sexta-feira, 24 de julho de 2009

A China e os turcos...

A questão turca na China: o ocidente do oriente




Escrito por Isaac Bigio

Xinjiang em julho de 2009, assim como o Tibete em 2008, viu vários enfrentamentos sangrentos entre nativos e imigrantes urbanos provenientes do resto da China. Ambas são as duas regiões autônomas nas quais se divide o oeste da República Popular da China (RPC). Pequim promoveu a imigração de chineses Hans a essas zonas pouco povoadas, a fim de i-las homogeneizando.

Mesmo assim, no ‘oeste do leste’ as nações nativas têm tradições mais afins às de seus vizinhos da Ásia central que às da distante capital Pequim. As línguas, alfabetos e autoridades religiosas dali são diferentes em relação ao resto da China.

Os tibetanos têm um idioma e um alfabeto desenvolvido pelos lamas, cuja fé budista é proveniente da Índia.

Os uigures de Xinjiang se originaram nas tribos turcas das planícies da Ásia central que hoje dominam o arco que une Sibéria, o noroeste chinês, cinco ex-repúblicas soviéticas e a Turquia. Essas nações turcas compartilham uma língua similar (e escrevem com caracteres ocidentais ou arábicos) e muitas delas também aderem ao Islã sunita. O ocidente trata de influir sobre Xinjiang e Tibete para pressionar o gigante que vai se potencializando no Oriente.

Hans

Um de cada 5 humanos é han. Os 1,3 bilhão de hans são a maior etnia que o mundo já conheceu. Sua população é maior que a de continentes inteiros, como os das Américas, Europa e África.

Os hans possuem línguas, crenças e costumes diferentes, mas o que os une é sua adesão à civilização chinesa e que eles – ainda que não possam se entender ao se falarem – podem comunicar-se por meio do alfabeto de milhares de caracteres ideográficos dos mandarins.

Apesar de os hans representarem 92% da população da China, seguem sendo uma minoria em quase todas as regiões fronteiriças, como esta em questão.

Desde que em 1949 o Partido Comunista Chinês tomou o poder, este quis absorver ditas regiões (algumas das quais foram independentes) combinando a concessão de autonomias ou direitos nacionais a 54 minorias, com estímulo à luta de classes no interior dessas.

Hoje, Pequim já não promove o igualitarismo, mas sim o capitalismo. Este produziu um boom e uma nova classe de milionários hans, mas também choques entre estes e os trabalhadores ou novas competições empresariais não-hans, cujos reclames as potências ocidentais querem utilizar com a finalidade de ganhar terreno diante de Pequim.

Rebiya Kadeer

Ela se converteu no símbolo do novo nacionalismo uigur que se choca com Pequim. Nascida em Xinjiang, em 1947, e na pobreza, ela se beneficiaria da nova abertura ao mercado promovida por Deng Xiaoping para se converter numa próspera empresária. Entre 1999 e 2005, foi presa para que logo os EUA conseguissem que fosse libertada, exilada em seu solo e um ano depois se transformar na presidente do Congresso Mundial Uigur.

Bush a recebeu apresentando-a como alguém similar ao Dalai Lama. Assim como o patriarca tibetano, ela chama a uma luta pacífica e não-violenta para defender os direitos nacionais e religiosos de sua minoria contra o ‘colonialismo’ chinês (apesar de se opor a qualquer secessão), e se apresenta como uma vítima da ‘tirania comunista’ que encarna o sofrimento de seu povo (ainda que possua um alto padrão de vida).

Enquanto Washington usa Kadeer e o Dalai Lama para tentar romper o monopólio do Partido Comunista sobre o poder e o planejamento econômico na China, Pequim prefere que eles apareçam como os porta-vozes do protesto para desacreditá-la como se fosse um instrumento ocidental e também para debilitar os radicais e possíveis grupos violentos. 

A fundo:

Cabeças de turco

O termo ‘turco’ é algo que vem mudando muito com o tempo. Alguns sustentam que a primeira ilha que os europeus descobriram no Caribe foi a Gran Turca. Essa não foi batizada assim em homenagem ao império otomano, e sim porque Colombo ou seus acompanhantes viram que um cacto que havia ali tinha a forma do chapéu de seus inimigos turcos.

Foi o ódio aos turcos que levou os iberos a buscar cruzar o Atlântico. Meio século antes das viagens de Colombo, os otomanos conquistaram a Roma do leste (Bizâncio) e obstaculizaram o comércio com o Oriente, o que produziu o desejo de encontrar novas rotas.

‘Turco’, dessa forma, era sinônimo da maior ameaça muçulmana que já tinha visto a Cristandade. A principal obra em espanhol foi escrita depois que seu autor (Cervantes) ficou manco em uma batalha contra os otomanos.

Depois, nas Américas de antes da primeira guerra mundial (1914-1918) se denominavam ‘turcos’ os imigrantes que vinham do Mediterrâneo Oriental, ainda que muitos deles não fossem muçulmanos e nem falassem turco, pois eram árabes cristãos ou judeus dos territórios que logo seriam reconhecidos como Síria, Líbano, Palestina ou Jordânia.

Descendentes deles chegaram a ser chefes de Estado (Menem na Argentina, Saca em El Salvador, Turbay na Colômbia, Bucaram e Mahued no Equador), de governo (Simons, no Peru), de oposição (Handal, em El Salvador) ou da maior cidade (Maluf, em São Paulo). Johnson, o prefeito de Londres, é um nova-iorquino de pai turco. Até pouco tempo atrás, ser ‘turco’ equivalia a ser da República da Turquia.

De toda forma, há duas décadas a imprensa mundial começou a se encher de manchetes em que apareciam uns ‘turcos’, que até então haviam estado relativamente relegados. Em 1991, a União Soviética se desintegrou em 15 novas repúblicas (5 das quais falam uma língua turca: Azerbaijão, Turcomenistão, Uzbequistão, Cazaquistão e Quirguistão).

Esses novos membros da ONU começaram a se destacar, seja pelo boom de suas exportações de hidrocarbonetos ou algodão, por suas guerras ou pelos seus laços com o conflito afegão. Dostum, que lutou a favor da União Soviética na invasão do país, ainda tem um feudo turco-uzbeque no Afeganistão.

Os gagauzes da Moldávia, os tártaros da Ucrânia e diversas repúblicas turcas da Rússia foram reivindicando mais direitos nacionais ou mais autonomia. Um dos novos Estados da União Européia, o Chipre, tem em seu interior uma república separatista turca.

Moussavi, que desatou a maior crise do Irã pós-1979 ao questionar os resultados que não o levaram à presidência, nasceu na zona turca do Irã (Azerbaijão do leste), onde possui uma forte base social.

Hoje, ser turco não equivale a ser a ameaça islâmica sobre a Europa ou proveniente do império otomano. Deste último surgiram mais países na África, Ásia e Europa que as 15 repúblicas em que se desintegrou a URSS e nenhum deles, salvo a Turquia ou seu satélite Chipre, se reivindica atualmente como ‘turco’. E mais, cerca de 20% da população da Turquia podem potencialmente rechaçar ser catalogada como ‘turca’, pois falam uma língua indo-européia e podem reivindicar ser parte da maior nação sem Estado que há no mundo (os 25 milhões de curdos).

Turcas não são aquelas populações do Mar Mediterrâneo árabe do qual chegaram os ‘turcos americanos’, mas aquelas nações que se originaram da zona mais mediterrânea e afastada de todo o oceano que existe neste planeta: as planícies da Ásia central.

Há de 180 milhões a 200 milhões de pessoas que falam uma das trinta línguas turcas e que se encontram espalhadas em uma faixa (interrompida apenas pela Mongólia) que vai do sudoeste do Mediterrâneo até o Pacífico norte-oriental asiático. Somente de 30% a 40% deles residem na República da Turquia. O resto vive nas outras cinco repúblicas turcas ex-soviéticas, em uma dúzia de regiões ou repúblicas autônomas da Rússia, China, Moldávia, Ucrânia ou Chipre, em importantes regiões do Irã, Iraque, Afeganistão, Bulgária, Macedônia, Tadjiquistão e Mongólia e em significativas concentrações na Finlândia, Lituânia, Polônia, Alemanha e outras partes da União Européia.

A Turquia sempre mirou a Europa ou o Oriente Médio, enquanto que todas as zonas turcas da Ásia central foram áreas de influência dos impérios russo, persa ou chinês. A possibilidade de se gerar um movimento ou uma liga pan-turca não poderia se realizar antes do colapso soviético.

Paradoxalmente, a zona mais oriental e marginal onde habitam turcos (Sibéria norte-oriental) é aquela de que há mais de 10 milênios partiram os primeiros povoadores que cruzaram a região até o Alaska.

A ilha Gran Turca não foi povoada por turcos, mas os primeiros americanos estão geneticamente emparentados com os siberianos da grande faixa turca.

Na Alemanha se publicou um famoso livro cujo título ‘Cabeça de Turco’ não tinha nada a ver com a forma pela qual foi batizada essa ilha caribenha, mas com a maneira que os alemães vinham tratando os milhões de imigrantes turcos, como se fossem os novos bodes expiatórios.

"Cabeças de turco" podem ser considerados milhões de imigrantes (sobretudo muçulmanos) na Europa que fecha suas fronteiras, assim como os novos movimentos que se desatam na Ásia central. O mote ‘terrorismo uigur’ foi utilizado como se fosse ‘cabeça de turco’ por parte de Wang Lequan (secretário do Comitê Regional do Partido Comunista da China na Região Autônoma Uigur de Xinjiang), que há 15 anos esmaga toda dissidência em Xinjiang.

