete arremessado na boca dos canhões de luz. Um espetáculo.
A matriz do debate e resoluções congressuais, antes ancorada nas demandas da cidadania, emana agora da "estadania", aquele espaço onde o continuísmo conservador elabora os seus múltiplos disfarces.  Máquina eleitoral acoitada na máquina do Estado, o PT não "tomou o poder", foi tomado por ele. Embarcou no bonde da ordem dominante, sentou na janelinha e opera como ferramenta a serviço dos novos barões assinalados.
No entanto, é curioso notar que, apesar de já bem consolidado esse "passamento", o petismo ainda conserva o dom de iludir alguns e de assustar os setores mais desavisados da velha direita. Há, por um lado, os que ainda se emocionam diante dos confetes: pedacinhos coloridos de saudade dos bons tempos.   Por outro lado, o jogo de cena - simulacro do eterno e insuperável antagonismo entre a esquerda e a direita - cumpre função importante na polarização cenográfica entre os que disputam a gestão do mesmo modelo.
Afinal, estamos em ano de eleição geral e há uma disputa presidencial na linha do horizonte. Em função de tal fato, foi facultado transformar o primeiro dia do congresso em palco de perdidas ilusões. Foi um Deus-nos-acuda. Os jornais abriram manchetes garrafais: "guinada à esquerda".  Defesa dos direitos humanos e de seu arquivado Plano Nacional, taxação das grandes fortunas, redução da jornada de trabalho, avanço na reforma agrária, controle democrático sobre o monopólio dos meios de comunicação de massas, tudo isso foi aprovado no contexto de um estranho silencioso consenso. Não houve, na tribuna do inexistente debate, uma única ou escassa voz a questionar tais pontos. Uma beleza.
Antes de entoar alvíssaras, a cautela recomenda prestar atenção no entorno histórico e conjuntural do evento. Ricardo Berzoine, o presidente que saía, e José Eduardo Dutra, presidente entrante, portanto figuras postadas no vértice partidário, cuidaram de explicar aos patrocinadores, em tempo real, o sentido da "guinada". Os dois disseram mais ou menos a mesma coisa: são apenas diretrizes, algo mais genérico possível, serão submetidos à candidata, aos aliados, aos setores da sociedade, sindicatos, empresários. Ou seja, não vale o escrito: é vento.
No encontro petista que antecedeu a última eleição geral também foi aprovada uma resolução, tão positiva quanto as atuais, que exigia a anulação do vergonhoso leilão da Vale. O governo, afinado ao modelo dominante, era contra e a maioria do partido, acoitada na maquina de governo, não moveu uma palha. Como no caso da propaganda contra as privatizações no segundo turno da mesma eleição presidencial, são palavras ao vento, papel sem lastro.
Os dirigentes de turno da máquina petista podiam até se poupar. Não carecia o vexame da explicação. Os magnatas supremos do grande capital estão tranqüilos. Tratam direto com a chefia geral. Passeiam rindo suas bocas vorazes pelos balcões do Banco Central, do BNDES, fundos de pensão, onde se acertam sobre o mais espantoso processo de concentração de poder da história brasileira. As incorporações, apropriações e mega-fusões, tudo escorado nas arcas do tesouro, são a nova face da privatização, o novo surto do velho choque de capitalismo.
Aliás, o presidente Lula cuidou de encomendar, nas vésperas do congresso petista, entrevista exclusiva ao "Estadão".  Entre os destaques, dois recados. Aquele que define o congresso petista como "uma feira de produtos ideológicos", compra quem quer. E, no estilo Laudo Natel, respondeu que o único estado forte que ele admite é o "Estadão", referindo-se ao jornal que é o símbolo mais vetusto do conservadorismo brasileiro.
Quem predica uma agenda de mudanças que não praticou em sete anos de governo faz por merecer a desconfiança geral. As resoluções aprovadas, todas positivas, podem até freqüentar a retórica dos palanques de campanha, mas carregam a insustentável leveza da mentira cenográfica.
Léo Lince é sociólogo e mestre em ciência política

segunda-feira, 1 de março de 2010

Sobre os "impérios e imperialismo"...

