quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Os caminhos da direita:

Trocar seis por meia dúzia


A cada dia, a cada acontecimento, ou melhor, a cada ação política a direita vai mostrando concretamente a sua força. Durante algum tempo, após os episódios dos golpes militares e, por conseguinte, as torturas, a direita manteve-se à espreita na política. Revestida por um verniz típico da sociedade pequeno-burguesa, ela se reorganizou e tentou adotar um discurso light para uma volta triunfal. Mas que reorganização a direita está pondo em prática? Quais são seus novos interesses? São novos ou são os mesmos?

A burguesia ascendeu quando o renascimento comercial e urbano fixou-se. Logo, a classe social que emergiu na Europa, no século XI, fora a burguesia que dedicava-se às atividades financeiras, e acima de tudo, ao comércio. O que pouca gente sabe é que os burgueses eram moradores dos burgos, ou seja, cidades revestidas por muros, e ainda, que eram preteridos pelos nobres e pelos artesãos. A partir desta organização, mesmo sem saber, a burguesia seria a mãe do capitalismo, responsável pela transformação do mundo nesta grande fazenda de poucos donos e muitos empregados-escravos.

Pois bem, para adentrar nos meandros da política estimulando o comércio, a burguesia também precisou se reinventar. Ou, ainda, mascarar-se de popular. Afastada do centro do poder, pela nobreza, começou a apoiar revoluções onde o proletariado surgia. Muitas revoluções, principalmente a americana, tiveram o apoio da burguesia, para a perpetuação do comércio e a fixação da burguesia na política.

Séculos mais tarde, viu-se uma inversão nos papéis. Aquela classe social alta que ficava à margem da discussão política, agora tornava-se a principal responsável pela organização da direita. A burguesia, com o lucro do comércio, leia-se exploração do proletariado, pôde financiar governos e golpes, que puseram fim às monarquias e introduziam repúblicas que atuavam sob a égide do retorno financeiro. Patrocinar a troca da monarquia pela democracia republicana fora a ação mais lucrativa da dominação da direita.

Para tanto, os séculos se passaram e a direita se perdeu no afã do lucro. Instituíram governos que foram apedrejados pela organização popular, dividiram o mundo entre ricos e pobres e viram as enormes periferias criadas. Insuflaram o capitalismo com o liberalismo, e depois o neoliberalismo, e viram a China, um país comunista, ser a maior economia do mundo capitalista. Empreenderam tanto a lógica do lucro, da economia globalizada, dos amplos avanços tecnológicos, das commodities, e se esqueceram que viviam da especulação e quebraram. Aliás, tentaram quebrar o mundo.

Ao arquitetarem a sua glória na política, esqueceram de combinar com a massa e tiveram mais uma vez que se reinventar. Primeiro disseram que o estigma de direita e esquerda não existia mais, falaram que todos nós éramos liberais, mas não colou. Depois tentaram empurrar, via “mídia abaixo”, que a crise era mundial, e viram os países do BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China), com governos seja na base, seja na atualidade, de centro-esquerda, entrarem e saírem da tal crise com muita segurança. Aliás, países que formam um bloco que será o maior do planeta dentro de alguns anos. Sem conseguir o apoio necessário para se reestruturar, a direita dispôs dois exemplos mais duros.

Para os latinoamericanos, mostrou toda a sua crueldade ao tomar um governo democrático por um golpe militar em Honduras. E, para o mundo, colocou na agenda da mídia a famosa gripe do porco. De um lado mostraram-se vivos contra quaisquer insurgências populares, e de outro lado comprovaram o apoio do seu principal partido, a mídia, que propagou a gripe como novo temor mundial. Ou seja, a pauta não é mais a crise, mas a gripe. Esquecem de dizer que meio milhão de pessoas morrem no Brasil vítima da gripe “comum”. E quantas morrem de dengue? De fome? Até hoje morrem do impaludismo.

Logo, com um discurso convicto e se reabastecendo financeiramente a direita se prepara para recuperar o espaço que perderam para o seu próprio ego. E como estão se reorganizando? Proibindo os bailes funk, como se todo funkeiro fosse marginal. Proibindo com veemência os camelôs e deixando livres grandes lojas sonegadoras de impostos. Cercando as favelas com muros. Construindo presídios em detrimento das escolas. Tratando a maconha como uma droga destruídora de lares, mas permitindo “padres-cantores”, que destilam o seu bálsamo, ou melhor, a sua onda da bitolação. Tantos são os novos caminhos de reagrupamento da direita… Entretanto, um vem chamando mais a atenção, um “novo-velho” caminho é a nova base da direita.

Com o valoroso apoio da mídia, a direita que teve que engolir um torneiro mecânico e um negro presidente. E a tática escolhida é atacar onde estes triunfam. Onde o povo tem mais acesso e possibilidade de transformação, na política. Agora, mais do que nunca, todo político é corrupto. Existe uma grande campanha para a população definitivamente achar que não precisa do político para nada. E assim sendo, a lacuna para a grande festa da direita está aberta. Portanto, o grande caminho da direita é a descaracterização total da classe política para agir novamente de acordo com a sua conveniência. Mas, se não bastasse a campanha de descaracterização da classe política, a direita já dá o seu toque para o grandioso retorno. Imprime na sociedade um modelo do novo político. Oriundo dos partidos comprometidos com a direita, da sociedade organizada, o novo político é centrado, sério, coeso e altamente distante das camadas menos abastadas. O novo político é técnico, frio e, acima de tudo, sem qualquer formação política. Ele só fala por números. Ele é cercado por um grupo de burgueses. Ou seja, ele é o produto da necessidade da direita. E como ele fica popular? Com a necessidade da população em moralizar a política.

Tudo é milimetricamente controlado e orquestrado, nada foge à sua alçada. Tudo deve ser controlado e observado. Números, resultados, a política é norteada como uma empresa. As campanhas são totalmente profissionalizadas. Ele deve estar afastado dos políticos de carreira. Aliás, político de carreira para eles é um grande temor. São tratados como vagabundos, invariavelmente. O novo político que nasce do berço da burguesia é tão velho quando o surgimento da própria burguesia. Este é um modelo obsoleto e totalmente reacionário. Este modelo de político tenta voltar à cena em vários países do mundo e não é possível que não percebamos uma manobra tão velha como esta.

Por fim, sabemos dos erros que muitos políticos cometem. Muitos se perpetuam anos a fio com a corrupção desenfreada. Outros ficam pelo caminho. Porém, sabemos que o país vive uma crise de identidade da classe política muito mais pela necessidade de lucro da direita que da melhoria do povo. Devemos acreditar em políticos sérios, íntegros, honestos? Não, isso é um comportamento comum de qualquer ser humano. A necessidade da política é para a transformação da realidade de um povo sofrido, retirante, e muitas vezes, “criminalizado”. E somente um político pautado nesta transformação poderá mudar qualquer realidade. Mudar não é trocar, mudar é transformar. E colocar um novo nome viciado pela direita, arrebatado pelo novo espectro político “buguês-midiático”, significa atraso e não mudança.

O povo deve, além de observar a história do político, quem o acompanha. Quem são seus pares? O que eles já fizeram pela melhoria dos menos favorecidos? De onde vieram? Quais são seus interesses na política? E não me venham com apoios a orfanatos e outras ações se o povo continua à margem do poder decisório. O verdadeiro político tem na sua base a representação popular, as vozes dos guetos e os sons mais ouvidos de seus pares são sonoros “nãos”, capazes de tirar-lhe qualquer tentação déspota que as urnas podem dar. O verdadeiro político é tomado pela indignação que ferve o sangue das suas veias. O verdadeiro político é de carne e osso. Adotar o pensamento da burguesia de que os políticos devem ser somente técnicos é mais uma vez compactuar com a transição da monarquia à república, é seguir os passos preconceituosos e distantes dos mais abastados e, acima de tudo, trocar políticos corruptos por políticos técnicos (tecnocratas) é dar novo rótulo às mesmas práticas, ou melhor, trocar seis por meia dúzia. Pois a finalidade será a mesma, manter o caminho do mundo à direita.

