EUA miram a principal energia do mundo futuro |
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Por
Finian Cunningham [*]
O arranque programado para este
mês dos furos da China National Petroleum Company (CNPC) do campo de
gás de South Pars, no Irã, poderia ser tanto um arauto como uma
explicação de desenvolvimentos geopolíticos muito mais vastos.
Antes de mais nada, o projeto
de US$5 bilhões – assinado no ano passado após anos de arrastamento da
parte dos gigantes da energia ocidental Total e Shell sob a sombra das
sanções dos EUA – revela o principal sistema arterial da futura oferta e
procura mundial de energia.
Muitos críticos há muito
suspeitavam que a razão real para o envolvimento militar dos EUA e de
outros países ocidentais no Iraque e no Afeganistão é controlar o
corredor energético da Ásia Central. Até agora, o foco parecia ser
principalmente o petróleo. Há por exemplo afirmações que um planeado
pipeline do Mar Cáspio para o Mar Arábico através do Afeganistão e do
Paquistão é o prêmio principal por trás campanha militar aparentemente
fútil dos EUA naqueles países.
Mas o que mostra o partenariado
CNPC-Irã é que o gás natural é prêmio principal que será essencial para
a economia do mundo, e especificamente o fluxo de duas vias deste
combustível para o Leste e Oeste da Ásia Central rumo à Europa e à
China.
Michael Economides, editor do
Energy Tribune de Huston é um dos numerosos observadores da indústria
que está convencido de que o gás natural ultrapassará o petróleo como a
principal fonte primária de energia, não apenas nas próximas décadas
como ao longo dos próximos vários séculos.
Ele destaca a recente previsão
da International Energy Agency (IEA), com sede em Paris, que reviu
dramaticamente em 100 por cento as suas estimativas das reservas globais
de gás natural. Economides atribui este enorme aumento a rápidas
melhorias tecnológicas em extrair de campos de gás até agora
inacessíveis. Afirma que a IEA estima quantidades de gás natural para
300 anos de abastecimento da atual procura mundial. "Se alguém
simplesmente fantasiar quaisquer contribuições futuras de ordens de
grandeza dos maiores recursos na forma de hidratos de gás, é fácil ver
como é quase certo que o gás natural evolua até ser o primeiro
combustível da economia mundial", acrescenta.
A importância crescente do gás
natural como fonte de energia tem sido firme e inexorável desde há
muitos anos. Entre 1973 e 2007, a contribuição do petróleo para a oferta
mundial de energia caiu de 46,1 por cento par 34,0 por cento, com o
aumento da utilização de gás natural a colmatar aquele declínio, segundo
a IEA. Outras fontes, tais como a Energy Information Administration
(IEA), com sede nos EUA, prevêem que o consumo de gás natural triplicará
entre 1980 e 2030, data em que mais provavelmente tornar-se-á a fonte
de energia primária preferencial para as necessidades industriais e
públicas.
Há razões sólidas para o gás
natural (metano) estar a tornar-se o rei dos combustíveis fósseis. Em
primeiro lugar, tem um poder calorífico muito maior do que o petróleo ou
o carvão. Ou seja, mais calor produzido por unidade de combustível. Em
segundo lugar, é o combustível mais limpo, pois emite 30 por cento menos
dióxido de carbono [NT] em comparação com o petróleo em comparação com o petróleo e 45
por cento menos em comparação com o carvão. Em terceiro lugar, o gás é
mais eficiente para o transporte, tanto como matéria primária forma
comprimida ao longo de pipelines enterrados como combustível para
veículos.
Todas as agências de energia
reconhecem que as primeiras fontes do gás natural do futuro estão no
Oriente Médio e na Eurásia, incluindo a Rússia. A EIA com sede nos EUA
coloca as reservas de gás natural nestas regiões como nove a sete
maiores do que aquelas no total da América do Norte – as quais são uma
das principais fontes deste combustível.
Dentro do Oriente Médio, o Irã é
sem dúvida o principal possuidor de reservas de gás. O seu campo de
South Pars é o maior do mundo. Se convertido em barris de petróleo
equivalentes, o South Pars do Irã tornaria diminutas as reservas do
campo petrolífero de Ghawar, na Arábia Saudita. Este é o maior campo de
petróleo do mundo e, desde que entrou em operação em 1948, Ghawar tem
sido efetivamente o coração pulsante do mundo para o abastecimento de
energia primária. Na era que se aproxima de domínio do gás natural sobre
o petróleo, o Irão retirará à Arábia Saudita da condição de principal
fornecedor de energia do mundo.
Tanto a Europa como a China
posicionam-se para serem rotas tronco para o gás iraniano e da
generalidade da Ásia Central. A infraestrutura já está a moldar-se para
refletir isto. O gasoduto Nabucco está planejado para fornecer gás do
Irã (e do Azerbaijão) via Turquia e Bulgária transportando-o para a
Europa Ocidental (assinalando um fim ao domínio russo). O Irã também
exporta gás via gasodutos separados para a Turquia e a Armênia e também
está a procurar negócios de exportação com outros países do Golfo,
incluindo os Emirados Árabes Unidos e Oman. Outra rota principal é o
chamado gasoduto da paz, do Irã para o Paquistão e a Índia, através do
qual o Irã exportará este combustível para dois dos mais populosos
países da região. Mas talvez a perspectiva mais irresistível para o Irã
seja o gasoduto de 1.865 quilômetros que fornece gás natural do
Turquemenistão através do Uzbequistão e do Cazaquistão para a China e
que deve operar a plena capacidade em 2012. O Sul do Turquemenistão tem
uma fronteira de 300 km com o Irã e já tem um acordo de exportação de
gás com Teerã. Se o desenvolvimento do campo gasista iraniano-chinês de
South Pars puder ser incorporado nos gasodutos transnacionais acima
mencionados, isso confirmaria o Irã como o coração pulsante da economia
mundial na qual o gás é a fonte de energia primária. Isto é potenciado
ainda mais pela procura de gás da China, em crescimento rápido, a qual a
EIA prevê que podia estar dependente de importações em mais de um terço
do seu consumo de gás natural em 2030.
Neste contexto de um grande
realinhamento da economia energética mundial – no qual haverá uma
diminuição contínua do papel dos EUA – a retórica tronitroante de
Washington acerca de democracia e paz e guerra ao terror ou alegadas
armas nucleares iranianas pode ser vista como uma tentativa desesperada
para esconder o seu medo de que esteja destinado a ser um grande
perdedor. Cercar o Irã com guerras e ameaçar o fornecimento de gás para o
provável maior futuro consumidor de gás – a China – é o assunto real.
As ações dos Estados Unidos são vistas mais exatamente como o encostar
de uma faca nas artérias energéticas de uma economia mundial que os EUA
não são mais capazes de dominar.
Um novo aspecto desta história é
a posição da Rússia. Com as suas próprias vastas reservas de gás
natural, ela pode ser vista como um competidor do Irã. Comprovadamente
menos bem posicionada do que o Irã para o fornecimento tanto à Europa
como à China, a Rússia é, no entanto um grande ato e tem estado
insistentemente a cortejar a China com um acordo de exportação desde
2006. Contudo, como observa Economides, "as negociações entre os dois
países tem sido intermitentes e, especialmente, a construção do gasoduto
tem sido penosamente lenta".
Mas as ambições da Rússia em
expandir as suas exportações de gás natural podem explicar porque ela
tem mostrado ser um aliado caprichoso do Irã. A posição ambivalente de
Moscou em relação a sanções dos Estados Unidos contra o Irã sugere que a
Rússia tem a sua própria agenda destinada a embaraçar a república
islâmica como um rival regional na energia.
18/Março/2010
[NT] O dióxido de carbono não é
um poluente. Assim, não é por causa do CO2 que o gás natural é mais
limpo.
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domingo, 2 de maio de 2010
As riquezas do Irã em gás natural:
sábado, 1 de maio de 2010
A marca classista do 1º de Maio - Parabéns aos lutadores trabalhadores...
Altamiro Borges, do seu blog
“Se acreditais que enforcando-nos podeis conter o movimento
operário, esse movimento constante em que se agitam milhões de homens
que vivem na miséria, os escravos do salário; se esperais salvar-vos e
acreditais que o conseguireis, enforcai-nos! Então vos encontrarei sobre
um vulcão, e daqui e de lá, e de baixo e ao lado, de todas as partes
surgirá a revolução. É um fogo subterrâneo que mina tudo”. Augusto
Spies, 31 anos, diretor do jornal Diário dos Trabalhadores.
“Se tenho que ser enforcado por professar minhas idéias, por meu amor à liberdade, à igualdade e à fraternidade, então nada tenho a objetar. Se a morte é a pena correspondente à nossa ardente paixão pela redenção da espécie humana, então digo bem alto: minha vida está à disposição. Se acreditais que com esse bárbaro veredicto aniquilais nossas idéias, estais muito enganados, pois elas são imortais''. Adolf Fischer, 30 anos, jornalista.
“Em que consiste meu crime? Em ter trabalhado para a implantação de um sistema social no qual seja impossível o fato de que enquanto uns, os donos das máquinas, amontoam milhões, outros caem na degradação e na miséria. Assim como a água e o ar são para todos, também a terra e as invenções dos homens de ciência devem ser utilizadas em benefício de todos. Vossas leis se opõem às leis da natureza e utilizando-as roubais às massas o direito à vida, à liberdade e ao bem-estar”. George Engel, 50 anos, tipógrafo.
“Acreditais que quando nossos cadáveres tenham sido jogados na fossa tudo terá se acabado? Acreditais que a guerra social se acabará estrangulando-nos barbaramente. Pois estais muito enganados. Sobre o vosso veredicto cairá o do povo americano e do povo de todo o mundo, para demonstrar vossa injustiça e as injustiças sociais que nos levam ao cadafalso”. Albert Parsons lutou na guerra da secessão nos EUA.
As corajosas e veementes palavras destes quatro líderes do jovem movimento operário dos EUA foram proferidas em 20 de agosto de 1886, pouco após ouvirem a sentença do juiz condenando-os à morte. Elas estão na origem ao 1º de Maio, o Dia Internacional dos Trabalhadores. Na atual fase da luta de classes, em que muitos aderiram à ordem burguesa e perderam a perspectiva do socialismo, vale registrar este marco histórico e reverenciar a postura classista destes heróis do proletariado. A sua saga serve de referência aos que lutam pela superação da barbárie capitalista.
