sexta-feira, 26 de março de 2010

Genocidio em Gaza...

Em Gaza, Israel foi longe demais


“A devastação de Gaza pelos israelenses, contra uma população civil cercada – e usando bombas, dinheiro e cobertura diplomática dos EUA – foi tão brutal e horrenda que mudou para sempre o modo como o mundo vê o conflito no Oriente Médio” [Glenn Greenwald, blogueiro de Salon.com, durante a guerra de Gaza].

por Norman Finkelstein, em Counterpunch

A indignação mundial gerada pela invasão de Gaza não nasceu do nada nem foi repentina. De fato, foi a culminação de uma curva que há muito tempo marcava o crescente declínio do apoio a Israel em todo o mundo. Como mostram dados de pesquisas recolhidos nos EUA e Europa, todos os públicos, de judeus e não-judeus, foram-se tornando cada vez mais críticos das políticas israelenses ao longo de toda a última década. As imagens horrendas de morte e destruição mostradas pela televisão em todo o mundo durante a invasão de Gaza aceleraram aquele processo. “A frequência brutal e sempre crescente de guerra naquela região volátil fez mudar a tendência da opinião internacional” – escreveu o britânico Financial Times em editorial, um ano depois da invasão de Gaza –, “fazendo lembrar que Israel não está acima da lei. Israel não pode continuar a ditar os termos dessa discussão.”

Pesquisa feita nos EUA logo depois do ataque israelense a Gaza mostrou que o número de eleitores norte-americanos que se autodefiniam como apoiadores de Israel havia caído de 69% antes do ataque, para 49% em junho de 2009; e o número de eleitores que acreditavam que os EUA deveriam continuar a apoiar Israel, caiu de 69% para 44%.

Consumida pelo ódio, cheia de arrogância e confiante de que poderia controlar ou intimidar toda a opinião pública, Israel atacou Gaza com fúria de assassino que confia que jamais será apanhado, mesmo que promova assassinatos em massa à luz do dia. Mas, embora o apoio oficial a Israel não se tenha alterado no ocidente, a carnificina fez crescer uma onda sem precedentes de indignação popular em todo o mundo. Seja porque o ataque contra Gaza veio depois da devastação que Israel provocou no Líbano, ou por causa da incansável perseguição contra o povo de Gaza, ou seja, porque o ataque a Gaza foi ataque covarde, fato é que o ataque a Gaza em dez.-jan. 2009, parece ter marcado um ponto de virada na opinião pública em relação a Israel. O mesmo tipo de mudança aconteceu também depois do massacre de negros em Sharpeville, em 1960, na África do Sul.

Nas organizações oficiais da diáspora judaica, que têm laços antigos com Israel, o apoio continuou como sempre, cego. Ao mesmo tempo, contudo, organizações de judeus progressistas começaram a afastar-se de Israel, umas mais, outra menos. Enquanto, antes, todos os judeus mais conhecidos no mundo sempre apoiaram as guerras de Israel, muitos, dessa vez, mostraram-se ambivalentes durante a invasão, com uma maioria mais idosa e declinante que saiu em defesa de Israel e uma minoria crescente, mais jovem, que declaradamente fez oposição à invasão de Gaza. Entre o crescente incômodo dos mais jovens em face do belicismo israelense e as muitas vacilações ante a tarefa de apoiar Israel, o massacre de Gaza marcou uma primeira grande fissura no, antes, irrestrito apoio dos judeus a todas as guerras de Israel. Muitos constataram que, ao mesmo tempo em que em todo o ocidente as manifestações contra os ataques a Gaza foram sempre multiétnicas (com a presença de muitos judeus), as demonstrações ‘pró’ Israel sempre reuniram quase exclusivamente judeus.

A evidência de que a oposição ativa à política de Israel – por exemplo, nas universidades – já extrapolou os limites do mundo árabe-muçulmano e já alcançou públicos aos quais antes não chegava, ao mesmo tempo em que encolheu o apoio ativo a Israel, já confinado a uma fração do núcleo mais conservador dos judeus étnicos, é importante indicador da direção para a qual as coisas estão andando. A era da “bela” Israel já passou, parece que para sempre; foi substituída por uma Israel desfigurada que, nos últimos tempos ocupa a consciência pública e provoca embaraço cada dia maior. Não se trata apenas de Israel agir ainda mais mal do que antes, mas, sobretudo, de as ações de Israel terem ultrapassado o limite do que as consciências toleram.

Já não é possível negar ou desqualificar o que todos veem. A documentação do conflito árabe-israelense estabelecida por historiadores conhecidos conflita com versões popularizadas por livros como Êxodo de Leon Uris. Há evidências de inúmeras violações por Israel dos direitos humanos básicos dos palestinos, todas documentadas por organizações conhecidas; essas evidências não confirmam os discursos israelenses e o muito alardeado compromisso com “a Pureza das Armas” [heb. Tohar HaNeshek; ing. Morality in Warfare; é o código ético do Exército de Israel: “moralidade/pureza na guerra”]. As deliberações de corpos políticos e jurídicos respeitados manifestam graves dúvidas quanto ao alardeado compromisso de Israel com a resolução pacífica de conflitos. Por muitos anos, os ‘apoiadores’ de Israel conseguiram evitar o impacto da documentação que se foi acumulando; na maioria dos casos, ocultaram-se por trás de duas espadas gêmeas sempre em riste: o Holocausto e um “novo antissemitismo”.

Houve quem dissesse que os judeus não poderiam ser avaliados pelos padrões morais/legais comuns, depois do inexcedível sofrimento pelo qual passaram durante a II Guerra Mundial e que toda e qualquer crítica às políticas de Israel seriam sempre motivadas por um jamais extinto ódio aos judeus. Quanto a isso, além do desgaste que sofrem todos os argumentos excessivamente usados, esse argumento perdeu muito da eficácia que algum dia teve quando as críticas às políticas de Israel chegaram, afinal, às correntes mais amplas da opinião pública. Incapazes de responder àquelas críticas, os apologistas de Israel conjuram hoje as mais bizarras teorias para explicar o ostracismo ao qual se condenaram. Para George Gilder, guru ‘econômico’ do governo Reagan, o sistema de livre mercado teria modo específico para desencadear os potenciais humanos; e que portanto, sob sistemas de livre mercado, os judeus deveriam “estar sempre representados não proporcionalmente nos escalões superiores”, porque seriam seres humanos naturalmente mais bem dotados que outros. Inversamente, se os judeus não estiverem no comando, comprovar-se-ia que o sistema econômico não alcançou a perfeição.

O antissemitismo brotaria do ressentimento provocado pela “superioridade e excelência dos judeus” e pela “manifesta supremacia dos judeus sobre todos os demais grupos étnicos”; e o ódio contra Israel, do fato de Israel ter evoluído (sob a inspirada tutela de Benjamin Netanyahu) num perfeito sistema de livre mercado que “concentra o gênio dos judeus,” fazendo de Israel “uma das potências capitalistas mundiais líderes” e inveja do mundo: “Israel é odiada sobretudo por suas virtudes.”

Se há judeus que criticam Israel, tratar-se-ia de pura inveja: “os judeus destacam-se tanto e tão rapidamente nos campos intelectuais, que deslocam e derrotam todos os rivais antissemitas.” O ocidente deve tratar, isso sim, de proteger Israel e os israelenses contra “as quimeras mundiais de soma-zero e as fantasias de vingança e morte dos jihadistas”, e contra “as massas bárbaras”, porque foram os talentos e dotes dos judeus que levaram a humanidade “a crescer e prosperar”; em conclusão, porque os judeus são “decisivos para a raça humana”.

E prossegue: “se Israel for destruída, toda a Europa capitalista morrerá; e os EUA, epítome do capitalismo criativo e produtivo empurrado pelos judeus, estará sob grave risco”; “Israel é a vanguarda da próxima geração de tecnologia; está na linha de defesa de uma nova guerra racial contra o capitalismo, contra a individualidade e o gênio judeu”; “Assim como o livre mercado é necessário à sobrevivência das populações humanas sobre a face da Terra, a sobrevivência dos judeus é necessária para garantir o triunfo das economias livres. Se Israel for calada ou destruída, todos sucumbiremos ante as forças que hoje combatem o capitalismo e a liberdade em todo o mundo.”

Do outro lado do Atlântico, Robin Shepherd, diretor de assuntos internacionais da Henry Jackson Society, sediada em Londres, garante que Israel foi alvo de críticas fortes pelo ocidente, não porque seja campeã da defesa dos direitos humanos, mas porque é Estado capitalista democrático obrigado a lutar na linha de frente, ao lado dos EUA, contra o islã radical que seria “ameaça civilizacional”: “Israel tornou-se inimiga não por algo que tenha feito”, mas “porque estava do lado errado das barricadas”. A “principal plataforma de energização no ocidente” para essa “maré incontrolável de histeria, mistificação e distorções contra o Estado judeu” são “os marxistas totalitários e a esquerda liberal, viajantes que, desapontados pelo proletariado ocidental e desiludidos das lutas de libertação do Terceiro Mundo, uniram-se em causa comum com “o islã militante” para destruir a ordem mundial liberal-capitalista. Embora esses críticos de Israel não sejam antissemitas no tradicional sentido “subjetivo” de desprezar os judeus por serem judeus, são agentes de um antissemitismo “objetivo”, porque Israel tornou-se fator central da identidade dos judeus no mundo contemporâneo.