(*) Leonardo Gomes é jornalista e publicitário.

‘Igreja é aliada da oligarquia para dominar o povo’

‘Igreja é aliada da oligarquia para dominar o povo’, afirma Evo Morales

O presidente boliviano Evo Morales disse nesse final de semana que a Igreja é "aliada da oligarquia para dominar o povo" e que, "nos últimos tempos, se juntaram nobreza, clero e oligarquia" para dominar e minar "o poder e a força do povo".

(A reportagem é da Agência Gaudium Press, 11-08-2009.)

Foi assim que o mandatário boliviano reagiu às declarações do secretário-geral da Conferência Episcopal da Bolívia, monsenhor Jesús Juárez, que na quarta-feira passada afirmou que ao imitar "a democracia à la Venezuela... vamos pelo mau caminho e vamos nos encontrar de frente a um muro que poderá trazer mais confrontação que avanços". O religioso se referia à importância da reflexão interna. "Bolívia ter que buscar seus próprios caminhos de soberania, unidade e democracia", havia dito na ocasião o bispo.

Desde que assumiu o governo em 2006, Evo Morales em diversas ocasiões atacou, criticou, questionou a Igreja Católica, que a seu ver representa uma instituição que o incomoda e incomoda a seu governo porque teria sido aliada da coroa espanhola no processo de colonização e "submissão" dos povos originários da América.

Para Morales, a Igreja Católica está incursionando em terrenos proibidos quando opina e se pronuncia sobre a situação política no país, a polarização e os problemas mais graves ainda não resolvidos: pobreza, corrupção ou violência, entre outros. "Rezar ou fazer política", referiu-se Morales certa vez à Igreja.

As declarações de Morales sobre o agir da Igreja Católica são inúmeras e passam pela diversidade de temas importantes e de conjuntura que preocupam aos bolivianos. Não somente políticos, mas também temas educacionais e fiscais, que vieram à tona na primeira semana de agosto, inclusive na sua sugestão de que a Igreja "deveria desaparecer", e que "a Igreja apoia ditaduras militares".

"Quando não podem nos dominar com orações, vêm com o fuzil", disse Morales recentemente, ao referir-se à crítica situação política que vive Honduras, país que, segundo ele, "teve um arcebispo apoiando uma ditadura". "Defender os latifundiários, apoiar ditaduras ou estar no golpe de Estado não é orar nem trabalhar por justiça e igualdade".

Para o presidente Boliviano, a Igreja está atuando contra as "transformações políticas" que impulsionam o seu governo e "reflete" que "outro mundo é possível,... outra fé, outra religião, outra Igreja também é possível irmãos e irmãs". Segundo os dados mais recentes, a Bolívia é um país com quase 90% de católicos declarados."

Link da matéria:

http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=24741

Ruína de Yeda e omissão da imprensa

Ruína de Yeda e omissão da imprensa





Escrito por Luiz Antonio Magalhães

Os leitores dos jornalões editados em São Paulo e Rio de Janeiro já conhecem com muitos detalhes cada falcatrua cometida no Senado Federal. Até os pecadilhos dos parlamentares, coisas consideraras (por eles próprios) "menores", como ceder passagens aéreas para familiares, vão logo parar nas manchetes – o último desses casos envolve o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE). Se alguém perguntar aos leitores o que está acontecendo no Rio Grande do Sul, porém, é provável que a resposta seja evasiva. De fato, a gestão Yeda Crusius (PSDB) à frente do governo gaúcho é uma tragédia de graves proporções e não está merecendo dos grandes jornais uma cobertura à altura do desastre – político e gerencial – em curso nos pampas.

É bem verdade que nos últimos dias, especialmente depois que o Ministério Público Federal do Rio Grande do Sul (MPF-RS) protocolou, em 5 de agosto, uma ação de improbidade administrativa na Justiça Federal de Santa Maria contra a governadora e outros oito réus, os jornalões do Rio e São Paulo decidiram dar uma colher de chá e publicaram reportagens sobre o assunto. Tudo muito insuficiente.

Sim, insuficiente, porque o descalabro começou antes mesmo de Yeda Crusius botar os pés no Palácio Piratini, em janeiro de 2007. Durante a campanha, a então candidata se indispôs com seu vice, Paulo Afonso Feijó (DEM), porque ele defendia as privatizações como saída para resolver os problemas financeiros do estado. Desautorizado, Feijó permaneceu na chapa, foi eleito e depois rompeu politicamente com Yeda. Ainda durante a campanha, o marqueteiro Chico Santa Rita abandonou o comando da estratégia de marketing acusando a governadora de deixar de pagar os salários da sua equipe. Em seguida, já eleita, mas antes de tomar posse, Yeda pediu ao então governador Germano Rigotto (PMDB) que enviasse à Assembléia Legislativa um projeto para cortar despesas e aumentar o ICMS. Tal projeto foi derrubado em 29 de dezembro de 2006, em uma votação que teve como articulador político o vice-governador. Só que contra, e não a favor do projeto de Yeda...

Consequências eleitorais

A crise, permanente, se arrasta desde a campanha eleitoral de 2006. De lá para cá, Yeda jamais conseguiu momentos de tranqüilidade política no Piratini. A grande imprensa do Sudeste vem noticiando tudo com muita discrição e sem contextualizar o problema. Aliás, um problemão. O ruinoso governo de Yeda de certa forma quebra a espinha dorsal do discurso tucano da "excelência da gestão", que deveria ser o diferencial da candidatura presidencial do partido em 2010. Pior ainda, no campo político a governadora conseguiu se isolar de tal maneira que DEM e PMDB, tradicionais aliados do PSDB no estado, já pularam da canoa de Yeda. Se ela insistir em se candidatar à reeleição, qual será o palanque do presidenciável tucano em terras gaúchas? José Serra (ou Aécio Neves) estarão ao lado de Yeda, única governadora brasileira que tem taxa de rejeição superior à de aprovação? Difícil, a julgar pela defesa tímida que os próceres tucanos vêm fazendo do governo da correligionária gaúcha. E alguém leu análises sobre isto nos jornalões?

Boa parte das matérias, aliás, conseguiram inverter a questão, atribuindo ao PSOL uma importância que nem mesmo a deputada federal Luciana Genro (RS) poderia almejar. Sim, porque o desastre político do governo Yeda tem como protagonista a própria governadora, que em um raro espetáculo de inabilidade política conseguiu perder apoio de aliados tidos como muito fiéis, a exemplo do DEM e do PMDB. Definitivamente, não foram as denúncias da filha do ministro Tarso Genro que colocaram Yeda nas cordas, foi a própria governadora que preferiu se postar no corner. E isto também ficou de fora da cobertura dos jornalões sobre o caso.

Cobertura descontextualizada

A falta de contextualização vai além dos aspectos político-partidários. O Rio Grande do Sul vive uma crise estrutural há muito tempo, com problemas especialmente nas finanças do estado e na sua economia. O PIB gaúcho, que representava em 2008 quase 7% do nacional, permanece neste patamar há pelo menos 10 anos. Ao contrário da região Nordeste, altamente beneficiada pelo crescimento dos últimos anos, a economia do Rio Grande vive uma situação que já antes da crise econômica mundial beirava à estagnação.

A situação econômica do Estado deveria necessariamente aparecer nas matérias e reportagem sobre a crise do governo Yeda porque é parte explicativa dos problemas enfrentados pela governadora. De fato, a tentativa, talvez um tanto açodada, de zerar o déficit do Rio Grande em quatro anos foi uma das causas de boa parte dos problemas da governadora. Em casa que falta pão, como se sabe, todos gritam e ninguém tem razão.