A origem do 1º de Maio está vinculada à luta pela redução da jornada de trabalho, bandeira que mantém sua atualidade estratégica. Em meados do século XIX, a jornada média nos EUA era de 15 horas diárias. Contra este abuso, a classe operária, que se robustecia com o acelerado avanço do capitalismo no país, passou a liderar vários protestos. Em 1827, os carpinteiros da Filadélfia realizaram a primeira greve com esta bandeira. Em 1832, ocorre um forte movimento em Boston que serviu de alerta à burguesia. Já em 1840, o governo aprova o primeiro projeto de redução da jornada para os funcionários públicos.
Greve geral pela redução da jornada
Esta vitória parcial impulsionou ainda mais esta luta. A partir de 1850, surgem as vibrantes Ligas das Oito Horas, comandando a campanha em todo o país e obtendo outras conquistas localizadas. Em 1884, a Federação dos Grêmios e Uniões Organizadas dos EUA e Canadá, futura Federação Americana do Trabalho (AFL), convoca uma greve nacional para exigir a redução para todos os assalariados, “sem distinção de sexo, ofício ou idade”'. A data escolhida foi 1º de Maio de 1886 - maio era o mês da maioria das renovações dos contratos coletivos de trabalho nos EUA.
A greve geral superou as expectativas, confirmando que esta bandeira já havia sido incorporada pelo proletariado. Segundo relato de Camilo Taufic, no livro “'Crônica do 1º de Maio”, mais de 5 mil fábricas foram paralisadas e cerca de 340 mil operários saíram às ruas para exigir a redução. Muitas empresas, sentindo a força do movimento, cederam: 125 mil assalariados obtiveram este direito no mesmo dia 1º de Maio; no mês seguinte, outros 200 mil foram beneficiados; e antes do final do ano, cerca de 1 milhão de trabalhadores já gozavam do direito às oito horas.
“Chumbo contra os grevistas”, prega a imprensa
Mas a batalha não foi fácil. Em muitas locais, a burguesia formou milícias armadas, compostas por marginais e ex-presidiários. O bando dos “'Irmãos Pinkerton” ficou famoso pelos métodos truculentos utilizados contra os grevistas. O governo federal acionou o Exército para reprimir os operários. Já a imprensa burguesa atiçou o confronto. Num editorial, o jornal Chicago Tribune esbravejou: “O chumbo é a melhor alimentação para os grevistas. A prisão e o trabalho forçado são a única solução possível para a questão social. É de se esperar que o seu uso se estenda”.
A polarização social atingiu seu ápice em Chicago, um dos pólos industriais mais dinâmicos do nascente capitalismo nos EUA. A greve, iniciada em 1º de Maio, conseguiu a adesão da quase totalidade das fábricas. Diante da intransigência patronal, ela prosseguiu nos dias seguintes. Em 4 de maio, durante um protesto dos grevistas na Praça Haymarket, uma bomba explodiu e matou um policial. O conflito explodiu. No total, 38 operários foram mortos e 115 ficaram feridos.
Os oito mártires de Chicago
Apesar da origem da bomba nunca ter sido esclarecida, o governo decretou estado de sítio em Chicago, fixando toque de recolher e ocupando militarmente os bairros operários; os sindicatos foram fechados e mais de 300 líderes grevistas foram presos e torturados nos interrogatórios. Como desdobramento desta onda de terror, oito líderes do movimento - o jornalista Auguste Spies, do “'Diário dos Trabalhadores”', e os sindicalistas Adolf Fisher, George Engel, Albert Parsons, Louis Lingg, Samuel Fielden, Michael Schwab e Oscar Neebe - foram detidos e levados a julgamento. Eles entrariam para a história como “Os Oito Mártires de Chicago”.
O julgamento foi uma das maiores farsas judiciais da história dos EUA. O seu único objetivo foi condenar o movimento grevista e as lideranças anarquistas, que dirigiram o protesto. Nada se comprovou sobre os responsáveis pela bomba ou pela morte do policial. O juiz Joseph Gary, nomeado para conduzir o Tribunal Especial, fez questão de explicitar sua tese de que a bomba fazia parte de um complô mundial contra os EUA. Iniciado em 17 de maio, o tribunal teve os 12 jurados selecionados a dedo entre os 981 candidatos; as testemunhas foram criteriosamente escolhidas. Três líderes grevistas foram comprados pelo governo, conforme comprovou posteriormente a irmã de um deles (Waller).
A maior farsa judicial dos EUA
Em 20 de agosto, com o tribunal lotado, foi lido o veredicto: Spies, Fisher, Engel, Parsons, Lingg, Fielden e Schwab foram condenados à morte; Neebe pegou 15 anos de prisão. Pouco depois, em função da onda de protestos, Lingg, Fielden e Schwab tiveram suas penas reduzidas para prisão perpétua. Em 11 de novembro de 1887, na cadeia de Chicago, Spies, Fisher, Engel e Parsons foram enforcados. Um dia antes, Lingg morreu na cela em circunstâncias misteriosas; a polícia alegou “suicídio”. No mesmo dia, os cinco “'Mártires de Chicago” foram enterrados num cortejo que reuniu mais de 25 mil operários. Durante várias semanas, as casas proletárias da região exibiram flores vermelhas em sinal de luto e protesto.
Seis anos depois, o próprio governador de Illinois, John Altgeld, mandou reabrir o processo. O novo juiz concluiu que os enforcados não tinham cometido qualquer crime, “tinham sido vitimas inocentes de um erro judicial”. Fielden, Schwab e Neebe foram imediatamente soltos. A morte destes líderes operários não tinha sido em vão. Em 1º de Maio de 1890, o Congresso dos EUA regulamentou a jornada de oito horas diárias. Em homenagem aos seus heróis, em dezembro do mesmo ano, a AFL transformou o 1º de Maio em dia nacional de luta. Posteriormente, a central sindical, totalmente corrompida e apelegada, apagaria a data do seu calendário.
Em 1891, a Segunda Internacional dos Trabalhadores, que havia sido fundada dois anos antes e reunia organizações operárias e socialistas do mundo todo, decidiu em seu congresso de Bruxelas que “no dia 1º de Maio haverá demonstração única para os trabalhadores de todos os países, com caráter de afirmação de luta de classes e de reivindicação das oito horas de trabalho”. A partir do congresso, que teve a presença de 367 delegados de mais de 20 países, o Dia Internacional dos Trabalhadores passou a ser a principal referência no calendário de todos os que lutam contra a exploração capitalista.
“Se tenho que ser enforcado por professar minhas idéias, por meu amor à liberdade, à igualdade e à fraternidade, então nada tenho a objetar. Se a morte é a pena correspondente à nossa ardente paixão pela redenção da espécie humana, então digo bem alto: minha vida está à disposição. Se acreditais que com esse bárbaro veredicto aniquilais nossas idéias, estais muito enganados, pois elas são imortais''. Adolf Fischer, 30 anos, jornalista.
“Em que consiste meu crime? Em ter trabalhado para a implantação de um sistema social no qual seja impossível o fato de que enquanto uns, os donos das máquinas, amontoam milhões, outros caem na degradação e na miséria. Assim como a água e o ar são para todos, também a terra e as invenções dos homens de ciência devem ser utilizadas em benefício de todos. Vossas leis se opõem às leis da natureza e utilizando-as roubais às massas o direito à vida, à liberdade e ao bem-estar”. George Engel, 50 anos, tipógrafo.
“Acreditais que quando nossos cadáveres tenham sido jogados na fossa tudo terá se acabado? Acreditais que a guerra social se acabará estrangulando-nos barbaramente. Pois estais muito enganados. Sobre o vosso veredicto cairá o do povo americano e do povo de todo o mundo, para demonstrar vossa injustiça e as injustiças sociais que nos levam ao cadafalso”. Albert Parsons lutou na guerra da secessão nos EUA.
As corajosas e veementes palavras destes quatro líderes do jovem movimento operário dos EUA foram proferidas em 20 de agosto de 1886, pouco após ouvirem a sentença do juiz condenando-os à morte. Elas estão na origem ao 1º de Maio, o Dia Internacional dos Trabalhadores. Na atual fase da luta de classes, em que muitos aderiram à ordem burguesa e perderam a perspectiva do socialismo, vale registrar este marco histórico e reverenciar a postura classista destes heróis do proletariado. A sua saga serve de referência aos que lutam pela superação da barbárie capitalista.
A origem do 1º de Maio está vinculada à luta pela redução da jornada de trabalho, bandeira que mantém sua atualidade estratégica. Em meados do século XIX, a jornada média nos EUA era de 15 horas diárias. Contra este abuso, a classe operária, que se robustecia com o acelerado avanço do capitalismo no país, passou a liderar vários protestos. Em 1827, os carpinteiros da Filadélfia realizaram a primeira greve com esta bandeira. Em 1832, ocorre um forte movimento em Boston que serviu de alerta à burguesia. Já em 1840, o governo aprova o primeiro projeto de redução da jornada para os funcionários públicos.
Greve geral pela redução da jornada
Esta vitória parcial impulsionou ainda mais esta luta. A partir de 1850, surgem as vibrantes Ligas das Oito Horas, comandando a campanha em todo o país e obtendo outras conquistas localizadas. Em 1884, a Federação dos Grêmios e Uniões Organizadas dos EUA e Canadá, futura Federação Americana do Trabalho (AFL), convoca uma greve nacional para exigir a redução para todos os assalariados, “sem distinção de sexo, ofício ou idade”'. A data escolhida foi 1º de Maio de 1886 - maio era o mês da maioria das renovações dos contratos coletivos de trabalho nos EUA.
A greve geral superou as expectativas, confirmando que esta bandeira já havia sido incorporada pelo proletariado. Segundo relato de Camilo Taufic, no livro “'Crônica do 1º de Maio”, mais de 5 mil fábricas foram paralisadas e cerca de 340 mil operários saíram às ruas para exigir a redução. Muitas empresas, sentindo a força do movimento, cederam: 125 mil assalariados obtiveram este direito no mesmo dia 1º de Maio; no mês seguinte, outros 200 mil foram beneficiados; e antes do final do ano, cerca de 1 milhão de trabalhadores já gozavam do direito às oito horas.
“Chumbo contra os grevistas”, prega a imprensa
Mas a batalha não foi fácil. Em muitas locais, a burguesia formou milícias armadas, compostas por marginais e ex-presidiários. O bando dos “'Irmãos Pinkerton” ficou famoso pelos métodos truculentos utilizados contra os grevistas. O governo federal acionou o Exército para reprimir os operários. Já a imprensa burguesa atiçou o confronto. Num editorial, o jornal Chicago Tribune esbravejou: “O chumbo é a melhor alimentação para os grevistas. A prisão e o trabalho forçado são a única solução possível para a questão social. É de se esperar que o seu uso se estenda”.
