O
atual tripé da política econômica (superávit primário alto, câmbio
flexível e o sistema de metas de inflação) dará sustentação ao
crescimento e conduzirá o país a um novo patamar de desenvolvimento,
alterando a distribuição de renda e riqueza em direção a mais igualdade?
|
por Clemente Ganz Lúcio, Sérgio Eduardo Arbulu Mendonça |
O Brasil vem crescendo a uma taxa de 4,5%, em média, nos últimos sete
anos (2004-2010). Esse novo patamar, após longo período de baixo
crescimento, tem renovado as expectativas da sociedade brasileira. As
taxas de desemprego voltaram aos níveis de vinte anos atrás, e a criação
de novos empregos – a grande maioria com carteira de trabalho assinada,
nos setores privado e público – tem superado o número de ingressantes
no mercado de trabalho. Essa dinâmica, em que a demanda de trabalho tem
ultrapassado a oferta, contribui para a redução do desemprego. Um
conjunto de outras políticas públicas, como a valorização do salário
mínimo, o Bolsa Família e a política de crédito, impulsiona o
crescimento da economia, criando um círculo virtuoso de expansão da
renda e do emprego.
Essa sensação de bem-estar e otimismo não deve encobrir, contudo, os
desafios e obstáculos a superar para que o país trilhe uma rota de
desenvolvimento com inclusão e melhoria do padrão de vida de toda a
população, capaz de reduzir a enorme desigualdade de renda e riqueza
ainda vigente no Brasil. E o enfrentamento desses desafios exige a
implantação de políticas que vão além da política econômica ou
macroeconômica, embora esta seja peça estratégica para o país atingir um
patamar superior de desenvolvimento.
O que caracteriza o atual estágio de desenvolvimento e qual o papel da política econômica?
Em 2011, o Produto Interno Bruto por habitante (PIB per capita)
no Brasil, importante indicador para avaliar o estágio de
desenvolvimento dos países, deve atingir cerca de R$ 20 mil, ou US$ 12
mil. Para efeito de comparação, os EUA atingiram um PIB per capitade
US$ 47 mil em 2010, quase quatro vezes o do Brasil. Ainda que se
considere que atingir esse nível de renda dos EUA e dos países
desenvolvidos pode demorar um longo tempo, não há como ignorá-lo como
uma meta importante de bem-estar da população mundial.1
Já tendo iniciado esse movimento, nas próximas duas a três décadas o
Brasil vai aprofundar o fenômeno que os especialistas em demografia
denominam de janela de oportunidade demográfica ou bônus demográfico.
Nos próximos vinte a trinta anos, a proporção da população jovem e
adulta em relação à população que não trabalha (dependente) vai atingir o
maior patamar. Nesse período, o país poderá alcançar o mais alto
potencial produtivo em muitas décadas, elevando as oportunidades de
criação de renda, riqueza e bem--estar para a população.
Para “realizar” esse potencial é necessário crescer e incluir a
população que chega todo ano ao mercado de trabalho, gerando empregos e
ocupações decentes e produtivas e pagando salários mais altos. A
pergunta é mais que oportuna. Com a atual política econômica nós vamos
chegar lá?
A atual política econômica está apoiada num tripé: o superávit primário
das contas públicas, a taxa de câmbio flexível e o sistema de metas de
inflação sob comando do Banco Central. E quais são seus principais
resultados?
Convivemos com as mais altas taxas de juros reais (descontada a
inflação) do mundo. Temos a mais alta carga tributária (a relação entre
os impostos arrecadados e o tamanho da economia) entre os países com o
mesmo nível de renda per capita. E, nos últimos anos, há uma
forte tendência à apreciação da moeda brasileira, dificultando a
competitividade dos produtos exportados pelo Brasil e aumentando a
facilidade de importar produtos de outros países.
Antes de enfrentarmos o debate sobre a política econômica, cabe
registrar que existem diversos obstáculos estruturais ao
desenvolvimento. A qualidade da educação, especialmente a educação
pública e universal, a carência de infraestrutura econômica, a saúde e o
déficit habitacional, talvez estejam entre os principais. Atingir outro
patamar de desenvolvimento implica enfrentar esses desafios, sem o que,
apenas crescer em termos econômicos não significará bem-estar para
todos os brasileiros.
Apesar dos problemas apontados acima, se o país sustentar o atual ritmo
de crescimento, entre 4,5% a 5%, nos próximos dez anos (ou até antes
desse prazo), a economia brasileira vai se tornar a quinta maior do
mundo. Nosso PIB ultrapassará, em tamanho, o da França e o da Inglaterra
(embora tenhamos uma renda per capita bem menor).
Ainda que não se trate de competição entre países, tal fato
representará uma espécie de encontro com nosso destino, já que temos a
quinta ou sexta maior população do planeta (devemos ser ultrapassados
pelo Paquistão em poucos anos).
Mudar o time que está ganhando?
Voltando ao tema central deste artigo, é necessário mudar a atual
política econômica, que é a mesma política adotada na maioria dos
países, sobretudo os emergentes? Ou, dito de outra forma, o atual tripé
da política econômica dará sustentação ao crescimento e conduzirá o país
a um novo patamar de desenvolvimento, alterando a distribuição de renda
e riqueza em direção a mais igualdade?
A discussão sobre a atual política econômica, em senso estrito,
dificilmente criará condições políticas para alterá-la, considerando os
interesses internos e externos que trabalham para mantê-la. É necessário
ampliar a dimensão do debate, trazendo ao palco público o tema do
desenvolvimento nacional. Senão – dirão os pragmáticos e defensores da
atual política – para que mexer em time que está ganhando, uma vez que o
país está crescendo, gerando emprego, reduzindo o desemprego e, ainda
que timidamente, a desigualdade da renda do trabalho?
A resposta para essa pergunta, no nosso entender, só é possível
condicionando a discussão da política econômica ao debate mais amplo do
desenvolvimento nacional. Resgatar a ideia de que a política econômica e
as demais políticas correlatas (fiscal, tributária, cambial) devem
estar subordinadas ao objetivo maior do desenvolvimento nacional e da
distribuição da renda.
Na prática, significa dizer que as taxas reais de juros têm de cair
para níveis internacionais (muito baixos), a moeda brasileira não pode
continuar se apreciando e colocando em risco diversos setores, em
particular o setor industrial. Por sua vez, a dimensão do gasto público
deve considerar a superação dos principais problemas como erradicação da
pobreza, qualidade da educação e da saúde, eliminação do déficit
habitacional e construção da infraestrutura econômica.
Iniciemos pelos vergonhosos juros praticados no Brasil. Por que são tão altos? A que interesses respondem?
Certamente aos interesses do rentismo arraigado da parcela endinheirada
da sociedade brasileira que deles se beneficia. É uma enorme
simplificação, no debate econômico e político, “culpar” o Banco Central e
seus diretores, que compõem o Copom,2 pelas decisões sobre o
nível dos juros no Brasil. Ou “culpar” a ganância dos bancos que a cada
ano apresentam lucros recordes nos seus balanços, influenciados por
essas taxas exorbitantes. Sem dúvida, essas instituições contribuem para
esse estado de coisas. Mas não devemos ignorar que juros altos refletem
os interesses de alguns milhões de brasileiros, ou estrangeiros, que
aplicam seus recursos no sistema financeiro brasileiro, inclusive os
pequenos poupadores que, em geral, desconhecem a lógica de funcionamento
de nosso sistema financeiro. O fato é que a forma de financiamento da
nossa dívida pública acaba premiando os aplicadores no curto prazo. Ao
contrário da maioria dos países, nos quais a maior rentabilidade das
aplicações tem como contrapartida aplicações em títulos de longo prazo,
no Brasil, o aplicador ou o especulador tem alto retorno em aplicações
de curtíssimo prazo.
