segunda-feira, 14 de abril de 2008

Perda total do Estado de Direito


A decisão do Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema), no dia 9 de abril, sobre o Zoneamento Ambiental da Silvicultura (ZAS), foi um ato totalitário, imediatista, irresponsável e obscurantista através da qual o atual Governo do Estado está impondo o licenciamento ambiental para a silvicultura na chamada metade sul do Estado. A avaliação é de Celso Marques, membro do Conselho Superior da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), em artigo publicado no site da entidade.

“Este processo”, escreve Maques, “decisivo para o futuro da nossa campanha, caso não seja disciplinado e normatizado cientificamente, comprometerá de 500 mil a um milhão de hectares dos nossos campos nativos em uma geração. Quando isto acontecer, os atuais gestores da coisa pública já estarão mortos e não poderão mais ser questionados e responsabilizados”.

O conselheiro da Agapan critica duramente o modo como o governo Yeda Crusius (PSDB) vem tratando a questão ambiental: “Os meios de que o governo do estado vem se valendo para impor os interesses das grandes empresas nacionais e estrangeiras do ramo madeira-celulose-papel formam um rosário de irregularidades legais e administrativas. Elas vão desde uma verdadeira intervenção governamental no órgão ambiental do estado, a Fepam, mudando sucessivamente sua direção; impondo um regime de terror com ameaças aos funcionários e perseguições efetivas aos técnicos que, a bem do serviço público, discordaram das imposições políticas do governo na normatização do setor; até a culminância das irregularidades e atropelos à legislação e à ética que foi o encaminhamento da aprovação do Zoneamento Ambiental da Silvicultura, no Conselho Estadual do Meio Ambiente”.


A luta continua até o último índio!

por paula


Carta dos povos indígenas da Raposa Serra do Sol
Carta dos povos indígenas da Raposa Serra do Sol
Nós, comunidades indígenas da Raposa Serra do Sol, diante da determinação do Supremo Tribunal Federal, a pedido do governo do Estado de Roraima, manifestamos:

Há mais de 30 anos, sofremos com um doloroso processo de reconquista das nossas terras, que acreditávamos seria concretizado pelo Estado Brasileiro, em cumprimento à Constituição Federal, aos direitos humanos dos povos indígenas e ao decreto de homologação do presidente da República.

Chega de sofrimento, já esperamos demais! Tivemos calma, muita paciência e confiança nas autoridades, mas agora basta! Independente das autoridades, podemos decidir sobre o nosso futuro e tomar providências, com a união do nosso povo, na desintrusão dos invasores de nossa terra.

Onde estão as autoridades? Os homens da Lei? Pontes foram queimadas, pessoas agredidas, bombas fabricadas aos olhos das autoridades, tratores ‘cortaram’ estradas aos olhos dos canais de televisão, até carro-bomba foi usado contra a polícia e quase nada foi feito até agora.

Muitas vezes fizemos o papel das autoridades pedindo paciência aos nossos irmãos. Nós acreditamos no governo, mas a lentidão das autoridades federais, permitiu que os inimigos dos nossos direitos se manifestassem violentamente e conseguissem inverter a situação, sacrificando nós, povos indígenas.

Não aceitamos que as autoridades tenham esperado três anos e tenham permitido todo o terrorismo dos últimos 11 dias na Raposa Serra do Sol até que o Supremo pudesse mandar suspender a Operação. Repudiamos a atitude do governo estadual que prefere sacas de arroz em detrimento da vida de 18.992 índios.

Os últimos acontecimentos promovidos pelos arrozeiros, impunes diante de tantos crimes, abrem caminho para mais injustiça e descaso. Não toleramos mais enriquecimento a nossas custas, estamos defendendo nossa a terra.

Definitivamente chega! A Luta continua até o último índio!.
Raposa Serra do Sol, 09 de abril de 2008.

