sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

UM VIOLINISTA NO TELHADO - 1971


Créditos: Fórum - Stirner
Um Violinista no Telhado
(Fiddler on the Roof, 1971)
Gênero: Drama/Musical
Direção: Norman Jewison
Roteiro: Sholom Aleichem (livro), Joseph Stein (peça e roteiro)
Produção: Estados Unidos (1971)
Duração: 181 minutos
Fotógrafo: Oswald Morris
Produtor: Norman Jewison e Patrick Palmer
Compositor: Jerry Bock
Áudio: Inglês
RMVB Legendado
Cor




Elenco:
Paul Michael Glaser
Topol
Norma Crane
Leonard Frey
Molly Picon
Paul Mann
Rosalind Harris
Michele Marsh Hodel
Neva Small




Sinopse:
Tevye (Topol) é um pobre leiteiro que mora em uma aldeia na Ucrânia, junto com sua mulher e filhas. O filme mostra a imigração forçada dos judeus para o Ocidente devido à intimidação, através dos pogroms e da política anti-semita da Rússia czarista. O musical, também, mostra as riquezas da cultura judaica em todos os aspectos quotidianos.
Como em todas as culturas, o choque entre o novo e o velho está presente fortemente e, nos mostra que a evolução dos costumes, sempre é acompanhada de conflitos que não poupam nada nem ninguém. Em suma, um filme belíssimo por inteiro, que deixa lições importantes, principalmente sobre a estupidez humana, que ainda continua infinita.
Conquistou três Oscar: Fotografia, Trilha Sonora Adaptada e Som, foi indicado a outras cinco categorias, incluindo Melhor Filme e Diretor.



POR UM AMENDOIM

Por Carola Chávez.

Uma vez vi um documentário sobre os elefantes do circo, em que explicavam como faziam os domadores para conseguir que tão majestosos animais deixaram de lado sua dignidade paquidérmica e fizessem bobagens para um punhado de humanos idiotas em troca de aplausos e amendoim.

O domador explicava com muito orgulho que o segredo estava em quebrar o espírito do animal. Depois de fazer isto, um elefante, esquecendo que era um elefante e tudo o que isso implica, faria o que fosse com amendoim ou sem ele.

O espírito, descobri minutos mais tarde, se quebra a pauladas, a força de fome, torturas, humilhações de todo tipo até que o elefante se dá conta de que ser um palhaço é mais seguro que continuar sendo o que é.

Algumas vezes acontece que o elefante não consegue se conter. Algo lhe faz click em sua cabecinha e se torna mais elefante que nunca. É então quando pega o domador com sua tromba e o lança com toda a raiva acumulada em sua memória elefântica por anos de torturas e humilhações.

Tempo depois de ter visto os elefantes do circo tive a oportunidade de ir a um circo pior porque é maior, os domadores más cruéis e os elefantes são pessoas.

Me refiro ao circo da ‘’civilização’’ entendendo que esta só é civilizada se vier de Mayami ou Nova Iorque.

A coisa funciona desta maneira: Nos apresentam um modelo ideal de civilização, nos dizem que precisamos pertencer a ela e nos põe um amendoim frente aos olhos. Em troca só temos que deixar que nos quebrem o espírito, que nos amputem os instintos, mas, tranqüilos, que o amendoim é grande e encandeia como um diamante.

Devemos desumanizar-nos para ser civilizados.

Tudo começa durante a gravidez: Uma mãe mayamera deve aprender desde cedo a enterrar o instinto mais poderoso de todos. As mães mayameras freqüentam cursos pré-natais onde lhes ensinam, entre outras coisas, a parir deitadas em uma cama, conectadas a mil cabos, a mil máquinas que fazem uns barulhinhos que lhes lembram que parir não é coisa fácil, que sem doutor nem maquininhas não há forma de fazê-lo, que não são animais, senão mulheres civilizadas e graças aos céus que estão no primeiro mundo para que possam parir em paz.

Também aprendem no cursinho que o leite materno não é mau, mas é inconveniente porque te amarra ao bebê dia e noite, porque você perde sua individualidade, porque você não pode trabalhar se está amamentando, porque tem fórmulas para lactantes que superam o leite materno, isso, graças aos céus e, já sabem, à civilização. Assim que enfermeiras que vestem alegres cores, ensinam as mães a secar seu leite, vendando, de maneira muito moderna, as tetas carregadas de alimento. Dói, mas vale a pena…

Assim chega um humaninho ao mundo, buscando a teta e encontrando uma tetinha de látex, buscando o calor de sua mamãe e encontrando um travesseirinho a pilha, que não só o esquenta senão que também lhe reproduz o ‘’ som uterino’’ de acordo com o que diz a caixa.

O humaninho tem uma mamãe moderna e civilizada que o adora. Ela se promete a se mesma que fará tudo o que estiver em suas mãos para que a seu rebento não lhe falte nada durante os próximos dezoito anos. Sim, ouviu bem, na aula de parto lhe relembraram algo que ela sabia por experiência própria: Os filhos vão embora do ninho ao terminar o segundo grau e você pode voltar a ser feliz com seu parceiro, isso se antes não se divorciaram civilizadamente.