A polarização social atingiu seu ápice em Chicago, um dos pólos industriais mais dinâmicos do nascente capitalismo nos EUA. A greve, iniciada em 1º de Maio, conseguiu a adesão da quase totalidade das fábricas. Diante da intransigência patronal, ela prosseguiu nos dias seguintes. Em 4 de maio, durante um protesto dos grevistas na Praça Haymarket, uma bomba explodiu e matou um policial. O conflito explodiu. No total, 38 operários foram mortos e 115 ficaram feridos.
Os oito mártires de Chicago
Apesar da origem da bomba nunca ter sido esclarecida, o governo decretou estado de sítio em Chicago, fixando toque de recolher e ocupando militarmente os bairros operários; os sindicatos foram fechados e mais de 300 líderes grevistas foram presos e torturados nos interrogatórios. Como desdobramento desta onda de terror, oito líderes do movimento - o jornalista Auguste Spies, do “'Diário dos Trabalhadores”', e os sindicalistas Adolf Fisher, George Engel, Albert Parsons, Louis Lingg, Samuel Fielden, Michael Schwab e Oscar Neebe - foram detidos e levados a julgamento. Eles entrariam para a história como “Os Oito Mártires de Chicago”.
O julgamento foi uma das maiores farsas judiciais da história dos EUA. O seu único objetivo foi condenar o movimento grevista e as lideranças anarquistas, que dirigiram o protesto. Nada se comprovou sobre os responsáveis pela bomba ou pela morte do policial. O juiz Joseph Gary, nomeado para conduzir o Tribunal Especial, fez questão de explicitar sua tese de que a bomba fazia parte de um complô mundial contra os EUA. Iniciado em 17 de maio, o tribunal teve os 12 jurados selecionados a dedo entre os 981 candidatos; as testemunhas foram criteriosamente escolhidas. Três líderes grevistas foram comprados pelo governo, conforme comprovou posteriormente a irmã de um deles (Waller).
A maior farsa judicial dos EUA
Em 20 de agosto, com o tribunal lotado, foi lido o veredicto: Spies, Fisher, Engel, Parsons, Lingg, Fielden e Schwab foram condenados à morte; Neebe pegou 15 anos de prisão. Pouco depois, em função da onda de protestos, Lingg, Fielden e Schwab tiveram suas penas reduzidas para prisão perpétua. Em 11 de novembro de 1887, na cadeia de Chicago, Spies, Fisher, Engel e Parsons foram enforcados. Um dia antes, Lingg morreu na cela em circunstâncias misteriosas; a polícia alegou “suicídio”. No mesmo dia, os cinco “'Mártires de Chicago” foram enterrados num cortejo que reuniu mais de 25 mil operários. Durante várias semanas, as casas proletárias da região exibiram flores vermelhas em sinal de luto e protesto.
Seis anos depois, o próprio governador de Illinois, John Altgeld, mandou reabrir o processo. O novo juiz concluiu que os enforcados não tinham cometido qualquer crime, “tinham sido vitimas inocentes de um erro judicial”. Fielden, Schwab e Neebe foram imediatamente soltos. A morte destes líderes operários não tinha sido em vão. Em 1º de Maio de 1890, o Congresso dos EUA regulamentou a jornada de oito horas diárias. Em homenagem aos seus heróis, em dezembro do mesmo ano, a AFL transformou o 1º de Maio em dia nacional de luta. Posteriormente, a central sindical, totalmente corrompida e apelegada, apagaria a data do seu calendário.
Em 1891, a Segunda Internacional dos Trabalhadores, que havia sido fundada dois anos antes e reunia organizações operárias e socialistas do mundo todo, decidiu em seu congresso de Bruxelas que “no dia 1º de Maio haverá demonstração única para os trabalhadores de todos os países, com caráter de afirmação de luta de classes e de reivindicação das oito horas de trabalho”. A partir do congresso, que teve a presença de 367 delegados de mais de 20 países, o Dia Internacional dos Trabalhadores passou a ser a principal referência no calendário de todos os que lutam contra a exploração capitalista.
sexta-feira, 30 de abril de 2010
O agronegócio e a exploração da terra....
O monopólio da terra e a
produção de agrocombustíveis
A principal mudança na oligarquia rural no Brasil
tem sido a presença crescente do capital internacional na indústria dos
agrocombustíveis
Por Maria Luisa Mendonça na Caros Amigos
Os velhos usineiros, agora travestidos de
empresários “modernos”, em conseqüência da propaganda sobre as supostas
vantagens do etanol brasileiro, intensificam suas campanhas
internacionais para vender o produto. Recentemente, ganharam um reforço
especial com o anúncio do governo sobre acordos trabalhistas e de
zoneamento ambiental. Porém, um breve relato sobre as principais
tendências do setor é suficiente para mostrar que essas são apenas
medidas de fachada.
As características que historicamente marcaram a oligarquia rural no Brasil permanecem inalteradas. Ou seja, o monopólio da terra, a exploração do trabalho e de recursos naturais estratégicos. A principal mudança tem sido a presença crescente do capital internacional na indústria dos agrocombustíveis. Há alguns anos, verifica-se um aumento do ritmo de aquisições no setor sucro alcooleiro, com crescimento na participação de empresas estrangeiras e aumento na concentração do poder econômico de determinados grupos.
Dados do Sindicato da Indústria de Fabricação do Álcool e Açúcar de Minas indicam que a participação de empresas estrangeiras na indústria da cana no Brasil cresceu de 1% em 2000 para 12% na safra 2007/2008. Outro levantamento da Pricewaterhouse Coopers revela que existem cerca de 450 usinas no Brasil, controladas por 160 empresas nacionais e estrangeiras, e que o controle estrangeiro chegaria a 15%, incluindo participação acionária em grupos nacionais. De acordo com estudo do grupo KPMG Corporate Finance, de 2000 a setembro de 2009, ocorreram 99 fusões e aquisições de usinas no Brasil. Entre estas, 45 negociações aconteceram no período de 2007 a 2009 e em 22 casos ocorreu a compra de uma usina nacional por um grupo estrangeiro.
Maiores produtores
Em outubro de 2009, a empresa francesa Louis Dreyfus Commodities anunciou a compra de cinco usinas da Santelisa Vale, de Ribeirão Preto (SP), para aumentar sua produção de cana no Brasil. A fusão criou o grupo LDC-SEV Bioenergia, tornando-se o segundo maior produtor mundial de açúcar e etanol. O grupo pretende produzir 40 milhões de toneladas de cana-deaçúcar por ano e tem participação acionária das famílias Biaggi e Junqueira, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do banco Goldman Sachs. Essa fusão aumenta para 20% a participação de empresas estrangeiras no setor.
Uma nova característica da indústria do etanol, se comparada ao Pró-Alcool da década de 1970, é a aliança entre setores do agronegócio com empresas petroleiras, automotivas, de biotecnologia, mineração, infra-estrutura e fundos de investimento. Nesse cenário, não existe nenhuma contradição desses setores com a oligarquia latifundista, que se beneficia da expansão do capital no campo e do abandono de um projeto de reforma agrária.
Em 2009, a empresa petroleira britânica British Petroleum (BP) anunciou que irá produzir etanol no Brasil, com investimento de US$ 6 bilhões de dólares nos próximos dez anos. A BP irá atuar por meio da Tropical Bioenergia, em associação com o Grupo Maeda e a Santelisa Vale, em Goiás, que contam com uma área de 60 mil hectares para a produção de cana no estado.
Em julho de 2009, a Syngenta divulgou a aquisição de terras para produzir mudas de cana-deaçúcar na região de Itápolis (SP). O projeto inclui a produção de mudas transgênicas e pretende se expandir para outros estados, como Goiás, Minas Gerais, Paraná e Mato Grosso do Sul.
Concentração empresarial
No início de 2010, ocorreram novas fusões. Em janeiro, a multinacional agrícola Bunge anunciou a compra de quatro usinas do Grupo Moema, incluindo a usina Itapagipe, que tinha participação acionária de 43,75% da empresa norte-americana Cargill. Com a negociação, a Bunge passará a controlar 89% da produção de cana do Grupo Moema,
estimada em 15,4 milhões de toneladas por ano.
Em fevereiro, foi anunciada a fusão da ETH Bioenergia, do grupo Odebrecht, com a Companhia Brasileira de Energia Renovável (Brenco), que pretende se tornar a maior empresa de etanol no Brasil, com capacidade para produzir três bilhões de litros por ano. Alguns dos acionistas da Brenco são Vinod Khosla (fundador da Sun Microsystems), James Wolfensohn (ex-presidente do Banco Mundial), Henri Philippe Reichstul (ex-presidente da Petrobras), além da participação do BNDES. Já a Odebrecht tem sociedade com a empresa japonesa Sojitz. O novo grupo irá controlar cinco usinas: Alcídia (SP), Conquista do Pontal (SP), Rio Claro (GO), Eldorado (MS) e Santa Luzia (MS).
O conglomerado ainda participa da construção de um alcoolduto entre o Alto Taquari e o porto de Santos, e pretende instalar usinas na África. A empresa pretende captar R$ 3,5 bilhões até 2012, dos quais pelo menos 20% virão do BNDES, além de outros R$ 2 bilhões que o banco já investiu anteriormente na Brenco.
Nessa mesma linha, em fevereiro de 2010, a gigante petroleira holandesa Shell anunciou uma associação com a Cosan para a produção e distribuição de etanol, com o objetivo de produzir quatro bilhões de litros até 2014. Ao divulgar a operação, a nota da Shell afirmava que pretende criar “um rio de etanol, correndo desde as plantações no Brasil até a América do Norte e a Europa”. Apesar da repercussão internacional da prática de trabalho escravo na Cosan, a empresa segue como líder no setor.
Seguindo essa tendência, a Vale anunciou que pretende produzir diesel a partir do óleo de palma na região amazônica a partir de 2014, por meio de uma parceria com a empresa Biopalma da Amazônia S.A. A intenção é produzir 500 mil toneladas de óleo de palma por ano. Parte do combustível será utilizada nas locomotivas da estrada de ferro e nas minas de Carajás, no Pará.
Monocultivo da cana
Em relação ao avanço territorial do monocultivo de cana, dados da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) mostram que, em 2006, eram 4,5 milhões de hectares e, em 2008, chegaram a 8,5 milhões de hectares. Na safra de 2009 houve um aumento de 7,1% em relação a 2008.