O desmonte dessa perversa engrenagem é inadiável. Mas só será feito com
forte apoio da parcela da sociedade penalizada por esse modelo. E quem
são os prejudicados por essa política de juros altos? Os trabalhadores
que dependem do crescimento, dos investimentos e da geração de empregos;
os micro e pequenos empresários que dependem de crédito barato para
expandir seus negócios; a população mais carente que depende das
políticas públicas de educação, saúde, seguridade social, habitação,
transferência de renda e investimento público em infraestrutura. Não é
possível ignorar o prejuízo para as políticas públicas que decorre do
“rombo” que esses juros provocam no orçamento fiscal, forçando a
manutenção de altos superávits e contenção de gastos, e limitando o uso
desses recursos para fortalecer e ampliar essas políticas.
Nessa complexa teia de interesses, o poder de vocalização e pressão dos
agentes envolvidos é muito assimétrico. Enquanto o interesse das altas
finanças e do rentismo domina os principais meios de comunicação e
defende a manutenção dos juros mais altos do mundo, atacando a
voracidade de um Estado perdulário e endividado, os trabalhadores e a
maioria da população que não aplica recursos no sistema financeiro não
têm o mesmo poder de influência no debate público. Registre-se, contudo,
que o movimento sindical e outras forças sociais, incluindo empresários
do setor industrial, têm criticado insistentemente essa política nos
últimos anos.
Outra dimensão importante do atual funcionamento da economia brasileira
é a tendência de apreciação da moeda brasileira em relação ao dólar e
às demais moedas (euro, iene, yuan, peso). Tudo se passa como se essa
valorização fosse resultado “natural” do recente sucesso da economia
brasileira. Explica-se essa tendência de valorização pelos êxitos do
país em termos de crescimento.3 A boa performance da economia
brasileira atrai investimentos externos em carteira (títulos, ações) e
investimentos produtivos que pressionam a moeda brasileira para cima. Só
não é dito que a total liberdade do fluxo de capitais, associada às
mais altas taxas de juros do mundo, torna o Brasil o local mais atraente
para aplicações estrangeiras de curto prazo. Aplicações que têm como
lastro uma dívida pública líquida e um Estado solvente que não dá
calote! Nessa situação é muito difícil impedir a valorização da moeda
brasileira!
A taxa de câmbio não está dissociada, portanto, dos juros altos.
Historicamente, é importante frisar, os países que se desenvolveram e
atingiram níveis elevados de renda per capita utilizaram
largamente instrumentos de proteção de sua indústria nascente e de seu
espaço econômico. E, diga-se de passagem, até hoje o fazem. Casos como
os da Alemanha e dos EUA são conhecidos na literatura econômica. Os
exemplos recentes são ilustrativos. O mais importante é o da China, que
mantém estrito controle sobre o valor, desvalorizado, de sua moeda.
Exigir que países no estágio de desenvolvimento do Brasil abram seus
mercados e valorizem sua moeda não é nem natural, nem utiliza como
aprendizado a história de países que atingiram altos estágios de
desenvolvimento.
Impostos: fonte de injustiças
Outro ponto da política econômica merece ser debatido no contexto de um
projeto nacional de desenvolvimento. Trata-se da estrutura tributária
brasileira. Virou lugar-comum falar mal da elevada carga tributária
brasileira. Ela é mesmo alta, considerando a nossa renda por habitante.
Destrinchar esse enigma da alta carga tributária é muito importante para
o futuro do país.
No Brasil, as famílias e pessoas de alta renda pagam poucos impostos
(quando pagam). Mais da metade da carga tributária brasileira (alguns
estudos apontam cerca de 60%) é constituída por tributos indiretos que
incidem no consumo e no faturamento das empresas. Os impostos sobre a
renda e o patrimônio, embora justos em termos de equidade, são
minoritários no bolo da arrecadação tributária. Mesmo no caso do imposto
de renda, a maior parcela do montante arrecadado é constituída pelo
imposto retido na fonte dos assalariados, e não das pessoas e famílias
de renda mais alta.
Os impostos indiretos que incidem na circulação e no faturamento de
bens e serviços são integralmente repassados para os preços, e pagos por
toda a população. Nesse modelo, os que ganham menos pagam mais
impostos, já que o valor do imposto cobrado do consumidor, de alta ou
baixa renda, é o mesmo. É o Robin Hood às avessas, quem pode mais paga
menos!
A estrutura do sistema tributário nacional tem tudo a ver com o
recorrente debate sobre a competitividade da economia brasileira. Como
os impostos indiretos estão embutidos nos preços dos bens e serviços,
quanto mais dependente dos impostos indiretos é a arrecadação
tributária, mais caros e menos competitivos são os produtos brasileiros,
dificultando sua competitividade no comércio internacional. Uma
profunda mudança do sistema tributário, que alterasse as bases da
tributação, aumentando a arrecadação pela via dos impostos sobre a renda
e o patrimônio, além da indiscutível justiça em tributar quem tem mais,
teria enorme influência na competitividade internacional da economia
brasileira.
Não há como negar que avançamos muito nos últimos anos no Brasil. O
novo patamar de crescimento e de geração de empregos, as políticas de
valorização do salário mínimo, transferência de renda, expansão do
crédito, entre outras, foram escolhas importantes da sociedade e do
governo federal para atingir esse novo estágio de desenvolvimento.
Caminhando para se transformar na quinta economia do mundo, o Brasil
tem atraído as atenções. Os grandes eventos esportivos (Copa e
Olimpíadas), a necessária e urgente recuperação da infraestrutura
econômica e a descoberta do pré-sal têm criado condições para que
sonhemos com um futuro promissor.
Nesse futuro, a imagem de um copo com água pela metade talvez sintetize
nosso atual momento. Ou a frase “tão perto, tão longe” possa expressar
os próximos desafios. Manter o crescimento acelerado vai introduzir
tensões inevitáveis na legítima disputa pela renda nas próximas décadas.
Um exemplo oportuno é o atual debate sobre os salários no Brasil. É
difícil visualizar um país desenvolvido com os trabalhadores recebendo
salários baixos. A trajetória do nosso desenvolvimento passa pela
elevação da participação dos salários na renda nacional. Não há outro
caminho.
Acompanhando os termos da discussão desse tema atualmente, os analistas
de sempre dizem que os salários não podem crescer acima da
produtividade. Não há como ignorar que a produtividade é um fator
importante para viabilizar a elevação da renda per capita no
Brasil. Mas, mantido o crescimento dos salários segundo a produtividade,
teremos congelada a atual e injusta distribuição de renda.
Esse talvez seja o principal desafio do país nos próximos anos. Como
aumentar os salários e manter a competitividade da economia brasileira?
Reduzir a carga de juros, transformar a estrutura tributária e manter o
câmbio em patamar competitivo é o caminho para que o país cresça, os
salários subam e a distribuição de renda se modifique sem que as tensões
dessa legítima disputa impeçam o desenvolvimento.