Para dar-lhe tudo o que necessita o bebê, a mãe lhe tira o único que realmente precisava e o inscreve na creche de 8 a.m a 6 p.m. Assim fica o pequeno em um berço comunitário olhando pro teto, enquanto “mommy’’ trabalha para comprar-lhe um carrinho lindo, roupinhas para desmaio, e, claro, depositar desde já em uma poupança universitária porque “baby’’ será médico.

Baby tem avós que moram longe, graças a Deus. Toda pessoa civilizada sabe que os velhos incomodam com suas dorzinhas e suas manias. Por tanto, temos um bebê numa creche de infância e uns avós em outra, quando seria muito mais sadio, mais feliz e mais econômico ter todos em casa. Os avós não se sentiriam como bagaços inúteis e o bebê teria uns braços amorosos onde passar o dia.

Mas temos um bebê civilizado, independente, que não tem apego a sua mãe e ao sair do segundo grau irá embora de sua casa, e chegará o dia que, sem muito problema, executará sua maior vingança: enfiar seus pais desvalidos em uma casa de saúde.

A família humana, a ancestral, a verdadeira, não tem cabida no mundo civilizado, não é produtivo ter pessoas que parem de trabalhar para cuidar uma gripe de um filho, o cuidar do avô com tosse, não é produtivo deixar de pagar creches cheinhas de funcionários que por sua vez pagam outras creches cheinhas de funcionários que por sua vez…

Se suportamos esta dolorosíssima amputação do instinto maternal, os seguintes instintos poderão ser extirpados sem anestesia. Ao desbaratar os vínculos mais fortes entre os seres humanos, nos quebram o espírito como fazem com os elefantes.

Mas por que chegamos a fazer essas idiotices?

Pelo amendoim.

Um amendoim de quatro quartos, cozinha minimalista, e sacada com alguma vista. Amendoim 4X4 com DVD e porta copos, amendoim em classe turista com orelhas de rato, um amendoim cheio de logotipos que mostrem que não é um amendoim qualquer embora qualquer um possa tê-lo. Um amendoim privado bilíngüe com atividades extracurriculares, um amendoim com campo de golfe solo para sócios seletos…Em fim o cobiçado amendoim do sucesso.

Como os pobres elefantes do circo, perdemos a nossa essência, funcionamos por impulsos externos aos quais somos vulneráveis e suscetíveis a sermos manipulados. Mas, como os elefantes, podemos fazer clique e jogar para longe o domador com a tromba e cagar-nos no sistema, no sucesso, no amendoim e, desde o melhor de nossa humanidade, fazer uma revolução.

Tanta miséria por um amendoimzinho…

Versão em português: Tali Feld Gleiser de América Latina Palavra Viva.

Se Vida significasse...

Se vida significasse alegria,

Não haveria fome

Não haveria guerra

Não haveria traições

Não haveria mortes

Não haveria qualquer espécie de dor

Não haveria solidão

Porém se vida significasse dor,

Não haveria sexo

Não haveria fartura

Não haveria amor a um filho

Amor a um amigo

Amor a um parente

Deleite ao comer

Deleite ao relacionar-se

Não haveria união

E se a vida significa união de alegria e dor

A vida significa família!


Carlos Costa


Art Taylor-Donald Byrd-Jackie McLean - Taylor's Wailers (1957)

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Art Taylor - Donald Byrd - Jackie McLean - Taylor's Wailers (1957)
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Personnel:
Donald Byrd (trumpet)
John Coltrane (tenor sax)
Jackie McLean (alto sax)
Charlie Rouse (tenor sax)
Ray Bryant (piano)
Red Garland (piano)
Wendell Marshall (bass)
Paul Chambers (bass)
Art Taylor (drums)


Tracks:
1. Batland 9:53
2. C.T.A. 4:44
3. Exhibit A 6:15
4. Cubano Chant 6:36
5. Off Minor 5:38
6. Well, You Needn't 7:55

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Part 1
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Mega-projeto de infra-estrutura, IIRSA busca integrar continente sul-americano de modo a facilitar exportações

Mega-projeto de infra-estrutura, IIRSA busca integrar continente sul-americano de modo a facilitar exportaçõesIgor Ojeda (correspondente em La Paz, Bolívia) e

Luís Brasilino (da Redação)


Do centro da América do Sul, para os oceanos. Do Pacífico, para o Atlântico. Do Atlântico, para o Pacífico. Não importa a direção e o sentido. O destino será quase sempre o mesmo: o mercado externo.

Essa é a lógica da Iniciativa para a Integração da Infra-Estrutura Regional Sul-Americana (IIRSA), mega-projeto que, como o nome revela, tem como objetivo a conexão rodoviária, fluvial, marítima, energética e de comunicação do continente.

A IIRSA foi criada em agosto de 2000, em Brasília, por 12 países sul-americanos (só a Guiana Francesa não aderiu), quando, em um encontro que tinha o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso como anfitrião, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) apresentou o projeto. Todos os governantes aceitaram a sugestão.


Extração

“A IIRSA obedece ao modelo de liberalização dos mercados, privatização e extração de recursos. O objetivo é o de acelerar a exportação de matérias-primas”, opina a mexicana Paulina Novo, coordenadora do Projeto Biceca (Construindo Consciência Cívica Informada para a Incidência e a Conservação na Amazônia Andina, na sigla em inglês), que realiza amplos estudos sobre a IIRSA.

