terça-feira, 6 de maio de 2008

Alimentação: Se não têm arroz, que comam batata


Por Thalif Deen.

IPS.

Nações Unidas – Quando multidões de camponeses famintos se queixavam da escassez de pão na França do século XVII, a reina Maria Antonieta lançou um comentário hoje célebre: “Que comam bolo”.

Os historiadores polemizam sobre essa declaração de aparência cruel. Alguns alegam que foi mal citada ou mal traduzida.

Porém, não houve ambigüidade nas declarações atribuídas ao comandante do exército de Bangladesh e chefe do governo interino, general Moeen U. Ahmed, quem recomendou aos seus compatriotas que, se não têm arroz, deveriam comer batatas.

Enquanto a crise alimentaria continua expandindo-se por todas as nações em desenvolvimento, o preço do alimento básico dos perto de 150 milhões de habitantes de Bangladesh aumenta: só em março se encareceu em 87 por cento, segundo o Programa Mundial de Alimentos (PMA).

Bangladesh, que espera produzir uns oito milhões de toneladas de batatas este ano – foram cinco milhões em 2007 -, tem sido pragmática, ao passar de um alimento básico a outro.

O rancho dos soldados bengalis inclui agora 125 gramas de batatas diárias, “independentemente do seu cargo”, disse o general Ahmed, no almoço com diretores de jornais em Dhaka no mês passado.

Segundo o jornal da capital, Daily Star, o menu incluiu, nessa ocasião, batatas fritas, sopa de batatas, batatas com espinafres, pudim de batatas e outros pratos com esse tubérculo.

Um jornalista disse que os cozinheiros do exército, ao fim de um dia estafante na cozinha, tinham ficado sem receitas.
Coincidentemente, a Organização das Nações Unidas (ONU) comemora o “Ano Internacional da Batata”, em uma tentativa de “aumentar a consciência sobre a importância” deste produto “como alimento nas nações em desenvolvimento”.
Bangladesh, localizado pela ONU entre os 50 países menos adiantados do mundo, sofreu duas severas enchentes e um ciclone que destruíram arredor de três milhões de toneladas de grãos no ano passado.
O governo desse país tenta conter os efeitos de uma epidemia de fome de alcance planetário. “O preço dos alimentos, em pronunciada ascensão, converteu-se em uma real crise mundial”, disse semanas atrás à imprensa o secretário geral da ONU, Ban Ki-moon.
A diretora executiva do PMA, Josette Sheeran, disse que os habitantes dos países industrializados gastam apenas entre 15 % e 18 % dos seus ingressos por lar em alimentos, o que melhora sua capacidade de afrontar os desastres e as subidas de preços.

Por outro lado, os lares do mundo em desenvolvimento gastam, na média, arredor de 70% de seus ingressos em alimentos.

Sheeran disse que os elevados preços dos alimentos estão “criando o maior desafio que o PMA afrontou em seus 45 anos de história, um tsunami silencioso que ameaça com sumir na fome a mais de 100 milhões de pessoas de cada continente”.
O PMA, que proporciona assistência alimentária direta, possui um orçamento central de entre 3.100 e 4.300 milhões de dólares anuais. Até agora, só arrecadou 1.000 milhões.

“E, naturalmente, esta soma de 4.300 milhões de dólares não leva em conta o novo rosto da fome”, disse a porta-voz do PMA, Bettina Luescher.

“Também necessitaremos uma quantidade ainda indeterminada para começar a fazer frente ao novo rosto da fome: o que sofrerão quem podiam remediar-se quando o pão estava em 30 centavos a fatia, mas hoje não, pois custa 60 centavos”, observou.

A secretaria geral disse que a ONU está muito preocupada, como todos os outros membros da comunidade internacional. “Devemos atuar imediatamente de modo concertado”, disse Ban.

O Conselho Econômico e Social da ONU tem programada uma reunião sobre segurança alimentária a meados de maio, e depois uma cúpula patrocinada pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) que se realizará de 3 a 5 de junho em Roma.

