Flavia Alli no CORREIO DA CIDADANIA |
Osmarino Amâncio Rodrigues, seringueiro e militante, em Brasiléia
(Acre), esteve presente em duras lutas contra a destruição do meio
ambiente e enfrentamentos contra fazendeiros e o governo na expulsão da
população acreana dos seringais. Esteve ombro a ombro com Chico Mendes,
nos empates na floresta amazônica, opondo-se à entrada do capitalismo e à
destruição da região pelas madeireiras, na década de 1970. Cercado por
um cenário de angústia e miséria, Osmarino continua na resistência,
organizando os trabalhadores em uma guerra incansável contra o
capitalismo, o qual anda de mãos dadas com o governo petista.
Neste semestre, Osmarino viajou pelo Brasil em um circuito de debates
e palestras organizado por sindicatos e movimentos sociais. Em suas
passagens, abordou a criminalização dos seringueiros, o extermínio dos
povos indígenas e nativos. Denunciou a compra de trabalhadores através
de propinas, os projetos de capitalismo verde de Marina Silva e alertou
sobre a destruição da Amazônia com o Novo Código Florestal. No movimento
sindical, reafirmou a importância da organização dos trabalhadores por
um novo projeto de sociedade e do fortalecimento de uma central sindical
que reorganize o movimento na luta de classes.
Leia, abaixo, a íntegra da entrevista concedida por Osmarino Amâncio.
Em relação à organização dos trabalhadores no movimento
sindical, quais as dificuldades encontradas, no Acre, para uma
resistência de enfrentamento ao governo, e os ataques que ele vem
apresentando em parceria com os setores da burguesia?
Osmarino Amâncio: Primeiramente, são as instâncias
geográficas da floresta. Para mobilizar a associação, o sindicato, uma
cooperativa dos extrativistas, depende de caminhar muito para fazer uma
convocatória boa. Depois vem a falta de formação e informação, pois
aquela população vive no isolamento, onde o único meio de comunicação é a
rádio nacional de Brasília, ou uma rádio local. A gente só escuta a
idéia do agronegócio e a política governamental fazendo a parceria com o
setor da burguesia daquela região. Outra questão é a própria falta de
educação, pois é um local precário, com a educação muito fragilizada. Na
floresta, as pessoas em geral terminam apenas a 4ª série do ensino
primário. Isso tudo não tem impedido a classe trabalhadora de resistir
contra aqueles grandes mega-projetos de madeireiras, de mineradoras, de
barragens, de hidrelétricas.
É um processo que chamamos de revolucionário na luta pela reforma
agrária adequada àquela região. Uma luta pelo socialismo, pois nós não
reivindicamos a propriedade privada. Nós não queremos títulos de
propriedades, reivindicamos o usufruto dos seringueiros. Mas, hoje, o
Instituo Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), entidade criada pela
Marina Silva para fiscalizar a floresta e as reservas extrativistas, tem
criminalizado as lideranças dos seringueiros - os quais antes podiam
colocar um roçado de subsistência, e já não podem mais queimar o roçado
para plantar a lavoura para a própria subsistência. Hoje, você não pode
mais matar uma caça, porque o ICMBio está proibindo. Assim, eles estão
criminalizando as lideranças e a população, fazendo terrorismo dentro da
reserva, andando armados. Esse é o mesmo órgão que dá licença para as
barragens na Amazônia, para o manejo madeireiro, é o órgão que veio para
facilitar a vida do agronegócio na Amazônia, das multinacionais e das
ONGs. E, veio a serviço do grande capital, com a idéia da nova política
da “economia verde” naquela região para exploração dos meios naturais.
Eles tiram o único modo de subsistência de vida dos trabalhadores. E a
alternativa que dão para a gente é uma “bolsa verde”: 100 reais por
mês, que não dá para comprar um saco de farinha, e ficamos impedidos de
extrair os nossos produtos, pois estão proibindo fazer ramais para
escoamento do produto dentro da reserva; ao mesmo tempo fazem vista
grossa ao manejo madeireiro, que está muito acelerado na nossa região.
Hoje, esses são os principais temas, pois se você não adere à bolsa
verde, você tem que ceder ao plano de manejo. Se você não fizer o plano
de manejo, tem que ceder a sua área como concessão para uma madeireira.
Nenhum seringueiro tem condições de fazer plano de manejo, pois exige
uma assistência técnica, um trabalho especializado. Assim, o trabalhador
fica com sua área à mercê das madeireiras, das ONGS, para uma empresa
multinacional fazer o plano.
O que mais preocupa é que não é só uma política do agronegócio, é uma
política de Estado, do governo. O ICMBio e o Ministério do Meio
Ambiente obedecem à regra da monocultura, organizada pela Monsanto.
Tem-se um grande investimento do BNDES, do Banco Interamericano do
Desenvolvimento para as barragens na Amazônia, para o programa de manejo
madeireiro e a política do mercado de carbono. Na nossa região tem mais
de 20 mega-projetos, vão detonar com aquele bioma! Se não tivermos uma
atitude radical de brecar esse avanço acelerado das multinacionais, a
destruição será total. No Cerrado, por exemplo, estão sendo
implementadas a monocultura da soja, a cana para o etanol e as
barragens. A construção das barragens na Amazônia também atende a essa
política. Temos agora a construção da BR do Pacífico, que corta a região
meio a meio para escoamento dos produtos de exportação.
Portanto, são investimentos para a “integração” da América do Sul,
que precisam ter uma atenção especial do mundo acadêmico, das
comunidades de fora da Amazônia, para que possamos fazer um grande
empate contra o Estado, contra a legalização dessa destruição através da
certificação do Conselho de Manejo Florestal (selo FSC). Não é um
empate contra os fazendeiros e madeireiras, e sim contra o Estado.
Aí, eu pergunto: o que é destruição? Se a pessoa consegue um selo de
exportação, deixa de ser “destruição” e passa a ser “sustentabilidade”.
Esse é o perigo da política “auto-sustentável”, que ao conceder a
certificação dá a liberação para qualquer atrocidade naquele bioma. Lá
está o maior banco genético do planeta! Se não tiver uma atenção para
conhecer aquela região, vamos ficar sem Amazônia em pouco tempo.
O governo e as empresas têm muito dinheiro para injetar em
organizações que combatem os trabalhadores na Amazônia, com respaldo
logístico grande. De que forma eles têm intervindo na realidade e qual a
resposta dos trabalhadores frente à situação?
Osmarino Amâncio: Quando nós organizamos os empates,
na década de 1970 e 1980, 100% desse pessoal era analfabeto, não sabia
ler e escrever. Mas eles tinham vontade de defender a vida. Quando se
tem vontade de viver, criam-se as condições, o “anticorpo”, como
chamamos na floresta. Na Amazônia, para viver, tem que se adaptar e
criar anticorpos, pois não se vai enfrentar somente o Estado, a União
Democrática Rural (UDR), as grandes indústrias, as mineradoras. Vai
enfrentar também a cobra, a febre amarela, a malária. É uma série de
inimigos que o seringueiro consegue combater. E conseguiu fazer esse
enfrentamento. Mas o seringueiro está adaptado à floresta. Eu diria que o
pessoal consegue sobreviver com a dor por conta da vontade de viver.
Não tem um dia que o seringueiro não sinta dor na floresta. Ou ele é
mordido por tucandeira, cobra, marimbondo, ou dá uma topada, sofre um
corte... Ele convive diariamente com dor, estando adaptado a tais
questões.
Para discutir a intervenção do grande capital na nossa comunidade,
estamos nos organizando em associações. Cada seringal, cada comunidade
que tem 50 ou 100 famílias, organiza um núcleo de base. Além dos
sindicatos, das oposições sindicais, estamos também na discussão de
desfiliação dos sindicatos da CUT, já que ela vive em lua de mel com o
governo. Estamos em um processo de fortalecer a CSP Conlutas, uma
central que para nós tem tido uma postura de defender as propostas da
classe trabalhadora, a reforma agrária sob controle dos trabalhadores e o
enfrentamento ao grande capital contra a depredação dos meios naturais.
Outro movimento é em direção às universidades, fazendo um desafio à
juventude, ao setor acadêmico e intelectual. Vamos intervir na Rio+20,
com todas as nossas idéias e documentos, denunciando o governo e as ONGS
como USAID, WWF, Greenpeace, todas as entidades que defendem o
“desenvolvimento sustentável” para evitar o aquecimento global, que
acham só ser possível de evitar colocando os meios naturais no mercado.
Isso diz respeito à política do mercado de carbono, por exemplo, que
libera o norte e os países ricos (Japão, EUA, Alemanha...) para
continuarem poluindo no resto do mundo e comprando terras na Amazônia.
Assim como os grandes plantadores de soja vão continuar trabalhando no
monocultivo do plantio e dizendo “nós podemos destruir aqui, mas estamos
preservando na Amazônia”.
E tem um povo nativo que não é levado em consideração na região, o
qual vive da pesca, da caça, da castanha, do roçado de subsistência.
Esse povo está se tornando, para os governantes, o principal empecilho
na implementação dos mega-projetos. Estão sendo criminalizados por uma
coisa que sempre fizeram. Agora foi decretado em nossa região o “fogo
zero”: todo mundo tem que cozinhar à lenha. Como você vai decretar “fogo
zero”, quando o seringueiro cozinha à lenha? O trabalhador precisa do
carvão para fazer comida, da lenha para fazer a comida, e queimar o seu
roçado para plantar a macaxeira, o milho, criar os seus bichinhos. Nós
trabalhamos com leguminosas, não vamos desmatar na beira dos igarapés,
ou derrubar a floresta, pois dependemos da floresta para nossa
sobrevivência. No entanto, o governo incentiva o desmatamento através do
plano de manejo. Quando o governo o implementa, está incentivando essa
destruição, pois a cada 50 mil hectares desmatados, cinco mil ficam sem
floresta alguma.
Para nós a organização está se dando por um “trabalho formiga”, pois é
muito difícil, devido ao deslocamento e locomoção para a convocação dos
trabalhadores às reuniões no seringal. Cada seringal tem uma
associação, um núcleo de base, onde são feitas as discussões. Porém,
elas estão sendo minadas pelo governo com esses projetos, em que ele
passa a pagar um salário para algumas lideranças fazerem propaganda dos
programas governamentais. Isso traz muitas dificuldades ao movimento na
região. Já conseguimos ganhar o sindicato de Xapuri, tiramos a pelegada,
e estamos organizando a oposição sindical em Brasiléia. Será um
processo difícil, mas não impossível, porque nós não temos opção. Ou a
gente se organiza e enfrenta esse grande capital, ou então seremos
expulsos, e eles farão toda a destruição na Amazônia.
Como é feita essa mencionada cooptação dos trabalhadores, de
modo a retirá-los dos movimentos e eleições sindicais, e qual a
interferência que isso tem causado na luta de classes?
Osmarino Amâncio: Essa “compra” das pessoas é feita
de várias formas: oferecem bolsas de estudo, na Bolívia, para tirar as
lideranças do movimento; pagam salários; dão cargos no governo. O último
investimento foi 500 mil reais na compra de tratores, dizendo que se as
pessoas fechassem com tal chapa, eles dariam tratores para a
comunidade. Tínhamos quatro chapas disputando o sindicato; hoje estamos
com duas... As pessoas que não têm consciência política ficam
vulneráveis a serem compradas por essa política do governo, pois a
pobreza é muito grande. A comunidade que ganha um trator acha uma coisa
estupenda. E as pessoas não têm consciência da Bolsa Verde que estão
assinando, a qual dura apenas dois anos – e não sabem que qualquer
“deslize” os fará serem expulsos da reserva.