Com a cobertura fragmentada e direcionada para os momentos mais espetaculares – as denúncias, o anúncio do processo, os rompimentos com os aliados –, a imprensa do eixo Rio-São Paulo acaba prestando um desserviço aos seus leitores, que ficam com a impressão de que Yeda Crusius é apenas uma vítima do radicalismo do PSOL ou da fúria do Ministério Público. Há uma ótima história para ser contada por trás de um governo ruinoso, mas a mídia parece não querer contar. Por preguiça ou por motivos obscuros. Em ambos os casos, perde o leitor.

Luiz Antonio Magalhães é jornalista e Editor Executivo do Observatório da Imprensa, onde este texto foi originalmente publicado.

Contato: laccm@terra.com.br

Entrevista com Boaventura Santos na NovaE...


Foto: Wilson Dias/ABr

Bruno Moreno

Passados cinco séculos do início da colonização portuguesa no Brasil, o filho de um cozinheiro português quer ajudar a resolver um dos maiores problemas criados pelos próprios ibéricos: a escravatura e as perversas formas de dominação de raça e classes após a Lei Áurea, que ficou devendo muito aos negros – aceitou a liberdade física, mas negou a econômica e a social, dentre tantas outras. Quem está se propondo a ajudar na questão é o sociólogo e escritor Boaventura de Sousa Santos, que frequentemente vem ao país e até se intitula um “brasileiro adotado”.

Ferrenho defensor das ecologias de saberes populares, Boaventura esteve em Brasília, em julho, e encontrou com a ministra Cármen Lúcia Antunes Rocha, que, juntamente com outros dez ministros, compõe o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF). Pois é justamente lá, no STF, que está em curso um dos processos mais importantes para os negros no Brasil.

Vale lembrar que outro ministro que compõe o elenco de magistrados é o presidente do tribunal, Gilmar Mendes. Mas Gilmar não deve estar muito feliz com a ida de Boaventura em seu plenário. Isso porque o professor português o definiu como "uma figura patética", destacando sua publicidade excessiva na imprensa. "Nos Estados Unidos, o presidente do Tribunal não aparece na mídia como o Gilmar. No máximo, ele vai dar uma palestra em uma universidade, de vez em quando", criticou.

E deverá ser Gilmar que presidirá uma sessão que poderá ter seu resultado influenciado por Boaventura. Desde que, em 2003, o
presidente Luís Inácio Lula da Silva assinou o decreto 4.847, em 25 de setembro, a vida dos quilombolas poderia ter ganhado outros vieses, com a agilização da demarcação de suas terras. Entretanto, o então PFL, atual Democratas, tradicionalmente ligado à bancada ruralista, não gostou da proposta, e resolveu entrar com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade, contra o projeto.

Aí entra o professor Boaventura. Ele se dispôs, um pouco incomodado, a ir ao STF dar uma aula sobre a história da colonização portuguesa no Brasil, seus efeitos e injustiças históricos, para sensibilizar os ministros para a causa. Entretanto, não entende bem porque isso é necessário. “Falei com ela (Cármem Lúcia) que posso vir, mas há muito material produzido no Brasil. É só ler, é só querer ler”, questionou o professor, em palestra realizada em Belo Horizonte, dia 4 de agosto, em Belo Horizonte, a convite do Sinpro Minas.

E não é à toa que Boaventura se arrisca nessa intentona. Para ele, que lutou contra o imperialismo português que persistiu até 1975 em colônias africanas e no Timor Leste, a maior herança do colonialismo é a pífia distribuição fundiária e o racismo. Olhe um pouco à sua volta e verá que o professor tem razão.

A data da audiência pública em que Boaventura irá participar no STF ainda não está marcada. Mas parte do recado já foi dado. Quem sabe, agora, os brasileiros não estudam um pouco mais o tema em vez de rejeitá-lo?

Em entrevista exclusiva à NovaE, Boaventura detalhou seus argumentos, e também falou do governo Lula, de suas políticas ambiental e social, do agronegócio e da crise econômica mundial do capitalismo. Além disso, afirmou que o Brasil está pronto para ter uma mulher na presidência. Entretanto, ele prefere o ministro da Justiça, Tarso Genro. Confira abaixo.

Qual é a participação do senhor na defesa da demarcação das terras dos quilombolas?

Como trabalho bastante com os advogados populares, que trabalham com os quilombolas, tive notícia de que eles iriam pedir à ministra Carmem Lúcia uma Audiência Pública em face daquela Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI), que foi impretada pelo antigo PFL, os Demos.

Essa ADI visa fundamentalmente considerar inconstitucional muitos dos processos de regulamentação dos territórios de remanescentes de quilombos – que ultimamente têm sido uma grande transformação, digamos assim, na vida do campo do Brasil devido ao reconhecimento e à organização dos afrodecendentes para reaverem as terras que foram desapropriados, onde viveram muitos anos. Essa é uma luta muito importante, uma vez que sou conhecido e os ministros conhecem as minhas posições.

Eu quis sensibilizar, basicamente, o Supremo Tribunal Federal, para a importância da questão quilombola, sobre a qual existe tanto desconhecimento no Brasil, o que é uma coisa que me surpreende. Uma vez que há muita informação disponível sobre esse movimento, e as razões históricas, fundamentalmente justiça histórica, que está por trás dele. Mas a verdade é que há muita ignorância a respeito disso. A ignorância, no meu entender, pode ser altamente prejudicial ao movimento, e à reivindicação dos quilombolas. Porque pode mudar os critérios dos códigos livrais, que atravessam toda uma parte de direito civil que tem uma concessão privatística da propriedade, e são muito renitentes a reconhecer os direitos históricos sobre a terra. Nesse caso dos remanescentes e também no caso dos indígenas.

Como o senhor vê a questão de um português vir ao Brasil para ter que falar sobre esse tema, já que (a escravidão no Brasil) foi uma criação de Portugal?

É uma pergunta interessante. Obviamente, não me sinto responsável pelo colonialismo. Por contrário, ainda tive a oportunidade de lutar contra o colonialismo, porque ele durou até tão tarde. Desde os anos 1960 lutei contra ainda as colônias que existiam no império e que só se libertaram em 1975. Mas é verdade que a minha ligação a eles e com outras causas que tenho abraçado no Brasil não tem muito a ver com essa responsabilidade, porque não a reconheço.

É fundamentalmente porque eu tenho trabalhado no Brasil. Há muita gente que pensa, nos círculos internacionais, que sou brasileiro. Sou um brasileiro adotado. Fiz aqui meu trabalho de campo, meu doutoramento foi feito numa favela do Rio de Janeiro. E participo da vida social, acadêmica e também política, com os movimentos sociais. Num processo que se intensificou muito depois do Fórum Social Mundial. Para mim, é na decorrência disso que eu me dispus a tomar essa ação e vou fazer mais. Também fui o primeiro signatário de um abaixo assinado em defesa da Reserva Raposa Serra do Sol. Também trabalho bastante com o movimento indígena no Brasil, no Equador e na Bolívia, porque também é um caso de justiça histórica que deve ser resolvido.

Mudando o foco da conversa, o senhor acha que o capitalismo, se conseguir passar bem por esta crise, sairá mais forte ou mais fraco?