Por outro lado, uma das questões que mais seguirá convulsionando o mundo pós-guerra fria é a emergência de nações turcas que buscando maiores graus de autonomia ou independência encabecem novos protestos ou guerras.

Mapas das nações turcas no mundo

Isaac Bigio é analista internacional. Foi professor de política brasileira e latino-americana na London School of Economics & Political Sciences.

Este artigo foi retirado do Boletim ‘Análisis Global’, do próprio autor.

Traduzido por Gabriel Brito.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Pré-sal: a esquina de pedra...

Se correr, ele pega; se ficar, ele come; mas se mobilizar, é ele que se ferra




Escrito por Paulo Metri

Os ministros Lobão e Dilma vão aos Estados Unidos para uma reunião de executivos americanos e brasileiros, e para reuniões com autoridades americanas, incluindo o presidente Obama, com o tema principal dos debates sendo o pré-sal. Lembro, de pronto, que amigos me falam há anos sobre o Diálogo Interamericano, entidade com a qual as lideranças brasileiras submissas ao capital internacional, principalmente ao anglo-saxão, selam acordos antes de se candidatarem à Presidência da República, permitindo a elas ter acréscimos consideráveis em suas chances de vencer as eleições. Sempre achei que estes amigos tinham muito da "teoria da conspiração", conceito exposto no filme de mesmo nome, em que o personagem principal via conspiração de grupos e países fortes em diversos atos e fatos. Hoje, começo a achar que existe a possibilidade de eles não estarem tão errados.

Mesmo que não haja a submissão criminosa e impatriótica citada, até porque ela seria um complô contra a sociedade brasileira, existe na atitude dos ministros, inquestionavelmente, um erro de prioridade e outro de entendimento sobre o que representa o pré-sal, ambos muito preocupantes. Erro de prioridade porque os ministros não explicaram, salvo engano, as novas medidas a serem tomadas com relação ao pré-sal para sindicatos, associações de funcionários, federações sindicais, centrais de trabalhadores e nem para nenhum movimento social. A classe trabalhadora e os movimentos sociais não precisam ser ouvidos, segundo os ministros? Pensam eles que estes grupos não têm para onde correr em 2010?

O erro de entendimento é porque o pré-sal é a última oportunidade de redenção do nosso povo sofrido. Apesar de o governo Lula ter como discurso que o lucro da exploração da riqueza do pré-sal deve ser utilizado em programas sociais, a primeira ação dos seus ministros é buscar entregar o petróleo desta área para ser explorado e produzido por empresas estrangeiras, abrindo mão de boa parcela da riqueza. Se disserem que há a necessidade das empresas estrangeiras porque a Petrobrás não tem os recursos, esta afirmação não é verdadeira. A Petrobrás tem os recursos necessários para tocar o pré-sal na velocidade de interesse da sociedade brasileira.

O ministro Lobão parece estar querendo iludir a sociedade, quando diz, por exemplo, que: "60% das ações da Petrobrás estão nas mãos de investidores privados, assim, não podemos entregar o pré-sal para a Petrobrás". Obviamente, o leigo pensa que, se a entrega ocorrer, 60% do petróleo do pré-sal cairá nas mãos dos entes privados. Pois, não se trata disso.

A Petrobrás entrega para acionistas somente dividendos, que correspondem a 25% do "lucro após a retirada das reservas". As reservas são, no mínimo, 10% do "lucro após o pagamento de tributos". Este último lucro é igual a 60% do lucro, porque os tributos são da ordem de 40% do mesmo. Assim, como em mãos privadas estão 60% das ações, a parcela do lucro que vai para as mãos privadas corresponde a somente 8% do lucro (0,60 x 0,25 x 0,90 x 0,60 = 0,08).

Logo depois de confundir a população, o ministro Lobão, dando a impressão de ser grande nacionalista e estatizante, fala: "Por isso, temos que criar uma estatal com 100% das ações em mãos da União". Menos de dez minutos depois, ele continua: "Esta nova empresa ou a própria ANP irá fazer licitações de blocos do pré-sal, onde a Petrobrás e as empresas privadas poderão concorrer". Estas empresas privadas, na grande maioria das vezes, são estrangeiras. Assim, onde está a coerência do ministro nacionalista e estatizante?

Muito mais poderia ser falado, mas não temos que concluir todos os temas neste artigo. Contudo, o ponto mais importante ainda precisa ser dito. Com a orfandade em que a sociedade brasileira se encontra, em matéria de estadistas, e com a mídia do capital deformando a mesma e pobre sociedade, só resta aos movimentos sociais, às entidades de classe dos trabalhadores e aos sindicatos, suas federações e centrais, como repositório do que há de melhor, com relação ao compromisso social e ao sentimento de brasilidade, mobilizarem a sociedade brasileira para dar o recado ao governo: "Não importa o que tenham ouvido nossos ministros, de Obama e demais autoridades estrangeiras, o petróleo brasileiro, incluindo o do pré-sal, é só nosso. Acabou a farra."

Paulo Metri é conselheiro da Federação Brasileira de Associações de Engenheiros.

Grandes companhias farmacêuticas faturam bilhões com a gripe A



É o que informa o insuspeito Financial Times

Algumas das maiores companhias farmacêuticas do mundo estão auferindo bilhões de dólares em receita adicional, em meio à preocupação global sobre a expansão cada vez maior da gripe suína.
Analistas estimam alta significativa nas vendas da GlaxoSmithKline, da Roche e da Sanofi-Aventis, quando elas divulgarem nos próximos dias resultados do primeiro semestre engordados por encomendas governamentais de vacinas contra a gripe e medicamentos antivirais. A informação é do Financial Times.

As novas vendas - ao mesmo tempo em que a suíça Novartis e a americana Baxter, que também produzem vacinas, já divulgaram resultados expressivos - surgem no momento em que o mais recente cômputo aponta para um total de mais de 700 vítimas fatais do vírus da gripe A (H1N1) e para milhões de pessoas infectadas em todo o mundo.

A britânica GlaxoSmithKline (GSK) confirmou que até o momento já vendeu 150 milhões de doses de uma vacina pandêmica contra a gripe (o equivalente ao total anual de vendas de vacinas sazonais contra a doença), a países como o Reino Unido, os EUA, a França e a Bélgica, e anunciou que estava se preparando para expandir a produção.

A GSK também produz o Relenza, um medicamento antivírus que reduz a duração e atenua a severidade da infecção, e está se preparando para ampliar a produção, rumo a uma meta de 60 milhões de doses anuais. O governo do Reino Unido encomendou 10 milhões de doses do medicamento neste ano.

Um dos principais beneficiários do temor crescente de uma pandemia foi a suíça Roche, que vende o Tamiflu, o principal medicamento antiviral usado no combate à gripe, e registra alta considerável nos pedidos de governos e empresas privadas.

Uma pesquisa do banco de investimento americano JPMorgan Chase estimou, na semana passada, que governos de todo o mundo já teriam encomendado quase 600 milhões de doses de vacinas contra a pandemia e adjuvantes (produtos químicos que aumentam sua eficácia). Isso representa US$ 4,3 bilhões em vendas, e existe o potencial de vender mais 342 milhões de doses de vacina, ou US$ 2,6 bilhões, no futuro próximo.

O JP Morgan Chase previu que novos pedidos de antivirais podem elevar as vendas da Roche e da GlaxoSmithKline em mais US$ 1,8 bilhão nos países desenvolvidos e, em potencialmente, mais US$ 1,2 bilhão nas nações em desenvolvimento.

Mas também existem incertezas para os fabricantes de produtos farmacêuticos. Com a probabilidade de demanda superior à oferta e os lotes iniciais de produção sugerindo que o rendimento da vacina contra a pandemia é relativamente baixo, as companhias podem ter de enfrentar escolhas difíceis na alocação de produtos aos diferentes países que estão apresentando encomendas.

As companhias também estão sob pressão para fornecer mais medicamentos e vacinas gratuitamente, ou a preços extremamente baixos, para os países em desenvolvimento.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

O caso Baader-Meinhof: as feridas não fecharam

Grupo nasceu durante os protestos estudantis na Alemanha, sobretudo em Berlim, ao final dos anos 60 (Foto: Divulgação)

Por Flavio Aguiar


Entre as muitas feridas abertas na história alemã e européia, sobressai o caso dos jovens que, a partir de 1967, pegaram em armas para provocar uma revolução que queriam anti-imperialista. São o tema do filme “O grupo Baader-Meinhof”, que tem pré-estréia nesta quinta-feira, 16 de julho, em São Paulo. (Em alemão, “Der Baader-Meinhof Komplex”, direção de Uli Edel, que concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro neste ano).

Eles se autointitulavam “Die Rote Armee Fraktion” (RAF), A Fração ou Facção do Exército Vermelho. Mas ficaram mais conhecidos pelos nomes de dois de seus líderes fundadores, Andréas Baader e Ulrike Meinhof.

O grupo nasceu durante os protestos estudantis na Alemanha, sobretudo em Berlim, ao final dos anos 60. A partir do assassinato do estudante Benno Ohnesorg, em 2 de junho de 1967, por um policial durante manifestação contra a visita do Xá do Irã Reza Pahlavi a Berlim, vários grupos estudantis e de intelectuais de esquerda radicalizaram suas posições, aderindo às propostas de luta armada que então proliferavam na América Latina, na África, na Ásia e inclusive na Europa (caso das Brigadas Vermelhas, na Itália). A tentativa de assassinato contra o líder estudantil Rudi Dutschke por um extremista de direita, em 11 de abril de 1968, sete dias depois do assassinato de Martin Luther King nos EUA, só jogou mais gasolina na fogueira. Dutschke sobreviveu, mas ficou paraplégico, e morreu em 1979 ainda por causa das seqüelas.