A criminalização é tática para o governo do estado do Acre. Ele
atrelou todo o movimento, levou os parentes do Chico Mendes, por
exemplo, que receberam cargos comissionados e salários do governo para
fazerem o comercial do manejo madeireiro, ficarem contra o movimento e
defenderem o governo. Nós estamos resistindo a isso há quatro décadas! A
gente achava que com a CUT e o PT teríamos um alívio, mas essas
entidades se voltaram contra nós, contra os próprios trabalhadores. A
CUT vive em lua de mel com o governo. O PT obedece às regras do
agronegócio. O Lula, antes de sair da presidência, disse que os
usineiros eram os heróis! As áreas indígenas não foram demarcadas e a
reforma agrária não foi feita nesse país! Nós sofremos um golpe, uma
traição muito grande, inclusive pela Marina Silva, que criou a Lei de
Florestas Públicas, a qual privatiza 50 milhões de hectares de floresta
para promover a biopirataria. O próprio Estado cria, aparelha, atrela o
movimento e as pessoas.
A luta de classes é uma luta muito dura. O Estado é corrupto, as
instituições estão apodrecidas, para sobreviver oferecem propina às
lideranças. Imagina uma liderança que está na maior pobreza, recebe
qualquer proposta, e cede... Mas é preciso reconhecer que se receber a
propina a consciência vai se voltar contra si próprio. Por isso temos de
fazer o trabalho em que acreditamos.
A aprovação do Novo Código Florestal vem para alargar as
possibilidades de exploração na floresta amazônica, ou apenas para
legitimar burocraticamente uma prática e uma política existente no país
há décadas?
Osmarino Amâncio: O Novo Código Florestal só está
legalizando toda a destruição que foi feita pelas multinacionais na
Amazônia. Tem perdoado toda a atrocidade do desmatamento que foi feito, e
consolidado a proposta da economia verde, facilitando o mercado dos
bens naturais. O Novo Código Florestal é, mais do que nunca, concentrar
terras nas mãos de quem têm condição financeira. Vem para legitimar
aquelas mesmas pessoas que deveriam repor o estrago que fizeram, para
oficializar as práticas do agronegócio, o monocultivo, a soja, o
eucalipto, a cana para o etanol... E em nome do “desenvolvimento
sustentável” temos uma lei que garante, sem critério algum, a
implementação dessa política na Amazônia, de forma inconsequente. A BR
do Pacífico, por exemplo, acabou de ser consumada.
O que vamos exportar? A madeira, os produtos naturais extraídos pelas
empresas e pelo latifúndio. Uma lei do Sistema Nacional de Unidade e
Conservação (SNUC) tirou o poder dos seringueiros de decidir sobre os
projetos para a Amazônia. Antes havia um plano de utilização que dizia
que qualquer projeto para a Amazônia teria de passar primeiro pelo crivo
da assembléia dos seringueiros. O SNUC tirou esse poder.
Hoje, quem decide é o conselho deliberativo, criado pelas entidades
governamentais. A criação da Lei de Florestas Públicas, da Marina Silva,
facilitou a concessão para desmatar a região. Essa concessão dura 40
anos, e ao fim deste prazo, após explorar tudo o que poderia, ela pode
ser renovada por mais 30 anos. Portanto, a lei privatiza a Amazônia por
pelo menos 70 anos. Isso vai destruir com culturas milenares que vivem
nesses locais, com a população nativa. Acabarão com a vida, sendo que
ali se encontra o maior ar condicionado do planeta, o ar que refrigera a
Terra!
A hidrelétrica de Belo Monte, por exemplo, tem 500 km² que serão
inundados. A de Santo Antônio e Jirau são duas obras que estão
ultrapassando os 40 bilhões de reais. Tudo isso daria para resolver o
problema da educação, da saúde, implementar bancos de germoplasma,
investir em pesquisa e evitar os desastres ecológicos, consequências do
desastre econômico e social do sistema que vivemos. O Novo Código Florestal é o menino dos olhos do latifúndio, do agronegócio, do hidronegócio.
Nesse cenário, de que modo tem se dado a repressão aos povos
indígenas e nativos daquela região com a entrada massiva das grandes
corporações no extermínio dessa população?
Osmarino Amâncio: Primeiro, eles tentam usar essas
populações que têm dificuldade de entender o que está por trás de cada
projeto e passam a fazer a tal da “formação”, para convencer os índios a
aceitar o plano de manejo madeireiro nas áreas indígenas. É a mesma
coisa que a igreja fez quando queria “salvar” os índios e mandá-los para
o céu. Assim, todos estão lá, virando evangélicos, obedecendo à
cartilha governamental. A grande maioria é desinformada, e sem condições
de avaliar o conteúdo disso. Essa é uma das práticas que eles têm
usado.
A outra é a criminalização. Por exemplo, no meio indígena, os jovens
quando completam 16 anos casam-se. Eles acusam esses jovens de estupro,
ou até mesmo as lideranças, a fim de exterminar esse povo, impedindo sua
reprodução. Os índios estão casando e ficando escondidos, pois não
podem mais se relacionar, por serem acusados de estupradores. A
justificativa seria uma lei no Brasil que diz que ter relações sexuais
com uma menina menor de idade é estupro. No entanto, na floresta é
cultural homens e mulheres se casarem com esta idade (16). Eles
confundem a população, e acabam criminalizando não só os índios, mas os
seringueiros também.
Podemos ver que não é somente com as leis e programas ambientais
(Bolsa Verde, Plano de Manejo etc.) que eles criminalizam. Outras leis,
como a questão da prostituição infantil, têm sido usadas para este fim.
Nas cidades, por exemplo, o narcotráfico tem de fato praticado isso e o
governo não fiscaliza. O exemplo é Belo Monte. Altamira tem 100 mil
pessoas, mas estão chegando 120 mil para trabalhar, é um caos social. A
prostituição naquele lugar vai triplicar, o narcotráfico vai se
aproveitar da juventude, e como o Estado vai evitar o estupro e a
barbárie? Não vai evitar! O Estado cria mecanismos, a gente vê como
exemplo as obras da Copa do Mundo, pelos quais estão expulsando as
populações dos bairros das periferias e jogando para fora das cidades e
dos centros urbanos, indenizando com migalhas. As obras da Copa
institucionalizam a criminalização, jogando as pessoas em lugares que
não se tem estrutura para sobreviver, sem escolas, postos de saúde,
transporte etc. É um problema orquestrado pelo próprio sistema, e nós
estamos no meio disso tudo.
Eu assisti pela televisão o que fizeram em Pinheirinho (SP). Teve um
despejo numa cidade inteira praticamente, para defender o Naji Nahas,
para defender o sistema capitalista, a propriedade privada! A sociedade
capitalista que vivemos é só barbárie! Na floresta, nós compreendemos
que essas populações estão sendo expulsas de suas residências, sob o
nome de “remoção”. O Estado tem utilizado de vários nomes para deturpar a
realidade nua e crua que é esse sistema de acumulação de riqueza na mão
de poucas pessoas.
Como o “capitalismo verde” de Marina Silva é compreendido pelos trabalhadores e seringueiros na Amazônia?
Osmarino Amâncio: Virou uma doença! As pessoas não
entendem o significado da nova economia verde implementada na Amazônia. O
desenvolvimento sustentável, na nossa compreensão, é diversificar uma
economia sem ameaçar a fonte de renda e as gerações futuras. No caso, a
implementação dessa economia verde está ameaçando a fonte de renda,
pois, por exemplo, Belo Monte não é sustentável – tem gerado energia a
um grupo de empresas para continuarem depredando a natureza, explorando
trabalhadores e inundando uma grande área da floresta, que vai acabar
com várias espécies e culturas. E tampouco a energia da usina vai servir
para a população.
Outro exemplo é o manejo madeireiro. Se você tira toda a floresta
para o manejo – sendo que ela é fonte de renda da população local, é ela
que evita, também, o aquecimento global –, desequilibra ambiental e
socialmente toda a região. Eu vivo da castanha, se acabar a floresta
como vou sobreviver? Não fui ensinado a trabalhar na agricultura, e
muito menos a região é propícia à agricultura. O aproveitamento racional
daquela região não está sendo feito pelos grandes projetos de expansão
com a proposta da economia verde. A Marina Silva organizou junto com o
Lula este projeto, de mãos dadas com a Monsanto – o primeiro estrago foi
a aprovação dos transgênicos – e depois veio a Lei de Florestas
Públicas e o mercado de exportação dos bens naturais. Quem tem o selo de
exportação pode destruir o que é ilegal de destruir, mas que por conta
do selo vira “legal”.
O grande desmatamento vem do latifúndio, não dos pequenos
proprietários. Em 1980, no estado do Acre, 10 pessoas eram donas de oito
milhões de hectares de floresta – mais da metade do estado. A MANASA,
hoje, é dona de 4 milhões de hectares de terra. As pessoas no governo
foram as que tiveram mais capacidade de dar estrutura para o
agronegócio, em especial o governo Lula com a Marina Silva no
Ministério, e agora a Dilma Rousseff com essa ministra do Meio Ambiente
(Izabella Teixeira). Eles não têm critérios para aprovar leis que
destroem todo um potencial natural. As barragens são feitas sem
discussão em audiência pública. É uma vergonha! Os projetos vêm todos
prontos para serem implementados. Se as pessoas resistem, vão para o
enfrentamento com o exército e a polícia. A Força Nacional, hoje, não
sai de dentro da floresta para criminalizar os seringueiros e os índios.
E como se insere a Rio +20 nesse cenário?
Osmarino Amâncio: A Rio +20 será para selar, como um
todo, entre sociedade e governo, uma proposta de “economia
sustentável”. Esta proposta é uma idéia do modelo capitalista que temos,
que se apropriou da natureza e da ecologia para ganhar muito dinheiro,
sem se preocupar com o desastre que vai acontecer nas gerações futuras. A
Marina foi a peça chave no Ministério do Meio Ambiente, arrodeada de
ONGS e entidades que fazem o comercial do selo de exportação FSC. Isso é
uma proposta perigosa, de lucro imediato, de concentração da riqueza da
natureza. Não deveria estar se comercializando a floresta, pois ela é
direito de todos. A natureza que se evoluiu para a humanidade tem hoje
uma minoria de capitalistas se apropriando dela, que cria as leis e
privatiza em nome da “sustentabilidade”.
É muita responsabilidade de todos fazer o enfrentamento a essa
proposta que será selada na Rio +20. Essa é uma discussão que vem desde a
década de 1970, em que já estávamos realizando os empates na Amazônia
contra a destruição, depois veio a ECO-92 com essa discussão. O
agronegócio não está preocupado com as consequências disso. Apenas com a
soja, com a cana para o etanol, as barragens. Na Amazônia tem uma onda
de açudagem em complemento às barragens, tudo pensado para a exportação
dos meios naturais. O seringueiro que vive do seu roçado de
subsistência, da castanha, da caça e da pesca, hoje é o vilão,
considerado criminoso, mas ele vive há centenas de anos na floresta e
nunca a destruiu. No entanto, é ignorado o que o grande capital faz, e é
criminalizado o seringueiro que vive da sua cultura e costumes de
subsistência na região.
Qual projeto que você acredita que falta para o Brasil e como
se deve dar essa unidade entre movimentos populares, trabalhadores e
juventude para superar o sistema que vivemos, especialmente sob essa
nova capa verde?
Osmarino: O que todo mundo tem de ter consciência é
que não se deve aderir a tal projeto, pois ele é do sistema capitalista.