O que fazem os impérios?

por Michael Parenti [*]
Cartoon de Latuff. Quando em 1995 escrevi o livro Against Empire alguns dos meus compatriotas estado-unidenses, tal como seria de esperar, consideraram que era um erro chamar os Estados Unidos de império. Acreditava-se generalizadamente que os governantes dos EUA não buscavam o império; intervenham lá foram só como auto-defesa ou para operações de resgate humanitário ou para derrubar a tirania, combater o terrorismo e difundir a democracia.

Mas por alturas do ano 2000 toda a gente começou a falar dos Estados Unidos como um império e a escrever livros com títulos como Sorrows of Empire, Follies of Empire, Twilight of Empire, ou Empire of Illusions – todos referindo-se aos Estados Unidos quando falam de império.

Mesmo conservadores começaram a utilizar a palavra. Admirável. Podia-se ouvir sabichões da extrema-direita a anunciaram na televisão estado-unidense: "Somos um império, com todas as responsabilidades e oportunidades do império e é melhor acostumar-nos a isso", e "Somos o país mais forte do mundo e temos todo o direito a actuar como tal" – como se ter o poder desse aos líderes dos EUA um direito inerente a exercitá-lo sobre outros como quisessem.

"O que está a acontecer?", perguntei-me na altura. Como é que tantas pessoas sentem-se livres para conversarem acerca de império querendo dizer que os Estados Unidos são um império? A ortodoxia ideológica sempre foi que, ao contrário de outros países, os EUA não se entregavam à colonização e à conquista.

A resposta, percebi, é que a palavra havia sido despida do seu pleno significado. "Império" parecia agora significar apenas domínio e controle. O império – para a maior parte destes críticos de fresca data – preocupa-se quase exclusivamente com poder e prestígio. O que está habitualmente a faltar deste discurso público é o processo do império e o seu conteúdo político-militar. Por outras palavras, enquanto ouvimos um bocado acerca do império, ouvimos muito pouco acerca do imperialismo.

Mas isto é estranho, pois imperialismo e o que os impérios exercem. Imperialismo é o que o império faz. E por imperialismo não quero dizer o processo de estender poder e domínio sem considerar interesses materiais e financeiros. Na verdade "imperialismo" tem sido utilizado por alguns autores do mesmo modo oco com que utilizam a palavra "império", simplesmente para assinalar domínio e controle dando pouco atenção às realidades político-económicas.

Mas eu defino imperialismo como se segue: o processo pelo qual os interesses dos investidores dominantes num país fazem valer o seu poder económico e militar sobre outro país ou região a fim de expropriar a sua terra, trabalho, recursos naturais, capital e mercados de modo a enriquecer os interesses investidores. Numa palavra, impérios não buscam apenas "poder pelo objectivo do poder". Há interesses materiais reais e enormes em causa, fortunas a serem feitas muitas vezes repetidamente.

Assim, durante séculos os interesses dominantes da Europa Ocidental e depois da América do Norte e do Japão avançaram com os seus financeiros – e quando necessário os seus exércitos – para exigir direitos sobre a maior parte do planeta Terra, incluindo o trabalho de povos indígenas, seus mercados, seus rendimentos (através da tributação colonial ou controle da dívida ou outros meios) e os tesouros abundantes das suas terras: o seu ouro, prata, diamantes, cobre, rum, melaço, cânhamo, linho, ébano, madeira, açúcar, tabaco, marfim, ferro, estanho, níquel, carvão, algodão, milho e, mais recentemente: urânio, manganês, titânio, bauxita, petróleo e – digamos isto outro vez – petróleo. (ver em Hardly uma listagem completa)

Os império são enormemente lucrativos para os interesses económicos dominantes do país imperial mas enormemente custosos para o povo do país colonizado. Além de sofrerem a pilhagem das suas terras e recursos naturais, os povos destes países alvo são frequentemente morto em grande quantidade pelos intrusos.

