Gabriel Brito, da Redação-Colaborou Valéria Nader |
Cada vez mais, os grandes debates políticos e projetos de
infraestrutura são cercados pelas questões ambientais, levantando
posturas apaixonadas e açodadas, mas nem sempre respaldadas por alguma
profundidade argumentativa e conceitual. Tal vazio verificou-se
novamente com a recém-encerrada Conferência Rio+20, promovida pela ONU
em reedição da célebre Eco-92. Com a diferença de que o tema da
preservação ambiental adquiriu centralidade muito maior nesses últimos
20 anos, sendo o Brasil palco de extremadas contradições na área.
Após aprovar uma nova versão do Código Florestal, do agrado dos
ruralistas e bombardeado por todas as vertentes do ambientalismo, a
presidente Dilma Rousseff fez todo o esforço possível para angariar ao
país uma imagem vanguardista de responsabilidade ambiental. No entanto,
na análise de José Juliano de Carvalho Filho, entrevistado pelo Correio da Cidadania, tal visão simplesmente “não se aplica à realidade dos fatos da macroeconomia brasileira”.
Para o professor da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da
USP e membro da Associação Brasileira da Reforma Agrária (ABRA), todas
as medidas do governo em questão no campo vêm no sentido de prejudicar a
preservação ambiental, além de favorecer a concentração de terras.
“Fala-se em nome dos pequenos agricultores, mas, de fato, beneficiam-se
os grandes grileiros, abrem-se terras ao mercado e permite-se o avanço
das monoculturas”, critica, deixando claro que o mesmo vale para outras
decisões, como as MPs 422 e 458, também em benefício do agronegócio e em
detrimento do meio ambiente e da justiça fundiária.
Para além das discussões nacionais, Juliano desacredita de cima a
baixo os novos conceitos de responsabilidade ambiental que o capitalismo
tentar erigir e dos quais já se apropria. “Não sei se defino ‘economia
verde’ como camuflagem, enganação, talvez falte um termo elegante. É
preciso uma ruptura com a forma capitalista, principalmente o
capitalismo financeiro, e tirar tudo da mão do mercado para se almejar
uma ‘economia verde’. Essas conferências servem como um espaço pra
discutir, aumentar a conscientização, mas o fato é que os Brics e os
países ricos não se comprometeram em nada. Não se trata de ver quem é de
direita ou esquerda, a coisa é transversal, todos adotaram esse modelo
macroeconômico”, resume.
A entrevista completa pode ser conferida a seguir.
Correio da Cidadania: Como o senhor avalia o novo Código
Florestal aprovado no Congresso e o processo político que conduziu a
este novo Código?
José Juliano de Carvalho Filho: Acho que segue
aquilo que sempre acontece na nossa organização histórica, desde a
escravidão. Um código que criou necessidades. Quem criou tais
necessidades não foi o país, foram os ruralistas. O processo, em minha
opinião, é uma história antiga, de duas vertentes, a do latifúndio e a
ambiental. A tática foi criar um clima de insatisfação com o Código
Florestal que vigorava e depois colocar o bode na sala. A partir disso,
com o bode na sala (as propostas ruralistas), mal cheiroso, se discutiu o
Código e suas alterações.
Dessa forma, foi um avanço muito grande em prol dos interesses dos
chamados ruralistas – digo “chamados” porque deve ser a classe mais
poderosa do país. Vai implicar em impactos muito negativos. Ainda estou
tentando estudar se a MP editada pelo governo melhora ou piora a
situação, mas o fato é que, comparando com o código anterior, esse é
muito pior, pois permite mais derrubada de reservas, transformação legal
de propriedades enormes em várias propriedades pequenas, consolidação
de áreas agrícolas, além de outras contravenções do campo, como a
anistia a crimes ambientais, contando também com uma justiça
patrimonialista a serviço do latifúndio. São contraventores do campo,
não querem recompor área, desmataram, grilaram.
O fato é que, no contexto geral, aumentou-se a vulnerabilidade da
conservação ambiental brasileira, com claras vantagens aos ruralistas.
Correio da Cidadania: O que pensa dos argumentos que
ressaltam que o Código supostamente protege os pequenos agricultores, o
que se daria, por exemplo, pela não exigência de recomposição da reserva
pra propriedades de até 4 módulos fiscais?
José Juliano de Carvalho Filho: É o agravante:
discursar em favor dos pequenos. É idêntico ao que aconteceu no programa
Terra Legal, por exemplo. Fala-se em nome dos pequenos, mas, de fato,
beneficiam-se os grandes grileiros, abrem-se terras ao mercado e
permite-se o avanço das monoculturas.
Em relação às populações tradicionais, continuarão como pobres
brasileiros. Em linhas gerais é isso, com consonância muito grande com
as medidas que passaram a ser editadas desde o fim do primeiro mandato
de Lula, tais como as MPs que legalizaram grilagem e titulação de
terras, dificultando algumas lutas indígenas pela terra, por exemplo.
Não podemos esquecer de vários casos, como o dos guarani kaiowá, no Mato
Grosso do Sul, em que se chegou a uma situação de barbárie total, com
assassinatos, suicídios, esquartejamentos de índios, o que temos visto
fartamente no noticiário.
É tudo muito consistente da parte deles, pois mexem com todas as
regras passíveis de serem burladas. É o mesmo discurso da Transposição
das águas do São Francisco, do Terra Legal etc. Faço trabalhos no campo
desde os anos 70, já cansei de presenciar casos de políticas para o
campo anunciadas como benéficas ao pequeno agricultor e que na verdade
os prejudicava. Quando se dava crédito para pequenos em alguma área,
eram as grandes empresas quem pegavam, de fato, os créditos subsidiados.
A história se repete, com as mesmas relações sociais. Agora é a mesma
coisa com o Código Florestal, chegando a um ótimo resultado em favor dos
ruralistas. O país pagará tanto em danos sociais como ambientais.
Correio da Cidadania: Ou seja, têm sido, realmente, muitas e
notórias as MPs que, nos últimos anos, beneficiam o latifúndio e os
ruralistas, em detrimento da pequena produção e da agricultura familiar.
E os governos Lula e Dilma seguem a tendência, certo?
José Juliano de Carvalho Filho: Sem dúvidas. Desde o final do primeiro governo Lula. A partir disso, editaram-se as MPs 422, 458 e tivemos o Terra Legal.
São duas questões a respeito da política agrária: se pegarmos todos
os documentos de política agrária do PT, à época da primeira campanha
vitoriosa, e também da segunda, tudo que define reforma agrária, ou
seja, mexe com a estrutura agrária, como a revisão dos índices de
produtividade, foi sumindo. Não ficou nada, de modo que não há
compromisso do governo com a reforma agrária.
Paralelamente, podemos elencar mudanças nas políticas agrárias, com
medidas que invariavelmente beneficiam o agronegócio. É uma mistura de
capital fundiário de pessoas que investem no Brasil em parceria com
“brasileiros” (entre aspas, porque o capital e seus agentes não têm
pátria), avançando cada vez mais sobre as terras. A cana tem capital
externo, o petróleo tem, e essa é a regra geral em nossas commodities.
Como exemplo, no estado de São Paulo, os índices de Gini eram razoáveis,
mas agora o estado é dominado pela cana, que vai crescendo sem parar, e
o índice de Gini só se deteriora.
De um lado, uma série de medidas que favorecem o agronegócio e, por
outro, uma série de medidas que dificultam a vida dos pequenos
agricultores. Agora vemos projetos de políticas que visam criar
obstáculos para a titulação e homologação de terras indígenas e
quilombolas. De vez em quando se faz um mise en scène, mas os fatos são esses.
Com as alianças que fez pra governar, vemos que o governo acabou refém dessa classe ultraconservadora e nociva.
Correio da Cidadania: Em sua opinião, o governo Dilma já
deixou clara sua política para o campo? Ela pode vir a beneficiar em
algum momento a agricultura familiar e a reforma agrária?
José Juliano de Carvalho Filho: Acho que ainda não
está claro. Mas, novamente, pegando os documentos da campanha
presidencial, em determinado trecho vemos que tanto Serra, candidato do
PSBD, quanto Dilma, candidata do PT, com suas coligações e tal, ao
apresentarem seus programas no TSE mostraram as semelhanças na
“política” agrária. Assim como na Carta aos Brasileiros, do Lula, neste
caso os dois programas deixaram claro, além dos discursos e convenções,
que ninguém tinha compromisso com a reforma agrária. O documento do
programa petista terminou apenas com generalidades.
No máximo, a Dilma poderia fazer algo como o Lula, ou seja, algumas
pequenas medidas em favor dos pequenos, como o Programa de Aquisição de
Alimentos (PAA). Entretanto, fazendo políticas que beneficiam acima de
tudo o agronegócio em termos estruturais. O problema é que não se coloca
a questão da propriedade como origem da pobreza e desigualdade social, o
que é uma “aparente” contradição do programa petista.
Os ministérios da Agricultura e o do Desenvolvimento Agrário fazem
política à parte um do outro. Aquilo que se entende como pequena
política ficou subalterna; negros, pobres, índios, sem terras, podem
fazer o que quiserem desde que não incomodem. Se começam a incomodar a
grande política, isto é, aquilo que gira em torno da macroeconomia...
Não tenho esperança de grandes mudanças no mandato da Dilma. Os
programas do PT têm a tendência de superconcentrar as terras e deixar
avançar as grandes monoculturas de exportação. Já as MPs de benefício ao
agronegócio tornam o governo refém de suas contradições políticas, o
que redunda em políticas pífias para a reforma agrária. O que funciona
mesmo é essa sustentação macroeconômica encampada pelo governo e suas
metas. Temos uma especialização e reprimarização retrógradas, como diz o
professor Reinaldo Gonçalves, opinião da qual compartilho.
Correio da Cidadania: Como o senhor situa as intervenções de
Dilma, que não seguiu a campanha maciça de setores mais progressistas
pelo veto ao novo projeto de Código Florestal, sancionando-o com 12
vetos e 32 emendas?
José Juliano de Carvalho Filho: É difícil responder
com convicção, porque o melhor seria ter em mãos todas as versões: o
Código Florestal anterior, de 1965, o novo, e aquelas versões que
passaram e foram alteradas pela Câmara e Senado, comparando-as ponto a
ponto e tendo uma avaliação mais concreta. É preciso ter cuidado com as
matas ciliares, propriedades familiares, as águas... Tudo isso tem sido
feito em prejuízo do meio ambiente, a exemplo também da questão das
áreas consolidadas. É preciso ver tudo detalhadamente pra saber o que
pode depois ser revertido na justiça. Mais que isso, não posso dizer
ainda.
Correio da Cidadania: Como o senhor tem visto a atuação dos
movimentos sociais, aqueles ligados ao campo em particular, bem como sua
relação com o atual governo?
José Juliano de Carvalho Filho: Sou a favor dos
movimentos, de modo que toda crítica que faço é no sentido construtivo,
pois é neles que vejo esperança de mudanças reais na sociedade. Mas
estão tímidos frente ao governo. Claro que fazem suas reivindicações por
aí, mas estão tímidos. Reforma agrária e justiça no campo sempre foram
conquistas, não concessões, mas as pressões por cooptação são muito
fortes. E os movimentos deveriam estar mais agressivos.
Correio da Cidadania: O que pensa do papel jogado pelo
Brasil, e da imagem que o país tentou vender de si, na conferência
Rio+20? A propaganda oficial de desenvolvimento sustentável, com a
exploração de “energia limpa”, condiz com nossa realidade?
José Juliano de Carvalho Filho: O papel do Brasil é
uma grande contradição. Falando do documento final, de acordo com o
próprio secretário da ONU, podemos falar que foi fraco. Não há medidas
imediatas, de modo que é um fracasso maior ainda que a Eco-92, que pelo
menos tinha propostas. O conceito de sustentabilidade não se aplica à
realidade do nosso país e, na verdade, desde o documento que o criou, em
1987, não existiu de fato. Os povos do campo estão sendo prejudicados
por essas medidas de dita sustentabilidade. Foi uma conferência muito
fraca, do G-7 só a França esteve realmente presente, de modo que não
saiu nada de muito importante desse encontro. Fica uma mistura de
posições, ninguém sabe direito o que é isso (desenvolvimento
sustentável), e todo mundo usa o conceito.
Correio da Cidadania: Falando em conceito, o que o senhor
teria a dizer sobre a “economia verde”, a grande novidade no vocabulário
do capitalismo global?
José Juliano de Carvalho Filho: O mercado se
apropriou dessa história e começou a falar em “verde”. Um exemplo de
agora, pequeno, mas emblemático do que acontece, é essa história das
sacolinhas de supermercado. São eles, os supermercados, que vão mudar a
cultura nacional sobre preservação ambiental? Na verdade, apenas
defendem seu interesse econômico, que também está envolvido, uma vez que
forneciam as sacolinhas gratuitamente aos seus clientes. A imagem que o
Brasil deixou foi um pouco superior pela falta de representação dos
outros países. Mas os resultados são fracos. Quais são os resultados e
compromissos? Nenhuns.
Não sei se defino “economia verde” como camuflagem, enganação, talvez
falte um termo elegante. Cada um entende de um jeito e passa a imagem
de estar fazendo algo pela preservação. É o capitalismo buscando novas
formas de se reproduzir. Com o atual momento, a Europa em sua crise não
resolvida, além da concentração de renda de alguns países, é uma
roupagem nova.
Não vejo esperanças de economia realmente verde, não vejo
compromissos realmente sérios e um freio na acumulação capitalista. São
questões políticas importantes e diretamente relacionadas. É preciso uma
ruptura com a forma capitalista, principalmente o capitalismo
financeiro, e tirar tudo da mão do mercado para se almejar uma “economia
verde”.