Clemente
Ganz Lúcio é diretor técnico do Dieese (Departamento Intersindical de
Estatística e Estudos Socioeconômicos) e membro do Conselho de
Desenvolvimento Econômico e Social - CDES.
Sérgio Eduardo Arbulu Mendonça
Economista, técnico do DIEESE.
1 Não desconsideramos que o debate sobre o nível de renda per capita, ainda que importante, não deve ser realizado sem envolver a dimensão socioambiental.
2 Comitê de Política Monetária, instituído em 20 de junho de 2006, composto pela diretoria do Banco Central.
3 Atualmente, se essa fosse a única explicação, a moeda chinesa seria a mais valorizada do mundo!
|
Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
domingo, 10 de julho de 2011
A encruzilhada do desenvolvimento
sábado, 9 de julho de 2011
Immanuel Wallerstein: Um tsunami sobre Israel
Os palestinos estão perseguindo seu projeto: obter
reconhecimento formal de sua soberania pela ONU, cuja Assembleia Geral
vai se reunir em setembro. Querem uma declaração de que seu Estado ocupa
as fronteiras de 1967 – as de antes da guerra israelense-palestina. É
quase certo que o voto será favorável.
Por Immanuel Wallerstein no VERMELHO
A única questão, no momento, é saber
quão favoravel. A liderança política israelense está bem ciente disso.
Discute três diferentes respostas. A posição dominante aparenta ser a do
primeiro-ministro Netanyahu. Ele propõe ignorar totalmente tal
resolução e simplesmente manter as políticas atuais. Netanyahu acredita
que Israel ignorou com sucesso, por muito tempo, resoluções
desfavoráveis adotadas pela Assembléia Geral. Por que agora seria
diferente?
Há alguns políticos de extrema direita (sim, existe uma posição ainda mais à direita que Netanyahu) que propõem, em represália, a anexação formal, por Israel, de todos os territórios ocupados, encerrando qualquer negociação com os palestinos. Parte da extrema direita também quer forçar um êxodo de população não-judaica, a partir deste estado israelense expandido.
O ex-primeiro-ministro (e atual ministro da Defesa) Ehud Barak, cuja base política está agora quase extinta, adverte Netanyahu por estar sendo irrealista. Barak diz que a resolução da ONU será um tsunami para Israel; e que, portanto, Netanyahu deveria ter a sabedoria de fazer algum tipo de acordo com os palestinos, antes que a resolução passe.
Ehud Barak está certo? Será um tsunami para Israel? Há uma boa chance de que sim. Porém, há pouca chance real de que Netanyahu siga os conselhos de Barak e tente fazer com seriedade um acordo prévio com os palestinos.
Considere o que é provável na Assembléia Geral. Sabemos que a maioria (talvez todos) dos países da América Latina e uma parte dos países africanos e asiáticos votarão em favor da resolução. Sabemos que os Estados Unidos votarão contra e tentarão persuadir outros a votar também. Os votos incertos são os da Europa. Se os palestinos obtiverem um número significativo dos votos europeus, sua posição política será muito reforçada.
Os europeus votarão em favor da resolução? Isso dependerá em parte do que acontecer no mundo árabe nos próximos dois meses. Os franceses já sugeriram abertamente que apoiarão a resolução, exceto se virem negociações significativas entre Israel e Palestina (que não ocorrem no momento). É quase certo que os países nórdicos se juntem a eles. A posição da Grã-Bretanha, Alemanha e Holanda está mais indefinida. Se estes países decidirem apoiar a resolução, provavelmente puxarão vários países do leste europeu. Nesse caso, a resolução obterá uma vasta maioria dos votos na Europa.
Precisamos, portanto, olhar o que está acontecendo no Oriente Médio. A segunda revolta árabe ainda está em pleno andamento. Seria temerário prever exatamente quais regimes cairão e quais se aguentarão, nos próximos dois meses. O que parece estar claro é que os palestinos estão à beira de lançar uma terceira intifada. Até os mais conservadores entre eles parecem ter perdido a esperança de qualquer acordo com Israel. Esta é a mensagem clara do acordo entre o Fatah e o Hamas. Levando em conta que as populações de praticamente todos os estados árabes estão em plena revolta política contra seus regimes, como poderiam os palestinos permanecer relativamente tranquilos? Não ficarão em silêncio.
E se não permanecerem em silencio, o que os outros regimes árabes farão? Todos vivem tempos difíceis — para dizer o mínimo –, enfrentando as revoltas em seus próprios países. Apoiar taticamente a terceira intifada seria a posição mais fácil para eles, no esforço para recuperar o controle de seu próprio país. Que regime ousaria não apoiar uma terceira intifada? O Egito já se movimentou claramente rumo a esta postura. E o rei Abdullah da Jordânia deu a entender que também o fará.
Então, imagine a seqüência: uma terceira intifada, seguida pelo apoio árabe ativo, seguido por intransigência israelense. O que farão os europeus em seguida? É difícil vê-los recusar o voto a favor da resolução. Poderíamos facilmente chegar a uma votação em que apenas Israel, Estados Unidos e alguns poucos países minúsculos votariam contra a posição pró-Palestina, talvez com poucas abstenções.
Isso me parece um possível tsunami. Israel teme acima de tudo, nos últimos anos, a “deslegitimação”. Não seria essa votação precisamente o grau mais alto de deslegitimação? E o isolamento norte-americano não enfraqueceria ainda mais a posição de Washington no mundo árabe? O que farão, nesse caso, os Estado Unidos?
Fonte: Opera Mundi
Há alguns políticos de extrema direita (sim, existe uma posição ainda mais à direita que Netanyahu) que propõem, em represália, a anexação formal, por Israel, de todos os territórios ocupados, encerrando qualquer negociação com os palestinos. Parte da extrema direita também quer forçar um êxodo de população não-judaica, a partir deste estado israelense expandido.
O ex-primeiro-ministro (e atual ministro da Defesa) Ehud Barak, cuja base política está agora quase extinta, adverte Netanyahu por estar sendo irrealista. Barak diz que a resolução da ONU será um tsunami para Israel; e que, portanto, Netanyahu deveria ter a sabedoria de fazer algum tipo de acordo com os palestinos, antes que a resolução passe.
Ehud Barak está certo? Será um tsunami para Israel? Há uma boa chance de que sim. Porém, há pouca chance real de que Netanyahu siga os conselhos de Barak e tente fazer com seriedade um acordo prévio com os palestinos.
Considere o que é provável na Assembléia Geral. Sabemos que a maioria (talvez todos) dos países da América Latina e uma parte dos países africanos e asiáticos votarão em favor da resolução. Sabemos que os Estados Unidos votarão contra e tentarão persuadir outros a votar também. Os votos incertos são os da Europa. Se os palestinos obtiverem um número significativo dos votos europeus, sua posição política será muito reforçada.
Os europeus votarão em favor da resolução? Isso dependerá em parte do que acontecer no mundo árabe nos próximos dois meses. Os franceses já sugeriram abertamente que apoiarão a resolução, exceto se virem negociações significativas entre Israel e Palestina (que não ocorrem no momento). É quase certo que os países nórdicos se juntem a eles. A posição da Grã-Bretanha, Alemanha e Holanda está mais indefinida. Se estes países decidirem apoiar a resolução, provavelmente puxarão vários países do leste europeu. Nesse caso, a resolução obterá uma vasta maioria dos votos na Europa.