Mas a oposição a Israel também emanaria dos ‘sangue-azul’ do antigo regime que sonham com restaurar as hierarquias do velho mundo, devolvendo-as ao ponto em que teriam sido rompidas pelos arrivistas judeus. Essa conspiração neoantissemita reuniria “quase todos” os que acusam Israel de ter cometido crimes de guerra e de outras violações das leis internacionais. Evidentemente, deve-se entender que, por trás da condenação de Israel pela Anistia Internacional e pela Corte Internacional de Justiça, Jimmy Carter e Mairead Corrigan Maguire ganhadores do Prêmio Nobel, o Financial Times e a BBC, age a mão oculta da gangue dos radicais esquerdistas fanáticos aristocratas islâmicos. Para os que queiram saber mais, Shepherd recomenda “fortemente” que leiam The Case for Israel, de Alan M. Dershowitz.

Embora falte credibilidade a essas explicações para o isolamento de Israel, não há dúvidas de que as ações de Israel entraram em queda livre. Embora Israel tenha conquistado muitos simpatizantes ocidentais depois de fulgurante vitória de junho de 1967, a verdade é que, nos anos mais recentes, já está reduzida a Estado pária, sobretudo entre os europeus. Pesquisa de 2003 feita pela União Europeia, classificou Israel como principal ameaça à paz do mundo. Em 2008, pesquisa de opinião pública global classificou Israel como o principal obstáculo à paz no conflito Israel-Palestina. Em pesquisa do BBC World Service, feita imediatamente depois da invasão de Gaza, 19 dos 21 países pesquisados manifestaram opinião negativa sobre Israel.

Simultaneamente, sob o título “Second Thoughts about the Promised Land” [“Pensando melhor sobre a Terra Prometida”][1], a revista The Economist reporta em 2007 que “embora a maioria dos judeus da diáspora ainda apóiem Israel, aumentaram as dúvidas e a ambivalência.” Vozes de judeus discordantes começam a fazer-se ouvir na Grã-Bretanha, na Alemanha e em outros países, desafiando a hegemonia das organizações judias oficiais que repetem como papagaios a propaganda israelense. Nos EUA as tendências ainda não são muito claras, mas nem por isso menos significativas. Avaliando-se pelos dados de pesquisa, pode-se dizer que os norte-americanos sempre tenderam consistentemente mais a favor de Israel que dos palestinos. Mas os norte-americanos cada vez mais claramente também apóiam que os EUA trabalhem para mediar o conflito; mais recentemente, já há pesquisas que mostram “níveis equivalentes de simpatia” pelos dois lados, e minoria já substancial opinou que as políticas dos EUA favorecem (ou favorecem muito) Israel; uma robusta maioria de norte-americanos “opinaram que Israel não está fazendo bem a parte que lhe cabe de esforços para resolver o conflito”; e já há muitos norte-americanos que pregam o uso de sanções para conter Israel.

Significativamente, a maioria dos norte-americanos também apoiaram um acordo de dois Estados sobre as fronteiras demarcadas em junho de 1967, com total retirada dos israelenses dos territórios ocupados na guerra de junho. “Sim, as pesquisas mostram forte apoio a Israel,” observou em 2007 M. J. Rosenberg, diretor de análises políticas do Israel Policy Forum, a respeito das tendências de então; contudo “esse apoio a Israel, como mostram as pesquisas, é amplo mas não é muito profundo.” Esse fenômeno observa-se quase todos os dias nas “Cartas do Leitor”. Cada vez que aparece alguma coluna sobre Israel, sobretudo se critica Israel, aparecem várias cartas de leitor. A maioria apoia a posição israelense. E quase sem exceção as cartas são assinadas por judeus. A vasta maioria [de não judeus norte-americanos] que se supõe que sejam também favoráveis às posições de Israel não escrevem. Conforme pesquisa de 2007 feita pela Liga Antidifamação [ing. Anti-Defamation League (ADL)] a opinião de norte-americanos a favor de Israel é acentuadamente menos favorável do que suas opiniões favoráveis pró Grã-Bretanha e Japão; e é praticamente tão favorável quanto as opiniões pró Índia ou México. Quase a metade dos respondentes entendem que os EUA devem trabalhar aliados a Estados árabes “moderados”, “mesmo que isso contrarie Israel”.

Metade ou mais dos norte-americanos pesquisados culpam igualmente Israel e o Hizbollah pela guerra do Líbano, no verão de 2006, e apoiaram uma posição (mais) neutra dos EUA. Além disso, em anos recentes, vários grupos religiosos, como a Igreja Presbiteriana dos EUA, o Conselho das Igrejas, a Igreja Unida de Cristo e a Igreja Metodista Unida têm apoiado iniciativas, inclusive a favor do desinvestimento em corporações, para forçar o fim da ocupação da Palestina. Em pesquisa de 2005, feita por Steven M. Cohen, judeu, constatou-se que “a ligação dos judeus norte-americanos com Israel enfraqueceu de modo mensurável nos últimos dois anos, (…) seguindo tendência que se observava há muito tempo.” Menos respondentes, em relação a pesquisas anteriores, declararam prontamente seu apoio a Israel, que conversavam sobre Israel ou que participavam de atividades de apoio a Israel.

Significativamente, não houve declínio semelhante em outras mensurações de identificação com os judeus, incluindo práticas religiosas, observação de preceitos religiosos ou afiliação comunitária. A pesquisa mostrou 26% que se declaram “muito” emocionalmente ligados a Israel, menos que os 31% que se viram em pesquisa de 2002. Cerca de 2/3, 65%, declararam que acompanham de perto o noticiário sobre Israel, menos que os 74% da pesquisa de 2002; e 39% disseram que conversam regularmente com amigos judeus; menos que os 53% de 2002.

Israel também caiu nas pesquisas como componente da identidade judaica pessoal dos respondentes. Quando lhes eram mostrados vários fatores, entre os quais religião, justiça social e comunidade, ao lado de “preocupação com o destino de Israel”, e perguntados “quanto, de cada um desses fatores, pesa no seu sentimento de ser judeu?”, 48% responderam que Israel pesa “muito”; em 2002, foram 58%. Apenas 57% afirmaram que “a preocupação com o destino de Israel é parte muito importante do meu sentimento de ser judeu”; em pesquisa idêntica, de 1989, foram 73%. Pesquisa de 2007, feita pelo Comitê Judeu Norte-americano [ing. American Jewish Committee] mostrou que 30% dos judeus sentiam-se “distantes” ou “muito distantes” de Israel. “No longo prazo”, prevê Cohen, haverá uma “polarização nos judeus norte-americanos: um grupo cada vez menor de judeus mais fortemente religiosos cada vez mais ligados a Israel; e um grupo maior, que se afastará do grupo menor.”

Pesquisa de 2006 mostrou que, entre os judeus norte-americanos de menos de 40 anos, 1/3 declarou-se “distante” e “muito distante” de Israel; pesquisa de 2007 mostrou que, entre os judeus de menos de 35 anos, 40% declarou “fraca ligação” com Israel (apenas 20% declararam “forte ligação”). Surpreendentemente, menos da metade dos respondentes responderam “sim; a destruição de Israel seria vivenciada como tragédia pessoal.” O ex-presidente da Agência Judaica [ing. Jewish Agency] fez soar sinal de alarme, ao divulgar que “menos de 24% dos judeus norte-americanos jovens participam de organizações judaicas. Menos de 50% dos judeus norte-americanos com menos de 35 anos sentem-se profundamente ligados ao povo judeu. Menos de 25% dos judeus norte-americanos com menos de 35 anos autodefinem-se como sionistas.”

Nas universidades norte-americanas, observa-se a queda no apoio a Israel não só entre os alunos judeus em geral, mas também, e principalmente, entre os sionistas reunidos nos Hillels [ing. Hillel Foundation for Jewish Campus Life][2]. “Alunos universitários judeus são claramente menos ligados a Israel hoje do que em gerações anteriores”, dizem vários relatórios de organizações de propaganda pró-Israel. “Israel está perdendo a disputa pelos corações e mentes dos judeus.” De fato, dos cerca de meio milhão de alunos judeus que frequentam instituições de ensino superior, “apenas 5% mantêm qualquer conexão com a comunidade de judeus.”

Observa-se a conversão da ambivalência em aberta oposição em relação a Israel também em outros setores influentes da sociedade norte-americana, mesmo entre as vacas-madrinhas da vida intelectual nos EUA e no público de leitores. Pesquisa recente descobriu que uma maioria de líderes de opinião nos EUA apóiam Israel “movidos sobretudo por insatisfação com os rumos dos EUA” em todo o mundo. Em ensaio publicado em 2003 na New York Review of Books, o historiador judeu Tony Judt escreveu que “a Israel de hoje não é boa para os judeus” e pôs em dúvida tanto a viabilidade quanto a desejabilidade de um Estado judeu. John J. Mearsheimer, da Universidade de Chicago e Stephen M. Walt da Harvard Kennedy School são co-autores de um importante ensaio, de 2006, no qual atacam a imagem idealizada da história de Israel e afirmam que Israel está convertida em “risco estratégico” para os EUA. Livro do ex-presidente Jimmy Carter, provocativamente intitulado Palestine: Peace Not Apartheid, lamenta a política de Israel para os Territórios Palestinos Ocupado e culpa integralmente Israel pela deterioração do processo de paz.

