Escrito por Valéria Nader, da Redação - Colaborou Gabriel Brito |
Mensalão e eleição serão, inegavelmente, marcas registradas do
ano de 2012. Daquelas que vêm primeiro à mente ou aparecem de maneira
mais imediata ao senso comum. O primeiro, no entanto, passado o momento
de arrebatamento inicial, repleto de rompantes e querelas políticas,
ficará para a história como mais do mesmo da política nacional, com a
sua equalização por baixo a partir do vale-tudo institucional. E as
últimas eleições municipais tampouco serão capazes de se registrarem
mais qualificadamente na memória coletiva, vez que, no geral, não
chegaram a modificar de modo substancial a atual composição de forças
dominantes.
Na economia mundial, a desaceleração voltou a mostrar força
retumbante em 2012, mais notadamente no continente europeu, às voltas
com as imposições barbarizantes da chamada Troika. Um processo que,
ressalte-se, já vem se delineando bem antes da explosão da crise
financeira internacional de 2008, e que não chega a ser surpreendente
para quem acompanha o desenrolar da vertente econômica dominante –
norteada pela satisfação dos interesses do capital financeiro e das
grandes corporações internacionais.
Se o Brasil pôde, por um bom tempo, passar relativamente incólume
à degringolada do capitalismo mundial, em especial em sua vertente
neoliberal, não foi bem assim em 2012. Estaria aqui uma das novidades do
ano que finda? Sim, mas somente para aqueles que têm carregado a imagem
do Brasil como uma das ‘meninas dos olhos do capital financeiro’ e que
se iludem com a noção de que o país ascendeu socialmente, agora que a
classe média comporia uma boa parte da população. Aos olhos de quem se
atenta para as frágeis bases em que está assentado o modelo econômico
interno, fortemente calcado no consumo de supérfluos, no endividamento
familiar e, portanto, em uma expansão insustentável do crédito, não há
como não antever que, cedo ou tarde, a barbárie vai se instalar em solo
pátrio.
Movimentações e protestos mundiais em reação à forte crise
externa e, especialmente, às medidas fiscais restritivas e pauperizantes
que vêm sendo impostas têm se alastrado por vários países. E no Brasil,
não foi diferente. É certo que, neste ano, houve um forte
recrudescimento da reação popular aos atropelos dos direitos das
populações urbanas vulneráveis e também às agressões aos povos
originários. Os movimentos sindicais mais organizados também irromperam
na arena política exigindo, dentre outros, a recomposição de rendimentos
há longos anos defasados, em função da negligência dos governos com os
setores e o funcionalismo público.
Toda esta movimentação é, sem dúvida, indicativa da agudização da
percepção das mazelas e contradições no seio da sociedade, e de que
possam começar a se mover alguns dos arraigados e retrógrados alicerces
sociais. Trata-se, de todo modo, de uma movimentação ainda incipiente,
carente de amplitude e organicidade. E tão ou mais essencial que este
caráter incipiente, e a ele associada, esta reação tem sido respondida a
partir da lógica vigente em nossa economia e sociedade, qual seja, a
lógica de governos submissos aos interesses econômicos e financeiros. A
repressão e a violência policial têm aparecido, assim, notoriamente como
a resposta mais imediata aos grupos que se organizam na defesa de seus
interesses.
Com esta visão em mente, o sociólogo do Trabalho e professor do departamento de Sociologia da USP, Ruy Braga, é o nosso entrevistado especial neste final de ano. Seus estudos, assim como seu mais recente livro, ‘A política do Precariado’ – do populismo à hegemonia lulista, são emblemáticos em meio a este cenário, visto lançarem sobre ele um profundo e sensível olhar.
Um dos destacados registros de seu último livro diz respeito ao
processo de concessões reais que embasam aquela que é chamada de
‘hegemonia lulista’, basicamente calcada em um consentimento passivo das
bases sociais e em um consentimento ativo por parte das direções
sindicais. Neste sentido, o sociólogo ressalta que “as condições de vida
e inserção da classe trabalhadora nas cidades e locais de trabalho são
muito precárias. A despeito do que ocorreu no mercado de consumo, por
conta da relativa desconcentração de renda, as condições de vida são
muito limitadas, o que não tem mudado significativamente. Em alguns
casos tem piorado, e muito. Portanto, temos um aumento de consumo e, ao
mesmo tempo, condições de vida e trabalho muito degradantes”.
Leia a seguir a entrevista completa.
Correio da Cidadania: A ideia do ‘precariado’ é um dos temas de análise de seu último livro ‘A política do Precariado’ – do populismo à hegemonia lulista. O que você destacaria como essencial na apreensão deste conceito e o que o motivou a desenvolvê-lo?
Ruy Braga: O conceito sociológico de precariado já
vem sendo utilizado por alguns sociólogos de forma bastante intensa na
Europa, em especial na França e Inglaterra, a fim de se pensar a
formação daquilo que eles próprios denominam uma classe social de novo
tipo. E o que seria uma classe social de novo tipo? Seria aquele
conjunto de indivíduos progressivamente expulsos da proteção do Estado
de bem estar social, tendo em vista o avanço do neoliberalismo e o
aprofundamento da crise econômica.
Significa que, com base nas políticas de ajuste, em especial as
chamadas e debatidas políticas de austeridade impostas pela troika (mas,
antes disso, com base nas políticas de ajuste que viabilizaram a
criação da União Europeia como unidade econômica, a implantação do euro,
o Tratado de Maastricht e tudo o que envolvia o contexto da expansão do
neoliberalismo), houve uma diminuição da chamada proteção social, ou da
amplitude de aplicação dos direitos sociais na Europa.
A flexibilização da contratação de trabalhadores – que em Portugal se
dá via contratos livres, que são aqueles feitos via Pessoa Jurídica
(PJ), de prestação de serviços – acaba produzindo uma diminuição muito
grande do impacto da proteção trabalhista, em especial nos setores mais
jovens dos trabalhadores. É a ampliação daquela franja desprotegida do
mercado de trabalho, que cresceu nos anos 90 e se tornou muito vistosa e
saliente agora, por conta do aprofundamento da crise econômica
europeia. De modo que se identifica essa nova classe social, formada
pelos indivíduos que sofrem a diminuição da proteção social na Europa.
E quanto à motivação para este estudo, havia uma inquietação da minha
parte com relação a tal diagnóstico. Porque, olhando as coisas de uma
perspectiva brasileira ou mesmo norte-americana, vemos que, a rigor, a
insegurança é a regra, sempre foi assim. No Brasil é regra
historicamente estabelecida, através da insegurança do mercado e dos
trabalhadores. Eu olhava para aquela discussão e percebia problemas,
que, diga-se de passagem, têm a ver basicamente com certa sobreavaliação
do papel histórico do chamado compromisso socialdemocrata do
pós-Segunda Guerra. Este compromisso foi de fato muito eficiente pra
proteger aquela fração branca, masculina, nacional, sindicalizada e
adulta da classe trabalhadora. Mas, evidentemente, não foi tão eficiente
assim pra proteger a parcela feminina, jovem, imigrante, não
qualificada e não sindicalizada – mesmo na classe trabalhadora européia,
durante o auge do fordismo. O fordismo socialdemocrata também sempre
teve seus descontentes. Mas isso não era muito discutido, não era tão
exuberante, já que se tratava de trabalhadores periféricos.
A partir de certo momento, essa franja periférica cresceu muito, e
daí vem o precariado. O precariado é nada mais nada menos que a boa e
velha superpopulação relativa da qual já falava Marx, ou seja, aquela
fração da classe trabalhadora composta majoritariamente por aqueles que
entram e saem muito rápido do mercado por falta de qualificação - aquela
parcela rural ou da informalidade, setores formados por jovens no
primeiro emprego e aqueles que têm ocupações tão degradantes que os
obrigam a produzir de forma anormal, ou seja, vender sua força de
trabalho abaixo de seu valor. São todos esses fatores somados.
O que tentei fazer foi uma leitura construtivista, do ponto de vista
da sociologia marxista, dessa parte da classe trabalhadora que podemos
chamar de proletariado precarizado. Procurei separar setores mais
qualificados da classe trabalhadora daqueles setores pauperizados (ou
lumpenizados) e populares, e concentrar a análise neste proletariado
precarizado, formado pelo conjunto de frações da classe trabalhadora. A
isso chamei de precariado, aquela classe trabalhadora permanentemente
pressionada pelo aumento da atual exploração capitalista e a ameaça de
exclusão social.
Correio da Cidadania: Partindo deste olhar, como tem
enxergado, de modo geral, o mundo do trabalho no Brasil, especialmente
no que diz respeito à condução de políticas e medidas nas áreas
trabalhista e sindical nestes dois últimos anos sob o governo de Dilma
Rousseff?
Ruy Braga: Eu argumento no livro que o precariado é
uma parte fundamental do mundo do trabalho no Brasil. Fundamental
especialmente a partir dos anos 90, em função de uma profunda
reestruturação produtiva, com integração da economia brasileira à
economia internacional, através da liberalização comercial e financeira,
mas também pelo fato de que foi a década da multiplicação das formas de
contratação, quando tivemos o aprofundamento da precarização. Foi a
década do desemprego.
Temos, assim, um manto bastante saliente, notável, do setor
precarizado da classe trabalhadora. Viu-se um aumento da informalização,
seguido de aumento do desemprego, da exploração, das formas de contrato
por tempo determinado, enfim, essas formas não canônicas de contratação
- a despeito de a década de 2000 representar certa guinada em algumas
tendências, em especial, notavelmente, da informalização, já que esta
década foi de maior formalização do trabalho. Apesar disso, o aumento da
formalização foi acompanhado do aumento das taxas de volatilidade do
trabalho, de flexibilização, da precarização, da terceirização e,
consequentemente, do aumento daquele que é o aspecto mais visível da
deterioração das condições reais de consumo da força de trabalho, isto
é, o aumento dos acidentes e mortes no trabalho.
Percebo que, apesar desse processo de formalização dos anos 2000,
temos a reprodução da centralidade de tal precariado no mercado de
trabalho brasileiro, que acaba se tornando o principal mecanismo de
ajuste anticíclico das empresas, contratando à vontade e consumindo a
força de trabalho em condições muito duras. Intensificam turnos e assim
têm uma espécie de fórmula de ajuste, com a volatilidade da demanda
concentrada especialmente sobre essa fração precarizada do proletariado
brasileiro.