A crise alimentaria também estará na agenda da cúpula do Grupo dos Oito (G-8) países mais poderosos que terá lugar em julho no Japão.

Consultado sobre como deveria abordar o foro mundial a crise alimentaria, o secretário geral disse à imprensa: “No curto prazo, devemos abordar todas as crises humanitárias, que têm impactado aos mais pobres dos pobres do mundo, porque 100 milhões de pessoas foram conduzidas a esta crise de fome adicional”.

Ban disse que o mês passado convocou o Grupo Diretivo da África para os Objetivos do Desenvolvimento do Milênio. Na reunião, disse: “Adotamos várias recomendações importantes, que aprovamos como uma das iniciativas para tentar lançar a revolução verde africana”.

Este assunto se discutirá em profundidade com todas as agências, os chefes de agências, fundos e programas da ONU, assim como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, disse Ban.

“Depois tentaremos ver que tipo de ações imediatas e ao longo prazo podemos adotar como parte de uma iniciativa liderada pela ONU”, assinalou. (FIN).

Versão em português: Raul Fitipaldi de América Latina Palavra Viva.

domingo, 4 de maio de 2008

É CAMPEÃO....É CAMPEÃO....É CAMPEÃO....

É CAMPEÃO....

MASSACRE NO BEIRA-RIO....

COLORADO 8 X 1 EX-TÔCA...
Eu nunca fui um neoliberal, diz FHC em entrevista no exterior

Durante uma entrevista no exterior, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso elogia Lula, diz que ele é “uma representação simbólica para o País”, além de dizer que a pobreza teve uma queda “impressionante”. FHC também frisou que “nunca fui um neoliberal”.


Quando mencionou alguns dados, de que a pobreza reduziu de 40% para 28% desde 1995, FHC foi interrompido para ouvir: “Desculpe-me Cardoso, mas muitos brasileiros diriam que a redução da pobreza tem sido muito mais efetiva e muito mais acelerada depois que o senhor deixou o governo e a partir da posse do presidente Lula. A percepção é que Lula destinou mais recursos”, disse o entrevistador.


- É verdade, disse FHC.

Quando falaram sobre corrupção, a entrevista teve um caráter revelador. FHC disse que em seu governo “não existiu nenhum caso de alguém que tenha sido indiciado, ou acusado que tenha sido protegido por mim”.

O entrevistador rebateu: “O senhor nomeou para o cargo de procurador geral o senhor Geraldo Brindeiro, que permaneceu no cargo durante anos e, segundo a imprensa brasileira, recebeu mais de 600 processos criminais contra funcionários do governo, tendo arquivado a grande maioria, o que lhe rendeu o apelido de ‘Engavetador Geral’. E o senhor quer então me dizer que não havia nada de errado no governo durante os seus mandatos, ou ele simplesmente resolveu sentar nos processos?”.

FHC foi categórico. “Ele era independente para tomar suas decisões”.

“Mas foi o senhor que nomeou ele”, indagou o entrevistador.


Assista aos vídeos

1ª parte:
http://www.youtube.com/watch?v=o0t2i5mv1cs

2ª parte:
http://www.youtube.com/watch?v=30O47FolIbI&feature=related

créditos: AHoraEAVez

Joe Satriani - Professor Satchafunkilus and the Musterion of Rock - 2008

sábado, 3 de maio de 2008

John Lee Hooker - Endless Boogie (1971)

http://i306.photobucket.com/albums/nn266/photoapo/Covers/JLH_Endless_front.jpg

John Lee Hooker - Endless Boogie (1971)
mp3 320 Kbps 164 Mb (covers) MCA Total time: 72:40