Tem que ser descartado! Temos que pensar que a sociedade capitalista
não serve para a classe trabalhadora, não serve para a humanidade.
Precisamos pensar numa sociedade socialista, numa sociedade humana, numa
sociedade libertária. Em relação ao projeto econômico, é só respeitar
as iniciativas das populações tradicionais que sempre sobreviveram sem
financiamento de banco. Os índios, seringueiros e populações
tradicionais nunca precisaram de dinheiro de banco. Tem que respeitar,
pois cada povo indígena é uma nação. Índios, ribeirinhos, pescadores. O
que a gente precisa, na verdade, é uma educação de qualidade. E o
sistema capitalista não dá isso, além de excluir a classe trabalhadora
das universidades, da escola, do acesso à educação. Precisamos de uma
sociedade libertária. E o respeito a cada categoria, permitindo que
implemente sua arte, sua cultura.
A educação precisa ter participação dos estudantes e professores na
elaboração do que nela vai ser investido. Tem que ter transparência
desde o calendário até os currículos formulados. A comunidade tem que
participar deste processo e tem que estar de acordo com a necessidade de
cada realidade. Temos de fazer este novo projeto econômico. Não podemos
aceitar essa receita pronta, que já demonstrou não ser mais viável – um
projeto para meia dúzia de pessoas, organizado pelas multinacionais,
pelo agronegócio e o latifúndio.
Estamos em luta de classes, e temos de ter consciência disso. Temos
de fazer um desafio à juventude, que em sua maioria está “viajando” na
internet e acredita que vai promover uma mudança através dela, ou então
passeando nos shoppings, delirando com o mercado de consumo. Só que
precisa de três planetas para suportar a atual demanda. Se não tivermos
cuidado com o conto do comercial do consumismo, não vamos evitar a
depredação. As famílias nas grandes cidades têm três, quatro carros. A
indústria automobilística é a que mais polui no mundo. No Brasil, Lula
tirou o imposto dos carros para as pessoas comprarem mais. E, no
entanto, não criou condições para a reforma agrária, não tirou a terra
concentrada da mão de poucas pessoas.
Um projeto que não presta, portanto, devemos construir um novo. E o
novo projeto todos sabem qual é: discutir o lucro, o respeito à vida, o
fim da concentração de riqueza e da exploração do homem. Isso só vai ser
possível quando a sociedade se rebelar, se levantar contra o sistema
capitalista, dando um basta. Temos que apoiar as ocupações de terra,
questionar a gestão das fábricas, da educação, da saúde. Temos de ir nos
apropriando de acordo com a capacidade de mobilização que precisamos. E
nesse sentido também acredito que a Conlutas pode ser um seio
aglutinador destas categorias que querem confrontar a burguesia na luta
de classes.
Flavia Alli é jornalista.
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Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
quinta-feira, 21 de junho de 2012
Osmarino Amâncio: um seringueiro na luta por um projeto socialista no Brasil
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quarta-feira, 20 de junho de 2012
Para combater criminalidade, Uruguai pretende legalizar a venda de maconha
Projeto de lei deve ser anunciado nesta quarta-feira pelo presidente José Mujica
Fonte: Zero Hora
O governo do Uruguai decidiu legalizar a venda de maconha para
combater a criminalidade no país. O presidente José Mujica deve anunciar
nesta quarta-feira um pacote com 16 medidas, conforme o jornal El Pais.
Sob a premissa de "guerra à pasta base", o Executivo nacional busca
frear o consumo de cocaína entre jovens, apontado como a causa do
aumento da delinquência juvenil.
Mujica trabalha em um projeto de lei que transfere ao governo federal a venda de maconha como forma de conter o comércio de entorpecentes, reduzindo assim o lucro dos narcotraficantes. Serão organizadas redes de distribuição estatais e registros de consumidores.
O consumo e a posse para uso pessoal da maconha não são considerados crime no Uruguai. O projeto prevê que o Executivo regule esses pontos, assim como controlará a venda em locais habilitados, os quais terão um registro de usuários para impedir a dependência. Menores de 18 anos não poderão ter acesso ao produto, segundo o jornal.
O Estado ainda deve estabelecer um número máximo de unidades por consumidor. Aqueles que excederem a cota poderão ser submetidos a processos de reabilitação. Outra medida prevê a internação compulsiva de usuários de cocaína.
O preço dos cigarros será tarifado pelo governo e incluirá impostos, posteriormente destinados ao financiamento de tratamento a dependentes.
Mujica trabalha em um projeto de lei que transfere ao governo federal a venda de maconha como forma de conter o comércio de entorpecentes, reduzindo assim o lucro dos narcotraficantes. Serão organizadas redes de distribuição estatais e registros de consumidores.
O consumo e a posse para uso pessoal da maconha não são considerados crime no Uruguai. O projeto prevê que o Executivo regule esses pontos, assim como controlará a venda em locais habilitados, os quais terão um registro de usuários para impedir a dependência. Menores de 18 anos não poderão ter acesso ao produto, segundo o jornal.
O Estado ainda deve estabelecer um número máximo de unidades por consumidor. Aqueles que excederem a cota poderão ser submetidos a processos de reabilitação. Outra medida prevê a internação compulsiva de usuários de cocaína.
O preço dos cigarros será tarifado pelo governo e incluirá impostos, posteriormente destinados ao financiamento de tratamento a dependentes.
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terça-feira, 19 de junho de 2012
O “turismo” dos terroristas de Israel
Por Altamiro Borges
A BBC Brasil divulgou hoje uma nota horripilante. Segundo a
sucursal do veículo britânico, “um campo de treinamento de tiro ao alvo
localizado num assentamento israelense tem provocado polêmica ao oferecer aos
visitantes um pacote de ‘turismo radical’ que inclui treinamento para ‘matar
terroristas’. O campo Caliber 3, no assentamento de Gush Etzion, no território
palestino da Cisjordânia, usa como alvo de tiros figuras em tamanho real
portando tradicionais turbantes árabes”.
O local, com mais de 10 mil metros quadrados, também é usado
para treinamentos militares do Exército e da polícia de Israel. O proprietário,
Sharon Gat, justificou à BBC o seu projeto macabro. “Queremos que os judeus
do mundo inteiro possam ver com seus próprios olhos que no Estado de Israel há
organizações e pessoas que sabem ensinar autodefesa no mais alto nível”,
afirmou.
"Um projeto sionista"
Ainda segundo o empresário, cerca de 5 mil “turistas” já frequentaram
o curso, inclusive crianças. Os adultos atiram com armas e munição de verdade,
em alvos de papelão ilustrados com o estereótipo de “terrorista”. As crianças
utilizam armas de paintball. O preço do curso, de duração de duas horas, é 440
shekels (cerca de R$ 220) para adultos e 200 shekels (R$ 100) para crianças.
Sharon Gat, oficial da reserva do exército, é um
sionista assumido e um empresário oportunista. Ele mesmo enfatiza que o
Caliber-3 “é um projeto sionista, positivo e importante, que proporciona
muito emoção para muita gente. O curso serve para turistas de todas as
idades, que tenham
interesse em aprender táticas antiterroristas”.
A própria BBC, no entanto, tratou as lunáticas e terroristas
declarações do sionista como uma coisa exótica. Lamentável!
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Akira Kurosawa:O Anjo Embriagado
Créditos: MAKINGOFF - mfcorrea
O Anjo Embriagado
(Yoidore Tenshi) KG por EceAyham | |||||||||
Poster
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Sinopse
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Yoidore
tenshi é frequentemente considerado a primeira grande obra do diretor.
Apesar de o roteiro, assim como todos os trabalhos de Kurosawa dos
tempos da ocupação, ter sido forçado a ser reescrito devido à censura
americana, Kurosawa sentiu que este foi o primeiro filme no qual ele
conseguiu se expressar livremente. É uma história realista de um médico
que tenta salvar um gangster (yakuza) com tuberculose. Este foi também o
primeiro filme do diretor com Toshiro Mifune, que iria interpretar
papéis importantes em todos os dezesseis próximos filmes do diretor,
exceto um (Ikiru). Apesar de Mifune não ter sido escalado como
protagonista em Yoidore tenshi, sua performance explosiva como o
gangster dominou tanto o filme que ele desviou o foco do personagem
principal, o médico alcoólatra interpretado por Takashi Shimura, que já
tinha aparecido em alguns filmes de Kurosawa.
Entretanto, Kurosawa não queria abafar a imensa vitalidade do jovem ator, e o personagem rebelde de Mifune conquistou o público do mesmo jeito que a postura desafiadora de Marlon Brando iria arrebatar o público alguns anos depois. O filme estreou em Tóquio em abril de 1948 aclamado pela crítica e foi escolhido pelo grupo de críticos da prestigiosa Kinema Junpo como o melhor filme do ano, o primeiro dos três filmes de Kurosawa a receber essa honra. (Wikipedia)
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Elenco
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Informações sobre o filme
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Informações sobre o release
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Takashi
Shimura, Toshirô Mifune, Reisaburô Yamamoto, Michiyo Kogure, Chieko
Nakakita, Noriko Sengoku, Shizuko Kasagi, Eitarô Shindô, Masao Shimizu,
Taiji Tonoyama, Yoshiko Kuga, Chôko Iida, Ko Ubukata, Akira Tani, Sachio
Sakai, Senkichi Ômura, Tateo Kawasaki, Mayuri Mokusho, Toshiko
Kawakubo, Haruko Toyama, Yukie Nanbu, Sumire Shiroki Vide IMDB para detalhes | Gênero: Policial Diretor: Akira Kurosawa Duração: 1h 38mn Ano de Lançamento: 1948 País de Origem: Japão Idioma do Áudio: Japonês IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0040979/ | Qualidade de Vídeo: BR Rip Container: MKV Vídeo Codec: V_MPEG4/ISO/AVC Vídeo Bitrate: 5932 Kbps Áudio Codec: AC3 Áudio Bitrate: 448 Kbps Resolução: 960x720 Aspect Ratio: 1.333 Formato de Tela: Tela Cheia (4x3) Frame Rate: 23.976 Tamanho: 4.378 GiB Legendas: No Torrent |
Crítica
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Yoidore
Tenshi marca, para Kurosawa, o final, mas também o princípio de outra
fase como realizador. Se desde Sugata Sanshiro (A lenda do Judo) de
1943, seu primeiro filme, até Subarashiki nichiyobi (Um domingo
maravilhoso) de 1947, se retratava leves aspectos da vida quotidiana ou
se faziam aventuras ligeiras com pouco significado, em Yoidore Tenshi
perde-se essa, digamos, superficialidade existente. Foi com o aprimorar e
o desenvolver tanto das técnicas como na complexidade das narrativas
que em 1948 este filme foi possível ser feito. Introduz, desde logo, uma dupla de actores que iriam resistir até 1965, e pertenciam (e pertencem) à elite de melhores actores do Japão (e do Mundo). São eles, Toshiro Mifune - que se estreia neste filme nas produções Kurosawa, e efectua um papel ao nível de Orson Welles em Citizen Kane - e Takashi Shimura, que levará a cargo o melhor papel da sua vida - o de Kanji Watanabe em Ikiru em 1952. Reunidas as melhores condições para um filme de luxo, a narrativa é, também ela, um ponte forte, é através de metáforas e imagens que nos deixamos aperceber a forte mensagem do filme. O Doutor Sanada (Shimura) é um bêbado e um alcoólico, que recebe, num hospital modesto e humilde, o yakuza boémio Matsunaga (Mifune). Sanada vai diagnosticar a Matsunaga uma tubercolose, e a partir deste momento, os dois tornam-se muito próximos; desenvolvendo a relação típica "Mestre" e "Díscipulo" típica de Akira Kurosawa. Dois doentes que precisam um do outro - esta é uma completa metáfora para o Japão do pós-guerra, que se encontra decadente, destruído e apenas se quer evadir pelos vícios (alcoól para Sanada e festas e mulheres para Matsunaga). Sanada, encarregado de ser Mestre, é ainda a voz da Razão para o yakuza, que prefere o instinto, a festa, a libertação pagã e hedonista na cidade corrupta, suja e ocidentalizada. Assim, Matsunaga entra na fronteira da auto-destruição, querendo fugir dos problemas pelo que oferece prazer imediato, esquecendo a voz do Doutor, também ele, digamos, viciado e contraditório. A profundidade que Mifune dá ao papel - a sua degenerescência premanente, o seu ar de doente gradual, as expressões que começam a congelar - e os sítios que ele frequenta - bares boémios de jazz, tango e charleston - profundamente influenciados pela maneira americana de viver são os índicios metafóricos de uma crítica social escondida. No filme não vemos, nem soldados americanos, nem qualquer referência a MacArthur ou política; mas observamos as vivências humanas das personagens que - levadas em rebanhos para caminhos sem saída - acabam como o buraco no chão, alagado pela borbulhante nojeira (talvez um índicio de uma bomba ou míssil) ao qual Matsunaga olha perplexo quando se sente triste. O final do filme, é duro: Sanada, através do seu constante lema de recuperação, - força de vontade - consegue segurar-se e deixar a bebida, quanto ao yakuza, o caminho que escolheu e a fraca personalidade deixaram-no levar pelo vício das mulheres que não amam e das bebidas que queimam o estômago. O seu pesadelo, ao qual ele acorda numa praia dentro de um caixão e é perseguido por ele mesmo, realiza-se mesmo no final do filme quando o lodo americano o suga e engole a flor que lá foi perdida. Assim, Yoidore Tenshi, alcança o estatuto de um dos melhores filmes de Kurosawa. Apresenta a reacção do pós-guerra de uma forma simbólica e imagética, mas também a atitude japonesa estóica de resignação e paciência. Mas a Razão não perdoa, e diz no filme: "Os japoneses amam sacrificar-se por coisas estúpidas." Por Miguel Patrício Em: http://retroprojecca...ore-tenshi.html | ||
Coopere, deixe semeando ao menos duas vezes o tamanho do arquivo que baixar.