O grupo Baader-Meinhof é tema de filme (Foto: Divulgação)

Ulrike Meinhof (1934 – 1976) era a mais velha do grupo, uma jornalista de futuro que escrevia para a publicação pacifista Konkret. Até hoje se discute sobre como ela deu todos os passos decisivos até chegar a ser uma das mulheres mais procuradas da Europa, com a cabeça posta a prêmio, envolvida em tiroteios, seqüestros, assaltos e mortes de todo o tipo.

O nome com que o grupo ficou conhecido foi consagrado com a ação espetacular em que Ulrike, com outros companheiros, ajudou Baader, já prisioneiro, a fugir, o que marcou sua adesão definitiva às propostas de luta armada da RAF.

É impossível separar as propostas extremas (hoje muito criticadas mesmo pela esquerda) a que o grupo chegou do clima de sufocação na Berlim Ocidental cercada (pelo muro erguido pelos comunistas em 1961), ocupada militarmente pelos EUA, Grã-Bretanha e França, com os jornais conservadores alemães pregando uma dura repressão contra os movimentos estudantis. Uma das reivindicações constantes dos movimentos era a “desnazificação” completa do estado alemão e das universidades. Nessa época o governo alemão ocidental, pela primeira vez, era formado por uma coalizão entre os democratas cristãos (CDU) e os social-democratas (SPD). O próprio primeiro ministro Kurt Georg Kiesinger, da CDU, fora membro do Partido Nazista durante a guerra.

Desde o começo o grupo foi tratado – o que continua de certo modo – com expressões como “gangue”, “bando” e outras do tipo, sempre apontando para a dupla “Baader-Meinhof”. Essa é uma diferença marcante em relação ao Brasilo, por exemplo: com críticas ou sem críticas, os jovens e militantes que aderiram à luta armada nos anos 60 são tratados como “mártires ou até heróis da democracia”, lutadores da resistência contra a ditadura. Na Alemanha não houve essa rotação histórica.

As reações ao filme mostram isso: parentes das vítimas do grupo, que vão desde policiais ou funcionários de empresas atacadas, consideram que o filme glamouriza demais os “terroristas”; outros desses parentes, pelo contrário, dizem que o filme faz justiça, mostrando o grupo como um autêntico ajuntamento de bandidos. De outros pontos de vista surgem críticas de que o filme é por demais “superficial”, querendo juntar trinta anos de história (o grupo existiu de 1968 a 1998, quando os remanescentes se autodissolveram) em duas horas e meia de projeção. Há ainda quem aponte que o filme simplifica caráteres, como o de Ulrike Meinhof que, decididamente, era uma intelectual de bastante sofisticação.

Para completar a complexidade da cena, duas considerações. Em 1977, diante da evidência de que não seriam libertados durante um seqüestro de avião com esse fim, três membros do grupo, presos na prisão de Stammheim, entre eles Baader, supostamente se suicidaram. Uma quarta pessoa, que teria participado desse “pacto de morte”, Irmgard Möller, sobreviveu, foi solta e vive numa semiclandestinidade. Ela afirma que não houve suicídios, mas sim “execuções extrajudiciais”. Houve vários inquéritos, sempre apontando o sucídio. Mas é verdade que restam dúvidas substanciais. Entre elas, a mais evidente é a de que Baader e um dos outros morreram por tiros de revólver, ninguém ouviu os tiros e nenhum silenciador foi encontrado nas celas. Em 1976, Ulrike foi encontrada morta na cela, enforcada. A versão oficial é de suicídio, e também é contestada.

Finalmente, neste ano de 2009 revelou-se que Karl Heinz-Kurras, o policial que atirou no estudante Benno, em 1967, era agente secreto da Stasi, a polícia política da Alemanha Oriental.

Decididamente, as feridas não vão fechar por muito tempo. Nem as perguntas vão se calar.

Batukim Brasileiro – O Canto das Lavadeiras - Coral das Lavadeiras e Carlos Farias - 2002

Olha ai pessoal , a perfeição do regionalismo, um resgate perfeito de nossa cultura, chorei ao ouvir este disco, tenho ele e o encarte é lindo, comprem, comprem de verdade eu garanto, perfeito.Todo mundo fala que é uma das regiões mais pobres do mundo, o vale de jequitinhonha, mas eles nao conhecem a cultura de lá...
Saravá!!!
Daniel de Mello e a Música da Minha Gente

O patrimônio musical brasileiro ganhou em 2002 mais uma pedra preciosa em seu acervo, desta vez garimpada nas entranhas do Vale do Jequitinhonha: o CD-Livro "Batukim Brasileiro - o Canto das Lavadeiras", produzido pelo cantor e compositor Carlos Farias, com a participação especial do Coral das Lavadeiras, de Almenara (MG).
Com gravação totalmente acústica, a obra resgata em 12 maravilhosas canções o que há de mais belo na música regional do norte/nordeste mineiro: batuque, maracatu, toada, baião, afoxé, roda, semba e chorinho, numa mistura bem tramada de ritmos e versos de influência portuguesa, indígena e africana, revelando a essência da nossa brasilidade. São cânticos de trabalho de antigas lavadeiras, canoeiros e ribeirinhos, cuja origem já se perdeu na memória do tempo. Ele é resultado de pesquisas etnomusicais realizadas pelo compositor nessa interessante região de Minas, a partir de 1985.
O CD vem encartado dentro de um livrete com 52 páginas coloridas, contendo fotos, desenhos e textos em português e inglês, revelando aspectos interessantes do Vale do Jequitinhonha nos campos da história, do folclore, da ecologia e da cultura. Além das lavadeiras e de Carlos Farias, há a participação especial do cantor e humorista Saulo Laranjeira. O disco ainda possui uma faixa interativa, contendo fotos e textos que podem ser visualizados em um computador com recursos multimídia. Um trabalho ousado e surpreendente, que já causou impacto até na Europa: lançado primeiro em Portugal, em março de 2002, “Batukim Brasileiro” vem emocionando as pessoas pela sua beleza e autenticidade.

Fonte: Coral das Lavadeiras

Download: Batukim Brasileiro – O Canto das Lavadeiras - Coral das Lavadeiras e Carlos Farias - 2002

Golpe em Honduras...

Resistência hondurenha recusa qualquer retrocesso na luta popular, exige a volta incondicional de Zelaya e recusa pontos propostos por Arias

por Frente Nacional Contra o Golpe de Estado em Honduras

A Frente Nacional Contra o Golpe de Estado em Honduras, integrada pelas diferentes forças organizadas no país e unidas pela situação provocada à comunidade nacional e internacional a partir do golpe de Estado, informa o seguinte:

1- Reiteramos que a posição intransigente da comissão nomeada pelos golpistas torna impossível uma solução com êxito da mediação realizada em San José da Costa Rica.

2- Estamos de acordo com o primeiro ponto da proposta apresentada pelo cidadão presidente da Costa Rica, prémio Nobel da Paz, Oscar Aris, consistente na restituição imediata de Manuel Zelaya Rosales à presidência da República de Honduras, a qual exigimos que seja de carácter incondicional.

3- Recusamos o resto da referida proposta, porque não coincide com nossas colocações e exigências, o que argumentamos: O número 3 possibilita a inclusão de pessoas relacionadas com o golpe de Estado e, portanto, que cometeram delitos de lesa humanidade. O número 3 significa a negação do direito cidadão a uma democracia participativa. O número 4 promove a impunidade para aqueles que planearam, executaram e apoiam o Golpe de Estado. O número 5 implica a possibilidade de perpetrar uma fraude eleitoral da qual já se têm claros indícios. O número 6 desconhece a nossa posição de rever o papel constitucional das forças armadas e o seu envolvimento no golpe de Estado. O número 7 não tem razão de ser, enquanto não se eliminarem os pontos anteriores.

4- Denunciamos a atitude de desconhecimento tácito de violação de direitos humanos de que vem sendo objecto a população por parte do governo de facto e dos seus aparelhos repressores, do qual é exemplo: 4 assassinatos, 1.158 detenções ilegais, busca e perseguição de representantes do movimento social; 14 meios de comunicação, 14 jornalistas e 4 organizações sociais sofreram atentados à liberdade de expressão; foram violentados os direitos individuais e fundamentais da vida do cidadão e cidadã contemplados na Constituição da República. Denunciamos também a involução que sofreu o país em matéria de direitos humanos, militarização de instituições públicas e a colocação em acção de membros de esquadrões de morte por todo o país; a qual se soma a acção em conluio do Ministério Publico, dos julgados e dos Tribunais da República com o governo de facto, o que provocou um estado de desamparo da cidadania.

5- Mantemos a nossa posição de alcançar processos políticos includentes que permitam a participação democrática de homens e mulheres, por meio da instalação de uma Assembleia Nacional Constituinte.

6- Continuamos firmes na nossa luta, até conseguir a recuperação da ordem institucional.

Tegucigalpa, M.D. 19 de Julho de 2009
Frente Nacional Contra o Golpe de Estado em Honduras

O original encontra-se em www.resumenlatinoamericano.org , Nº 2046

Este comunicado encontra-se em http://resistir.info/ .

Pobre RS...nós não merecemos um governo desses...