Na transição do governo Lula para o governo Dilma, não tivemos
grandes novidades do ponto de vista do mercado de trabalho, que continua
relativamente estável, a despeito das ameaças de demissão de 2011.
Estas ameaças foram contornadas por políticas específicas do governo,
principalmente desonerações da folha de alguns setores estratégicos, que
consomem muito trabalho, como notoriamente o faz a construção civil. A
não ser no contexto da famosa desaceleração econômica, o que
evidentemente coloca mais pressão sobre o desemprego e pressiona as
empresas a demitirem, não temos percebido um mercado de trabalho muito
diferente do que era no governo Lula.
Do ponto de vista sindical, a partir de 2008, percebe-se nitidamente
uma elevação do número de greves no Brasil. Tem-se uma retomada da
mobilização grevista, que, diga-se de passagem, se acentuou de 2010 para
2011, com um aumento de 27% do número de greves. Algumas delas de
abrangência nacional, como a dos bancários e dos Correios. Foram greves
longas e com pautas bastante agressivas, exigindo reajustes reais,
ganhos e participações, melhorias da condição de trabalho, com forte
adesão dos seus trabalhadores. Acredito que esta seja uma tendência para
os próximos anos, até porque é uma tendência que vem de 2008.
Portanto, acredito que o futuro aponta para uma retomada da mobilização grevista.
Correio da Cidadania: Ainda neste sentido, um dos registros
profundos de seu último livro diz respeito ao processo de concessões
reais que embasam aquela que é chamada de ‘hegemonia lulista’,
basicamente calcada em um consentimento passivo das bases sociais e em
um consentimento ativo por parte das direções sindicais. Nesta linha de
raciocínio, o que teria a dizer quanto ao atual patamar das lutas
trabalhistas e sindicais e a direção para a qual têm apontado?
Ruy Braga: Eu costumo dizer que o precariado se
encontra relativamente satisfeito com o modo de regulação lulista, isto
é, com as políticas públicas. Mas, quando nota as relações de trabalho,
percebe os limites do modelo de desenvolvimento pilotado por essa
burocracia lulista e setores oriundos dos sindicatos.
O argumento é simples: o precariado se sente relativamente integrado
pelas políticas públicas (Bolsa-família, aumento do salário mínimo,
ampliação do sistema federal de ensino superior, políticas de ampliação
do crédito consignado), através de um progresso material relativo e a
desconcentração da renda. O precariado percebe tais questões.
Mas, ao mesmo tempo, se dá conta de que, a despeito de tudo isso,
aumenta também o endividamento das famílias trabalhadoras. Apesar de
existir emprego, é de baixa qualidade; apesar da formalização, ganha-se
muito mal. Pra se ter uma ideia, durante o governo Lula foram criados
2,1 milhões de empregos por ano. Porém, destes, 94% (2 milhões)
remuneram até 1,5 salário mínimo, ou seja, até 980, 1000 reais. São
muitos empregos, mas remuneram muito mal, porque não se requer uma força
de trabalho qualificada e sequer é necessária uma qualificação
especial. Absorve-se bastante gente, mas em condições degradantes, com
salários ruins.
O precariado percebe esta situação, pois a vive no dia a dia. Assim,
desenvolve uma relação ambígua com o conjunto do modelo de
desenvolvimento formado pelo modo de regulação e o nível de exploração.
Esse é o meu argumento.
Correio da Cidadania: Como analisa o nível de inserção
sindical, auto-organização e também leitura da realidade dessa parte
mais precarizada de nossa classe trabalhadora?
Ruy Braga: O nível histórico de sindicalização da
classe trabalhadora brasileira é baixo, historicamente baixo, em
especial em setores privados da economia. Se encontrarmos setores com
10%, 15%, de sindicalização, já pode ser considerado muito elevado. Isso
mudou profundamente na última década, quando, com o aumento do emprego
formal, aumentou-se também o nível de sindicalização. Porém, ainda tem
baixo impacto.
Mas o ponto que considero mais importante da questão diz respeito
basicamente ao processo de reorganização sindical. Porque, afinal de
contas, com um sindicato integrado à estrutura de governo, pelo fato de
ter acontecido uma certa fusão entre sindicalismo e Estado, os
trabalhadores se veem inseridos numa relação que é mais ou menos a
seguinte: por um lado, não podem colocar muita pressão nos governos,
porque são aliados; por outro, têm de satisfazer reivindicações de suas
bases, pois o sindicalismo está lá pra isso e quem está no comando pode
ser substituído numa eleição interna – deixando de lado, obviamente, a
questão do gangsterismo sindical.
No entanto, o fato é que o poder sindical precisa de consentimento
das bases, o que tem colocado pressão sobre alguns setores, até mesmo do
sindicalismo governista. Isso pôde ser percebido na greve nacional
bancária, na greve dos Correios, e em várias questões que dirigiram
greves de outros trabalhadores. E mesmo sindicalistas lulistas,
governistas, se veem pressionados em suas bases e precisam dar resposta -
afinal, representar os interesses das bases é uma questão elementar do
sindicalismo.
De todo modo, essa integração sindicatos-Estado coloca uma série de
problemas. Se pegarmos os dados de greve, vemos que ela é muito forte no
BB e na Caixa. E a negociação tende a ser bem mais favorável aos
trabalhadores quando a economia cresce a 4%, 5% ao ano, como ocorreu até
2008, diferente de agora, com um crescimento na casa de 1,5%, 1,6%.
Essa diferença se viu entre os governos Lula e Dilma. O governo que
espera crescer 1% ou 2% ao ano vai endurecer a negociação, em comparação
ao que ocorre quando a economia crescia 6%, 7%. Tal fato tem
acrescentado tensões dentro do sindicalismo, o que vem levando a uma
relativa reorganização do movimento sindical, com o reaparecimento de
algumas centrais descoladas do governismo, como a Conlutas e a
Intersindical.
Temos uma reacomodação do sindicalismo brasileiro e uma dinâmica mais tensa no sindicalismo governista.
Correio da Cidadania: Tomando os conflitos sociais de forma
mais abrangente, o ano de 2012 marca-se de forma relevante por uma série
de confrontos, envolvendo, além dos movimentos grevistas de categorias
sindicais, a luta pelos direitos indígenas, movimentações sociais em
várias esferas e embates das periferias urbanas pela conquista e/ou
reconquista de seus direitos. O que poderia dizer sobre 2012 neste
quesito e, principalmente, da forma com que os vários níveis de governo,
municipal, estadual e federal, têm enfrentado tantas e legítimas
demandas sociais?
Ruy Braga: Os governos estaduais e municipais são um
desastre total. Governos que militarizaram o conflito social, colocaram
a PM pra reprimir famílias de trabalhadores, como no Pinheirinho,
enviaram 400 policiais pra desocupar uma reitoria ocupada por 70
estudantes, entre outras repressões policiais. É desastroso do ponto de
vista social. Isso evidentemente vai cobrar seu preço, haja vista que em
São Paulo já cobrou, com o governo municipal tendo sido conquistado
pela oposição petista. E acho que o mesmo acontecerá no nível estadual, a
fatura vai ser cobrada.
Isso porque as condições de vida e inserção da classe trabalhadora
nas cidades e locais de trabalho são muito precárias, devemos ressaltar.
A despeito do que ocorreu no mercado de consumo, por conta da relativa
desconcentração de renda, as condições de vida são muito limitadas, o
que não tem mudado significativamente. Em alguns casos tem piorado, e
muito.
Portanto, temos um aumento de consumo e, ao mesmo tempo, condições de
vida e trabalho muito degradantes. E evidentemente nada será resolvido
com PM atirando bala de borracha em família de trabalhador. Trata-se de
uma forma absolutamente desastrosa, trágica e equivocada de se lidar com
a questão social.
O governo federal é um pouco diferente no quesito, mas também não
vejo avanços realmente significativos nessa esfera de poder. Não existe
reforma agrária séria, por exemplo. Pelo contrário, o governo federal
legalizou terras griladas, esqueceu demandas históricas por terra e,
através do Ministério das Cidades, fez muito pouco em termos de
legalização de terras ocupadas.
Assim, não sou muito otimista quanto à relação entre governos e movimentos, em questões como moradia e luta pela terra.
Correio da Cidadania: 2012 foi também um ano de eleições
municipais. O que os resultados dos pleitos municipais de 2012
enunciaram, a seu ver, quanto ao andamento e composição das forças
políticas de nosso país?
Ruy Braga: Acredito que houve uma vitória do
governismo, consolidando a hegemonia lulista nesse campo da sociedade,
na versão micro, mais próxima do cidadão. Mas temos alguns movimentos
contraditórios. Eu chamaria a atenção para que os setores populares,
plebeus, mais empobrecidos, de fato procuram alternativas. Aqui em São
Paulo houve a visibilidade estrondosa da candidatura Russomanno,
especialmente em regiões periféricas, o que mostra certa disposição da
parcela mais popular em buscar alternativas àquelas que são as opções
mais tradicionais, representadas no caso por Haddad e Serra. O
desempenho eleitoral do PSOL também mostra um pouco disso, uma
aproximação de setores mais plebeus a opções mais descoladas do establishment,
inclusive em São Paulo. Os eleitores do Russomanno mantiveram a postura
de procurar alguém mais permeável a suas demandas, de modo que
repassaram seus votos para o Haddad no segundo turno.
Estabeleceu-se uma hegemonia lulista, mas ela se reproduz em terreno não tão firme quanto se acredita.
Correio da Cidadania: Inescapável é a constatação de que 2012
se encerra também marcado pelo chamado mensalão. O que este episódio,
com toda visibilidade e repercussão de que foi alvo, te diz a respeito
de nosso contexto político?
Ruy Braga: O mensalão representa um pouco a
constatação de que a política está muito igual, ou seja, o vale-tudo
político-institucional absorve as mais diferentes forças políticas e
sociais e equaliza tudo por baixo. O mesmo esquema de compra de votos
utilizado pelo governo FHC foi também usado pelo PT, e com os mesmos
operadores. Com isso, temos um nivelamento por baixo da política.
O grande problema é que a população não vê muitas alternativas, até o
momento, a essa polaridade. Todo mundo sabe que é mais ou menos tudo
farinha do mesmo saco. Mas o PT se destaca mais pelas políticas sociais e
públicas, com uma interlocução maior com o movimento sindical e
popular, o que evidentemente o coloca muito à frente do PSDB nesse
quesito. O PT consegue representar e empunhar uma agenda (a despeito de
todos os seus limites) da diminuição da desigualdade social. O PSDB não
consegue fazer isso porque é tradicionalmente o partido da desigualdade.