Apesar dos contra-ataques vitriólicos que o lobby pró-Israel lançou contra aquelas intervenções – o discurso usual que acusa todos de serem negadores do Holocausto e antissemitas –, dessa vez os contra-ataques não foram eficazes.

Quando em 2006 as pressões do lobby levaram ao cancelamento de uma das palestras já agendadas de Tony Judt, o caso tornou-se imediatamente cause célèbre nos círculos intelectuais dos EUA. Críticos de Judt, como Abraham H. Foxman da ADL, foram descritos como “gente que se esconde atrás de acusações sem sentido de antissemitismo” e como “anacrônicos”. Carter, por sua vez, foi acusado de plagiador, de haver sido subornado por xeiques árabes, de ser antissemita, de fazer apologia do terror, de simpatizante dos nazistas, e pouco faltou para ser acusado de negar o Holocausto.

Mesmo assim, o livro de Carter chegou rapidamente à lista dos mais vendidos do New York Times e lá permaneceu durante vários meses, tendo vendido mais de 300 mil cópias encadernadas. Embora duramente criticado pelo presidente da Universidade Brandeis, o ex-presidente Carter foi recebido pelos estudantes com uma retumbante ovação, ao chegar para falar naquela universidade judaica tradicional. (E metade da plateia levantou-se e saiu quando Alan M. Dershowitz, professor de Direito de Harvard, levantou-se para discursar em resposta à palestra de Carter.) Mearsheimer e Walt contrataram a publicação de seu livro com a editora Farrar, Straus and Giroux, e seu livro, The Israel Lobby and U.S. Foreign Policy, também esteve por muito tempo na lista dos mais vendidos do Times.

Demonstração extra de que a sorte de Israel está mudando é que, durante o mandato do primeiro-ministro Ehud Olmert, nem Foxman nem Elie Wiesel, perene apoiador de Israel responderam publicamente à evidência de que Israel não se dedicava suficientemente em busca da paz. A crescente insatisfação pública em relação à política de Israel nos últimos anos chegou a ponto de ebulição e converteu-se em indignação manifesta durante a invasão de Gaza. Apesar da cuidadosamente orquestrada blitz de propaganda israelense; apesar de a cobertura jornalística ter sido, como sempre, marcadamente tendenciosa pró-Israel, sobretudo nos primeiros dias do ataque; e apesar do apoio oficial do ocidente ao ataque contra Gaza – apesar de tudo isso, houve enormes manifestações de rua por toda a Europa Ocidental (na Espanha, Itália, França e Grã-Bretanha), tão grandes que encobriram as pequenas manifestações de apoio a Israel.

Estudantes ocuparam universidades por toda a Grã-Bretanha, inclusive nas universidades de Oxford, Cambridge, Manchester, Birmingham, na London School of Economics, na School of Oriental and Asian Studies, Warwick, King’s, Sussex e Cardiff. Mesmo em tradicionais bastiões de apoio a Israel, como no Canadá, onde é particularmente intenso o viés de apoio a Israel da extrema direita e do establishment político e da mídia, os mais diferentes grupos de opinião pública manifestaram-se contra o ataque a Gaza; e o Sindicato Canadense de Servidores Públicos [ing. Canadian Union of Public Employees] aprovou moção em que pede um boicote acadêmico contra Israel.

Declarando depois do cessar-fogo que “os eventos em Gaza nos chocaram profundamente”, um grupo dos 16 juízes e investigadores mais experientes do mundo – entre os quais Antonio Cassese (Primeiro Presidente e Juiz do Tribunal Criminal Internacional para a ex-Iugoslávia e Chefe da Comissão de Investigação da ONU para o Darfur) e Richard Goldstone (Promotor-chefe do Tribunal Criminal Internacional da Comissão de Investigação da ONU para o Kosovo) – pediram que se instalasse “investigação internacional que examine as graves violações da legislação internacional de guerra cometidas pelos dois lados no conflito de Gaza.”

Como sempre, invariavelmente, os apologistas de Israel atribuíram ao crescimento do antissemitismo a crescente indignação contra a ação israelense em Gaza. Deve-se registrar que, como regra geral, quanto mais profundamente violenta é a conduta criminosa de Israel, mais aumentam, em decibéis, as ‘denúncias’ de antissemitismo. Os judeus estariam enfrentando “uma epidemia, uma pandemia de antissemitismo”, declarou Abraham H. Foxman. “É a pior, a mais intensa, a mais global onda de antissemitismo que nossa memória registra.” Não que esse tipo de diagnóstico seja novidade para Foxman que, em 2003, não se cansava de repetir que “a ameaça à segurança do povo judeu é tão grande hoje quanto foi nos anos 30s.”

Como no passado, sempre aparecem dados de pesquisa que confirmam esses exageros, chamados “indicadores” das “mais perniciosas noções de antissemitismo”; por exemplo, uma pesquisa que descobriu que “grandes porções da opinião pública europeia continua a achar que os judeus falam demais sobre o que lhes aconteceu no Holocausto.” Segundo um “filósofo” midiático francês, Bernard-Henri Lévy, qualquer um que ponha em dúvida que o holocausto nazista “foi um ponto de virada irreversível da história da humanidade” deve ser considerado antissemita. Na Europa, poucas das manifestações ditas antissemitas foram além de manifestações covardes ou apenas desagradáveis, como emails ou graffiti, porque o antissemitismo europeu, por mais que se deixe ver vez ou outra, empalidece completamente se comparado à islamofobia no continente. (Observou-se de fato, recentemente, oposição crescente a judeus e muçulmanos – as duas curvas parecem estar correlacionadas –, resultado provável do ressurgimento do etnocentrismo entre os europeus mais velhos, menos letrados e de orientação política mais conservadora.)

Apesar de tudo, parece ser verdade que a execução, por um autoproclamado Estado judeu, de vários ataques assassinos no Líbano e em Gaza, e o apoio que esses ataques receberam de organizações oficiais de judeus em todo o mundo, determinaram um muito lamentável – embora absolutamente previsível – efeito de “respingamento” sobre todos os judeus, que parecem estar começando a ser, todos, considerados culpados. Se, como o Fórum Israelense de Coordenação da Luta contra o Antissemitismo [ing. Israeli Coordination Forum for Countering Anti-Semitism] afirmou “houve claro aumento no número e na intensidade de incidentes antissemitas” durante o massacre de Gaza; e se “com o cessar-fogo, houve marcado declínio no número e na intensidade dos incidentes antissemitas”; e “outro ataque semelhante à operação em Gaza determinará novo surto de atividade antissemita contra comunidades em todo o mundo”, então, método eficaz de combater o antissemitismo parece ser conseguir que Israel suspenda a prática de massacres.

Também é verdade que o crescente fosso entre apoio oficial aos belicistas israelenses e a rejeição popular aos mesmos belicistas parece estar servindo de combustível a mais teorias antissemitas conspiratórias. Na Alemanha, por exemplo, o establishment político e a mídia dominante não dão espaço a qualquer crítica contra Israel por causa do “relacionamento especial”, ideia que cresce na Alemanha, a partir do que se entende que seja “a responsabilidade histórica” da Alemanha. A chanceler Angela Merkel antecipou-se a outros líderes europeus na defesa de Israel durante a invasão de Gaza. Mesmo assim, pesquisas recentes mostraram que 60% dos alemães rejeitam a ideia de que os alemães tenham qualquer especial obrigação com Israel (entre os jovens, a porcentagem chega a 70%); 50% veem Israel como país agressivo; e para 60% Israel persegue seus interesses mediante métodos cruéis.

O fim do papado se aproxima?

Peter Wensierski - Der Spiegel

Continuam a surgir alegações de que o papa Bento 16 pode ter tido conhecimento detalhado de episódios de abuso sexual na Igreja Católica. Em 1996, a Congregação para a Doutrina da Fé, que ele liderava na época, decidiu não punir o padre pedófilo Lawrence Murphy. Com sua autoridade desgastada, por que ele permanece no cargo?

Quando é hora de um papa renunciar? Margaret Kässmann, ex-líder da Igreja Protestante na Alemanha, renunciou em fevereiro, depois de decidir que não possuía mais a autoridade moral necessária para seu cargo depois de ter sido pega dirigindo embriagada. Mas quanta autoridade o papa Bento 16 ainda tem?

Ultimamente, o que restou dela tem desaparecido quase que diariamente. Cada novo detalhe sobre o papel que ele teve na forma como sua igreja lidou com os episódios de abuso sexual a desgasta ainda mais. Mas um papa não renuncia, simplesmente. Ele não é presidente de uma empresa, ou o líder de um partido político – ele é o descendente espiritual direto do apóstolo Pedro.

Teoricamente é possível, segundo a lei canônica. O Cânone 332, parágrafo 2, prevê uma renúncia papal, permitindo ao papa que renuncie quando desejar, sem pedir permissão de ninguém. Mas na longa história da Igreja Católica, é extremamente raro. O papa Celestino 5º foi o último líder da igreja a renunciar – 700 anos atrás.

E ainda que várias vítimas de abuso venham pedindo há tempos pela renúncia de Bento, simplesmente não é papal abrir mão do papado. Em vez disso, o Vaticano prefere rejeitar qualquer acusação que tenha sido feita, determinando-as como infundadas.