Leandro Fortes escreve no blog Brasília, eu vi:

Quem estava na Bahia, se lembra: nas eleições municipais de 1985, Antonio Carlos Magalhães, então todo-poderoso ministro das Comunicações do governo José Sarney, apareceu sorridente para votar no salão nobre do Clube Bahiano de Tênis, reduto da elite branca de Salvador. ACM vivia tempos de glória. Tinha virado a casaca e abandonado os militares, a quem servira como poucos na ditadura, para embarcar na canoa da Nova República de Tancredo Neves. Era uma tarde ensolarada de novembro, sol da Bahia, luz e calor. O coronel chegou sorridente, cercado de acólitos e puxa-sacos, como de costume, certo de estar lá, naquela hora, para viver mais um momento de glória. Bastou pisar nos salão do clube, no entanto, para ser escandalosamente vaiado. Ainda atordoado pelo vexame, ACM tentou usar da velha tática do nem-é-comigo para continuar sorrindo e cumprimentando providenciais correligionários apressadamente colocados em fila por assessores solícitos. Seria pouco para conter a besta-fera que sempre foi verdadeira alma do coronel.

A dois passos da urna, ACM foi abordado por um repórter com cara de menino, baixinho, calças exageradamente colocadas acima da cintura, um cabelo preto, liso e espetado, caído sobre a cabeça em forma de cuia. Chamava-se Antônio Fraga, tinha 19 anos e uma disposição dos diabos. Repórter-estagiário da TV Itapoan (à época, retransmissora do SBT), Fraga cursava comigo o primeiro ano da faculdade de jornalismo da Universidade Federal da Bahia. Era um jornalista precoce e hiperativo. Com a audácia tão típica da juventude, ele furou o séquito de bajuladores carlistas e perguntou, à queima-roupa, na cara de ACM, o que ele achava de estar sendo vaiado.

Com o rosto desfigurado de ódio, Antonio Carlos, primeiro, deu um soco no microfone que Fraga segurava com a mão direita, de maneira a atingi-lo na boca. Em seguida, chamou o jornalista de “filho da puta” e passou a ameaçá-lo de outras agressões, enquanto dois seguranças tentavam derrubá-lo desferindo chutes no calcanhar. Na aurora da redemocratização do Brasil, o garoto Fraga conseguiu mostrar para o país quem era, de fato, aquela triste e grotesca figura política que ainda iria reinar soberana nas colunas políticas da imprensa brasileira, por muitos anos, impune e cheia de prestígio.

Essa história antiga me veio à cabeça assim que vi, na internet, a máscara de rancor estampada no rosto da governadora Yeda Crusius, do Rio Grande do Sul, na semana passada, a chamar, histérica, os professores gaúchos de “torturadores de crianças”. Atrás das grades do portão da casa onde mora, casa, aliás, suspeita de ter sido adquirida com dinheiro de caixa dois de campanha, a tucana tornou-se um emblema da loucura que quando em vez acomete os bichos acuados, na iminência do extermínio, certos de que o próximo passo, de ré, será o vazio terrível de todo abismo. Diante do mundo, reproduzidos on line, os gestos alucinados de Yeda Crusius se tornaram o emblema de uma administração falida, desmoralizada e corrompida até a medula. O instantâneo da débâcle de uma administração que, ironicamente, arrogou-se de ser “um jeito novo de governar”.

Ao tentar incutir a pecha de “torturadores” em professores que assustaram seus netos com uma manifestação contra a precariedade da rede pública de ensino no estado, a governadora ultrapassou os limites da sanidade política minimamente exigida para o cargo que ocupa. Estivesse em um barco, seria alvo de um justificado motim. Ainda assim, achou-se no direito de usar a Brigada Militar contra os manifestantes. Incapaz de controlar a avalanche de denúncias que se amontoam sobre ela desde que a Polícia Federal descobriu, na Operação Rodin, a quadrilha de trambiqueiros que opera nos bastidores do Palácio do Piratini, Yeda Crusius decidiu esconder-se por trás de um discurso autista e surreal. Fala de uma gestão que não existe e enaltece a si mesmo como inspiração de governança.

Trata-se, como se vê, de um caso de intervenção humanitária. Seria, portanto, a chance de o senador Pedro Simon, do PMDB, que é franciscano, esquecer-se das circunstâncias políticas que o mantêm convenientemente calado e tomar uma atitude, digamos, cristã. Se não pela decência da política gaúcha, quem sabe em nome dos netos de Yeda, pobres crianças assustadas com o barulho da turba de professores de escolas – de lata, lotadas, imundas e apertadas – nas quais eles jamais irão estudar.

No fim das contas, não há nada mais cristão do que salvar uma mulher do apedrejamento, ainda que seja ela a jogar as pedras para o ar.

Foto: Roberto Vinicius

terça-feira, 21 de julho de 2009

Quintal De Clorofila [1983] O Mistério Dos Quintais



Intérprete: Quintal De Clorofila
Álbum: O Mistério Dos Quintais
Ano: 1983
Selo/Gravadora: Bobby Som
Nº de catálogo: WRF 005
Créditos: Vinil Velho

Negendre Arbo: Violão, Casio, Banjo, Guitarra, Bandolim, Percussão, Voz
Dimitri Arbo: Viola 12 cordas, Saxofone, Flauta, Ocarina, Percussão, Voz
Músico convidado:
Paulo F. Soares: Violão base - fxs. 1, 4, 6



1. As Alamedas
(Antônio Carlos Arbo / Negendre Arbo / Dimitri Arbo)
2. Jornada
(Antônio Carlos Arbo / Negendre Arbo / Dimitri Arbo)
3. Drakkars
(Negendre Arbo)
4. Liverpool
(Antônio Carlos Arbo / Negendre Arbo / Dimitri Arbo)
5. Gotas de Seresta
(Antônio Carlos Arbo / Negendre Arbo / Dimitri Arbo)
6. Viver
(Antônio Carlos Arbo / Dimitri Arbo)
7. O Ultimo Cigano
(Antônio Carlos Arbo / Negendre Arbo / Dimitri Arbo)
8. Jardim das Delícias
(Negendre Arbo / Dimitri Arbo)
9. Balada da Ausência
(Antônio Carlos Arbo / Dimitri Arbo)
10. O Mistério dos Quintais
(Negendre Arbo / Dimitri Arbo)


Reforma agrária:

crise e novas perspectivas




Escrito por Osvaldo Russo

No Brasil, há 4 milhões de pequenas unidades produtoras agrícolas, entre as quais quase 1 milhão nos assentamentos, que respondem pela maior parte da produção de alimentos que abastecem o mercado interno brasileiro. Ao contrário do agronegócio, a reforma agrária e a agricultura familiar-camponesa constituem a opção democrática e sustentável para um desenvolvimento com eqüidade social e respeito ao meio ambiente.

A crise mundial do capital aponta para novas perspectivas de mobilização social e afirmação da agricultura camponesa e familiar como estratégica ao desenvolvimento sustentável, onde a reforma agrária tenha centralidade, com geração de mais empregos, respeito ao meio ambiente e produção de alimentos saudáveis que garanta a soberania alimentar do país. Segundo dados oficiais, o governo Lula foi responsável por mais da metade dos assentamentos realizados em toda a história brasileira e o Pronaf saltou de pouco mais de R$ 2 bilhões, na safra 2002-2003, para R$ 13 bilhões, em 2008-2009.

Para a próxima safra, o governo anunciou R$ 15 bilhões. É preciso também registrar que os programas sociais em curso alteraram o panorama rural brasileiro, melhorando a qualidade de vida no campo.

Em relação à reforma agrária, no entanto, há entraves que precisam ser superados, como a atualização dos índices de produtividade, o cumprimento integral dos requisitos constitucionais da função social da propriedade, a aceleração da imissão de posse, a abolição dos juros compensatórios das indenizações por interesse social e a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do trabalho escravo, além da fixação do limite de propriedade defendida pelo Fórum Nacional pela Reforma Agrária e Justiça no Campo.

A recente aprovação pela Comissão de Agricultura do Senado Federal de projeto que altera parâmetros de aferição da produtividade da terra, subordinando a atualização dos respectivos índices ao Congresso Nacional, além de flagrantemente inconstitucional, mostra a cara retrógada tanto do latifúndio improdutivo como do agronegócio.

Em relação ao programa de regularização fundiária na Amazônia Legal, que legaliza a ocupação de área pública até 15 módulos fiscais (1.500 hectares), os movimentos sociais agrários e ambientais manifestam-se contra esse programa, quer porque amplia o limite de áreas públicas a serem regularizadas, abrindo brechas para a apropriação do patrimônio público por especuladores, quer por estar na contramão do sistema agrário de base familiar consagrado no ordenamento agrário brasileiro. É preciso ter clareza de que a principal fonte de desmatamento e ocupação fundiária irregular na Amazônia se dá pela ação de madeireiros, grileiros e fazendeiros do chamado agronegócio, com exploração da pecuária extensiva e da plantação de soja.

Há contradições e limitações que precisam ser superadas, entre as quais a nossa herança escravista, mas não há incompatibilidade entre reforma agrária e desenvolvimento. Diante da crise mundial, a hora é de dialogar e unir forças políticas e sociais para avançar e consolidar o processo brasileiro de desenvolvimento com distribuição da renda, da terra, do crédito e dos serviços, priorizando o emprego, a educação, a seguridade social, a reforma agrária e a preservação do meio ambiente.

A pesquisa realizada em 2007 pelo Ibase – Repercussões do Programa Bolsa Família na Segurança Alimentar e Nutricional das Famílias Beneficiadas - aponta que houve avanços nos índices de segurança alimentar e nutricional da população contemplada com a transferência de renda efetuada pelo Bolsa Família, ainda que permaneça um contingente de famílias que mantém elevados índices de insegurança alimentar.