De todo modo, prevalece a noção do vale-tudo eleitoral, que equaliza
todo mundo por baixo - o cenário fica sem muita diferença. Assim, entre
as opções existentes, a população se atrai mais para o lado de quem se
apresenta com uma agenda de diminuir um pouco a desigualdade.
Correio da Cidadania: Pensando um pouco em termos mundiais,
estamos diante do que se pode chamar de repique da crise de 2008, com a
evidente e atual desaceleração da economia mundial, impactando a Europa
de modo avassalador, e já reverberando notavelmente nos países em
desenvolvimento, entre eles, o Brasil. Como vê esse cenário e o que
pensa da conduta do governo Dilma na condução da política econômica
interna, essencialmente no que diz respeito ao caráter das medidas que
vêm sendo tomadas para evitar uma desaceleração maior da economia?
Ruy Braga: A crise mundial é muito intensa e o
modelo de desenvolvimento brasileiro durante os anos 2000 foi se
deslocando aceleradamente para aqueles que hoje são os principais
motores da acumulação de capital no país: bancos, mineração,
agronegócio, petróleo, siderurgia, construção civil... Muitos deles
dependem notoriamente do mercado internacional. Agronegócio e mineração,
dois motores importantes, dependem efetivamente de encomendas externas.
Com uma recessão mundial estabelecida, a economia brasileira é
obviamente atingida. O governo tentou por um tempo aplicar medidas
anticíclicas apoiadas no crédito, o que teve seu fôlego, mas, a partir
de certo momento, começou a claudicar, pois as pessoas começaram a se
intimidar e ver que não iriam conseguir pagar suas dívidas. O governo
modificou, portanto, tal agenda, não radicalmente, mas acrescentando os
investimentos em infraestrutura. Nos últimos quatro, cinco anos, a
partir de 2008, isso se intensificou, com anúncios de obras de
infraestrutura, integração da malha viária, qualificação dos portos,
construção de barragens, concessão de aeroportos...
São medidas importantes, mas não têm capacidade de, por si mesmas,
equacionarem o grande problema de uma economia com as características da
brasileira, isto é, o investimento capitalista. O principal investidor é
o próprio governo, através do BNDES. Fora ele, o investimento privado é
muito baixo. O investidor privado efetivamente não se arrisca, até
porque não precisa, além de buscar remunerações bastante generosas.
Agora que a taxa de juros tem caído, o investidor se sente mais obrigado
a investir o dinheiro, mas continua covarde. O que, então, acontece
hoje? O governo não consegue seduzir o investidor privado, que por sua
vez não é capaz de equacionar sozinho o problema do investimento no
país.
A realidade é que crescemos pouco. Não estamos em recessão, mas
vivemos um momento de flagrante desaceleração econômica, no qual
praticamente só se vê um único jogador em campo, o governo. E ele não é
capaz de resolver sozinho o problema.
Qual a solução? Ou se nacionalizam os grandes meios de produção, com a
estatização dos grandes intermediários financeiros ou... Vai ser
difícil.
Correio da Cidadania: Você possui uma visão esperançosa das
movimentações sociais que vêm rondando o mundo, desde a primavera árabe
até a grande quantidade de movimentos ‘Occupy’ que têm varrido diversos
países, passando por alguns protestos massivos na Europa?
Ruy Braga: Eu costumo citar Antonio Gramsci, sendo
muito pessimista na razão e otimista na vontade. Sinceramente, não
coloco muita esperança nos movimentos ‘Occupy’, muito espontaneístas e
pouco orgânicos. A primavera árabe é um processo diferente, no qual a
palavra final não foi dada ainda, mas que ocorre num contexto muito
contraditório, com várias forças internacionais assumindo protagonismo a
partir de dado momento. Na Europa, sou mais otimista com as
movimentações dos trabalhadores e da juventude, mas vejo grandes
barreiras nacionais.
Assim, é necessário internacionalizar tais lutas, especialmente na
Europa, onde há mais base para tal. Mas não tem ocorrido este contexto.
Os trabalhadores gregos lutam na Grécia, os trabalhadores espanhóis
lutam na Espanha... Não há até, o momento pelo menos, o desenvolvimento
de um internacionalismo mais agudo e radical. Minha esperança é de que
não fique assim, que haja uma internacionalização das lutas, em escala
regional no caso da Europa, e em escala mundial, acrescentando-se EUA,
países árabes, latinos...
Correio da Cidadania: Finalmente, 2012 acaba sob forte
desaceleração econômica e 2014 é ano de Copa e eleições presidenciais. O
que você espera pra 2013, no sentido de medidas a serem tomadas pelo
governo para sanear as contas públicas e promover crescimento, visto o
reduzido espaço que terá para empreender tais tarefas no ano seguinte?
Ruy Braga: O governo ainda tem mecanismos, bala na
agulha pra gastar. O BNDES é um dos maiores bancos do mundo, o governo
tributa muito fortemente, tem condições de reforçar mecanismos
anticíclicos...
Quanto aos direitos trabalhistas, a pressão por flexibilização é
grande, haja vista as propostas que têm pipocado, como o Acordo Coletivo
Especial (onde deve prevalecer o negociado sobre o legislado), pressões
do empresariado por desonerações em todos os setores, com impacto sobre
a previdência, pressões pela diminuição do “custo Brasil”,
flexibilização em contratações...
É o que eu digo, o mercado de trabalho brasileiro é excessivamente
flexível, não é pouco, longe disso. O trabalhador precisa de mais
direitos, não menos. Só que não vejo muita decisão do governo de atacar
tal problema, pelo contrário. Se for aprovado o acordo especial,
acredito que o princípio do acordado sobre o legislado, que vigoraria a
partir de então, vai diminuir ou eliminar direitos para a grande parcela
dos trabalhadores que não são representados nos sindicatos fortes.
Ao mesmo tempo, não vejo, como disse, disposição do governo em
ampliar direitos trabalhistas. Afinal, passamos todo o período de
crescimento econômico nos anos Lula sem ver nenhum novo direito
acrescentado. Acho que há um único ponto que foge à regra histórica de
não criação de novos direitos, que é a legislação sobre a empregada
doméstica, a ser discutida e votada. Esta talvez seja a única iniciativa
do governo que possa eventualmente ser alinhada aos ganhos de direitos.
Fora isso, do ponto de vista dos direitos sociais e trabalhistas,
tivemos uma era perdida.
Valéria Nader, jornalista e economista, é editora do Correio da Cidadania; Gabriel Brito é jornalista.
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Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
sexta-feira, 28 de dezembro de 2012
2012: acirram-se os conflitos, face a uma era perdida para os direitos sociais e trabalhistas
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governo federal,
Historia,
inclusão social
quarta-feira, 26 de dezembro de 2012
Michael Löwy: "Sem indignação, nada de grande e significativo ocorre na história humana"
Nesta entrevista à Fundação Oswaldo Cruz, no
Brasil, o investigador do Centre National de la Recherce Scientifique
(CNRS) diz que a dinâmica de movimentos como o dos “Indignados” é de uma
crescente radicalização anticapitalista, embora nem sempre de forma
consciente.
As revoluções sempre tomam formas imprevistas, inovadoras, originais.
Michael Löwy esteve no Brasil no final de 2012 para lançar o livro ‘A
teoria da revolução no jovem Marx', que foi publicado em 1970 na França e
só agora tem uma edição em português.
Durante a sua estada no país, participou de muitos eventos e falou
sobre temas diversos, como literatura e a questão ecológica. Nada que
surpreenda no perfil de um pesquisador que circula com desenvoltura
entre o estudo dos clássicos e a análise da conjuntura atual, e isso sem
abrir mão da militância política de esquerda. Nesta entrevista, ele
lança mão dos conceitos que aprendeu com os clássicos – principalmente
Marx e Walter Benjamin – para discutir a crise que o capitalismo
atravessa e os movimentos reivindicatórios que têm surgido em diferentes
cantos do mundo. Além disso, explica os princípios e limitações da
ideia de ‘ecossocialismo', com a propriedade de ter sido um dos autores
do Manifesto que defende essa bandeira.
Brasileiro residente na França desde 1969, Löwy é diretor de pesquisas
do Centre National de la Recherce Scientifique (CNRS) e responsável por
um seminário na Écoles de Hautes Études en Sciences Sociales. Só em
português, é autor de mais de 20 livros.
Como a teoria da revolução do jovem Marx, de que trata o seu
livro, nos ajuda a entender o momento atual, com mobilizações de
indignados no Estado espanhol, Grécia e vários outros países da Europa,
além de movimentos de ‘ocupação' em vários locais do mundo? Esses são
movimentos anticapitalistas?
Os movimentos de ‘Indignados' opõem-se às políticas ditadas pelo
capital financeiro, pela oligarquia dos bancos e aplicadas por governos
de corte neoliberal, cujo principal objetivo é fazer com que os
trabalhadores, os pobres, a juventude, as mulheres, os pensionistas e
aposentados – isto é, 99% da população – paguem a conta pela crise do
capitalismo. Esta indignação é fundamental. Sem indignação, nada de
grande e de significativo ocorre na história humana. A dinâmica destes
movimentos é de uma crescente radicalização anticapitalista, embora nem
sempre de forma consciente. É no curso de sua ação coletiva, de sua
prática subversiva, que estes movimentos poderão tomar um caráter
radical e emancipador. É o que explicava Marx na sua teoria da
revolução, inspirada pela filosofia da práxis.
Marx escreveu no século XIX. As revoluções socialistas a que
assistimos aconteceram no século 20. O que a realidade trouxe de
diferente na forma como se concretizaram e na forma como se entende
revolução nos séculos 19, 20 e 21?
As revoluções sempre tomam formas imprevistas, inovadoras, originais.
Nenhuma se assemelha às anteriores. A Comuna de Paris (1871) foi um
formidável levante da população trabalhadora da grande cidade e a
Revolução Russa foi uma convergência explosiva entre proletariado urbano
e massas camponesas. Nas demais revoluções do século 20, desde a
Mexicana de 1911 até a Cubana de 1959, ou nas revoluções asiáticas
(China, Vietname), foram os camponeses o principal sujeito do processo
revolucionário. Não podemos prever como serão as revoluções do século
21: sem dúvida, não repetirão as experiências do passado. Por outro
lado, existe o que Walter Benjamin chamava de ‘a tradição dos
oprimidos': a experiência da Comuna de Paris inspirou a Revolução Russa e
é ainda até hoje um exemplo de autoemancipação revolucionária das
classes subalternas.