Nós comunidades indígenas da TI Raposa Serra do Sol abaixo assinamos:

Região Serras – Maturuca, Camararém, Flexalzinho, Lilás,Pavão, Bananeira, Santa Rita, Bom Futuro, Morro, Maracanã II, Central, Mangueira, Cutia, Angical, Aramu, Warabadá, Mutum, santa Tereza, Sawi, Pedra Branca, Enseada, Barrerinha, Santa Liberdade, são Mateus, Tabatinga, Nova Aliança I, Igarapé do Gal, Triunfo, Willimon, Uiramutã, Monte Muriá I, Lage, Prododo, Urinduk, Cana, Canawapai, Kaxiriman, Pé da serra, Popo, Kumapai, São Franscisco, São Gabriel, Salvador, Sitio São Mateus, Caracanã, Nova Vida, Andorinha, Ximaral, Warapa, Barro, Waronkayen, Monte Siao, Caraparu I, Tamaduá, Waromadá, Manaparu, São Luis, Mudubim, Estevo, Pedra Preta, Ylainã, Maloquinha, Chui, Caju I, Cumaipá, Bananal da Serra, Campo Formoso, Pioho, Lago Verde, Sapan, Ponto Geral, Área Única, Paraná,Pipi,

Região Surumu - Cantagalo, Machado,Maravilha, são Bento, Limão, Pedra do Sol, Barro, Táxi I, Renascer, Maloquinha, Miang, Pedreira, Cumanã, são Miguel Novo Paraíso, Nova Vitória;

Região do Baixo Cotingo – Camará, Escondido, Cararual, São Pedro, Monte Sinai, Pavão, Itacutú, MariMari, Santa Maria, Vizela, Constantino, Kurapá, Gavião, Congesso, Perdiz, Banco, Turual, São Francisco, Copaíba, Repouso, Jawarizinho, Sete Flores, Brilho do Sol, Homologação, Airasol, São Raimundo;

Região da Raposa – Raposa II, Xumina, Tarame, Parnasio, Boas Novas, Coquerinho, Urubu, Nove de Junho, Ikiri Saimoyó, Das Vitórias, Nova Geração, Bismark, Guariba, Tucumuã, Jauari, Novo Paraíso, Embauba,Raural, Prainha, Macuxi, Jacarezinho, rego Fundo, Julia, Teso Vermelho, Uirapuru, Matiri, Japó, Cachoeirinha, Nova Canaã, Sucubeira, santa Cruz, Serra Grande, Jibóia, Macaco, Lameiro, Linha Seca.


"O trabalho é o refúgio daqueles que não tem nada a fazer... Oscar Wilde (1854 - 1900)"

Marco Vargas
Santana do Livramento/RS

domingo, 13 de abril de 2008

Hair, Milos Forman




Formato: rmvb
Áudio: Inglês
Legendas: Português/BR
Duração: 2:00
Tamanho: 403 MB
Dividido em 05 Partes
Servidor: Rapidshare

créditos: F.A.R.R.A - Eudes Honorato

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Sinopse: Claude (John Savage), um jovem do Oklahoma que foi recrutado para a guerra do Vietnã, é "adotado" em Nova York por um grupo de hippies comandados por Berger (Treat Williams), que como seus amigos tem conceitos nada convencionais sobre o comportamento social e tenta convencê-lo dos absurdos da atual sociedade. Lá Claude também se apaixona por Sheila (Beverly D'Angelo), uma jovem proveniente de uma rica família.


Elenco:

John Savage .... Claude
Treat Williams .... Berger
Beverly D'Angelo .... Sheila Franklin
Annie Golden .... Jeannie
Dorsey Wright .... Hud
Don Dacus .... Woof
Cheryl Barnes .... Hud's Fiancee
Richard Bright .... Fenton
Nicholas Ray .... The General
Charlotte Rae .... Lady in Pink
Miles Chapin .... Steve


Screen Shots:







Cancele a assinatura de Zmentira

Aguento o ”Estadão” com o seu editorial “MST destranbelhado” na esperança de encontrar alguma coisa interessante. ZEroLÂNDIA é um lixo. Não oferece nada para se ler. E sou obrigado a aguentar os Causowagner, Fotonaldo, Bentotreze, Mentirion e os Griziovanis. Só não cancelo a assinatura porque preciso deste lixo para exercer a atividade de crítica. Cancele a sua. Você não vai perder nada. Os outros jornais publicam alguma coisa interessante, pois sabem da importância (num país analfabeto que se “informa” nas redes televisivas) de manter uma determinada faixa de leitores. Estamos empanturrados de “isabellas”. Visitação ao Museu de Tragédias, cansa. A mídia é este museu. Nós, gaúchos, temos o pior showrnalismo do país. Imaginem é ZEroLÂNDIA ou “Correio do Povo”, ou “O Sul” ou “Jornal do Comércio”. É tudo frio. E ninguém diz nada nos cursinhos de comunicologia. O que vale é o ensino da covardia.