Outro exemplo é esse mercado de carbono, que não faz sentido, seria
muito melhor taxar as empresas poluidoras. Uma empresa poluidora compra
créditos de Moçambique, polui por lá, contamina grande parte do meio
ambiente local, das águas, e ficamos assim. Acontece aqui no Brasil
também.
Essas farsas de mercado não vão deixar de seguir a lógica do capital.
Daqui a pouco vão comercializar o ar que o teu neto vai respirar no
futuro, vai tudo pro mercado. Dessa forma, tal como já vemos acontecer,
teremos a monopolização das águas e bens naturais mais essenciais.
Empresas como Nestlé e Coca Cola estão adquirindo territórios que lhes
garantem abastecimento de água, o que na verdade é uma apropriação da
natureza. A Monsanto é outro exemplo dessa monopolização, como se vê com
as sementes, enquanto as propostas e denúncias da Via Campesina, ainda
que sendo as melhores para os povos, são ignoradas.
Lendo os cientistas (aqueles que merecem consideração), vemos que
podemos atingir um desequilíbrio mundial sem retorno, com falta de bens
naturais, aumentando ainda mais a pobreza, a barbárie, as disputas,
impedindo os agricultores de terem sementes, tendo que se suprir de
Monsantos e afins... Tais conferências e governos beneficiam esse
modelo, dando pouca esperança para a humanidade.
Servem como um espaço pra discutir, aumentar a conscientização, mas o
fato é que os Brics e os países ricos não se comprometeram em nada. Não
se trata de ver quem é de direita ou esquerda, a coisa é transversal,
todos adotaram esse modelo. Usam seus argumentos de sustentabilidade e o
mundo se encaminha para mais desastres, prejudicando as populações mais
pobres, um dos resultados mais diretos desse “desenvolvimento
sustentável”. Os resultados pífios, mornos, da reunião não mudarão isso.
E o modelo macroeconômico do país beneficia tal lógica destrutiva.
Elogiei algumas medidas do governo Lula, mas elas vêm acompanhadas
dessas histórias, do aumento da força da monocultura e da concentração
de terras. Os camponeses saem do campo, vão pra cidade e vemos se
agravarem as questões agrárias, sociais e ambientais.
Gabriel Brito é jornalista do Correio da Cidadania; Valéria Nader, economista e jornalista, é editora do Correio da Cidadania.
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Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
sábado, 30 de junho de 2012
Fala-se em nome dos pequenos agricultores, mas, de fato, beneficiam-se os grandes grileiros'
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Fundamentalismo: muçulmano, judeu ou cristão?
Quem é o fundamentalista?
Definitivamente
a mídia continua tratando seus leitores como idiotas.
Insiste
em criar slogans usurpadores para catequizar os incautos.
De
um lado temos o Ocidente Cristão “tolerante e democrático”.
De
outro o Oriente muçulmano “intolerante
e fundamentalista”.
O
Ocidente é representado por Estados Unidos e Europa.
O
Oriente por Iraque, Líbia e Afeganistão ( não por coincidência nações
invadidas, ocupadas e saqueadas”).
E a
estes três últimos querem acrescentar a Síria e Iran e em quem mais eles
estiverem cobiçando.
Enfim,
de um lado temos os “tolerantes cristãos” e de outro os “fundamentalistas muçulmanos”.
Mas
espera aí.
O
Iraque de Saddam Hussein tinha como vice-presidente um cristão.
Em
que país cristão há algum vice-presidente muçulmano?
No
Afeganistão dos Talibãs havia uma
Mesquita de Maria.
Alguém
conhece alguma igreja ou templo no Ocidente democrático de nome Muhamad?
Isso,
claro, para ficar na superfície do texto.
Alguém
pode dizer quando o Iraque, a Líbia, o Afeganistão, a Síria ou Iran invadiram o
Ocidente Cristão?
Não
preciso perguntar quantas vezes o Ocidente cristão invadiu aqueles países.
Qualquer
leitor minimamente ilustrado sabe
que o Ocidente Cristão fez e ( e continua fazendo) de sua razão a
invasão, ocupação e saque de nações.
E
não precisa ir longe.
A
nossa maltratada America é um excelente exemplo.
Claro
também que posso citar a África e a Ásia.
Agora
falemos de Israel que, segundo seus psicopatas dirigentes, estaria ameaçado
pelo muçulmano Iran.
Porque
um dirigente iraniano “teria ameaçado os judeus de extinção”.
O
interessante é que no Iran vivem mais de 35 mil judeus que vivem de acordo com
os preceitos da religião judaica.
E
jamais foram perseguidos ou maltratados.
Mas
falemos de Israel, lamentavelmente, um posto militar euro-ocidental a serviço
dos Estados Unidos.
Como
os “judeus” foram parar ali?
Fugindo
dos cristãos ocidentais.
Que
jamais cessaram de persegui-los.
Basta
consultar menos a mídia e mais a História para verificar essa verdade.
Foram
os ocidentais cristãos que perseguiram
e maltrataram os judeus durante séculos.
Ao
contrario dos muçulmanos, que sempre os abrigaram.
A
lista é longa, longuíssima, mas esse é um simples blog e não uma defesa de
tese.
Mas
se você tiver algum tempo consulte a História e veja como Ocidente Cristão
manipula vergonhosamente os fatos.
E
veja quem é o fundamentalista.
E
como a mídia trata os seus leitores como idiotas.
Depende
apenas de você.
E
abaixo você ouve Moshe Habusha, acompanhado por Ariel Cohen, cantando em árabe Ya Jarat Al Wadi, do egípcio Mohamad
Abel-Wahab. Ressalte-se que Moshe possui um conjunto musical especializado em canções
clássicas árabes. Muitas delas ele verteu para o hebraico. Eu o considero um dos
melhores interpretes de musica árabe em todo o Oriente Médio.
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A grande mídia ataca aprovação de 10% para educação
No blog do LUIZ ARAUJO
Os editoriais do Estado de São Paulo e da Folha de São Paulo do dia de
hoje expressam, de maneira límpida e clara, o pensamento do governo e do
grande empresariado sobre a aprovação pela Comissão Especial da Câmara
dos Deputados de um percentual de 10% de investimento direto em educação
ao final dos próximos dez anos.
Quais são os principais argumentos que a grande mídia, o governo e o grande empresariado enumeram nos dois editoriais:
1. A decisão da Comissão Especial representou um gesto eleitoreiro (“já comas atenções voltadas para a campanha eleitoral”);
2. Foi fruto da pressão das corporações da educação (de “movimentos sociais, ONGs e entidades de estudantes e de professores” ou de “de entidades ligadas ao ensino”);
3. Foi um gesto demagógico e de irresponsabilidade com as finanças nacionais (“Mais uma vez populismo, demagogia e chantagem política dão os braços no Legislativo para maquinar propostas que, sob a aparência de soluções generosas para os males do país, constituem gritante irresponsabilidade financeira” ou “sob o pretexto de valorizar o
magistério público e triplicar a oferta de matrículas da educação
profissional e técnica de nível médio”);
4. Os gastos atuais da educação já se encontram em patamar aceitável e semelhante à de outros países desenvolvidos (“o que está na média dos países desenvolvidos” ou “um percentual compatível com os padrões internacionais”);
5. A educação não precisa de mais recursos e sim gastar os existentes de forma mais responsável (“O problema da educação brasileira, contudo, não é de escassez de
recursos. É, sim, de gestão perdulária”)
6. O agravamento da crise econômica mundial indica que não se deveria apontar para aumentos de investimentos nas áreas sociais (“Como disse a presidente Dilma Rousseff, não é hora nem de promover aventuras fiscais nem de brincar à beira do precipício” ou “Um Congresso mais sério daria sua contribuição para melhorar, e não deteriorar, o quadro econômico”);
7. Certamente o Senado Federal será mais responsável que seus pares da Câmara dos Deputados (“No Senado, o Planalto espera que o projeto seja votado após as eleições, quando os senadores poderão agir mais responsavelmente do que os deputados”);
Não reconheço nos argumentos nada que não tenha sido dito e escrito por diferentes ministros da Educação e da Fazenda dos últimos governos (de FHC, passando por Lula e agora Dilma), mas cabe debatê-los de forma incisiva mais uma vez (e quantas vezes forem necessárias fazê-lo!):
1. As eleições sempre influenciam as decisões do legislativo. É justamente nesta época que os parlamentares precisam medir se seus votos implicarão em prejuízos eleitorais. Considero isso muito positivo, pois tal atitude de ouvir os anseios dos seus eleitores deveria ser seguida durante todo o mandato e não somente nos períodos eleitorais. É direito dos eleitores, dentre eles os milhões que possuem filhos em escolas públicas ou que não conseguiram exercitar este direito de forma plena, cobrar dos seus representantes que votem em propostas que ampliem e/ou consolidem direitos inscritos na Constituição, dentre eles o direito à educação de qualidade para todos e em todos os níveis;
2. Hás um reconhecimento importante feito pelos editoriais: a votação foi fruto da pressão da sociedade civil organizada. É óbvio que o olhar do empresariado (que financia a grande mídia) é que organizações não governamentais, entidades sindicais e estudantis são empecilhos ao desenvolvimento do país, leia-se desenvolvimento pleno do capital sem entraves que limitem a sua “desejável” taxa de lucros. Mesmo de maneira preconceituosa e conservadora os editoriais conseguiram captar uma verdade importante: com luta e organização a sociedade conquista direitos!;
3. Realmente os movimentos sociais se mobilizaram guiados pelo que a mídia chama de “pretexto”. Queremos a garantia plena do direito a educação. Isso significa mais vagas nas escolas (em todas as etapas), crescimento público da oferta de vagas, elevação do padrão de qualidade e assim por diante;
4. E, obviamente, que o centro das críticas é sobre a necessária responsabilidade fiscal e de como devemos enfrentar os efeitos da crise econômica mundial. Aqui fica clara uma concordância do empresariado e do governo: ambos advogam redução de gastos públicos como um bom remédio para equilibrar as finanças nacionais. Não há disposição para cortar recursos destinados aos bancos, especialmente os destinados a pagamentos de amortização, juros e rolagem da dívida pública, que é a principal fonte da crise mundial. Advogam a receita que está destruindo os direitos sociais gregos, portugueses, espanhóis e italianos. Todos que se levantarem contra esta política de jogar nas costas dos trabalhadores o ônus do pagamento de uma crise provocada pelo sistema financeiro serão tratados como “irresponsáveis”, que “querem jogar o país no precipício”. Eles jogaram o mundo no precipício e querem que nós paguemos a conta do resgate;
5. Não é verdade que o dinheiro aplicado em educação em nosso país seja suficiente, mesmo que parte destes recursos seja desviada pela corrupção e pela má gestão. No Nordeste, por exemplo, os governos municipais dispuseram de apenas R$ 1800,00 por aluno ano para garantir funcionamento de suas creches. Sem corrupção renderia um pouco mais estes recursos, mas mesmo assim seriam insuficientes. E temos milhões de brasileiros fora da escola, em todos os níveis e etapas. A campanha Nacional pelo Direito à Educação produziu Nota Técnica que demonstra a necessidade de pelo menos 10% para cumprir as metas necessárias à melhoria da educação brasileira;
6. Não é verdade que nossos investimentos estejam compatíveis com os realizados por outros países desenvolvidos. É necessário analisar duas variáveis: o quanto estes países desenvolvidos aplicaram em educação quando tinham desafios educacionais do tamanho dos que temos hoje no Brasil e qual o universo de educandos que precisam atender proporcionalmente ao PIB de cada país. Quem quiser conhecer melhor os limites destas comparações pode baixar a apresentação feita pelo professor Nelson Cardoso (UFG) em audiência pública da Comissão Especial da Câmara;
7. A esperança do governo, do empresariado e da mídia é que, passadas as eleições, os parlamentares voltem a se comportar de “maneira responsável”, ou seja, que no Senado Federal os nossos representantes ouçam a “voz do mercado” ou a “voz do governo” e tampem os ouvidos para “a voz do povo”. Certamente a sociedade civil organizada trabalhará para que as conquistas arrancadas pela mobilização na Câmara sejam consolidadas e novas conquistas sejam alcançadas.
Os editoriais são uma demonstração nítida de como será travada na próxima etapa de tramitação do Plano Nacional de Educação.