Ela lembra que, além dos inúmeros impactos que os mega-projetos podem causar no meio ambiente e nas comunidades camponesas e indígenas (quase nunca consultadas ou ouvidas de modo inadequado), o projeto, além de manter a dependência da América do Sul em relação às nações ricas, pode aprofundar as assimetrias internas e regionais, pois abrirá as portas para os produtos brasileiros nos demais países do continente. O Brasil, por sinal, figura como o grande impulsionador regional da iniciativa.


Privatização

A IIRSA prevê 507 grandes obras em 20 anos, com um investimento total estimado em 70 bilhões de dólares. Destes, segundo Paulina, 21,2 bilhões de dólares já estão sendo executados, em 145 projetos.

Para o sociólogo Luis Fernando Novoa, da Rede Brasil sobre Instituições Financeiras Multilaterais, a iniciativa representa o estágio final das reformas neoliberais levadas a cabo desde os anos 1990. “Os setores econômicos que sobrevivem aos processos de reestruturação são absolutamente dependentes dos mercados internacionais como supridores, intermediários ou distribuidores. Ao invés do tripé desenvolvimentista dos anos 1960/1970 (Estado, capital nacional e capital estrangeiro), o que se prefigura em projetos como esse é um organismo público-privado que operacionaliza e naturaliza a lógica do capital financeiro e dos setores privatistas, em nome da competitividade, da produtividade e do crescimento”, avalia.


Segurança jurídica

Para ele, a IIRSA deve ser encarada não como um projeto em si mesmo, e sim como “uma metodologia de repasse de recursos naturais, mercados potenciais e soberania a investidores privados, em escala continental, com respaldo político e segurança jurídica”.

Na página na internet da IIRSA (www.iirsa.org), pode-se ler que a iniciativa tem “como objetivo promover o desenvolvimento da infra-estrutura com base em uma visão regional, procurando a integração física dos países da América do Sul e a conquista de um padrão de desenvolvimento territorial eqüitativo e sustentável”.

Para Magnólia Said, presidente do Centro de Pesquisa e Assessoria (Esplar), não é bem assim. De acordo com ela, o projeto não foi pensado como proposta de aproximação entre países e suas populações, mas como incorporação e adaptação de territórios, de modo que estes possam trazer benefícios de interesse ao capital.


Endividamento

“Nenhum dos projetos de infra-estrutura definidos para as áreas de maior incidência de recursos estratégicos têm em vista favorecer as populações pobres, ribeirinhas, indígenas, quilombolas e camponesas”, analisa Magnólia, que lembra que um plano coordenado e financiado pelo BID não pode resultar em quebra de estrutura de dominação.

De acordo com dados de Paula Novo, do Biceca, os governos financiarão 62,3% dos projetos da IIRSA. A iniciativa privada bancará 20,9%, enquanto o restante virá de instituições financeiras, como o BID, a Corporação Andina de Fomento (CAF) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), do Brasil.

Ou seja, há ainda o risco da dívida externa dos países sul-americanos crescerem. “A dívida não é apenas uma questão financeira, mas, principalmente, um instrumento político, pois garante a implementação do interesse das instituições financeiras multilaterais e das grandes corporações, translatinas e transnacionais”, alerta Elisângela Soldatelli Paim, coordenadora de projetos do Núcleo Amigos da Terra Brasil (leia reportagem completa na edição 258 do jornal Brasil de Fato).

Um voto democrático de desconfiança

Um voto democrático de desconfiança

Amira Hass

Uma greve dos funcionários públicos na Palestina, como a que começou ontem e prossegue hoje, é tipicamente considerada em Israel como “assunto interno da Palestina”, sem importância jornalística.

Mas, além do fato de que a modéstia das exigências salariais são resultado direto da política de bloqueio econômico pela potência ocupante – Israel –, a greve é desafio considerável à estabilidade e ao poder do governo do primeiro ministro Salam Fayyad e comprova evidente desgaste de credibilidade.

O setor público sempre foi tradicional base de apoio da Autoridade Palestina. Muitos dos servidores públicos na Cisjordânia apóiam o Fatah e o representam nos sindicatos.
Enquanto a ravina que separa os governos de Ramállah e de Gaza fez aumentar o prestígio da Autoridade Palestina nos países ocidentais, a disputa entre os servidores públicos e o governo de Ramállah reduz a capacidade da Autoridade Palestina para cumprir acordos firmados com países e entidades apoiadores, especialmente o Banco Mundial.

Dentre outros, estes acordos obrigam a reduzir o item “salários” no orçamento (mediante demissões e cortes nos salários) e a cobrar impostos, a serem pagos às prefeituras, pelo consumo de eletricidade e água. Em outras palavras, a luta dos servidores públicos contra o governo de Salam Fayyad – servidores dos quais depende a legitimidade do mesmo governo – pode também ameaçar a avaliação do governo, aos olhos dos representantes da economia global.