Com a crise capitalista de 2008 e o movimento de intervenção
dos Estados para salvar a economia dos países, acreditou-se que a era
neoliberal havia chegado ao fim. No entanto, tem sido intensificada cada
vez mais a destruição dos direitos conquistados com o Estado de
Bem-Estar Social, como temos visto acontecer na Europa (França, agora
Espanha...). O que isso significa?
A intervenção dos Estados não significou de forma alguma o fim do
neoliberalismo. O único objetivo desta intervenção era salvar os bancos,
resgatar a dívida e assegurar os interesses dos mercados financeiros.
Para este objetivo, foram sacrificadas conquistas de dezenas de anos de
lutas dos trabalhadores: direitos sociais, serviços públicos, pensões e
aposentadorias, etc. Para a lógica de chumbo do capitalismo neoliberal,
tudo isto são ‘despesas inúteis'.
Um debate antigo da esquerda é sobre a relação entre revolução e
reforma. O contexto do final do século 20 e do início do século 21, com
situações como, por exemplo, a vitória eleitoral de partidos de
esquerda na América Latina e mesmo em alguns países da Europa recolocam
essa questão. Como analisa essa relação hoje?
Rosa Luxemburgo já havia explicado, em seu belo livro ‘Reforma ou
Revolução?' (1899), que os marxistas não são contra as reformas; pelo
contrário, apoiam qualquer reforma que seja favorável aos interesses dos
trabalhadores: salário mínimo, seguro médico, seguro desemprego, por
exemplo. Simplesmente, lembrava ela, não podemos chegar ao socialismo
pela acumulação gradual de reformas; só uma ação revolucionária, que
derruba o muro de pedra do poder político da burguesia, pode iniciar uma
transição ao socialismo. O problema da maioria dos governos de
centro-esquerda, seja na Europa ou na América Latina, é que as
‘reformas' que aplicam são muitas vezes de corte neoliberal:
privatizações, regressões no estatuto dos pensionistas, etc. Tratam-se
de variantes do social-liberalismo, que aceitam o quadro económico
capitalista mas, contrariamente ao neoliberalismo reacionário, têm
algumas preocupações sociais. É o caso dos governos Lula-Dilma no
Brasil. Temo que no caso da França (François Hollande, recentemente
eleito), nem a isto chegue...
Um desafio dessa esquerda que chegou ao poder na América Latina
tem sido equacionar a dependência econômica da exploração de recursos
naturais (como o petróleo na Venezuela e o gás natural na Bolívia) com a
tentativa de superação da lógica capitalista de destruição do meio
ambiente. Na sua opinião, essa equação é possível?
Contrariamente aos governos social-liberais, os da Venezuela, Bolívia e
Equador têm levado adiante uma verdadeira rutura com o neoliberalismo,
enfrentando as oligarquias locais e o imperialismo. Mas dependem, para a
sua sobrevivência económica, e para financiar os seus programas
sociais, da exploração de energias fósseis – petróleo, gás –, que são os
principais responsáveis pelo desastre ecológico que ameaça o futuro da
humanidade. É difícil exigir destes governos que deixem de explorar
estes recursos naturais, mas eles poderiam utilizar uma parte do
rendimento do petróleo para desenvolver energias sustentáveis – o que
fazem muito pouco. Uma iniciativa interessante é o projeto ‘Parque
Yasuni', do Equador, proposta dos movimentos indígenas e dos ecologistas
assumida, após algumas hesitações, pelo governo de Rafael Correa.
Trata-se de preservar uma vasta região de florestas tropicais, deixando o
petróleo embaixo da terra, mas exigindo, ao mesmo tempo, que os países
ricos paguem metade do valor (9 mil milhões de dólares) deste petróleo.
Até agora, não houve iniciativas comparáveis na Venezuela ou na Bolívia.
A crítica à destruição do meio ambiente como intrínseca ao capitalismo já estava presente na obra de Marx?
Muitos ecologistas criticam Marx por considerá-lo um produtivista,
tanto quanto os capitalistas. Tal crítica parece-me completamente
equivocada: ao fazer a crítica do fetichismo da mercadoria, é justamente
Marx quem coloca a crítica mais radical à lógica produtivista do
capitalismo, à ideia de que a produção de mais e mais mercadorias é o
objetivo fundamental da economia e da sociedade. O objetivo do
socialismo, explica Marx, não é produzir uma quantidade infinita de
bens, mas sim reduzir a jornada de trabalho, dar ao trabalhador tempo
livre para participar da vida política, estudar, jogar, amar. Portanto,
Marx fornece as armas para uma crítica radical do produtivismo e,
notadamente, do produtivismo capitalista. No primeiro volume de O
Capital, Marx explica como o capitalismo esgota não só as energias do
trabalhador, mas também as próprias forças da Terra, esgotando as
riquezas naturais, destruindo o próprio planeta. Assim, essa perspetiva,
essa sensibilidade está presente nos escritos de Marx, embora não tenha
sido suficientemente desenvolvida.
O Manifesto Ecossocialista, que o sr. ajudou a escrever em
2001, diz que o capitalismo não é capaz de resolver a crise ecológica
que ele produz. Como o sr. analisa as soluções a esse problema que vêm
sendo apresentadas pelo capitalismo, como é o caso da economia verde?
A assim chamada ‘economia verde', propagada por governos e instituições
internacionais (Banco Mundial, etc), não é outra coisa senão uma
economia capitalista de mercado que busca traduzir em termos de lucro e
rentabilidade algumas propostas técnicas ‘verdes' bastante limitadas.
Claro, tanto melhor se alguma empresa trata de desenvolver a energia
eólica ou fotovoltaica, mas isto não trará modificações substanciais se
não for acompanhado de drásticas reduções no consumo das energias
fósseis. Mas nada disto é possível sem romper com a lógica de competição
mercantil e rentabilidade do capital. Outras propostas ‘técnicas' são
bem piores: por exemplo, os famigerados ‘biocombustíveis' que, como bem
diz Frei Betto, deveriam ser chamados de ‘necrocombustíveis', pois
tratam de utilizar os solos férteis para produzir uma pseudogasolina
‘verde', para encher os tanques dos carros – em vez de comida para
encher o estômago dos famintos da terra.
É possível implementar uma perspetiva como a do ecossocialismo no capitalismo?
O ecossocialismo é anticapitalista por excelência. Como perspetiva,
implica a superação do capitalismo, já que se propõe como uma
alternativa radical à civilização capitalista/industrial ocidental
moderna. Por outro lado, a luta pelo ecossocialismo começa aqui e agora,
na convergência entre lutas sociais e ecológicas, no desenvolvimento de
ações coletivas em defesa do meio ambiente e dos bens comuns. É através
destas experiências de luta, de auto-organizaçâo, que se desenvolverá a
consciência socialista e ecológica.
A perspectiva ecossocialista pressupõe uma crítica à noção de progresso. Em que consiste essa crítica?
Walter Benjamin insistia, com razão, que o marxismo precisa libertar-se
da ideologia burguesa do progresso, que contaminou a cultura de amplos
setores da esquerda. Trata-se de uma visão da história como processo
linear, de avanços, levando, necessariamente, à democracia, ao
socialismo. Estes avanços teriam sua base material no desenvolvimento
das forças produtivas, nas conquistas da ciência e da técnica. Em rutura
com esta visão – pouco compatível com a história do século 20, de
guerras imperialistas, fascismo, massacres, bombas atómicas –,
precisamos de uma visão radicalmente distinta do progresso humano, que
não se mede pelo PIB [Produto Interno Bruto], pela produtividade ou pela
quantidade de mercadorias vendidas e compradas, mas sim pela liberdade
humana, pela possibilidade, para os individuos, de realizarem suas
potencialidades; uma visão para a qual o progresso não é a quantidade de
bens consumidos, mas a qualidade de vida, o tempo livre - para a
cultura, o ócio, o desporto, o amor, a democracia - e uma nova relação
com a natureza. Para o ecossocialismo, a emancipaçâo humana não é uma
‘lei da história', mas uma possibilidade objetiva.
Quais as principais diferenças entre o ecossocialismo e a forma
como o socialismo real lidou com os problemas ambientais? E a
socialdemocracia, conseguiu construir alternativas a essa lógica
destrutiva do capital?
O assim chamado ‘socialismo real' - muito real, mas pouco socialista -
que se instalou na URSS sob a ditadura burocrática de Stalin e seus
sucessores tratou de imitar o produtivismo capitalista, com resultados
ambientais desastrosos, tão negativos quanto os equivalentes no
Ocidente. O mesmo vale para os outros países da Europa Oriental e para a
China. As intuições ecológicas de Marx foram ignoradas e se levou a
cabo uma forma de industrialização forçada, copiando os métodos do
capitalismo. A social-democracia é um outro exemplo negativo: nem tentou
questionar o sistema capitalista, limitando-se a uma gestão mais
‘social' de seu funcionamento. Mesmo nos países em que governou em
aliança com os partidos verdes, a social-democracia não foi capaz de
tomar nenhuma medida ecológica radical. O ecossocialismo corresponde ao
projeto de um socialismo do século 21, que se distingue dos modelos que
fracassaram no curso do século 20. Ele implica uma rutura com o modelo
de civilização capitalista e propõe uma visão radicalmente democrática
da planificação socialista e ecológica.
terça-feira, 25 de dezembro de 2012
Fórum Social Temático: Um Fórum que é Social só no nome
(*) Erick da Silva
Foi anunciada oficialmente a realização, em Porto Alegre, do Fórum
Social Temático (FST) com início marcado para o dia 27 de janeiro.
Claramente promovido e organizado pela prefeitura de Porto Alegre, em um primeiro momento, algum desavisado poderá pensar que Porto Alegre, mais uma vez, será palco de um evento ligado ao Fórum Social Mundial (FSM). Infelizmente, esta não é a realidade. Teremos sim um evento, que de forma oportunista, tenta se utilizar do simbolismo e prestígio do FSM, mas com um sentido político muito diverso, para dizer o mínimo. Mas quais seriam estas diferenças que o distanciam do “espírito de Porto Alegre” presentes no FSM?