Essa expansão é estimulada por recursos públicos. Entre 2008 e 2009, estima-se que o setor sucroalcooleiro tenha recebido mais de R$ 12 bilhões do BNDES. Essa verba é extraída, em grande medida, do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Segundo a CONAB, 45,08% da safra foi destinada à produção de açúcar e 54,9%, à produção de etanol, que resultou em 25,87 bilhões de litros do produto. A expansão da área plantada foi de 6,7%, ou cerca de 473 mil hectares. A maior expansão ocorreu na região do Cerrado, principalmente em Mato Grosso do Sul (38,80%) e Goiás (50,10%).
Dados do Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig), da Universidade Federal de Goiás, indicam que o ritmo atual de desmatamento do Cerrado poderá elevar de 39% para 47% o percentual devastado do bioma até 2050. A pesquisa demonstra ainda que a destruição do Cerrado coloca em risco a disponibilidade de recursos hídricos para o Pantanal e a Amazônia, pois esses biomas estão interligados.
Trabalho escravo
As usinas de cana se tornaram campeãs em trabalho escravo nos últimos anos. De acordo com dados da Campanha Nacional de Combate ao Trabalho Escravo da Comissão Pastoral da Terra (CPT), em 2007, dos 5.974 trabalhadores resgatados da escravidão no campo brasileiro, 3.060 ou 51%, foram encontrados no monocultivo da cana-de-açúcar. Em 2008, dos 5.266 resgatados, 2.553, ou 48% dos trabalhadores mantidos escravos no país estavam em plantações de cana. De janeiro a junho de 2009, o número era de 951 trabalhadores, que representavam 52% do total. Ao final de 2009, o Ministério do Trabalho registrou a libertação de 1.911 trabalhadores nas usinas de cana nos estados de Goiás, Mato Grosso, Pernambuco, Espírito Santo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
Em 2009, o Ministério do Trabalho inclui grandes usinas na chamada “lista suja” do trabalho escravo. Uma delas foi a Brenco, que tem participação acionária de 20% do BNDES. Entre 2008 e 2009, o BNDES liberou R$ 1 bilhão para usinas da Brenco em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás. Ao mesmo tempo, o Grupo Móvel expediu 107 autos de infração contra a empresa, que é presidida pelo ex-presidente da Petrobras, Henri Philippe Reichstul. Apesar da prática de trabalho escravo, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, anunciou a continuidade do financiamento para a Brenco.
Em 31 de dezembro de 2009, foi a vez do grupo Cosan – a maior empresa do setor sucroalcooleiro do país, com produção anual de 60 milhões de toneladas de cana. Apesar da prática de trabalho escravo, a Cosan recebeu R$ 635,7 milhões do BNDES em junho de 2009, para a construção de uma usina de etanol em Goiás. O BNDES manteveo financiamento para a Cosan, mesmo após a evidência de trabalho escravo. A Cosan possui 23 usinas, controla os postos da Exxon (Esso do Brasil) e teve um faturamento de R$ 14 bilhões de reais em 2008.
Em outubro de 2009, o Grupo Móvel libertou 55 trabalhadores escravizados na Destilaria Araguaia (chamada anteriormente de Gameleira), no Mato Grosso. Segundo o auditor fiscal Leandro de Andrade Carvalho, que coordenou a operação, os trabalhadores estavam sem receber salário há três meses. Essa foi a terceira libertação realizada em oito anos na mesma usina. A Destilaria Araguaia pertence ao Grupo Eduardo Queiroz Monteiro (EQM) – um grande conglomerado econômico com sede em Pernambuco. O grupo controla outras usinas em Pernambuco, Tocantins e Maranhão,
além de participar como acionista em veículos de comunicação, como o jornal Folha de Pernambuco, a Rádio Folha de Pernambuco, Folha Digital de Pernambuco e Agência Nordeste.
Em junho de 2009, fiscais do Ministério do Trabalho e do Ministério Público detectaram irregularidades em usinas fiscalizadas na região de Ribeirão Preto, em São Paulo, entre elas a Bazan, Andrade, Central Energética Moreno Açúcar e Álcool, e Nardini Agroindustrial. As usinas não forneciam equipamento adequado (como luvas, sapatos e caneleiras) e foram constatadas irregularidades no pagamento da jornada de trabalho.
Os trabalhadores declararam que cortam cerca de 20 toneladas de cana por dia. Os fiscais também registraram condições precárias de moradia, como superlotação, locais com risco de incêndio e falta de condições de higiene.
Ainda em 2009, o Ministério Público do Trabalho (MPT) conseguiu uma liminar que obriga a usina São Martinho, em Limeira (SP), a corrigir irregularidades trabalhistas. Durante fiscalizações nas safras de 2007 e 2008, o MPT constatou a falta de equipamentos de proteção, de segurança no trabalho, de cuidados médicos, de condições de higiene e de alimentação adequadas. A ação judicial inclui ainda a condenação da empresa ao pagamento de R$2 milhões aos trabalhadores por dano moral.
Para ler a reportagem completa e outras matérias confira a edição de abril da revista Caros Amigos, já nas bancas, ou clique aqui e compre a versão digital da Caros Amigos.
As características que historicamente marcaram a oligarquia rural no Brasil permanecem inalteradas. Ou seja, o monopólio da terra, a exploração do trabalho e de recursos naturais estratégicos. A principal mudança tem sido a presença crescente do capital internacional na indústria dos agrocombustíveis. Há alguns anos, verifica-se um aumento do ritmo de aquisições no setor sucro alcooleiro, com crescimento na participação de empresas estrangeiras e aumento na concentração do poder econômico de determinados grupos.
Dados do Sindicato da Indústria de Fabricação do Álcool e Açúcar de Minas indicam que a participação de empresas estrangeiras na indústria da cana no Brasil cresceu de 1% em 2000 para 12% na safra 2007/2008. Outro levantamento da Pricewaterhouse Coopers revela que existem cerca de 450 usinas no Brasil, controladas por 160 empresas nacionais e estrangeiras, e que o controle estrangeiro chegaria a 15%, incluindo participação acionária em grupos nacionais. De acordo com estudo do grupo KPMG Corporate Finance, de 2000 a setembro de 2009, ocorreram 99 fusões e aquisições de usinas no Brasil. Entre estas, 45 negociações aconteceram no período de 2007 a 2009 e em 22 casos ocorreu a compra de uma usina nacional por um grupo estrangeiro.
Maiores produtores
Em outubro de 2009, a empresa francesa Louis Dreyfus Commodities anunciou a compra de cinco usinas da Santelisa Vale, de Ribeirão Preto (SP), para aumentar sua produção de cana no Brasil. A fusão criou o grupo LDC-SEV Bioenergia, tornando-se o segundo maior produtor mundial de açúcar e etanol. O grupo pretende produzir 40 milhões de toneladas de cana-deaçúcar por ano e tem participação acionária das famílias Biaggi e Junqueira, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do banco Goldman Sachs. Essa fusão aumenta para 20% a participação de empresas estrangeiras no setor.
Uma nova característica da indústria do etanol, se comparada ao Pró-Alcool da década de 1970, é a aliança entre setores do agronegócio com empresas petroleiras, automotivas, de biotecnologia, mineração, infra-estrutura e fundos de investimento. Nesse cenário, não existe nenhuma contradição desses setores com a oligarquia latifundista, que se beneficia da expansão do capital no campo e do abandono de um projeto de reforma agrária.
Em 2009, a empresa petroleira britânica British Petroleum (BP) anunciou que irá produzir etanol no Brasil, com investimento de US$ 6 bilhões de dólares nos próximos dez anos. A BP irá atuar por meio da Tropical Bioenergia, em associação com o Grupo Maeda e a Santelisa Vale, em Goiás, que contam com uma área de 60 mil hectares para a produção de cana no estado.
Em julho de 2009, a Syngenta divulgou a aquisição de terras para produzir mudas de cana-deaçúcar na região de Itápolis (SP). O projeto inclui a produção de mudas transgênicas e pretende se expandir para outros estados, como Goiás, Minas Gerais, Paraná e Mato Grosso do Sul.
Concentração empresarial
No início de 2010, ocorreram novas fusões. Em janeiro, a multinacional agrícola Bunge anunciou a compra de quatro usinas do Grupo Moema, incluindo a usina Itapagipe, que tinha participação acionária de 43,75% da empresa norte-americana Cargill. Com a negociação, a Bunge passará a controlar 89% da produção de cana do Grupo Moema,
estimada em 15,4 milhões de toneladas por ano.
Em fevereiro, foi anunciada a fusão da ETH Bioenergia, do grupo Odebrecht, com a Companhia Brasileira de Energia Renovável (Brenco), que pretende se tornar a maior empresa de etanol no Brasil, com capacidade para produzir três bilhões de litros por ano. Alguns dos acionistas da Brenco são Vinod Khosla (fundador da Sun Microsystems), James Wolfensohn (ex-presidente do Banco Mundial), Henri Philippe Reichstul (ex-presidente da Petrobras), além da participação do BNDES. Já a Odebrecht tem sociedade com a empresa japonesa Sojitz. O novo grupo irá controlar cinco usinas: Alcídia (SP), Conquista do Pontal (SP), Rio Claro (GO), Eldorado (MS) e Santa Luzia (MS).
O conglomerado ainda participa da construção de um alcoolduto entre o Alto Taquari e o porto de Santos, e pretende instalar usinas na África. A empresa pretende captar R$ 3,5 bilhões até 2012, dos quais pelo menos 20% virão do BNDES, além de outros R$ 2 bilhões que o banco já investiu anteriormente na Brenco.
Nessa mesma linha, em fevereiro de 2010, a gigante petroleira holandesa Shell anunciou uma associação com a Cosan para a produção e distribuição de etanol, com o objetivo de produzir quatro bilhões de litros até 2014. Ao divulgar a operação, a nota da Shell afirmava que pretende criar “um rio de etanol, correndo desde as plantações no Brasil até a América do Norte e a Europa”. Apesar da repercussão internacional da prática de trabalho escravo na Cosan, a empresa segue como líder no setor.
Seguindo essa tendência, a Vale anunciou que pretende produzir diesel a partir do óleo de palma na região amazônica a partir de 2014, por meio de uma parceria com a empresa Biopalma da Amazônia S.A. A intenção é produzir 500 mil toneladas de óleo de palma por ano. Parte do combustível será utilizada nas locomotivas da estrada de ferro e nas minas de Carajás, no Pará.