Quais são os principais argumentos que a grande mídia, o governo e o grande empresariado enumeram nos dois editoriais:
1. A decisão da Comissão Especial representou um gesto eleitoreiro (“já comas atenções voltadas para a campanha eleitoral”);
2. Foi fruto da pressão das corporações da educação (de “movimentos sociais, ONGs e entidades de estudantes e de professores” ou de “de entidades ligadas ao ensino”);
3. Foi um gesto demagógico e de irresponsabilidade com as finanças nacionais (“Mais uma vez populismo, demagogia e chantagem política dão os braços no Legislativo para maquinar propostas que, sob a aparência de soluções generosas para os males do país, constituem gritante irresponsabilidade financeira” ou “sob o pretexto de valorizar o
magistério público e triplicar a oferta de matrículas da educação
profissional e técnica de nível médio”);
4. Os gastos atuais da educação já se encontram em patamar aceitável e semelhante à de outros países desenvolvidos (“o que está na média dos países desenvolvidos” ou “um percentual compatível com os padrões internacionais”);
5. A educação não precisa de mais recursos e sim gastar os existentes de forma mais responsável (“O problema da educação brasileira, contudo, não é de escassez de
recursos. É, sim, de gestão perdulária”)
6. O agravamento da crise econômica mundial indica que não se deveria apontar para aumentos de investimentos nas áreas sociais (“Como disse a presidente Dilma Rousseff, não é hora nem de promover aventuras fiscais nem de brincar à beira do precipício” ou “Um Congresso mais sério daria sua contribuição para melhorar, e não deteriorar, o quadro econômico”);
7. Certamente o Senado Federal será mais responsável que seus pares da Câmara dos Deputados (“No Senado, o Planalto espera que o projeto seja votado após as eleições, quando os senadores poderão agir mais responsavelmente do que os deputados”);
Não reconheço nos argumentos nada que não tenha sido dito e escrito por diferentes ministros da Educação e da Fazenda dos últimos governos (de FHC, passando por Lula e agora Dilma), mas cabe debatê-los de forma incisiva mais uma vez (e quantas vezes forem necessárias fazê-lo!):
1. As eleições sempre influenciam as decisões do legislativo. É justamente nesta época que os parlamentares precisam medir se seus votos implicarão em prejuízos eleitorais. Considero isso muito positivo, pois tal atitude de ouvir os anseios dos seus eleitores deveria ser seguida durante todo o mandato e não somente nos períodos eleitorais. É direito dos eleitores, dentre eles os milhões que possuem filhos em escolas públicas ou que não conseguiram exercitar este direito de forma plena, cobrar dos seus representantes que votem em propostas que ampliem e/ou consolidem direitos inscritos na Constituição, dentre eles o direito à educação de qualidade para todos e em todos os níveis;
2. Hás um reconhecimento importante feito pelos editoriais: a votação foi fruto da pressão da sociedade civil organizada. É óbvio que o olhar do empresariado (que financia a grande mídia) é que organizações não governamentais, entidades sindicais e estudantis são empecilhos ao desenvolvimento do país, leia-se desenvolvimento pleno do capital sem entraves que limitem a sua “desejável” taxa de lucros. Mesmo de maneira preconceituosa e conservadora os editoriais conseguiram captar uma verdade importante: com luta e organização a sociedade conquista direitos!;
3. Realmente os movimentos sociais se mobilizaram guiados pelo que a mídia chama de “pretexto”. Queremos a garantia plena do direito a educação. Isso significa mais vagas nas escolas (em todas as etapas), crescimento público da oferta de vagas, elevação do padrão de qualidade e assim por diante;
4. E, obviamente, que o centro das críticas é sobre a necessária responsabilidade fiscal e de como devemos enfrentar os efeitos da crise econômica mundial. Aqui fica clara uma concordância do empresariado e do governo: ambos advogam redução de gastos públicos como um bom remédio para equilibrar as finanças nacionais. Não há disposição para cortar recursos destinados aos bancos, especialmente os destinados a pagamentos de amortização, juros e rolagem da dívida pública, que é a principal fonte da crise mundial. Advogam a receita que está destruindo os direitos sociais gregos, portugueses, espanhóis e italianos. Todos que se levantarem contra esta política de jogar nas costas dos trabalhadores o ônus do pagamento de uma crise provocada pelo sistema financeiro serão tratados como “irresponsáveis”, que “querem jogar o país no precipício”. Eles jogaram o mundo no precipício e querem que nós paguemos a conta do resgate;
5. Não é verdade que o dinheiro aplicado em educação em nosso país seja suficiente, mesmo que parte destes recursos seja desviada pela corrupção e pela má gestão. No Nordeste, por exemplo, os governos municipais dispuseram de apenas R$ 1800,00 por aluno ano para garantir funcionamento de suas creches. Sem corrupção renderia um pouco mais estes recursos, mas mesmo assim seriam insuficientes. E temos milhões de brasileiros fora da escola, em todos os níveis e etapas. A campanha Nacional pelo Direito à Educação produziu Nota Técnica que demonstra a necessidade de pelo menos 10% para cumprir as metas necessárias à melhoria da educação brasileira;
6. Não é verdade que nossos investimentos estejam compatíveis com os realizados por outros países desenvolvidos. É necessário analisar duas variáveis: o quanto estes países desenvolvidos aplicaram em educação quando tinham desafios educacionais do tamanho dos que temos hoje no Brasil e qual o universo de educandos que precisam atender proporcionalmente ao PIB de cada país. Quem quiser conhecer melhor os limites destas comparações pode baixar a apresentação feita pelo professor Nelson Cardoso (UFG) em audiência pública da Comissão Especial da Câmara;
7. A esperança do governo, do empresariado e da mídia é que, passadas as eleições, os parlamentares voltem a se comportar de “maneira responsável”, ou seja, que no Senado Federal os nossos representantes ouçam a “voz do mercado” ou a “voz do governo” e tampem os ouvidos para “a voz do povo”. Certamente a sociedade civil organizada trabalhará para que as conquistas arrancadas pela mobilização na Câmara sejam consolidadas e novas conquistas sejam alcançadas.
Os editoriais são uma demonstração nítida de como será travada na próxima etapa de tramitação do Plano Nacional de Educação.
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Vivendo no fim dos tempos: o apocalipse do capital
Em seu novo livro, "Vivendo no fim dos tempos" (Boitempo Editorial), Slavoj Zizek defende que o capitalismo global está se aproximando rapidamente da sua crise final.
Ele identifica os quatro cavaleiros
deste apocalipse: a crise ecológica, as consequências da revolução
biogenética, os desequilíbrios do próprio sistema (problemas de
propriedade intelectual, a luta vindoura por matérias-primas, comida e
água) e o crescimento explosivo de divisões e exclusões sociais.
Zizek apresenta sua obra como "parte da luta contra aqueles que estão no poder em geral, contra sua autoridade, contra a ordem global e contra a mistificação ideológica que os sustenta".
Não deveria haver mais nenhuma dúvida: o capitalismo global está se aproximando rapidamente da sua crise final. Slavoj Žižek identifica neste livro os quatro cavaleiros deste apocalipse: a crise ecológica, as consequências da revolução biogenética, os desequilíbrios do próprio sistema (problemas de propriedade intelectual, a luta vindoura por matérias-primas, comida e água) e o crescimento explosivo de divisões e exclusões sociais. E pergunta: se o fim do capitalismo parece para muitos o fim do mundo, como é possível para a sociedade ocidental enfrentar o fim dos tempos?
Para explicar porque estaríamos tentando desesperadamente evitar essa verdade, mesmo que os sinais da “grande desordem sob o céu” sejam abundantes em todos os campos, Žižek recorre a um guia inesperado: o famoso esquema de cinco estágios da perda pessoal catastrófica (doença terminal, desemprego, morte de entes queridos, divórcio, vício em drogas) proposto pela psiquiatra suíça Elisabeth Kübler-Ross, cuja teoria enfatiza também que esses estágios não aparecem necessariamente nessa ordem nem são todos vividos pelos pacientes.
De acordo com Žižek, podemos distinguir os mesmos cinco padrões no modo como nossa consciência social trata o apocalipse vindouro. “A primeira reação é a negação ideológica de qualquer ‘desordem sob o céu’; a segunda aparece nas explosões de raiva contra as injustiças da nova ordem mundial; seguem-se tentativas de barganhar (‘Se mudarmos aqui e ali, a vida talvez possa continuar como antes...’); quando a barganha fracassa, instalam-se a depressão e o afastamento; finalmente, depois de passar pelo ponto zero, não vemos mais as coisas como ameaças, mas como uma oportunidade de recomeçar. Ou, como Mao Tsé-Tung coloca: ‘Há uma grande desordem sob o céu, a situação é excelente’”.
Os cinco capítulos se referem a essas cinco posturas.
O capítulo 1, “Negação”, analisa os modos predominantes de obscurecimento ideológico, desde os últimos campeões de bilheteria de Hollywood até o falso apocaliptismo (o obscurantismo da Nova Era, por exemplo).
O capítulo 2, “Raiva”, examina os violentos protestos contra o sistema global, em especial a ascensão do fundamentalismo religioso.
O capítulo 3, “Barganha”, trata da crítica da economia política, com um apelo à renovação desse ingrediente fundamental da teoria marxista.
O capítulo 4, “Depressão”, descreve o impacto do colapso vindouro, principalmente em seus aspectos menos conhecidos, como o surgimento de novas formas de patologia subjetiva.
E, por fim, o capítulo 5, “Aceitação”, distingue os sinais do surgimento da subjetividade emancipatória e procura os germes de uma cultura comunista em suas diversas formas, inclusive nas utopias literárias e outras.
Žižek é otimista quanto ao que pode surgir desse processo de emancipação e apresenta sua obra como parte da luta contra aqueles que estão no poder em geral, contra sua autoridade, contra a ordem global e contra a mistificação ideológica que os sustenta. Para ele, engajar-se nessa luta significa endossar a fórmula de Alain Badiou, para quem mais vale correr o risco e engajar-se num Evento-Verdade, mesmo que essa fidelidade termine em catástrofe, do que vegetar na sobrevivência hedonista-utilitária. Rejeita, assim, a ideologia liberal da vitimação, que leva a política a renunciar a todos os projetos positivos e buscar a opção menos pior.
Trecho do livro
“Essa virada na direção do entusiasmo emancipatório só acontece quando a verdade traumática não só é aceita de maneira distanciada, como também vivida por inteiro: ‘A verdade tem de ser vivida, e não ensinada. Prepara-te para a batalha!’. Como os famosos versos de Rilke (“Pois não há lugar que não te veja. Deves mudar tua vida”), esse trecho de O jogo das contas de vidro, de Hermann Hesse, só pode parecer um estranho non sequitur: se a Coisa me olha de todos os lados, por que isso me obriga a mudar? Por que não uma experiência mística despersonalizada, em que ‘saio de mim’ e me identifico com o olhar do outro? E, do mesmo modo, se é preciso viver a verdade, por que isso envolve luta? Por que não uma experiência íntima de meditação?
Porque o estado ‘espontâneo’ da vida cotidiana é uma mentira vivida, de modo que é necessária uma luta contínua para escapar dessa mentira. O ponto de partida desse processo é nos apavorarmos com nós mesmos.
Quando analisou o atraso da Alemanha em sua obra de juventude Crítica da filosofia do direito de Hegel, Marx fez uma observação sobre o vínculo entre vergonha, terror e coragem, raramente notada, mas fundamental:
É preciso tornar a pressão efetiva ainda maior, acrescentando a ela a consciência da pressão, e tornar a ignomínia ainda mais ignominiosa, tornando-a pública. É preciso retratar cada esfera da sociedade alemã como a partie honteuse [parte vergonhosa] da sociedade alemã, forçar essas relações petrificadas a dançar, entoando a elas sua própria melodia! É preciso ensinar o povo a se aterrorizar diante de si mesmo, a fim de nele incutir coragem.”
Sobre o autor
Slavoj Žižek nasceu em 1949 na cidade de Liubliana, Eslovênia. É filósofo, psicanalista e um dos principais teóricos contemporâneos. Transita por diversas áreas do conhecimento e, sob influência principalmente de Karl Marx e Jacques Lacan, efetua uma inovadora crítica cultural e política da pós‑modernidade. Professor da European Graduate School e do Instituto de Sociologia da Universidade de Liubliana, Žižek preside a Society for Theoretical Psychoanalysis, de Liubliana, e é diretor internacional do Instituto de Humanidades da Universidade Birkbeck de Londres.
Vivendo no fim dos tempos é o seu sétimo livro traduzido pela Boitempo. Dele, a editora também publicou Bem‑vindo ao deserto do Real!, em 2003, Às portas da revolução (escritos de Lenin de 1917), em 2005, A visão em paralaxe, em 2008, Lacrimae Rerum, em 2009, Em defesa das causas perdidas e Primeiro como tragédia, depois como farsa, os dois últimos em 2011.
Ficha técnica
Título: Vivendo no fim dos tempos
Título original: Living in the end times
Autor: Slavoj Žižek
Tradução: Maria Beatriz de Medina
Orelha: Emir Sader
Páginas: 368
Editora: Boitempo
Fonte: Redação Carta Maior
Zizek apresenta sua obra como "parte da luta contra aqueles que estão no poder em geral, contra sua autoridade, contra a ordem global e contra a mistificação ideológica que os sustenta".
Não deveria haver mais nenhuma dúvida: o capitalismo global está se aproximando rapidamente da sua crise final. Slavoj Žižek identifica neste livro os quatro cavaleiros deste apocalipse: a crise ecológica, as consequências da revolução biogenética, os desequilíbrios do próprio sistema (problemas de propriedade intelectual, a luta vindoura por matérias-primas, comida e água) e o crescimento explosivo de divisões e exclusões sociais. E pergunta: se o fim do capitalismo parece para muitos o fim do mundo, como é possível para a sociedade ocidental enfrentar o fim dos tempos?
Para explicar porque estaríamos tentando desesperadamente evitar essa verdade, mesmo que os sinais da “grande desordem sob o céu” sejam abundantes em todos os campos, Žižek recorre a um guia inesperado: o famoso esquema de cinco estágios da perda pessoal catastrófica (doença terminal, desemprego, morte de entes queridos, divórcio, vício em drogas) proposto pela psiquiatra suíça Elisabeth Kübler-Ross, cuja teoria enfatiza também que esses estágios não aparecem necessariamente nessa ordem nem são todos vividos pelos pacientes.
De acordo com Žižek, podemos distinguir os mesmos cinco padrões no modo como nossa consciência social trata o apocalipse vindouro. “A primeira reação é a negação ideológica de qualquer ‘desordem sob o céu’; a segunda aparece nas explosões de raiva contra as injustiças da nova ordem mundial; seguem-se tentativas de barganhar (‘Se mudarmos aqui e ali, a vida talvez possa continuar como antes...’); quando a barganha fracassa, instalam-se a depressão e o afastamento; finalmente, depois de passar pelo ponto zero, não vemos mais as coisas como ameaças, mas como uma oportunidade de recomeçar. Ou, como Mao Tsé-Tung coloca: ‘Há uma grande desordem sob o céu, a situação é excelente’”.
Os cinco capítulos se referem a essas cinco posturas.
O capítulo 1, “Negação”, analisa os modos predominantes de obscurecimento ideológico, desde os últimos campeões de bilheteria de Hollywood até o falso apocaliptismo (o obscurantismo da Nova Era, por exemplo).
O capítulo 2, “Raiva”, examina os violentos protestos contra o sistema global, em especial a ascensão do fundamentalismo religioso.