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Dilma no pau-de-arara mineiro
Juremir Machado
Para quem gosta de insultar o bom senso com a conversa rasteira e reacionária sobre investigar e punir os tais dois lados, o jornal Estado de Minas traz um documento arrasador. Mostra como a atual presidente Dilma Rousseff foi torturada pela ditadura.
Quem pagou?
Quem foi punido?
Ninguém.
*Documento traz detalhes da tortura sofrida por Dilma
“Me deram uma injeção e disseram para não bater naquele dia”, conta Dilm
A presidente Dilma Vana Rousseff foi torturada nos porões da
ditadura em Juiz de Fora, Zona da Mata mineira, e não apenas em São
Paulo e no Rio de Janeiro, como se pensava até agora. Em Minas, ela foi
colocada no pau de arara, apanhou de palmatória, levou choques e socos
que causaram problemas graves na sua arcada dentária. É o que revelam
documentos obtidos com exclusividade pelo Estado de Minas , que até
então mofavam na última sala do Conselho dos Direitos Humanos de Minas
Gerais (Conedh-MG). As instalações do conselho ocupam o quinto andar do
Edifício Maletta, no Centro de Belo Horizonte. Um tanto decadente,
sujeito a incêndios e infiltrações, o velho Maletta foi reduto da
militância estudantil nas décadas de 1960 e 70.
Perdido entre caixas-arquivo de papelão, empilhadas até o teto,
repousa o depoimento pessoal de Dilma, o único que mereceu uma cópia
xerox entre os mais de 700 processos de presos políticos mineiros
analisados pelo Conedh-MG. Pela primeira vez na história, vem à tona o
testemunho de Dilma relatando todo o sofrimento vivido em Minas na pele
da militante política de codinomes Estela, Stela, Vanda, Luíza, Mariza
e também Ana (menos conhecido, que ressurge neste processo mineiro).
Ela contava então com 22 anos e militava no setor estudantil do Comando
de Libertação Nacional (Colina), que mais tarde se fundiria com a
Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), dando origem à VAR-Palmares.
As terríveis sessões de tortura enfrentadas pela então jovem
estudante subversiva já foram ditas e repisadas ao longo dos últimos
anos, mas os relatos sempre se referiam ao eixo Rio-São Paulo,
envolvendo a Operação Bandeirantes, a temida Oban de São Paulo, e a
cargeragem na capital fluminense. Já o episódio da tortura sofrida por
Dilma em Minas, onde, segundo ela própria, exerceu 90% de sua
militância durante a ditadura, tinha ficado no esquecimento. Até agora.
Sede do Quartel General de Juiz de Fora, onde teriam ocorrido as sessões de tortura
Tortura psicológica
“Tinha muito esquema de tortura psicológica, ameaças. Eles
interrogavam assim: ‘Me dá o contato da organização com a polícia?’
Eles queriam o concreto. ‘Você fica aqui pensando, daqui a pouco eu
volto e vamos começar uma sessão de tortura.’ A pior coisa é esperar
por tortura.”
Ameaças
“Depois (vinham) as ameaças: ‘Eu vou esquecer a mão em você. Você
vai ficar deformada e ninguém vai te querer. Ninguém vai saber que você
está aqui. Você vai virar um ‘presunto’ e ninguém vai saber’. Em São
Paulo me ameaçaram de fuzilamento e fizeram a encenação. Em Minas não
lembro, pois os lugares se confundem um pouco.”
Sequelas
“Acho que nenhum de nós consegue explicar a sequela: a gente sempre
vai ser diferente. No caso específico da época, acho que ajudou o fato
de sermos mais novos; agora, ser mais novo tem uma desvantagem: o
impacto é muito grande. Mesmo que a gente consiga suportar a vida
melhor quando se é jovem, fisicamente, a médio prazo, o efeito na gente
é maior por sermos mais jovens. Quando se tem 20 anos o efeito é mais
profundo, no entanto, é mais fácil aguentar no imediato.”
Sozinha na cela
“Dentro da Barão de Mesquita (RJ), ninguém via ninguém. Havia um
buraquinho na porta, por onde se acendia cigarro. Na Oban (Operação
Bandeirantes), as mulheres ficavam junto às celas de tortura. Em Minas
sempre ficava sozinha, exceto quando fui a julgamento, quando fiquei
com a Terezinha. Na ida e na vinda todas as mulheres presas no
Tiradentes sabiam que eu estava presa: por exemplo, Maria Celeste
Martins e Idoina de Souza Rangel, de São Paulo.”
Visita da mãe
“Em Minas, estava sozinha. Não via gente. (A solidão) era parte
integrante da tortura. Mas a minha mãe me visitava às vezes, porém, não
nos piores momentos. Minha mãe sabia que estava presa, mas eles não a
deixavam me ver. Mas a doutora Rosa Maria Cardoso da Cunha, advogada,
me viu em São Paulo, logo após a minha chegada de Minas. Hoje ela mora
no Rio e posso contatá-la ”
Cena da bomba
“Em
Minas, fiquei só com a Terezinha. Uma bomba foi jogada na nossa cela.
Voltei em janeiro de 72 para Juiz de Fora (nunca me levaram para BH).
Quando voltei para o julgamento, me colocaram numa cela, na 4ª Cia. de
Polícia do Exército, 4ª Região Militar, lá apareceu outra vez o Dops que
me interrogava. Mas foi um interrogatório bem mais leve. Fiquei
esperando o julgamento lá dentro.”
Frio de cão
“Um dia, a gente estava nessa cela, sem vidro. Um frio de cão. Eis
que entra uma bomba de gás lacrimogênio, pois estavam treinando lá
fora. Eu e Terezinha ficamos queimadas nas mucosas e fomos para o
hospital. Tive o
‘prazer’ de conhecer o comandante general Sílvio Frota, que posteriormente me colocaria na lista dos infiltrados no poder público, me levando a perder o emprego.”
‘prazer’ de conhecer o comandante general Sílvio Frota, que posteriormente me colocaria na lista dos infiltrados no poder público, me levando a perder o emprego.”
Motivos
“Quando eu tinha hemorragia, na primeira vez foi na Oban (…) foi uma
hemorragia de útero. Me deram uma injeção e disseram para não bater
naquele dia. Em Minas, quando comecei a ter hemorragia, chamaram alguém
que me deu comprimido e depois injeção. Mas me davam choque elétrico e
depois paravam. Acho que tem registros disso no final da minha prisão,
pois fiz um tratamento no Hospital das Clínicas.”
Morte e solidão
“Fiquei presa três anos. O estresse é feroz, inimaginável. Descobri,
pela primeira vez, que estava sozinha. Encarei a morte e a solidão.
Lembro-me do medo quando minha pele tremeu. Tem um lado que marca a
gente o resto da vida.”
Marcas da tortura
“As marcas da tortura sou eu. Fazem parte de mim.”
Escrito por Santana FM / Fonte Estado de Minas
segunda-feira, 18 de junho de 2012
Georges Bourdoukan: Genocidio em Gaza
Palestinos vivem em campos de concentração e não conseguem odiar
Suas escolas são destruídas com bombas de fósforo
Auschwitz Gaza, quem diria...
Suas escolas são destruídas com bombas de fósforo
Suas crianças são acorrentadas
Seus filhos sofrem crueldades
E elas oferecem flores
E não conseguem odiar
domingo, 17 de junho de 2012
Diane Ravitch: De onde sopram os ventos de destruição da educação pública
Os argumentos políticos e ideológicos são apenas pretexto para os que
pretendem destruir a educação pública e gratuita para todos: eles
correm atrás é de lucro. A matriz é estadunidense, mas o movimento é
global e encontra forte apoio na mídia corporativa, já que grandes
empresas do ramo também oferecem “serviços educacionais”. O lobby dos
empresários do ramo conven$e à esquerda e à direita. Culpar os
professores pela falência sistêmica abre espaço para a venda dos testes
padronizados, das apostilas de apoio didático, de vagas e de outras
invencionices que rendem bilhões de dólares e reais.
Por isso traduzimos o artigo a seguir, do New York Review of Books: é um mapa do que já está acontecendo ou pode vir a acontecer no Brasil.
A deseducação de Mitt Romney
por Diane Ravitch, no NYRB
Em 23 de maio a campanha [do pré-candidato republicano à Casa Branca
Mitt] Romney divulgou o programa de educação do candidato intitulado
“Uma oportunidade para toda criança: o plano de Mitt Romney para
restaurar o futuro da educação estadunidense”. Se você gostou das
reformas educacionais do governo George W. Bush, você vai amar o plano
de Romney. Se você acha que entregar as escolas para o setor privado vai
resolver o problema, o plano vai deixá-lo entusiasmado.
Os temas centrais do plano Romney são um requentado das ideias
republicanas para a educação dos últimos trinta anos, ou seja, subsidiar
os pais que querem mandar suas crianças para escolas privadas ou
religiosas, encorajar o setor privado a operar escolas, colocar os
bancos privados no controle de programas de financiamento de bolsas de
estudos, cobrar de professores e escolas os resultados de exames obtidos
por alunos e reduzir as exigências para a admissão de novos
professores.