É muito difícil responder a essa questão. As crises do capitalismo são sempre multifacetadas porque têm diferentes temporalidades. Esta crise financeira, por exemplo, é de uma temporalidade curta. Ela explodiu em agosto de 2008. Obviamente que essa crise não é de agora. Ela já vem de meados da década de 1980 e depois de 1990. Rússia, Brasil, Indonésia e Tailândia foram vítimas disso. A especificidade desta é que ela aconteceu no coração do sistema. E esta é uma crise de curta duração, que é sinal de outras, provavelmente mais profundas, mas que pode ser resolvida a curto prazo, sem em grandes transformações sistêmicas. Mas há outras crises que são muito mais de longa duração. Essa tem a ver com os limites ambientais e esse tipo de desenvolvimento. Eu penso que essa é a grande crise do capitalismo. Ela vai surgir duma ou doutra forma. É aquela que vejo que vai haver mais dificuldades para sua resolução. Não só porque ela toca nos fundamentos do capitalismo, enquanto nesta crise financeira não estamos a por em causa um certo tipo de capitalismo, o neoliberal, que se propôs desvencilhar do Estado, e que em momentos de crise volta ao útero do Estado.

Temos outra crise mais profunda, que atinge a todos nós, na medida em que ela, como no aquecimento global, como em todas as crises que decorrem dos limites ambientais desse tipo de desenvolvimento, vem de nossos próprios hábitos do cotidiano. São os nossos carros, o nosso conforto, daqueles privilegiados no mundo que têm acesso a esses bens.

Eu penso que o capitalismo vai entrar numa crise civilizacional. E essa vai se manifestar de diversas formas, algumas das quais estamos a ver. É muito difícil de ver qual o tipo de crie. Já muitas vezes foram anunciadas as crises finais de capitalismo, que afinal não foram. A questão ambiental tem tantos prolongamentos. Ao nível da questão social, das pandemias, da fome, da seca, das mudanças climáticas. Eu prevejo que aqui haja uma maior turbulência porque a articulação sistêmica que pode impedir que isso ocorra é muito mais complicada.

Com a crise, o governo Lula isentou os carros do IPI, e também produtos da construção civil, como o chuveiro elétrico. Se houvesse uma mudança de viés de desenvolvimento, haveria um estímulo à produção de aquecedores solares para as residências, por exemplo. Como o senhor vê a questão ambiental no governo Lula? Ele está perdendo a chance de mostrar ao mundo que o Brasil poderia ser uma potência ambiental?

A política ambiental deste governo é um desastre. Isso nota-se pela sucessão dos ministros do Ambiente. Este que está agora (Carlos Minc), também já em dificuldades, e sendo uma pessoa muito mais tolerante para o tipo de desenvolvimento atento na idéia do agronegócio, com todas as suas consequências ambientais. Ele próprio sente dificuldades. Obviamente que a ministra Marina Silva teve muito mais dificuldades. Portanto, eu penso que tem sido realmente um desastre. E isso se intensificou ao longo dos anos.

O governo Lula ficou preso a um desenvolvimentismo que já não é o do século XXI. Por exemplo, poderia ter apostado nas energias renováveis. Ao invés disso, aposta no agrofuel, que não é biofuel. Não tem nada a ver com biologia, com a preservação do meio ambiente, ao contrário. É uma outra cultura de plantação. E entrou dentro da cultura genética dos líderes que neste momento governam o país. Num país com essa dimensão, com esta riqueza e com essa diversidade biológica, que tem uma responsabilidade mundial, eu penso que isso é um desastre.

O que está a passar na Amazônia é de proporções inadmissíveis. Nós estamos a assistir, ao contrário do que se diz, uma destruição da Amazônia, com crimes ambientais a ponto de criar a destruição do encontro das águas. Há realmente uma cultura desenvolvimentista, que no meu entender está a minar toda aquela potencialidade de esperança que o Brasil veio trazer ao mundo, no momento em que resolveu ter uma liderança regional, e eventualmente global, ao lado de Rússia, China e Índia (BRIC). É bem que o sistema se torne policêntrico, é mal se esses países, ao entrar, venham a reproduzir o pior do sistema

Apesar da questão ambiental, Lula está fazendo um bom governo?

É um bom governo porque tem um alto nível de aceitação. Beneficiou-se obviamente do carisma de Lula, que desfez todas aquelas idéias estereotipadas que havia no tempo do Fernando Henrique Cardoso, de que a esquerda é burra, que um metalúrgico não pode governar o país. Ele pôde governar o país, atrás de uma conjunção de razões externas e internas que foram muito favoráveis. Foi muito favorável o desenvolvimento da China.

Ao nível interno houve algumas políticas que tiveram um efeito redistributivo. Não só sistemas de ação afirmativa, obviamente foram criadas formas de acesso à universidade pública, mas principalmente o Bolsa-Família. Foi ele que alimentou o mercado interno que veio acabar por ser uma almofada de proteção contra a crise financeira. Este governo tem coisas muito positivas do ponto de vista social. Soube distribuir uma migalha a populações que estavam muito desprovidas. Mas permitiu que o capital financeiro, sobretudo o capital agrário, tivesse as possibilidade de lucro como nunca tinha tido no passado.

O Brasil está pronto para ter uma mulher na presidência?

Eu penso que a Dilma está obviamente. Não sei se a Dilma é realmente a candidata ideal da esquerda. Se estivesse no Brasil eu teria outros candidatos. Mas é a candidata que vamos ter, aparentemente. É uma incógnita para todos saber em que medida o peso e a aceitação que o presidente Lula tem hoje se pode transferir para o apoio à candidata Dilma. É problemático, é uma grande jogada de grande risco da parte do presidente Lula. Mas acho que seria muito bom para o Brasil ter uma mulher como presidente.

Quem seria o melhor candidato para o senhor?

Obviamente, Tarso Genro.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Sobre a Marina e o PT...


Resposta coletiva aos que reagiram no meu blog e por emails

Marilza de Melo Foucher

Recebi muitos e-mails reagindo à carta aberta escrita para a senadora Marina publicada em varios blogs no Brasil e no jornal Pagina 20 no Acre. Acho que não conheço a maioria dos que me escreveram, quem sabe já lhes encontrei nas viagens que fiz pelo Brasil de Norte ao Sul. Dai decedi de escrever uma resposta coletiva com copia para Marina. Não sei a posição política deles, nem tão pouca sei como eles analisam a decisão final de Marina. Ao meu ver ela cometeu um erro político fenomenal. Até entendo seu deslumbramento, alias quem não gosta de ser convidado(a) a ser Presidente do Brasil? O ser humano é vaidoso, mas quando ele consegue separar o interesse pessoal do coletivo ele ganha letra de nobreza!

Sou uma militante do desenvolvimento integrado, sustentável e solidário. Eu fui durante muitos anos responsável de projetos para a América Latina. Conheço a atuação de muitas ONGs e o trabalho político dos movimentos sociais.
Muitos integram a dimensão ecológica nos projetos de desenvolvimento, muitos estão ha muitos anos comprometidos com as mudanças estruturais ocorridos no Brasil. Muitas ONGs estão articuladas com outros atores locais, por exemplo, universidades, prefeituras, centros de pesquisas, desenvolvem projetos conjuntos. Um trabalho no qual os resultados se alcançam em longo prazo...

Infelizmente, existem muitos ambientalistas iluminados, que vivem de fazer lobbyng, recebem muita grana daqui da Europa de outros iluminados, estes não têm uma visão integrada do desenvolvimento e desprezam a ecologia política. São capazes de jejuar com a Marina, depois tomar o Santo Daime sem entender mesmo as dimensões espirituais de nossas culturas. O Gabeira defende a liberação da maconha, mas não discute sobre as causas da dependência. Essa mesma reflexão pode-se fazer sobre a globalização da economia, a banda FHC defendia ardorosamente a globalização da economia, ao ponto, de nos considerar como neobobos, e diziam que nós da esquerda, não entendíamos a maravilha que era a globalização dos mercados, todavia eles não entendiam e nem discutiam as causas da exclusão mundial. Vejam hoje o resultado! Os que destruíram o Estado hoje apelam à volta do Estado como regulador da economia!