Precisamos, portanto, olhar o que está acontecendo no Oriente Médio. A segunda revolta árabe ainda está em pleno andamento. Seria temerário prever exatamente quais regimes cairão e quais se aguentarão, nos próximos dois meses. O que parece estar claro é que os palestinos estão à beira de lançar uma terceira intifada. Até os mais conservadores entre eles parecem ter perdido a esperança de qualquer acordo com Israel. Esta é a mensagem clara do acordo entre o Fatah e o Hamas. Levando em conta que as populações de praticamente todos os estados árabes estão em plena revolta política contra seus regimes, como poderiam os palestinos permanecer relativamente tranquilos? Não ficarão em silêncio.
E se não permanecerem em silencio, o que os outros regimes árabes farão? Todos vivem tempos difíceis — para dizer o mínimo –, enfrentando as revoltas em seus próprios países. Apoiar taticamente a terceira intifada seria a posição mais fácil para eles, no esforço para recuperar o controle de seu próprio país. Que regime ousaria não apoiar uma terceira intifada? O Egito já se movimentou claramente rumo a esta postura. E o rei Abdullah da Jordânia deu a entender que também o fará.
Então, imagine a seqüência: uma terceira intifada, seguida pelo apoio árabe ativo, seguido por intransigência israelense. O que farão os europeus em seguida? É difícil vê-los recusar o voto a favor da resolução. Poderíamos facilmente chegar a uma votação em que apenas Israel, Estados Unidos e alguns poucos países minúsculos votariam contra a posição pró-Palestina, talvez com poucas abstenções.
Isso me parece um possível tsunami. Israel teme acima de tudo, nos últimos anos, a “deslegitimação”. Não seria essa votação precisamente o grau mais alto de deslegitimação? E o isolamento norte-americano não enfraqueceria ainda mais a posição de Washington no mundo árabe? O que farão, nesse caso, os Estado Unidos?
Fonte: Opera Mundi
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sexta-feira, 8 de julho de 2011
Professora do RN que criticou a educação recusa prêmio de empresários
Porque não aceitei o prêmio do PNBE
Nesta segunda,o Pensamento Nacional de Bases Empresariais (PNBE) vai
entregar o prêmio "Brasileiros de Valor 2011". O júri me escolheu, mas,
depois de analisar um pouco, decidi recusar o prêmio.
Mandei essa carta aí embaixo para a organização, agradecendo e expondo os motivos pelos quais não iria receber a premiação. Minha luta é outra.
Espero que a carta sirva para debatermos a privatização do ensino e o papel de organizações e campanhas que se dizem "amigas da escola".
Amanda
Mandei essa carta aí embaixo para a organização, agradecendo e expondo os motivos pelos quais não iria receber a premiação. Minha luta é outra.
Espero que a carta sirva para debatermos a privatização do ensino e o papel de organizações e campanhas que se dizem "amigas da escola".
Amanda
Natal, 2 de julho de 2011
Prezado júri do 19º Prêmio PNBE,
Recebi comunicado notificando que este júri decidiu conferir-me o prêmio
de 2011 na categoria Educador de Valor, “pela relevante posição a favor
da dignidade humana e o amor a educação”. A premiação é importante
reconhecimento do movimento reivindicativo dos professores, de seu papel
central no processo educativo e na vida de nosso país. A dramática
situação na qual se encontra hoje a escola brasileira tem acarretado uma
inédita desvalorização do trabalho docente. Os salários aviltantes, as
péssimas condições de trabalho, as absurdas exigências por parte das
secretarias e do Ministério da Educação fazem com que seja cada vez
maior o número de professores talentosos que após um curto e angustiante
período de exercício da docência exonera-se em busca de melhores
condições de vida e trabalho.
Embora exista desde 1994 esta é a primeira vez que esse prêmio é destinado a uma professora comprometida com o movimento reivindicativo de sua categoria. Evidenciando suas prioridades, esse mesmo prêmio foi antes de mim destinado à Fundação Bradesco, à Fundação Victor Civita (editora Abril), ao Canal Futura (mantido pela Rede Globo) e a empresários da educação. Em categorias diferentes também foram agraciadas com ele corporações como Banco Itaú, Embraer, Natura Cosméticos, McDonald's, Brasil Telecon e Casas Bahia, bem como a políticos tradicionais como Fernando Henrique Cardoso, Pedro Simon, Gabriel Chalita e Marina Silva.
A minha luta é muito diferente dessas instituições, empresas e personalidades. Minha luta é igual a de milhares de professores da rede pública. É um combate pelo ensino público, gratuito e de qualidade, pela valorização do trabalho docente e para que 10% do Produto Interno Bruto seja destinado imediatamente para a educação. Os pressupostos dessa luta são diametralmente diferentes daqueles que norteiam o PNBE. Entidade empresarial fundada no final da década de 1980, esta manteve sempre seu compromisso com a economia de mercado. Assim como o movimento dos professores sou contrária à mercantilização do ensino e ao modelo empreendedorista defendido pelo PNBE. A educação não é uma mercadoria, mas um direito inalienável de todo ser humano. Ela não é uma atividade que possa ser gerenciada por meio de um modelo empresarial, mas um bem público que deve ser administrado de modo eficiente e sem perder de vista sua finalidade.
Oponho-me à privatização da educação, às parcerias empresa-escola e às chamadas “organizações da sociedade civil de interesse público” (Oscips), utilizadas para desobrigar o Estado de seu dever para com o ensino público. Defendo que 10% do PIB seja destinado exclusivamente para instituições educacionais estatais e gratuitas. Não quero que nenhum centavo seja dirigido para organizações que se autodenominam amigas ou parceiras da escola, mas que encaram estas apenas como uma oportunidade de marketing ou, simplesmente, de negócios e desoneração fiscal.
Por essa razão, não posso aceitar esse Prêmio. Aceitá-lo significaria renunciar a tudo por que tenho lutado desde 2001, quando ingressei em uma Universidade pública, que era gradativamente privatizada, muito embora somente dez anos depois, por força da internet, a minha voz tenha sido ouvida, ecoando a voz de milhões de trabalhadores e estudantes do Brasil inteiro que hoje compartilham comigo suas angústias históricas. Prefiro, então, recusá-lo e ficar com meus ideais, ao lado de meus companheiros e longe dos empresários da educação.
Saudações,
Professora Amanda Gurgel
Embora exista desde 1994 esta é a primeira vez que esse prêmio é destinado a uma professora comprometida com o movimento reivindicativo de sua categoria. Evidenciando suas prioridades, esse mesmo prêmio foi antes de mim destinado à Fundação Bradesco, à Fundação Victor Civita (editora Abril), ao Canal Futura (mantido pela Rede Globo) e a empresários da educação. Em categorias diferentes também foram agraciadas com ele corporações como Banco Itaú, Embraer, Natura Cosméticos, McDonald's, Brasil Telecon e Casas Bahia, bem como a políticos tradicionais como Fernando Henrique Cardoso, Pedro Simon, Gabriel Chalita e Marina Silva.