Estas políticas refletem a experiência dos assessores de Romney,
dentre os quais há uma dúzia de ex-integrantes do governo Bush e vários
acadêmicos conservadores, entre eles o ex-ministro da Educação Rod
Paige, o ex-subsecretário de Educação Bill Hansen e os militantes pelo
direito de escolha dos pais, John Chubb e Paul Peterson.
Ao contrário de George W. Bush, que negociou com um Congresso
controlado pelos democratas para aprovar o [programa de educação]
“Nenhuma Criança Deixada para Trás”, Romney não faz acordo com ninguém.
Ele precisa provar à base do Partido Republicano — especialmente a
evangélica — que é realmente conservador. E este plano é o seu “missão
cumprida” [referência à anedótica "Missão Cumprida" de Bush, que
celebrou a vitória no Iraque antes da insurgência que devastou o país].
Romney dá apoio total ao uso do dinheiro do contribuinte para pagar
bolsas de estudos em escolas privadas [vouchers], às escolas gerenciadas
pela iniciativa privada e às escolas online que buscam lucro, além de
qualquer outra alternativa às escolas públicas. Como Bob Dole [candidato
republicano] em 1996, Romney demonstra desprezo pelos sindicatos de
professores. Ele assume posição firme contra a certificação de
professores — as exigências mínimas de que futuros professores devem
passar por exames estaduais ou nacional para demonstrar seu conhecimento
–, alegando se tratar de uma barreira desnecessária. Ele acredita que o
número de alunos por sala de aula não importa (embora ele e os filhos
dele tenham frequentado escolas privadas de elite, onde as classes são
pequenas). Romney alega que “escolha” na educação é “o direito civil de
nossa era”, um tema familiar entre os reformistas da educação de hoje,
que usam a ideia para fazer avançar suas tentativas de privatizar a
educação pública.
Quando se trata de universidades, Romney ataca Obama pelo aumento nos
custos da educação superior. Ele alega que ajuda federal leva ao
aumento das anuidades, por isso não pretende dar financiamento aos
estudantes endividados. O plano não menciona que as anuidades aumentaram
também em universidades públicas (onde estudam 3/4 de todos os
estudantes), já que os estados reduziram seus orçamentos para educação
superior e transferiram o peso de pagar dos contribuintes para os
estudantes.
Romney pretende encorajar o envolvimento do setor privado na educação
superior ao dar a bancos privados o papel de intermediários nos
empréstimos federais para a educação, o que Obama eliminou em 2010, por
ser custoso. (Até 2010, os bancos recebiam subsídios do governo federal
para fazer empréstimos a estudantes, mas o governo assumia todos os
riscos da inadimplência. Quando o programa foi reformado pelo governo
Obama, bilhões de dólares em lucro dos bancos foram redirecionados para
dar bolsas a estudantes necessitados). Para cortar custos, Romney
encoraja a proliferação de universidades privadas online.
O plano de educação de Romney diz que nenhum dinheiro novo será
necessário, já que gastar mais com as escolas não resolve os problemas
da educação. No entanto, ele propõe o uso de dinheiro público para
promover suas prioridades, como bolsas em escolas privadas, escolas
gerenciadas privadamente e escolas online. Ele também quer usar dinheiro
federal para recompensar estados que “eliminarem ou reformarem a
estabilidade de emprego dos professores, com foco no avanço dos
estudantes”. Traduzido, isso significa que Romney se dispõe a dar
dinheiro federal aos estados que eliminarem os direitos dos professores e
se eles pagarem mais aos professores cujos estudantes tiverem
resultados melhores em testes-padrão, demitindo os professores cujos
alunos não conseguirem isso.
Ao defender as bolsas — nas quais o governo financia o pagamento das
mensalidades em qualquer escola privada ou religiosa escolhida pelos
pais — Romney exagera os dados; algumas de suas afirmações são
simplesmente falsas. O plano de Romney diz que o programa de bolsas do
Distrito de Columbia [onde fica Washington, a capital dos Estados
Unidos], que começou em 2004, o primeiro a usar dinheiro federal para
subsidiar escolas privadas, é “um modelo para a nação”. Afirma que
“depois de três meses, os estudantes podiam ler em níveis que só seriam
atingidos 19 meses depois por alunos de escolas públicas”.
É simplesmente falso. Uma avaliação do programa requisitada pelo
Congresso descobriu que os estudantes que receberam as bolsas não
tiveram ganhos de leitura ou matemática. Como disse o relatório final,
“não há provas de que o OSP [Programa de Bolsas Oportunidade] tenha
afetado as conquistas dos estudantes”. Romney alega que 90% dos
estudantes que receberam bolsas em escolas privadas se formaram no
ensino médio, comparado com 55% nas escolas de baixo rendimento do
Distrito de Columbia. Mas é exagero. A avaliação federal disse que 82%
dos que receberam bolsas se formaram, contra 70% entre os estudantes que
pediram bolsas mas não conseguiram. É um ganho respeitável, mas nem de
perto chega aos números citados por Romney. Como estudantes que disputam
as bolsas tendem a ser mais motivados que os que não disputam, os
cientistas sociais geralmente comparam o resultado final entre os que
conquistaram as bolsas e os que ficaram de fora.
Paradoxalmente, a campanha de Romney assume crédito pelo fato de que
[o estado de] Massachussets lidera a nação nos testes federais de
leitura e matemática conhecidos como National Assessment of Educational
Progress.
Mas Romney não foi o responsável pelo sucesso acadêmico do estado,
que se deve a reformas completamente diferentes das que ele agora propõe
para o país.
A reforma no estado se tornou lei pelo menos uma década antes de Romney começar seu mandato de governador, em 2003.
O Ato de Reforma de Educação de Massachusetts envolveu o compromisso
do estado de dobrar o financiamento da educação de 1,3 bilhão de dólares
em 1993 para 2,6 bilhões em 2000; o compromisso de financiamento mínimo
para todo distrito escolar, de acordo com suas necessidades básicas; o
desenvolvimento de um forte currículo de Ciências, Artes, Língua
Estrangeira, Matemática e Inglês; a implementação de um programa de
testes baseado no currículo completo (por causa do custo, o estado
testava apenas para leitura e matemática); a expansão do desenvolvimento
profissional dos professores; e o teste de futuros professores. No fim
dos anos 90, antes que Romney assumisse o governo, o estado aumentou o
financiamento para as crianças em idade pré-escolar.
O plano de Romney, em contraste, é animado pela reverência ao setor
privado. Embora fale pouco sobre a melhoria ou o investimento em
educação pública, que é tratada como instituição falida, um grande
entusiasmo é dedicado à inovação e ao progresso que supostamente ocorrem
quando pais usam dinheiro público federal para colocar os filhos em
instituições privadas ou em escolas privadas online. Massachusetts
conseguiu sucesso ao melhorar o padrão de exigência para novos
professores, não ao reduzí-lo. Massachusetts não eliminou a estabilidade
dos professores, ou seja, o direito que os professores experientes têm
de serem ouvidos antes da demissão.
A educação superior, garante Romney, vai florescer quando “inovação e
novas aptidões” forem mais importantes que “tempo em sala-de-aula”. Em
português simples, a última sentença significa que a educação superior
se tornará mais acessível quando estudantes se matricularem em escolas
online, muitas das quais visam lucro e custam barato. Naturalmente que
as universidades online são mais baratas; não envolvem custos de
capital, bibliotecas, prédios e o pessoal é mínimo. Algumas estão sendo
investigadas por fraude nos métodos usados para recrutar alunos; elas
evitam regulamentação federal com um alto investimento (bipartidário) em
lobby.
A primeira resposta do governo Obama às propostas de Romney foi dizer
que as políticas de Obama para o ensino médio têm o apoio entusiástico
de conservadores proeminentes como os governadores republicanos Chris
Christie de Nova Jersey e Susana Martinez do Novo México. Infelizmente, é
a verdade. Tirando a oferta de bolsas para escolas privadas e a redução
da certificação de professores, o programa “Corrida ao Topo” de Obama
promove virtualmente tudo o que Romney propõe — gerenciamento privado,
competição, avaliação de professores baseada nos resultados de testes
dos alunos. O ministro da Educação de Obama, Arne Duncan, tem defendido
as escolas gerenciadas privadamente e a cobrança a partir de resultados
de testes tanto quanto Mitt Romney. E, como Romney, Duncan despreza a
ideia de que é preciso reduzir o número de estudantes por professor.
A proposta de Romney de dar bolsas em escolas privadas usando
dinheiro federal é carne crua para a base direitista do Partido
Republicano, especialmente os evangélicos. As bolsas são vendidas como o
terceiro trilho da educação desde que foram propostas por Milton
Friedman, em 1955; foram colocadas sob votação em vários referendos
estaduais e foram rejeitadas consistentemente. De forma geral, o público
não quer ver dinheiro público usado para promover escolas religiosas. E
várias escolas religiosas não querem dinheiro público, que vem ligado a
vários exigências federais. Mas nos últimos anos as bolsas foram
reanimadas por legisladores estaduais de Indiana, Wisconsin e Louisiana,
sem passar pelos eleitores.
Os resultados não são nada animadores. Em Louisiana, onde a reforma
da educação do governador Bobby Jindal foi aprovada em abril, a nova lei
declara que os estudantes de escolas com baixa performance nos
testes-padrão podem transferir o dinheiro do financiamento público que
recebem para qualquer escola privada ou religiosa pré-aprovada. Cerca de
400 mil estudantes (mais da metade do total) podem competir, mas há
apenas 5 mil vagas nas escolas privadas ou paroquiais do estado. Quando o
estado divulgou a lista de escolas, a que se propôs a receber o maior
número de estudantes bolsistas foi a New Living Word School, que
ofereceu 315 vagas. Hoje ela tem um total de 122 vagas, mas não dispõe
de instalações ou professores para os futuros estudantes, embora prometa
construir um novo prédio antes do início do ano escolar. A maior parte
das aulas na escola é dada através de DVDs.
Outra escola, a Academia da Eternidade Cristã, que atualmente tem 14
estudantes, concordou em receber 135 bolsistas. De acordo com um artigo
recente da agência de notícias Reuters, os estudantes da escola ficam a
maior parte do dia sentados em cubículos e trabalham com livros
didáticos cristãos, um deles, de Ciência para iniciantes, com um texto
que explica “as coisas que Deus fez” em cada um dos seis dias de
criação. As crianças não aprendem sobre a teoria da evolução.
O pastor-diretor explicou: “Tentamos ficar longe de todas as coisas
que confundem nossas crianças”. Outras escolas aprovadas para receber
estudantes bolsistas, pagas com dinheiro público, “usam textos de
estudos sociais que advertem contra liberais que ameaçam a prosperidade
global [por acreditarem na teoria do aquecimento global]; livros de
matemática baseados na Bíblia que não tratam de conceitos modernos; e
textos de biologia construídos em torno de negar a teoria da evolução”.
O repórter da Reuters descreveu a lei de Louisiana como “o mais
ousado experimento nacional para privatizar a educação pública, com o
estado preparado para transferir milhões de dólares em dinheiro do
contribuinte para pagar à indústria privada, empresários e pastores para
educar crianças”. No ano que vem, todos os estudantes de Louisiana
poderão disputar bolsas para fazer cursos com empresas privadas ou
corporações que ofereçam ensino ou treinamento. Podem esperar por um
boom nos negócios da educação no estado.