Entretanto, para o combate estrutural à pobreza rural, é preciso avançar no programa de reforma agrária e na qualificação da educação no campo. Com isso, certamente, estaremos construindo as portas de saída para os programas sociais na área rural.

As exportações de commodities agrícolas transformaram a alimentação em mercadoria, gerando lucros fabulosos sem qualquer preocupação com a necessidade de alimentar as pessoas. Segundo a Organização para as Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), quase 1 bilhão de pessoas passam fome no mundo. São os pobres em todo o mundo os que mais sofrem com as crises e as desigualdades do capitalismo. Ou mudamos a matriz da produção de bens agrícolas, democratizando a terra e priorizando a produção de base familiar, ou estaremos inviabilizando a vida saudável no planeta.

Osvaldo Russo é coordenador do Núcleo Agrário Nacional do PT e diretor da Associação Brasileira de Reforma Agrária (Abra). Texto-base da exposição realizada no 51º Congresso da UNE, em 17/07/2009.

Genocidio em Gaza...

Gaza, pior que a pior das nossas prisões

“Gaza está prestes a transformar-se no primeiro território a ser reduzido a uma situação de absoluta miséria, de forma deliberada e com o conhecimento, o consentimento e, inclusivamente, o apoio da comunidade internacional”.



Ignacio Álvarez-Ossorio*

O discurso de Obama no Cairo foi seguido com particular atenção em Gaza. Apesar do presidente estadunidense se ter referido «à dor suportada pelos palestinos durante 60 anos», não conseguiu aliviar o sofrimento de uma população que há muito tempo deixou de acreditar em milagres. Desde que em Julho de 2007 o Hamas tomou o controlo da faixa mediterrânica, o seu milhão e meio de residentes sofre um dos mais implacáveis bloqueios que se podem imaginar, perante a mais absoluta indiferença dos países ocidentais. Entrar ou sair de Gaza tornou-se uma missão impossível, pois fechada às sete chaves pelas autoridades israelenses, que controlam ferreamente as suas fronteiras aéreas, marítimas e terrestres.

O pesadelo não começou em 27 de Dezembro de 2008 com a operação Chumbo fundido, mas a 15 de Agosto de 2005, quando Ariel Sharon retirou unilateralmente as suas tropas e colonos da Faixa de Gaza. Dois anos depois, o governo de Ehud Olmert declarou-a «entidade hostil», o que preparou o caminho para que se impusessem diversas medidas punitivas, entre elas a interrupção progressiva do aprovisionamento de água, electricidade e gás. Tudo isto com um propósito duplo: debilitar o Hamas, que tinha saído fortalecido depois da sua vitória eleitoral em Janeiro de 2006, e castigar a população por lhe ter dado o seu voto. Dov Weissglass, conselheiro de Sharon e Olmert, chegou a recomendar que os palestinos fossem submetidos a «uma dieta de adelgaçamento», recomendação essa que foi tomada à letra.

É preciso recordar que os castigos colectivos supõem uma flagrante violação do Direito Internacional e estão estritamente proibidos pela Quarta Convenção de Genebra de 1949, que no seu artigo 33 estabelece: «Não se castigará nenhuma pessoas protegida por infrações que não tenha pessoalmente cometido. São proibidos os castigos colectivos, bem como toda a medida de intimidação ou de terrorismo. São proibidas as medidas de represália contra as pessoas protegidas e os seus bens».

Este bloqueio, que se levou a cabo com extrema diligência, veio agravar os problemas estruturais de um território que suporta a mais elevada densidade populacional do mundo. Em pouco tempo, a economia de Gaza foi desmantelada e a população ficou afundada na pobreza. Como já constatou o organismo de Coordenação de Assuntos Humanitários das Nações Unidas, em Dezembro de 2007, «nos últimos seis meses a maioria das empresas privadas fecharam e 95% das trabalhos industriais foram suspensos devido à proibição de importar matérias-primas e ao bloqueio das exportações: 3.500 das 3.900 oficinas foram obrigadas a fechar as suas portas, o que se saldou por uma perda de 75.000 empregos no sector privado».

O estrangulamento da faixa elevou 20% a percentagem de população que vivia abaixo do limiar de pobreza (passou de 55% para 75%) e deixou sem trabalho uma em cada duas pessoas. Hoje em dia, 1.265.000 dos habitantes de Gaza dependem da ajuda internacional. Face a esta situação, o director de operações da Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA), John Ging, sublinhou que «os palestinos têm direito a dispor de um meio de vida. Não querem ver-se reduzidos aà mendicidade para ganhar o pão, mas neste momento 90% da população depende das divisões de comida das Nações Unidas. As pessoas chamam a este lugar prisão, mas não é uma prisão, porque uma prisão europeia tem muito melhores condições».

A crise humanitária que varre Gaza não é fruto do acaso nem tampouco foi provocada por um qualquer desastre natural, ela obedece a uma estratégia deliberada com o fim de converter o problema nacional palestino num mero assunto humanitário ou, como disse Victor Currea-Lugo, «uma tentativa de redução do problema palestino a um problema de mais ou menos arroz». Só assim se pode compreender que o número de pessoas que depende de ajuda alimentar tenha decuplicado em apenas uma década. Karen Abu Zayd, principal responsável da UNRWA na região, advertiu que «Gaza está prestes a transformar-se no primeiro território a ser reduzido a uma situação de absoluta miséria, de forma deliberada e com o conhecimento, o consentimento e, inclusivamente, o apoio da comunidade internacional».

Esforços como o da Conferência de Sharm el Sheik de 2 de Março de 2009, onde vários países se comprometeram a doar 3.200 milhões de euros, são completamente estéreis, dado que não existem as estruturas adequadas paar a sua distribuição nem tampouco forma de reconstruir a Faixa de Gaza sem autorização de Israel, que controla as suas fronteiras, nem sem o diálogo com o Hamas que governa a Faixa. O primeiro -ministro Benjamin Netanyahu manifestou a opinião de que o encerramento de Gaza deve manter-se enquanto o Hamas conservar o poder, já que aquela organização dirige «um Estado terrorista herdeiro do Irão». Entretanto, os mecanismos estabelecidos para contacto com a organização islamista – o programa PEGASE da UE, o Fundo de Investimentos do Banco Mundial e o Plano Palestino de Desenvolvimento e Reforma da ANP – mostraram-se totalmente ineficazes. Mas talvez o mais preocupante seja o facto de um qualquer produto, desde um pacote de arroz a um saco de cimento, estar exclusivamente dependente da potência ocupante. Apesar das organizações internacionais considerarem que seria necessário entrarem 500 camiões diários para paliar a crise humanitária, Israel apenas permite a passagem de 100 camiões. Dois terços das mercadorias que entraram na Faixa de Gaza entre Fevereiro e Abril foram alimentos e não materiais para de reconstrução. Com este bloqueio, as instalações eléctricas, as redes de esgotos ou a rede de distribuição de água terão ainda de esperar muito tempo até serem reparadas.

Além disso as autoridades israelenses impedem a entrada do que classificam como produtos de luxo, entre os quais incluem as massas, grão-de-bico, lentilhas, tomate, bolachas, marmelada ou tâmaras. A situação roça o absurdo, dado que a lista de produtos proibidos não é pública e varia de um dia para o outro, o que constitui um verdadeiro quebra-cabeças para as agências humanitárias. Um congressista norte-americano que recentemente visitou a Faixa de Gaza interrogou-se sarcasticamente: «Ultimamente houve rebentamentos de bombas de lentilhas? Vão matar alguém com macarrão»?

Outros produtos proibidos são o plástico, o cimento, as sementes, as vacinas, e inclusivamente os brinquedos de madeira, por serem considerados uma ameaça potencial, pois poderão ter um duplo uso. Se é certo que o responsável PELA Política Externa e Segurança Comum europeia, Javier Solana, objectou que a lista de produtos é «totalmente desaquada», não consta que a UE tenha adoptada qualquer medida, por mínima que fosse, para alterar a situação, o que permitiu a Israel mante, e inclusivamente aumentar, as ditas práticas. Chama a atenção o facto de os EUA se mostrarem mais críticos das práticas de Israel, enquanto a UE prefere olhar para o lado, para evitar confrontar-se com o governo de Netanyahu.

Ainda que se possa considerar um primeiro passo o facto de Obama se ter referido, no seu discurso do Cairo, à «intolerável situação do povo palestino» e manifestasse que «a continuada crise humanitária em Gaza não serve a segurança de Israel», ainda fica muito caminho por percorrer. Entre outras coisas, os EUA deverão demonstrar que estão dispostos a passar das palavras aos actos, e passe a pressionar Israel não só para parar a sua actividade colonizadora na Cisjordânia, mas também para que ponha fim ao desumano bloqueio a Gaza. Com recentemente denunciaram várias organizações não governamentais inglesas, «a paz não se alcança com o encerramento de um milhão e meio de pessoas numa prisão de pobreza e miséria».


Ignacio Álvarez-Ossorio é professor titular de Estudos Árabes e Islâmicos da Universidade de Alicante.

Este texto foi publicado em www.odiario.info


Tradução de José Paulo Gascão

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Do blog resistir.info

"A grande inquisição mediática"

por Claudio Katz
entrevistado por Fernando Arellano Ortiz

Cena da Inquisição, de Francisco Goya, 1816, exposto na Academia Real de San Fernando, Madrid. Clique para ampliar
A saída da crise sistémica do capitalismo tem que ser necessariamente política e "um projecto socialista pode maturar nesta turbulência", defende o economista, filósofo e sociólogo argentino Claudio Katz, que adverte ainda que a "situação económica é muito grave e teremos de bater no fundo, pois estamos no primeiro momento da crise".