Os funcionários públicos palestinos fazem três principais reivindicações: que os salários sejam reajustados pelo custo de vida; aumento real no item “despesas de viagem” dos salários (sem reajuste desde 1999, apesar de os preços de passagens terem duplicado e triplicado em função dos bloqueios das estradas e do aumento do preço do combustível); e fim da exigência, recentemente implantada, de apresentação de um ‘certificado de honestidade’ que confirme “pagamento de todas as dívidas”.

O governo decidiu condicionar a prestação dos serviços públicos, a partir deste mês, a apresentação deste certificado, obrigatório em todas as prefeituras e empresas fornecedoras de eletricidade e água. A exigência afeta todos os serviços básicos, como emissão de carteiras de identidade, passaportes, licenças para dirigir e autorização para comerciar (exclui a licença para viajar, fornecida pela administração pública israelense).

O governo também planeja descontar o pagamento de dívidas diretamente dos salários dos funcionários públicos. Não surpreende que os representantes sindicais já falem do renascimento de métodos adotados pela ocupação israelense, que condicionava a emissão de alvarás para trafegar e construir, ao pagamento de vários tipos de dívidas. Mas a oposição dos servidores públicos ao governo não tem só causas simbólicas. Os sindicatos acusam o governo de implantar regras ilegais, pois pressupõem que o cidadão palestino seja culpado até que prove que é inocente.

Segundo dados do Banco Mundial, os residentes e conselhos locais palestinos começaram a acumular dívidas a partir de 2002, por não pagarem as contas de água e eletricidade. Em 2007, estas dívidas já estão estimadas em cerca de 512 milhões de dólares. Israel, principal fornecedor de eletricidade e água, abate estes pagamentos diretamente do montante de taxas e impostos cobrados dos palestinos, nas fronteiras e portos, antes de transferir o saldo para o Tesouro da Autoridade Palestina. Este fato justifica, na opinião de Fayyad, que o governo exija dos funcionários públicos o pagamento das contas devidas.

Os porta-vozes do governo, inclusive o próprio Fayyad, têm falado repetidamente contra uma “cultura de não pagar contas”, retratando os palestinos como devedores contumazes. Com isto, faz aumentar a animosidade contra seu governo. O governo da Autoridade Palestina também não paga o que deve aos funcionários, a instituições e a empresas privadas, e pede que se considere “a situação econômica”. As regras agora impostas ignoram os muitos anos de crise econômica, ao longo dos quais os palestinos perderam fontes tradicionais de renda e de poupança.

Muitas das forças políticas da OLP (Organização de Libertação da Palestina), inclusive o movimento Fatah, já manifestaram apoio ao movimento dos trabalhadores da administração pública palestina, e oposição ao ‘certificado de honestidade’. Nos últimos dias, a ação coletiva contra o governo começou a dar frutos: as autoridades começam a falar em alterar as novas regras, de modo a que não estigmatizem todos os palestinos como ‘devedores contumazes’.

A greve do funcionalismo público palestino – e toda a discussão pública e interna que a acompanham – é uma fascinante lição de o quanto os palestinos ainda sabem usar o seu poder coletivo; de como se opõem a uma política econômica liberal de ocupação e colonização. Assim, estão impondo hoje um voto democrático de desconfiança contra o governo e a classe dirigente.

* Democratic suspicion. © Haaretz, Jerusalém, 6/2/2008, em http://www.haaretz.com/hasen/spages/951534.html.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Ponderada...

Ponderada a luz que vem à Terra

Aquece as almas sedentas

Tornando-as significantes

Recria-as quando estando perdidas

Ilumina e reflete a vida

Cativa com seu brilho intenso

Inspira e conduz a sorte

Atrai e corteja a glória.

Carlos Costa

Muriel Tabb & Paulo André - Tantas Canções (1993)




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XUL SOLAR


Post. : Jonnhy F

Xul Solar (1887-1963) é como um criador de "um mundo metafísico onde os deuses tomam as formas da imaginação dos que sonham". Autor de uma obra autêntica que espelhou suas aspirações e pesquisas em várias áreas do conhecimento, Xul não tem par entre os artistas da vanguarda latino-americana do começo do século passado. Mais do que um artista, foi um visionário e utopista. Xul desenvolveu seu trabalho em pequenos formatos, quase sempre com aquarela ou têmpera e com exuberância de cores. Criou uma obra complexa e lírica, explorando sobretudo temas relacionados às suas experiências místicas.
http://meuslivros.weblog.com.pt/arquivo/Xul-Solar-Vuel-Villa.jpg

O artista nasceu em uma família católica de imigrantes -a mãe era italiana, e o pai, alemão, descendente da Letônia. De berço, aprendeu as três línguas, mas falava ainda inglês, português, russo e conhecia sânscrito e chinês. A facilidade com as línguas o ajudaram a projetar a "panlíngua" e o "neocriollo". Não apenas a lingüística o interessava, ele era um grande conhecedor de música (Wagner e Bach eram os favoritos), de tecnologia (guardava em pastas recortes sobre avanços científicos) e, claro, de assuntos religiosos e místicos. Aos 25 anos, o artista foi para a Europa, provavelmente depois de uma crise espiritual, e teve o primeiro contato com a pintura.