O que o governador Jindal está fazendo soa como uma ensaio do plano
Romney. Sem dinheiro novo no orçamento, todo o dinheiro para bolsas e
empresas privadas e escolas online será deduzido do orçamento estadual
das escolas públicas. O governador Jindal e Mitt Romney deveriam
explicar como a educação vai melhorar nos Estados Unidos se o dinheiro
público for usado para mandar estudantes para escolas sectárias ou
pagando cursos em empresas privadas ou online. Pela visão apresentada
por Romney, dinheiro público vai ser usado em escolas que ensinam
criacionismo. Qualquer um poderá ensinar, sem passar por testes de
conhecimento e habilidade e sem preparo profissional. Professores
poderão ser demitidos por qualquer razão, sem a proteção garantida pela
liberdade para ensinar. Em alguns estados ou regiões, professores vão
temer dar aulas sobre a teoria da evolução, o aquecimento global ou
questões controversas. Nem vão ousar ensinar sobre livros considerados
ofensivos por qualquer um na comunidade, como Huckleberry Finn.
O candidato Romney deveria explicar como a privatização da forma como
educamos nossas crianças vai nos fazer atingir o objetivo de “restaurar
a promessa da educação norte-americana”. “Restaurar” sugere uma volta
ao passado. Quando na história dos Estados Unidos as escolas foram
colocadas a serviço do lucro? Que estado permitiu isso antes do advento
das escolas gerenciadas privadamente e das corporações da educação
online? Qual dos fundadores do país foi contra a educação pública? John
Adams, aquele encardido conservador, disse: “Todo o povo deve assumir a
educação de todo o povo e deve arcar com os custos disso. Não deve
existir um só distrito de um quilômetro quadrado sem uma escola, não
financiada pela caridade individual, mas mantida às expensas de todos”.
Restaurar a promessa da educação norte-americana deveria significar o
rejuvenescimento das escolas públicas, não a destruição delas.
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POLITICAS PUBLICAS
Quem está a bordo deste Fusquinha é o presidente de um país
Por Mário Marcos de Souza no SUL21
Todos os dias ele embarca no seu Fusquinha azul de estimação, de 1.300 cilindradas(foto), e toma o rumo de seu pequeno sítio Rincón del Cerro, nos arredores de Montevidéu, onde vive com a mulher, senadora da República – que é a proprietária da área. A casa é discretamente vigiada por dois seguranças. No fim do mês, quando recebe o salário de US$ 12,5 mil de presidente do Uruguai, José Pepe Mujica separa US$ 1,25 mil e doa o restante, cerca de 90%, a pequenas empresas e Organizações Não-Governamentais que trabalham com habitações populares.
- Este dinheiro me basta, e tem que bastar porque há outros uruguaios
que vivem com menos – costuma repetir este uruguaio de maneiras
simples, 77 anos, que, em reportagem do jornal espanhol El Mundo, foi
chamado de “o presidente mais pobre do mundo”.
Além de sua casa no pequeno sítio, seu único
patrimômio é o Fusca avaliado em pouco mais de mil dólares. Como
transporte oficial, em vez dos carrões com ar-condicionado dos demais
presidentes, ele usa um Corsa. Sua mulher, a senadora Lúcia Topolansky,
parceira de muitos anos, também doa boa parte de seu salário. Mujica
vive de forma espantosamente simples, apesar de presidir um dos países
mais importantes da América do Sul, nunca usa gravata (é quase sempre
uma camisa branca com casaco) e convive com os mesmos amigos de antes da
eleição que o conduziu ao poder. É capaz de pegar o Fusca, ir até uma
loja de ferragem comprar um acessório de banheiro e, no caminho, parar
em um pequeno estádio para animar os jogadores do Huracán, time da
segunda divisão, e prometer um churrasco caso subam para a Série A. Sem
contas bancárias ou dívidas, de acordo com El Mundo, ele apenas repete
que espera concluir seu mandato para um descanso sossegado no Rincón del
Cerro.
A vida simples não é mera figuração ou tentativa de
construir uma imagem, seguindo orientações de um marqueteiro. Não, ela
faz parte da própria formação de Mujica, um homem que lutou contra a
ditadura, foi preso e, ao lado de dezenas de Tupamaros, participou de
uma fuga cinematográfica da antiga prisão onde hoje está o Centro
Comercial Punta Carretas, em Pocitos, lutou pela volta da democracia e
hoje é presidente eleito do país. Tudo isso sem abrir mão de suas
convicções, em nenhum momento – a ponto de rejeitar a ideia de mudança
de sua vida por ser o chefe de uma nação.
No último dia 24 de maio, por ordem de Mujica, uma moradora de rua e seu filho foram instalados na residência presidencial (foto),
que ele não ocupa por seguir morando no sítio. Ela só saiu de lá quando
surgiu vaga em uma instituição. Neste início de inverno, a casa e o
palácio Suarez y Reyes, onde só acontecem reuniões de governo, foram
disponibilizadas por Mujica para servir de abrigo a quem não tem um
teto. Em julho do ano passado, decidiu vender a residência de veraneio
do governo, em Punta del Este, por US$ 2,7 milhões. O banco estatal
República comprou e transformará a casa em local de escritórios e espaço
cultural. Quando ao dinheiro, será inteiramente investido – por ordem
de Mujica, claro – na construção de moradias populares, além de
financiar uma escola agrária na própria região do balneário.
Ele nem se preocupa em reforçar seus esquemas de
segurança e, ao circular no Fusca ou em um Corsa, claramente não está a
bordo de veículos blindados. Nem sei se é certo ou não alguém, no papel
de um país, com toda a importância que o cargo tem e nestes tempos
loucos ditados muitas vezes por fanatismo, levar a vida de uma pessoa
comum. Até acho que não. Afinal, um presidente não pode conduzir sua
própria vida. Há milhões de pessoas que deram a ele o direito de dirigir
um país e esperam não ver nada abalando esta tarefa – e é por isso que
de Barack Obama, num extremo, a Dilma Rousseff, no outro, todos os
presidentes são devidamente protegidos por fortes esquemas de segurança.
Ao ser eleito, o escolhido faz uma espécie de renúncia pública de sua
autonomia – e sabe que não terá mais tanta liberdade assim.
O que me causa profunda admiração no caso de Mujica,
independentemente das razões destacadas acima, é ver alguém que se
recusa a renunciar a suas próprias convicções, mesmo desafiando todas as
regras do protocolo. Ele pensa nestes princípios, lutou a vida inteira
por eles, arriscou sua segurança e de sua própria família, por que mudar
logo agora? Foi eleito por isso, certamente, por suas ideias e estilo
de vida. Dane-se a liturgia do cargo, deve pensar este uruguaio. Para
Mujica, ela não tem importância. O que importa, acima de tudo, é dormir
com a consciência tranquila de quem sabe que seguiu sempre um padrão de
conduta – que não mudou nem na ditadura, nem nos bons tempos da
democracia que ele e seus velhos companheiros ajudaram a construir.
O mundo seria um lugar bem melhor e, com toda a certeza, muito mais pacífico se tivéssemos outros Mujicas conduzindo países por aí.
Do blog mariomarcos.wordpress.com
Do blog mariomarcos.wordpress.com
Campanha promove mobilização em favor da causa indígena
Cimi e AJD colhem assinaturas para entrega de manifesto em defesa dos povos indígenas aos três poderes
da Redação do BRASIL DE FATO
Através
da campanha “Eu apoio a causa indígena”, o Conselho Indigenista
Missionário (CIMI) e a Associação de Juízes para a Democracia (AJD)
realizam a coleta de assinaturas para entrega de um manifesto em defesa dos povos indígenas aos
três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. A campanha foi
lançada nesta quarta-feira (13), no auditório Dom Helder Câmara da
Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Brasília (DF).
O
manifesto denuncia a falta de reconhecimento do Estado brasileiro dos
povos indígenas, sua organização social, costumes, línguas, crenças e
tradições. O documento pede celeridade do Judiciário na definição das
demandas judiciais que envolvem os indígenas e declara repúdio à PEC
215, que pretende retirar do Executivo o processo administrativo das
demarcações e homologações de terras indígenas, transferindo-o para o
Legislativo.
No lançamento da campanha, a desembargadora Dora
Martins explicou que a Associação dos Juízes para a Democracia é
constituída por juízes que não se conformam com a lentidão do Judiciário
brasileiro e, ao se depararem com a situação Guarani Kaiowá no Mato
Grosso do Sul, se sensibilizaram com a causa indígena e decidiram lançar
o manifesto. “Entendemos que como juízes precisávamos fazer alguma
ação”, afirmou a desembargadora.
As entidades também denunciam
que as terras indígenas não são demarcadas “com a presteza fincada na
Constituição Federal”, o que, segundo elas, deixa os povos indígenas
vulneráveis a diversas violações de direitos humanos na disputa pela
terra. “Assim, temos o extermínio, desintegração social, opressão,
mortes, ameaças, marginalização, exclusão, fome, miséria e toda espécie
de violência física e psicológica, agravada, especialmente, entre as
crianças e jovens indígenas”, afirma o documento.
“A terra é o
eixo vital para sobrevivência física e cultural de um povo e, se
referindo aos povos indígenas, identifica todas as suas ações e a
recuperação da sua identidade como povo, cultura, costume e tradição”,
ressaltou Emília Altini, vice-presidente do Cimi, no lançamento da
campanha.
Para assinar o manifesto, acesse www.causaindigena.org.
sábado, 16 de junho de 2012
Morreu a glória do esporte cubano Teófilo Stevenson Lawrence
Editorial do GRANMA
A família do esporte cubano ficou
comovida com a morte, segunda-feira, 11 de junho,
dum de seus maiores expoentes de todos os tempos,
Teófilo Stevenson Lawrence, triplo campeão olímpico
e mundial de boxe.
O homem que vinculou mestria
atlética, modéstia infinita e fidelidade absoluta à
Revolução, ao comandante-em-chefe Fidel Castro e a
seu povo, morreu aos 60 anos de idade, em Havana,
vítima de uma cardiopatia isquêmica, informou um
comunicado do Movimento Esportivo Cubano.
Querido por várias gerações de
compatriotas que aplaudiram seus triunfos e o
admiraram porque jamais os traiu, Stevenson deixa,
além da glória conquistada no ringue, o exemplo
daqueles que jamais traem suas raízes, expressa o
texto.
Nascido em 29 de março de 1952 perto
da fábrica de açúcar Delicias, naquele então, no
município de Puerto Padre, província de Las Tunas, o
atleta viveu uma infância humilde, onde começou a
forjar valores que sempre o acompanharam.
Seus títulos olímpicos foram em
Munich’72, Montreal’76 e Moscou’80 e os mundiais,
Havana’74, Belgrado’78 e Reno’86.
Membro do único trio de boxeadores
três vezes campeões olímpicos, merecedor das Copas
Val Barker (1972) e Russell (1986), entregues aos
melhores competidores em competições desse tipo e em
campeonatos mundiais, também venceu em muitos outros
cenários como os Jogos Pan-Americanos, os Jogos
Centro-Americanos e do Caribe e Copas do Mundo.
Seu patriotismo ficou demonstrado
mais uma vez, quando deixou boquiabertos a
comerciantes que tentaram comprá-lo oferecendo-lhe
cifras milionárias.
"Não trocaria um pedaço da terra de
Cuba por todo o dinheiro que poderiam dar-me",
respondeu a um deles em Munich, depois de uma
desforra por causa de perder no pan-americano de
Cali’71 ante o estadunidense Duane Bobick, a chamada
Esperança Branca.
Reconhecido por seu forte murro,
também foi muito técnico, rápido para sua categoria
e cavalheiroso com seus contrários, muitos dos quais,
incluídos vários estrangeiros, foram seus amigos.
No momento de sua morte, Stevenson
era vice-presidente da federação Cubana de Boxe e
tinha várias condecorações nacionais e
internacionais.