Monocultivo da cana
Em relação ao avanço territorial do monocultivo de cana, dados da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) mostram que, em 2006, eram 4,5 milhões de hectares e, em 2008, chegaram a 8,5 milhões de hectares. Na safra de 2009 houve um aumento de 7,1% em relação a 2008.
Essa expansão é estimulada por recursos públicos. Entre 2008 e 2009, estima-se que o setor sucroalcooleiro tenha recebido mais de R$ 12 bilhões do BNDES. Essa verba é extraída, em grande medida, do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Segundo a CONAB, 45,08% da safra foi destinada à produção de açúcar e 54,9%, à produção de etanol, que resultou em 25,87 bilhões de litros do produto. A expansão da área plantada foi de 6,7%, ou cerca de 473 mil hectares. A maior expansão ocorreu na região do Cerrado, principalmente em Mato Grosso do Sul (38,80%) e Goiás (50,10%).
Dados do Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig), da Universidade Federal de Goiás, indicam que o ritmo atual de desmatamento do Cerrado poderá elevar de 39% para 47% o percentual devastado do bioma até 2050. A pesquisa demonstra ainda que a destruição do Cerrado coloca em risco a disponibilidade de recursos hídricos para o Pantanal e a Amazônia, pois esses biomas estão interligados.
Trabalho escravo
As usinas de cana se tornaram campeãs em trabalho escravo nos últimos anos. De acordo com dados da Campanha Nacional de Combate ao Trabalho Escravo da Comissão Pastoral da Terra (CPT), em 2007, dos 5.974 trabalhadores resgatados da escravidão no campo brasileiro, 3.060 ou 51%, foram encontrados no monocultivo da cana-de-açúcar. Em 2008, dos 5.266 resgatados, 2.553, ou 48% dos trabalhadores mantidos escravos no país estavam em plantações de cana. De janeiro a junho de 2009, o número era de 951 trabalhadores, que representavam 52% do total. Ao final de 2009, o Ministério do Trabalho registrou a libertação de 1.911 trabalhadores nas usinas de cana nos estados de Goiás, Mato Grosso, Pernambuco, Espírito Santo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
Em 2009, o Ministério do Trabalho inclui grandes usinas na chamada “lista suja” do trabalho escravo. Uma delas foi a Brenco, que tem participação acionária de 20% do BNDES. Entre 2008 e 2009, o BNDES liberou R$ 1 bilhão para usinas da Brenco em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás. Ao mesmo tempo, o Grupo Móvel expediu 107 autos de infração contra a empresa, que é presidida pelo ex-presidente da Petrobras, Henri Philippe Reichstul. Apesar da prática de trabalho escravo, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, anunciou a continuidade do financiamento para a Brenco.
Em 31 de dezembro de 2009, foi a vez do grupo Cosan – a maior empresa do setor sucroalcooleiro do país, com produção anual de 60 milhões de toneladas de cana. Apesar da prática de trabalho escravo, a Cosan recebeu R$ 635,7 milhões do BNDES em junho de 2009, para a construção de uma usina de etanol em Goiás. O BNDES manteveo financiamento para a Cosan, mesmo após a evidência de trabalho escravo. A Cosan possui 23 usinas, controla os postos da Exxon (Esso do Brasil) e teve um faturamento de R$ 14 bilhões de reais em 2008.
Em outubro de 2009, o Grupo Móvel libertou 55 trabalhadores escravizados na Destilaria Araguaia (chamada anteriormente de Gameleira), no Mato Grosso. Segundo o auditor fiscal Leandro de Andrade Carvalho, que coordenou a operação, os trabalhadores estavam sem receber salário há três meses. Essa foi a terceira libertação realizada em oito anos na mesma usina. A Destilaria Araguaia pertence ao Grupo Eduardo Queiroz Monteiro (EQM) – um grande conglomerado econômico com sede em Pernambuco. O grupo controla outras usinas em Pernambuco, Tocantins e Maranhão,
além de participar como acionista em veículos de comunicação, como o jornal Folha de Pernambuco, a Rádio Folha de Pernambuco, Folha Digital de Pernambuco e Agência Nordeste.
Em junho de 2009, fiscais do Ministério do Trabalho e do Ministério Público detectaram irregularidades em usinas fiscalizadas na região de Ribeirão Preto, em São Paulo, entre elas a Bazan, Andrade, Central Energética Moreno Açúcar e Álcool, e Nardini Agroindustrial. As usinas não forneciam equipamento adequado (como luvas, sapatos e caneleiras) e foram constatadas irregularidades no pagamento da jornada de trabalho.
Os trabalhadores declararam que cortam cerca de 20 toneladas de cana por dia. Os fiscais também registraram condições precárias de moradia, como superlotação, locais com risco de incêndio e falta de condições de higiene.
Ainda em 2009, o Ministério Público do Trabalho (MPT) conseguiu uma liminar que obriga a usina São Martinho, em Limeira (SP), a corrigir irregularidades trabalhistas. Durante fiscalizações nas safras de 2007 e 2008, o MPT constatou a falta de equipamentos de proteção, de segurança no trabalho, de cuidados médicos, de condições de higiene e de alimentação adequadas. A ação judicial inclui ainda a condenação da empresa ao pagamento de R$2 milhões aos trabalhadores por dano moral.
Para ler a reportagem completa e outras matérias confira a edição de abril da revista Caros Amigos, já nas bancas, ou clique aqui e compre a versão digital da Caros Amigos.
Cidadão Boilesen (2009)
Do Blog DocVerdade
(Brasil, 2009, 92min - Direção: Chaim Litewski)
Finalmente na Web!
Finalmente na Web!
Estivemos presentes no festival "É Tudo Verdade", no CCBB em Brasília, e
vimos o ganhador do prêmio de melhor documentário nacional - "Cidadão
Boilesen", que conta o envolvimento da classe empresarial brasileira com
o pior dos anos de chumbo da ditadura Brasileira.
Henning Boilesen, figura representativa na alta roda paulistana, carismático, presidente do grupo Ultra (Ultragás) participou ativamente (inclusive presencialmente) na OBAN (Operação Bandeirante) que visava aniquiliar qualquer forma de pensamento que discordasse da ditadura.
O filme mostra que ele, assim como empresários da Camargo Correa, Folha de São Paulo, entre muitos outros, financiaram a repressão, que torturou e assassinou estudantes, professores e militantes de esquerda no Brasil.
Boilesen, diferentemente de quase todos, foi punido, sendo assassinado pelos militantes do MRT e ALN.
Um documentário excepcional e imperdível.
(Sinopse original do docverdade)
Torrent
Agradecemos a Diego P. pela indicação do Link do torrent
Henning Boilesen, figura representativa na alta roda paulistana, carismático, presidente do grupo Ultra (Ultragás) participou ativamente (inclusive presencialmente) na OBAN (Operação Bandeirante) que visava aniquiliar qualquer forma de pensamento que discordasse da ditadura.
O filme mostra que ele, assim como empresários da Camargo Correa, Folha de São Paulo, entre muitos outros, financiaram a repressão, que torturou e assassinou estudantes, professores e militantes de esquerda no Brasil.
Boilesen, diferentemente de quase todos, foi punido, sendo assassinado pelos militantes do MRT e ALN.
Um documentário excepcional e imperdível.
(Sinopse original do docverdade)
Torrent
Agradecemos a Diego P. pela indicação do Link do torrent
O Irã, o Brasil e ‘a bomba’
Pepe Escobar: O Irã, o Brasil e “a bomba”
http://www.atimes.com/atimes/Middle_East/LD30Ak01.html
tradução de Caia Fittipaldi no Viomundo
O ministro das Relações Exteriores do Brasil Celso Amorim foi tão
polido quando preciso e claro, em conferência conjunta de imprensa, ao
lado de seu contraparte Manouchehr Mottaki em Teerã nessa 5ª.-feira.
Amorim disse que “o Brasil está interessado em participar de uma
solução apropriada para a questão nuclear iraniana.”
“Apropriada” é palavra em código para “dialogada” – não uma quarta
rodada de sanções lançada pelo Conselho de Segurança da ONU, muito
menos a opção militar, que o governo Barack Obama insiste, com
estridência, em manter à mesa. Assim, ao posicionar-se como um mediador
em busca de solução pacífica, o governo brasileiro põe-se em rota de
colisão “soft” com o governo Obama.
O presidente Luiz Inacio Lula da Silva do Brasil estará em visita a
Teerã, mês que vem. Aos olhos dos falcões do “pleno espectro de
dominação” nos EUA, é anátema. Tanto quanto para a ‘mídia’ ocidental de
direita, veículos brasileiros inclusos, que não se cansam de martelar
Lula, non-stop, por sua iniciativa de política exterior.
Pouca diferença faz que, mais uma vez, Amorim tenha repetido, com
destaque, que absolutamente não há consenso na chamada “comunidade
internacional” quanto a isolar Teerã. “Comunidade”, mais uma vez nesse
caso significa Washington e uns poucos países europeus. O Sul global
vota pelo diálogo. O Movimento dos Não-alinhados [ing. Non-Aligned
Movement (NAM)] é unanimemente contrário a mais sanções. O Grupo
dos 172 (todos os países exceto o Grupo dos 20) é também contra mais
sanções.
O Brasil e a Turquia, ambos contrários a novas sanções, ocupam
atualmente lugares não-permanentes no Conselho de Segurança da ONU. A
posição de ambos é idêntica, em essência, à de China e Rússia – que são
membros permanentes do Conselho de Segurança. A tática russa de nada
deixar transpirar, e a da China, que concordou com “discutir” pacotes
de sanções, têm sido distorcidas e mal interpretadas pela mídia
corporativa e vendidas como se esses países estivessem aceitando as
exigências de Washington.
Não aceitaram. No encontro dos BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China)
em Brasília, há menos de duas semanas, esses países mais uma vez
definiram que a ‘solução’ de novas sanções não é solução, e repetiram
que toda a questão deve ser decidida pela Agência Internacional de
Energia Atômica (IAEA).
Em Teerã, Mottaki e Amorim também discutiram a proposta iraniana de
troca de combustível nucelar, como “medida para construir confiança”
que beneficiaria o Irã, em relação a Washington e capitais europeias. O
Brasil ofereceu-se para enriquecer urânio para o Irã.
O problema é que a nova rodada de sanções está sendo discutida em
New York exclusivamente entre os cinco membros permanentes mais a
Alemanha – e só depois dessa fase a discussão será aberta aos membros
não permanentes, como Brasil, Turquia e Líbano, que mês que vem
assumirá o assento rotativo do Conselho de Segurança.