O capítulo 3, “Barganha”, trata da crítica da economia política, com um apelo à renovação desse ingrediente fundamental da teoria marxista.
O capítulo 4, “Depressão”, descreve o impacto do colapso vindouro, principalmente em seus aspectos menos conhecidos, como o surgimento de novas formas de patologia subjetiva.
E, por fim, o capítulo 5, “Aceitação”, distingue os sinais do surgimento da subjetividade emancipatória e procura os germes de uma cultura comunista em suas diversas formas, inclusive nas utopias literárias e outras.
Žižek é otimista quanto ao que pode surgir desse processo de emancipação e apresenta sua obra como parte da luta contra aqueles que estão no poder em geral, contra sua autoridade, contra a ordem global e contra a mistificação ideológica que os sustenta. Para ele, engajar-se nessa luta significa endossar a fórmula de Alain Badiou, para quem mais vale correr o risco e engajar-se num Evento-Verdade, mesmo que essa fidelidade termine em catástrofe, do que vegetar na sobrevivência hedonista-utilitária. Rejeita, assim, a ideologia liberal da vitimação, que leva a política a renunciar a todos os projetos positivos e buscar a opção menos pior.
Trecho do livro
“Essa virada na direção do entusiasmo emancipatório só acontece quando a verdade traumática não só é aceita de maneira distanciada, como também vivida por inteiro: ‘A verdade tem de ser vivida, e não ensinada. Prepara-te para a batalha!’. Como os famosos versos de Rilke (“Pois não há lugar que não te veja. Deves mudar tua vida”), esse trecho de O jogo das contas de vidro, de Hermann Hesse, só pode parecer um estranho non sequitur: se a Coisa me olha de todos os lados, por que isso me obriga a mudar? Por que não uma experiência mística despersonalizada, em que ‘saio de mim’ e me identifico com o olhar do outro? E, do mesmo modo, se é preciso viver a verdade, por que isso envolve luta? Por que não uma experiência íntima de meditação?
Porque o estado ‘espontâneo’ da vida cotidiana é uma mentira vivida, de modo que é necessária uma luta contínua para escapar dessa mentira. O ponto de partida desse processo é nos apavorarmos com nós mesmos.
Quando analisou o atraso da Alemanha em sua obra de juventude Crítica da filosofia do direito de Hegel, Marx fez uma observação sobre o vínculo entre vergonha, terror e coragem, raramente notada, mas fundamental:
É preciso tornar a pressão efetiva ainda maior, acrescentando a ela a consciência da pressão, e tornar a ignomínia ainda mais ignominiosa, tornando-a pública. É preciso retratar cada esfera da sociedade alemã como a partie honteuse [parte vergonhosa] da sociedade alemã, forçar essas relações petrificadas a dançar, entoando a elas sua própria melodia! É preciso ensinar o povo a se aterrorizar diante de si mesmo, a fim de nele incutir coragem.”
Sobre o autor
Slavoj Žižek nasceu em 1949 na cidade de Liubliana, Eslovênia. É filósofo, psicanalista e um dos principais teóricos contemporâneos. Transita por diversas áreas do conhecimento e, sob influência principalmente de Karl Marx e Jacques Lacan, efetua uma inovadora crítica cultural e política da pós‑modernidade. Professor da European Graduate School e do Instituto de Sociologia da Universidade de Liubliana, Žižek preside a Society for Theoretical Psychoanalysis, de Liubliana, e é diretor internacional do Instituto de Humanidades da Universidade Birkbeck de Londres.
Vivendo no fim dos tempos é o seu sétimo livro traduzido pela Boitempo. Dele, a editora também publicou Bem‑vindo ao deserto do Real!, em 2003, Às portas da revolução (escritos de Lenin de 1917), em 2005, A visão em paralaxe, em 2008, Lacrimae Rerum, em 2009, Em defesa das causas perdidas e Primeiro como tragédia, depois como farsa, os dois últimos em 2011.
Ficha técnica
Título: Vivendo no fim dos tempos
Título original: Living in the end times
Autor: Slavoj Žižek
Tradução: Maria Beatriz de Medina
Orelha: Emir Sader
Páginas: 368
Editora: Boitempo
Fonte: Redação Carta Maior
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Um Congresso que debate “cura para gays”: Mais um capítulo da teocracia brasileira
idelberavelar em na REVISTA FORUM
Procurei bastante por aí,
mas não encontrei. Até onde pude averiguar, não há precedente moderno,
em nação democrática, de um Congresso Nacional prestando-se ao ridículo papel de discutir “cura para homossexuais”. Você encontrará, claro, deputados individuais dando declarações que sugerem “cura para gays”, como é o caso do homofóbico costarriquenho Juan Orozco.
Mas não consegui achar, em casa legislativa de país democrático, um
vexame comparável ao que se prestou a Câmara dos Deputados brasileira
nesta quinta-feira. A Câmara se reuniu para um “debate”, uma audiência
pública da Comissão de Seguridade Social e Família, acerca de um pedaço de lixo,
em forma de Projeto de Decreto Legislativo, defecado por João Campos,
evangélico tucano de Goiás e homofóbico-mor do Congresso. O projeto se
arroga o direito de sustar uma resolução do Conselho Federal de
Psicologia que, com muito atraso, em 1999, definiu que os profissionais
da área não patologizarão práticas homoeróticas e não colaborarão com
serviços e eventos que proponham tratamento e cura da homossexualidade.
Como notou Antonio Luiz Costa, da Carta Capital, mais esdrúxulo ainda é
que o pseudo-debate, pasmem, foi convocado por um deputado do Partido
Verde.
O estado de exceção em que vivemos se converteu em
regra a tal ponto que uma monstruosidade dessas é discutida como se se
tratasse de um debate razoável, com duas ou mais posições em comparável
condição de reinvindicar a razão ou a verdade. O fato é noticiado como
se não fosse absurdo. Votações online colocam as opções como se se tratasse de uma escolha entre termos simétricos, e não a justaposição entre uma posição consensualmente científica
e um delírio de psicopatas fundamentalistas. No mundo realmente
existente, claro, não há qualquer discussão, em nenhuma disciplina
séria, sobre se a homossexualidade é ou não é doença, desvio, aberração
ou anormalidade a ser curada. Num país em que se assassina um gay ou
lésbica (ou cidadã[o] confundido[a] com gay ou lésbica) a cada 36 horas –
lembrando sempre que esses números são brutalmente subrreportados –,
aceitar um “debate” nesses termos já é, por definição, sujar as mãos de
sangue.
É evidente que, no interior de uma sociedade
homofóbica, a violência real e simbólica perpetrada contra gays e
lésbicas produzirá sofrimento que, em maior ou menor grau, poderá ter
consequências que se encaixam entre as tipicamente tratadas num
consultório de psicólogo, psicanalista ou terapeuta. Também é evidente
que, nesses casos, o que será tratado ou “curado” – e há toda uma
discussão sobre o que essa palavra pode significar, seu clássico sendo o
Análise Terminável e Interminável, de Freud – não será,
jamais, o desejo, a afetividade ou a prática homoerótica em si, e sim a
condição produzida no sujeito, seja lá ela qual for, a partir da
violência homofóbica. A Resolução de 1999 do Conselho Federal de
Psicologia simplesmente estabelece, como parâmetro ético inegociável
para o exercício da profissão, o reconhecimento desse fato, em
conformidade com resolução análoga da Organização Panamericana de Saúde.
Há que se atentar que a iniciativa homofóbica dos
Deputados João Campos (PSDB-GO) e Roberto de Lucena (PV-SP) vem, toda
ela, embrulhada no discurso da liberdade de expressão. “Deixa a pessoa
ter o direito de ser tratada”, diz a pseudo-psicóloga homofóbica Marisa
Lobo, estrela do “debate” e convidada de Gleisi Hoffmann a eventos
oficiais no Palácio do Planalto (enquanto a tropa de choque governista
nas redes sociais inventa cada vez mais malabarismos para dizer que o
governo não tem responsabilidade no surto de assassinatos homofóbicos). A
baliza ética expressa na resolução do CFP e universalmente aceita entre
profissionais de todas as psicoterapias – a saber, a de que
homossexualidade não é doença a ser “tratada” – é apresentada por João
Campos nos seguintes termos: “É como se o Conselho Federal de Psicologia
considerasse o homossexual um ser menor, incapaz de autodeterminação”.
No mundo realmente existente, claro, é o jovem gay de 15 anos de idade, e
não a corja fundamentalista, que é morto a pauladas na rua. Mas os nossos Deputados acham que é o seu ódio que ainda está sendo cerceado em seu direito de expressão.
Alguns amigos acharam que minha ênfase, ao longo
desta sexta-feira no Twitter, no ineditismo desse fato – um Congresso
nacional discutindo o direito de se “curar” gays – era contraproducente.
Discordo. É importante afirmar: barbárie como esta que está acontecendo no Brasil é raramente encontrada em sociedades democráticas modernas.
O evento desta quinta-feira no Congresso é mais uma reiteração dessa
barbárie. A única postura que cabe em relação a esse “debate” é
denunciar sua própria existência.
Marcio Porchmann lança "Nova Classe Média?"
Por Caio Zinet
Caros Amigos
Caros Amigos
Durante
a última década, o Brasil vivenciou um intenso fenômeno político e
econômico, a ascensão de milhões de pessoas à chamada “nova Classe C”.
Para analisar esse novo elemento social brasileiro, o presidente do
Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea), Márcio Porchmann, escreveu o
livro "Nova Classe Média?" pela editora Boitempo. O livro tem lançamento
e debate programados para o dia 29 desse mês de maio, às 19h30, no
prédio da Economia da PUC, em São Paulo.
Para o pesquisador há uma disputa sobre o que represente essa nova
Classe, principalmente em torno da discussão se ela pertence a um setor
da classe média, ou se é um setor da classe trabalhadora. Para ele, essa
discussão tem intensas repercussões sobre a atuação e o papel do Estado
.
“Se a identidade que nos estamos tendo é a de classe média a pressão
para que o Estado subsidie o setor privado tenderá a ser maior. Se nós
entendemos que se trata de novos segmentos no interior da classe
trabalhadora a pressão é de outra natureza”, afirmou.
Ele traçou ainda um perfil dessas novas pessoas que ascenderam da
base da pirâmide social, que pare ele escaparam da influência das
instituições políticas democráticas. Para ele isso tem repercussões
importantes na política brasileira.
Confira abaixo a entrevista na íntegra.
Caros Amigos - Quais são as principais características dessa nova classe C?
Marcio Porchmann - Ao meu ver
todo esse processo não constituiu o surgimento de uma nova classe, pelo
contrário são segmentos novos no interior da classe trabalhadora. Essa
ascensão tem características muito individualistas, muito movidas pelo
próprio consumo. É um segmento especialmente concentrado no setor de
serviços, e que as instituições civil-democráticas, como por exemplo,
associações de bairro, associações estudantis e de trabalhadores, os
próprios partidos políticos, não conseguiram capturar.
Esse segmento ascende, emerge, mas é movido fundamentalmente pelo
consumo. Isso é até natural, eu diria. Nós tivermos durante a década de
1970 outro momento de ascensão social importante, especialmente porque
durante esse época vivenciamos o chamado “milagre econômico”, quando a
economia cresceu em média 10% ao ano. Então houve um forte crescimento
econômico que foi puxado pelos empregos na indústria. Nessa época a
mobilidade social foi muito forte, porque eram as pessoas que vinham do
campo, ainda nos anos 1960 e 1970 havia o campo que não conhecia luz
elétrica, água encanada, etc.
Essas pessoas vieram para as grandes cidades basicamente por conta do
emprego industrial, só que as cidades brasileiras não estavam
preparadas para receber esse fluxo de imigrantes que vinham do campo e
do interior do Brasil e com isso as pessoas acabaram indo morar nas
favelas, onde não tinham acesso a água encanada, luz elétrica, etc. É
dessa época parte significativa das favelas nas grandes cidades do
Brasil. Isso gerou um estranhamento, e esse estranhamento na segunda
metade dos anos 1970 foi de alguma maneira capturado por instituições
que se formaram durante a transição política brasileira, da ditadura
para o regime democrático. Instituições como as comunidades eclesiais de
base, associações de bairro, o próprio renascimento do movimento
estudantil, o renascimento do sindicalismo, a construção dos partidos
políticos, e a transição para a democracia, e até mesmo a constituição
de 1988 que de certa maneira é fruto do que aconteceu com esse novos
segmentos emergentes que eram basicamente classe trabalhadora do ramo
industrial. Eles foram protagonistas dessa transição.
O que nos estamos vendo agora é que o setor que é protagonista na geração de emprego nessa primeira do século XXI é o setor de serviços, e aí são postos de trabalho vinculados a atividades de terceirização, por exemplo, atividades temporárias. É um segmento que não tem suas aspirações capturadas pelas instituições democráticas, e isso aponta para um segmento onde justamente uma das características é a baixa escolarização.
O que nos estamos vendo agora é que o setor que é protagonista na geração de emprego nessa primeira do século XXI é o setor de serviços, e aí são postos de trabalho vinculados a atividades de terceirização, por exemplo, atividades temporárias. É um segmento que não tem suas aspirações capturadas pelas instituições democráticas, e isso aponta para um segmento onde justamente uma das características é a baixa escolarização.
É um segmento, que obviamente, depende do desenvolvimento econômico e
da geração de empregos. Por outro lado se mostra conservador em outros
valores como é o caso da pena de morte, religião, aborto, assim por
diante. Então as características desse segmento são até naturais na
medida em que não tenham um envolvimento com instituições democráticas.
Esse é o desafio, eu diria assim, do movimento estudantil e sindical.