Sua morte deixa um vazio inegável no
seio do esporte revolucionário cubano, onde agora se
multiplicará como exemplo de patriotismo, dignidade
e afeição a seu povo.
Enviamos aos seus familiares e
amigos esta mensagem de amor de aqueles que nos
orgulhamos de ser seus companheiros de combate.
Uma greve pelo ensino público e gratuito de qualidade
Brasil de Fato |
O
programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão da Universidade
Federal (Reuni) expressa a contradição das atuais políticas públicas. O
governo federal investiu R$ 8,4 bilhões na expansão e reestruturação
das universidades federais desde 2003. Dessa data até 2011, as vagas
anuais de ingresso na graduação mais que dobraram nas federais, passando
de cerca de 110 mil, em 2003, para mais de 230 mil em 2011. O aumento
das vagas de ingresso impactou no número total de matrículas em
instituições federais, passando de 638 mil para mais de 1 milhão
(2003-2011). Através do Reuni, foram criados 2.046 novos cursos. Além de
possibilitar a contratação de professores, ampliou o ingresso da
juventude, especialmente da classe trabalhadora no ensino público.
Mantido
o Reuni, a previsão é que até 2014 o Brasil tenha um total de 63
universidades federais, com 321 unidades distribuídas em 272 municípios
que nunca tiveram acesso ao ensino superior público.
Após
13 anos tramitando no Congresso Nacional, foi aprovado, dia 6 de junho
de 2012, na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), o
projeto de lei da Câmara – PLC nº 180/08 – que reserva no mínimo 50% das
vagas das universidades públicas e escolas técnicas federais para
alunos do ensino médio oriundos de escola pública.
O
projeto prevê que no universo das vagas disponíveis nas universidades e
escolas técnicas públicas federais, 50% das vagas devem ser preenchidas
por estudantes oriundos de escola pública, que tenham cursado
integralmente o ensino médio nessas instituições. Os outros 50% são de
livre concorrência.
Dentro
dos cotistas haverá dois outros recortes: um deles será o ajuste de cor
e raça, conforme os critérios estabelecidos pelo último censo do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) da
localidade/região que se encontra a universidade ou escola técnica.
Outro recorte será o social: das vagas disponibilizadas aos cotistas de
escolas públicas, 25% delas são destinadas a pessoas com renda familiar
igual ou inferior a 1,5 salário mínimo per capita. Os outros 25% serão
destinados aos cotistas com qualquer renda.
Porém,
todo esse avanço e investimento, fundamental quando comparado com o
desprezo e desmonte que o ensino público enfrentou no governo neoliberal
de Fernando Henrique Cardoso é ainda insuficiente e incompleto,
principalmente por não destinar recursos condizentes que valorizem os
salários e as condições de trabalho dos docentes federais. Para garantir
que o ensino público seja de qualidade e referenciado nas demandas da
sociedade, é necessário que a política educacional do governo esteja
voltada para a valorização dos trabalhadores da educação, com a
implementação de um plano de carreira e condições de trabalho dignas.
A
greve deflagrada pelos docentes federais, que cresce e ganha apoio em
todo o país, é parte decisiva da luta pelo ensino público e gratuito de
qualidade. A greve que já atinge 51 instituições federais de ensino deve
arregimentar novos servidores com a adesão dos trabalhadores
técnico-administrativos em educação nas universidades federais e os
funcionários federais do setor de geografia e estatística. Nos próximos
dias, os servidores do Judiciário Federal e do Ministério Público da
União prometem cruzar os braços. Na mesma data, os servidores federais
da educação básica, profissional e tecnológica também devem paralisar os
trabalhos.
Além
das questões salariais e da cobrança por reestruturação das carreiras
antes da realização de novos concursos públicos, os servidores federais
também protestam contra a Medida Provisória nº 568/12, em tramitação no
Congresso Nacional. A norma muda o cálculo dos adicionais de
insalubridade e de periculosidade, além de alterar a carga horária de
médicos e outras categorias que possuem jornada estabelecida em lei. A
medida atinge diretamente os 48 mil médicos vinculados ao serviço
público federal que, diante da possibilidade de redução significativa de
seus ganhos, podem abrir mão de suas funções, gerando lacunas nas
equipes já reduzidas que atendem nos consultórios e hospitais e que se
ocupam da formação dos estudantes e residentes.
Na
Universidade Federal de Juiz de Fora, 40 coordenadores de curso foram
exonerados de suas funções por aderirem à greve, num ato que se enquadra
no crime contra a organização do trabalho e afronta a Constituição
Federal. Uma situação inadmissível que não pode ser tolerada.
A
greve dos docentes federais necessita de ampla solidariedade e apoio.
Sem assegurar salários e condições de trabalho dignas aos servidores
federais nenhum investimento na ampliação de vagas será suficiente.
Editorial da edição 485 do Brasil de Fato
http://www.alainet.org/active/55610
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educação,
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POLITICAS PUBLICAS
Uma tarde no bairro controlado pelos neonazistas em Atenas
Os brutamontes da extrema-direita da Aurora Dourada se encarregaram de semear a ordem segundo seus costumes : zero imigração africana ou magrebina, zero moradores de rua, zero pichações. Não voa uma mosca sem que eles cortem suas asas. Seu reinado se estende desde a Praça Ática até Agios Panteleimonas. A Aurora Dourada fez de Agios Panteleimonas seu trampolim de conquista. Irrompeu no bairro em 2009 e em 2012 já obteve o melhor resultado eleitoral de sua história (15%). O artigo é de Eduardo Febbro, direto de Atenas.
Eduardo Febbro, no CARTA MAIOR
Atenas - O crepúsculo está em calma. A
Aurora Dourada vela pela ordem nesta área central de Atenas onde não
restou nem um imigrante nem um indigente das redondezas. A extrema
direita grega e seus brutamontes de poucas palavras fizeram do bairro de
Agios Panteleimonas (a igreja ortodoxa) seu sítio privado. « É preciso
colocar minas terrestres nas fronteiras para que os imigrantes não
entrem », diz um tipo enorme que não dá seu nome porque não quer. Mas
diz sem rodeios : « tem cara de esquerdista, como teu governo », diz em
tom de ameaça.
Houve uma época em que este perímetro de Atenas era um bairro popular, com crianças que jogavam nas ruas e garantiam uma barulhenta desordem. Já não é mais assim. Os brutamontes da extrema-direita da Aurora Dourada se encarregaram de semear a ordem segundo seus costumes : zero imigração africana ou magrebina, zero moradores de rua, zero pichações. Não voa uma mosca sem que eles cortem suas asas.
Seu reinado se estende desde a Praça Ática até Agios Panteleimonas. O número 52 da rua Aristomenus ainda carrega as marcas da ação da Aurora Dourada. Em 2010, os valentões do partido de Nikos Michaloliakos queimaram o local onde os imigrantes muçulmanos vinham rezar. A polícia não abriu nenhuma investigação e nenhum vizinho protestou. Esta é a terra da Aurora. Terra grega, como demonstra o ondulante silêncio das bandeiras com as cores nacionais que tremulam nas sacadas.
A Aurora Dourada obteve nas eleições de maio passado seu melhor resultado : 15% dos votos, o dobro. « Tenham medo, já chegamos », disse Nikos Michaloliakos no dia seguinte. A metodologia dos músculos deu seus frutos. A Aurora Dourada fez de Agios Panteleimonas seu trampolim de conquista. Irrompeu no bairro em 2009 e em 2012 já conseguiu o melhor resultado eleitoral de sua história. Os estrangeiros que ocupavam a zona ou dormiam na esplanada da igreja foram expulsos a golpes. Imigrantes, judeus, maçons, todos são inimigos da nação para este partido fundado por Michaloliakos nos anos 80, logo depois de ter saído da prisão onde cumpriu uma pena (várias na realidade) por atividades subversivas e violência. De modo similar a outros movimentos europeus de ultra-direita, a Aurora Dourada cresceu sob o tema da imigração.
Em frente da igreja Agios Panteleimonas há um bar de onde os agentes da Alba vigiam a praça. É o seu reino. Os ultras chegaram a ordenar até o fechamento da praça de esportes de Agios Panteleimonas. Por quê ? « Vê-se que você não vive aqui, por isso pergunta essas coisas : porque os negros e os romenos sujos vinham dormir aqui e sujar a praça », disse Kostas, um morador local com claras simpatias pela Alba. A polícia do bairro não interviu. Ela depositou a autoridade nas mãos dos neonazistas. A Grécia tem uma população de 11 milhões de habitantes e há um milhão de imigrantes. Um de cada quatro policiais votou pela Aurora Dourada nas últimas eleições.
Tudo aconteceu muito rápido para os gregos. Em apenas uma década : o euro, a falsa riqueza, os créditos fáceis, a imigração, a crise e o abismo. Muitos analistas e militantes anti-racistas pensam que o voto a favor dos neonazistas reflete o medo e a incompreensão, muito mais do que uma ideologia.
Como em todas as partes, Áttica e Agios Panteleimonas têm um anjo : Thanassis Kurkulas, responsável por uma ONG que luta contra o racismo instalada no bairro há cinco anos, Deport Racism. Kurkulas reconhece o perigo que representaria a Aurora Dourada repetir neste domingo os votos de maio passado e ingressar no Parlamento (o que surgiu em 6 de maio nunca se reuniu pelo fracasso em constituir uma maioria de governo). Mas também reconhece que « o imã dos neonazistas é forte : falam contra a Comissão de Bruxelas e contra os imigrantes e isso atrai votos, mas não são votos realmente ideológicos ». A situação é psicodélica : Atenas tem um bairro inteiro onde a autoridade pública, a segurança, é assumida por um partido político e não pelas forças da ordem. Polícia ideológica, sem controle algum. A exibição de músculos dos « agentes » da Aurora Dourada mostra que bem que não se trata de uma encenação ou aparência. Eles pegam, Maltratam. Insultam. Agridem. Estado débil, milícia forte.
Os vizinhos de Attica ou de Agios Panteleimonas que não aprovam esses métodos têm demasiado medo para intervir. « Seja como for, é inútil. Há uma clara cumplicidade do Estado », diz Vassilis, um morador da rua Aristomenus. O homem recorda que só uma das centenas de agressões ocorridas nos últimos anos deu lugar a um processo. Silêncio. « A delegacia do bairro não tem nem como pagar a luz. Se não estivéssemos nas ruas, isso seria pior que o inferno », diz Kostas.
As histórias se cruzam nestas ruas com extrema violência. A Grécia padeceu ao extremo sob as garras do nazismo mas hoje vota em mais de 7% em um partido abertamente neonazista. A extrema-direita se alimenta da crise. Em 2010, quando a Grécia já estava em um precipício, Nikos Michaloliakos ganhou um posto de conselheiro municipal de Atenas. Um ano mais trade foi filmado fazendo a saudação nazista, o que lhe valeu o apelido de « Führer ». Ninguém sabe ao certo se as reivindicações de Hitler na televisão ou os excessos cometidos pelos dirigentes da Aurora Dourada depois do resultado de maio passado incrementaram ou, pelo contrário, baixaram seu caudal de votos.