Fora da simples questão ambiental, eu me pergunto se a maioria dos ambientalistas seria capaz de entender a dimensão política da causa dos excluídos? O desafio de quem trabalha pela inclusão social dos pobres? Reconheceriam a importância da educação popular como metodologia, que leva os excluídos a terem auto-estima, serem sujeitos e, em seguida serem atores de transformação, capazes de exercerem a cidadania política para mudar o Brasil?
Existem no Brasil muitas Ongs e movimentos sociais que atuam há anos lutam pela reforma agrária, reforma urbana, e agem em prol de um desenvolvimento integrado, sustentável e solidário. Apesar de serem próximos do PT ou petistas não se deixam instrumentalizar pelos poderes executivos, eles têm consciência do jogo de poder e exercem uma verdadeira correlação de forças para continuar exigindo do governo um verdadeiro plano de desenvolvimento muito dessas medidas foram postas em pratica pelo governo Lula, todavia o processo de mudança é mais lento do que se esperava, mas quem estar no terreno da ação, tem consciência de quem são seus verdadeiros inimigos que impedem um Brasil para todos! Sabem que a esquerda dividida não terá forças para vencer o lobbyng da direita e seus aliados. Já que dentro do campo aliado o embate da esquerda dentro do governo é difícil... Imagino o que será a próxima campanha! Marina poderá analisar o resultado dessa situaçao depois do desastre político! Lhe desejo boa sorte!
Os ambientalistas iluminados nunca irão se somar nessa luta de mais de 40 anos! A questão ambiental não pode ser isolada dos outros direitos. O direito que todo o cidadão de tenha água potável, rios não poluídos, floresta explorada racionalmente, escolas publicas de qualidade em todos os níveis de ensino, educação ambiental, educação cívica para que todos entendam que têm direitos e deveres face à Republica Brasileira, pagar os impostos corretamente, exigir uma distribuição equitável das riquezas da nação.

Eu fiz sempre a diferença entre os ambientalistas iluminados e os que vêem que a ecologia deve se integrar em qualquer plano ou projeto de desenvolvimento. Atuar com visão de processo é distinta, percebe-se como se interagem os ecossistemas e como a política se articula com os demais setores, não é mesmo? Na floresta vivem seres humanos e não humanos e devemos defender essa convivência. Todos nós necessitamos da mãe terra, de nossa pacha-mama, isto é inquestionável e não precisamos fazer dos ambientalistas nossos gurus! Todavia, vivemos em uma republica, onde a política exige clareza e as contradições devem ser exploradas, entendidas para podermos intervir na realidade e transforma-la. Dai não existe neutralidade política, você é de um campo ou de outro, esse discurso morno, que tornam a política híbrida defendida atualmente a corrente ambientalista, despolitiza a realidade. Marina no seu discurso em Rio Branco me pareceu adotar essa postura.

Se vocês podem observar, muitos desses que estão hoje com Marina, participaram do governo Collor, eles passam da esquerda para direita, trocam de capela e vigário sem problemas, agem assim porque não têm convicção política. Em geral dizem que a ecologia não é nem de esquerda e nem de direita, assim não atacam os verdadeiros problemas estruturais que provocam a exclusão de milhares de seres humanos.
Espero não ter sido confusa na distinção que tentei fazer entre ambientalistas puros e duros com os defensores do eco-desenvolvimento e da cidadania política do qual eu milito há 40 anos!

Com tristeza eu assisto a companheira Marina, a mulher guerreira que eu admiro, transformada em guru dos ambientalistas "iluminados", ( com todo meu respeito aos companheiros da ecologia politica) que o único objetivo é de se aproveitar da imagem positiva que ela usufrui nacionalmente e internacionalmente para tirar proveito político e trazer de volta os que leiloaram o Brasil e apregoavam o Estado Mínimo, privatizando o serviço publico no lugar de melhorar sua qualidade. O que fazer? Resta respeitar sua decisão.

Minha fraternura cabocla franco-brasileira

texto politico para reflexão....

Estado e Revolução: o retorno de um debate





Escrito por Ruy Polly

A crise trouxe novamente o debate sobre a estratégia. Um debate crucial que articula temas tão abrangentes e complexos quanto o programa, o papel do Estado, política de alianças, os instrumentos e os métodos para concretizar os objetivos almejados. Por sua vez, tais questões pressupõem uma análise da realidade que permite determinar os objetivos e tarefas a serem realizados. Essa discussão ainda está para ser aprofundada.

O documento programático aprovado no Encontro de fundação do PSOL em 2004 não apresenta uma estratégia clara, mas as "bases" para uma estratégia, como o próprio documento aponta.

Mas podemos encontrar algumas visões em textos e livros, como o livro "A Nova Toupeira" de Emir Sader e nas teses que serão debatidas no II congresso do PSOL.

Não pretendemos – e nem poderíamos – discutir tais questões aqui. Mas queremos chamar a atenção para o retorno de posições que propõem o fortalecimento do papel do Estado, conferindo-lhe um papel decisivo como "indutor de um novo modelo de desenvolvimento, que aponte para a construção do socialismo", segundo uma das teses congressuais. Ou ainda, como defende outra tese, a defesa de "construção de um Estado democrático e forte" como um dos eixos programáticos com o "objetivo ampliar as capacidades e forças em sua relação com o mercado e subjugando-o".

Tais posições não são novas. Mas a diferença é que nos dias atuais há a experiência dos governos de esquerda da América Latina (AL), que têm se constituído em paradigmas e referências para significativas parcelas de militantes dos movimentos sociais e organizações de esquerda.

Inconsistências

Qualquer suposição de que se possa controlar o Estado e colocá-lo a serviço de políticas que favoreçam a população pobre e criem condições para avançar rumo ao socialismo deve responder algumas questões fundamentais. Uma delas é como chegar, e por quais vias, ao controle do atual Estado? Talvez a resposta óbvia, tendo em conta os processos na Venezuela e demais países, seja a via eleitoral.

Mas não se pode esquecer que os governos de esquerda da AL foram produtos de circunstâncias concretas. Durante o primeiro governo de Chávez não havia uma "Revolução Bolivariana" em curso. O marco do seu surgimento foi o amplo movimento de massas que salvou Chávez dos golpistas que o haviam seqüestrado em 2002. Da mesma forma, na Bolívia, a eleição de Morales em 2005 expressou a radicalização da grande revolta popular que em 2004 obrigou Sanchez de Lozada a fugir do país.

Dois aspectos merecem ser considerados. Primeiro, que os resultados dos processos latino-americanos não podem ser analisados em uma relação causal, ou seja, não podem ser considerados como conseqüências inevitáveis, uma vez que refletiram situações e correlações de força específicas àquelas sociedades. Segundo, qualquer generalização daquelas (e outras) experiências – produtos de circunstâncias concretas – em táticas ou caminhos a serem perseguidos é temerária, uma vez que se leva a implantar políticas que não correspondem à realidade concreta do Brasil. Foi o caso das guerrilhas urbanas e rurais que tentaram repetir aqui e na AL uma estratégia que ocorreu em Cuba em uma situação completamente específica e atípica. É preciso observar o que é universal e particular em cada processo.

A idéia de que a partir do controle do Estado se possa implementar um "novo modelo de desenvolvimento" exige que se explicite o que é esse "novo modelo". E, independente disso, cabe lembrar que ganhar o governo não significa ter o controle do Estado. No caso do Brasil, o Estado – e a própria estrutura social - é muito maior e extremamente mais complexo que em qualquer outro país da AL. As dificuldades seriam muito maiores, e qualquer política socializante envolveria a oposição não só da direita e do grande capital nacional e estrangeiro, mas da burocracia estatal, da mídia, dos parlamentos estaduais e locais, de setores significativos da classe média e do extenso aparelho repressivo que engloba as Forças Armadas, as Polícias Militares e Civis estaduais.