Faixas:
1. (I Got) A Good un 5:14
2. House Rent Boogie 6:23
3. Kick Hit 4 Hit Kix U (Blues For Jimi And Janis) 6:43
4. Standin At The Crossroads 6:07
5. Pots On, Gas On High 11:23
6. We Might As Well Call It Through (I Didnt Get Married To Your Two-Timing Mother) 8:04
7. Doin' The Shout 3:31
8. A Sheep Out On The Foam 6:30
9. I Dont Need No Steam Heat 4:18
10. Sittin' In My Dark Room 5:38
11. Endless Boogie, Parts 27 And 28 8:43
All song written by John Lee Hooker

Personagens:
John Lee Hooker (Guitar and Vocal)
Cliff Coulter (Electric Piano and Guitar) - 1,3,5,6,8-11
Steve Miller (Guitar) - 1-4,7,9-11
Mel Brown (Guitar) - 1,9-11
Gino Skaggs (Fender Bass) - 1-4,7,8,10
Billy Ingram (Drums) - 1,10
Mark Naftalin (Piano) - 2-6,9-11
Dave Berger (Harmonica) - 2,11
Dan Alexander (Guitar) - 2,8
Ken Swank (Drums and Tambourine) - 2-4,7,8,11
Jesse Davis (Guitar) - 5,6
Carl Radle (Fender Bass) - 5,6
Jim Gordon (Drums) - 5,6
John Turk (Electric Piano and Organ) - 9,11
Reno Lanzara (Drums) - 9,11
Jerry Perez (Guitar) - 11

Download abaixo:

http://www.filefactory.com/file/b0120d/


Todas as mulheres do mundo

Como a condição feminina mudou ao longo da história. De primeira dama do paraíso, virgem santíssima e carolas a Madonas, Leilas Diniz e mulheres-maravilha — muitas vezes à beira de um ataque de nervos. Preconceitos, assédios, triplas jornadas de trabalho: a mulher do século 21

Cláudio César Dutra de Souza, Sílvia Ferabolli

Pegamos emprestado o título do filme de Domingos de Oliveira, de 1966, com Paulo José e a paradigmática Leila Diniz no auge de sua beleza e talento, para fazer algumas reflexões pertinentes sobre o panorama histórico da condição feminina.

Há milênios, a mulher é submetida por formas mais ou menos explícitas de violência e contenção. A primeira é descrita no gênesis bíblico, no qual nossa mãe Eva é alçada a uma condição de inferioridade ao homem, primeiro por ser um “subproduto” de uma parte de seu corpo e não o resultado vivo do sopro divino como fora Adão. Em seguida, Eva é feita culpada pela expulsão do Éden, ao tomar parte ativa no processo de desobediência divina, ao dar ouvidos à serpente e, por conseqüência, nos jogando para fora da boa vida paradisíaca.

Segundo o culto mariano católico, mesmo num casamento restrito e monogâmico, a mulher é impura - já que não é possível ser mãe e virgem

Antes de Eva havia o mito de Lilith. No Talmude, ela é descrita como a primeira mulher de Adão que, devido a sua insubmissão a um plano divino que a colocava como naturalmente inferior, foi lançada aos infernos, como Lúcifer, tornando-se, entre outras coisas, o símbolo do desregramento sexual e sedução maligna. Características que alertavam para perigos envolvidos em um papel mais ativo da mulher. Na era cristã, a Virgem Maria apareceu como resgate e modelo para a mulher nos próximos séculos. Infelizmente, o culto mariano impõe à mulher um modelo nocivo ao seu desenvolvimento subjetivo. Mesmo dentro de um casamento restrito e monogâmico, ela jamais seria suficientemente “pura” - ostentando em si a vergonhosa mácula do pecado sexual, visto que a maternidade e a virgindade são obviamente incompatíveis.

Em qualquer revisão histórica que se efetue da condição feminina, chegam-se a conclusões semelhantes que apontam para períodos mais ou menos misóginos [1] no Ocidente. A Igreja Católica de 2008 é contida pelo Ocidente laico que, a partir do Renascimento, vem limitando, a muito custo e com relativo sucesso, o seu poder imperial. Se assim não fosse, as idéias do Vaticano na atualidade não difeririam muito de seus ancestrais medievos. Exemplo disso são as declarações dos últimos dois papas acerca da condição feminina, fatalmente ligadas aos pecados da carne, aborto, sexualidade e comportamentos sociais diversos. “Tirem os vossos rosários de nossos ovários”, bradam as feministas ainda hoje. E com razão.