Claramente promovido e organizado pela prefeitura de Porto Alegre, em um primeiro momento, algum desavisado poderá pensar que Porto Alegre, mais uma vez, será palco de um evento ligado ao Fórum Social Mundial (FSM). Infelizmente, esta não é a realidade. Teremos sim um evento, que de forma oportunista, tenta se utilizar do simbolismo e prestígio do FSM, mas com um sentido político muito diverso, para dizer o mínimo. Mas quais seriam estas diferenças que o distanciam do “espírito de Porto Alegre” presentes no FSM?
“Um outro mundo é possível”, sob esta insignia, o FSM representou um
importante momento de virada na luta e resistência contra o
neoliberalismo. A “Carta de Princípios do Fórum Social Mundial”, define
que: “O Fórum Social Mundial é um espaço plural e diversificado, não
confessional, não governamental e não partidário, que articula de forma
descentralizada, em rede, entidades e movimentos engajados em ações
concretas, do nível local ao internacional, pela construção de um outro
mundo.” Esta diversidade foi a maior virtude do FSM, em um momento onde
se buscava superar o refluxo das esquerdas a partir da ascensão do
neoliberalismo, o FSM de Porto Alegre foi um espaço de grande
importância, mesmo com todas as dificuldades e limites, para colaborar
na reorganização e avanço da resistência contra o neoliberalismo.
Este sentido político do FSM está ausente do FST proposto pela
prefeitura de Porto Alegre, aliás, este é um elemento problemático com
relação à concepção deste evento: à centralização da organização pela
prefeitura e à ausência de um envolvimento das organizações da sociedade
civil e dos movimentos sociais, salvo aquelas com relação mais estreita
com a administração municipal. A composição das entidades que estão no
comitê do FST, junto com a prefeitura, é revelador de uma opção política
conservadora.
Coordenado pela Força Sindical, conta com apoio de representantes do
velho sindicalismo “pelego” como a Nova Central Sindical, a UGT, etc e
outras entidades pouco afeitas as lutas sociais, como a presença da loja
maçônica do Grande Oriente do RS. Pode se argumentar que o FSM sempre
caracterizou-se pela diversidade, mas esta diversidade se fazia forte a
partir dos elementos comuns que a unificava, como a crítica ao
neoliberalismo e à construção de um “outro mundo”, o que não se coloca
nesta composição.
O FST está sendo proposto sem uma estreita articulação junto ao
Comitê Internacional do FSM e a agenda global que está sendo construída
para 2013, tendo em março o FSM na Tunísia, como destaque. O que é
revelador da concepção do FST como um mero evento, não enquanto parte de
um processo político. A participação do sindicato patronal das empresas
de turismo do RS na organização é autoexplicativa.
Retira-se o conteúdo político e contestador que compõe a essência do
FSM e o mantém apenas como um simulacro. Algo vazio, oco e desprovido de
todo e qualquer sentido político de caráter transformador. A exemplo do
que a atual gestão da prefeitura já havia feito com o Orçamento
Participativo, mantido formalmente, mas esvaziado politicamente,
desprovido de toda a centralidade que teve em outros tempos.
É nítido que este espaço do Fórum Social Temático será “Social”
apenas no nome, sem guardar nenhuma relação ou compromisso efetivo com o
FSM. Fica o alerta a todas e todos aqueles que construíram e se
identificam com o FSM sobre o que está em jogo. O risco da vulgarização e
esvaziamento do FSM em Porto Alegre é um perigoso processo que pode
enfraquecer um importante espaço político de resistência, o que não
podemos permitir que ocorra.
(*) Graduando em história e blogueiro http://www.aldeiagaulesa.net/
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movimentos sociais
Na Fase-RS, a juventude que a sociedade não vê também tem sua noite de Natal
Rachel Duarte no SUL21
Esperança, Solidariedade e Fé. Talvez em poucos lugares estas
palavras, comuns em época de Natal, façam tanto sentido quanto no local
onde adolescentes em conflito com a lei vivem privados de liberdade. No
mundo à margem das festas com ceias fartas e troca de presentes, jovens
entre 12 e 18 anos acabam confrontados de forma solitária com o reflexo
do que fizeram na rua. Para alguns internos da Fundação de Atendimento
Sócio Educativo (Fase-RS) o Natal é também a única oportunidade de uma
reunião em família. Antes da internação, a data era mais uma
oportunidade para farras, álcool, drogas e quem sabe mais um crime.
Os mais de 800 adolescentes da Fase-RS convivem diariamente com a
possibilidade de uma renovação das esperanças de poder voltar para casa e
com a ansiedade de retomar a vida que tinham antes da internação. É na
época do Natal, como para muitas pessoas que vivem em liberdade, que as
emoções ficam afloradas. “Eles ficam muito sensíveis. Alguns ficam mais
quietos do que o habitual. Outros se agitam mais e ficam muito ansiosos.
Na noite de Natal é comum ao apagar das luzes uma pedalada coletiva nas
portas das celas”, conta Terezinha Pires, funcionária com 28 anos de
Fase.
O colega Jovaldoir Lanza, que já passou dois natais trabalhando na
Fase, conta que é impossível ficar indiferente ao assistir o desespero
de alguns adolescentes. “Essas emoções podem levar a atos mais sérios. A
gente também se imagina com a nossa família nesta hora. Não passamos o
Natal com eles para estar ali (na Fase), muitas vezes com medo de um possível motim”, fala.
Mas o espírito natalino fortalece o sentimento de solidariedade e fé
dos profissionais que se dedicam a fazer mais do que o trabalho de
servidor público. Enquanto os adolescentes do Centro de Convivência da
Fase participavam de uma festa de Natal (no dia em que esta matéria foi
produzida), Terezinha, Jovaldoir e outros colegas que promovem oficinas
profissionalizantes aos adolescentes confeccionavam com disposição 50
peças de gesso como lembrança de Natal para os internos. “Eles não
sabem. Por isso estamos dando uma corrida para aprontar tudo hoje”,
contou Terezinha enquanto passava um verniz na peça.
O presente é uma mensagem com a Bênção da Casa. “Nesta casa não virá
tristeza, nesta moradia não virá sofrimento, nesta porta não virá temor.
Neste lar não virá discórdia, neste lugar haverá somente bênção e paz”,
Terezinha fez questão de ler para reportagem. Mas também salientou que
tanto o presente quanto a decoração de pinheiro de Natal e presépio da
unidade não foram impostos. “Aqui temos jovens com muitos credos.
Respeitamos todos e sempre que alguma entidade vem realizar alguma
atividade é bem-vinda”, conta.
A fábrica da ‘Mamãe Noel’ não produz brinquedos
Ao lado do local onde ocorrem as oficinas, a unidade Padre Cacique
reserva uma história de persistência e devoção que chega a evocar algum
milagre natalino. Há nove anos, uma sócio-educadora se dedica a
recuperar os adolescentes por acreditar na possibilidade de um mundo
melhor para eles longe do crime. Rosane Maciel conseguiu começar uma
oficina de fabricação de produtos de limpeza e higiene depois de
sucessivas tentativas de convencimento das diferentes direções da
Fase-RS. Hoje, é na produção dos produtos químicos caseiros que ela
ensina valores diferentes dos que eles aprenderam até chegar à
internação. “É algo que me gratifica. Para mim o sentido de estar aqui é
esse. Fazer algo a mais”, diz.
Com a produção de mil litros de detergentes, amaciantes,
desinfetantes e alvejantes por oficina, ela auxilia na garantia de uma
fonte de renda aos internos contratados para seis meses de trabalho.
Parte dos produtos é para a limpeza da própria Fase-RS; o restante é
destinado para venda dentro do complexo. “Vendemos para funcionários. Os
guris com possibilidade de atividade externa vão na Kombi comigo
percorrer as unidades e vender os produtos”, explica Rosane. A renda
média gira em torno de R$ 150 a R$ 200 reais por mês. Um funcionário da
unidade é o encarregado de controlar o dinheiro dos adolescentes e fazer
as compras do que eles desejam adquirir. Geralmente, a primeira coisa
que eles querem fazer é comprar um tênis de marca. Algo que será um
sonho realizado neste Natal para o jovem T.L, de 17 anos, que começou em
dezembro a participar da oficina. “Eu vou dar de entrada no Nike que eu
quero”, fala.
Antes de conseguir apoio para a realização da oficina de produtos
químicos, Rosane Maciel tentou várias outras atividades por não
conseguir aceitar a falta de opções para ocupação dos adolescentes em
cumprimento de medida socioeducativa. “Quando eu entrei aqui achei que
ia mudar o mundo e que iria conseguir retirar todo mundo do crime”,
disse, causando risadas entre os adolescentes que estavam na sala da
oficina.
Ao descrever a batalha para conseguir o apoio da direção, adquirir os
primeiros materiais da empresa de bases químicas e aprender a preparar
os produtos — algo que ela não sabia fazer antes de começar a oficina –,
a sócio-educadora causou outras reações além do riso nos adolescentes.
“Bah, dona”, impressionou-se o jovem T.L.
Todos os natais Rosane prefere passar junto aos adolescentes para a
intranquilidade dos filhos e da família. Ela já testemunhou três motins
na Fase nesta época do ano, onde em um deles foi refém de um grupo
disposto a fugir. “Eu já vi nestes anos muita coisa. Temos que ter
esperança”, diz.
O adolescente M.V, de 17 anos, reincidente na Fase e há mais tempo na
oficina, conta que costuma enviar os produtos de limpeza que fabrica
para a mãe, em Osório. Este será o segundo Natal que passa privado de
liberdade e ele espera poder passar de outra maneira os próximos.
“Quando eles (familiares) vêm é muito sofrimento. Mas isso tudo
a gente não pensa na hora da loucura. É ruim estar longe da família,
mas cada um é responsável pelas suas escolhas. Eu estou sofrendo as
minhas consequências”, afirma
M.V está migrando da oficina de produtos químicos para um trabalho de
carteira assinada no Banrisul, por meio da iniciativa oferecida pela
Secretaria Estadual de Justiça e Direitos Humanos. Ele espera conseguir
manter a esperança de não ‘cair’ pela terceira vez na internação. “Eu
vou tentar. A esperança é a última que morre”, diz.
Internação é oportunidade para Natal em família
Os adolescentes internados na unidade Padre Cacique são oriundos de
fora de Porto Alegre, o que torna a oficina de trabalho remunerado uma
oportunidade para as famílias estarem com os adolescentes. “Alguns
enviam dinheiro para casa, outros já pagaram para trazer os pais no dia
do Natal. É um dinheiro que ajuda nestas pequenas coisas, mas ensina a
lutar e trabalhar para consegui-lo”, acredita.