Katz, destacado professor da Universidade de Buenos Aires nas áreas de Economia, Filosofia e Sociologia é, simultaneamente, um activista dos direitos humanos e investigador do Conselho Nacional de Investigações Científicas e Técnicas (CONICET) da Argentina. É autor de numerosos textos de interpretação do capitalismo contemporâneo e estudou o impacto regressivo do neoliberalismo na América Latina. Participa activamente em fóruns continentais de impugnação do endividamento externo. O seu livro El porvenir del socialismo [1] obteve uma menção honrosa no prémio Libertador al Pensamiento Crítico (Venezuela 2005). Integra ainda o colectivo internacional Economistas de Esquerda (EDI) e é actualmente assessor externo do governo venezuelano.

Reunidos num dos acolhedores cafés de Buenos Aires, o professor Katz dialogou sobre a realidade económica mundial, o processo político da América Latina, a ameaça da irrupção da direita na região e o que denominou "a grande inquisição mediática", referindo-se à manipulação dos grandes conglomerados da comunicação e informação.

Primeiro momento da crise capitalista

- Os teóricos da economia assinalaram que a crise actual do capitalismo é sistémica e não cíclica, mas o que chama a atenção é que não se vê uma saída para implementar um novo modelo, ou uma alternativa capaz de substituir o sistema capitalista. Acredita que encontrar uma saída para esta crise é mais um problema político que económico?

- Creio que definitivamente o grande problema é político porque todas as grandes crises económicas resolveram-se positiva ou negativamente por processos políticos, tenham ou não intervindo nesses processos as maiorias populares. Esta é uma crise muito profunda, em que os neoliberais têm tentado diminuir a gravidade culpando a avareza e ocultando a especulação financeira. Também os heterodoxos apresentam esta crise como resultado de falta de regulação. Mas esta é uma crise de sistema, uma crise do capitalismo. E parece-me que é uma crise do modelo capitalista dos últimos vinte ou vinte e cinco anos do modelo neoliberal, cujas consequências estamos agora a ver. Tivemos duas ou três décadas de plena acção neoliberal: privatizações, desregulações, ampliação do raio de acção das empresas transnacionais à antiga União Soviética, à China, a todo o planeta, e agora vemos as consequências dessa expansão de capital, da sobreprodução, da sobreacumulação, e os efeitos da pobreza, da miséria e do desemprego que a OIT (Organização Internacional do Trabalho) prognostica que venham a ser muito gravosos nos próximos anos. Então, parece-me que estamos no primeiro momento da crise, no ponto de partida.

- Quer então dizer que teremos de bater no fundo?

- Sim, vamos ter que bater no fundo, e em especial terão de fazê-lo as populações dos EUA e de Europa, que não estão acostumadas a tal, ao contrário das latino-americanas, e terão de processar esse bater no fundo, o que vai levar tempo. Recordemos que nestas últimas décadas de neoliberalismo os sindicatos foram debilitados nos países centrais, foram enfraquecidas as políticas e ideologias da esquerda e das forças progressistas na Europa e nos Estados Unidos, e será necessário reconstruir a experiência de mobilização social, o que já se vai começando a notar, mais na Europa que nos EUA. Já se vêm em França e na Grécia, países onde houveram mobilizações populares, que está a mudar o clima político. Mas encaminhamo-nos para vários anos de desemprego, pobreza, exclusão social e será necessário ver como reagem os povos.

- Que visão tem do processo político e socio-económico que se está a desenrolar na América Latina?

- Creio que é distinto dos processos que ocorrem nos Estados Unidos e na Europa, e é especialmente distinto, primeiro, porque nós já vivemos este tipo de crise, não nos anos trinta mas nos anos oitenta e noventa, em que fiascos financeiros conduziram à expansão da pobreza na Argentina, na Bolívia, na Venezuela, no Equador… Há já uma certa experiência dos povos com este tipo de exclusões do neoliberalismo. Ao mesmo tempo, provavelmente, o impacto económico da crise não será tão grave como nos países centrais, porque como nós já vivemos tantas crises, de forma tão próxima, os nossos bancos estão com as carteiras um pouco mais limpas, já houve uma valorização do capital e como tal, é provável que o processo não seja tão traumático. Mas o mais importante da América Latina são as experiências políticas. Parece-me que o mais interessante da nossa região é que houve uma resistência ao neoliberalismo e com resultados. Tivemos sublevações em muitos países e muitos governos novos: Bolívia, Venezuela, Equador, que mudaram a agenda das sociedades latino-americanas. Nesse sentido creio que são bastante distintos os governos, digamos, nacionalistas, radicais, progressistas da Venezuela, Equador e Bolívia dos governos como o de Lula ou de Kirchner, que em última instância recompõe o poder dominante.

- O facto de aparecerem este tipo de governos na América Latina não é um sintoma da reconfiguração do sujeito político?

- Sim. O que se passa é que há sintomas e sintomas. Um sintoma é o que leva a Venezuela a tomar o controlo nacional sobre os seus recursos e a decidir-se por nacionalizações, a adoptar medidas de redistribuição da riqueza, a promover uma integração regional com os princípios ALBA (Aliança Bolivariana para os Povos da América) e com princípios de intercâmbio comercial equitativo. Outro muito distinto é a MERCOSUR e a UNASUR, políticas que recompõe mais os interesses dos grandes grupos económicos dominantes da América Latina que os interesses genuínos das maiorias populares. É o caso actual da Argentina, em que houve mudanças e transformações muito importantes mas em que a distribuição da riqueza continua a regredir, possivelmente de modo contínuo e agravado que nos anos noventa. As mudanças que interessam aos povos são as que melhoram os níveis de vida da população e que reduzem a desigualdade. E esta melhoria popular e redução da desigualdade só se começa a observar em alguns países latino-americanos, não em toda a região.

Um bofetão no neoliberalismo

- Que opinião lhe merecem as nacionalizações que o governo de Chávez está a realizar na Venezuela?

- Em primeiro lugar parece-me que são muito auspiciosas, porque põe um ponto final na ideia que só se pode privatizar. É como um bofetão no neoliberalismo. É a reversão completa dos princípios neoliberais que crêem que os grandes recursos naturais dos países devem ser geridos por grupos privados. Parece-me que é interessante o facto de Chávez ter prometido as nacionalizações e ter cumprido com o que prometeu. Em geral, na América Latina estamos acostumados a que se prometa uma coisa e que depois não se cumpra. E parece-me ainda que as nacionalizações são uma necessidade num país com a Venezuela, pois este é carente de uma estrutura industrial minimamente integrada. Na verdade é carente, quase, de uma indústria no sentido em que dizemos indústria, por exemplo, no Brasil, México ou Argentina. A Venezuela é um país de níveis intermédios, baseado numa riqueza petrolífera e numa cultura rentista derivada da sua exploração. E a única mudança numa sociedade como a venezuelana é o desenvolvimento industrial, que o Estado faz como ninguém. A burguesia venezuelana não o fez no passado e não o fará no futuro. É um grupo social que viveu sempre da renda petrolífera, é um grupo muito parasitário, que se acostumou sempre à fuga de capitais, ao esbanjamento, ao consumo, ao estilo de vida Miami, à falta de inversão e, como tal, só se poderia fazer um processo de industrialização se o Estado pagasse as rendas. O único perigo que vejo é o custo, das indemnizações, porque aqui há uma equação muito complicada. Se o preço do petróleo se mantivesse alto, haveria espaço de manobra. Mas se nos próximos anos começar a baixar, como tem acontecido no último ano, parece-me que comprometer os recursos do tesouro em indemnizações a estas empresas pode tornar-se problemático, tendo em conta que a administração popular, a que Chávez chama de controlo obreiro, pode ser exercida tanto em empresas nacionalizadas como não nacionalizadas. Aí vejo um problema, mas o processo parece-me muito promissor.

- As nacionalizações que estão a ocorrer na Argentina vão na mesma direcção daquelas realizadas por Chávez na Venezuela?

- Não. O governo de Cristina Kirchner adoptou algumas medidas de nacionalização, por exemplo, de fundos de pensões, que eram privados, e que voltaram para as mãos do Estado, e um conjunto de pequenas empresas também passou à órbita do Estado. Mas, primeiro, não são as empresas estratégicas, o que é uma diferença-chave em relação à Venezuela. Não só não são as empresas estratégicas, como o que mais chama mais a atenção é que as nacionalizações na Venezuela têm repercussão directa na Argentina, porque se se nacionaliza uma empresa argentina como a Techint, o governo de Kirchner apoia as reclamações e as críticas feitas pelos grupos económicos dominantes em relação a estas nacionalizações.

Batalha contra a direita

- Considera que o processo político na América Latina, dadas as experiências de governos denominados progressistas, segue o seu curso, ou como diz Fidel Castro, pode haver uma irrupção da direita?