HOMENAGEM AO PIONEIRISMO SURREALISTA DE XUL SOLAR

Pioneiro na arte surrealista e antecessor de Paul Klee, amigo do escritor José Luis Borges, Alejandro Xul Solar, é o artista homenageado pela I Bienal de Artes Visuais do Mercosul. Suas obras estão expostas no Espaço Cultural Aplub, em Porto Alegre (RS), durante o período da Bienal.

Xul Solar, nasceu em Buenos Aires, em 1887, filho único de Emilio Schulz Riga, alemão da Letônia, e de Agustina Solari, nascida em Gênova, Itália. Aos 16 anos adotou o pseudônimo de Xul Solar empregando equivalentes fonéticos dos sobrenomes do pai e da mãe. Erudito, possuindo um saber enciclopédico, interessou-se deste muito jovem por assuntos tão variados quanto religião, filosofia, a antroposofia de Rudolf Stener, a cabala judia, mitologias e sobretudo astrologia.

Segundo depoimento de seus conterrâneos, falava e escrevia seis idiomas vivos, além do latim, do grego e do sânscrito. Este conhecimento lingüístico levou-o a criar duas línguas, o "neocrilo", fundada em raízes provenientes do latim, com expressões locais, latino-americanas, e "panlengua", que pode ser vista como uma das muitas construções similares ao "esperanto".

Xul Solar integrou, nos anos 20, o grupo denominado Martin Fierro, que instaurou o modernismo na Argentina e do qual faziam parte, entre outros, Olivério Girondo, Macedônio Fernandez e Jorge Luiz Borges. Este, ao apresentar mostra de Xul Solar, em 1949, afirmou ser ele "um dos acontecimentos singulares de nossa época", afirmando, em outra oportunidade, que nunca conheceu um homem de "tão rica, heterogênea, imprevisível e incessante imaginação".

O artista argentino produziu algumas centenas de desenhos, aquarelas (seu meio de expressão preferido) e pinturas, geralmente de pequeno porte, as quais, juntas, formam uma espécie de escritura plástica. Arte semiótica. Além da figura humana, estilizada geometricamente, mas sem perder sua dimensão mágica, das arquiteturas e bandeiras, proliferam em suas obras signos e símbolos, muitos deles esotéricos e arcaizantes, tais como estrelas, flechas, hieróglifos, números, letras, etc. Signos e símbolos que ocupam um espaço mental e imaginário, isto é, não-realista. Em suas proposições, Xul Solar antecipa-se ao Surrealismo, assim como tangencia o Maneirismo e o Dada. Sua pintura não exige uma interpretação literal de seu sentido, podendo ser apreciada independente das questões místicas e esotéricas que a fundam.

(Jornalista Joyce Larronda - Reg. Prof.: 5349-RS/BR)


Faça você mesmo!

Por meio da cultura, jovens das periferias brasileiras fazem uma revolução. Um panorama da produção independente nas quebradas das metrópoles: como a arte criada fora da indústria cultural subverte a mercantilização e controle do conhecimento, marca do capitalismo

Eleilson Leite

Os jovens continuam fazendo arte no Brasil como em outras épocas. A novidade são os meios, cujo acesso tornou-se mais viável. Por outro lado, a recente ampliação das políticas públicas voltadas para tal segmento da população, também tem impacto importante, tanto para o acesso aos meios como para difusão da produção artística. É nova, também, a afirmação de uma cultura produzida por artistas que vivem nos arrabaldes das metrópoles. E finalmente, o compartilhamento completa o quadro da cultura juvenil contemporânea. A idéia do compartilhar se estabelece, em função da expansão do mundo virtual e da flexibilização dos suportes decorrentes da inovação tecnológica, traz consigo um questionamento: cultura e conhecimento não devem ser mercadorias de acesso restrito. Esses quatro elementos estão produzindo uma conexão muito promissora entre coletivos culturais de classe média, adeptos de concepções anti-capitalistas no mundo da cultura, e grupos de artistas de periferia. Um diálogo que nos remete aos ideais do movimento punk e do hip hop: tenha consciência, ocupe as ruas, faça você mesmo. Junte tudo isso, e temos o caldo de cultura no qual as diferentes juventudes produzem arte, compartilham, articulam circuitos, disputam concepções: em outras palavras, renovam a cena cultural.

Há trinta anos, o movimento punk explodiu na Europa sob o lema: do it yourself. Os músicos aprendiam alguns acordes e se juntavam para tocar em bares, universidades, escolas, ruas - em qualquer lugar. A agenda cultural era divulgada nos fanzines, que se reproduziam aos milhares. Cenário, luz, alta tecnologia, cachê? Nada disso. O que importava era a atitude. E o discurso contra o sistema não tinha meias palavras: “Eu sou um anarquista. Eu sou um anti-cristo…”, gritava em alto e péssimo som o vocalista do Sex Pistols, Jhonny Rottem, deixando os conservadores completamente atordoados. Sobrou também para a Rainha e para a Major EMI, alvos da verve punk-rock implacável dos Pistols.