Nós tivermos 1 milhão de estudantes de origem humilde que ascenderam ao
nível superior por conta do ProUni (Programa Universidade para todos),
por exemplo. Então esse segmento que ascendeu, de certa maneira, não foi
fortalecer, não foi fazer parte do movimento estudantil, que é uma das
instituições importantes da democracia. Em um país que não tem tradição
democrática como é o nosso, que é um país que completou agora 50 anos de
experiência democrática em 500 anos de história, isso é um fato
bastante significativo a ser considerado.
CA - A inserção dessas pessoas se deu pela via do consumo, mas pouco pela via do direito. Quais as consequências disso?
MP - Se não tiver a cultura
política o que ocorre é que cada um acha que a ascensão dependeu do seu
próprio esforço físico, porque afinal de contas
foi ele que conseguiu o emprego, esse emprego veio com melhor salário e
permitiu a ele ascender socialmente, então dá a perspectiva
individualista, porque na verdade está faltando a cultura política. A
expansão do emprego foi fruto de uma decisão política de uma nova
maioria que se constituiu no país a partir de 2003 que entendeu que o
Brasil não poderia mais seguir em uma trajetória de voo de galinha, que
cresce um pouco um ano, no outro não crescia, que foi a experiência dos
anos 1990.
A falta de uma política leva a esse quadro de uma visão mais
individualizada. Ao mesmo tempo esses novos segmentos que ascenderam que
são trabalhadores que não poupam, e que têm toda sua renda adicional
voltada para o consumo, está sendo visto por alguns como nova classe
média. O que está por trás disso é uma disputa sobre como deve ser a
atuação do Estado, porque se eu identifico que esses segmentos são de
estratos de classe média, o que está por trás disso não é a defesa, por
exemplo, de políticas públicas universais. A classe média está
preocupada com a educação e a saúde privada, está interessada em uma
previdência privada, então isso é uma lógica diferente daqueles que nós
poderíamos entender como sendo a de uma classe trabalhadora que está
preocupada com políticas universais, como saúde e educação pública de
qualidade.
Então esse é o embate que tem repercussões grandes no papel do
Estado. Porque se a ideia é de classe média possivelmente a ação do
Estado tende a ser cada vez mais dissociada de políticas voltadas para a
universalização.
Durante os anos 1990 tinha-se uma clareza que o Estado não era
eficiente, de que eficiente era o setor privado. Agora que essa tese,
digamos assim, caiu, porque o Estado se mostrou absolutamente
necessário. Agora se inicia um debate sobre como o Estado deve atuar,
especialmente em termos de políticas públicas. Como se coloca esse
dinheiro na sociedade, se é subsidiando a iniciativa privada. A receita
federal, por exemplo, subsidia o gasto da saúde privada, da educação
privada, da previdência privada, da assistência privada dos segmentos de
maior renda no país. Porque quando você declara o imposto de renda
pode-se abater do valor devido esse tipo de gasto. Então o Estado
brasileiro financia o gasto privado nas áreas de educação, saúde, etc.,
desses segmentos que declaram imposto de renda, que não são os pobres.
Então se a identidade que nós estamos tendo é a de classe média, a pressão para que o Estado subsidie o setor privado tenderá a ser maior. Se nós entendemos que se trata de novos segmentos no interior da classe trabalhadora a pressão é de outra natureza.
Então se a identidade que nós estamos tendo é a de classe média, a pressão para que o Estado subsidie o setor privado tenderá a ser maior. Se nós entendemos que se trata de novos segmentos no interior da classe trabalhadora a pressão é de outra natureza.
CA - Essa política de crédito é uma política que pode se manter no longo prazo?
MP - A inteligência da política
pública desde o início do governo Lula foi de viabilizar maior renda
para esses segmentos da base da pirâmide social para ampliar o consumo, e
ao ampliar o consumo nós fomos gradualmente ocupando a capacidade
ociosa das empresas sem a necessidade de grandes investimentos. Agora
estamos em condições mais difíceis para viabilizar essa perspectiva
porque já há certa saturação da capacidade ociosa, e o grande desafio
colocado é o do investimento, da ampliação da capacidade produtiva para
atender as possibilidades de incorporação de novos segmentos, e ao mesmo
tempo gerar empregos de classe média tradicional como bancários,
professores. Mas isso só virá em grande quantidade com a ampliação nos
investimentos, porque com mais investimentos se amplia a capacidade
produtiva, o que significa a incorporação de novas tecnologias e a
necessidade de incorporação de trabalhadores com maior escolaridade
típica de classe média. O desafio, portanto, passa a ser o investimento e
parece que o governo brasileiro está inclinado nesse sentido,
especialmente quando nós olhamos as medidas mais recentes de reforço do
setor produtivo com os subsídios fiscais, a queda na taxa de juros, as
medidas de desvalorização da moeda. Esse conjunto de ações muito
positivas está culminando para que o investimento produtivo ganhe maior
dimensão.
CA - As condições de emprego que foram
geradas durante a última década são diferentes das que foram geradas
durante a década anterior?
MP - De fato o grosso das
ocupações geradas foi de remuneração ao redor do salário mínimo, mas eu
entendo que foi fundamental a geração desse universo de vagas, porque se
nós tivéssemos gerados empregos tradicionais de classe média, esses
segmentos que foram beneficiadas não teriam chance de disputar esses
postos de trabalho, por terem um perfil em sua maioria de baixa
escolaridade e de certa maneira ficariam marginalizados de empregos de
maior requisito de contratação. Então é isso que explica o sucesso
brasileiro de permitir que a inclusão social fosse o motor principal do
próprio dinamismo econômico que inverteu a lógica anterior de crescer
para depois distribuir. Para dar continuidade a essa política de
mobilidade social é preciso de empregos de maior qualidade.
CA - Quais são os principais desafios do governo com relação a esse novo fenômeno?
MP - Inegavelmente você entra no
tema de reformas, nós temos um padrão de arrecadação de recursos pelo
Estado brasileiro que reforça a desigualdade, porque se arrecada
fundamentalmente dos pobres e não dos que têm mais dinheiro. O Estado,
nesse sentido, mostra que é muito forte para arrecadar dinheiro do
pobre, mas é muito fraco para arrecadar dinheiro dos mais ricos. E esse
tipo de receita, que é uma receita regressiva, não ajuda a diminuir a
desigualdade, pelo contrário. Do ponto de vista do gasto do Estado nós
percebemos que também não há um padrão homogêneo de intervenção do
Estado. Por exemplo, na área de assistência social eu diria que é um
padrão de característica social-democrata porque os segmentos mais
pauperizados é que são beneficiados pelas políticas de assistência
social. O mesmo não pode-se dizer em relação ao tema cultural, por
exemplo. O Estado brasileiro, seja União, governos estaduais ou
municipais não coloca os principais aparelhos de cultura na periferia,
que é onde o povo pobre está. Os principais aparelhos culturais estão
nas áreas mais ricas. Se olhamos do ponto de vista dos bancos,
especialmente dos públicos, a presença dos bancos não estão nos pequenos
municípios de maneira mais organizada. Nas favelas a mesma realidade.
Então nós ainda temos um serviço bancário público em um formato para um
segmento de renda um pouco maior. Portanto a reorientação do papel do
Estado com esse olhar de enfrentamento da pobreza e da desigualdade é um
grande desafio.
sexta-feira, 29 de junho de 2012
Protesto reúne indignados com as políticas do governo Tarso
Professores,
funcionários de escola, estudantes e trabalhadores de outras categorias
realizaram na tarde desta sexta-feira (29), em Porto Alegre, uma
manifestação de protesto contra as políticas do governo Tarso para a
área da educação e de outras áreas de responsabilidade do poder público.
Da
sede do CPERS/Sindicato, na avenida Alberto Bins, os manifestantes se
deslocaram até o Palácio Piratini. Bandeiras, faixas, banners e outros
materiais com frases de protesto emprestaram cores à caminhada, que
passou pelas ruas Otávio Rocha, Dr. Flores, Salgado Filho e Jerônimo
Coelho.
Na
Praça da Matriz foi lembrado que o governo Tarso realizou um concurso
público feito para que a aprovação fosse a mínima possível. A
contradição explicitada nos critérios de avaliação evidencia a proposta
do governo. Tarso tinha como objetivo desmoralizar a categoria perante a
opinião pública e manter a política de contratos emergenciais.
Tarso
não quer nomear porque isso dá direito ao ingresso no plano de
carreira. O governador prefere manter os contratos emergenciais, pois
esse tipo de vínculo não oportuniza ao trabalhador as vantagens que o
plano garante.
Os
manifestantes lembraram que Tarso governa o estado que menos investe em
educação no país. O governador também se nega a cumprir a lei do piso
para professores e funcionários, mesmo que isso tenha sido promessa de
campanha, e ainda aumentou a contribuição de todos os servidores para a
previdência de 11% para 13,25%.
A manifestação foi encerrada com os presentes chutando baldes em frente ao Palácio Piratini. Chutar baldes foi o jeito encontrado para mostrar a indignação de todos que estão sendo prejudicados pelas políticas do governo, voltadas a atacar direitos e manter privilégios. João dos Santos e Silva, assessor de imprensa do CPERS/Sindicato Foto: Cristiano Estrela |
quinta-feira, 28 de junho de 2012
O crime perfeito contra Lugo
Clóvis Rossi
O sociólogo Felippe Ramos (Universidade Federal da Bahia) fez para o
site da revista América Economia o que os jornalistas deveríamos ter
feito antes: visitou a peça de acusação que serviu para o fuzilamento
sumário do presidente Fernando Lugo.
Fica evidente que Lugo estava condenado de antemão. No item “provas
que sustentam a acusação”, se diz que “todas as causas [para o
impeachment] são de notoriedade pública, motivo pelo qual não precisam
ser provadas, conforme nosso ordenamento jurídico vigente”.
Como é que Lugo –ou qualquer outra pessoa– poderia provar o contrário do que não precisa ser provado? Impossível, certo?
O processo pode até ter seguido as regras constitucionais e o
“ordenamento jurídico vigente”, mas, nos termos em que foi colocada a
acusação, só pode ser chamado de farsa.
Veja-se, por exemplo, a primeira das acusações: Lugo teria autorizado uma reunião política de jovens no Comando de Engenharia das Forças Armadas, financiado por instituições do Estado e pela binacional Yacyreta.
Veja-se, por exemplo, a primeira das acusações: Lugo teria autorizado uma reunião política de jovens no Comando de Engenharia das Forças Armadas, financiado por instituições do Estado e pela binacional Yacyreta.
Se esse é argumento para cassar algum mandatário, não haveria
presidente, governador ou prefeito das Américas que poderia escapar, de
direita, de centro, de esquerda, de cima ou de baixo. Ademais, não
consta que a Constituição paraguaia proíba o presidente ou qualquer
outra autoridade de autorizar concentrações de jovens. Aliás, é até
saudável que se estimule a participação política dos jovens.
Mais: o evento foi em 2009. Se houvesse irregularidade, caberia ao
Congresso ter tomado à época as providências, em vez de esperar três
anos para pendurá-lo em um processo “trucho”, como se diz na gíria
latino-americana.
A acusação mais fresca, digamos assim, diz respeito, como todo o
mundo sabe, à morte de 17 pessoas, entre policiais e camponeses, em um
incidente mal esclarecido no dia 15 passado. Diz a acusação: “Não cabe
dúvida de que a responsabilidade política e penal dos trágicos eventos
(…) recai no presidente da República, Fernando Lugo, que, por sua
inação e incompetência, deu lugar aos fatos ocorridos, de conhecimento
público, os quais não precisam ser provados, por serem fatos públicos e
notórios”.
De novo, a acusação dispensa a apresentação de provas e condena por
antecipação o réu, como faria qualquer república bananeira ou qualquer
ditadura.
Nem o mais aloprado petista pediu o impeachment do presidente
Fernando Henrique Cardoso por conta da morte de 19 sem-terra em
Eldorado dos Carajás (Pará), em abril de 1996, no incidente que mais
parentesco tem com o que ocorreu há duas semanas em Curuguaty, no
Paraguai.
É importante ressaltar que líderes dos “carperos”, os sem-terra
paraguaios, disseram que os primeiros disparos no conflito do dia 15 não
saíram nem deles nem dos policiais, mas de franco-atiradores. Enquanto
não se esclarecer o episódio, qualquer “ordenamento jurídico” sério
vetaria o uso do incidente em qualquer peça de acusação.
Deu-se, pois, o crime perfeito: cobriu-se um processo sujo com o imaculado manto da Constituição.
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CNTE: A vitória da mobilização!
Sitio da CNTE |
Ontem (26) parte do Congresso Nacional
brasileiro fez história! A Comissão Especial do Plano Nacional de
Educação concluiu a votação do PL 8.035/10 fixando o percentual de
investimento na educação pública em 10% do Produto Interno Bruto (PIB).
Até o quinto ano de vigência do PNE o investimento direto na educação
(pública) deverá ser de 7% do PIB e ao final do decênio, 10%. Foi uma
vitória gigantesca da sociedade, que pressionou os parlamentares da
Comissão para seguir a orientação da Conae 2010, devendo, agora, o
trabalho de convencimento ser transferido para o Senado Federal. Antes
disso, porém, é preciso afastar qualquer tentativa de procrastinação do
trâmite do PNE na Câmara dos Deputados, através de eventual apresentação
de recurso ao plenário da Casa.
Além do percentual de 10% do PIB, a
Comissão Especial também estabeleceu prazo de um ano, após a aprovação
do PNE, para o Congresso Nacional aprovar a Lei de Responsabilidade
Educacional - outra reivindicação da sociedade. No que diz respeito à
meta 17, o prazo para a equiparação da remuneração média do magistério
com a de outras categoriais profissionais de mesmo nível de escolaridade
foi reduzido para o sexto ano de vigência do plano decenal, impondo a
necessidade de se preservar a política de valorização real do piso
nacional da categoria.