Créditos: dialogico


Nosso Tempo









Carlos Drummond de Andrade


I
Esse é tempo de partido,

tempo de homens partidos.


Em vão percorremos volumes,

viajamos e nos colorimos.

A hora pressentida esmigalha-se em pó na rua.

Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos.

As leis não bastam. Os lírios não nascem

da lei. Meu nome é tumulto, e escreve-se

na pedra.


Visito os fatos, não te encontro.

Onde te ocultas, precária síntese,

penhor de meu sono, luzdormindo acesa na varanda?

Miúdas certezas de empréstimos, nenhum beijo

sobe ao ombro para contar-me

a cidade dos homens completos.


Calo-me, espero, decifro.

As coisas talvez melhorem.

São tão fortes as coisas!

Mas eu não sou as coisas e me revolto.

Tenho palavras em mim buscando canal,

são roucas e duras,

irritadas, enérgicas,

comprimidas há tanto tempo,

perderam o sentido, apenas querem explodir.


II

Esse é tempo de divisas,tempo de gente cortada.

De mãos viajando sem braços,

obscenos gestos avulsos.


Mudou-se a rua da infância.

E o vestido vermelho

vermelho

cobre a nudez do amor,

ao relento, no vale.


Símbolos obscuros se multiplicam.

Guerra, verdade, flores?

Dos laboratórios platônicos mobilizados

vem um sopro que cresta as facese dissipa, na praia, as palavras.


A escuridão estende-se mas não elimina

o sucedâneo da estrela nas mãos.

Certas partes de nós como brilham! São unhas,

anéis, pérolas, cigarros, lanternas,

são partes mais íntimas,

e pulsação, o ofego,

e o ar da noite é o estritamente necessário

para continuar, e continuamos.

Créditos: Erick da Silva


Melvin Taylor

melvin

Links: José Reinaldo

Post: Dione


Créditos: Lagrimapsicodelica

Seguindo a saga de blues de alta qualidade, fica aqui a discografia do Melvin Taylor. Um cara que faz blues com a alma e o coração, dignos do mestre Stevie Ray Vaughan.

Deliciem-se....

1982 Blues On The Run

Blues On The Run - Capa

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1984 Plays The Blues For You

Plays The Blues For You - Capa

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1995 Melvin Taylor & The Slack Band

Melvin Taylor & The Slack Band - Capa

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1997 Melvin Taylor & the Slack Band - Dirty Pool

Dirty Pool - Capa

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2000 Melvin Taylor & The Slack Band - Bang That Bell

Bang That Bell - Capa

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2002 Rendez-vous With The Blues

Rendez-vous With The Blues - Capa

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...tá difícil de parar de escutar...

Cuba - Socialismo: O nome político do amor


Frei Betto *
Adital


Por que o socialismo, em tese uma alternativa humanitária ao capitalismo, fracassou na Europa e na Ásia? O capitalismo teve a esperteza de, ao privatizar os bens materiais, socializar os bens simbólicos. De dentro do barraco de uma favela uma família miserável, desprovida de direitos básicos como alimentação, saúde e educação, pode sonhar com o universo onírico das telenovelas e ter fé de que, através da loteria, da sorte, da igreja que lhe promete prosperidade ou mesmo da contravenção, haverá de ter acesso aos bens supérfluos.

O socialismo cometeu o erro de, ao socializar os bens materiais, privatizar os simbólicos, e confundiu crítica construtiva com contra-revolução; cerceou a autonomia da sociedade civil ao atrelar ao partido os sindicatos e movimentos sociais; coibiu a criatividade artística com o realismo socialista; permitiu que a esfera de poder se transformasse numa casta de privilegiados distantes dos anseios populares; e cedeu ao paradoxo de conquistar grandes avanços na corrida espacial e não ser capaz de suprir devidamente o mercado varejista de gêneros de primeira necessidade.