O xis da questão
Cada ator tem suas próprias razões para opor-se às sanções. Moscou –
que já fornece ao Irã tecnologia de reatores nucleares, além de armas
–, sabe que, mais cedo ou mais tarde Washington terá de aceitar o
óbvio; que o Irão, produtor chave de energia, é uma potência regional
natural. Para Pequim, o Irã é assunto de segurança nacional energética;
mais sanções põem sob risco a estabilidade regional e caem na
categoria de delírios-desejos da secretária de Estado Hillary Clinton.
Nova Delhi dificilmente não terá visto, até agora, que, no
Afeganistão, Washington embarcou em aliança sem volta com Islamabad; a
Índia, portanto, precisa de um Irã estável como contrapoder, para
enfrentar a influência do Paquistão no Afeganistão, onde o Paquistão
pode, outra vez, reengajar os Talibã. Brasília quer expandir os
negócios com Teerã; e Lula, por sua vez, não abre mão da ideia de que
mais sanções só farão abrir caminho para mais guerra, não para evitar
guerras.
Os diplomatas, na mais recente reunião dos BRICs, tocaram no xis da
questão. Os líderes dos BRICs – o poder atual, novo, multipolar que
seriamente se tem dedicado em manter sob xeque as ambições de hegemonia
dos EUA – avaliaram atenta e cuidadosamente todos os sinais complexos,
desde a carta “secreta” do supremo do Pentágono Robert Gates a Obama,
em janeiro passado, na qual revisa as opções militares “que continuam à
mesa” contra o Irã, até o discurso do almirante Mike Mullen, da Junta
de Comando do Estado-maior, na Columbia University, que disse que o
ataque sempre seria sua “última escolha”. Avaliaram o nível de
ansiedade de Washington. E concluíram que os EUA não atacarão o Irã.
Talvez estejam errados. Por trás de espessa cortina de espelhos e
fumaça na mídia corporativa, há furiosa luta de gatos em curso em
Washington, entre os ativistas do “espectro de plena dominação” – desde
is militares ao pessoal do Instituto “American Enterprise”. Mas só
discutem uma coisa: quando atacarão o Irã, ou mais cedo, ou mais tarde.
Entre os falcões está decidido que Washington jamais permitirá ao
Irã “adquirir capacidade nuclear”. É o mesmo que falar de guerra
preventiva. O “crime” do Irã, até aqui, teria sido já ter um programa
de energia nuclear aprovado pelo Tratado de Não-proliferação e
inspecionado como se ante o juiz do Juízo Final.
Nesse cenário de ansiedade altíssima, não importa que o Líder
Supremo do Irã aiatolá Ali Khamenei tenha recentemente pregado o total
desarmamento global e repetido sua fatwa, contra, até, o uso
de armas de destruição em massa. São haram (proibidas) nos
termos da lei islâmica.
O Pentágono, via Gates, insiste na ofensiva – ameaçando o Irã com
uma explícita “todas as alternativas continuam à mesa”, quer dizer,
bomba atômica incluída; e Obama, em obra prima de duplifalar
orwelliano, acrescentou que os EUA “manteremos nosso [poder nuclear] de
contenção”, como “incentivo” para Irã e Coreia do Norte. Incentivo ao
suicídio seppuku, quem sabe?
Assim sendo, o que acontecerá?
Mês que vem, em New York, haverá nova revisão do Tratado de
Não-proliferação. O governo Obama já começou a pressionar o Brasil para
que aceite um protocolo adicional. O Brasil recusou.
Na essência, o Tratado de Não-proliferação é extremamente
assimétrico. Nações que pertençam ao clube da bomba atômica recebem
tratamento VIP, em relação aos demais. O protocolo adicional aumenta
ainda mais essa discriminação – e dificulta até a pesquisa para
finalidades pacíficas, nas nações não-nucleares.
O Brasil que – diferença crucial nesse contexto – ostenta tradição
pacifista – defende o direito de qualquer país soberano adquirir
“capacidade de tecnologia nuclear”. Foi onde o Irã subiu ao barco,
conforme todas as evidências disponíveis. Assim sendo, o Brasil está em
evidente rota de colisão com Washington, no que tenha a ver com o
Tratado revisto de Não-proliferação. Para Brasília, seria submeter-se à
interferência estrangeira.
Quanto às sanções, Washington precisa cair na real. Acreditar que os
BRICs ou países da Ásia ou Europa deixarão de comprar gás e petróleo
do Irã; que não venderão gasolina ao Irã, e que os bancos iranianos não
encontrarão meios de continuar a operar na economia global (eles têm
parceiros, por exemplo, nos Emirados Árabes Unidos e na Venezuela) é
viver no País das Maravilhas.
As majors chinesas do petróleo já vendem gasolina
diretamente ao Irã. Em 2012, o Irã terá dobrado a produção de gasolina,
depois de expandir 10 refinarias, e está investindo cerca de 40
bilhões na construção de sete novas refinarias. O Irá continuará no
negócio dos produtos do petróleo – principalmente com as “stans” da
Ásia Central. O que mostra, por exemplo, que pode importar gasolina
contornando o sistema bancário internacional.
E, sobretudo, há o mercado negro. Jordânia e Turquia contrabandeiam
rios de petróleo para fora do Iraque ‘sancionado’ durante os anos 90s.
Com novas sanções sobre o Irã, será a vez de uma nova geração de
iraquianos ganharem a sorte grande. Quanto à ditadura militar do
mulariato em Teerã, os mulás adorarão consumir seus lucros de energia
para reforçar seu escudo protetor.
Os líderes dos BRICs – Lula entre eles – podem, sim, ter visto a
estrada por trás da cortina de espelhos e fumaça. Bomba? Mas que bomba?
Todos sabem que o Irã não pode fabricar uma bomba, por exemplo, em
Natanz, não, com certeza, enquanto as instalações forem inspecionadas
até o esqueleto descarnado pela IAEA. Suponha-se que o Irã supere a
Coreia do Norte, engane todos os inspetores, dê um chapéu no Tratado de
Não-proliferação e decida fabricar uma bomba em local secreto.
Precisariam de quantidades enormes de água e energia – e os satélites
lá estão, para ver qualquer movimentação desse tipo.
Os líderes dos BRICs já concluíram, isso sim, que Washington nada
pode fazer quanto a o Irã adquirir “capacidade nuclear”, além de
invadir o país, em edição conjunta remix das operações
Tempestade no Deserto + Choque e Pavor, e provocar um banho de sangue
para troca de regime.
Nem rodadas e mais rodadas de sanções conseguirão excluir essas
opções. Bombas “de precisão” israelenses, dos EUA ou híbridas, poderão,
no máximo, atrasar um pouco o processo iraniano – e, isso, sem
considerar as muitas possibilidades de retaliação. Tudo isso
considerado, só há uma solução viável.
Washington tem de sentar-se à mesa com Teerã com o tal “punho
aberto” realmente aberto e examinar todas as opções diplomáticas, à
busca de um pacote abrangente de segurança para o Oriente Médio –
pacote o qual, é claro, terá de incluir a total desnuclearização; quer
dizer, fim, também, para as bombas atômicas “secretas” de Israel.
Difícil, só, saber se o governo Obama – acossado pelos falcões da
guerra por todos os lados – sobreviverá a esse desafio.
quinta-feira, 29 de abril de 2010
O Brasil carece de um projeto social??
O Brasil precisa de um projeto voltado para o povo |
Escrito por Waldemar Rossi no Correio da Cidadania | |
Dados recentes revelam o quanto faz falta um projeto político-econômico direcionado para atender às necessidades vitais do povo brasileiro. No dia 27 deste mês a imprensa dava conhecimento de que o INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) dispõe de 1,5 milhões de hectares de terras que seriam suficientes para assentar nada mais nada menos que 50 mil famílias de trabalhadores sem terras. Seriam módulos de cerca de 30 hectares para cada família (cerca de 16 alqueires paulistas ou 8 alqueires mineiros). Acompanhados dos recursos financeiros e técnicos necessários, teríamos perto de 150 mil pessoas produzindo a alimentação que falta em milhões de lares brasileiros, uma vez que tal produção não estaria à disposição da exportação para os países ricos. Imaginemos se o governo Lula, em vez de liberar para legalização-doação até 1.500 hectares de terras devolutas (portanto sob custódia do governo federal) para latifundiários grileiros, o tivesse feito em favor do povo que delas necessita, quanto teríamos de terras para assentar, não 50 mil, mas cerca de 5 milhões de famílias! E o quanto isto implicaria em produção básica de alimentos! Sem esquecer que Lula prometeu que faria a Reforma Agrária "numa canetada". Além do que estaria contribuindo para o esvaziamento parcial das grandes cidades (tornando a vida urbana menos dolorosa, menos poluída, menos especulativa) e contribuindo para o desenvolvimento do nosso enorme interior, sem falar em tantas e tantas outras vantagens! Defensores dos latifundiários e "amigos" do governo dirão que não há dinheiro para tanto. Pura mentira, e isto bem nos mostra Frei Betto, em seu artigo ‘Declaração de Voto’. Diz, entre outras coisas importantes: "Voto no candidato disposto a mudar a atual política econômica que, em 2008, canalizou R$ 282 bilhões para amortizar dívidas internas e externas e apenas R$ 44,5 bilhões para a saúde. Em termos percentuais foram 30% do orçamento destinados ao mercado financeiro e apenas 5% para a saúde, 3% para a educação, 12% para toda a área social". E o dinheiro para a Reforma Agrária, como estabelece a Constituição e conforme sua promessa? Desde o início do governo Lula, em 2003, que os movimentos e entidades sociais (que o apoiaram) vêm destacando a necessidade de uma verdadeira virada na política econômica nacional. Afirmando que o dinheiro arrecadado através dos impostos e taxas deve ser aplicado para o desenvolvimento dos setores que precisam de incentivo oficial, como a própria Reforma Agrária e as reformas do sistema de Saúde e da Educação públicas; em uma política de construção de moradias populares através dos mutirões; no saneamento básico destinado a todos os municípios (grandes, médios e pequenos); na construção de um sistema de transporte nacional (urbano e interurbano ferroviário, metrô e trens de passageiros e de carga); na preservação do meio-ambiente com a proteção de nossos rios e florestas e na recuperação de nossas matas nativas; em políticas de assistência libertadora das populações carentes; na verdadeira e legítima proteção aos nossos indígenas e populações ribeirinhas; no desenvolvimento das fontes alternativas de energia não poluidoras e não devastadoras e tantos outros setores mais. Enfim, o Brasil tem urgência de um projeto político-econômico que gere desenvolvimento econômico em favor do desenvolvimento social, preocupado com a vida com muita qualidade para todo o povo brasileiro e não para o enriquecimento dos exploradores dos povos. Mas será que teremos algum candidato que estará disposto, se eleito presidente da República, a implementar pra valer tal política? Constatamos, infelizmente, que estamos novamente dentro de um circo organizado pelo capital: o circo eleitoral. Estamos assistindo ao triste retorno da demagogia eleitoreira, dos ataques de candidatos a outros candidatos com acusações de crimes que estiveram engavetados à espera do processo eleitoral, das centenárias e falsas promessas de ajudar o necessitado, às mentiras e meias-verdades... Entretanto, o desejo de se construir um projeto de justiça social para o Brasil não está morto, apesar do ceticismo que toma conta do nosso povo. Ele está vivo nas mentes e ações de milhões de brasileiros que não se submeteram e não se submetem à dominação ideológica do capital e não se tornaram lambe-botas de governantes. E, enquanto este sonho e desejo não estiverem mortos, a esperança estará animando todos e todas de boa vontade, independente de suas crenças particulares. DIA 1º DE MAIO está próximo. É um momento oportuno para que o leitor, se ainda não estiver engajado, se juntar a todos e todas comprometidos com a solidariedade classista; é um bom momento de dizer um sonoro "NÃO" às centrais sindicais que organizam shows para dopar ainda mais as mentes dos nossos trabalhadores, shows financiados com dinheiro de grandes empresas nacionais e internacionais que exploram o mesmo trabalhador. PARTICIPE DAS CELEBRAÇÕES EM MEMÓRIA DOS NOSSOS MÁRTIRES! NÃO DEIXE ESSA PETECA CAIR. Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo. |
A sobrevivência da Bélgica....