Sobre a viabilidade dos 10% do PIB, é
preciso esclarecer que a Comissão Especial amparou-se não apenas na
vontade popular histórica, mas, sobretudo, nos estudos sobre a
necessidade desse percentual específico - apresentados por acadêmicos
renomados - e sobre a viabilidade do financiamento, demonstrado pelo
próprio Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), vinculado ao
Governo Federal.
Contudo, ainda falta ao Congresso
aprovar o regime de cooperação entre os entes federados, previsto no
parágrafo único do art. 23 da Constituição Federal, o qual deverá fixar
as parcelas contributivas da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios para o financiamento da educação. Esse ponto equivale a
uma minirreforma tributária e não há dúvida que será de grande embate no
Congresso. Ele é fundamental para equilibrar o financiamento da
educação, à luz da aplicação do Custo Aluno Qualidade, e para viabilizar
as metas do PNE - atualmente, quem mais arrecada impostos, a União, é
quem menos contribui para o investimento educacional.
Por outro lado, a cooperação
institucional vinculará os compromissos fiscais das três esferas
administrativas, que se autofiscalizarão sobre a potencialidade e a
execução de suas receitas de impostos, visando à harmonia do pacto
federativo e à qualidade da educação com equidade nacional em todos os
níveis, etapas e modalidades.
Neste momento, a CNTE regozija-se com
seus parceiros de luta na defesa da educação pública, laica, democrática
e de qualidade socialmente referenciada para todos e todas, e espera
reencontrá-los nas próximas jornadas pela aprovação do PNE - ou seja: na
sequência do processo legislativo e na sanção - sem vetos - pela
presidenta Dilma Rousseff. Em seguida, os nossos esforços
concentrar-se-ão na efetiva aplicação de políticas públicas que conduzam
ao cumprimento das metas do PNE e ao controle social das verbas
públicas, a fim de que a educação se torne, efetivamente, prioridade
para a superação dos gargalos que emperram a promoção do desenvolvimento
social e sustentável de nosso país.
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quarta-feira, 27 de junho de 2012
Na China, a vida segundo a Apple
A
gigante taiwanesa Foxconn, primeira fornecedora mundial de eletrônicos e
principal empregador privado da China, está cada vez mais espremida em
seu bunker gigante em Shenzhen Longhua. A companhia se desloca para
Dongguan, depois a Sichuan, local emblemático da sua renovação
industrial
|
por Jordan Pouille no LeMondeBrasil |
(Trabalhadores da Foxconn participam de celebração de "valorização da vida", em Longhua, na província de Guangdong)
"É a primeira vez que eu falo com um estrangeiro. Você conhece o Michael Jackson? Tenho todas as músicas dele no meu telefone!”
É meia-noite e meia e estamos diante da entrada de Hongfujin, um braço
da Foxconn dedicado ao iPod. Na umidade noturna de Longhua, na periferia
de Shenzhen Longhua, um grupo de cozinheiros ambulantes, com o
fogareiro a gás soldado na garupa do triciclo, veio concorrer com a
cantina da fábrica. Eles atiçam esses milhares de jovens em jaquetas
rosa ou pretas que deixam o local de trabalho com a barriga vazia.
Alguns estão curiosos e nos abordam de maneira cândida e brincalhona.
Para os clientes sentados em volta do carrinho de Bo Zhang, a porção de
yakisoba sai por 3 yuans.1 Sozinho, Bo prepara ao menos mil
por dia. “Os chefes da Foxconn preferem manter seus empregados perto das
fábricas durante a pausa para a refeição. Então, assim que a gente
chega, esses safados abaixam o preço dos pratos da cantina para 1,50
yuan, em vez dos 4 yuans que custam normalmente!”
Bo Zhang é um ex-operário da Foxconn. Ele trabalhava na oficina de
laminagem das tampas metálicas dos MacBooks, em uma sala malventilada e
barulhenta, de calor sufocante; a poeira de alumínio recobria sua pele e
seus cabelos. Na época, os operários não apenas não tinham nenhum
contato com a hierarquia taiwanesa, mas até mesmo os executivos chineses
evitavam qualquer relação com seus pares taiwaneses, que eram os que
decidiam. Todos os seus pedidos para mudar de área eram recusados. Ele
deixou a fábrica depois de um ano, em maio de 2010. Para voltar melhor.
“Agora, são os operários que me fazem viver”, diverte-se. Em volta do
seu restaurante improvisado não tem guarda: apenas uma multidão de
jovens cansados, que preferem a simpatia de Bo à disciplina estrita que
reina na Foxconn, do outro lado dos portões de segurança. Segundo eles,
as humilhações e as punições dos chefes das oficinas pararam depois do
escândalo dos suicídios em série, durante o primeiro semestre de 2010.2
“Os gerentes são bem mais discretos. Na verdade, não os ouvimos mais.
Se temos a cabeça no lugar, dá para levar. Eu trabalho de pé, mas tenho
uma pausa de dez minutos a cada duas horas”, conta-nos Yang,3
21 anos e muito magro. Seu colega, Cao Di, se lembra das vexações
passadas: “Quando a meta de produção não era atingida, precisávamos
refletir sobre nossos erros ficando de pé, de frente para a parede,
durante seis horas”.
Apesar de tudo, a regra continua severa: “Evidentemente, deixamos
nossos telefones celulares na entrada e não podemos nem ir ao banheiro,
nem falar, nem beber um gole de água durante o trabalho”. É preciso
esperar as pausas. Juntos, os dois jovens embalam 8 mil iPads por dia,
das 8h às 19h. “Desde os da primeira geração, em 2010”, precisa um, com
orgulho.
Foi aqui, em 1988, em Longhua, na periferia de Shenzhen, que o fundador
taiwanês da Foxconn, Terry Tai Ming Gou, construiu sua primeira fábrica
chinesa. Fechados em um galpão de 3 quilômetros quadrados cercado pelos
dormitórios, 350 mil operários fabricam ali, dia e noite, as
impressoras e os cartuchos de tinta Hewlett-Packard (HP), os
computadores Dell ou Acer, os e-Readers Kindle da Amazon, os
Playstations da Sony e todos os produtos da Apple.
Diante da insaciável demanda mundial suscitada pelos produtos da Apple,
a Foxconn construiu duas fábricas suplementares, ainda maiores: uma em
Sichuan para os iPads e a outra em Henan para os iPhones. A produção
começou em 30 de setembro de 2010 na primeira e em agosto de 2011 na
segunda. Cada uma emprega cerca de 200 mil operários.
Em Shenzhen, desde a manhã, homens de terno escuro, imperturbáveis,
jogam baralho em uma sala enfumaçada. Eles administram uma dezena de
dormitórios com fachadas azulejadas, como existem em todo canto em
Shenzhen. Esses gerentes recebem os aluguéis de 12 mil operários
apertados nos 1,5 mil quartos (moças e rapazes separados), em nome de um
rico proprietário.
Por falta de espaço suficiente, a Foxconn abriga apenas 25% da sua mão de obra, num “campuscom
piscina olímpica, salões de ginástica e hospitais”, clamam os
comunicados de imprensa. A imensa maioria do pessoal ocupa então os
dormitórios privados construídos de qualquer jeito, colados uns aos
outros, em terrenos sem nome de rua. Os operários se encontram assim à
mercê dos comerciantes de todo tipo e dos hoteleiros gananciosos sobre
os quais a firma taiwanesa não tem nenhum controle.
De sua pick-up sofisticada, os policiais de Longhua acionam uma câmera
rotativa. Seu medo são as tentativas de manifestação recorrentes na
província; por outro lado, eles parecem muito mais tolerantes com
relação aos incontáveis bordéis camuflados em karaokês ou em salões de
massagem. Enfrentando as denúncias, a Foxconn declara: “Nunca
tentaríamos recorrer ao trabalho de menores. Se casos foram descobertos,
foi porque os trabalhadores utilizaram documentos falsos e pareciam
mais velhos do que sua idade”, já declarou a empresa. Investigações
feitas pela Apple em 2011 mostraram a presença de crianças em cinco dos
seus fornecedores.4
Em Longhua, a ingenuidade da mão de obra só se equipara a seu apetite
consumista. Após a saída das fábricas, os operários nadam em um universo
de tentações abordáveis. Os dormitórios mais próximos das saídas da
fábrica (Norte, Sul, Leste, Oeste) estão repletos de publicidades
luminosas e sonoras de telefones celulares ou bebidas energéticas. Na
rua, os jovens são pescados pelo megafone: pelúcias gigantes, bijuterias
vagabundas... ou até jaquetas Foxconn falsificadas, a 35 yuans cada,
“para o caso de eles terem perdido aquela dada pela direção no dia da
contratação e que eles devem usar obrigatoriamente seis dias por
semana”, diz a vendedora.
Longe do barulho, embaixo de uma loja de cobertores, ressoam os cantos
de uma igreja evangélica que conseguiu escapar do departamento de
assuntos religiosos de Shenzhen. “Deus os chama”, podemos até ler em
letras verdes e vermelhas na janela do primeiro andar. Desde sua
abertura, há cinco anos, operários da Foxconn vêm rezar, chorar e cantar
ali, de dia e de noite. Suas doações já permitiram comprar um pequeno
piano e financiar os deslocamentos de um pastor que mora em Dongguan.
Por enquanto, nada que perturbe as autoridades.
E também, em abril de 2011, um milagre: o metrô finalmente chegou a
Longhua. A cada oito minutos, um trem com ar condicionado para no
terminal de Qinghu, na Avenida Heping, e leva a juventude operária até
Lohuo, o bairro animado de Shenzhen, de frente para Hong Kong. “Cada vez
mais tráfego, tentações e insegurança”, resume Sunny Yang, engenheiro,
voltando de uma noitada de badminton entre amigos. Ele vive em Longhua
com a esposa e a filha de 2 anos e suporta cada vez menos a vida na
cidade-fábrica.
Uma nova população, mais velha, chega à cidade. Esses sexagenários não
se mudaram para o meio das fábricas por prazer, mas porque seus filhos
trabalhadores, empregados da Foxconn, chamaram por eles para cuidar de
sua prole. É o caso de Lei, 23 anos, originária de Hunan e mãe de um
menininho de 2 anos e meio: “Meus pais também foram operários migrantes
na região, e seu hukou rural [passaporte interno] não permitia a
inscrição na escola [os migrantes não têm os mesmos direitos que os
urbanos, principalmente com relação ao acesso aos serviços públicos].
Então eles deixaram o vilarejo. Durante toda a minha infância eu só os
via uma vez por ano, durante o Ano-Novo chinês. Eu não quero que meu
filho conheça a mesma solidão. Quero que ele tenha uma escolaridade
aqui, mesmo se eu tiver de pagar o preço”, reivindica essa jovem, que
nos fez visitar sua modesta morada.
Por enquanto, a família vive a três em um quarto de 9 metros quadrados,
por 350 yuans ao mês. Grande o suficiente para caber o colchão, a
televisão e o carrinho do bebê. O marido de Lei monta telefones fixos
Cisco, doze horas por dia, seis dias por semana. Ele ganha bem a vida:
até 4 mil yuans por mês. Lei parou de trabalhar quando o filho nasceu.
Ela está grávida de cinco meses. Quando o segundo filho nascer, ela vai
trazer seus pais aposentados e voltará ao trabalho, para dobrar o
salário da família.
Em Longhua, muitas mães e futuras mães irritam seus superiores
hierárquicos na fábrica. “Quando descobri que estava grávida, meu chefe
de seção me fez esperar dez dias antes de me isentar da passagem pelo
detector de metais. E quando pedi para mudar de seção, ele recusou. Tive
de convencer seu superior”, revela essa jovem. Grávida de oito meses,
Jun Hao trabalha agora na etiquetagem de caixas de computador. “Eu colo
adesivos por 3 mil yuans ao mês. É justo, não?” Depois do parto, ela
deve receber uma licença-maternidade de três meses: “Minha mãe não
acredita nem um pouco nisso, mas consta claramente no contrato”.
No centro ginecológico Huaai de Longhua, as operárias vão com o
companheiro recolher todo tipo de informações ligadas à maternidade ou à
contracepção. Apesar da decoração rosa-bebê, esse estabelecimento de
saúde se beneficia de uma parceria com o Exército Popular de Libertação
(EPL). A maioria dos seus médicos são oficiais militares. Ficamos sem
palavras diante dos cartazes ilustrados de educação sexual fixados ao
longo das calçadas, que um guarda nos proíbe terminantemente de
fotografar. “A homossexualidade é um fenômeno cultural como o
sadomasoquismo. Ele ainda não atingiu sua maturidade na China”, podemos
ler – modo de dizer que a sociedade chinesa não estaria completamente
pronta para aceitar a homossexualidade.
Para conservar sua mão de obra, a Foxconn deve agora disputar com os
patrões de pequenas fábricas que não hesitam mais em colar suas ofertas
de emprego até nas portas dos dormitórios nem a se alinhar com os
salários em vigor em Longhua. Eles aproveitam o ambiente high-tech da
zona industrial para vir fabricar seus próprios telefones, destinados
aos mercados modestos das pequenas cidades ou zonas rurais chinesas. “O
que perdemos em custo de mão de obra recuperamos na nossa margem, pois
vendemos diretamente nosso produto aos consumidores”, explica um homem
de negócios. De fato, os telefones KPT, inspirados nos Blackberry, ou os
Ying Haifu, parecidos com os Nokia, são também fabricados em Longhua.
Com essa concorrência e o ânimo de consumo dos jovens, a firma
taiwanesa escolheu continuar seu desenvolvimento em outro lugar, mais
para o interior do país, em províncias distantes dos portos comerciais,
onde é possível repensar um complexo industrial de A a Z e onde os
responsáveis locais lhe estendem o tapete vermelho. Como em Pixian, na
periferia de Chengdu, província de Sichuan, onde a Danone engarrafa sua
água Robust e a Intel fabrica seus processadores.