Em contrapartida, por meio da luta de mulheres e homens, principalmente no século 20, foram formuladas leis de proteção e benefícios fundamentais à correção de injustiças de gênero históricas. Porém, elas, paradoxalmente, não inibem violências das mais diversas contra a descendência de Eva. Ainda hoje, mulheres vivem sob jugo patriarcal e, em certos casos, sofrem violências sob o beneplácito do próprio Estado, que, ou introduz a submissão em seu breviário de leis, ou é frouxo no julgamento e condenação com bases na honra viril maculada. Notadamente presente em países como a China, Tailândia, algumas regiões da África e Oriente Médio e também na América Latina, essa característica possui tentáculos suficientemente grandes para abarcar países do "primeiro mundo", que não são de modo algum isentos de registros de violência e contenção do gênero feminino.

Nada contra uma mulher adulta usar o corpo como lhe convier - inclusive fazendo sexo remunerado. O que preocupa é a relação submissa que a prostituiçao cria, sob mediação do dinheiro

Poderíamos pensar que há algo de errado com os homens... Será? Descartando, por ora, aqueles que são mais ignorantes ou provenientes de culturas que reduzem a importância do feminino, nos deteremos naqueles que possuem educação cultural e meios favoráveis para um comportamento menos machista e opressor com as mulheres. Porém, não se furtam de ser cúmplices do turismo sexual do terceiro mundo, de pertencerem a redes internacionais de pedofilia e de perpetrarem de forma oculta aquilo que já não podem fazer às claras.

Donos dos meios de produção, pertencentes à elite branca e dominante, tais homens perceberam, há muito, que existem formas sutis de burlar as regras às quais estão submetidos para poderem dar vazão ao primitivismo que resiste ainda dentro de si. A primeira e mais evidente se dá no território da prostituição. Ela prospera a passos largos no mundo inteiro. Clientes cada vez mais fiéis e assíduos utilizam-na como forma de exercer menos a sexualidade do que uma relação de poder onde, sob a mediação do dinheiro, se tem a mulher que se quer e da forma mais conveniente. A manutenção da indústria da prostituição tem como princípio a miséria de mulheres e meninas nas regiões mais vulneráveis do planeta e a demanda sempre crescente por esse serviço.

Não somos contrários à decisão de uma mulher adulta usar o seu corpo da forma como mais lhe convier, e isso pode incluir o ato sexual mediante remuneração. Contudo, preocupa-nos que esse homem descrito anteriormente está sempre ávido por “carne nova” e, ao que parece, cada vez mais jovem. Para isso não hesita em aproveitar-se da indigência financeira e moral que acomete alguns países do terceiro mundo, cujo comércio de escravas sexuais movimenta altas somas financeiras e destrói a vida de adolescentes e crianças, vítimas das mais cruéis situações de maus-tratos e violência.

Nas grandes empresas, esse mesmo homem aprendeu a valer-se da mão-de-obra feminina. Farta e abundante, está sempre disposta a dar o melhor de si no ambiente laboral, visto que o fantasma de suas avós, dependentes e oprimidas, ainda se faz presente em uma mulher que hoje em dia coloca a carreira em pé de igualdade com o desejo de casar e ter filhos. E por que seriam excludentes ambas as coisas? Infelizmente as pioneiras da década de 50 a 70 pagaram um alto preço pela sua independência. Eram vistas como condenadas a ser pouco atraentes e frustradas no campo amoroso, em troca de ascensão profissional. É algo que a mulher contemporânea já não aceita. E, graças a isso, temos as famosas duplas, triplas e quádruplas jornadas da mulher. Acorda cedo, trabalha o dia todo, dá atenção à cria e de noite é esposa atenciosa e uma amante ardente para o seu marido que, por ser homem, não precisa provar muita coisa, já que, historicamente, esse sempre teve valor em si e, de certa forma, ainda mantém essa premissa interiorizada.