Paralelamente, o hip hop emergia dos guetos de Nova York em meados dos anos 70, e causou um rebuliço no cenário cultural. Espalhou-se por todo o Planeta. Surgiu como um movimento de rua. Entretanto, diferente do punk, a cultura hip hop adaptou-se bem ao showbizz, em função da popularização do rap. O hip hop autêntico, que une seus quatro elementos: RAP, DJ, MC, o Grafite [1] e um quinto: o conhecimento a partir do qual se formam as posses - já não tem a mesma força no hemisfério Norte. Mas nas periferias dos centros urbanos da América Latina e da África a essência da cultura hip hop ainda mantém seu vigor, mobilizando milhões de jovens.

Os meios justificam os fins: já não é preciso recorrer a corporações para difundir idéias e arte

O ideário estético e político do punk e do hip hop ainda influencia corações e mentes de grupos juvenis urbanos, que se cruzam em diferentes circuitos culturais das metrópoles brasileiras. Consciência, engajamento, rima, ritmo, força da palavra escrita e falada, atitude, intervenção e a convicção de que “posso fazer e constranger o sistema” é o que marca a arte produzida nas periferias e por coletivos juvenis universitários de classe média que se articulam sob o lema da desmercantilização da cultura [2]. Esses últimos, mais próximos do punk e de toda sua derivação [3]; os primeiros umbilicalmente ligados ao hip hop.

O diálogo entre esses dois universos vem sendo cada vez mais freqüente, em virtude da ampliação do acesso aos meios. A redução dos custos de produção de CD, DVD e as infinitas possibilidades de difusão da criação artística pela internet estão abrindo oportunidades de exposição antes inimagináveis, mesmo para os jovens de classe média. Até uma década atrás, fazer um filme, gravar um CD, publicar um livro, era algo que passava, necessariamente, por corporações — fossem elas pequenas, médias ou grandes. Hoje em dia, os jovens produzem seus trabalhos em estúdios caseiros ou com equipamentos de uma ONG parceira, licenciam e difundem no Creative Commons, My Space, Overmundo ou em outros espaços virtuais de compartilhamento. Em menos de 24 horas, alguém já teve acesso, baixou, reproduziu, criando, assim, uma cadeia de difusão planetária, onde todo tipo de oportunidade aparece, inclusive, para apresentações remuneradas. Nessa nova cultura, os meios justificam os fins.

Assim é o caso do B Negão, rapper carioca que foi integrante do extinto Planet Hemp. Em 2003, ele começou a disponibilizar suas músicas na Internet. O retorno foi imediato. Internautas de todas as partes do mundo baixaram suas músicas e passaram a divulgá-las em rádios alternativas, festas e outros espaços. Algum tempo depois, chegaram os primeiros convites para apresentações na Europa. Começou com um show de curta temporada numa casa de espetáculos com capacidade para 300 pessoas, em Portugal, em em 2005. Na mesma turnê, lotou uma Casa na Espanha com capacidade para 2 mil pessoas. No ano seguinte, participou de um Grande festival na Dinamarca para 50 mil pessoas.

Na periferia do Distrito Federal, outro rapper, chamado GOG, um dos nomes mais importantes do hip hop brasileiro , criou um selo próprio - Só Balanço - e disse não às grandes gravadoras. Além de disponibilizar algumas de suas canções pela internet, declarou toda a sua obra como domínio público. Em um de seus discos, GOG gravou uma canção chamada A Ponte, uma referência crítica muito criativa à construção da Ponte Juscelino Kubitschek de Brasília. Nesse rap, ele sampleou uma canção homônima do compositor Lenine. A música chegou aos ouvidos do cantor pernambucano. Numa atitude de desapego aos rigores da proteção autoral, Lenine não só aprovou a colagem, como convidou GOG para uma participação muito especial em seu DVD. Essa participação deu uma calibrada na carreira do rapper brasiliense. Resultará na ampliação de suas produções no Só Balanço, que hoje tem como nome de ponta entre seus artistas o MC - ou cantador, como ele prefere - Rapadura, jovem revelação que é um dos mais talentosos do Brasil na atualidade, assegura GOG.

A produção das periferias chega aos livros e abre debate: destruir ou abrir espaço no mercado editorial?

Em 2005 ,motivado pela idéia do faça você mesmo, o poeta periférico paulistano Allan da Rosa resolveu publicar seu próprio livro. Mas ele não procurou uma dessa editoras que fazem livro sob encomenda como a Scortecci ou Livro do Autor, para citar duas empresas de São Paulo especializadas no ramo. Da Rosa, como é conhecido, queria um livro cujo padrão gráfico fosse ele próprio, expressão do conteúdo de seus poemas. Fez um belo livro de poesias, escrito à mão, em papel reciclado e com a lombada perfurada por qual passam fios vermelhos de novelo de lã. Assim surgiu Vão, sua obra seminal. Com o apoio da ONG Ação Educativa e de uma gráfica, imprimiu 500 exemplares do livro. Esgotou a tiragem em quatro meses. Produziu mais uma edição, que acabou em menos de um ano. Allan vendeu, de mão em mão, na porta de teatro e cinemas, em palestras, eventos e oficinas.