A minha luta é muito diferente dessas instituições, empresas e personalidades. Minha luta é igual a de milhares de professores da rede pública. É um combate pelo ensino público, gratuito e de qualidade, pela valorização do trabalho docente e para que 10% do Produto Interno Bruto seja destinado imediatamente para a educação. Os pressupostos dessa luta são diametralmente diferentes daqueles que norteiam o PNBE. Entidade empresarial fundada no final da década de 1980, esta manteve sempre seu compromisso com a economia de mercado. Assim como o movimento dos professores sou contrária à mercantilização do ensino e ao modelo empreendedorista defendido pelo PNBE. A educação não é uma mercadoria, mas um direito inalienável de todo ser humano. Ela não é uma atividade que possa ser gerenciada por meio de um modelo empresarial, mas um bem público que deve ser administrado de modo eficiente e sem perder de vista sua finalidade.
Oponho-me à privatização da educação, às parcerias empresa-escola e às chamadas “organizações da sociedade civil de interesse público” (Oscips), utilizadas para desobrigar o Estado de seu dever para com o ensino público. Defendo que 10% do PIB seja destinado exclusivamente para instituições educacionais estatais e gratuitas. Não quero que nenhum centavo seja dirigido para organizações que se autodenominam amigas ou parceiras da escola, mas que encaram estas apenas como uma oportunidade de marketing ou, simplesmente, de negócios e desoneração fiscal.
Por essa razão, não posso aceitar esse Prêmio. Aceitá-lo significaria renunciar a tudo por que tenho lutado desde 2001, quando ingressei em uma Universidade pública, que era gradativamente privatizada, muito embora somente dez anos depois, por força da internet, a minha voz tenha sido ouvida, ecoando a voz de milhões de trabalhadores e estudantes do Brasil inteiro que hoje compartilham comigo suas angústias históricas. Prefiro, então, recusá-lo e ficar com meus ideais, ao lado de meus companheiros e longe dos empresários da educação.
Saudações,
Professora Amanda Gurgel
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quinta-feira, 7 de julho de 2011
Para a crítica do capitalismo
Escrito por Duarte Pereira no Correio da Cidadania |
A Boitempo Editorial, numa iniciativa conjunta com a Editora da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, acaba de lançar a primeira
tradução brasileira integral da obra de Karl Marx, celebrizada como Grundrisse (em português, Esboços ou Fundamentos para a crítica da economia política). Uma tradução brasileira da parte desses manuscritos relativa às chamadas Formen (ou Formações econômicas pré-capitalistas)
já fora publicada pela Editora Paz e Terra em 1975, com importante
introdução escrita pelo historiador britânico Eric Hobsbawn.
Os Grundrisse reúnem manuscritos redigidos por Marx em 1857 e
1858, no andamento de sua monumental investigação crítica do novo modo
de produção e da nova formação social – capitalistas – que emergiam e se
desenvolviam na Europa, assim como das primeiras interpretações dessa
nova economia e dessa nova sociedade, feitas de um ângulo burguês, pelos
economistas denominados clássicos, como Adam Smith e David Ricardo.
Aos Grundrisse, mantidos inéditos por Marx, se seguiria a Contribuição à crítica da economia política, publicada em 1859, e, num nível incomparavelmente superior de elaboração, o primeiro volume de O capital, publicado em 1867. Como se sabe, o 2º e o 3º volumes de O capital
somente seriam publicados em 1885 e 1894, respectivamente, organizados e
editados por Engels após a morte de Marx. O 4º volume, mais conhecido
como Teorias da mais-valia ou como História crítica das doutrinas econômicas,
reunindo os rascunhos escritos por Marx entre 1861 e 1863, seria
organizado e editado por Karl Kautsky em vários tomos publicados entre
1905 e 1910. Existe uma edição brasileira integral dessa obra, traduzida
diretamente do alemão por Reginaldo Sant’Anna e lançada pela Editora
Civilização Brasileira em 1980.
Ao ler os Grundrisse, é preciso não perder de vista dois
comentários feitos pelo próprio Marx, um ressaltando sua importância e
outro alertando para seus limites. Primeiro, que os manuscritos foram “o
resultado de 15 anos de pesquisa, ou seja, dos melhores anos de minha
vida”. E segundo, que “as monografias foram escritas em períodos muito
diversos, para meu próprio esclarecimento, não para publicação”. A
maioria dos temas e das teses dos Grundisse seria reelaborada nas obras posteriores de Marx, principalmente em O capital,
com mais rigor e cuidado no que diz respeito ao conteúdo e à forma e
levando em conta o avanço das investigações do autor. Algumas passagens
dos Grundisse não seriam reescritas por Marx, nem incorporadas a
suas obras posteriores, talvez porque ele sentisse a necessidade de
aprofundá-las.
A publicação da primeira edição integral em português dos Grundrisse,
traduzida diretamente dos originais alemães por Mário Duayer e um grupo
de colaboradores, representa um marco na história da cultura brasileira
e uma contribuição muito importante para o estudo especializado e
histórico-crítico do marxismo.
Quem ler esses manuscritos seminais com a mente despojada de
preconceitos terá a oportunidade de verificar como permanece atual, em
suas linhas essenciais, a crítica de Marx ao capitalismo e ao pensamento
econômico burguês, feita do ponto de vista dos trabalhadores
destituídos de meios modernos de produção e forçados a assalariar-se.
Ficha técnica
Título: Grundrisse
Subtítulo: Manuscritos econômicos de 1857-1858: Esboços da crítica da economia política Título original: Karl Marx Ökonomische Manuskripte 1857/58 Autor: Karl Marx Tradução: Mario Duayer, Nélio Schneider, Alice Helga Werner e Rudiger Hoffman Supervisão editorial e apresentação: Mario Duayer Orelha: Jorge Grespan Quarta capa: Francisco de Oliveira Páginas: 792 Preço: R$ 79,00 ISBN: 978-85-7559-172-7 Editoras: Boitempo e UFRJ
Duarte Pereira, 72 anos, é jornalista e escritor.
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“Inauguramos um novo momento na Educação Gaúcha”, diz Azevedo no 1º Encontro de Avaliação
O secretário de Estado da Educação, Prof. Dr. Jose Clovis de
Azevedo, abriu o 1º Encontro de Avaliação das Coordenadorias Regionais
de Educação, na manhã desta quinta-feira (7), no auditório da Caixa
Econômica Federal, em Porto Alegre. Azevedo apresentou um diagnóstico
das condições políticas e estruturais encontradas pela nova gestão.
“Depois de oito anos de neoliberalismo, inauguramos um novo momento na
Educação Gaúcha. Nossa concepção de Estado parte do princípio da
equidade, onde o Estado tem a obrigação de garantir que todos tenham
seus direitos atendidos, e não aumentar as disparidades entre a
população”, disse o secretário ao iniciar seu pronunciamento.
Entre os principais pontos relatados: ausência de um centro de reflexão e produção de políticas e propostas para a atividade fim; fragmentação da gestão; ausência de planejamento; terceirização das obrigações do Estado, incluindo o programa de alfabetização; isolamento do governo federal; inexistência de diálogo com os professores e comunidades; priorização dos aspectos quantitativos em detrimento dos aspectos qualitativos e o fechamento de 435 escolas sem políticas para a Educação no campo.
Após, informou os avanços da Seduc nos primeiros seis meses de sua gestão, como: o reajuste de 10,91% que baixou de 66% para 50% a diferença salarial para a integralização do piso nacional; a revogação da ordem de serviço que impedia a participação dos professores em eventos de formação no horário de expediente; os seminários de formação regionais que já mobilizaram 24 mil docentes; a liberação de professores para os núcleos do CPERS, além da realização de concurso público neste ano.