Na quinta-feira, era possível observar o reflexo novamente. No caso do padre pedófilo dos Estados Unidos, Lawrence Murphy, o porta-voz do Vaticano Federico Lombardi insistiu que, antes de se tornar papa, Bento, na época conhecido como Joseph Ratzinger, de forma alguma esteve envolvido em um acobertamento. Considerando que o “Padre Murphy era idoso e tinha saúde debilitada”, a Congregação para a Doutrina da Fé, então liderada por Ratzinger, decidiu em 1996 não puni-lo. Murphy, que abusou de cerca de 100 crianças, pôde continuar como padre até sua morte.

“Os culpados em primeiro lugar”

Parece improvável que essa explicação vá reduzir a pressão sobre o papa. O lema da Igreja sempre pareceu ser “os culpados em primeiro lugar”. Eles foram bem cuidados – as vítimas, entretanto, foram deixadas à própria sorte.

Desde 1982 Ratzinger foi responsável por aquela parte do Vaticano que lida com casos de abuso sexual. Quem, se não ele, foi responsável pelo caminho da Igreja?

Você pode trocar o nome de Ratzinger por “Bento”, escreveu o “Der Spiegel” diante da euforia que houve aqui pela eleição de um papa alemão em 2004, mas você não pode tirar o Ratzinger do papa. Desde então, como um papa, ele causou mais danos do que benefícios à sua igreja. Ele tensionou as relações com os judeus diversas vezes, brincou com fogo nas relações entre cristãos e muçulmanos com seu discurso de Ratisbona, enfureceu o povo indígena durante sua viagem à América Latina, irritou os protestantes e se mostrou conciliatório com os negacionistas do Holocausto.

Até católicos fiéis se surpreenderam com as atitudes que ele tem tomado. E agora, alem disso tudo, descobre-se que a área onde ele tem sido consistente nas últimas décadas é na sua negligência em lidar com pedófilos dentro de sua própria instituição.

Na Irlanda ou nos Estados Unidos, os bispos têm encontrado dificuldades para renunciar, mesmo em casos em que seu acobertamento tenha sido desmascarado. E na Alemanha, nenhum bispo caiu pelos graves erros cometidos pela Igreja Católica ali.

Gestão de crises de pequena empresa

A reação até o momento não foi maior do que uma gestão de crises que poderia se ver em uma empresa de médio porte: emitir um pedido de desculpas, criação de uma mesa-redonda para lidar com o problema, estabelecer uma linha direta… não muito mais do que isso. Então como os culpados por trás dos culpados devem ser encontrados? Como devemos erradicar o sistema de encobrimento, silêncio e transferência de pedófilos para outra diocese na Igreja? E quem obrigará a Igreja a abrir seus arquivos para o público?

A experiência das vítimas nos Estados Unidos e na Irlanda nos últimos anos foi ruim. Será que essa experiência se repetirá na Alemanha? O que aconteceu por trás da fachada da Igreja ainda está longe de ser um livro aberto. Só o fato de que vários bispos aqui na Alemanha ajudaram a garantir a continuidade do cartel do silêncio já é razão suficiente para que eles renunciem. A alternativa seria eles virem a público sobre o que sabem e o que fizeram, por mais doloroso e difícil que isso possa ser.

O mal foi perpetrado dentro de uma das mais altas autoridades morais, cujos homens pregaram a partir de seus púlpitos, nos mínimos detalhes, sobre o que é certo e o que é errado.

Mas fica a questão: para que autoridade moral padres e bispos na Alemanha podem se voltar, para continuar a executar suas funções e fornecer às pessoas respostas para as difíceis questões da vida?

Tradução: Lana Lim

A França rejeita Sarkozy...

França: A explosão do antisarkosismo


  Editado por Cristieni Castilhos


PARIS, França – Um enigma paira sobre o primeiro turno das eleições regionais de domingo [14 de março]. Se as previsões das pesquisas de opinião se confirmarem, a França amanhecerá na segunda-feira coberta pelo véu rosa dos socialistas, e pelo verde, dos ecologistas, e o que será dessa vasta e mal-humorada corrente que é o Antisarkosismo? A parcela da população que reprova a ação e o estilo do presidente francês e sua equipe é grande, mas carece de líderes que agrupem os descontentes.
O chefe de Estado cristaliza em torno de si um poderoso sentimento de insatisfação que se manifesta nos baixos níveis de popularidade com que ele governa. Nicolas Sarkozy tem apenas 37 por cento de opiniões favoráveis e as pesquisas prevêem para este domingo [12 de março] uma derrota significativa do partido que ele mesmo promoveu, a UMP [União por um Movimento Popular, sigla em francês]. Operários, Universitários, professores, estudantes, advogados, médicos, executivos, trabalhadores, funcionários e desempregados formam o corpo desse movimento sem liderança, mas que se expressa com solidez nas redes sociais e cujos argumentos podem ser ouvidos nas filas de supermercado ou nos balcões de bares.
Por paradoxal que pareça, o antisarkosismo não tem realmente quem o represente de forma coesa. Seus exércitos estão espalhados por todo o espectro político francês e em diversos movimentos que vão desde os grupos que defendem os imigrantes, passando pelos psicólogos e os médicos, os ecologistas, os militantes antiglobalização, os contrários a organismos geneticamente modificados, os desgostos com as multas de trânsito, os ativistas que denunciam a “geração precária”, os membros da “Quinta-feira Negra”- que clama por uma política alternativa para a habitação, até mesmo a última versão do Antisarkosismo, inspirada no caso italiano, o “No Sarkozy Day” [Dia do Não ao Sarkozy]. Esses movimentos de contestação política surgem em grade parte pela Internet. Os meios de comunicação franceses, sobretudo a imprensa, mantêm uma distância ainda mais abismal do que os políticos com relação aos problemas da sociedade.
Por outro lado, não existe hoje uma linha editorial de oposição. Há certas temáticas em que há oposição na imprensa, mas essas carecem de continuidade e, por conseguinte, de consistência. O jornal semanal Marianne, leva a cabo uma campanha sistemática contra Sarkozy, mas não representa toda a complexidade do antisarkosismo. O que faz o resto da imprensa parece uma brincadeira inconseqüente que deve fazer rir o presidente francês. Diante dessa ausência de base e de análise, o antisarkosismo se estendeu por um espectro hiperfragmentado, mas não por isso menos real.
O rancor social é profundo. Nicolas Sarkozy herdou também as desavenças das administrações passadas e coloca-se com certa responsabilidade global, como se essa sociedade desencontrada e que vem perdendo suas conquistas e benefícios tivesse inventado tal responsabilidade sozinha.
Há quem deseje fervorosamente que a seleção francesa de futebol faça um papel vergonhoso no Mundial africano, porque associam a política de Nicolas Sarkozy ao treinador da seleção, o impopular Raymond Domenech. Os bares são palco para um teatro de protestos múltiplos e revelam a polifonia do desencanto, assim como a solidão eleitoral da sociedade. Em meio a piadas e críticas, o povo admite que nenhuma figura de oposição política reflete um projeto alternativo ou inspira suficiente seriedade para voltarem suas expectativas para ele.
O antisarkosismo aparece hoje como o modelo de uma sociedade policiada e controlada, desumanizada e centralizada em diversos arquivos, em que o dinheiro é rei, quem tem amigos influentes é privilegiado, a indiferença e a vontade de controlar a tudo são princípios orientadores e que a cobertura política pelos meios de comunicação já é um recurso desgastado. Até agora, o grande desejo de se fazer uma convergência entre as diversas demandas setoriais não se fez realidade. As eleições deste mês talvez marquem uma mudança na maneira com a qual a oposição assume seu papel, na forma como governa o Executivo e no perfil que adquire o antisarkosismo.  A dimensão do movimento é mais uma sensação do que o reflexo de idéias políticas organizadas, especialmente porque os antisarkozy desconfiam dos partidos políticos como o diabo foge da cruz.
Os antisarkosistas sonham em sair das redes da Internet e levar às ruas os descontentos com o presidente. Uma viagem do virtual ao real. Seguindo o exemplo italiano, os criadores do “No Sarkozy Day” convocaram uma manifestação para o próximo 27 de março para dizer não à política do presidente. A iniciativa teve origem pelo Facebook sob o lema de “Um milhão de pessoas contra Nicolas Sarkozy” e agregou muitas vozes transversais que não se sentem representadas pelo sistema de partidos políticos e os meios de comunicação, mas simpatizam com o antisarkosismo.
Segundo Sebastian Ball, um dos fundadores do grupo, o movimento “Um milhão de pessoas contra Nicolas Sarkozy” conta hoje com 380 mil membros. Ball afirma que o “No Sarkozy Day” de 27 de março é apenas uma etapa, que não se trata apenas “de um encontro único entre todos os descontentes e irritados com Sarkozy”. O que buscam é unir-se e consolidar-se para mudar o estado das coisas.

Traduzido por: Cristieni Castilhos

Para acessar o texto original, clique aqui.
 
Imagem retirada daqui

Para reflexão.....



Três homens de esquerda
 
Por Fernando Evangelista - Caros Amigos
  
O governo Lula trouxe à baila uma discussão que alguns intelectuais, daqui e de fora, haviam decretado como ultrapassado: o que é ser de esquerda hoje? O presidente, mesmo sem querer, ressuscitou o debate ainda no início do seu segundo mandato, deixando muita gente confusa.  
 