O êxito do livro Vão despertou a veia de editor do poeta Allan da Rosa. Com a mesma estratégia, ele publicou o livro De passagem, mas não a passeio, da Dinha – pseudônimo de Maria Nilda, jovem poeta de 27 anos moradora da periferia da Zonal Sul de São Paulo. Dinha esgotou seu livro, publicado em 2006, em menos de um ano. Começou aí a Selos Toró que, com dois títulos, já se estabelecia como o primeiro empreendimento de literatura de periferia que se tem notícia. Hoje, o catálogo tem dez títulos. A maioria dos autores tem menos de 30 anos e todos são moradores da periferia paulistana. Os livros custam R$ 10,00 na quebrada e R$ 20,00 na porta dos cinemas na avenida Paulista. Não há intermediário: o autor fica com todo o recurso captado na venda. A cópia é livre, mas todos querem ter os livros de feições artesanais.

O caso da Edições Toró, em particular, e de modo geral o movimento da literatura periférica, denota uma tensão importante nessa aproximação da cultura de periferia com os coletivos de jovens de classe média que defendem a desmercantilização da cultura. Allan da Rosa e Dinha, além de Sacolinha, Sergio Vaz e Alessandro Buzo assinaram contrato com a Global Editora em 2007. Esses autores estão inaugurando uma coleção denominada Literatura Periférica. Essa oportunidade lhes confere uma condição de reconhecimento que responde a uma busca de anos. Sentiram-se muito satisfeitos ao receberem 50% de adiantamento do direito autoral de uma edição no ato da assinatura do contrato. Em contrapartida, a editora fica com a posse dessas obras por cinco anos (para edição em livro) e é filiada à ABDR – Associação Brasileira de Direitos Reprográficos, que proíbe a reprodução de qualquer parte do livro sem prévia autorização, sujeitando os infratores aos rigores da Lei de Direito Autoral. Isso causa preocupação aos militantes contrários à propriedade intelectual.

Questionado sobre a contradição, um dos autores disse: “são regras estabelecidas; agora que estamos chegando, querem acabar com o mercado?”, indignou-se. Os ativistas da livre circulação do conhecimento, afirmam por outro lado que é justo remunerar o escritor por sua criatividade. Entretanto, argumentam que não é correto que só alguém com dinheiro na mão possa ter acesso à obra do Sergio Vaz, por exemplo. Nesse caso, o poeta da Cooperifa [4], vem disponibilizando suas poesias no seu blog, como, aliás, já fazia antes de ser publicado. Resolvida a questão? Talvez. O fato é que uma corporação ganha dinheiro com um produto cultural e isso inquieta os coletivos mais radicais da desmercantilização da cultura. O debate está apenas começando e tem sido muito positivo [5].

No cinema, uma alternativa: remunerar a produção e permitir a cópia livre

Tudo fica mais complicado quando se trata de um filme. E é exatamente em tal linguagem artística que os jovens de vinte e poucos anos vem se dedicando com mais ímpeto. Mas nesse campo, assim como na música, há muito espaço para difusão na internet. E nem precisa ser alternativo para circular na grande rede. Exemplo maior do que o filme Tropa de Elite não poderia haver. Antes mesmo de entrar em cartaz, a obra circulou na Internet e pôde ser baixada aos milhares, em qualquer parte do mundo.

Se o autor ganha pouco na venda do livro, menos ainda recebe o cantor e compositor na venda do CD, pior é a situação do cineasta na comercialização de seu filme. Aí a equação pode ser resolvida na remuneração da produção, independente da venda. Nesse caso, é importante a ação do Estado no estímulo à criação cinematográfica. Não por acaso, o setor do audiovisual é o que tem um arcabouço legal mais sofisticado. É, também, o produto com os custos de produção mais elevados.

Mas não se faz filmes apenas pensando no grande circuito. Diego e Daniel, que poderia ser nome de mais uma dupla sertaneja, são, na verdade, dois jovens cineastas que aprenderam roteiro, filmagem e edição num curso de formação da ONG Ação Educativa, em São Paulo. A partir daí começaram a fazer seus filmes e constituíram o grupo NCA – Núcleo de Comunicação Alternativa. A obra de estréia surgiu em 2006: Imagens de uma Vida Simples, documentário sobre o artista plástico, poeta e dramaturgo Solano Trindade. Com esse filme, participam de mostras, fazem exibições em Escolas seguidas de palestras e percorrem toda a periferia paulistana, exibindo em qualquer lugar que lhes dê a oportunidade de divulgar seu trabalho. E para viver? São cinegrafistas. Atuam em projetos de ONGs, além de realizar seus próprios projetos buscando financiamento em editais focados em pequenas produções. Até onde isso vai? Não sabem. Esperam que pelo menos seja assim enquanto forem jovens.

O tema das políticas públicas para a juventude é uma pauta desta década. Até o final dos anos 90, pouquíssimas iniciativas se efetivaram nesse campo. Uma dessas raras ações foi a criação do Centro de Referência da Juventude da Prefeitura de Santo André, no ABC Paulista, no final daquela década. E a criação de espaços públicos para os jovens tem sido uma constante entre as políticas para o segmento juvenil [6]. Mas uma ação que se tornou uma referência de política pública, consagrada em lei e que tem um impacto extremamente positivo, não está dentro de nenhum equipamento de amplas instalações erguido numa região pobre qualquer de uma grande metrópole.