O adolescente J.R, 17 anos, irá passar o primeiro Natal privado de
liberdade e diz que será o primeiro que irá compartilhar com a família.
“Natal lá fora a gente não passa com a família. A gente passava em casa
só para dar um Feliz Natal. Depois saíamos para curtir. Lá fora, a gente
não pensava em nada”, conta o jovem, que mudou a vida aos 13 anos
quando se envolveu com o tráfico de drogas.
“Não gosto de comentários sobre os crimes que eles fizeram. Não gosto
nem que conversem entre eles. Aqui são todos iguais para mim. A gente
sempre orienta sobre outros valores. Claro que santo de casa não faz
muito milagre. Porém, sempre temos a esperança de que eles assimilem
alguma coisa”, diz a sócio-educadora Rosane Maciel.
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domingo, 23 de dezembro de 2012
Os EUA constroem um búnker subterrâneo no valor de 100 milhões de dólares numa base secreta de mísseis israelita
Mais
um elemento sobre a colaboração EUA/Israel na preparação das condições
para a escalada da guerra no Médio-Oriente. Uma coisa é certa: sempre
que o imperialismo toma medidas de defesa, é garantido que está a
preparar o ataque. Não lhe basta a tragédia há décadas vivida na zona:
tenciona ampliá-la, admitindo até um cenário de utilização de armamento
nuclear.
Há
alguns dias Walter Pincus informou no The Washington Post que o Corpo
de Engenheiros do Exército dos EUA solicitou a apresentação de propostas
com o fim de encontrar empreiteiros com garantias de segurança máxima
para construir uma instalação militar subterrânea no valor de 100
milhões de dólares para o exército israelita. O que segue é a descrição
do projecto:
O Corpo de Engenheiros do Exército dos EUA planeia a supervisão da construção de uma instalação subterrânea de cinco níveis para um complexo das Forças de Defesa de Israel, com o estranho nome de Instalação 911, numa Base da Força Aérea israelita próxima de Tel Aviv.
Espera-se que a construção demore mais de dois anos, a um custo de até 100 milhões de dólares. Terá salas de aulas no Nível 1, um auditório no Nível 3, um laboratório, portas resistentes ao impacto, protecção contra radiação não ionizante e uma segurança muito estrita. Todos os trabalhadores na construção darão garantias de segurança, haverá guardas na vedação e estará separada do resto da base por barreiras.
O artigo assinala também que no passado o Corpo já construiu instalações para mísseis nucleares de Israel. Portanto, não deveria surpreender-nos que uma fonte israelita de alto nível afirme que o local para este projecto é a base israelita de mísseis de máximo segredo Sdot Micha, localizada próximo de Beit Shemesh (a uns 24 quilómetros de Jerusalém). É aí que se encontra a frota de ICBM (mísseis com armas nucleares Jericó). O local é tão secreto que várias passagens de um artigo de 2010 al respeito em Yediot foram censurados. Provinha directamente do amplamente acessível sítio na web Global Security. Os censores costumam ser célebres pela sua subtileza, e muito menos pelo seu senso comum.
O Corpo de Engenheiros do Exército dos EUA planeia a supervisão da construção de uma instalação subterrânea de cinco níveis para um complexo das Forças de Defesa de Israel, com o estranho nome de Instalação 911, numa Base da Força Aérea israelita próxima de Tel Aviv.
Espera-se que a construção demore mais de dois anos, a um custo de até 100 milhões de dólares. Terá salas de aulas no Nível 1, um auditório no Nível 3, um laboratório, portas resistentes ao impacto, protecção contra radiação não ionizante e uma segurança muito estrita. Todos os trabalhadores na construção darão garantias de segurança, haverá guardas na vedação e estará separada do resto da base por barreiras.
O artigo assinala também que no passado o Corpo já construiu instalações para mísseis nucleares de Israel. Portanto, não deveria surpreender-nos que uma fonte israelita de alto nível afirme que o local para este projecto é a base israelita de mísseis de máximo segredo Sdot Micha, localizada próximo de Beit Shemesh (a uns 24 quilómetros de Jerusalém). É aí que se encontra a frota de ICBM (mísseis com armas nucleares Jericó). O local é tão secreto que várias passagens de um artigo de 2010 al respeito em Yediot foram censurados. Provinha directamente do amplamente acessível sítio na web Global Security. Os censores costumam ser célebres pela sua subtileza, e muito menos pelo seu senso comum.
A instalação subterrânea construída pelos EUA será edificada à prova
de armas nucleares, de modo que possa resistir a um ataque com armas de
destruição massiva de um inimigo de Israel. Isso permitiria que o
sistema de comando e controlo de mísseis de Israel se mantenha
operacional mesmo nas condições de um possível ataque massivo e
devastador. Segundo esta fonte, as FDI [exército israelita] já têm um
centro de comando à prova de armas nucleares por debaixo de Kirya, a sua
sede em Tel Aviv.
Como é sabido que Israel e os EUA se espiam um ao outro, considero
que extraordinário que Israel confie nos EUA para construir uma das suas
instalações militares mais confidenciais. De facto, tenho pessoalmente
conhecimento de que o FBI interceptou durante anos a embaixada israelita
em Washington D.C. A Mossad vem operando há décadas nos EUA ¿Por que
não teme Israel que os EUA façam o mesmo no caso destas instalações?
Uma resposta pode ser que o projecto é financiado pelo programa de
Vendas Militares ao Estrangeiro dos EUA, o que quer dizer que o nosso
governo financia o projecto sem encargos para o contribuinte israelita.
No caso de Israel, a economia triunfa sobre a própria segurança.
Há que preguntar: ¿de que inimigo se defende Israel ao construir este complexo? Como o projecto tardará dois anos a ficar concluído, isto será aproximadamente quando uma série de analistas crê que o Irão poderá ter capacidade nuclear se decidir criar uma arma.
Há que preguntar: ¿de que inimigo se defende Israel ao construir este complexo? Como o projecto tardará dois anos a ficar concluído, isto será aproximadamente quando uma série de analistas crê que o Irão poderá ter capacidade nuclear se decidir criar uma arma.
Neste caso poderia haver duas considerações:
1. Israel prevê que o Irão terá armas de destruição massiva em 2014.
2. Israel prevê atacar o Irão em algum momento após a conclusão do Bunker subterrâneo.
Só pode haver um motivo para construir uma instalação semelhante: a protecção contra um ataque inimigo. Só há um inimigo que poderia pressupor uma ameaça semelhante para Israel: o Irão. De entre os inimigos actuais de Israel, só o Irão (para além da Síria, que está distraída pelos seus próprios problemas internos) tem capacidade de lançar mísseis de largo alcance contra ele. Ainda que actualmente não possa armá-los com uma ogiva nuclear, é concebível (na opinião de Israel) que esta situação mude. Por isso é crítico que Israel mantenha a sua própria capacidade nuclear para lançar um ataque e/ou responder a um ataque inimigo.
1. Israel prevê que o Irão terá armas de destruição massiva em 2014.
2. Israel prevê atacar o Irão em algum momento após a conclusão do Bunker subterrâneo.
Só pode haver um motivo para construir uma instalação semelhante: a protecção contra um ataque inimigo. Só há um inimigo que poderia pressupor uma ameaça semelhante para Israel: o Irão. De entre os inimigos actuais de Israel, só o Irão (para além da Síria, que está distraída pelos seus próprios problemas internos) tem capacidade de lançar mísseis de largo alcance contra ele. Ainda que actualmente não possa armá-los com uma ogiva nuclear, é concebível (na opinião de Israel) que esta situação mude. Por isso é crítico que Israel mantenha a sua própria capacidade nuclear para lançar um ataque e/ou responder a um ataque inimigo.
Uma vez que parece extremadamente improvável que os dirigentes
iranianos lancem um ataque preventivo contra Israel, e certamente não um
ataque nuclear, a construção de semelhante fortaleza indica que Israel
prevê ele próprio a realização deste ataque e que tem que assegurar que
as suas forças militares críticas permanecem intactas após uma reacção
iraniana.
Mesmo que o nome de código do projecto 911 [acrónimo para 11-S] seja
uma coincidência, é palpável o sentimento de um Armagedão iminente.
Também há que assinalar que os três inimigos más formidáveis de Israel,
Hezbollah, Hamas e Irão, têm consideráveis complexos militares
subterrâneos. Pode admitir-se que Gilad Shalit tenha sido mantido em
semelhantes búnkeres durante o seu cativeiro, e os altos dirigentes do
Hamas retiram-se para complexos semelhantes durante os ataques
israelitas, como o do mês passado.
Uma das tácticas mais efectivas do Hezbollah foi o uso de túneis que
as FDI desconheciam para atacar as tropas israelitas a partir de
diversos quadrantes com um efeito devastador. O Irão também enterrou a
sua instalação avançada de enriquecimento de uranio Fordow sob 100
metros de montanha. Esta protecção impede que Israel destrua o local a
menos que obtenha as bombas rebenta-búnkeres de 14 toneladas
estado-unidenses. Portanto, Israel (juntamente com os seus adversários)
está a colocar a sua infra-estrutura militar mais crítica e os seus
sistemas de armamento debaixo de terra a fim de que possam resistir a
uma possível sabotagem ou ataque frontal.
Pincus menciona algumas exigências religiosas verdadeiramente
estranhas que são especificadas na solicitação da apresentação de
propostas. Especifica as mezuzás :
O Corpo desenvolve uma detalhada descrição das mezuzás que o empreiteiro deve fornecer “para cada porta ou abertura com excepção dos serviços higiénicos ou cabines de duche” no edifício da Instalação 911. Uma mezuzá é um pergaminho com versos da Torá em hebreu, colocado num estojo e fixado na moldura da porta de uma casa de família judia como sinal de fé. Alguns interpretam que la lei judia requer –como neste caso– que em cada porta de uma casa seja fixada uma mezuzá.
O Corpo desenvolve uma detalhada descrição das mezuzás que o empreiteiro deve fornecer “para cada porta ou abertura com excepção dos serviços higiénicos ou cabines de duche” no edifício da Instalação 911. Uma mezuzá é um pergaminho com versos da Torá em hebreu, colocado num estojo e fixado na moldura da porta de uma casa de família judia como sinal de fé. Alguns interpretam que la lei judia requer –como neste caso– que em cada porta de uma casa seja fixada uma mezuzá.