- Creio que a direita está retomando a ofensiva. E isto vê-se na campanha mediática internacional que existe contra Chávez, contra Correa, e no intento de reeleição de Uribe, nas tentativas da direita chilena com Piñera; vê-se no Peru com o governo de Alan García, no México com Calderón e no Panamá com o recente triunfo de Martinelli. Ou seja, há como que uma linha "direitista" latino-americana, que retrocedeu mas que ainda têm os seus bastiões. Os principais bastiões, sem lugar a dúvidas, são Uribe na Colômbia e Calderón no México, e isso mantém-se. Há uma pressão importante na Argentina que se viu nos conflitos rurais do ano passado, que visa retomar a ofensiva. Mas diria que os principais objectivos da direita não foram atingidos. A direita tinha o objectivo de derrubar o governo de Evo Morales através de um golpe de Estado e fracassou no ano passado, como fracassou no objectivo de secessão das províncias do oriente boliviano; fracassou também no intento de derrotar eleitoralmente tanto Chávez na Venezuela como Correa no Equador. Pode-se dizer que, nos três países onde o processo político mais avançou, a direita não conseguiu recompor o seu poder. E em outros lugares predominam os meio tons. A direita ganhou no Panamá, mas perdeu em El Salvador onde a Frente Farabundo Martí ganhou as eleições. É um equilíbrio, mas creio que há que evitar aqui o impressionismo, a ideia que a direita está a voltar.

- Estamos praticamente às portas do bicentenário da emancipação da América Latina. Neste bicentenário poderíamos assinalar novamente a entronização de Espanha no hemisfério?

- Não, parece-me que o momento de entronização de Espanha foi no quinto centenário do descobrimento, em 1992. Nesse momento, década de 90, Espanha demonstrou as suas inversões na região, comprou petróleo, telecomunicações e entrou em força. No último ano, pelo contrário, está-se a assistir a um processo contrário, porque a crise está a afectar a Espanha mais severamente que qualquer outro país com interesses no exterior em toda a Europa. O desemprego e a dívida pública em Espanha estão a níveis recorde e a crise económica, industrial e financeira espanhola é provavelmente uma das mais graves da Europa. Parece-me que tal facto a médio prazo vai afectar muito as poupanças espanholas na América Latina. Vamos chegar ao bicentenário num momento em que há uma crise do domínio norte-americano muito evidente em toda a região e uma crise de domínios na América do Sul, e uma política de estreitamento de vínculos na América Central. É como se o continente se tivesse partido em dois. Os Estados Unidos reforçam o seu domínio, o seu controlo, sobre o México, o Caribe, a América Central, a Colômbia e o Peru, mas perde capacidade de influência no cone Sul. Não nos esqueçamos que no ano passado foram expulsos os embaixadores norte-americanos da Bolívia e da Venezuela, e ambos os países estiveram durante doze meses sem os chefes das missões diplomáticas de Washington. Então, na reunião de Trinidad e Tobago, viu-se uma política de Obama que tenta voltar ao esquema de Clinton, mais diplomático. Tal demonstra as dificuldades reais que os Estados Unidos enfrentam devido à sua crise económica e ao pântano militar em que estão atolados no Médio Oriente.

- Immanuel Wallerstein fala do declínio dos Estados Unidos enquanto império…

- Eu não me considero muito distante da ideia do declínio inexorável do império norte-americano. Pode, no entanto, declinar e também recompor-se. Já se recompôs muitas vezes. Parece-me que é como uma filosofia de vitória. Parece-me que é uma predestinação onde a história são sucessões de potências que ascendem e descendem. Não creio que o ciclo da história contemporânea esteja assinalado por essa inexorabilidade. Parece-me que distintos desenlaces dão resultados distintos.

Paradoxo do capitalismo

- Ainda que os Estados Unidos estejam débeis no cenário global continua a ser previsível a sua continuidade como a grande hegemonia mundial?

- Os Estados Unidos são a potência militar de todo o território mundial. E são o protector de todos os capitalistas do mundo. Não há nenhum país capitalista que esteja disposto ou que tenha possibilidades de substituir o Pentágono no controlo de centenas de bases militares em todo o mundo. Primeiro, os Estados Unidos têm a NATO, e tanto a Europa como o Japão encostam-se nessa organização. Os Estados Unidos mantêm a supremacia militar, e é esse o grande instrumento de dominação que subsiste. No plano económico e financeiro, a situação é mais complexa porque, paradoxalmente, os Estados Unidos são o centro da crise actual mas o refúgio de todos os capitalistas do mundo é o dólar. Há então um paradoxo: o país mais ameaçado é o refúgio, e ao mesmo tempo é o país que procura a reconstituição do FMI que impõe a política monetária mundial através da Reserva Federal. Há que separar o conjuntural do médio prazo. Os Estados Unidos estão numa crise muito aguda, mas continuam a ter as ferramentas chave da geopolítica mundial.

- Vê-se na América Latina uma capacidade de intervenção por parte da direita espanhola através da Fundación FAES, de José María Aznar, no fascista Partido Popular e seus líderes na região como os Vargas Llosa, Enriques Krause, Marianos Grondona, Jorges Castañedas. Essa intervenção pode estar a gerar alguma perturbação nos governos progressistas?

- Eu diria que os perturba mais a direita latino-americana que a espanhola. A direita latino-americana é suficientemente conservadora e reaccionária, mantendo reservas e recursos suficientes, como os Mariano Grondona, Piñera, Vargas Llosa e os herdeiros de Octavio Paz. A direita cultural, neoconservadora, latino-americana, governou a região durante décadas, e alimenta os governos militares, mantendo um pensamento elitista, liberal, europensante e eurocêntrico.

A grande inquisição mediática

- E têm a capacidade de manipulação mediática…

- Claro, é essa a novidade. Porque governaram historicamente através da igreja, dos seus recursos, das suas escolas, e agora como têm os meios de comunicação sob o seu domínio exercem uma influência despótica através dos mesmos.

- Os meios de comunicação são agora o que foi a igreja católica?

- São a grande inquisição e exercem uma influência nefasta. Por isso me parece tão salutar e transformadora a decisão de Chávez de não renovar a licença da RCTV. Creio que essa medida é muito mais transcendente que qualquer nacionalização de uma empresa siderúrgica.

- Mas com essa resposta países de direita como Colômbia, Peru ou México vão dizer que Claudio Katz é um tipo totalitário. Que responderia a isso?

- Dizem isso porque para eles manipular monopolisticamente um grupo de meios de comunicação é um exemplo de democracia. Há uma hipocrisia absoluta. Os donos dos meios de comunicação são um punhado de pessoas, um grupo minúsculo que não é eleito. É algo paradoxal, pois se todos os congressistas têm de ser votados e qualquer presidente, presidente da câmara e governador também, por sua vez os meios de comunicação, que têm um poder muito mais sólido e estável que todas as autoridades eleitas de qualquer país, a esses ninguém elege, são puro poder do divino. Dizem que competem entre si através da mudança de canais, mas a oferta é minúscula. Ou seja, o telespectador pode optar entre a CNN e a Globovisión, mas isso nada muda, vêm o mesmo.

- Como é possível democratizar os meios de comunicação na América Latina?

- Do mesmo modo como se democratiza qualquer instituição. Os meios de comunicação não podem ser privilegiados em relação a outras instituições. Temos que democratizar a vida política, as escolas, as instituições, as forças armadas, a sociedade, tudo. Tem de haver uma preocupação quotidiana de acabar com as discriminações de género, de raça, de etnia. Na América Latina estamos a mudar as constituições de muitos países para incorporar novos direitos, para incorporar os direitos esquecidos dos indígenas, da juventude, das crianças. Ou seja, o desenvolvimento da sociedade é a ampliação dos direitos. O único direito de que não se pode falar é o direito à comunicação. Esse quer ser intocável.

- O politólogo brasileiro Emir Sader, actual secretário executivo do CLACSO (Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais), dizia que os meios de comunicação, para serem democratizados, necessariamente teriam que passar ao controlo do Estado. Concorda?

- Creio que têm de ser propriedade pública, mas atenção, não podem ser manuseados por um governo, porque isso levar-nos-ia a formas totalitárias. Há muitas experiências nos últimos 50 ou 60 anos de instituições públicas que não dependem do governo. O caso da BBC de Londres é muito comentado. Não o estudei, pelo que não posso opinar, mas conheço muitas experiências onde o importante é que estejam sujeitos a um regime legal que impeça a sua manipulação pelo governo, por exemplo. Não podemos passar de meios manipulados por grupos capitalistas a meios manipulados por governos. Tem que haver liberdade informativa, mas também propriedade pública. Creio que há que discutir os mecanismos de propriedade democrática dos meios de comunicação.

- Tem a sensação de que a América Latina está a passar por um processo de reconfiguração política?

- Tenho a sensação que é um processo de longo prazo e que terá que enfrentar desafios importantes. Não será linear. E estamos num ponto em que a nossa batalha contra a direita vai ser muito dura, a direita de Uribe, de Calderón, de Alan García e também a direita militar. Os Estados Unidos mantêm as suas bases militares. Não podemos deixar-nos levar pela imagem de Obama como aquele que transformou as relações com a região. As bases do Comando Sul com uma estrutura de controlo militar em toda a região continuam intactas, inclusivamente medidas mínimas como o encerramento de Guantánamo não se implementam, o embargo a Cuba não se levanta… Isto é, os grandes problemas de soberania política na nossa região, no bicentenário, continuam na ordem do dia.

Colômbia, uma sociedade militarizada

- Como analisa o armamento da Colômbia para enfrentar os seus conflitos internos e as repercussões directas na economia do país?

- O pior da Colômbia são esses gastos terríveis, esse esbanjamento de fundos em material militar que não se faz para defender a soberania nacional, que não é uma necessidade do país para defender as suas fronteiras frente a uma agressão externa, única justificação real que uma nação pode apresentar em certo momento para destinar tantos recursos à actividade bélica. Apenas se estivesse ameaçada a soberania do país e a vida dos seus cidadãos tal seria justificável. Na Colômbia está a ocorrer a aurora da formação de uma sociedade militarizada para servir os interesses dos grupos dominantes, que gerem os recursos deste país. Creio que há tendência à militarização na América Latina, que está em marcha não só na Colômbia como também no Brasil, que cada vez mais está a destinar uma elevada percentagem de fundos públicos para gastos militares, fabricando submarinos, assinando convénios com a França para fazer inversões extraordinariamente elevadas no sector e que tem forças militares em ocupação no Haiti neste momento. Temos que estar muito conscientes na América Latina que a nossa censura é ao Pentágono, ao imperialismo, aos norte-americanos, mas também ao gasto militar na região com fins não populares. Temos que estar muito atentos a isso e manter o alerta a soar.