O problema é que a dúvida durou pouco e ficou mais ou menos assim: exceto alguns inexpressivos grupos partidários, é de esquerda quem apóia o governo Lula, é de direita quem o critica. O curioso é que o próprio presidente disse, em mais de uma ocasião, que não é e nunca foi de esquerda. Porém, algumas coisas devem ser ignoradas porque senão tudo perde o sentido.
 
Vive-se um Fla-Flu político pouco polido e muito raivoso, e quanto mais próximas as eleições, maiores os decibéis da gritaria entre simpatizantes e críticos do governo. Por isso, de maneira simples e objetiva, destaco algumas posturas que, na minha visão, seriam os pressupostos formadores do homem ou da mulher de esquerda.
 
Escolhas
Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
 
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
 
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
 
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
 
Vida Real
Eu conheço três homens de esquerda. Nenhum deles participa de partidos políticos ou utiliza palanques para proclamar suas próprias virtudes. Não são super-heróis ou pessoas infalíveis, são pessoas de carne e osso, com qualidades e contradições. São homens de esquerda, sem nunca, talvez, terem pensado nisso. Os três são de Santa Catarina.
 
O primeiro e mais novo é Vilson Groh, 55 anos, padre que vive e trabalha há 30 anos no Mont Serrat, comunidade da periferia de Florianópolis. Entre dezenas trabalhos que coordena, está o Aroeira, onde cinco mil jovens, todos pobres, quase todos negros, recebem formação profissional, com bolsas, para entrar no mercado de trabalho. Foi através de outro projeto, o Pré-Vestibular da Cidadania, que 400 jovens daquela comunidade se formaram nas universidades públicas de Santa Catarina e outros tantos seguem o mesmo caminho.   
 
O segundo chama-se Aldo Brito, 77 anos, farmacêutico, que dedica a sua vida à luta pela inclusão dos portadores de necessidades especiais. Quando foi presidente da APAE, idealizou a Feira da Esperança, maior evento filantrópico de Santa Catarina. Há 11 anos, criou a COEPAD (www.coepad.hpg.ig.com.br), a primeira cooperativa no Brasil tocada por portadores de deficiência intelectual.  
 
O terceiro é Francisco Xavier Medeiros Vieira, 78 anos, que escolheu a magistratura porque entendia ser o caminho mais eficaz para lutar por justiça. Entre seus projetos, está a construção de 50 casas da cidadania, para agilizar e humanizar o Poder Judiciário. Foi ele quem implementou e coordenou a primeira eleição computadorizada na América Latina e foi ele, quando presidente do Tribunal de Justiça, quem nomeou o primeiro juiz agrário do Brasil, para evitar conflitos no campo. O homem de esquerda sabe que não é justo, por isso inaceitável, que menos de 1% dos proprietários rurais detenham 46% de todas as terras agricultáveis do país.  
 
Os três são movidos pela integridade de caráter, pela generosidade de espírito e por uma bondade risonha. E é com pessoas assim, como escreveu o poeta e revolucionário cubano José Martí, “que vão milhares de homens, vai um povo inteiro, vai a dignidade humana”. Então, para quem diz que a esquerda na essência não existe ou perde tempo com argumentos teóricos vazios de sentido, para quem ainda não entendeu o embuste da briga entre tucanos e petistas, aí está o exemplo destes três homens. Três homens de esquerda.
 
Fernando Evangelista é jornalista

quinta-feira, 25 de março de 2010

Tarik Ali sobre o Iêmen

 Infeliz Iêmen

Há excelente mapa aqui.