Essas mezuzás, assinala o Corpo, “devem ser escritas em tinta
indelével, em […] pergaminho de coiro sem revestimento” e escritas à mão
por um escriba “possuidor de uma autorização escrita segundo a lei
judia.” A escrita pode ser “asquenaze ou sefardita” mas “não uma
mistura” e “deve ser uniforme”.
Também, “as mezuzás devem ser revistas por um computador numa
instituição autorizada para a inspecção de mezuzás, bem como revistas
manualmente no que diz respeito à forma das letras por um revisor
autorizado pelo Rabinato Principal”. A mezuzá será fornecida com um
estojo de alumínio com orifícios para que possa ser fixada à moldura da
porta ou da abertura. Finalmente, “todas as mezuzás para a instalação
serão fixadas pelo rabi da Base ou pelo seu representante nomeado e não
pelo pessoal do empreiteiro”.
Francamente, nunca ouvi falar de alguma diferença entre mezuzás
sefarditas ou asquenazes, nem de alguma diferença entre os estilos de
escrita de uma tradição em relação à outra. O Parece mais que isto se
terá baseado em informação inexacta sobre rituais judeus ou em
interpretação errónea de alguma coisa que as FDI tenham indicado ao
Corpo.
Mas, para além disso, sinto-me confiante ao saber que Deus, por meio
deste poderosos amuletos religiosos, estará a proteger o povo judeu e
seus defensores militares. A única interrogação que fica é ¿que
divindade é mais poderosa: o Jeová judeu ou o Alá chiíta do Irão? ¿Mas
não ofereceu Moisés um só Deus aos judeus? Que diria se visse agora o
seu povo criar um Deus para Nós e outro Deus para Eles?. Espero que lhe
provocasse tanto horror como me provoca a mim.
Richard Silverstein escreve o blog Tikun Olam que examina temas
relacionados com a segurança nacional de Israel, os direitos humanos, e
as ameaças contra a democracia israelita.
Este artículo foi publicado originalmente em Anti War
Fonte: http://www.informationclearinghouse.info/article33205.htm
Fonte: http://www.informationclearinghouse.info/article33205.htm
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sexta-feira, 21 de dezembro de 2012
Golpe: a CNTE está abandonando a defesa do reajuste do piso para favorecer o governo federal, governadores e prefeitos
*Josenildo Vieira de Mello
No
apagar das luzes, no final de ano, a CNTE golpeia a luta pela aplicação
do Piso do Magistério, isso depois de ter corretamente lutado há anos
em sua defesa e conquistado por meio de sucessivas mobilizações o Piso
Salarial dos Profissionais do Magistério da Educação Básica Pública,
assegurado no artigo 5º da Lei no 11.738/08, que estabelece:
Art.
5º - “O piso salarial profissional nacional do magistério público da
educação básica será atualizado, anualmente, no mês de janeiro, a partir
do ano de 2009”. Parágrafo único. A atualização de que trata o caput
deste artigo será calculada utilizando-se o mesmo percentual de
crescimento do valor anual mínimo por aluno referente aos anos iniciais
do ensino fundamental urbano, definido nacionalmente, nos termos da Lei no 11.494, de 20 de junho de 2007.”
A CNTE dá um passo atrás
Após este artigo ter gerado mais uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN) de no 4.848,
quando os governadores pedem a suspensão do critério do calculo atual,
de forma retroativa e sugerem o INPC, como mecanismo do reajuste do
piso, a CNTE, de forma conservadora e sem nenhum diálogo com a base das
entidades fechou posição que vai contra a política de valorização da
categoria garantida através do artigo 5º da Lei 11.738/08, abrindo um
precedente absurdo na luta histórica dos profissionais do magistério
público da educação básica em defesa da valorização profissional,
aumentando a dívida histórica que os governos têm para com o conjunto da
categoria.
Em reunião com o Conselho
Nacional de Entidades, no dia 19 de setembro de 2012, no Recife- PE, a
CNTE aprovou uma proposta, no mínimo absurda pela posição política que
ela representa, contrapondo ao artigo 5º da Lei, baseado no argumento da
crise financeira que passam os municípios, os estados e a União, com
dificuldades de manter a atual política de valorização da categoria e a
grande possibilidade do cálculo passar a ser feito pelo INPC, de acordo
com o Projeto de Lei nº 4.375/12, propondo assim, aplicação do valor do
INPC + 50% do crescimento da receita agregado do FUNDEB, alegando que
esta proposta supera todas as demais, como a do custo aluno ano ou a da
variação do INPC, além de assegurar um ganho real permanente, mesmo na
crise financeira, tendo ainda como preservar a capacidade financeira dos
entes federados.
De que lado estão
os dirigentes da CNTE e das entidades de base filiadas com esta tomada
de posição, que vai contra todas as lutas e mobilizações dos últimos 30
anos de nossa categoria?
Como
justificar para os profissionais do magistério a renuncia do avanço da
Lei 11.738/08, no seu artigo 5º, em contraposição a esta postura que se
alinha mais as reivindicações dos governadores e prefeitos, além de
reduzir os gastos públicos com a educação?
A
CNTE não buscou chamar uma discussão com a base dos profissionais do
magistério nas suas entidades e já no dia 30/10/2012, em uma reunião de
emergência com a UNDIME e Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos
Deputados, chegaram a um consenso em cima da posição da Confederação,
que para Daniel Cara, Coordenador Geral da Campanha Nacional pelo
Direito à Educação, foi muito positiva: “um dos principais méritos da
nossa proposta coletiva é que ela permitirá, entre 7 a 10 anos, que o
piso do Magistério alcance, ao menos, um patamar equivalente ao salário
mínimo do DIEESE, que calcula uma remuneração capaz de garantir todas as
necessidades do consumo para viabilizar um padrão mínimo de qualidade
de vida. E esse é um importante passo”. Pura desfaçatez!
Ora,
se as metas 17 e 18 do Plano Nacional de Educação dizem que os
profissionais do magistério da educação básica, devem ter uma
valorização para equiparar seus salários ao rendimento médio dos demais
profissionais com escolaridade equivalente (hoje está em torno de R$
3.432,02), com essa nova proposta que é contrária a estas duas metas, em
07 a 10 anos, o Piso Salarial do Magistério ficará em torno de R$
2.616,41 (dois mil, seiscentos e dezesseis reais e quarenta e um
centavos), ou seja, provocará uma perda salarial de aproximadamente mil
reais ao magistério em poucos anos. Se tomarmos como referência o
cálculo do reajuste de 2013, que em vez de ser de 21.75%, que é a
variação da média do custo aluno ano dos últimos dois anos, os reajustes
passariam a ser de 12,71%, sendo 5,5% do INPC e 7,21% da média das
receitas do FUNDEB, que em 2012 foi de 14,42%, claramente gerando um
grande retrocesso no campo da valorização profissional e uma perda
salarial inadmissível.
Esta proposta
foi apresentada ao presidente da Câmara dos Deputados, Deputado Marcos
Maia (PT) no dia 31/10/2012 e que deverá receber ajustes finais para ser
anunciada à Presidente Dilma, para que possa ser transformada em uma
medida provisória, que tirará inclusive a eficácia a ADIN no 4.848
interposta pelos governadores. Ela teve o apoio da Frente Nacional dos
Prefeitos (FNP), UNDIME (União Nacional dos Dirigentes Municipais de
Educação) e a CONSED (Conselho Nacional dos Secretários Estaduais de
Educação), todos representantes patronais dos entes federados, além da
Campanha Nacional pelo Direito a Educação, uma organização não
governamental que representa os mais variados interesses, principalmente
dos grupos econômicos que financiam suas atividades e dos
representantes da Comissão de Educação e Cultura da Câmara, formada por
representantes do Governo e da oposição e que em nada divergem da atual
política de investimento de recursos públicos na educação.
A
proposta da CNTE, que teve consenso de todos os demais que integram a
Comissão de Educação encarregada de discutir os reajustes da categoria
junto ao MEC, pegou a todos de surpresa. É uma política de conciliação
entre as esferas da federação e os representantes dos trabalhadores da
educação básica pública, o que para nós e entidades sindicais
representativas deste segmento de trabalhadores e os próprios
profissionais do magistério, não pode ser admitida. Trata-se de uma
capitulação escancarada às políticas de ajustes fiscais impostas pela
equipe econômica do Governo Dilma. Os professores e profissionais da
educação não podem ser penalizados para supostamente garantir aos
governos sobras de recursos públicos, que com certeza, irão ser
canalizados para a corrupção ou desviados para finalidades obscuras,
além de ajudar fazer o país atingir a meta do Superávit Fiscal Primário,
encomendada pelos organismos financeiros internacionais, como o FMI .
Lutar e barrar esse retrocesso
Esse
famigerado acordo construído pela CNTE e seus “parceiros”, fará com que
os governos das três esferas entrem com a “corda”, e nós trabalhadores
na educação com o “pescoço”. Já tivemos grandes perdas salariais em
2009, 2010 e 2011, e por sinal estamos buscando nossos direitos na
justiça, exatamente para assegurar os reajustes negados pelos governos,
em especial o Governo Federal, o principal descumpridor da lei, que não
assegurou o reajuste correto do Piso desde a sua implantação em 2008
conforme determina o artigo 5º da Lei 11.738/08, do qual agora a
CNTE quer abrir mão, tentando desconstruir este direito já assegurado em
Lei.
A CNTE precisa rever a sua
posição e retirar esta proposta indecente da mesa de negociação sobre o
reajuste salarial do Piso Salarial Profissional Nacional do Magistério e
fazer valer o critério já está assegurado na Lei 11.738/08. Temos que
lutar para não haver recuo financeiro em relação à garantia de
valorização nos percentuais do custo aluno ano, que por sinal, nos
países desenvolvidos, ultrapassa dez mil reais. Sem essa batalha não
teremos garantidas as condições de assegurar aos nossos filhos o mínimo
de direitos. Não teremos educação pública e gratuita.
A
única saída para mantermos a política de valorização dos Profissionais
do Magistério da Educação Básica é chamar à Greve Geral Nacional destes
trabalhadores. Só assim poderemos assegurar a correção do Piso conforme
determina a Lei e garantir, ao longo dos próximos oito anos, a
equiparação salarial aos demais profissionais com a formação
equivalente.. Esta luta tem que chegar a todas as regiões e rincões do
Brasil, dando um norte político a partir de políticas reivindicativas,
organizativas e de lutas, trazendo assim, avanços econômicos e sociais e
garantindo melhores condições de trabalho para com isso assegurar uma
educação verdadeiramente gratuita, publica e de boa qualidade para todos
os filhos e filhas dos trabalhadores e para a maioria do povo.