Isto é outra coisa que os impérios fazem a qual muito frequentemente não é mencionada na literatura histórica e política de países como os Estados Unidos, Grã-Bretanha e França. Os impérios empobrecem populações inteiras e matam grandes quantidades de pessoas inocentes. Quando escrevo isto, o presidente Obama e o estado de segurança nacional para o qual ele trabalha estão a travar duas guerras e meia (Iraque, Afeganistão e norte do Paquistão) e a acenar ameaças militares contra o Iémen, o Irão e, num dia tranquilo, a Coreia do Norte. Ao invés de enviar ajuda médica e de resgate ao Haiti, o Nosso Bombardeiro envia-lhe os Fuzileiros Navais, os mesmos fuzileiros navais envolvidos em anos de assassínios em massa no Haiti décadas atrás e que apoiaram massacres mais recentes de forças por procuração.

O objectivo de toda esta matança é impedir países alternativos, independentes e auto-definidos de emergirem. De modo que o império utiliza o seu poder de estado para acumular riqueza privada para a sua classe de investidores. E utiliza a sua riqueza pública para sustentar o seu poder de estado e impedir outros países de se auto-desenvolverem.

Mas cedo ou mais tarde este esquema começa a enfraquecer sob o peso das suas próprias contradições. À medida que o império se torna mais ameaçados e mais assassino em relação a outros, ele se torna mais doentio e empobrecido dentro de si próprio.

Desde tempos antigos até os dias de hoje, os impérios sempre estiveram envolvidos na acumulação sangrenta de riqueza. Se não pensa que isto é verdadeiro em relação aos Estados Unidos então pare de chamá-lo "Império". E quando escrever um livro acerca de como ele dispõe as suas armas por todo o planeta, intitule-o "Tirano global" ("Global Bully") ou o "Mandão intrometido ("Bossy Busybody"), mas esteja certo de que não nos está a contar muito acerca de imperialismo.


[*] Obras de Michael Parenti e seu sítio web: www.michaelparenti.org .

O original encontra-se em http://www.countercurrents.org/parenti140210.htm

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

A agonia da TV aberta....

Migração de audiência da TV aberta é alerta para monopólio

Muita coisa está em transformação no mundo da comunicação. O surgimento de novos instrumentos e de novas ferramentas tecnológicas, ao lado do crescimento da luta dos povos por mais democracia e mais direitos, está colocando em xeque o modelo de comunicação que foi hegemônico no século XX. Isso tem tornado os velhos barões da mídia mais ofensivos na defesa do seu poder e do seu modelo de negócios.


por Renata Mielli no blog "Janela sobre a palavra"

Aos poucos, o ingresso de novas mídias tem corroído a audiência dos veículos tradicionais. É o que mostra a reportagem da Ilustrada deste domingo (28). As TV´s por assinatura, as emissoras públicas e outras mídias como o DVD e os videogames têm disputado com as emissoras de TV aberta a audiência da sociedade. Segundo dados do Ibope obtidos pela Folha, em 2005, os DVDs e games respondiam por 1,6 pontos nas medições do instituto. Já, em 2009, saltou para 3,6 pontos, o que equivale a 1,92 milhão de domicílios.“É mais do que obtiveram a Band (3,4) e Rede TV (2,1) e mais da metade do SBT (6,3), a terceira maior em 2009”.



Enquanto os novos ganharam, as cinco maiores redes juntas perderam 4,3 pontos de audiência. Isoladamente, esses números podem parecer pequenos, mas se vistos como tendência são devastadores e explicam a reação virulenta a toda e qualquer iniciativa de empreender mudanças que reforcem o caráter público da radiodifusão ou que despertem o Estado para a importância de desenvolver políticas públicas de comunicação.

O diretor executivo do Ibope avalia que essas mudanças são “características de uma sociedade que busca novidades”. E buscar novidade é buscar diversidade e pluralidade. Daí o crescimento de iniciativas não-comerciais, como as emissoras públicas.

Por isso, investir no fortalecimento da rede pública, do sistema que compreende a TV Brasil e as emissoras estaduais é parte indispensável da luta pela democratização da comunicação e para alterar o cenário monopolizado da radiodifusão brasileira. Essa foi uma das pautas da Confecom e que precisa de desdobramentos para avançar.

Fonte: http://www.vermelho.org.br/blogs/renatamielli/