por Tariq Ali, em London Review Books

Parti para o Iêmen, já que Obama anda insistindo que “grandes fatias” do país ainda não estariam “sob completo controle do governo”, depois de o senador Joseph Lieberman ter alegremente anunciado que o Iêmen seria alvo adequado para mais guerra e mais ocupação.
O infeliz portador daquela cueca-bomba que tentou explodir o avião de Amsterdam no dia de Natal deflagrou nova onda de interesse pelo país e pela “al-Qaida in the Arabian Peninsula (AQAP)” – porque se disse que, embora o homem tenha sido convertido ao Islã linha-dura na Inglaterra, seu abraço felizmente fracassado com o terrorismo teria sido viabilizado pela AQAP em algum ponto do Iêmen.
O Iêmen é país sóbrio, diferente dos postos imperiais de gasolina espalhados por outras partes da península arábica, onde as elites dominantes vivem em arranha-céus construídos em prazos sempre recordes, projetados por arquitetos-celebridades, cercados por shopping-centers em que se vendem produtos com todas as griffes ocidentais, atendidos por escravos que chegam em ondas do Sul da Ásia e das Filipinas. Sana’a, capital do Iêmen, foi fundada em tempos em que o Velho Testamento ainda estava em produção, sendo escrito, editado e costurado. É verdade que o novo hotel Mövenpick, no coração do enclave diplomático que há na cidade, faz lembrar o pior de Dubai (estive lá quando todos eram obrigados a engolir um menu “Valentine’s Day Dinner Menu”), mas a elite iemenita é cuidadosa e não ostenta riqueza.
A velha cidade murada foi resgatada da extinção-por-modernização, pela Unesco (depois, também pelo Aga Khan Trust) nos anos 80s, e a antiga muralha foi reconstruída. A Grande Mesquita do século 9º está atualmente sendo restaurada por equipe de especialistas italianos associados a arqueólogos locais e têm encontrado objetos e imagens do passado pré-islâmico daquela região. Se vão ou não localizar uma pequena estrutura que se diz que teria sido construída ainda em vida do profeta Maomé, não se sabe.
A estrutura de Sana’a é deslumbrante, diferente de tudo o que se vê no mundo. As construções – arranha-céus de oito ou nove andares – foram erguidas no século 9º e restauradas 600 anos depois, conservando-se o estilo original: tijolos de argila decorados com padrões geométricos em gesso e pedra esculpida (não havia madeira em quantidade suficiente para construir). Faltam só os jardins suspensos em cada piso, que cativaram a imaginação dos viajantes medievais.[1]
Resultado líquido das preocupações ocidentais com a Al-Qaeda AQAP é que, esse ano, os EUA darão 63 milhões de dólares em ajuda ao Iêmen. Um quinto disso já está reservado para comprar armas, e o restante, praticamente todo, irá para o presidente e sua trupe, sem esquecer o que irá para os bolsos dos altos comandantes militares. O que sobrar será disputados pelos chefetes das várias regiões do país. (No total, não está incluído o que o Pentágono enviará para combater o terrorismo, e que ano passado chegou a 67 milhões.) Um empresário iemenita contou-me que ficara boquiaberto, há alguns anos, quando o primeiro-ministro, aparentemente homem moderado e respeitável, exigiu comissão de 30% em negócio que estavam planejando. Percebendo que o empresário ficara chocado, o primeiro-ministro tratou de tranquilizá-lo: 20% iriam diretamente para o presidente.
Não sei se a AQAP é ameaça séria, ou o quanto é séria, de fato. Quantos membros da organização estariam no país, quantos seriam meros visitantes vindos do outro lado da fronteira com a Arábia Saudita?
Abdul Karim al-Eryani, 75 anos, ex-primeiro-ministro e ainda conselheiro do presidente recebeu-me na grande biblioteca no subsolo de sua casa. É homem de fala interessante e falou longamente sobre a história do Iêmen, destacando as continuidades desde o período pré-islâmico até as culturas islâmicas na região. Lastimou que o dialeto árabe falado pelos beduínos de Nejd (que hoje é parte da Arábia Saudita) tenha sido a principal fonte para o moderno dicionário árabe, esquecendo-se assim a real fonte da língua, o dialeto dos Sabeans [talvez “sabinos”? Só o Arnaldo Carrilho saberá dizer!] que viveram onde hoje é o Iêmen, de cujo idioma os autores do dicionário excluíram 5.000 palavras.
Mais adiante, contou-me que, graças ao nigeriano da cueca-bomba, tinha sido visitado por Thomas Friedman, colunista do New York Times. Friedman fez as perguntas que quis, voltou aos EUA e contou aos leitores que “a cidade não é Cabul… ainda”; que a AQAP é um ‘vírus’ que merece urgente atenção antes que a doença se espalhe e torne-se incontrolável. Não cogitou, sequer, da causa da infecção.
Mas quando pedi que Eryani estimasse o tamanho da AQAP, ele riu. “Trezentos? Quatrocentos” – insisti. “No máximo”, disse ele. “No máximo, mesmo. Os americanos exageram enormemente. Temos nossos problemas reais e muito mais importantes.”
O mesmo ponto de vista foi reiterado por Saleh Ali Ba-Surah, ministro da Educação Superior, formado na Alemanha Oriental, como muitos nascidos na república que, até 1990, foi a República Popular Democrática do Iêmen, a porção sul do atual Estado.
As duas partes do que hoje constitui a República do Iêmen – controlada há 20 anos por Ali Abdullah Saleh, o qual, como Mubarak e Gaddafi, está criando o filho para sucedê-lo – representaram duas muito diferentes sociologias ao longo de grande parte do século passado. O norte, das terras altas – onde está a capital Sana’a –, foi dominado por tribos armadas; e no interior da região de Aden, dominavam os operários, intelectuais, sindicalistas, nacionalistas e, depois, os comunistas.
O país foi unificado séculos antes, sob a liderança dos imãs xiitas Zaidi, cujos poderes temporais dependiam da lealdade tribal e da aquiescência dos camponeses. O sul do Iêmen separou-se em 1728; o império britânico em expansão ocupou Aden e a área litorânea em 1839 (no mesmo ano em que começou a ocupar Hong Kong).
O já enfraquecido império otomano ainda abocanhou, pouco depois, uma fatia do norte do Iêmen, mas teve de cedê-la depois da I Guerra Mundial. Sob o império-do-bem dos britânicos, os imãs da família Hamid-ed-Din reassumiram o controle do norte. Em 1948, o governante, Yahya Muhammad, foi assassinado por um de seus guarda-costas, e o filho de Yahya, Ahmad, isolacionista obcecado, assumiu o poder.
Para Ahmad, a escolha foi fácil: seu país poderia ser dependente e rico, ou pobre e livre. Aos poucos, o descontentamento popular cresceu, à medida que Ahmad ia-se tornando cada vez mais excêntrico, mergulhado em morfina a maior parte do dia, ele e os amigos, num quarto iluminado com lâmpadas de neon, brincando com os brinquedos que colecionava desde criança. Não havia no país sequer uma escola moderna, uma estrada de ferro ou fábrica moderna, praticamente nenhum professor e nenhum médico.
Todos apostavam na volta de um irmão exilado do imã, que viria para expulsar Ahmad; ou, antes disso, em que os apoiadores de Nasser no exército do Iêmen perdessem a paciência. Ahmad combatera o nacionalismo árabe de Nasser em 1960, instigado pelos sauditas, fez divulgar pela rádio estatal uma denúncia contra Nassar, e havia quem esperasse por resposta do Cairo. A Rádio Cairo, sim, declarou guerra ao Iêmen. Mas antes que chegassem às vias de fato, Ahmad morreu.
Em menos de uma semana, o chefe da guarda pessoal de Ahmad, al-Sallal, reuniu oficiais nacionalistas e tomou o poder. O imanato chegara ao fim. Em Aden, milhares de pessoas manifestaram-se nas ruas a favor do novo regime. Nas mesmas manifestações deixaram bem claro também que resistiriam contra a ocupação colonial do sul do país pelos britânicos.
Com medo tanto dos radicais nacionalistas quanto de seus muito prováveis apoiadores comunistas, Washington e Londres decidiram que o melhor a fazer seria devolver o poder aos imãs. Os britânicos, doidos para dar uma lição a Nasser e vingar a humilhação de Suez, foram com muito mais sede que os EUA ao pote das armas. A principal preocupação dos norte-americanos era que a infecção iemenita se espalhasse pela península e que, se a intervenção saudita fracassasse, as correntes nacionalistas engolfassem também a Arábia Saudita – o que poria em risco a monarquia. Os sauditas passaram a alimentar os apoiadores dos imãs e as tribos mais conservadoras do norte – com uma mistura barata de islamismo primitivo e muito dinheiro.
Os líderes políticos e militares do novo Estado do norte eram fracos e atrapalhados. Os intelectuais nasseristas no governo aproveitaram-se da indecisão deles e, finalmente, conseguiram convencer o exército a recorrer diretamente a Nasser. Os egípcios, então, com apoio de soviéticos e chineses, mandaram para o Iêmen uma força expedicionária de 20 mil soldados.
Gerou-se assim uma prolongada guerra civil, disputada por simulacros dos personagens oficiais da Guerra Fria – sauditas versus egípcios, para ser bem claro –, que custou a vida de 200 mil iemenitas e deixou em ruínas todo o norte do país.
Os egípcios eram homens do vale do Nilo e o terreno montanhoso lhes era completamente desconhecido. Mas, certos de que seriam invencíveis, não ouviram advertências nem conselhos e trataram os aliados locais, simultaneamente, como inferiores e irrelevantes. A guerra civil enfrentava impasse completo, e crescia a oposição aos métodos dos egípcios, que incluíam o uso de armas químicas. Foi quando aconteceu o brutal massacre dos operários e sindicalistas que faziam oposição aos egípcios em Sana’a e Taiz.
Em 1970, a guerra acabou sem vencedores e um acordo insatisfatório para todos. Os egípcios trabalharam na direção de subornar as tribos para comprar o poder; como resultado, compraram o poder – que foi entregue associado a entidades divinas e muitos pregadores e clérigos. A guerra custara ao Egito um milhão de dólares por dia e a vida de 15 mil soldados, além de quase 50 mil feridos. A subsequente desmoralização do exército pode ter contribuído para a derrota que sofreu na Guerra dos Seis Dias. Seja como for, a ‘guerra relâmpago’ de Israel, em junho de 1967, foi o túmulo do nacionalismo árabe.
A guerra civil forçou muitos comunistas e nacionalistas de esquerda do Iêmen do Norte a fugir para Aden. Ali, soldados britânicos, veteranos franceses da Argélia e mercenários belgas foram recrutados para a empresa do coronel David Stirling, Watchguard International Ltd., para operar por trás das linhas inimigas. Também no sul os nacionalistas estavam divididos: o Egito apoiava a Frente para a Libertação do Iêmen do Sul [ing. Front for the Liberation of South Yemen (FLOSY)] e grupos mais radicais reunidos sob a bandeira da Frente Nacional de Libertação [ing. National Liberation Front (NF)]. Os dois lados lutavam para expulsar os britânicos, e os britânicos, determinados a continuar onde estavam, agarrados a uma base estrategicamente importante e recorrendo cada vez mais a prisões sem julgamento e à tortur a.
Em 1964 Harold Wilson declarou que os britânicos permaneceriam na região, mas que passariam o poder, em 1968, à chamada Federação Sul-arábica [ing. Federation of South Arabia], sob a qual Wilson esperava que a população de Aden fosse mantida sob o controle de sultões do interior.
O plano deu gravemente errado, depois de todas as vilas terem sido bombardeadas, até serem varridas do mapa, pela Força Aérea britânica [ing. Royal Air Force (RAF)]. Em palavras de Bernard Reilly, oficial britânico que viveu praticamente toda a vida em Aden: “Só se pode pacificar país não habituado a governo ordeiro, mediante atos de punição coletiva, assalto e pilhagem.” Os líderes daquelas tribos não desejavam ser pacificados. Começou luta feroz nas ruas do Crater, uma das áreas mais antigas de Aden.
Em 1967, a Frente Nacional de Libertação usava bazucas e morteiros em Aden e atacava diretamente as bases militares britânicas. O governo trabalhista decidiu pôr fim às perdas e ordenou a retirada. “Lamentavelmente” – lê-se em carta do Colonial Office aos seus colaboradores nativos – “não podemos continuar a protegê-los”.
A vitória dos israelenses em junho de 1967 não ajudou os britânicos, porque a Frente Nacional de Libertação não era peão que os Egípcios jogassem como bem entendessem e bem diferente, nisso, da Frente para a Libertação do Iêmen do Sul [ing. FLOSY] a qual, então, estava gravemente enfraquecida. Uma greve geral comandada pela Frente Nacional de Libertação paralisou Aden e ataques de guerrilheiros forçaram a administração colonial a cancelar as celebrações do aniversário da rainha. Seis meses mais tarde, dia 29/11/1967, quando o fechamento do canal de Suez acabou com qualquer importância que Aden tivesse para os britânicos, os britânicos afinal partiram, depois de 128 anos.
Ao mesmo tempo em que Humphrey Trevelyan, último comissário, acenava uma rápida despedida dos degraus do avião que o devolveria a Londres, a Banda da Real Marinha Britânica do HMS Eagle tocava ‘Fings Ain’t Wot They Used To Be’ [as coisas não serão mais como foram, escrito ‘com sotaque’].
A Frente Nacional de Libertação venceu, mas ainda faltava planejar a reconstrução do país. A Frente reunia membros de várias correntes da esquerda: pró-Moscou, maoístas, guerrilheiros à Che Guevara, alguns poucos trotskyistas e nacionalistas ortodoxos. Todos concordaram imediatamente com restabelecer relações diplomáticas com a URSS, o que foi feito dia 3/12/1967. Mas as disputas começaram imediatamente.
O Congresso da Frente Nacional de Libertação aprovou deliberação apresentada pelos radicais, em que se exigiam reformas no campo, o fim do analfabetismo, a formação de uma milícia popular, expurgo nos aparelhos civil e militar, apoio à resistência palestina e cooperação intensa e próxima com a China.