Modelo por modelo, preferimos a Leila Diniz: subversiva sem ser patrulhadora, amante sem acrobacias, maternal sem culpas, trabalhadora consciente de seu valor, sedutora sem ser manipuladora

Nas classes populares percebe-se a incidência cada vez maior de um matriarcado estabelecido a partir de condições sociais que destacam uma situação favorável ao trabalho feminino, em contraste ao masculino. Mulheres da periferia obtêm renda como manicures, cozinheiras, costureiras, babás, faxineiras, ou, na pior das hipóteses prostitutas - trabalhos tradicionalmente associados ao feminino. Os homens nessas mesmas condições percebem a sua capacidade tradicional de trabalho diminuída no que se refere às atividades mais tradicionalmente ligadas ao masculino, seja por terem que dividi-las com as mulheres, seja pela perda de postos de trabalho ou exigências cada vez maiores de qualificação para ocupá-las. Assim não são raros os homens ociosos, alcoolistas e, muitas vezes, violentos com suas mulheres – aquelas mesmas que arcam com o orçamento familiar, custos de criação dos filhos e que, não raro, sofrem com a violência e desprezo masculino, que insiste em negar-lhes o valor merecido. De acordo com a pesquisa do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), feita no Brasil em 1998, a violência doméstica é a causa de uma a cada cinco faltas de mulheres ao trabalho [2].

É uma premissa comum no universo do liberalismo econômico o de capitalizar as revoluções a fim de domesticá-las e inseri-las em um contexto lucrativo e palatável. E a revolução feminina das últimas décadas parece não fugir a essa mesma regra. Tendo adquirido o direito a uma sexualidade livre, a mulher ainda continua a sofrer com estigmas morais e a perder o seu valor com o declínio da beleza e da juventude. Tendo conseguido ascender ao mercado de trabalho, sofre explorações, assédios e humilhações. Isso reflete-se na vida pessoal, tornando-a estressante e sofrida, o que acarreta em moléstias que vão da depressão, ausência de libido até moléstias cardíacas - que incidem de forma cada vez mais preocupante no universo feminino.

Tais exemplos sugerem que talvez a mulher pós-feminista tenha tornado-se um bom negócio comercial, sexual e laboral. O que poderia ter dado errado em décadas de lutas feministas então? Talvez Camille Paglia tenha algumas respostas. Ela denuncia o feminismo xiita e politicamente correto dos anos 70, que tentou anular algumas premissas básicas em relação á estruturação subjetiva daquilo que nomeamos como o “feminino”, criticando violentamente a geração de Betty Friedan e o feminismo militante que anulava as diferenças entre os sexos. Palavras de Camille na Folha de São Paulo do dia 27 de março de 2006: "No começo dos anos 90 eu declarei guerra contra o stalinismo do politicamente correto no establishment feminista. Isso causou controvérsia, especialmente minha defesa da pornografia e das revistas de moda. Mas, graças à Madonna, minha ala do feminismo ganhou a batalha. Ela influenciou uma geração de mulheres que abraçou novamente o sexo e a beleza."

Afora os deslumbramentos de Miss Paglia, Madonna certamente é um ícone da modernidade, que fornece algumas pistas para o entendimento das benesses e das armadilhas em que as mulheres se vêem envolvidas atualmente, na ânsia de buscarem o absoluto, que é reservado a poucas (e poucos). Modelo por modelo, ao invés da apolínea popstar norte-americana, optamos pela nossa dionisíaca Leila Diniz que, na década de 60, já previa a multiplicidade de formas e contradições do feminino, que cada vez mais se pronunciam nesse milênio, só que de uma forma mais fluídica e prazerosa. Desobrigada da perfeição estética e da produção maquinal de gozos, Leila era subversiva sem ser patrulhadora, amante sem acrobacias, maternal sem culpas, trabalhadora consciente de seu valor, sedutora sem ser manipuladora, enfim, essa foi a imagem quase arquetípica que dela ficou.