Artificialmente criada em 1831 e
mais tarde confirmada pelo Tratado de Versalhes para servir de tampão ao
expansionismo francês, a Bélgica é cada vez mais um país Estado sem
sentido e o espelho de uma outra artificialidade, a actual União
Europeia.
“Bye Bye
Belgium”, “Este país ainda fará sentido?”: os cabeçalhos dos jornais
belgas, sobretudo os francófonos, reflectiam na sexta-feira [dia 23 de
Abril] a inquietação da imprensa nacional sobre o futuro do país, no dia
a seguir à enésima demissão do governo devida a um conflito sobre os
direitos linguísticos dos francófonos que vivem nos arredores flamengos
de Bruxelas.
O rei Alberto II, que ainda não aceitou esta demissão, vai
prosseguir durante o dia as consultas com o conjunto dos chefes dos
partidos. O chefe do Open VLD, o partido dos liberais flamengos,
entreabriu a porta a um novo compromisso lançando aos responsáveis dos
partidos francófonos um ultimato para quinta-feira, 29 de Abril, data da
próxima reunião plenária do Parlamento belga, para encontrar um acordo.
Os presidentes dos partidos francófonos declaram-se prontos a reabrir
as discussões com o Open VLD mas não aceitam o novo ultimato. «O
importante é o acordo e não a data», respondeu a presidente do partido
centrista CDH, Joëlle Milquet.
Esta manhã [23 de Abril], os jornais belgas apareceram cheios de
inúmeras páginas especiais. O editorial do diário de Bruxelas Le
Soir alinha as interrogações: «Ainda fará sentido manter um país em
que já não existem homens e mulheres ou sistemas, capazes de fazer
compromissos, mesmo que pequenos, indispensáveis para a continuação da
Bélgica?» Se assim for, «é preciso passar à frente e assumi-lo»,
acrescenta.
O diário popular francófono La Dernière Heure profetiza com
um “Bye Bye Belgium” com uma indirecta irónica especificando: “Isto não
é uma ficção”. Uma referência à partida a uma emissão televisiva belga
que, em Dezembro de 2006, suscitou grande emoção anunciando em directo
aos telespectadores a declaração da independência dos flamengos da
Bélgica.
INQUIETAÇÃO A DUAS SEMANAS DA PRESIDÊNCIA BELGA DA UE
Para La Libre Belgique, é «o golpe de força flamengo» que
atrai sobretudo a atenção. A saber, uma tentativa, na quinta-feira [22
de Abril], de todos os partidos flamengos, logo depois da demissão do
governo, de impor à Câmara dos deputados a votação de um projecto de lei
pondo em causa os direitos linguísticos dos francófonos que vivem na
Flandres.
Uma «embrulhada», é o título dado pelo editorialista do diário Open
VLD depois desta crise «duma gravidade sem precedentes» e «de que nenhum
cidadão estava à espera». Segundo este artigo, «agiu apenas por razões
eleitoralistas. Incomodado por um governo em que não está presente,
dilacerado por divisões internas, gerido por novatos, o VLD quer
conquistar a oposição a toda a pressa, onde poderá recuperar a saúde.
Está no seu direito. Mas não tem o direito de fazer refém um país, uma
população».
Agarrando num comunicado da agência noticiosa belga, o diário realça
também os editoriais dos jornais flamengos, que se mostram menos
dramáticos, havendo até alguns que saúdam o golpe táctico do presidente
do partido liberal flamengo. De Standaard, o diário flamengo de
referência, não se mostra menos inquieto. Vê nos sobressaltos actuais
«um claro sinal da impotência da política belga». A Libre Belgique
também lista «dez áreas em perigo» entre os quais o orçamento, o futuro
das pensões ou ainda o dossier nuclear.
A imprensa belga não é a única a mostrar-se preocupada. Os meios de
comunicação estrangeiros também se interrogam sobre esta crise, dez
semanas antes da presidência belga da União Europeia. «A queda de
coligação belga ameaça a Bélgica quanto ao seu papel de presidente»,
sublinha The Financial Times, de que a agência belga se faz
eco. «Espero que esta questão na Bélgica seja sanada», declarou pelo seu
lado o ministro dos negócios estrangeiros espanhol, Miguel Angel
Moratinos, sem se mostrar especialmente inquieto quanto às consequências
da crise belga para a União Europeia. A presidência espanhola, como é o
costume para preparar a passagem do testemunho, «já trabalhou sobre os
principais assuntos europeus» com a Bélgica, afirmou.
Finalmente, um economista calculou que esta crise política poderá
custar milhões de euros à Bélgica. «Uma nova crise política no nosso
país poderá levá-lo à beira do abismo. […] Os mercados financeiros são
maníaco-depressivos quanto à dívida do Estado e poderão passar
rapidamente duma calma aparente a um pânico generalizado com
penalizações de risco de circunstância. Por outras palavras, um país tem
o maior interesse em manter-se, na medida do possível, afastado das
colunas da imprensa mundial».
Este texto foi publicado pelo diário francês Le Monde de 24 de
Abril de 2010.
Tradução de Margarida Ferreira
quarta-feira, 28 de abril de 2010
Novas sanções do sionismo israelense....
Ordem militar israelense permitirá deportar todo palestino da Cisjordânia
da Efe, em Jerusalém
Uma nova ordem militar de Israel permitirá capturar ou deportar todo palestino residente no território ocupado da Cisjordânia que não tenha uma permissão emitida pelas autoridades israelenses, denunciam neste domingo ONGs locais.
A nova ordem entrará em vigor na próxima terça-feira e sua redação é tão geral que teoricamente permitirá ao Exército israelense deportar todos os habitantes palestinos da Cisjordânia, afirma a ONG israelense "Hamoked", o Centro para a Defesa do Indivíduo.
A Hamoked denuncia junto a outras nove ONGs que a disposição militar não foi anunciada entre a população palestina como seria desejável, o que eleva a suspeita de que, apesar das sérias implicações que traz, as autoridades tentam fazê-la passar de forma secreta para evitar o debate público ou uma eventual revisão judicial.
Em um documento, as ONGs exortaram o Ministério da Defesa a atrasar a entrada em vigor do ordem, que transformará todos os moradores da Cisjordânia em potenciais criminosos que podem ser aprisionados até sete anos ou deportados desse território.
Destinada a impedir as infiltrações no território ocupado, a ordem define todos os residentes palestinos desse território como "infiltrados".
"As ordens mudam a definição de infiltrados, e de fato, se aplicam a todos que se encontrem na Cisjordânia e não tenham uma permissão israelense, embora não defina o que Israel considera como permissão válida", declaram.
A ONG acrescenta que a grande maioria dos habitantes da Cisjordânia, onde moram 2,5 milhões de habitantes, nunca procurará nenhum tipo de permissão para morar ali.
As organizações denunciam que a atual política será empregada inicialmente com os palestinos que se encontram na Cisjordânia e que Israel quer transferí-la para a Faixa de Gaza, apesar do fato de que muitos deles nasceram na Cisjordânia ou se instalaram ali de forma legal.
Também tenta expulsar estrangeiros casados com palestinos da Cisjordânia que estão no exterior, situação que afeta dezenas de milhares pessoas.
"Em todo caso, a definição de infiltrado expõe o indivíduo a penas de entre três e sete anos de prisão e poderia a princípio ser aplicada a qualquer pessoa que o Exército considere, incluindo israelenses e internacionais que estejam presentes na Cisjordânia", assegura o comunicado.
Informe da CNTE(Confederação Nacional dos Trabalhadores na Educação)
Impasses sobre o PSPN mantêm conflitos nos estados
|
O controle brasileiro de normas impede que leis, independente das
esferas de abrangência, contenham interpretações ambíguas. O objetivo da
norma, por si, é ser imperativa. Em havendo lacunas, o juízo competente
deverá decidir à luz dos fins sociais a que ela se dirige e às
exigências do bem comum. Em caso de omissão, a decisão deve pautar-se na
analogia, nos costumes e nos princípios gerais de direito.
No caso da Lei 11.738, o que se nota são diversas interpretações sobre mais de um artigo, bem como a inobservância de outro dispositivo vital para o cumprimento dos fins sociais a que ela se propõe. Por outro lado, não há omissão. Pelo contrário. Os proponentes da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI 4.167) alegam que a mesma contém excessos, os quais extrapolariam os limites de competência dos entes federados. Esses questionamentos, porém, estão pendentes de julgamento de mérito no STF e são essenciais para o alcance dos objetivos da Lei.
Portanto, o que ocorre, atualmente, com a aplicação da Lei do Piso do Magistério, só pode ser considerado uma aberração do ponto de vista legal. Para os trabalhadores, no entanto, essa anomalia se traduz em enorme frustração, frente ao sonho de reconhecimento social da profissão, e descrédito para com os gestores públicos encarregados pela aplicação da norma.