Hoje, resta Cuba como exemplo de país socialista. Todos conhecemos os desafios que a Revolução enfrenta às vésperas de seu meio século de existência. Sabemos dos efeitos nefastos do bloqueio imposto pelo governo dos EUA e de como a queda do Muro de Berlim deteriorou a economia da Ilha.

Apesar de todas as dificuldades, nesses 49 anos a Revolução logrou assegurar a 11,2 milhões de habitantes os três direitos básicos: alimentação, saúde e educação. Elevou a auto-estima da cidadania cubana, que tão bem se expressa em suas vitórias nos campos da arte e do esporte, bem como na solidariedade internacional, através de milhares de profissionais cubanos das áreas da saúde e da educação presentes em mais de uma centena de países do mundo, em geral em regiões inóspitas marcadas pela pobreza e a miséria.

O socialismo cubano não tem o direito de fracassar! Se acontecer, não será apenas Cuba que, como símbolo, desaparecerá do mapa, como ocorreu à União Soviética. Será a confirmação da funesta previsão de Fukuyama, de que "a história acabou"; a esperança - uma virtude teologal para nós, cristãos - findou; a utopia morreu; e o capitalismo venceu, venceu para uns poucos - 20% da população mundial que usufrui de seus avanços - sobre uma montanha de cadáveres e vítimas.

Nós, amigos da Revolução cubana, não esperamos de Cuba grandes avanços tecnológicos e científicos, serviços turísticos de primeira linha, medalhas de ouro em disputas desportivas. Esperamos mais do que isso: a ação solidária de que falava Martí; a felicidade de um povo construída em base a valores éticos e espirituais; o princípio evangélico da partilha dos bens; a criação do homem e da mulher novos, como sonhava o Che, centrados na posse, não dos bens finitos, e sim dos bens infinitos, como generosidade, desapego, companheirismo, capacidade de fazer coincidir a felicidade pessoal com os sucessos comunitários.

Em resumo, almejamos que, em Cuba, o socialismo seja sempre sinônimo de amor, que significa entrega, compromisso, confiança, altruísmo, dedicação, fidelidade, alegria, felicidade. Pois o nome político do amor não é outro senão socialismo.

[Autor de "A mosca azul - reflexões sobre o poder" (Rocco), entre outros livros]


* Frei dominicano. Escritor.
Escândalo à moda gaúcha


Mauricio Dias - Carta Capital


Embora seja ignorado pela imprensa do Sudeste, o vento político provocado no Rio Grande do Sul pela CPI do Detran, instalada na Assembléia Legislativa de Porto Alegre a partir das ações da Polícia Federal, sopra tão forte quanto o minuano pelo Pampa gaúcho.

O “silêncio retumbante” no Sudeste talvez se explique pelo fato de o escândalo, um desvio de dinheiro público calculado em quase 45 milhões de reais, em um período de cinco anos, ter como causa mais provável a formação de caixa 2 de campanhas eleitorais, notadamente do PSDB. Eventualmente pode ter propiciado o enriquecimento ilícito de alguns dos atores. Em frase que junta práticas políticas do século XXI com ensinamentos do Padre Vieira (século XVII), o “dinheiro não contabilizado” nem sempre passa das mãos por onde passa.

O esquema foi iniciado em 2003 e desmontado pela Polícia Federal em novembro de 2007. Segundo o Inquérito da PF, o Departamento de Trânsito contratou, sem licitação, uma fundação, a Fatec, ligada à Universidade Federal de Santa Maria para aplicar as provas teóricas e práticas da carteira de habilitação.

Quem mais lucrou com o contrato foram as empresas ligadas à família de Lair Ferst, um dos coordenadores da campanha da atual governadora do estado, a tucana Yeda Crusius. Duas empresas da família Ferst receberam, juntas, mais de 23 milhões de reais. Lair Ferst integrou a direção da vitoriosa campanha do PSDB para o governo do estado, em 2006. Em dezembro de 2007 estava entre os 13 presos apanhados no arrastão da Polícia Federal.