O secretário também apresentou as metas para o próximo semestre, entre elas: a expansão do ensino médio, a ampliação dos programas de formação tanto para professores sem formação superior como para 2ª licenciatura e a formação continuada; a execução de 264 obras de ampliação e reforma das escolas somando R$ 61 milhões; a modernização tecnológica através do projeto piloto Santa Tecla em Bagé e avanço no regime de colaboração com os municípios para a resolução da questão do transporte escolar.
Também reafirmou o compromisso de que não
haverá mudanças no plano de carreira e sim um diálogo para alterações nos critérios de avaliação para a promoção dos professores, e que o piso nacional será integralizado durante os quatros anos de governo.
As atividades seguiram com o relato das coordenadorias com a apresentação do histórico administrativo e pedagógico percorrido até o momento. Os relatos seguem no período da tarde, que também terá a avaliação dos avanços da Seduc pelo chefe da Casa Civil, Carlos Pestana.
Entre os principais pontos relatados: ausência de um centro de reflexão e produção de políticas e propostas para a atividade fim; fragmentação da gestão; ausência de planejamento; terceirização das obrigações do Estado, incluindo o programa de alfabetização; isolamento do governo federal; inexistência de diálogo com os professores e comunidades; priorização dos aspectos quantitativos em detrimento dos aspectos qualitativos e o fechamento de 435 escolas sem políticas para a Educação no campo.
Após, informou os avanços da Seduc nos primeiros seis meses de sua gestão, como: o reajuste de 10,91% que baixou de 66% para 50% a diferença salarial para a integralização do piso nacional; a revogação da ordem de serviço que impedia a participação dos professores em eventos de formação no horário de expediente; os seminários de formação regionais que já mobilizaram 24 mil docentes; a liberação de professores para os núcleos do CPERS, além da realização de concurso público neste ano.
O secretário também apresentou as metas para o próximo semestre, entre elas: a expansão do ensino médio, a ampliação dos programas de formação tanto para professores sem formação superior como para 2ª licenciatura e a formação continuada; a execução de 264 obras de ampliação e reforma das escolas somando R$ 61 milhões; a modernização tecnológica através do projeto piloto Santa Tecla em Bagé e avanço no regime de colaboração com os municípios para a resolução da questão do transporte escolar.
Também reafirmou o compromisso de que não
haverá mudanças no plano de carreira e sim um diálogo para alterações nos critérios de avaliação para a promoção dos professores, e que o piso nacional será integralizado durante os quatros anos de governo.
As atividades seguiram com o relato das coordenadorias com a apresentação do histórico administrativo e pedagógico percorrido até o momento. Os relatos seguem no período da tarde, que também terá a avaliação dos avanços da Seduc pelo chefe da Casa Civil, Carlos Pestana.
Fonte: SEDUC
terça-feira, 5 de julho de 2011
Bicentenário da libertação da Venezuela é comemorado em Brasília
O bicentenário da libertação da Venezuela foi comemorado em Brasília pela Embaixada da Venezuela no Brasil. O embaixador, Maximilien Arvelaiz, recebeu autoridades diplomáticas, parlamentares e a comunidade venezuelana para uma solenidade, com ares de festa, na manhã desta terça-feira (5). E destacou, em seu rápido discurso, a alegria do povo venezuelano de ter o presidente Hugo Chávez de volta ao país para comemorar a data.
Lula Lopes no VERMELHO
Embaixador coloca flores no busto de Simon Bolívar.
A embaixada montou um toldo no pátio em frente ao busto de Simon Bolívar para a solenidade. Após a execução dos hinos nacionais – brasileiro e venezuelano – o embaixador colocou um buquê de flores aos pés da estátua. No breve discurso, disse que a história não se acaba, que é preciso continuar a luta para consolidar e defender a nossa sociedade e a América.
Citando os heróis de ontem, como Simon Bolívar e José Martí, ele lembrou que a luta de hoje enfrenta rechaços, intrigas e traições e a franca resistência de ontem persiste hoje na luta pela América livre.
O embaixador venezuelano lamentou o adiamento da Cúpula da Comunidade de Estados Latino-americanos e do Caribe (Celac), sobre Integração e Desenvolvimento, que deveria começar nesse dia 5 de julho devido ao estado de saúde do presidente Hugo Chávez. Mas garantiu que ele vai acontecer, destacando a importância da entidade para a integração da região e para atingirr a independência definitiva.
Maximilien Arvelaiz agradeceu aos convidados pela presença e pela preocupação com o estado de saúde de Chavez. “El está bien”, disse o embaixador.
O embaixador encerrou o discurso convidando os brasileiros a compartilhar a arte venezuelana. Após a solenidade, foi aberta a exposição de bonecas de pano “O que aprendi com a mamãe”, da artista Amada Rojas Vargas. O embaixador destacou ainda, como parte da programação do bicentenário da Venezuela, o jantar harmonizado do ‘chef’ venezuelano Eduardo Castañeda, no Mercado Municipal, na Asa Sul, nesta quarta-feira (6), a partir das 19 horas; e o show musical, de quarta a sexta-feira ( 6 a 8) com Caracas Sincrónica & Luisana Perez, em vários locais de Brasília.
Márcia Xavier
segunda-feira, 4 de julho de 2011
Dirigente do MST: Mais de 24 mil escolas foram fechadas no campo
“Fechamento de 24 mil escolas do campo é retrocesso”, afirma dirigente do MST
Mais de 24 mil escolas no campo brasileiro foram fechadas no meio
rural desde 2002. O fechamento dessas escolas demonstra o drástico
problema na vida educacional no Brasil, especialmente no meio rural.
Após décadas de lutas por conquistas no âmbito educacional, cujas
reivindicações foram atendidas em parte – o que permitiu a consolidação
da pauta – o fechamento das escolas vão no sentido contrário do que
parecia cristalizado.
Nesse quadro, o MST lançou a Campanha Nacional contra o Fechamento de Escolas do Campo,
que pretende fazer o debate sobre a educação do campo com o conjunto
da sociedade, articular diversos setores contra esses retrocessos e
denunciar a continuidade dessa política.
“O fechamento das escolas no campo nos remete a olhar com
profundidade que o que está em jogo é algo maior, relacionado às
disputas de projetos de campo. Os governos têm demonstrado cada vez
clara a opção pela agricultura de negócio – o agronegócio – que tem em
sua lógica de funcionamento pensar num campo sem gente e, por
conseguinte, um campo sem cultura e sem escola”, afirma Erivan Hilário,
do Setor de Educação do MST.
Essas escolas foram fechadas por estados e os municípios, mas o
Ministério da Educação também têm responsabilidade. “Não se têm, por
exemplo, critérios claros que determine o fechamento de escolas, que
explicitem os motivos pelos quais se fecham, ou em que medida se pode ou
não fechar uma escola no campo”, aponta Erivan.
Ele apresenta um panorama do atual momento pelo qual passa a educação
do campo, apontando desafios, lutas e propostas. Abaixo, leia a
entrevista.
Como se encontra a educação no campo brasileiro, de um modo geral?