Em termos práticos, hoje, caberia ao STF esclarecer, em definitivo, o julgamento cautelar da ADI 4.167, pois um consenso sobre o valor do piso depende disso. A Suprema Corte também precisa julgar o mérito da mencionada ação, no diz respeito às vinculações do piso aos vencimentos iniciais de carreira e do percentual de um terço da jornada à hora-atividade. Ao Congresso Nacional cabe aprovar a redação proposta ao PLC 321/09, que mantém o atual critério de reajuste do piso – superando, portanto, a restrição da correção ao INPC – porém atrelando o índice ao valor mínimo do Fundeb consolidado. Hoje, a Lei 11.738 vincula o índice de forma prospectiva (com validade durante o exercício presente), embora um parecer da advocacia Geral da União, a pedido do MEC, não interprete a questão dessa forma. Por fim, aos gestores públicos cumpre atender aos preceitos do artigo 6º da Lei, de forma a adequar os planos de carreira ao Piso Nacional.
A CNTE tem atuado em todas essas frentes de luta e espera obter avanços o mais breve possível.
Recentemente, a Confederação iniciou as conversas com o MEC para instalação da Mesa de Negociação do Piso envolvendo os Executivos (União, Estados e Municípios), o Parlamento e os Trabalhadores. A Mesa buscará negociar o valor para o Piso em 2010, à luz do entendimento que dispomos da Lei. Essa definição também é essencial porque sobre ela incidirá o reajuste em 2011. Sabemos que a tarefa não será fácil, mas vamos à luta!
No caso da Lei 11.738, o que se nota são diversas interpretações sobre mais de um artigo, bem como a inobservância de outro dispositivo vital para o cumprimento dos fins sociais a que ela se propõe. Por outro lado, não há omissão. Pelo contrário. Os proponentes da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI 4.167) alegam que a mesma contém excessos, os quais extrapolariam os limites de competência dos entes federados. Esses questionamentos, porém, estão pendentes de julgamento de mérito no STF e são essenciais para o alcance dos objetivos da Lei.
Portanto, o que ocorre, atualmente, com a aplicação da Lei do Piso do Magistério, só pode ser considerado uma aberração do ponto de vista legal. Para os trabalhadores, no entanto, essa anomalia se traduz em enorme frustração, frente ao sonho de reconhecimento social da profissão, e descrédito para com os gestores públicos encarregados pela aplicação da norma.
Em termos práticos, hoje, caberia ao STF esclarecer, em definitivo, o julgamento cautelar da ADI 4.167, pois um consenso sobre o valor do piso depende disso. A Suprema Corte também precisa julgar o mérito da mencionada ação, no diz respeito às vinculações do piso aos vencimentos iniciais de carreira e do percentual de um terço da jornada à hora-atividade. Ao Congresso Nacional cabe aprovar a redação proposta ao PLC 321/09, que mantém o atual critério de reajuste do piso – superando, portanto, a restrição da correção ao INPC – porém atrelando o índice ao valor mínimo do Fundeb consolidado. Hoje, a Lei 11.738 vincula o índice de forma prospectiva (com validade durante o exercício presente), embora um parecer da advocacia Geral da União, a pedido do MEC, não interprete a questão dessa forma. Por fim, aos gestores públicos cumpre atender aos preceitos do artigo 6º da Lei, de forma a adequar os planos de carreira ao Piso Nacional.
A CNTE tem atuado em todas essas frentes de luta e espera obter avanços o mais breve possível.
Recentemente, a Confederação iniciou as conversas com o MEC para instalação da Mesa de Negociação do Piso envolvendo os Executivos (União, Estados e Municípios), o Parlamento e os Trabalhadores. A Mesa buscará negociar o valor para o Piso em 2010, à luz do entendimento que dispomos da Lei. Essa definição também é essencial porque sobre ela incidirá o reajuste em 2011. Sabemos que a tarefa não será fácil, mas vamos à luta!
terça-feira, 27 de abril de 2010
Lei ambiental é descumprida por 90% dos produtores.....
Código Ambiental: 90% dos produtores descumprem lei
LILIAN MILENA
Agropecuaristas querem reforma do Código Florestal
Nacional alegando incompatibilidade das regras federais à realidade do
produtor brasileiro. A Comissão Especial, que analisa as diretrizes, se
reúne esta terça-feira (27) para definir o cronograma de trabalho das
discussões.
Os reformistas estimam que 90% dos produtores
brasileiros transgridem de alguma forma a Lei nº 4.771/65, o que
significa 5 milhões de pessoas. Segundo o deputado federal, e relator da
proposta de reforma, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), a alta taxa de fazendeiros
que não se adéquam às regras ambientais é motivo suficiente para
revisão das diretrizes nacionais de conservação e preservação de biomas.
Em contrapartida, ambientalistas reforçam a
necessidade de se manter a proteção de áreas de mananciais, encostas e
florestas, considerando os benefícios indiretos à economia agrícola e
seus impactos sobre o clima local. André Lima, coordenador de Políticas
Públicas do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), lembra
que os últimos desastres ambientais sofridos pelas populações dos
estados de Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro foram resultados
da combinação de fenômenos hidrológicos e desrespeito à legislação
ambiental.
O porta-voz do IPAM alega que não existem estudos
confiáveis de que 90% dos produtores, em todo o Brasil, não cumprem as
diretrizes do Código Florestal. Lima concorda que as diretrizes federais
podem ser aprimoradas, mas no sentido de aumentar a proteção dos
recursos hídricos e da biodiversidade. Já em relação às regiões do país
que mais sofreram perdas da sua biodiversidade (Sul e Sudeste), o
ecologista aponta que há alternativas sustentáveis como a reposição de
florestas perdidas além das propriedades.
Os reformistas querem que as áreas de proteção
permanente (APP) e as reservas legais (RL), tenham territórios limitados
abaixo do estabelecido pelo código federal. As APP são espaços com
vegetação nativa, essenciais para conter processos de erosão ao longo de
rios e mananciais. São classificadas junto aos corpos hídricos em
geral, nascentes, topos de morros nas montanhas, serras, encostas e
restingas. Proprietários de áreas classificadas como APP não podem
alterá-las.
O limite mínimo de corredores marginários ao longo
do curso de águas, reservatórios e nascentes, além do limite das cheias
anuais, por exemplo, é de 30 metros. Logo, toda pessoa que tiver
terreno em área de manancial não pode produzir culturas, criar gado ou
construir nessa faixa.
Já as Reservas Legais são estabelecidas em toda e
qualquer propriedade rural. O Conselho Nacional de Meio Ambiente
(CONAMA) avalia que a RL garante a conservação e reabilitação dos
processos ecológicos e conservação da biodiversidade. A cobertura
vegetal seria responsável por benefícios econômicos indiretos como
amenização de cheias e da erosão, regulação do clima local, controle de
pragas e proteção dos rios.
A lei determina que proprietários em áreas de Mata
Atlântica mantenham 20% da cobertura vegetal original – se estiverem
desmatadas, o dono do terreno terá que replantar os 20%. Proprietários
no Cerrado devem proteger 35% do bioma, e na Amazônia, o índice mínimo
de preservação é de 80%.
Os ruralistas propõem redução na Amazônia dos
atuais 80% para 50% (alguns até mesmo para 20%), e no Cerrado, dos
atuais 35% para 20%, como o estabelecido na Mata Atlântica.
Jean Paul Metzger, biólogo e ecologista do
Instituto de Biociência da USP, destaca que simulações e pesquisas em
campo, realizadas em diferentes áreas preservadas, apontam que para
garantir o equilíbrio de espécies da flora e fauna e a interação delas
ao ambiente, cerca de 60% da paisagem original deve ser preservada em
qualquer bioma.
“Apesar deste valor ter sido definido para
paisagens aleatórias, estudos considerando três padrões distintos de
fragmentação na Amazônia sustentam a ocorrência de mudanças bruscas em
valores próximos a 60%”, completa em seu artigo onde discute as bases
científicas do Código Florestal.
Segundo o biólogo se as APP estiverem entre 10% e
20%, as RL devem ser de pelo menos 50%, ou mais de 60%. A consolidação
dessas paisagens em grandes espaços, e/ou interligadas por corredores
verdes, garante a conservação da biodiversidade e seus benefícios as
atividades humanas, assim como controle do clima local.
Em relação aos corredores junto aos cursos
hídricos, as pesquisas apontam para uma área superior aos 60 metros (30
metros de cada lado do rio) estipulados pela lei federal. Os valores
mínimos deveriam ser de 50 metros para cada margem, independente do tipo
de bioma. A manutenção de 30 metros resulta na conservação de apenas
60% das espécies locais.
Os reformistas querem incluir as APP no cômputo
das RL. A legislação prevê a proteção de 20% da Mata Atlântica num
determinado território, isso é, considerando apenas as reservas legais. A
exigência é para que as áreas de proteção permanentes se somem às
porcentagens de reservas legais, em âmbito regional.
Para os ambientalistas RL e APP se complementam.
Enquanto a primeira visa a conservação da biodiversidade e uso
sustentável de recursos naturais, a segunda tem função de preservar
recursos hídricos, paisagens, além de garantir estabilidade geológica em
morros e biomas típicos de matas ciliares. Portanto seria um erro
ecológico considerá-las equivalentes.
Outro ponto da reforma que não tem agradado nem um
pouco os ecologistas é a proposta de transformar o Conselho Nacional do
Meio Ambiente, o CONAMA, num órgão consultor técnico. Atualmente o
Conselho, do Ministério do Meio Ambiente, é consultivo e deliberativo,
composto por representantes de cinco setores: da federação, estados,
municípios, do setor empresarial e da sociedade civil.
O CONAMA ajuda a estabelecer medidas propostas
pelo IBAMA e demais entidades que integram o Sistema Nacional do Meio
Ambiente (SISNAMA), ou seja, normas e critérios para o licenciamento de
atividades de impacto ambiental em todo o país. E, para os ecologistas, a
transformação do Conselho em uma instituição apenas consultiva tende a
tornar as discussões menos democráticas.
“A transformação do CONAMA num órgão consultivo é
um retrocesso secular. O Conselho é uma conquista da sociedade com
participação direta de diferentes setores, incluindo agricultores,
madeireiros, estados, municípios e ONGs. Essa estrutura tem auxiliado no
engajamento para o cumprimento das normas ambientais”, defende André
Lima.
Para acessar o relatório "O Código Florestal tem base
científica?" na íntegra, clique aqui.
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