A esquerda dominava no corpo dirigente então eleito. Uma tentativa de putsch liderada pelo exército por pouco não levou à guerra civil; mas comandos guerrilheiros armados cercaram as bases militares e desarmaram os oficiais. Em maio de 1968 já se via que a ala direita da Frente Nacional de Libertação não tinha qualquer intenção de implementar as resoluções do Congresso.
Foi criado um Movimento 14 de Maio, para mobilizar os que apoiavam as reformas. Houve confrontos com os militares, seguidos por um estranho período de calmaria que fazia recordar os Dias de Julho de 1917 em Petrogrado. A direita supôs que havia vencido e declarou que “os organizadores do Movimento 14 de Maio, de tanto ler os escritos de Régis Debray, supuseram que estivessem fazendo “uma revolução dentro da revolução”. Um ano depois, todos entenderam que a esquerda vencera.
A constituição de 1970 declarou o país uma república socialista – a República Popular Democrática do Iêmen – contra os conselhos de China e da URSS. (Em outubro de 1968, o ministro das Relações Exteriores da China, Chen Yi, o qual, ele mesmo, estava então sitiado pelos Guardas Vermelhos, declarou a uma delegação do Iêmen do Sul que visitava a China que “a ideia de vocês, de construir o socialismo, alimentada com slogans irrealizáveis e promessas que não poderão cumprir, pela própria natureza da ideia, afia as espadas de seus adversários.”) O que aconteceu foi tragicamente previsível.
Um Estado economicamente muito atrasado partiu para criar estruturas que institucionalizaram a austeridade e universalizaram a miséria. Promover a industrialização mediante empresas estatais poderia ter ajudado, não fosse pela proibição total de qualquer tipo de produção doméstica, sequer para o consumo das próprias famílias. A isso somou-se o monopólio estatal de todas as modalidades de comunicação, controle estrito sobre tudo que se podia dizer ou publicar, e extinção de todos os partidos do país, exceto o Partido Socialista Iemenita [ing. Yemeni Socialist Party]. Zombaram, ao mesmo tempo, do socialismo e das promessas feitas durante a luta anticolonial. O que é inegável é que o novo sistema de educação e atendimento médico universal, e a aparição da mulher na cena pública marcaram extraordinário passo adiante para toda a região. O que não agradou à Arábia Saudita.
Como desenvolvimento esperável, as potências vizinhas – o Iêmen do Norte, os Estados do Golfo, a Arábia Saudita – puseram-se a trabalhar, estimulados pelo governo Reagan, numa contrarrevolução de dentro para fora, do tipo que estava então sendo tentada na Noruega com os Contras. Em Ali Nasser, apparatchik cru, semianalfabeto, obcecado pelo poder absoluto, que se tornou presidente da República Popular Democrática do Iêmen em 1980, aquele grupo encontrou o instrumento de que precisava.
Por mais de um ano o presidente trabalhou contra o carismático Abdul Fateh Ismail, que o precedera na presidência e liderara a luta contra os britânicos, até conseguir que renunciasse por “motivos de saúde” e partisse para longa estadia na Europa Oriental. Havia vários apoiadores de Ismail na liderança local, quando ele retornou de Moscou em 1985; foi rapidamente reeleito para o Politburo da República Popular Democrática do Iêmen, como líder da maioria.
Dia 13/1/1986, o carro de Ali Nasser foi visto na calçada do prédio do Comitê Central (réplica de outras horrendas estruturas que se viam na Europa Oriental), onde deveria acontecer uma reunião do Politburo. Mas Ali Nasser não compareceu à reunião. Em vez dele, apareceu seu guarda-costas, drogado e armado com uma metralhadora Scorpion; entrou na sala e assassinou à bala o vice-presidente Ali Ahmed Antar, para começar; em seguida matou todos quantos estavam na sala. Foram mortos quatro membros-chave do Politburo, inclusive Ismail, além de outro membros do Comitê Central. Em outros pontos da cidade, homens de Ali Nasser destruíram, a tiros de morteiros, a casa de Ismail; e houve pesado tiroteio em vários pontos. Às 12h30, rádios e televisões de Aden noticiaram que o presidente derrotara uma tentativa de golpe dos direitistas e que Ismail e seus colaboradores haviam sido executados. Três horas de pois, o serviço árabe da BBC anunciava que o “moderado e pragmático” presidente do Iêmen conseguira abortar uma tentativa de golpe pelos comunistas extremistas. E a mesma linha foi acompanhada por quase toda a mídia ocidental, que repetiu a versão da derrota de uma tentativa de golpe apoiada por Moscou para radicalizar ainda mais o Iêmen… e, isso, apesar de Gorbachev já estar no poder na URSS.
À medida que se espalhavam em Aden as notícias dos assassinatos, multidões começaram a reunir-se nas ruas, e soldados conseguiram desalojar os novos donos do prédio do ministério da Defesa e da sala de operações, de onde os homens de Ali Nasser foram expulsos. Os confrontos atravessaram a noite. Morreram muitos membros desarmados do Partido, sindicalistas, líderes camponeses, assassinados pelos soldados de Nasser – que tinham listas de nomes antecipadamente preparadas. Seja como for, depois de cinco dias de luta sangrenta, os “moderados e pragmáticos” foram derrotados. Ali Nasser fugiu para o Iêmen do Norte e de lá, depois, para Dubai. Atualmente, é diretor de um “centro cultural” em Damasco, onde dirige também suas várias empresas.
A matança na reunião do Comitê Central foi o começo do fim da República Popular Democrática do Iêmen. Os prepostos do Ocidente na região, que haviam organizado toda a ação, puseram-se a falar contra “os gângsteres socialistas que ocuparam o governo do país”. Enquanto a URSS começava a desmoronar, começaram negociações entre o Iêmen do Sul e do Norte, e o país foi rapidamente unificado em maio de 1990, comandado por um conselho presidencial de cinco membros que representava as duas ‘metades’. Em 1991, uma nova Constituição levantou todas as limitações à liberdade de expressão e da imprensa e à liberdade de reunião e associação.
Mas a unificação também não deu certo. Os iemenitas do sul sentiam que seus interesses haviam sido traídos, e os repetidos confrontos e discussões não auguravam bom futuro para o governo de coalizão criado depois das eleições. Os socialistas do sul acusavam as gangues apoiadas por Ali Saleh, ex-presidente do Iêmen do Norte, e então presidente do país unificado, de atacar sulistas em Sana’a e em outras cidades. As relações deterioram-se rapidamente e houve escaramuças no Sul entre remanescentes do exército da República Popular e soldados que haviam lutado pelo Norte. Chegou a irromper guerra generalizada em 1994, da qual participaram grupos jihadistas e Osama bin Laden – que apoiavam Ali Saleh. Os sulistas foram esmagados, não apenas militarmente, mas também cultural e economicamente. Houve expropriação, roubo de terra, de propriedades urban as, as mulheres voltaram a ter de cobrir-se dos pés à cabeça (“Se não nos cobríssemos, chamavam-nos de prostitutas. Houve muitos estupros. A brutalidade foi imensa. Nos obrigaram a fazer o que queriam” – contou-me uma mulher sem véu, em Aden).
Quando cheguei a Aden, percebi que a Al-Qaeda da Península Árabe (AQAP, em inglês) é o menor dos problemas do país.
A maioria dos sul-iemenitas anseiam desesperadamente por separar-se do Iêmen do Norte. “Aqui não se trata de unificação. Trata-se de ocupação” – ouvi inúmeras vezes.
A população está sem liderança política e há fortes rumores em Sana’a de que o assassino Ali Nasser estaria sendo preparado pelo atual presidente Ali Saleh para fazer uma reestreia política; Ali Saleh o vê como “o homem da unificação”. Enquanto isso, há manifestações nas vilas e cidades menores, nas quais se queimam a bandeira do Iêmen e fotos do presidente Ali Saleh, e vê-se subir o velho estandarte da República Popular Democrática. A repressão é sempre violenta e a amargura só faz crescer, essa sim, de todos.
Dia 1/3/2010, as forças de segurança cercaram e destruíram a casa de Ali Yafie o qual, na véspera, queimara em público uma fotografia do presidente Ali Saleh. Yafie e oito membros de sua família, inclusive a neta de sete anos, foram mortos. A propaganda governamental acusou-o de ser membro da Al-Qaeda da Península Árabe.
Na noite de 4/1/2010, as forças de segurança em Aden cercaram a casa de Hasham Bashraheel, editor-chefe do jornal Al-Ayyam – fundado em 1958 e jornal que sempre noticiou, com abundância de fotos, as atrocidades do Estado. Por exemplo, publicou fotos dos mortos depois que as forças de segurança abriram fogo contra ex-soldados que reclamavam pagamentos atrasados; o jornal foi fechado em maio de 2009, embora a sala da redação tenha continuado a servir como local de reunião de jornalistas, intelectuais e ativistas de direitos civis. Quando as forças de segurança cercaram o prédio, logo surgiram também defensores do jornal que se reuniram na área. Os policiais dispararam para o ar, para dispersá-los. Depois, atiraram granadas na direção do prédio, onde o jornalista e sua família, inclusive duas netas pequenas, ainda estavam. Todos sobreviveram, miracu losamente, porque conseguiram esconder-se no porão do prédio.
Na manhã seguinte, Bashraheel e seus dois filhos renderam-se publicamente, para, pelo menos, tentar dificultar algum tipo de atentado contra eles e a família. Um ativista local disse-me que “amigos que tenho na polícia” disseram-lhe que havia dois cadáveres não identificados no porta-malas de um automóvel sem placa, em frente ao jornal.
Se Bashraheel e sua família tivessem sido assassinados, os dois cadáveres teriam sido plantados no prédio e identificados como membros da Al-Qaeda da Península Arábica, que estariam recebendo abrigo no prédio do jornal e teriam sido mortos por resistir à prisão. Um guarda pago pela família para cuidar da segurança foi morto, ao tentar render-se. O seu pai foi preso no enterro, dia seguinte. O jornalista foi pessoalmente acusado de “formação de quadrilha armada”. Há boatos de que o embaixador britânico, Tim Torlot, teria escrito ao governo, sugerindo que a mídia independente seria o principal problema no Iêmen. Meu informante em Sana’a garante que viu a carta. Torlot é famoso no Iêmen por ter trocado a esposa por uma ofuscante norte-americana que trabalha para o jornal Yemen Observer, jornal cujo proprietário é o secretário de imprensa do p residente Ali Saleh.
Viajei pelo sul, de Aden a Mukallah. Mas quando vi Shibam, esqueci completamente a política, pelo menos por uns instantes. Essa cidade murada, feita de edificações com paredes de argila, muito altos, alguns com 30 metros de altura, é um museu vivo[2]. Não surpreende que tenha sido escolhida por Pasolini para cenário de boa parte de suas “Mil e Uma Noites”. Pasolini fez mais. De volta a Roma, tanto falou sobre a cidade que conseguiu que a Unesco a declarasse patrimônio universal da humanidade (“World Heritage”). Em 2009, ao fotografarem a cidade de cima de uma colina, quatro turistas sul-coreanos foram mortos por um suicida-bomba do Norte.
Perguntei por todos os lados sobre a Al-Qaeda da Península Árabe. Um habitante de Shiban aproximou-se e perguntou-me num sussurro: “Quer mesmo saber onde Al-Qaeda se esconde?” Fiz que sim, com a cabeça e ele respondeu: “Na sala ao lado do gabinete do presidente”.
O mesmo aconteceu, em versão quase idêntica, também em Sana’a e Aden. Na véspera do Natal, o governo bombardeou (com jatos e aviões-robôs coordenados pelos EUA) duas vilas do sul onde, diziam eles, estaria escondido Anwar al-Awlaki, o clérigo iemenita-norte-americano acusado de ser o mentor do nigeriano da cueca-bomba. Não o encontraram, mas mataram mais de uma dúzia de civis.
O governo de Ali Saleh também enfrentou rebelião na província de Sa’ada, no norte, que faz fronteira com a Arábia Saudita. A população das terras altas anda irritada com os grupamentos de Wahhabitas e, sem ajuda do governo de Sana’a, decidiu se autodefender. Milícias tribais capturaram alguns soldados sauditas.
Resultado disso foi que, dia 5/11/2009, o mundo viu pela primeira vez em ação a Força Aérea Saudita (dita a mais poderosa força aérea na Região, depois de EUA e Israel; mas os aviões enferrujam até desmanchar, em hangares no deserto). Ali Saleh, o presidente, descreve a revolta como uma rebelião de xiitas apoiados por Teerã, e que tem de ser contida à força. Já praticamente ninguém acredita nisso.
O exército iemenita promoveu em agosto passado a Operação “Terra Arrasada” [ing. Scorched Land], que destruiu vilas e desalojou de suas casas 150 mil pessoas. Dada a total ausência de notícias e de organizações humanitárias, não se conhece exatamente a extensão das atrocidades cometidas pelo governo de Ali Saleh.
Muhammad al-Maqaleh, líder do Partido Socialista Iemenita e editor do jornal do partido, o Socialist, obteve depoimentos de algumas testemunhas oculares e publicou-os na Internet em setembro passado. Descreveu um ataque aéreo que matou 87 refugiados em Sa’ada, e incluiu fotografias. Foi preso por quatro meses, torturado e ameaçado de execução, por quatro meses. Finalmente foi apresentado a uma corte de justiça, à qual revelou o que sofrera.
Sana’a ainda não é Cabul, sim. Mas se o regime de Ali Saleh continuar a usar a força contra a população na escala em que está acontecendo hoje, novas guerras civis são hoje muito prováveis.
[1] Ver Salma Samar Damluji (2007), The Architecture of Iêmen: From Yafi to Hadramut.
[2] Há boas imagens em http://whc.unesco.org/en/list/192/.