Trata-se do VAI – Valorização de Iniciativas Culturais, programa de fomento à cultura da cidade de São Paulo dirigido a indivíduos e grupos preferencialmente jovens de regiões pouco atendidas pelo poder público. Criado durante a Gestão da prefeita Marta Suplicy, o VAI vem abrindo editais a cada ano, e na sua terceira edição, em 2007 , contemplou 100 propostas entre 765 concorrentes, destinando uma verba de R$ 17 mil para cada um desenvolver seu projeto. Talvez, seja a verba orçamentária mais bem gasta da prefeitura paulistana: R$ 1,7 milhão financiando pequenas revoluções no cotidiano de grupos juvenis.

O selo Toró, liderado pela Allan da Rosa foi um dos grupos agraciados no último edital. Conseguiu, com a verba, publicar cinco livros com tiragem de 600 exemplares cada. Por meio do VAI, Akins Kinté, de 22 anos e Elizandra Souza, de 24 anos, freqüentadores de saraus na Periferia de São Paulo, concretizaram o sonho de ter seus poemas impressos num livro. Uma obra em dupla face, metade para cada um. Dois jovens negros, suburbanos. Ela da Zona Sul; ele, da Leste. Ambos venderam seus exemplares em menos de seis meses e, com o dinheiro arrecadado, bancaram uma nova tiragem. Elizandra, que ingressou no curso de jornalismo da Universidade Mackenzie, beneficiada pelo Pró-Uni, hoje trabalha como estagiária na sua área, dá palestras e participa de debates. Akins segue a mesma trilha, ainda almejando o sonho da faculdade. Mas expandiu suas aptidões artísticas e produziu, junto com dois jovens cineastas diletantes, um documentário sobre literatura e negritude, chamado Vaguei nos livros e me sujei com a m… toda.

Na mesma direção do programa paulistano, porém com um investimento maior, há no plano federal, a ação dos Pontos de Cultura, do Ministério da Cultura. São mais de 600 grupos apoiados em todo o Brasil, recebendo cerca de R$ 150 mil cada para desenvolver seus projetos. Essas políticas têm o mérito de perceber o movimento da cultura feito por grupos. São vontades criativas que se concretizam na dinâmica da ação coletiva, movimentando a comunidade, interferindo na realidade. No VAI, 90% são jovens. Nos Pontos de Cultura, há uma estimativa de pelo menos 60% dos grupos contemplados estarem na faixa dos 18 a 29 anos. Em ambos os casos, a maioria está nas periferias, vilas e assentamentos no interior do País, nos morros e palafitas.

O que está em jogo hoje na cultura produzida pelos jovens, embora não só pelas garotas e rapazes de vinte e poucos anos, é a emergência da criação. E o acesso às novas mídias tem reforçado essa questão. Sob a bandeira da inclusão digital e democratização do acesso aos meios de comunicação, está a idéia de que é possível fazer, escrever, compor, interferir, difundir. Daí a pertinência do debate sobre propriedade intelectual e livre circulação do conhecimento e da cultura. E, se são novidades as tecnologias, não é nova a idéia de apropriação dos meios, da afirmação da condição juvenil pela cultura. A questão que o movimento punk e o hip hop trouxeram nos anos 1970, parece estar emergindo de uma forma decisiva. Uma revolução está em curso.

Não é por um acaso que assistimos a banda Radiohead, uma das mais populares do mundo, descendente do punk-rock, romper com sua gravadora e comercializar seu último disco exclusivamente na Internet, dando ao consumidor a condição de definir o preço, incluindo a possibilidade de baixar gratuitamente as músicas. Não menos coerente é observar que muitos grupos de rap prensam seus próprios CDs e distribuem diretamente aos camelôs, como faz Dudu de Morro Agudo, do coletivo Enraizado do Rio de Janeiro. “Quero que o maior número de pessoas ouçam minha música, eu tenho uma mensagem para passar”, afirmou Dudu, no debate sobre o tema no Debate Cultura e Conhecimento Livres [7]. Nessa mesma linha e com com muito mais ênfase, grupos de rap de Belém do Pará e demais capitais do Norte do Brasil articulam-se no Movimento Hip Hop da Floresta. A capital paraense é pródiga nesse tipo de circulação da cultura. Nas famosas festas de aparelhagem, o público compra o CD com as músicas tocadas durante a balada, na saída do local do evento.

A produção cultural juvenil articula-se em grupos, invariavelmente pequenos . É preciso observar essas micro-agremiações para se ter uma idéia da diversidade e complexidade das formas de expressão da cultura feita por jovens [8]. Mas os grupos se conectam em circuitos, às vezes, formando um contorno geográfico restrito a uma localidade, às vezes, sem apego a fronteiras. Ao se conectarem, formam grandes movimentos, abalam as estruturas e põem de ponta-cabeça os parâmetros estabelecidos, os cânones. Elizandra, Akins, Sacolinha, Allan da Rosa, Daniel, Diego, o pessoal do Epidemia, e outros que figuraram neste texto, estiveram conectados (presencial ou virtualmente) na Semana de Arte Moderna da Periferia que rolou em novembro na Zona Sul de São Paulo. “A arte que liberta, não pode vir da mão que escraviza”, diz um dos versos do Manifesto da Antropofagia Periférica, que serviu de liturgia ao evento. Esses e muitos outros jovens empoderaram-se e fazem, eles mesmos, a arte que os liberta.