Há mais gente envolvida da base aliada da governadora. Na época em que a roda da fortuna começou a girar, o deputado José Otávio Germano, do PP, era o secretário de Justiça ao qual está subordinado o Detran. Em 2007, com o novo governo, foi estabelecido outro contrato com a Fundae, da mesma cidade. Com a Fatec e a Fundae, o contrato que custava cerca de 900 mil reais por mês chegou perto da casa dos 2 milhões de reais mensais.

Em março, ao encaminhar o inquérito ao Ministério Público Federal, a PF pediu o indiciamento de 39 pessoas, incluindo deputados e secretários de estado que dispõem de foro privilegiado. Os crimes apontados são os de formação de quadrilha, corrupção ativa e passiva e peculato, entre outros. Todas elas estão sendo chamadas a depor na CPI do Detran, presidida pelo deputado Fabiano Pereira, do PT.

O episódio mostra o vôo curto e desajeitado da ética tucana. No Sudeste o PSDB acusa. No Sul se defende das denúncias de corrupção. As aves que aqui gorjeiam não gorjeiam como lá.


sábado, 12 de abril de 2008

4º Festival da MPB - TV Record (1968)


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Agronegócio, desenvolvimento e meio ambiente (1)





Rogério Grassetto Teixeira da Cunha

Já escrevi nesta coluna sobre como, por uma destas viradas da vida, passei, há pouco mais de dois anos, a escrever artigos sobre temas ligados à criação animal e ao processamento de carnes, o que me levou a freqüentar feiras ou encontros científicos ligados ao agronegócio. Nas palestras a que assisto nesses eventos, noto alguns aspectos constantes, como comentários (obviamente acríticos) enaltecedores das virtudes do agronegócio em termos de participação e expansão do PIB, geração de empregos, volume de exportações etc. É corriqueiro ainda perceber um enfoque, subjacente ou explícito, de defender-se ou procurar-se sempre mais e mais crescimento, esta insana e insustentável obsessão da economia.

Por outro lado, também vejo muitas ressalvas à questão ambiental do tipo: "e podemos crescer ainda respeitando o meio ambiente". Tenho cá as minhas dúvidas sobre a sinceridade destas afirmações e o quanto elas refletirão a realidade dos nossos campos. Para mim, parecem discursos vazios, incluídos apenas porque o tema está na moda e porque certos países importadores são rigorosos neste quesito. Mas qual é a relação real entre agronegócio, desenvolvimento e meio ambiente? Não pretendo, obviamente, esgotar o assunto, que daria material para um livro inteiro. Mas pretendo aqui estabelecer um contraponto crítico a esta visão dogmática reinante.

Em primeiro lugar, considero que usar o termo "agronegócio" já é problemático de saída, pois ele abrange setores bastante distintos em termos econômicos e sociais, colocando coisas muito diferentes num mesmo balaio. Por exemplo, o setor da soja abrange uma produção rural altamente mecanizada (portanto geradora de poucos empregos), com propriedades de tamanhos diversos (menores na região Sul e de grandes a enormes no Centro-Oeste, Norte e em parte do Nordeste). Em termos de processamento e exportação, o setor é dominado por poucos e fortes grupos intermediários, uma porção substancial deles de origem estrangeira (as famosas empresas do grupo ABCD: ADM, Bunge, Cargill e DuPont). O processamento também não é muito sofisticado (logo não gera muitos empregos) e uma parte do dinheiro que entra com as exportações sai de volta na remessa de lucros, pagamento de royalties e ‘otras cositas’ do gênero. Aliás, os governos gostam de falar só na balança comercial do país, mas escondem ao máximo a balança de pagamentos, que é tudo que entra menos tudo que sai de dinheiro. Isto porque esta última é minguada, minguada, e divulgar estes dados evidenciaria a real contribuição (ou a falta dela) ao país.

Já o setor de frangos, por exemplo, possui uma lógica bastante diferente. A produção é concentrada no sul do país, em pequenas propriedades integradas a grandes empresas, em sua maioria de capital nacional (Aurora, Perdigão, Sadia etc.), e o setor possui uma maior agregação de valor que no caso anterior, portanto gerando mais empregos. O dinheiro das exportações não volta ao exterior, como no caso da soja.