No dia 16 de outubro de 2009, ou seja, até mesmo antes da onda de
suicídios do primeiro semestre de 2010, uma promessa de investimento
conjunto foi assinada com as autoridades de Sichuan. O canteiro de obras
teve início em 25 de julho de 2010; a produção começou em 30 de
setembro. Mas uma explosão mortal aconteceu sete meses depois, causada
por um defeito estrutural de ventilação, como estabeleceu uma
investigação do New York Times detalhando as condições de trabalho dos operários de Chengdu.5
Hoje, a Foxconn fabrica ali 12 milhões de iPads por trimestre, ou seja,
dois terços de sua produção total, divididos em oito fábricas e
cinquenta linhas de produção superpostas em um perímetro de 4
quilômetros quadrados.
Aqui, nada de bordéis barulhentos e karaokês brilhantes nem anúncios
luminosos, fábricas de telefones falsificados e igrejas evangélicas: os
operários evoluem obedientemente em uma cidade-fábrica nova em folha,
higienizada, com arquitetura neostalinista. Rodovias com três pistas de
cada lado ligam as fábricas maciças A, B e C às portas dos dormitórios
1, 2 ou 3. São os ônibus articulados da cidade de Chengdu que garantem o
translado, tanto de dia como à noite – devagar, para escapar dos
radares eletrônicos. Além das betoneiras, os caminhões de mercadorias e
os carros de polícia são os únicos veículos que vemos circular em
Pixian.
Esse novo conjunto industrial, edificado em um tempo recorde – 75 dias –
por Jiangong, uma empresa controlada pela cidade de Chengdu, se situa
em uma nova zona franca; por isso, ele está isento de imposto.
A instalação da Foxconn é descrita na imprensa local como “o projeto
número 1 do governo de Sichuan”. Para agradar a Terry Gou, as
autoridades construíram seis novas estradas, duas pontes e 1,12 milhão
de metros quadrados de superfície habitável para os operários. Eles
gastaram 2,2 bilhões de yuans em indenizações de expropriações para 10
mil famílias, cujos catorze povoados foram dizimados a partir de agosto
de 2010.6
As novas fábricas da Foxconn não são nada além de austeras construções
brancas cheias de milhares de pequenas janelas pintadas. Elas se
espalham ao longo de duas avenidas retilíneas com nomes evocativos: Tian
Sheng Lu (“Céu Vitória”) e Tian Run Lu (“Céu Lucro”). Nenhuma rede
antissuicídio foi colocada em volta das fábricas, como é o caso em
Longhua. A mão de obra, mais jovem, é com certeza a mais mal paga – o
salário de base é de 1.550 yuans, contra 1.800 em Shenzhen –, mas ela é
da região e pode visitar a família mais facilmente. “Culturalmente,
Chengdu não tem nada a ver com Shenzhen, que é uma cidade composta
exclusivamente de migrantes. Nossa usina de Longhua conta, por exemplo,
com 20% de jovens de Henan e 10% de Sichuan”.
Segundo os testemunhos recolhidos por lá, as próprias autoridades
locais se encarregaram do recrutamento – prova de que Chengdu leva esse
projeto muito a sério. Cada vilarejo da província de Sichuan viu, assim,
impostas cotas de trabalhadores a fornecer à Foxconn. “Eu aceitei a
oferta do chefe de partido do vilarejo em troca de uma ajuda
administrativa: ele acelerou meus trâmites de casamento com minha
companheira, originária de uma província vizinha. Mas não se trata de
trabalho forçado. Eu posso me demitir quando quiser, e nosso vilarejo
pode continuar recebendo suas subvenções do governo da província”, diz
Yang, que trabalha nos estoques. Até mesmo os estudantes de informática
foram mobilizados para fazer ali seus estágios. “Esses métodos são
provisórios e correspondem a uma fase inicial de desenvolvimento. Os
operários não nos conhecem, eles não vêm por conta própria fazer fila no
centro de recrutamento. É preciso, então, ir buscá-los”, comentam na
Foxconn.
Vinte e quatro mil operários (7% da mão de obra) são demitidos e contratados todos os meses em Shenzhen Longhua, segundo o Daily Telegraph.7
Talvez sejam muitos mais em Chengdu: “Quando uns amigos quiseram
partir, um diretor de recursos humanos pediu a eles que esperassem. Ele
já tinha 40 mil cartas de demissão para cuidar”, conta-nos um
assalariado.
Batizado de “Juventude Alegre”, mas repleto de guardas, os dormitórios
de Pixian têm até dezoito andares, moças e rapazes separados. Eles são
divididos entre os bairros de Deyuan, Shunjiang e Qingjiang. Cada
conjunto de três edifícios tem cantina, supermercado sem álcool,
cibercafé, caixas eletrônicos, mesas de pingue-pongue e terrenos de
badminton. Cada apartamento abriga seis a oito pessoas – por um aluguel
mensal de 110 yuans por leito – e dispõe de um banheiro com vaso
sanitário e ducha. Para economizar tempo e energia dos trabalhadores,
sua roupa é lavada por uma empresa de limpeza.
O cibercafé, aprovado pela juventude operária de Pixian, oferece
decoração cuidadosa, ar-condicionado e grandes poltronas. Os
computadores trazem o logotipo da Foxconn estampado no fundo de tela. O
preço da conexão dobra quando passa de uma hora, incitando os operários a
não gastar muito tempo.
“Quando saímos do quarto ou da fábrica, a vida é muito cara”, lamenta
Cheng, cujo dia é regulado como uma partitura. “Eu me levanto às 6h,
pego o ônibus às 6h40 e começo o dia na fábrica às 7h30. Como trabalho
até as 20h30, chego em casa às 21h10. Isso me deixa uma hora para
aproveitar antes que apaguem as luzes.”
É essa mesma paisagem que acabam de construir na periferia de
Chongqing, a 300 quilômetros de Chengdu. A Foxconn mudou para o local
uma parte da sua fábrica das impressoras HP, antes produzidas em
Shenzhen. A produção está apenas começando, ônibus universitários de
Chongqing levam montes de estudantes requisitados para um estágio
obrigatório na fábrica. Eles vão se unir aos 10 mil operários da fábrica
HP de Shenzhen que já aceitaram voltar para sua província natal. Para
Pan Fang, de 22 anos, e seus amigos, seu novo quarto conta com oito
camas numeradas e oito banquinhos. Sua primeira impressão é positiva:
“Aqui o ar é menos poluído, e a Foxconn instalou para nós água quente,
ar-condicionado e até mesmo uma televisão”. Eles já sabem que seu
trabalho será idêntico: eles vão montar, cada um, seiscentas impressoras
por dia. E esperam que seu salário seja o mesmo também...
BOX:
O império Foxconn
Wuhan, Chengdu, Zhengzhou,Chongqing, Xangai, Ningbo ou ainda Tianjin:
no total, a Foxconn possui umas vinte fábricas chinesas de todos os
tamanhos. De consoles de videogame a Smartphones 4G − 40% dos produtos
eletrônicos de grande público mundial são fabricados na China pela
empresa taiwanesa, que emprega mais de 1 milhão de operários, em sua
maioria com menos de 25 anos e pagos com até R$ 1.117 por mês.Mas a
Foxconn também se apresenta fora da China: ela tem uma fábrica de
montagem de televisores Sony na Eslováquia. E começa agora uma produção
na Índia, na Malásia e no Brasil. Com 61 anos, Terry Tai Ming Gou, seu
fundador, detém 30% das ações e figura em 179º lugar na classificação
das grandes fortunas mundiais da revista Forbes.
Jordan Pouille
Jornalista - correspondente em Pequim, China
Ilustração: Bobby Yip / Reuters 1 1 yuan = R$ 0,32. 2 Entre janeiro e maio de 2010, treze jovens operários tentaram pôr um fim a seus dias; dez conseguiram. Ler Isabelle Thireau, “Cahiers de doléances du peuple chinois” [Cadernos de pêsames do povo chinês], Le Monde Diplomatique, set. 2010. 3 Algumas pessoas encontradas não revelaram o nome, frequentemente por medo de represálias. 4 “Apple Supplier Responsibility Report – 2012 Progress Report”, Apple.com. 5 The New York Times, 26 jan. 2012. Essa investigação levou a Apple a aderir à ONG Fair Labor. 6 Nanfang Zhoumo, Canton, 10 dez. 2010. 7 “Mass suicide protest at Apple manufacturer Foxconn company” [Protesto com suicídio em massa na fabricante da Apple Foxconn], The Daily Telegraph, Londres, 11 jan. 2012. |
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Dilma sanciona lei que cria 43,8 mil vagas de professores
MEC irá definir a distribuição dos cargos em um prazo de 90 dias
Do sitio 14NUCLEOCPERS
O Diário Oficial da União (DOU) trouxe,
publicada em sua edição de ontem, a sanção, por parte da presidente
Dilma Rousseff, da Lei nº 12.677/2012, que cria 43,8 mil vagas para
professores, sendo 19.569 vagas para a rede federal de Ensino Superior. A
legislação é originária de projeto aprovado pelo Senado Federal no dia
30 de maio, e, além das vagas para docentes no Ensino Superior,
estabelece a criação de 24.306 de professor de Ensino Básico, Técnico e
Tecnológico. Outras 27.714 vagas destinam-se a
técnicos-administrativos.
No total, a lei cria 77.178 cargos efetivos, de direção e funções gratificadas. A União afirma que os novos cargos terão um impacto de R$ 70,5 milhões por ano para as universidades federais e R$ 102,3 milhões para os institutos.
O texto também reestrutura cargos técnicos e redefine suas especificações. Dessa forma, 2.571 cargos e 2.063 funções gratificadas foram extintos. Antigos cargos de confiança passam a ser de direção e funções gratificadas. A ocupação por pessoas não pertencentes aos quadros de cada instituição federal estará limitada a 10% do total. Caberá ao Ministério da Educação (MEC), em um prazo de 90 dias, definir a discriminação, por instituição federal de ensino, dos cargos e funções extintas.
A autorização para o provimento dos cargos efetivos criados será escalonada pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, de acordo com o cumprimento das metas pactuadas entre o MEC e a instituição de ensino, especialmente quanto à relação de alunos por professor em cursos regulares presenciais de Educação Profissional e Tecnológica ou de graduação.
Segundo o ministério, as vagas anuais de ingresso em cursos de graduação passaram de 110 mil, aproximadamente, em 2003, para mais de 230 mil, em 2011. O número total de matrículas em instituições federais também aumentou, passando de 638 mil para mais de um milhão.
No total, a lei cria 77.178 cargos efetivos, de direção e funções gratificadas. A União afirma que os novos cargos terão um impacto de R$ 70,5 milhões por ano para as universidades federais e R$ 102,3 milhões para os institutos.
O texto também reestrutura cargos técnicos e redefine suas especificações. Dessa forma, 2.571 cargos e 2.063 funções gratificadas foram extintos. Antigos cargos de confiança passam a ser de direção e funções gratificadas. A ocupação por pessoas não pertencentes aos quadros de cada instituição federal estará limitada a 10% do total. Caberá ao Ministério da Educação (MEC), em um prazo de 90 dias, definir a discriminação, por instituição federal de ensino, dos cargos e funções extintas.
A autorização para o provimento dos cargos efetivos criados será escalonada pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, de acordo com o cumprimento das metas pactuadas entre o MEC e a instituição de ensino, especialmente quanto à relação de alunos por professor em cursos regulares presenciais de Educação Profissional e Tecnológica ou de graduação.
Segundo o ministério, as vagas anuais de ingresso em cursos de graduação passaram de 110 mil, aproximadamente, em 2003, para mais de 230 mil, em 2011. O número total de matrículas em instituições federais também aumentou, passando de 638 mil para mais de um milhão.
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A história é o inimigo quando as psy-ops se tornam notícia
por John Pilger
Ao chegar a uma aldeia no Vietname do Sul, deparei-me com duas crianças
que testemunhavam a mais longa guerra do século XX. Suas
terríveis deformidades eram familiares. Ao longo do rio Mekong, onde as
florestas foram petrificadas e silenciadas, pequenas mutações
humanas viviam o melhor que podiam.
Hoje, no hospital pediátrico Tu Du em Saigon, um antigo anfiteatro é conhecido como a "sala da colecção" e, não oficialmente, como a "sala dos horrores". Ali há prateleiras com grandes garrafas que contêm fetos grotescos. Durante a sua invasão do Vietname, os Estados Unidos pulverizaram um herbicida desfolhante sobre a vegetação e aldeias a fim de negar "cobertura ao inimigo". Era o Agente Laranja , o qual continha dioxina, venenos com tal poder que provocavam a morte fetal, abortos, danos cromossomáticos e cancro.
Em 1970, um relatório do Senado dos EUA revelou que "os EUA despejaram [sobre o Vietname do Sul] uma quantidade de produtos químicos tóxicos que se eleva a seis libras [2,72 kg] per capita da população, incluindo mulheres e crianças". O nome de código para esta destruição maciça, Operação Hades, foi alterado para o mais amistoso Operação Ranch Hand. Hoje, cerca de 4,8 milhões de vítimas do Agente Laranja são crianças.
Len Aldis, secretário da Sociedade de Amizade Britânico-Vietnamita, retornou recentemente do Vietname com uma carta ao Comité Olímpico Internacional escrita pela União das Mulheres do Vietname. A presidente da união, Nguyen Thi Thanh Hoa, descreveu "as graves deformações congénitas [provocadas pelo Agente Laranja] de geração para geração". Ela pedia ao COI que reconsiderasse a sua decisão de aceitar patrocínio das Olimpíadas de Londres pela Dow Chemical Corporation, que foi uma das companhias a fabricar o veneno e que se recusou a indemnizar as suas vítimas.