Por fim, é necessária uma boa dose de realismo ao analisarmos a situação da Venezuela e outros países latino-americanos. Não podemos nos ater aos governos, mas sim enxergar o todo, em especial a situação da classe trabalhadora e dos movimentos sociais. Surpreendentemente, Sader é realista quando afirma que aqueles governos são governos antineoliberais, mas que ainda não podem ser considerados anticapitalistas. Ele está correto.

Com relação ao governo Chávez e os demais governos, não é possível qualquer apoio acrítico e incondicional. Apoiamos as suas medidas progressistas, que confrontem o capital e o imperialismo, e que favoreçam a população trabalhadora e pobre. Mas não podemos apoiar medidas que tendem a apertar o controle sobre os movimentos e a promover uma centralização cada vez maior do Estado. Infelizmente, tais tendências têm se fortalecido na política chavista.

Portanto, para nós o fundamental é o fortalecimento da auto-organização e da consciência revolucionária da classe trabalhadora e dos explorados. É isso que possibilita a auto-emancipação dos trabalhadores, e não o fortalecimento do Estado.

A natureza do Estado

Por trás de tudo isso está o debate sobre a natureza do Estado. Fala-se em tomar o Estado, controlar o Estado. Mas o Estado não é uma "coisa" que possa ser tomada para que se modifique sua natureza conforme a vontade. A estrutura do aparelho de Estado burguês expressa as relações sociais preponderantes no capitalismo, baseadas na exploração de uma classe majoritária na sociedade – a classe trabalhadora – por uma classe minoritária – a burguesia . O Estado existe precisamente para manter e assegurar essas relações de exploração através dos seus vários mecanismos: parlamento, forças armadas, polícia.

É verdade que o Estado sofre mudanças. Assume formas e regimes políticos diferentes, mas até o limite da "ossatura institucional" que é o conjunto de instituições e mecanismos de poder que não são porosos à participação e controle social. Em outras palavras, o Estado não pode ser modificado a ponto de garantir o controle social, com direito à eleição e revogação dos mandatos dos parlamentares, funcionários estatais, forças armadas e polícia. Emir Sader afirma que o Estado é um "espaço em disputa". Ele está errado. Só poderíamos admitir tal afirmação em termos parciais e limitados. Há espaços a serem disputados, mas não o núcleo duro do aparelho estatal. Mas ele e outros teóricos como Carlos Nelson Coutinho parecem convencidos de que é possível disputar e transformar o conjunto do aparelho de Estado. Parece que muitas das lições trágicas proporcionadas por experiências históricas como o governo de unidade popular de Allende no Chile não foram aprendidas. Ou outras conclusões foram extraídas desses processos.

Para nós, as análises de teóricos como Marx, Rosa, Lênin, Trotsky e Gramsci – cuja obra do cárcere foi "seqüestrada" por Togliatti e o eurocomunismo – permanecem referências decisivas para a compreensão da natureza e do papel do Estado burguês. E seus ensinamentos devem compor a base de qualquer estratégia revolucionária conseqüente que pressupõe a ruptura com o capitalismo e a construção do socialismo como uma obra da maioria e não de uma minoria substitucionista que age "em nome" da classe trabalhadora ou da sociedade.

Conclusão

Finalmente, um aspecto fundamental decorre das experiências do chamado "socialismo real". Naqueles países não havia mercado nem capital privado. A economia era controlada a partir de cima por uma burocracia que, tendo o Estado sob seu controle, determinava todo o processo produtivo. Esses regimes não caíram por conta de qualquer conspiração da CIA, mas sim por conta da dinâmica de suas economias que engendravam o mesmo tipo de contradições existentes no capitalismo de mercado. E seus governantes foram derrubados pelas mesmas massas cujos interesses supostamente representavam.

A forma estatal da propriedade não é, em si, superior à forma privada. Depende de que tipo de Estado se fala, de quem controla esse Estado e como se dá esse controle. Uma transição socialista só pode ser conduzida pela classe trabalhadora "alçada à condição de classe dominante", o que significa não um Estado capitalista "forte", mas um semi-Estado, baseado em órgãos democráticos – os conselhos de trabalhadores e trabalhadoras da cidade e do campo - que exercem o poder diretamente a partir da base da sociedade.

Defender essa perspectiva revolucionária não nos permite alimentar quaisquer veleidades sobre controlar o Estado burguês para avançar rumo ao socialismo. Mesmo que tais políticas sejam chamadas de "táticas", não o são. Afinal, o stalinismo e os Partidos Comunistas também defenderam "táticas" - como a visão etapista de revolução e a "tática" da frente popular - que conduziram a derrotas trágicas que custaram não apenas a vida de milhões, mas dramáticos retrocessos na luta pela emancipação humana.

Rui Polly é ambientalista e membro do Diretório Estadual de São Paulo do PSOL.

Contato: ruipolly@hotmail.comEste endereço de e-mail está protegido contra spam bots, pelo que o Javascript terá de estar activado para poder visualizar o endereço de email

Este texto foi retirado de http://www.revolutas.net

Filosofia e Questões Teóricas - texto de Gramsci

Quando se pode dizer que um partido está formado e não pode ser destruído por meios normais



Antonio Gramsci

Antonio Gramsci
Antonio Gramsci














O problema de se saber quando um partido está formado, quer dizer, quando desempenha um papel preciso e permanente, dá lugar a várias discussões e, quase sempre, infelizmente, a uma forma de vaidade que não é menos ridícula nem menos perigosa do que a "vaidade das nações" de que fala Vico. Pode-se dizer, é verdade, que um partido nunca está acabado nem formado no sentido de que qualquer desenvolvimento cria novos comprometimentos e novas tarefas, e no sentido de que para certos partidos se verifica o paradoxo de que eles só estão acabados e formados quando já não existem mais, vale dizer, quando sua existência torna-se historicamente inútil. Assim, posto que qualquer partido não é mais do que uma nomenclatura de classe, é evidente que para o partido que se propõe a anular a divisão em classes, sua perfeição e seu acabamento consistem em não mais existir após a supressão das classes e, portanto, de suas expressões. Mas aqui se quer fazer alusão a um momento particular desse processo de desenvolvimento, ao momento que se segue àquele em que um fato pode existir e não existir, no sentido de que a necessidade de sua existência ainda não se tornou "peremptória", mas depende em "grande parte" da existência de pessoas possuindo um extraordinário poder de volição e uma extraordinária vontade.

Quando um partido se torna "necessário" historicamente? Quando as condições de seu "triunfo", de sua inelutável transformação em Estado estão ao menos em vias de formação e deixam prever normalmente seus desenvolvimentos ulteriores. Mas quando se pode dizer, em tais condições, que um partido não pode ser destruído por meios normais?[2] Para responder a essa questão, é preciso desenvolver um raciocínio: para que um partido exista é necessário que confluam três elementos fundamentais (quer dizer, três grupos de elementos):

1. Um elemento difuso de homens comuns, medianos, que oferecem como participação sua disciplina, sua fidelidade, mas não o espírito criativo e altamente organizado. Sem eles, o partido não existiria, é verdade, mas também é verdade que o partido não existiria com eles "unicamente". Eles constituem uma força na medida em que encontrem os homens que os centralizem, organizem, disciplinem, mas na ausência dessa força de coesão, eles se espalhariam, se dispersariam numa poeira impotente. Não se trata de negar que cada um desses elementos possa se transformar numa força de coesão, mas de considerá-los precisamente no momento em que ainda não o são, ou o são apenas num círculo restrito, politicamente sem efeito e sem consequência.