E assim poderíamos seguir com cada um dos principais setores ligados ao campo: álcool/açúcar, gado, milho, suínos, tabaco (sim, infelizmente um dos setores nos quais o Brasil se destaca), laranja, arroz e produtos florestais, madeireiros e não madeireiros. Cada um apresenta suas especificidades em termos de regionalização, nível de mecanização da produção, tamanho das propriedades, presença e nacionalidade de processadores/empresas intermediárias, número de empregos gerados, nível de agregação de valor ao produto etc. E as diferenças obviamente seguem também no campo ambiental.

Então, não há essa relação absoluta que se quer estabelecer entre agronegócio considerado como um bloco monolítico e desenvolvimento do país. Há que se pensar em cada cultura separadamente. Há setores que promovem mais emprego, renda e geração de divisas e setores que geram menos de tudo isto. Seria preciso ainda, a meu ver, considerar a contribuição de cada setor em termos relativos e comparativos a outros setores industriais e de serviços. Assim, para cada cultura, quantos empregos são produzidos por milhão de reais de receita, de lucro, de exportação ou de qualquer outro índice relativo que permita comparações, geralmente obscurecidas por números absolutos? Este índice é certamente maior para a maioria dos setores industriais e de serviços quando comparados à maioria dos setores do agronegócio. Para exemplificar, a produção de um milhão de reais em chips de computador seguramente gera muito mais empregos que o mesmo valor em grãos de soja.

Seria interessante também avaliar e comparar como a renda é distribuída ao longo de toda a cadeia produtiva. Aqui, imagino que alguns poucos setores agrícolas (baseados em propriedades menores, por exemplo) estejam melhores que certos setores industriais. Embora, no geral, o nosso sistema econômico atual trabalhe sempre com uma grande desigualdade na distribuição da riqueza gerada.

No item comércio exterior, se formos pensar em primeiro lugar na nossa população e país, concluiremos que é um absurdo exportarmos tanta comida, quando ainda há bolsões de fome e miséria no país. Neste caso, pouco importa se a culpa é do agricultor, do intermediário, do exportador, do governo ou do sistema. O que importa é que isto é, conceitualmente, um disparate e os governos deveriam ser firmes na reversão deste quadro. Mais absurdo ainda é exportarmos litros e mais litros de combustível (e querermos exportar mais ainda), produto com baixíssimo valor agregado, ocupando (e ampliando) espaço de terras produtivas e ajudando o desenvolvimento de outros países, sem nem ao menos termos completado a conversão de toda a nossa matriz de transportes.

Mas nos quesitos de emprego e renda, a agricultura poderia dar uma contribuição muito maior ao desenvolvimento do país com algumas modificações na estrutura do modelo adotado. Por exemplo, deveríamos contar com um plano decente de reforma agrária, com apoio técnico qualificado e constante após a distribuição de terras e também critérios mais claros e objetivos para a cessão de terras, controle do uso e punição de eventuais abusos. Deveríamos incentivar mais fortemente a agricultura familiar. Outros pontos interessantes são o favorecimento do cooperativismo e o incentivo ao estabelecimento de agroindústrias pelas próprias cooperativas.

Finalmente, seria necessário exercer um maior controle sobre a atuação dos intermediários no processo (agroindústrias, esmagadoras, processadoras, usinas, frigoríficos) para evitar a exploração do produtor, a formação de cartéis, a uniformização de preços. Com tudo isto, a distinção entre agronegócio, agricultura familiar e reforma agrária poderia aos poucos ir tornando-se menos aguda e ideologizada.

Isto tudo no quesito desenvolvimento. E no campo ambiental, preocupação tão relevante para esta coluna e colunista quanto a social? Aqui também quase todos os setores do chamado agronegócio patinam, mas isto é assunto para o próximo artigo.

Rogério Grassetto Teixeira da Cunha, biólogo, é doutor em Comportamento Animal pela Universidade de Saint Andrews. E-mail: rogcunha@hotmail.comEste endereço de e-mail está protegido contra spam bots, pelo que o Javascript terá de estar activado para poder visualizar o endereço de email