Nunca a mulher desfrutou de tanta liberdade como hoje, em certos agrupamentos sociais. E o avanço da condição feminina só acrescenta, ao universo masculino, a companhia de uma mulher mais plena

Estamos convencidos de que o avanço da condição feminina só acrescenta benesses ao universo masculino, que, ao longo das últimas décadas, desfruta da companhia de uma mulher mais plena e companheira. Nunca ela desfrutou de tanta liberdade em certos agrupamentos sociais como nos dias de hoje. Infelizmente, ecos medievais ainda subsistem nos corações e mentes. Até mesmo nos daqueles que, aparentemente, se apresentam como os mais evoluídos, sendo que ainda estamos longe do ideal de igualdade entre os gêneros, visto que basta a experiência de uma guerra para que o nosso verniz civilizatório venha por água abaixo [3].

Mudar a mentalidade masculina torna-se um imperativo para que possamos reduzir comportamentos agressivos e misóginos no mundo atual. Para isso, entendemos ser necessário uma conscientização feminina no sentido de que as mulheres assumam a sua parcela de culpa na transmissão de inúmeros preconceitos. Principalmente, na educação das crianças, da qual ainda são as grandes responsáveis direta, como mãe e indiretamente como educadoras, visto que a quase totalidade desse ramo profissional, mais incisivamente na América Latina, se constitui de mulheres que, não raro, educam meninos e meninas sob as regras mais conservadoras possíveis - fato que, na maioria dos casos, não lhes é consciente.

Temos esperanças de que as reivindicações e lutas em prol de uma sociedade menos sexista e injusta frutifiquem nas próximas décadas. Mas para que isso se cumpra, ainda há muitas lutas a empreender. Recordemos, por exemplo, que somente com o novo Código Civil, que passou a valer a partir de 2003, o homem deixou de ser considerado como a “cabeça do casal”, bem como foram suprimidos outros arcaísmos humilhantes tal como o bizarro conceito de “mulher honesta” [4]. Que o Dia Internacional da Mulher, que comemoramos no mês de março, não sirva apenas para afagos e flores compensatórias, mas que seja também o dia em que Eva, Lilith, a Virgem Maria, Madonna, Leila Diniz, Condoleeza Rice, a mãe, a virgem, a puta, a trabalhadora, enfim, todos os arquétipos e estereótipos possam se unir em um ser integral pleno de contradições, qualidades, defeitos e subjetividades inerentes a qualquer ser humano, independente do gênero a que pertença.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Consumo Solidário e Responsável
Como deveria ser o consumo humano?

Por Leonardo Boff.

O consumismo que a cultura do capital gestou está na base da fome de bilhões de pessoas e da atual falta de alimentos da humanidade. Face a tal situação como deveria ser o consumo humano?

Em primeiro lugar o consumo deve ser adequado à natureza do ser humano. Esta, por um lado, é material, enraizada na natureza e precisamos de bens materiais para subsistir. Por outro lado, é espiritual que se alimenta com bens intangíveis como a solidariedade, o amor, a acolhida e a abertura ao Infinito. Se estas duas dimensões não forem atendidas nos tornaremos anêmicos no corpo e no espírito. Em segundo lugar, o consumo precisa ser justo e equitativo. A Declaração dos Direitos Humanos afirma que a alimentação é uma necessidade vital e por isso um direito fundamental de cada pessoa humana (justiça) e conforme as singularidades de cada um (equidade). Não atendido este direito, a pessoa se confronta diretamente com a morte.

Em terceiro lugar, o consumo deve ser solidário. É solidário aquele consumo que supera o individualismo e se auto-limita por causa do amor e da compaixão para com aqueles que não podem consumir o necessário. A solidariedade se expressa pela partilha, pela participação e pelo apoio aos movimentos que buscam os meios de vida, como terra, moradia e saúde. Implica também a disposição de sofrer e de correr riscos que tal solidariedade comporta.