A
CNTE tem que cumprir o papel para a qual foi criada, a defesa
intransigente dos direitos já assegurados à nossa categoria e a busca de
avanços e novas conquistas. Ela não foi criada para desenvolver um
papel de correia de transmissão ou braço sindical dos governos que
sempre negaram a valorização dos profissionais do Magistério e
desprezaram a educação pública e gratuita no Brasil. Estes governos que a
CNTE quer salvar sempre representaram os interesses das elites
econômicas e políticas que sempre deixaram a educação pública ao descaso
e ao relento, como se fosse um mal necessário para manter os explorados
e oprimidos subjugados. Queremos o direito humano universal de uma
educação pública, gratuita e de qualidade para todos.
Ao
se encerrar o ano letivo a categoria deve se preparar para a luta no
ano que vem e desde já denunciar o engodo realizado pela CNTE!
Sindicato é pra lutar e não para conciliar!
Os trabalhadores não pagarão pela crise! Que a paguem os patrões!
* Josenildo é Coordenador Geral do SINDUPROM-PE e militante da Esquerda Marxista
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segunda-feira, 17 de dezembro de 2012
TV Globo e os terroristas do campo
Por Altamiro Borges
Em outubro de 2009, integrantes do MST ocuparam
uma fazenda grilada pela empresa Cutrale no município de Iaras (SP). Revoltados
com a lentidão da reforma agrária, ativistas destruíram pés de laranja com
tratores. Apesar da direção do movimento ter criticado a iniciativa, a cena foi
superexplorada pela mídia ruralista. A TV Globo, já em campanha para a sucessão
de 2010, reproduziu o vídeo inúmeras vezes. Ontem, porém, ela silenciou sobre uma
ação terrorista dos ruralistas em terras indígenas no Mato Grosso.
Segundo relato dos jornalistas Daniel Carvalho e Juca
Varella, na Folha deste domingo, os fazendeiros que invadiram ilegalmente
terras dos índios xavantes Marãiwatsédé, na cidade Alto da Boa Vista (MT),
utilizaram métodos terroristas para sabotar ontem uma ação de despejo liderada
por agentes do Incra e da Polícia Federal. “Eles usam táticas de guerrilha
contra forças federais para tentar impedir despejo, queimam ponte, bloqueiam
estrada e armam um ataque frustrado”. A emboscada poderia até ter causado
mortes.
Emboscada e coquetéis molotov
Os grileiros chegaram a fabricar coquetéis molotov. “Quem
está com bomba fica desse lado. Quem não está fica desse outro”, dizia um
deles, de cima de uma caminhonete. “Era uma emboscada para os agentes de
segurança. A ideia era atacá-los e depois tocar fogo ao caminhão com a mudança,
em protesto. Um produtor da região, de cerca de 60 anos, puxou conversa com os
jornalistas. Em tom jocoso, questionou se o repórter não estaria disposto a ‘pegar
umas pedras’ e se juntar aos manifestantes”, descrevem os repórteres.
Ainda segundo os jornalistas, “a tensão ia aumentando. Uns,
mais preocupados, diziam: ‘Dessa vez não vai ser bala de borracha’. Um homem
retrucou: ‘Mas aqui também tem [bala de verdade]’. De repente, as luzes se
apagaram. A escuridão era quebrada apenas pelos faróis do comboio de 20 carros
de polícia que se aproximava. Um grupo de quatro manifestantes se aproximou do
primeiro carro, de onde saíram quatro soldados armados. ‘Nem mais um passo,
senão a gente atira’, gritou um soldado da Força Nacional”.
A seletividade da mídia ruralista
“O barril de pólvora que se armou na região não havia
explodido até a conclusão desta reportagem, mas a disposição de quem está em
Posto da Mata deixava claro que pode ser apenas uma questão de tempo. ‘Vai
morrer homem, mulher. Estou disposto a morrer pelo que tenho’, dizia Odemir
Perez”. A invasão da reserva dos Marãiwatsédé foi planejada por ricaços
ruralistas, que alistaram pequenos produtores e contam com o apoio de políticos
da direita. Dom Pedro Casaldáliga há muito denuncia o clima de tensão na
região.
O conflito, porém, nunca foi destaque na mídia ruralista.
Quando da ocupação da fazenda grilada da Cutrale em 2009, jornais, revistas e
emissoras de tevê fizeram um baita escândalo. Eles ajudaram a criar o clima
para a instalação da CPI do MST, visando criminalizar o movimento dos
trabalhadores rurais sem-terra. Agora, a mídia nada fala sobre a ação
terrorista dos ruralistas no Mato Grosso. Nem sequer um vídeo no Jornal
Nacional da TV Globo. E ainda tem gente que acredita na neutralidade da
imprensa burguesa!
domingo, 16 de dezembro de 2012
Mercado solidário na Suíça. Quando Natal rima com solidariedade
Sergio Ferrari
Colaborador de Adital na Suiça. Colaboração E-CHANGER
Tradução:ADITAL
- ONG de cooperação e migrantes juntos sob o mesmo teto
- "Que a população desfavorecida também possa festejar”
Esse ano, o Natal começou antes na Suíça. De 13 de dezembro até o sábado, 15, mais de 30 associações de cooperação e de solidariedade com o Sul animam o mercado solidário. Uma forma nova de antecipar as festas.
- ONG de cooperação e migrantes juntos sob o mesmo teto
- "Que a população desfavorecida também possa festejar”
Esse ano, o Natal começou antes na Suíça. De 13 de dezembro até o sábado, 15, mais de 30 associações de cooperação e de solidariedade com o Sul animam o mercado solidário. Uma forma nova de antecipar as festas.
Produtos
e comidas provenientes da América Latina, da África e da Ásia; um clima festivo
e de encontro intercultural; cerca de 2 mil visitantes esperados durante os
três dias; mais de 30 mil francos de benefício projetado. Em síntese, um
exercício ativo de solidariedade.
Após
a primeira jornada "já percebemos que esse sexto mercado será novamente coroado
com um êxito total”, expressa Maxime Gindroz, responsável de comunicação da
Federação de Cooperação do Cantão de Vaud (Fedevaco). Recordando o slogan que
motivou a atividade: "para que o Natal seja também uma festa para a população desfavorecida
do Sul”.
Com
essa filosofia de referência, a Fedevaco, junto com o Centro de Animação
Cultural Polo Sul, promovem uma vez mais, como há seis anos, esse espaço de
encontro, festejo e vendas, assegurando a participação de ONGs e associações
sustentadas por cooperantes ou projetos em diferentes países. Desde o Equador
até a Índia, passado pelo Peru, Brasil, Tibet, Togo, Madagascar, Marrocos,
Serra Leoa ou Palestina.
Um
carrossel de culturas com um ponto de encontro comum e a perspectiva de promover
uma relação de proximidade "entre migrantes que vivem na Suíça e os povos do
Sul, aproximando essa dupla realidade à população do Cantão de vaud”, enfatiza
Fabio Cattaneo, responsável animador de Polo Sul, o local anfitrião, localizado
no bairro de Flon, em pleno centro de Lausanne.
Um
posto da Bolsa de Trabalho, ativa associação de apoio aos migrantes,
particularmente no setor da formação de mulheres, "agrega um valor especial a
esta edição”, enfatiza o responsável por Polo Sul ao avaliar a contribuição intercultural
dessa inovadora iniciativa.
Para Cattaneo, esse mercado solidário "constitui uma
ponte adicional de encontro” do mundo da cooperação ao desenvolvimento e das
comunidades migrantes. "Todo esse processo de preparação; o trabalho de
instalar o mercado e os três dias partilhando espaços comuns permitem aproximar
realidades, conhecer-se melhor e promover novas sinergias com vistas o futuro”.
Na concepção do responsável pelo Centro Intercultural, a vivência dos
imigrantes que chegam a Suíça e a Europa e a de suas comunidades de origem
–muitas vezes beneficiárias da cooperação- constituem duas caras de um mesmo
espelho social.
O mercado natalino solidário é uma importante
iniciativa, "um espaço privilegiado que permite confluir ideias, utopias e
atividades muito práticas, como oferecer uma comida típica de um país distante
ou vender um produto autóctone do Sul, que se converterá em um presente muito
especial para celebrar as festas”, insiste.
‘Vidraça’ do Sul
As organizações "estamos convencidas da contribuição
que há em oferecer às pessoas da Suíça o típico de outras culturas, abrindo uma
janela especial no Cantão de Vaud a realidades muito distantes”, enfatiza
Maxime Gindroz, que reconhece também para a importância de valorizar a tarefa
de cooperação ao desenvolvimento promovida pela Fedevaco e pelas organizações
que a integram.
Apesar de que uma prioridade essencial de "nosso
trabalho é chegar à classe política, sensibilizando-a sobre a cooperação, abrir
esses espaços adicionais ao grande público é também transcendente”, reflete.
Facilitar que se conheça o diferente reduz medos infundados e diminui as
distâncias e incompreensões,
Gindroz ressalta dois aspectos significativos do
evento: o contínuo fluxo em aumento do público a cada ano desde o começo do
primeiro mercado, em 2006. E a forte presença, também em crescimento, de
jovens, muitos dos quais têm entre 20 e 25 anos. "Eles manifestam um interesse
particular em conhecer melhor a realidade de outros povos e culturas”, explica.
Ao avaliar saltos qualitativos em relação às edições
anteriores, Gindroz não duvida em enumerar vários elementos. O vídeoclipde apresentação do mercado solidário 2012, que permitiu fazer uma publicidade
ativa nas redes sociais. O apoio midiático do jornal Le Courrier, cuja
linha editorial é particularmente sensível à temáticas do Sul. A mobilização de
um público cada vez mais numeroso e interessado. Sem menosprezar o próprio
resultado econômico do mercado solidário, que permite reforçar projetos
latino-americanos, asiáticos e/ou africanos.
Dinâmica de participação cidadã, segundo Gindroz, que
"fecha um 2012 muito positivo para as ONGs suíças, devido ao aumento do
orçamento oficial destinado à cooperação ao desenvolvimento, resultado da
mobilização da sociedade civil suíça que anos atrás impulsionou com êxito a
petição ‘Unidos contra a Pobreza’, exigindo esse incremento.
[Sergio
Ferrari, em colaboração com swissinfo.ch e E-CHANGER, membro da Fedevaco].
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