Subsidio europeu para a população carente...

O Bolsa-família na Europa

Juremir Machado - blog do correio do povo

Dizem que bolsa-família é coisa de país atrasado. Concordo. Todo país europeu desenvolvido e com algum senso de responsabilidade social tem bolsa-família. Sem esse nome, claro. A Alemanha tem. A França tem. Os países escandinavos tem. Até a Inglaterra tem. Os europeus são dinossauros. Na França, o bolsa-família atende pelo nome de “aides sociales” (ajudas sociais). A França é totalmente insensível aos novos tempos. O seguro-desemprego francês pode durar até 36 meses. Depois disso, se a vida continua dura, o sujeito pode ter acesso ao RMI (renda mínima de inserção): 447 euros para uma pessoa só, 671 euros para quem tiver um filho. Quase 2 milhões 500 mil franceses recebem o RMI (nome válido até este ano). A partir dos 59 anos de idade, a pessoa pode receber o RMI sem sequer ter a obrigação de procurar trabalho. Não dá!
As famílias francesas recebem ajuda financeira conforme o número de filhos. O Estado ajuda a alugar apartamento e até a tirar férias. O sistema de saúde é universal e gratuito, inclusive os medicamentos. Que atraso! Um estudante estrangeiro em situação regular na França pode receber ajuda do Estado para ter onde morar. É muita mamata. Lembrete: o governo francês atual é, como eles dizem, de direita. Mas o Estado francês é republicano. A concepção de Estado dos europeus é muito esquisita: uma instituição para ajudar a todos e proteger os interesses da coletividade, devendo estimular a livre-iniciativa e dar condições de vida digna aos mais desfavorecidos. Agricultores recebem subsídios. Empresas ganham incentivos. A universidade é gratuita para todos os aprovados no BAC, o Enem deles. Há vagas para todos. Obviamente não há necessidade de cotas. Que loucura!
Existem instituições privadas de ensino, cujos salários dos professores são, em geral, pagos pelo Estado, pois se trata de um serviço de utilidade pública. Aí os nossos liberais adoram dizer: “E por isso que a França está quebrada”. Tive a impressão de que a crise mundial mostrou os Estados Unidos mais quebrados do que a França. Os mesmos liberais contradizem-se e afirmam: “A França é rica e pode se dar esse luxo...” É rica ou está quebrada? Quase 30% do PIB francês é distribuído em ajudas sociais. O modelo francês enfurece os capitalistas tupiniquins, leitores de revistas como a Veja, cujas páginas pingam ideologia. Visto que dá mau exemplo de proteção social, o Estado francês é chamado de anacrônico, ultrapassado, assistencialista e outros termos do mesmo quilate usados na guerra midiática. Está certo. Moderno é ajudar a turma dos camarotes e mandar a plebe se virar. Acontece que a plebe do Primeiro Mundo não aceita esse tipo de modernidade tão avançada.
É plebe rude. Se precisa, quebra tudo, mas não cede. Os ruralistas de lá são mestres em incendiar prefeituras quando falam em cortar-lhes os subsídios estatais. Nas cidades, a turma adora queimar uns carros para fazer valer seus direitos. Na Europa, pelo jeito, não se melhora o Estado piorando a sociedade. A França tem muito a aprender com o Brasil. Somos arcaicamente modernos. Numa pesquisa recente, a França tem a melhor qualidade de vida da Europa. Nada, claro, que possa nos superar.

Porque o PiG não chama Uribe de ditador e facista??

Por Camilo Raigozo

As mais recentes chacinas têm-se apresentado no estado de Córdoba, onde fica a fazenda O Ubérrimo, de Álvaro Uribe Vélez. Nesse estado, segundo analistas e defensores dos Direitos Humanos, como Iván Cepeda e Jorge Rojas, teve sua origem o modelo paramilitar que depois foi expandido pelo país todo.

Ao respeito, Cepeda e Rojas, contam no seu livro “Às portas do Ubérrimo”, como no coração desse estado não só se criou um modelo paramilitar, mas também, como a perversa estratégia foi aceita pela sociedade cordobesa e as figuras públicas.

O modelo paramilitar cordobés, estendido ou copiado posteriormente em todo o país, era o mesmo que queria para Bogotá, Francisco Santos, segundo manifestaram os chefes paramilitares Mancuso e Jorge 40.

Pois nesse estado de múltiplas covas comuns, deslocamento forçoso, de choro e muita dor, em menos de 24 horas foram assassinadas ao menos 17 pessoas, entre elas um jornalista que se atreveu a denunciar a corrupção, o paramilitarismo e as alianças desses assassinos com a classe política e a força pública.

O passado 19 de março, em Monteria, capital do estado de Córdoba, foi assassinado o jornalista Clodomiro Castilla Ospin, quem denunciava constantemente a corrupção e o paramilitarismo nesse estado.

Em 21 de março anterior, em horas da noite, no vilarejo de São João, do município de Porto Libertador, do estado Córdoba, paramilitares massacraram sete camponeses inermes em um estabelecimento público.

As vítimas foram os irmãos Francisco Javier e María Inés Pertuz de 14 e 16 anos de idade respectivamente, Hamilton José Herrera Ortiz de 17 anos, Edilberto Torres Palacio de 23 anos, Wilber Pantoja Sotelo de 20 anos, Francisco Emiro Rodríguez e Antonio Soto Santamaría de 26
anos.

No vilarejo de João José, do mesmo município, os ‘paras’ assassinaram três pessoas e desapareceram mais uma. No vilarejo Santa Rosita, município de La Apartada, paramilitares massacraram um pai, seu filho e um amigos que viajava com eles. O mesmo sucedeu em Montelíbano, onde foram assassinadas outras duas pessoas.

A comunidade se pergunta: ¿Essa é a aplicação ou é o fracasso da tão anunciada “segurança democrática?