Vive momentos bastantes contraditórios. Se por um lado, na última
década, avançou do ponto de vista de algumas conquistas e iniciativas
significativas no campo educacional, como no caso da legislação e das
políticas públicas – a exemplo das diretrizes operacionais para educação
básica nas escolas do campo, aprovada em 2002, e tantas outras
resoluções do conselho nacional, como o custo aluno diferenciado para o
campo e as licenciaturas em Educação do Campo – por outro percebemos
que os fechamentos das escolas no campo caminham na contramão desses
avanços, conforme demonstram vários dados das próprias instituições do
governo. Desde 2002 até 2009, foram fechadas mais de 24 mil escolas no
campo. Com isso, voltamos ao início da construção do que hoje chamamos
de Educação do Campo, que foi a luta dos movimentos sociais organizados
no campo, mais particularmente, o MST, contra a política neoliberal de
fechamento das escolas.
A que se deve o fechamento das escolas no campo?
O fechamento das escolas no campo nos remete a olhar com profundidade
que o que está em jogo é algo maior, relacionado às disputas de
projetos de campo. Os governos têm demonstrado cada vez mais a clara
opção pela agricultura de negócio – o agronegócio – que tem em sua
lógica de funcionamento pensar num campo sem gente e, por conseguinte,
um campo sem cultura e sem escola.
Nesse sentido, os camponeses e os pequenos agricultores têm resistido
contra esse modelo que concentra cada vez mais terras e riqueza, com
base na produção que tem como finalidade o lucro. Nessa lógica, os
camponeses são considerados como “atraso”. Por isso, lutar contra o
fechamento das escolas tem se constituído como expressão de luta dos
camponeses, de comunidades contra a lógica desse modelo capitalista
neoliberal para o campo.
Quais os objetivos da Campanha Nacional contra os Fechamentos das Escolas do Campo?
O primeiro grande objetivo é fazermos um amplo debate com a
sociedade, tendo em vista a educação como um direito elementar,
consolidado, na perspectiva de que todos possam ter acesso. O que
precisamos fazer é justamente frear esse movimento que tem acontecido,
do fechamento das escolas do campo, sobretudo no âmbito dos municípios e
dos estados.
Pensar isso significa garantir esse direito tão consolidado no
imaginário social, como uma conquista social à educação, garantir que as
crianças e os jovens possam se apropriar do conhecimento
historicamente acumulado pela humanidade, que esse conhecimento esteja
vinculado com sua prática social e que, sobretudo, esse conhecimento
seja um mecanismo de transformação da vida, de transformação para que
ela seja cada vez mais plena, cada vez mais solidária e humana.
Colado a isso, temos que fazer esse debate da educação como um
direito básico, e que nós não podemos – do ponto de vista da sociedade –
dar passos para trás nesse sentido, ao negar esse direito
historicamente consolidado.
A educação do campo nasce como uma crítica a situação da educação
brasileira no campo. E essa situação na época revelava justamente o
fechamento das escolas no campo e o deslocamento das crianças, de jovens
e de adultos do campo para a cidade.
Qual o significado do fechamento dessas escolas?
Passado mais de 12 anos do que chamamos de educação do campo, dentro
dessa articulação que foi surgindo pela garantia de direitos, de
crítica à situação do campo brasileiro, vemos esse movimento na
contramão, mesmo já tendo conquistado várias políticas públicas no
âmbito educacional. É preciso que não percamos de vista essa luta pela
educação no campo. Essa luta passa, essencialmente, pela defesa de
melhores condições de trabalho, das condições das estruturas físicas
das escolas e pela conquista de mais escolas para atender a grande
demanda do campo brasileiro.
A região Nordeste representou mais da metade do total de estabelecimentos fechado nos últimos anos. Por quê?
No Nordeste é onde ainda está concentrada a maior parte da população
no campo. Por isso, é maior o impacto nessa região. A exemplo, a
maioria das famílias em projetos de assentamentos de Reforma Agrária
estão no Nordeste. É onde se fecha mais escola e continua sendo uma
região que apresenta baixos níveis de escolaridade da população no
quadro geral brasileiro.
A educação é um direito básico que está consolidado no imaginário
popular como conquista dos movimentos sociais, da população brasileira,
mas tem sido negado. Isso configura um retrocesso histórico em meio aos
avanços tidos no âmbito educacional, a exemplo das resoluções do
Conselho Nacional de Educação, que assegura que os anos iniciais do
ensino fundamental sejam ofertados nas comunidades.
No caso dos anos finais, caso as crianças e jovens tenham que se
deslocar, que consigam ir para outras comunidades no próprio campo – o
que chamam de intra-campo -, mas somente após uma ampla consulta e
debate com os movimentos sociais e as comunidades.
Como trabalhar essa questão nacionalmente tendo em vista que a
maioria das escolas que foram fechadas é de responsabilidade dos
municípios?
Os dados de fato apontam que são os estados e os municípios que tem
fechado. Não poderia ser diferente, já que são estes entes federados que
ofertam de maneira geral a educação básica nesse país, cada qual
assumindo suas responsabilidades.
Em geral, os municípios têm assumido a educação infantil e o ensino
fundamental, e tem ficado cada vez mais para os estados a
responsabilidade sobre o ensino médio. O Ministério da Educação tem
também responsabilidade pelo fechamento dessas escolas, até porque
estamos falando de um espaço de Estado que é a expressão máxima de
instituição responsável pela educação no país.
Não se tem, por exemplo, critérios claros que determine o fechamento
de escolas, que explicitem os motivos pelos quais se fecham, ou em que
medida se pode ou não fechar uma escola no campo.
A escola em um determinado município faz parte de uma rede maior que
são as escolas públicas brasileiras. É nessa visão de país que temos
que pensar. É preciso garantir que a população do campo tenha acesso ao
conhecimento elaborado e que este acesso seja possível no território
em que eles vivem.
De qual maneira a luta pela Reforma Agrária se alinha com a luta pela educação?
Quando falamos de luta pela Reforma Agrária, estamos nos referindo a
uma luta pela conquista de direitos como o da terra e as condições
necessárias para trabalhar e viver, como o direito à educação. Com isso,
vinculamos permanentemente à questão do processo educacional à Reforma
Agrária, pois pensar um projeto de campo e de país, fundamentalmente,
passa também por pensar um projeto de educação.
A história do nosso movimento demonstra que é necessário fazer a luta
pela terra paralelamente à luta por outros direitos, como educação,
cultura, comunicação. Viver no campo é exigir cada vez mais conhecimento
– saber elaborado – para poder viver bem e melhor, cuidando da terra e
da natureza e cultivando alimentos saudáveis para toda a sociedade
brasileira.
Quais são as propostas do MST para a educação do campo?
Primeiro, que o direito à educação deixe de ser apenas um direito
formal, que seja direito real das pessoas que vivem no campo, no sentido
de terem em seus territórios acesso à educação e à escola tão
necessária e importante como para os que vivem na cidade.
O acesso ao conhecimento não deve ser moeda de troca, em que os que
necessitam tenham que comprar, algo tão fortemente presenciado na
educação privada. Que possamos seguir lutando para que nenhuma outra
escola seja fechada no campo ou na cidade. Temos que seguir lutando cada
vez mais para garantir na realidade questões como a ampliação e
construção de mais escolas no campo; com acesso a toda educação básica e
suas modalidades de ensino; acesso à ciência e à tecnologia,
vinculados aos processos de produção da vida social no campo e seus
diversos territórios camponeses, de pequenos agricultores.