Em quarto lugar, o consumo há de ser responsável. É responsável o consumidor que se dá conta das conseqüências do padrão de consumo que pratica, se suficiente e decente ou sofisticado e suntuoso. Consome o que precisa ou desperdiça aquilo que vai faltar na mesa dos outros. A responsabilidade se traduz por um estilo sóbrio, capaz de renunciar não por acetismo mas por amor e em solidariedade para com os que sofrem necessidades. Trata-se de uma opção pela simplicidade voluntária e por um padrão conscientemente contido, que não se submete aos reclamos do desejo nem às solicitações da propaganda. Mesmo que não tenha conseqüências imediatas e visíveis, esta atitude vale por ela mesma. Mostra uma convicção que não se mede pelos efeitos esperados mas pelo valor que esta atitude humana possui em si mesma.

Por fim, o consumo deve ser realizador da integralidade do ser humano. Este tem necessidade de conhecimento e então consumimos os muitos saberes com o discernimento sobre qual deles convém e edifica. Temos necessidade de comunicação e de relacionamentos e satisfazemos esta necessidade alimentando relações pessoais e sociais que nos permitem dar e receber e nesta troca nos complementamos e crescermos. Às vezes esta comunicação se realiza participando de manifestações em favor da justiça, da reforma agrária, do cuidado pela água potável, da preservação da natureza, ou também vendo um filme, assistindo a um concerto, indo a um teatro, visitando uma exposição artística, participando de algum debate. Temos necessidade de amar e de sermos amados. Satisfazemos esta necessidade amando com gratuidade as pessoas e os diferentes de nós. Temos necessidade de transcendência, de ousarmos e de estarmos para além de qualquer limite imposto, de mergurlharmos em Deus com quem podemos comungar. Todas estas formas de consumo realizam a existência humana em suas múltiplas dimensões.

Estas formas de consumo não custam e não gastam energia, pressupõem apenas o empenho e a abertura para a solidariedade, para a compaixão e para a beleza.

Tudo isso não traduz aquilo que pensamos quando falamos em felicidade?

Curtas de Aki Kaurismäki


Curtas de Aki Kaurismäki
(Rocky VI, Thru The Wire, L. A. Woman,
These Boots, Those Were The Days)

Release exclusivo MKO

Cinco vídeos promocionais do grupo Leningrad Cowboys dirigidos por Aki Kaurismäki. Os vídeos contêm, em sua maioria, narrativas deliciosamente absurdas. Rocky VI é uma suposta continuação dos filmes do Sylvester Stalone, dessa vez ambientado na Rússia. Thru The Wire conta a história de um criminoso que escapa da prisão nos EUA e acaba por participar de um show dos Leningrad Cowboys. Those Were The Days é ambientado em Paris, onde um homem encontra dificuldades em ser aceito com seu burro. These Boots é uma versão peculiar da música cantada por Nancy Sinatra e pretende ser uma metáfora da História da Finlândia. L. A. Woman é um clipe da banda Leningrad Cowboys cantando ao vivo, numa performance curiosa.

Gênero: Curta
Diretor: Aki Kaurismäki
País de Origem: Finlândia
Idioma do Áudio: Inglês
IMDB / Ano / Duração:
Rocky VI (1986): 9 min
Thru the Wire (1987): 6 min
Those Were the Days (1992): 6 min
These Boots (1992): 5 min
L. A. Woman (1987): 6 min
Qualidade de Vídeo: DVD Rip
Vídeo Codec: DX50
Áudio Codec: mpga
Áudio Bitrate: 128 Kbps
Resolução: 704x528
Frame Rate: 25.000 FPS
Tamanho: 345 Mb

NÃO ESQUEÇA DE FAZER O REGISTRO NO MAKINGOFF ANTES DE BAIXAR O FILME

Download via torrent:
Arquivo anexado Aki_Kaurismaki_Short_Films.torrent