Aldis entregou a carta em mãos no gabinete de Lord Coe, presidente do Comité Organizador de Londres. Não houve resposta. Quando a Amnistia Internacional denunciou que em 2001 a Dow Chemical adquiriu "a companhia responsável pela fuga de gás de Bhopal [na Índia em 1984] que matou 7 mil a 10 mil pessoas de imediato e 15 mil nos 20 anos seguintes", David Cameron descreveu a Dow como uma "companhia respeitável". Aclamações, portanto, para as câmaras de TV ao longo dos painéis decorativos de £7 milhões [€8,75 milhões] que orlam o estádio olímpico: são o resultado de um "acordo" de 10 anos entre o COI e um destruidor tão respeitável.
A história é enterrada juntamente com os mortos e deformados do Vietname e de Bhopal. E a história é o novo inimigo. Em 28 de Maio, o presidente Obama lançou uma campanha para falsificar a história da guerra no Vietname. Para Obama, não houve Agente Laranja, nem zonas de fogo livre, nem disparos sobre indefesos (turkey shoots), nem encobrimentos de massacres, nem racismo desenfreado, nem suicídios (pois muitos americanos acabaram com as suas próprias vidas), nem derrota frente à força de resistência de uma sociedade empobrecida. Ela foi, disse o sr. Hopey Changey, "uma das mais extraordinárias histórias de bravura e integridade nos anais da história militar [dos EUA]".
No dia seguinte, o New York Times publicou um longo artigo a documentar como Obama selecciona pessoalmente as vítimas dos seus ataques drone por todo o mundo. Ele faz isto nas "terças-feiras de terror" quando folheia álbuns com fotos de rostos numa "lista da morte", alguns deles adolescentes, incluindo "uma garota que parecia ainda mais jovem do que os seus 17 anos". Muitos são desconhecidos ou simplesmente em idade militar. Guiados por "pilotos" sentados frente a écrans de computador em Las Vegas, os drones disparam mísseis Hellfire que sugam o ar para fora dos pulmões e explodem pessoas em bocados. Em Setembro último, Obama matou um cidadão americano, Anwar al-Awlaki, puramente na base de rumor de que ele estava a incentivar terrorismo. "Este aqui é fácil", ele é citado por ajudantes como dizendo isso ao assinar a sentença de morte do homem. Em 6 de Junho, um drone matou 18 pessoas numa aldeia no Afeganistão, incluindo mulheres, crianças e um idoso que estavam a celebrar um casamento.
O artigo do New York Times não foi uma fuga ou uma revelação. Foi uma matéria de relações públicas concebida pela administração Obama para mostrar num ano de eleição quão duro o "comandante em chefe" pode ser . Se reeleito, a Marca Obama continuará a servir a riqueza, a perseguir os que dizem a verdade, a ameaçar países, a propagar vírus de computador e a assassinar pessoas toda terça-feira.
As ameaças contra a Síria, coordenadas em Washington e Londres, escalam novos picos de hipocrisia. Ao contrário da propaganda primária apresentada como notícia, o jornalismo investigativo do jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung identifica os responsáveis pelo massacre em Houla como sendo os "rebeldes" apoiados por Obama e Cameron. As fontes do jornal incluem os próprios rebeldes. Isto não foi completamente ignorado na Grã-Bretanha. Escrevendo no seu blog pessoal, de modo extremamente calmo, Jon Williams, o editor de notícias mundiais da BBC, efectivamente serve a sua própria "cobertura", citando responsáveis ocidentais que descrevem a operação "psy-ops" [operação psicológica] contra a Síria como "brilhante". Tão brilhante quanto a destruição da Líbia, do Iraque e do Afeganistão.
E tão brilhante quanto a psy-ops mais recente do Guardian com a promoção de Alastair Campbell, o colaborador chefe de Tony Blair na criminosa invasão do Iraque. Nos seus "diários", Campbell tenta salpicar sangue iraquiano sobre o demónio Murdoch. Há em abundância para encharcar todos eles. Mas o reconhecimento de que os medida respeitáveis, liberais, bajuladores de Blair, foram um acessório vital para um crime tão gigantesco é omitido e permanece como um teste singular de honestidade intelectual e moral na Grã-Bretanha.
Até quando devemos sujeitar-nos a um tal "governo invisível"? Esta expressão para a propaganda insidiosa cunhada por Edward Bernays – o sobrinho de Sigmund Freud que inventou as modernas relações públicas – nunca foi tão adequada. A "realidade falsa" exige amnésia histórica, a mentira por omissão e a transferência de significância para o insignificante. Deste modo, sistemas políticos que prometiam segurança e justiça social foram substituídos pela pirataria, "austeridade" e "guerra perpétua": um extremismo destinado ao derrube da democracia. Aplicado a um indivíduo, isto identificaria um psicopata. Por que aceitamos isto?
Hoje, no hospital pediátrico Tu Du em Saigon, um antigo anfiteatro é conhecido como a "sala da colecção" e, não oficialmente, como a "sala dos horrores". Ali há prateleiras com grandes garrafas que contêm fetos grotescos. Durante a sua invasão do Vietname, os Estados Unidos pulverizaram um herbicida desfolhante sobre a vegetação e aldeias a fim de negar "cobertura ao inimigo". Era o Agente Laranja , o qual continha dioxina, venenos com tal poder que provocavam a morte fetal, abortos, danos cromossomáticos e cancro.
Em 1970, um relatório do Senado dos EUA revelou que "os EUA despejaram [sobre o Vietname do Sul] uma quantidade de produtos químicos tóxicos que se eleva a seis libras [2,72 kg] per capita da população, incluindo mulheres e crianças". O nome de código para esta destruição maciça, Operação Hades, foi alterado para o mais amistoso Operação Ranch Hand. Hoje, cerca de 4,8 milhões de vítimas do Agente Laranja são crianças.
Len Aldis, secretário da Sociedade de Amizade Britânico-Vietnamita, retornou recentemente do Vietname com uma carta ao Comité Olímpico Internacional escrita pela União das Mulheres do Vietname. A presidente da união, Nguyen Thi Thanh Hoa, descreveu "as graves deformações congénitas [provocadas pelo Agente Laranja] de geração para geração". Ela pedia ao COI que reconsiderasse a sua decisão de aceitar patrocínio das Olimpíadas de Londres pela Dow Chemical Corporation, que foi uma das companhias a fabricar o veneno e que se recusou a indemnizar as suas vítimas.
Aldis entregou a carta em mãos no gabinete de Lord Coe, presidente do Comité Organizador de Londres. Não houve resposta. Quando a Amnistia Internacional denunciou que em 2001 a Dow Chemical adquiriu "a companhia responsável pela fuga de gás de Bhopal [na Índia em 1984] que matou 7 mil a 10 mil pessoas de imediato e 15 mil nos 20 anos seguintes", David Cameron descreveu a Dow como uma "companhia respeitável". Aclamações, portanto, para as câmaras de TV ao longo dos painéis decorativos de £7 milhões [€8,75 milhões] que orlam o estádio olímpico: são o resultado de um "acordo" de 10 anos entre o COI e um destruidor tão respeitável.
A história é enterrada juntamente com os mortos e deformados do Vietname e de Bhopal. E a história é o novo inimigo. Em 28 de Maio, o presidente Obama lançou uma campanha para falsificar a história da guerra no Vietname. Para Obama, não houve Agente Laranja, nem zonas de fogo livre, nem disparos sobre indefesos (turkey shoots), nem encobrimentos de massacres, nem racismo desenfreado, nem suicídios (pois muitos americanos acabaram com as suas próprias vidas), nem derrota frente à força de resistência de uma sociedade empobrecida. Ela foi, disse o sr. Hopey Changey, "uma das mais extraordinárias histórias de bravura e integridade nos anais da história militar [dos EUA]".
No dia seguinte, o New York Times publicou um longo artigo a documentar como Obama selecciona pessoalmente as vítimas dos seus ataques drone por todo o mundo. Ele faz isto nas "terças-feiras de terror" quando folheia álbuns com fotos de rostos numa "lista da morte", alguns deles adolescentes, incluindo "uma garota que parecia ainda mais jovem do que os seus 17 anos". Muitos são desconhecidos ou simplesmente em idade militar. Guiados por "pilotos" sentados frente a écrans de computador em Las Vegas, os drones disparam mísseis Hellfire que sugam o ar para fora dos pulmões e explodem pessoas em bocados. Em Setembro último, Obama matou um cidadão americano, Anwar al-Awlaki, puramente na base de rumor de que ele estava a incentivar terrorismo. "Este aqui é fácil", ele é citado por ajudantes como dizendo isso ao assinar a sentença de morte do homem. Em 6 de Junho, um drone matou 18 pessoas numa aldeia no Afeganistão, incluindo mulheres, crianças e um idoso que estavam a celebrar um casamento.
O artigo do New York Times não foi uma fuga ou uma revelação. Foi uma matéria de relações públicas concebida pela administração Obama para mostrar num ano de eleição quão duro o "comandante em chefe" pode ser . Se reeleito, a Marca Obama continuará a servir a riqueza, a perseguir os que dizem a verdade, a ameaçar países, a propagar vírus de computador e a assassinar pessoas toda terça-feira.
As ameaças contra a Síria, coordenadas em Washington e Londres, escalam novos picos de hipocrisia. Ao contrário da propaganda primária apresentada como notícia, o jornalismo investigativo do jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung identifica os responsáveis pelo massacre em Houla como sendo os "rebeldes" apoiados por Obama e Cameron. As fontes do jornal incluem os próprios rebeldes. Isto não foi completamente ignorado na Grã-Bretanha. Escrevendo no seu blog pessoal, de modo extremamente calmo, Jon Williams, o editor de notícias mundiais da BBC, efectivamente serve a sua própria "cobertura", citando responsáveis ocidentais que descrevem a operação "psy-ops" [operação psicológica] contra a Síria como "brilhante". Tão brilhante quanto a destruição da Líbia, do Iraque e do Afeganistão.
E tão brilhante quanto a psy-ops mais recente do Guardian com a promoção de Alastair Campbell, o colaborador chefe de Tony Blair na criminosa invasão do Iraque. Nos seus "diários", Campbell tenta salpicar sangue iraquiano sobre o demónio Murdoch. Há em abundância para encharcar todos eles. Mas o reconhecimento de que os medida respeitáveis, liberais, bajuladores de Blair, foram um acessório vital para um crime tão gigantesco é omitido e permanece como um teste singular de honestidade intelectual e moral na Grã-Bretanha.
Até quando devemos sujeitar-nos a um tal "governo invisível"? Esta expressão para a propaganda insidiosa cunhada por Edward Bernays – o sobrinho de Sigmund Freud que inventou as modernas relações públicas – nunca foi tão adequada. A "realidade falsa" exige amnésia histórica, a mentira por omissão e a transferência de significância para o insignificante. Deste modo, sistemas políticos que prometiam segurança e justiça social foram substituídos pela pirataria, "austeridade" e "guerra perpétua": um extremismo destinado ao derrube da democracia. Aplicado a um indivíduo, isto identificaria um psicopata. Por que aceitamos isto?
21/Junho/2012
O original encontra-se em
www.johnpilger.com/...
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
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terça-feira, 26 de junho de 2012
Formigas derrubam muro de cobrança da Folha
Foto: Edição/247
Desde que a Folha de S. Paulo passou a cobrar por seu conteúdo na web, internautas buscaram meios de burlar o sistema; é uma prova de que as tentativas de fechar uma plataforma aberta, como a rede, raramente funcionam
247 – Na semana passada, a Folha de S.
Paulo instituiu o seu “muro de cobrança poroso”. Trata-se de um sistema
que permite aos internautas acessarem uma quantidade restrita de seu
conteúdo – acima desse limite, só pagando. No caso da Folha, são 20
artigos por mês e a estratégia é idêntica à do The New York Times. No
domingo, o editor-executivo do jornal, Sérgio D´ávila defendeu a
decisão, alegando que “qualidade custa caro”.
No entanto, o muro da Folha já foi derrubado na rede. O internauta
“Formiga Solitária” enviou um tutorial, passo a passo, para ler a
íntegra da Folha, sem passar pelo muro de cobrança. Basta impedir que os
navegadores executem comandos JavaScript. Fizemos o teste e, realmente,
funciona. Abaixo, as instruções:
COMO VER O CONTEÚDO DA FOLHA DE SÃO PAULO, SEM SER INCOMODADO E/OU BLOQUEADO
passo 1: baixar o google chrome
passo 2: Depois de baixado, no google chrome colocar o endereço chrome://chrome/settings/content
passo 3: Em JavaScript selecionar " Não permitir que nenhum site execute o JavaScript"
passo 4: Fechar a janela ( x ) do lado direito superior e reiniciar o Chrome.
passo 5: Pronto, agora poderá navegar no site da Folha de São Paulo sem ser incomodado.
passo 6: Se conseguirem, eu aceito os obrigados de bom grado.
passo 1: baixar o google chrome
passo 2: Depois de baixado, no google chrome colocar o endereço chrome://chrome/settings/content
passo 3: Em JavaScript selecionar " Não permitir que nenhum site execute o JavaScript"
passo 4: Fechar a janela ( x ) do lado direito superior e reiniciar o Chrome.
passo 5: Pronto, agora poderá navegar no site da Folha de São Paulo sem ser incomodado.
passo 6: Se conseguirem, eu aceito os obrigados de bom grado.
O exemplo ilustra como é difícil erguer muros e fechar uma plataforma
aberta, como é o caso da internet. Quando o New York Times decidiu
fechar seu conteúdo, um de seus principais colunistas, o economista Paul
Krugman, passou a ensinar os leitores a ‘by-passarem” o muro. Bastava
segui-lo no Twitter.
Mais recentemente, no mesmo dia em que o jornal The Daily, também
passou a cobrar pela navegação, um internauta postou na rede social
Tumblr todo o conteúdo da publicação.
Na primeira semana de julho, em Olinda (PE), um encontro nacional
discutirá a questão do direito autoral na internet. Segundo Sérgio
Amadeu, um dos participantes do evento, não faz sentido entrar numa
plataforma aberta, como a internet, com uma mentalidade fechada.
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