2. O elemento principal de coesão, que centraliza no plano nacional, que torna eficaz e potente um conjunto de forças que, abandonadas a si mesmas, seriam zero ou pouco mais; esse elemento é dotado de uma potente força de coesão, que centraliza e disciplina e igualmente ─ sem dúvida a esse respeito ─ inventa (se se entende "inventar" numa certa direção, seguindo certas linhas de força, certas perspectivas, às vezes certas premissas): é verdade também que sozinho esse elemento não formaria o partido, todavia ele o formaria mais facilmente do que o primeiro elemento considerado. Fala-se de capitães sem exército, mas na realidade é mais fácil formar um exército do que formar capitães. Tanto é verdade que um exército constituído é destruído se lhe faltam os capitães, enquanto que a existência de um grupo de capitães que se põem de acordo entre si, reunidos por objetivos comuns, não demora em formar um exército mesmo lá onde não exista nada.

3. Um elemento intermediário, que deve articular o primeiro ao segundo elemento, colocá-los em relação por um contato não apenas "físico", mas moral e intelectual. Na realidade, para cada partido existem "proporções definidas"[3] entre esses três elementos e atinge-se o máximo de eficácia quando essas "proporções definidas" são realizadas.

Após essas considerações, pode-se dizer que um partido não pode ser destruído, através de meios normais, quando existe necessariamente o segundo elemento ─ cujo surgimento está ligado a certas condições materiais objetivas (e, se esse segundo elemento não existe, todo o raciocínio está esvaziado de sentido) ─ mesmo que seja disperso e errante, pois é então impossível que não se formem os dois outros, quer dizer, o primeiro, que necessariamente forma o terceiro como sua continuação e seu meio de expressão.

É preciso, para que isso ocorra, que seja formada a convicção inquebrantável de que uma solução determinada dos problemas vitais seja necessária. Sem essa convicção, só se formará o segundo elemento, cuja destruição é a mais fácil por causa de seu pequeno número, mas é necessário que esse segundo elemento, se vier a ser destruído, deixe como herança um fermento que lhe permita de se recompor. E onde esse elemento subsistirá melhor e poderá melhor se formar do que no primeiro e no terceiro elementos, que, evidentemente, tornam-se mais homogêneos com o segundo? A atividade que o segundo elemento consagrará à constituição desse fermento é então fundamental: o critério de julgamento desse segundo elemento deverá ser pesquisado: 1. no que ele realmente faz; 2. no que ele prepara para o caso em que venha a ser destruído. É difícil dizer qual dessas duas atividades é a mais importante. Pois, na luta, deve-se sempre prever o fracasso, e a preparação de seus próprios sucessores é uma atividade tão importante quanto a que se faz para vencer.

A propósito da "vaidade" de partido, pode-se dizer que é pior do que a "vaidade das nações", de que fala Vico. Por quê? Porque uma nação não pode deixar de existir e, no fato dela existir, ela é sempre possível, se for necessário, com um pouco de boa vontade e solicitando os textos, encontrar que sua existência é rica de destino e de significação. Em contrapartida, um partido não pode existir em virtude de uma necessidade interna. Nunca se pode esquecer que na luta entre nações, cada uma delas tem interesse em que a outra seja enfraquecida por lutas internas e que os partidos são precisamente os elementos dessas lutas internas. Para os partidos, então, pode-se sempre se questionar se eles existem por sua própria força, em virtude de uma necessidade interior, ou se, ao contrário, sua existência depende de interesses exteriores (e, de fato, nas polêmicas, esse ponto nunca é esquecido, é até um tema sobre o qual se insiste, o que significa ─ e principalmente quando a resposta é evidente ─ que o ataque atingiu o alvo e deixou dúvidas). Naturalmente, deixar-se dilacerar por essas dúvidas é pura estupidez. Politicamente, a questão só tem uma importância momentânea. Na história do que se chama o princípio das nacionalidades, as intervenções estrangeiras a favor de partidos nacionais que perturbavam a ordem interior de Estados antagonistas são inumeráveis, a ponto de que, quando se fala, por exemplo, da política "oriental" de Cavour[4], coloca-se a questão de saber se se tratava de uma "política", vale dizer, de uma linha de ação permanente, ou de um estratagema momentâneo para enfraquecer a Áustria com vistas a 1859 e 1868. Assim, nos movimentos mazzinianos do início de 1870 (exemplo, o caso Barsanti[5]), via-se a intervenção de Bismarck, que, prevendo a guerra contra a França e o perigo de uma aliança ítalo-francesa, pensava, por meio de conflitos interiores, enfraquecer a Itália. Assim, nos acontecimentos de junho de 1914, alguns viam a intervenção do estado-maior austríaco preparando a guerra que viria. Como se vê, a casuística tem mil aspectos e é preciso ter as idéias claras a esse respeito. Se se admite que, seja quem for, faz-se sempre o jogo de alguém, o importante é procurar, por todos os meios, fazer bem feito seu próprio jogo, quer dizer, vencer nitidamente. De qualquer maneira, é preciso desprezar a "vaidade" de partido e substituir essa vaidade pelos fatos concretos. Quanto àqueles que substituem os fatos concretos pela vaidade, ou fazem a política da vaidade, deve-se supor que simplesmente não sejam sérios. Não é necessário acrescentar que, para os partidos, é preciso evitar até mesmo a aparência "justificada" de que se faça o jogo de alguém, sobretudo se esse alguém é um Estado estrangeiro; que, em seguida, se especule sobre isso, ninguém pode evitar.

[Cadernos do cárcere / Notas sobre Maquiavel, a política e o príncipe moderno / 1932-1933]

Antonio Gramsci (1891-1937)

Notas:

[1] Essa "vaidade" é em Vico a atitude das nações que "sempre tiveram a pretensão de se considerar como as primeiras a ter encontrado as comodidades da vida e a ter conservado suas tradições desde as origens do mundo".

[2] Alusão às tentativas de destruição do partido da classe operária pelo fascismo (por meios que não são "normais"): o problema colocado é o da sobrevivência do partido nas massas e nos quadros.

[3] "O teorema das proporções definidas" é uma nota nos Cadernos sobre a teoria das organizações.

[4] Essa alusão visa a atitude de Cavour e do governo piemontês no conflito entre a França e a Inglaterra, de um lado, e a Rússia , de outro, sobre os negócios orientais, que levaria à guerra da Crimeia. Para evitar que a aliança contra a Rússia não ficasse limitada a França, Inglaterra e Áustria ─ o que teria aproximado as potências ocidentais (França e Inglaterra) do inimigo do Piemonte ─ a política Cavour nos anos 1854-1855 teve por eixo a entrada do Piemonte na aliança (acordo de de 10 de janeiro de 1855). A participação piemontesa na guerra aparece, então, mais do que ditada pela iniciativa imediata dos países (Gênova comerciava com Odessa), por considerações de política internacional, sobretudo anti-austríacas.

[5] Em 24 de maio de 1870, o cabo Pietro Barsanti tenta o assalto a uma caserna em Pavia, à frente de uma quarentena de republicanos, aos gritos de "Viva Roma! Viva A República! Abaixo a Monarquia!". Barsanti foi preso e fuzilado em 27 de agosto de 1870.

Fonte: GRAMSCI, Antonio. Note sul Machiavelli sulla politica e sullo Stato moderno. Editori Riuniti, p.28-31.