- Mas também para os países fabricantes de armas isso é um excelente negócio…

- Eles vivem disso. A guerra é uma necessidade do imperialismo, uma necessidade estrutural, não uma opção. Se se fabricam armas, é preciso usá-las. Há um grupo de fabricantes que vive directamente disso: Estados Unidos e todo o seu dispositivo militar associado – Israel, Colômbia, Egipto, Austrália. Para os Estados Unidos é necessário manter a sua supremacia bélica como advertência permanente a países como a China, no sentido de ficarem quietos, de não tentarem desafios. Há uma reprodução de guerras e uma tendência à guerra infinita, à guerra sem proporções, como forma de exercer permanentemente essa supremacia, advertindo o resto do mundo que ninguém se pode atrever a desafiar o poder imperialista. É contra isso que temos de batalhar.

- Finalmente, não descarta que neste processo terminemos, se não numa guerra mundial, numa série de conflitos periféricos como estratégia para superar a actual crise do sistema capitalista?

- Sim, é possível. Mas há uma grande diferença em relação aos anos 30, que é o facto de não ser já uma guerra entre potências como a França contra a Alemanha ou os Estados Unidos contra o Japão. Há um imperialismo colectivo, associado, que faz a guerra contra as frentes periféricas, e faz guerras de advertência contra países periféricos que possam ascender. Parece-me que vamos ter muitos conflitos porque o imperialismo precisa deles, com ou sem crise financeira. Os Estados Unidos acabaram de devastar o Iraque, agora preparam-se para devastar o Afeganistão e estão a advertir permanentemente o Irão com uma possível invasão, tal como estão a fazer com a Coreia do Norte. A crise acentua essa tendência para a guerra, porque está na natureza do sistema, e por isso são tão importantes as alternativas como o Fórum Social Mundial e a emergência de coligações anti-bélicas por todo o mundo contra a guerra. Surgiram e emergiram minorias colectivas na Europa e na América Latina de resistência à guerra, e parece-me que vão continuar a surgir novas, renovando-se.

[1] El Porvernir del Socialismo, coedição Ediciones Herramienta e Ediciones Imago Mundi, Buenos Aires, 2004, 256 páginas, ISBN 950-793-026-4

O original encontra-se em http://www.argenpress.info/2009/07/entrevista-con-el-economista-argentino.html .
Traduzido por João Camargo.

Esta entrevista encontra-se em http://resistir.info/ .

domingo, 19 de julho de 2009

SERVIDÃO HUMANA/ESCRAVOS DO DESEJO (OF HUMAN BONDAGE, 1934)

ESCRAVOS DO DESEJO - 1934

Cartazes:



Especificações:

Formato: RMVB
Áudio: Inglês
Legenda: Português
Duração: 83 min.
Cor: P&B
Tamanho: 287Mb
Partes: 2 (190Mb + 96,5Mb)

Download:

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Senha:

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Créditos: F.A.R.R.A.-Andriotti Jr.


Diretor:

John Cromwell

Roteiro:
Lester Cohen (roteiro)
W. Somerset Maugham (livro)

Elenco:
Leslie Howard (Philip Carey)
Bette Davis (Mildred Rogers)
Frances Dee (Sally Athelny)
Kay Johnson (Norah)
Reginal Denny (Harry Griffiths)
Alan Hale (Emil Miller)

Sinopse:
Philip Carey (Leslie Howard) é um artista inglês que estuda artes em Paris há quatro anos e sofre de uma malformação congênita no pé direito, a qual sempre foi motivo de vergonha e traumas. Desencorajado por seu professor, Philip abandona a escola de artes e retorna a Londres para estudar medicina. É quando conhece e se apaixona obcecadamente por uma linda, loira e vulgar garçonete, Mildred Rogers (Bette Davis). Philip faz de tudo para agradá-la e conquistá-la enquanto ela responde com indiferença e frieza. Quando ele expressa seu interesse em iniciar um relacionamento sério, ela o manipula, explora e trata com crueldade até abandoná-lo. Philip segue sua dolorosa vida até conhecer Norah (Kay Johnson), uma escritora que assina seus trabalhos através de um pseudônimo masculino. Ela lentamente o ajuda a se curar da dolorosa obsessão a Mildred, até que esta retorna buscando ajuda, já que agora está grávida e sozinha.

Comentário:
Servidão Humana/Escravos do Desejo (Of Human Bondage, 1936) é uma adaptação do livro homônimo do famoso dramaturgo francês William Somerset Maugham. Somerset Maugham estudou medicina, mas abandonou logo que sua carreira como escritor teve êxito. Durante a Primeira Guerra Mundial também trabalhou como agente secreto, fato em comum com outros importantes escritores clássicos e contemporâneos como: Christopher Marlowe, Ben Johnson, Daniel Defoe, Graham Greene e John le Carré. Seu estilo é conhecido por ser uma mistura de ficção e realidade e, por vezes, autobiográficos. É assim que os críticos clamam a obra Servidão Humana, já que existem vários fatos na obra que coincidem com a vida do autor, sejam em referências diretas ou indiretas, mesmo Maugham ter sempre negado e afirmado que a obra é muito mais ficção que realidade. O livro, de 1915, é considerado um dos mais importantes do dramaturgo devido a sua narrativa diferenciada naquela época e o grande teor autobiográfico, mesmo sendo uma ficção. Além, claro, da profundidade psicológica e da sordidez das personagens numa narrativa clara, cínica e suscinta. A obra teve 3 adaptações cinematográficas: a primeira em 1934 (com Leslie Howard e Bette Davis), a segunda em 1946 (com Paul Henreid e Eleanor Parker) e em 1964 (com Laurence harvey e Kim Novak), sendo a versão de 1934 considerada a melhor principalmente pela bem manipulada interpretação de Bette Davis, a qual lhe rendeu sua primeira indicação ao Oscar de Melhor Atriz e a única indicação recebida pelo filme naquele ano. O título exemplifica todo o significado da história, Human Bondage (ESCRAVIDÃO HUMANA). Sem dúvida a história se destaca na máxima popular quem eu quero não me quer, quem me quer mandei embora devido a relação conflituosa a qual os seres humanos se submetem, naquela sempre e constante intenção de querer o que se não tem e de amar o que se não pode, bastante similiar ao que diz o poema Quadrilha, de Drummond, onde João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém. A consciência das personagens de compreenderem esses fenômenos de amor e recusa é presente o tempo todo, eles sabem que o amor é uma droga e que o desejo é incontrolável, e a forma explícita como isso é demonstrado dá uma dimensão muito maior de submissão e escravidão na qual nos identificamos. Hoje em dia o cinema já explorou este tema de forma incansável e até bastante redundante, mas para a época foi bastante diferente e um tanto chocante. Possui sequencias de diálogos memoráveis numa edição bastante eficiente e moderna numa história que, não importa o tempo que passe, sempre será atual.

Trivia:
-É o primeiro de 3 filmes protagonizados por Bette Davis e Leslie Howard, os outros dois são: A Floresta Petrificada (The Petrified Forest, 1936) e Somos do Amor (It's Love I'm After, 1937).
-Max Steiner, talvez um dos compositores mais influentes nas décadas de 30 e 40, é o compositor desse filme. Ele compôs mais de 200 títulos, sendo 21 deles estrelados por Bette Davis, que chegou a afirmar que "sua composição eram invasiva à sua atuação" no filme A Estranha Passageira (Now, Voyager, 1942). Max Steiner foi ficar famoso em 1942 com a trilha sonora de Casablanca.
-Embora tenha participado de várias produções anteriormente, este filme é tido como "a grande estréia de Bette Davis". Foi com ele que ela recebeu o status de 'estrela'.
-Bette Davis tinha certeza receberia uma indicação ao Oscar, mas primeiramente não foi inserida na lista oficial de indicados daquele ano, que incluia apenas: Grace Moore, Norma Shearer e Claudette Colbert (vencedora). O fato fez com que o seu nome fosse inserido posteriormente, prática não mais aceita pela Academia.
-Bette Davis queria o papel de Mildred Rodgers porque acreditava que seria sua grande estréia em Hollywood depois de anos estrelando filmes que não a levaram a lugar algum. Ela implorou ao chefe da Warner Brothers, Jack L. Warner, a liberá-la do contrato para que pudesse estrelar o filme. Ele concordou porque estava certo do iminente fracasso, mas quando sua performance começou a especular uma indicação ao Oscar, a Warner iniciou uma forte campanha encorajando a Academia em não votar em Bette Davis. Naquela época, os votos e as contagens eram feitas pelos próprios membros da Academia (dos quais a Warner também fazia parte). Os fãs e apoiadores de Bette Davis ficaram tão chocados com a omissão de seu nome quando as indicadas a Melhor Atriz daquele ano foram divulgadas ao ponto de fazerem uma petição para que seu nome fosse inserido, e foi o que aconteceu posteriormente. Por causa desse fato, a Academia mudou suas regras de voto e as contagens passaram a ser feitas pela empresa PriceWatherhouse, a qual presta estes serviços à Academia até hoje.

Fotos:




Fonte:
IMDb.com
Filmsite.org