Além disso, lutamos para assegurar a formação inicial e continuada
dos educadores nas diversas áreas do conhecimento para atuação na
educação básica, uma vez que são mais de 200 mil educadores no campo sem
formação superior; garantir educação profissional técnica de nível e
superior; e que se efetive uma política pública com a participação
efetiva das comunidades camponesas, dos movimentos sociais do campo.
Qual a importância de que essas escolas sejam voltadas para o campo? Ou seja, que sejam escolas do campo?
Estamos falando de um princípio básico que é da produção da
existência dos sujeitos do campo. Os camponeses, os trabalhadores
rurais, produzem resistência nesse espaço, nesse território. Portanto, o
processo educacional que defendemos é que, além de acessar uma base
comum do ponto de vista do conhecimento, precisamos que as escolas que
estejam situadas no campo possam incorporar dimensões importantes da
vida dos camponeses. Da dimensão do trabalho, da cultura e,
fundamentalmente, da dimensão da luta social – algo que é constante no
campo brasileiro. Nas últimas décadas, vivemos com o avanço do
agronegócio, do capital no campo, que tem se intensificado cada vez mais
e tem expulsado os trabalhadores e trabalhadores que ali vivem. Há uma
resistência no campo, são os trabalhadores, as comunidades camponesas
lutando contra esse modelo. E a escola, de certa maneira, precisa
incorporar na organização de seu trabalho pedagógico essas tensões e
contradições que constituem a realidade no campo brasileiro.
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domingo, 3 de julho de 2011
Sigilo eterno
Como teria sido importante o povo brasileiro ter direito à transparência histórica!
Frei Betto no BrasilDefato
Encerrado
o apocalipse, julgados vivos e mortos na grande assembleia universal
do Vale de Jericó, Matusalém e Noé, encarregados do rescaldo final,
encontraram nos escombros de Brasília, espalhados entre ruínas dos
ministérios, os arquivos ultrassecretos da República.
― Veja só, Noé, esses aqui trazem o carimbo de “sigilo eterno”.
―
Eterno!? Essa gente não deu ouvidos ao que disse Jesus, que tudo
aquilo que se passasse às ocultas seria proclamado nos telhados? Do que
as autoridades brasileiras se envergonhavam? – indagou o ancião da
arca.
― Vejamos esses papéis aqui. Tratam da
Guerra do Paraguai. Eis o relatório da atuação do comandante Luís Alves
de Lima e Silva, o Duque de Caxias... Nossa, Noé, que coisa!... Como
os soldados brasileiros foram cruéis com os paraguaios!
―
Soldados, Matusalém!? Leia isto aqui: escravos arregimentados sob a
promessa de uma liberdade que nunca veio. A maioria teve a morte como
prêmio de combate.
― Nossa, Noé, e o Barão do Rio Branco! Como ele ousou ampliar assim, na cara de pau, as fronteiras do Brasil!?
―
É, Matu, por isso há quem, no Itamaraty, prefira que os documentos
fiquem à sombra das barbas do barão. A história se faz entre heroísmos e
baixarias. Só que sempre foi escrita pelos vencedores, jamais pelas
vítimas. Isso de “sigilo eterno” foi para jogar as infâmias pra debaixo
do tapete.
― Veja isso aqui, Noé, os arquivos da
ditadura militar. Repare neste mapa: assinala quando, quem, como e onde
foram presas, torturadas e assassinadas as vítimas cujos corpos jamais
foram localizados e pranteados por suas famílias. E ainda constam os
nomes dos militares que participaram de torturas, assassinatos e
seqüestros.
― Matu, e este documento aqui, que vergonha!
― Vergonha por quê?
―
São os “decretos secretos” da ditadura. Como um documento público, o
decreto, pode ser secreto? Isso é o mesmo que alguém se apresentar como
ladrão honesto...
― Ora, Matu, vergonhosos são esses papéis que tratam dos governos Sarney e Collor.
― O que há de interessante neles?
―
São dados estarrecedores! Quanta sujeirada em tantos governos do
Brasil! Haja tráfico de influência, corrupção, nepotismo e
favorecimentos. Agora compreendo por que as autoridades brasileiras
sonegaram aos historiadores tantos períodos e fatos da história do
Brasil!
― Naquela pasta ali – disse Noé – estão
as licitações secretas da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016 no
Brasil. Haja maracutaia! Obras que ficariam em quinhentos foram
multiplicadas por bilhões!
― Pena que o mundo
acabou, a história findou e toda essa gente virou pó. Como teria sido
importante o povo brasileiro ter direito à transparência histórica! Com
certeza teria evitado que a nação repetisse tantos erros e reelegesse
aqueles que distorceram os fatos e os encobriram para perpetuarem uma
boa imagem que jamais mereceram.
Frei
Betto é escritor e assessor de movimentos sociais, autor de “Diário de
Fernando – nos cárceres da ditadura militar brasileira”, entre outros
livros.
Trabalho escravo na extração de erva mate
Tomado de AGECON – Integrante da RPCC – Rede Popular Catarinense de Comunicação
Força-tarefa flagra trabalho em condições degradantes em SC
Uma força-tarefa formada pela Justiça do
Trabalho, Ministério Público do Trabalho (MPT), Ministério do Trabalho e
Emprego (MTE) e Polícia Federal encontrou, na última terça (28/6),
trabalhadores em condições degradantes no município de Concórdia, no
oeste de Santa Catarina, trabalhando na extração de erva-mate.
O grupo de três auditores-fiscais do
trabalho, dois policiais federais, uma procuradora do trabalho, um
oficial de justiça, além do juiz titular da vara do trabalho local,
Adilton José Detoni, realizou inspeção judicial na localidade de Linha
Santa Terezinha para verificar uma denúncia de trabalho escravo na
extração de erva-mate.
Logo na chegada, a equipe encontrou cinco trabalhadores, um deles
menor de idade, alojados em uma barraca rústica coberta por lona preta,
sustentada por taquaras e galhos de árvores. A parte dos fundos era
utilizada como dormitório, com colchões e cobertores sobre o chão de
terra. Na parte da frente da barraca, aberta e sem lona, havia uma
fogueira acesa, uma caixa de madeira com gêneros alimentícios, galão
plástico com água, alguns facões, panelas, pratos e copos sobre outra
estrutura feita de galhos e taquaras.
Os trabalhadores foram identificados e
informaram que utilizavam o mato para as necessidades fisiológicas, e a
água do riacho existente nas proximidades para banho e consumo. Recebiam
em média R$ 15 por dia de trabalho na extração de erva-mate destinada à
Ervateira Tiecher, do município de Vargeão. Todos oriundos do município
de Ponte Serrada, disseram estar a serviço de um senhor de nome
Librante, identificado pelos trabalhadores como sendo o capataz que
chegou ao local algum tempo depois, acompanhado de mais cinco
trabalhadores.
Lavrado o auto de inspeção, todos foram intimados a comparecer à VT de Concórdia.
Ajustamento de Condutas
Na audiência, diante do trabalho em
condições degradantes flagrado pela força- tarefa, os envolvidos,
incluindo o dono da terra onde o trabalho era realizado, chegaram a dois
compromissos de ajustamento de conduta (TACs) destinados a sanar as
irregularidades verificadas. Também se chegou a um acordo para pagamento
das verbas trabalhistas devidas e de indenização por dano moral
coletivo.
Fonte: http://www.sindes.org.br
Imagem tomada de /www.clauderioaugusto.com.br
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