Fonte secundária: Gramsci dans le texte. Paris: Editions sociales, 1975, p. 456-461

Tradução: Sergio Granja

Janaina Reis - Choro Novo na Senzala - 2005

Excelente disco este que tira os batuques de nossas raizes, um disco muito lindo, que merece ser ouvido com calma e apreciado pela alma, fica aqui a dica pra voces, por isso, deleitem-se!!!
Saravá!!!
Daniel de Mello e a Música da Minha Gente


CD de estréia da cantora e compositora com participações especiais de Arlindo Cruz, Fafá de Belém, Rildo Hora e Sombrinha.
Janaina Reis lançará seu primeiro CD, comercializado pela Indie Records, no Rio de Janeiro.
Choro Novo Na Senzala foi produzido por Luiz Carlos Torquato Reis, um dos técnicos mais prestigiados da atualidade, e conta com as participações especiais de Arlindo Cruz, Fafá de Belém, Rildo Hora e Sombrinha.
O CD possui quatorze faixas da mais pura música brasileira, numa evocação à quebra dos preconceitos raciais, à responsabilidade social com relação as questões de nossas crianças e sobretudo a um melodioso grito alusivo à liberdade e à paz, compostas por grandes nomes como: Paulo César Pinheiro, Wilson Moreira, Sombrinha, Rubens Gordinho, Arlindo Cruz, Maurição, Acyr Marques, Martinho da Vila, Rita Reis, Ary do Cavaco, Efson, Odibar, Gilson Bernini, Brasil, Bizuca, Marcelo Guimarães, Ramon Russo, Marquinho P.Q.D., Carlito Cavalcante e Genaro da Bahia e arranjadas por Rildo Hora, Misael da Hora, Paulão 7 Cordas, Ramiro Musotto, Luiz Pardal, Adelbert Carneiro e Maestro Leonardo Bruno (arranjos vocais).
Em Abril, convidada pelo sambista Tunico Ferreira, a artista participou de seu show no teatro Rival. Em junho, no mesmo teatro, convidada pelo também sambista Arlindo Cruz, fez participação especial, juntamente com a cantora Fafá de Belém, no “Pagode do Arlindo”.
Janaina Reis traz a música brasileira na alma, e é a magia desta música que deseja levar ao coração de seu povo. Um povo que tem a alegria, a malícia e a sensualidade desse nosso país mestiço e bonito chamado Brasil.Janaina Reis traz a música brasileira na alma, e é a magia desta música que deseja levar ao coração de seu povo. Um povo que tem a alegria, a malícia e a sensualidade desse nosso país mestiço e bonito chamado Brasil.
CHORO NOVO NA SENZALA conta com as participações de grandes músicos brasileiros, como: Cláudio Jorge, Paulão 7 Cordas, Carlinhos 7 Cordas, Misael da Hora, Wanderson Martins, Ivan Machado, Tuca Alves, Dirceu Leite, Paulinho Black, Gordinho, Marcos Esguleba, Tunico Ferreira, Maestro Leonardo Bruno, Ari Bispo, Jurema de Cândia, Patrícia Hora, Ramiro Musotto, Mintcho Garrammone, Luiz Pardal, Adelbert Carneiro, Davi Amorim, Esdras de Souza, Edvaldo Cavalcante, Marcio Jardim, Nazaco Gomes, Kleber Benigno, Daniel Araújo, Nicinha e Suelene.

Fonte: Palco Mp3

Download: Janaina Reis - Choro Novo na Senzala - 2005

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Os muitos dólares de uma pandemia




De 19 a 21 de agosto acontecerá em Washington a “Conferência Internacional sobre a gripe suína”. Não é iniciativa de algum governo, mas de uma empresa, a New-Fields. E parece que será um bom negócio. A programação é vasta e custará “apenas” 2.785 dólares para um único indivíduo que desejar somar a conferência com mais dois workshops. É o que diz o material de divulgação do evento em PDF, que explica que seu propósito é ensinar como fazer a economia funcionar em uma grande pandemia, treinando funcionários e fornecedores a trabalhar na ajuda ao estado e às agências federais. Na lista de discussões não falta alarmismo: como proteger e distribuir vacinas e produtos essenciais; como administrar a rotina de trabalho com uma onda de crimes; como controlar e abrandar a agitação social e os distúrbios públicos; como se proteger das interrupções de fornecimento de comida, combustível e de produtos essenciais, fazendo estoque. São alguns dos vários assuntos que serão discutidos.

Para o Prison Planet é demonstração de interesse em preparar a lei marcial nos EUA e em outros cantos do mundo, baseado em um alarme falso de ataque pelo H1N1. Segundo o site de Alex Jones, a mídia vem preparando a população para o medo da pandemia e tudo se encaixa nas diretivas de Bush, divulgadas em 2004, que listava iniciativas a serem tomadas em caso de ataques biológicos dos agentes do terror.

Não vou entrar na discussão, já grande, das origens desta gripe, do papel da mídia etc. Quem desejar, há muito material na internet, mas infelizmente em sua maioria apenas em inglês. Sugiro começar pela listagem dos artigos do Global Research, organizada via o bravo portuga Resistir. Desejo levantar apenas algumas poucas informações, que por enquanto o Google nos ajuda:

No site da organizadora da conferência, ela se define como uma empresa de marketing que faz mais de 120 eventos de negócios ao ano, tendo como alvo as indústrias de energia, defesa, educação e saúde;

Embora aparentemente no site seja uma empresa americana, com sede em Washington DC, ela apenas ali tem um escritório. A empresa é dos Emirados Árabes, seu presidente é Samir Farajallah, de Dubai, segundo o New York Times;

A empresa fez outros eventos, um sobre gripe aviária e outro sobre a reconstrução do Iraque, onde caminhou ao lado da Halliburton de Dick Cheney e da Blackwater, dos mercenários do governo dos EUA.

O que quer dizer isso? Talvez pouco. Mas acho o suficiente para muitas perguntas. O governo Bush e seus agregados usaram o argumento do 11 de setembro para uma guerra e grandes negócios em defesa, energia e reconstrução. Esta empresa parece estar bem enquadrada no time. Saúde parece que é o negócio do momento.

Sobre o PSOL...

Muito pior!




Escrito por Gilvan Rocha

Há correntemente o pensamento entre o povo letrado, bem letrado e iletrado que a falta de pão, leite, moradia, transportes, segurança, dão-se pela simples razão de que o dinheiro destinado ao bem estar social é desviado pela corrupção. Em outras palavras, o capitalismo seria bom, caso fosse administrado com decência. Isso é um engano presente desde as cabeças mais ilustres às menos providas.

Na verdade, a corrupção é um cancro social. Algo que agrava mais o nosso drama. Mas esse cancro, como tantos outros tem uma matriz e essa matriz tem um único nome: capitalismo.

Fui fundador do Partido dos Trabalhadores (PT). Fui também fundador do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL). No último dia 30, o PSOL, por sua direção majoritária, exibiu seu programa de televisão e ficou evidente que pode vir a ser um partido muito pior do que fora o PT. O PT, além de ter uma ampla base social de apoio, tinha participação (mesmo ingênua) de segmentos intuitivamente socialistas. O PSOL, não!

Nasceu de uma dissidência parlamentar sem inserção no meio social que faz o mesmo discurso dos partidos da "ordem", o discurso da direita. Eles não denunciam o capitalismo. Limitam-se a denunciar suas mazelas, não imputando culpa a suas verdadeiras causas, visto que toda culpa reside unicamente no sistema capitalista.

O discurso da senhora Luciana Genro foi lamentável. O mesmo ocorreu com os demais, principalmente com a tradicional moralista e costumeiramente atrevida Heloísa Helena, sempre escudada na sua condição de mulher. Tenta-se salvar o discurso do João Alfredo. Mas o ambientalismo não pode ser coisa tão somente de "expert". Enquanto for dessa maneira, assim como o socialismo, estaremos completamente perdidos! Socialismo, ambientalismo, caros senhores, devem ser amplamente popularizados e nunca coisas de doutos especialistas de viés acadêmico.

O programa de TV exibido revelou a tragédia política que vivemos. Não creio existir o crime de opinião. De qualquer forma, não abdicarei da verdade.

Gilvan Rocha é presidente do Centro de Atividades e Estudos Políticos – CAEP. Contato: gilvanrocha50@yahoo.com.br