Dimitir Psarras, um respeitado jornalista grego especialista no tema da extrema-direita – ele vive, aliás, no bairro dos extremistas – lembra que « parece não haver vacina contra o passado ». No essencial, Psarras constata que, como em outros países do Velho Continente, o esquecimento apagou o rosto dos neonazistas para instalá-los no presente com o estatuto de atores políticos determinantes. Dimitri Psarras conhece bem o tema. É autor de uma biografia de Georgios Karatzaferis, o líder de outro partido de extrema direita, LAOS, e há alguns anos revelou como uma juíza da Corte Suprema alimentava um blog violentamente antisemita com um pseudônimo. Segundo Psarras, a extrema-direita faz pesar uma espada de Damocles sobre as sociedades : « com eles sempre se corre o mesmo perigo ». Despertam e alimentam os piores instintos. Além disso, obrigam os demais partidos a adotar os temas da extrema-direita e, quando a crise chega ao máximo, oferece soluções fáceis para pessoas que perderam completamente o rumo ».
O bairro de Agios Panteleimonas encontrou o seu com o timão da Aurora Dourada. Ofereceu segurança a cidadãos temerosos e a impôs prontamente. A noite cai suavemente, O vento é cálido, convida a um passeio distraído. Mas cada vez há menos siluetas nas ruas. Em algumas zonas do bairro, para caminhar à noite é preciso pedir permissão, peguntar com educação e agradecer com respeito.
Tradução: Katarina Peixoto
Houve uma época em que este perímetro de Atenas era um bairro popular, com crianças que jogavam nas ruas e garantiam uma barulhenta desordem. Já não é mais assim. Os brutamontes da extrema-direita da Aurora Dourada se encarregaram de semear a ordem segundo seus costumes : zero imigração africana ou magrebina, zero moradores de rua, zero pichações. Não voa uma mosca sem que eles cortem suas asas.
Seu reinado se estende desde a Praça Ática até Agios Panteleimonas. O número 52 da rua Aristomenus ainda carrega as marcas da ação da Aurora Dourada. Em 2010, os valentões do partido de Nikos Michaloliakos queimaram o local onde os imigrantes muçulmanos vinham rezar. A polícia não abriu nenhuma investigação e nenhum vizinho protestou. Esta é a terra da Aurora. Terra grega, como demonstra o ondulante silêncio das bandeiras com as cores nacionais que tremulam nas sacadas.
A Aurora Dourada obteve nas eleições de maio passado seu melhor resultado : 15% dos votos, o dobro. « Tenham medo, já chegamos », disse Nikos Michaloliakos no dia seguinte. A metodologia dos músculos deu seus frutos. A Aurora Dourada fez de Agios Panteleimonas seu trampolim de conquista. Irrompeu no bairro em 2009 e em 2012 já conseguiu o melhor resultado eleitoral de sua história. Os estrangeiros que ocupavam a zona ou dormiam na esplanada da igreja foram expulsos a golpes. Imigrantes, judeus, maçons, todos são inimigos da nação para este partido fundado por Michaloliakos nos anos 80, logo depois de ter saído da prisão onde cumpriu uma pena (várias na realidade) por atividades subversivas e violência. De modo similar a outros movimentos europeus de ultra-direita, a Aurora Dourada cresceu sob o tema da imigração.
Em frente da igreja Agios Panteleimonas há um bar de onde os agentes da Alba vigiam a praça. É o seu reino. Os ultras chegaram a ordenar até o fechamento da praça de esportes de Agios Panteleimonas. Por quê ? « Vê-se que você não vive aqui, por isso pergunta essas coisas : porque os negros e os romenos sujos vinham dormir aqui e sujar a praça », disse Kostas, um morador local com claras simpatias pela Alba. A polícia do bairro não interviu. Ela depositou a autoridade nas mãos dos neonazistas. A Grécia tem uma população de 11 milhões de habitantes e há um milhão de imigrantes. Um de cada quatro policiais votou pela Aurora Dourada nas últimas eleições.
Tudo aconteceu muito rápido para os gregos. Em apenas uma década : o euro, a falsa riqueza, os créditos fáceis, a imigração, a crise e o abismo. Muitos analistas e militantes anti-racistas pensam que o voto a favor dos neonazistas reflete o medo e a incompreensão, muito mais do que uma ideologia.
Como em todas as partes, Áttica e Agios Panteleimonas têm um anjo : Thanassis Kurkulas, responsável por uma ONG que luta contra o racismo instalada no bairro há cinco anos, Deport Racism. Kurkulas reconhece o perigo que representaria a Aurora Dourada repetir neste domingo os votos de maio passado e ingressar no Parlamento (o que surgiu em 6 de maio nunca se reuniu pelo fracasso em constituir uma maioria de governo). Mas também reconhece que « o imã dos neonazistas é forte : falam contra a Comissão de Bruxelas e contra os imigrantes e isso atrai votos, mas não são votos realmente ideológicos ». A situação é psicodélica : Atenas tem um bairro inteiro onde a autoridade pública, a segurança, é assumida por um partido político e não pelas forças da ordem. Polícia ideológica, sem controle algum. A exibição de músculos dos « agentes » da Aurora Dourada mostra que bem que não se trata de uma encenação ou aparência. Eles pegam, Maltratam. Insultam. Agridem. Estado débil, milícia forte.
Os vizinhos de Attica ou de Agios Panteleimonas que não aprovam esses métodos têm demasiado medo para intervir. « Seja como for, é inútil. Há uma clara cumplicidade do Estado », diz Vassilis, um morador da rua Aristomenus. O homem recorda que só uma das centenas de agressões ocorridas nos últimos anos deu lugar a um processo. Silêncio. « A delegacia do bairro não tem nem como pagar a luz. Se não estivéssemos nas ruas, isso seria pior que o inferno », diz Kostas.
As histórias se cruzam nestas ruas com extrema violência. A Grécia padeceu ao extremo sob as garras do nazismo mas hoje vota em mais de 7% em um partido abertamente neonazista. A extrema-direita se alimenta da crise. Em 2010, quando a Grécia já estava em um precipício, Nikos Michaloliakos ganhou um posto de conselheiro municipal de Atenas. Um ano mais trade foi filmado fazendo a saudação nazista, o que lhe valeu o apelido de « Führer ». Ninguém sabe ao certo se as reivindicações de Hitler na televisão ou os excessos cometidos pelos dirigentes da Aurora Dourada depois do resultado de maio passado incrementaram ou, pelo contrário, baixaram seu caudal de votos.
Dimitir Psarras, um respeitado jornalista grego especialista no tema da extrema-direita – ele vive, aliás, no bairro dos extremistas – lembra que « parece não haver vacina contra o passado ». No essencial, Psarras constata que, como em outros países do Velho Continente, o esquecimento apagou o rosto dos neonazistas para instalá-los no presente com o estatuto de atores políticos determinantes. Dimitri Psarras conhece bem o tema. É autor de uma biografia de Georgios Karatzaferis, o líder de outro partido de extrema direita, LAOS, e há alguns anos revelou como uma juíza da Corte Suprema alimentava um blog violentamente antisemita com um pseudônimo. Segundo Psarras, a extrema-direita faz pesar uma espada de Damocles sobre as sociedades : « com eles sempre se corre o mesmo perigo ». Despertam e alimentam os piores instintos. Além disso, obrigam os demais partidos a adotar os temas da extrema-direita e, quando a crise chega ao máximo, oferece soluções fáceis para pessoas que perderam completamente o rumo ».
O bairro de Agios Panteleimonas encontrou o seu com o timão da Aurora Dourada. Ofereceu segurança a cidadãos temerosos e a impôs prontamente. A noite cai suavemente, O vento é cálido, convida a um passeio distraído. Mas cada vez há menos siluetas nas ruas. Em algumas zonas do bairro, para caminhar à noite é preciso pedir permissão, peguntar com educação e agradecer com respeito.
Tradução: Katarina Peixoto
Marcadores:
Direitos Humanos,
inclusão social,
movimentos sociais
Pobre classe média
CCS
Centro de Colaborações Solidárias
Adital
Por Ana Muñoz Álvarez
ccs@solidarios.org.es
Twitter: @CCS_Solidarios y @anaismunoz
Tradução: ADITAL
ccs@solidarios.org.es
Twitter: @CCS_Solidarios y @anaismunoz
Tradução: ADITAL
Mais de
400.000 famílias vivem graças à pensão dos avós. 22% da população estão em
risco de pobreza e, segundo a ONU, a pobreza infantil atinge 26% das crianças. Não
estamos falando de um longínquo país asiático ou da pobreza na África. São
cifras da Espanha, até agora a quarta economia da zona do Euro.
A crise
alterou a agenda e o calendário de muitas famílias. Pessoas que até agora
viviam bem, tinham trabalho, casa, seus filhos, sua hipoteca... e que, hoje,
têm que buscar ajuda junto a organizações como a Cáritas ou a Cruz Vermelha,
para poder dar de comer a seus filhos. Um milhão e setecentas mil famílias espanholas estão
com 100% de seus membros em situação de desemprego, e seiscentas mil famílias
não dispõem de nenhuma fonte de renda. As organizações da sociedade civil
espanhola já vinham alertando sobre a situação que poderia atingir a Espanha.
"A crise trouxe à tona as coisas que estavam aí, mas parece que não eram
vistas: desigualdades, injustiças...”, explicam membros da Cáritas. Relatórios
de antes de 2008, quando a crise estava no começo, falavam que a Espanha não
estava reduzindo os índices de pobreza. E essa era época de bonança! Hoje,
colhemos o que foi plantado. Se crescia, havia trabalho...; porém, eram
empregos precários e de baixa qualificação.
A infância e
a terceira idade são os grupos mais vulneráveis em qualquer crise; e também no
caso espanhol isso se repete. Segundo a Unicef, mais de dois milhões de
crianças vivem em famílias cujo salário não chega ao fim do mês; recortaram sua
lista de compras; não podem arcar com os gastos da lista de material escola.
Porém, o pior, segundo os especialistas, ainda está por vir; e explicam que a
pobreza infantil ainda pode crescer mais. Há uns dois anos, o perfil de pobreza
infantil era o de uma crianças de classe baixa, de famílias desestruturadas ou
unifamiliares. Atualmente, isso mudou. São crianças de classe média, que viviam
bem, tinham de tudo...; porém, seus pais perderam o trabalho e enfrentam uma
realidade difícil.
Na Cáritas
explicam que muitas crianças que sofrem fracasso escolar passam por isso como
um reflexo do fracasso social e familiar em que vivem. No entanto, a partir das
organizações ressalta-se que não se trata de um fracasso do indivíduo, mas de
um fracasso coletivo, do conjunto da sociedade, que não soube criar as redes
suficientes para que as famílias não caiam no vazio.
Para muitas
famílias, as pensões dos avós são a única entrada que recebem. Os avós voltam a
exercer o papel de pais de família; os pais, o de filhos mais velhos; e os
netos passam a ser filhos caçulas. Para os avós, essa é a quarta crise grave
que viveram em democracia. São pessoas que trabalharam durante toda a sua vida
e, hoje, voltam a ser o suporte da família; pagam as hipotecas dos filhos;
ajudam a pagar o carrinho de compras...
A Cruz
Vermelha alerta que 23% das famílias não podem comer nenhum tipo de proteína na
semana; nem frango e nem embutidos. Muitas famílias não podem ligar a
calefação, nem usar água aquecida.
O rosto da
pobreza mudou nos últimos anos. Hoje, finalmente, percebemos que qualquer um de
nós pode estar sujeito a fazer fila para receber alimentos da "caridade”. O
egoísmo, a avareza, o individualismo, um capitalismo levado ao extremo... nos
trouxe uma sociedade onde as desigualdades crescem. Estamos colhendo o que vou
plantado. Porém, ainda podemos mudar as coisas. Vamos nos unir para que a voz
do povo seja escutada, porque queremos outra Europa, outra sociedade, outra
maneira de fazer política e de viver. E hoje, mais do que nunca, porque é necessário.
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