Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
quarta-feira, 7 de julho de 2010
Eric Clapton - 2009
MP3 256 Kbps CBR | Blues | 91.27 MB
01. I've Got A Rock N' Roll Heart
02. Shes Waiting
03. Its In The Way That You Use It
04. Bad Love
05. Tears In Heaven
06. My Fathers Eyes
07. Miss You
08. Forever Man
09. Pretending
10. Layla
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terça-feira, 6 de julho de 2010
Em defesa de Dunga e de Jorginho....
Dunga
e Jorginho: só o tempo mostrará..
Por Dil no blog egora
O próximo técnico da seleção brasileira terá pela frente uma tarefa
dificílima: Manter o excelente padrão que Dunga e Jorginho deram ao time
durante os 4 anos que estiveram a serviço da seleção brasileira. Nesse
período a seleção, que lhes fora entregue esfacelada pelo fracasso de
2006 e sem os principais craques, conseguiu reunir os atributos daquilo
que se espera de um verdadeiro e vitorioso time de futebol: Tornou-se
super competitiva, com regularidade, equilibrada – tomando poucos gols e
fazendo muitos . Conseguiu ainda bater adversários históricos como
Portugal, Inglaterra e Itália, fazer do nosso maior rival, a Argentina,
um freguês de carteira com duas goleadas, ganhar as competições e, de
quebra, conseguir a melhor preparação em uma eliminatória com a
classificação garantida com duas rodadas de antecedência.
Isso, meus amigos, podem ter certeza que não é fácil. A coisa mais difícil no futebol é dar padrão e consistência a um time por um bom período, e talvez a coisa quase impossível no futebol é conseguir esse feito sem ter a disposição a fartura de craques que outros treinadores já tiveram. Nesse ponto Dunga merece todo o reconhecimento. Que trabalho!
Para fazer uma comparação nada melhor que lembrar das últimas copas, de pelos menos 30 anos pra cá:
Copa de 82: Um período de vacas gordas, tínhamos craques caindo da árvore no futebol brasileiro, a equipe jogava no talento deles, mas o treinador, desde a preparação, desde o último treino na Toca da Raposa, quando os reservas chegaram a golear por 8 a 2 (!) jamais conseguiu corrigir os erros de cobertura da defesa, o que deixava o Brasil sempre exposto lá atrás...Já na primeira partida contra a URSS, a vulnerabilidade era evidente, mas o talento de Éder, Sócrates e cia, e a boa ajuda do juiz nos fez virar aquele marcador. Resistimos na copa até onde deu no talento de nossos craques, mas sucumbimos em erros pré- anunciados que “gritavam e não eram ouvidos.”
Copa de 86: Ainda uma época de ouro, tivemos troca de técnico, corte por indisciplina do atacante titular que estava no auge e a consequente saída de Leandro. A questão da não escalação de Falcão, onde foi alegada contusão e que depois foi revelada pelo próprio jogador como uma farsa - já que estava de saída para o Nápoli a convite de Maradona e perdera a inscrição em função do fim do prazo para inscrição de estrangeiros. Perdemos nos pênaltis (2 vezes na mesma partida!) sendo a última de forma displicente. Tudo fruto de uma preparação confusa.
Copa de 90: Essa eu prefiro resumir. Era craque pra tudo quanto é lado e um treinador inseguro que chegou ao cúmulo de reunir o grupo antes da última partida e pedir conselhos para alterar ou não o sistema de jogo. Esse fato, revelado por Taffarel quase 20 anos depois e confirmado por outros jogadores, é o cúmulo do anti profissionalismo.
Copa de 94: O trauma de 90 fez com que a CBF buscasse alguém que tivesse identificação com a seleção. A escolha recaiu sobre Falcão, resultado: Convocações polêmicas e 18 meses de um trabalho inconstante e inexpressivo. Foi tirado para entrada da dupla Parreira-Zagallo, que conseguiu montar um time com muita dificuldade, perdendo Copa América e tendo seríssimos problemas para classificá-lo. Perdemos para Bolívia de 2 a 1 estávamos quase ameaçados de, pela primeira vez, ficar fora da Copa do Mundo, quando finalmente Romário imposto na marra pelas circunstâncias, faz seus dois gols no Maracanã e salva a pele de Parreira, que já estava por um triz..A partir daí a equipe entrava nas partidas de mãos dadas, se uniu em torno de lideranças como Ricardo Rocha, Dunga, Taffarel e Jorginho, e se fechou num projeto até a busca suada daquele título.
Copa de 98: Uma péssima preparação. Dessa vez Zagallo era o treinador e convocou mais de 800 jogadores, não tinha time. Na ultima partida no Maracanã os jogadores foram vaiados pelo péssimo futebol apresentado. Quem não se lembra de “Raí pede pra sair e Cafu vai tomar...”. A desorganização era tamanha que no primeiro jogo da Copa o treinador troca metade do meio campo. Sai Raí e Leonardo e entra Rivaldo e Geovanni. E no segundo jogo? Muda tudo, sai Giovanni e entra Leonardo que fez uma copa muito discreta..No talento absurdo de Rivaldo e no auge do fenômeno fomos chegando até desmoronarmos pra França, num episódio até hoje mal explicado mas que não justifica a desorientação evidente do técnico demonstrada durante quatro anos
Copa de 2002: Talvez a pior preparação da história da seleção brasileira. Entra Leão e só faz bobagem, depois vem Luxemburgo e consegue piorar. Com Felipão fizemos uma péssima eliminatória, perdemos pro Paraguai, pro Equador, fomos goleados pelo Chile.. Na copa das Confederações não ganhamos uma e ainda perdemos para a Austrália (!) A Copa América, então, foi um desastre, goleados pela Bolívia e sofrendo a mais vexatória derrota do Brasil quando perdemos de 2x0 para seleção de Honduras. Eu nunca vi uma seleção brasileira tão bagunçada e sem padrão de jogo. Na Copa do Mundo, mais uma vez no talento absurdo de craques como Rivaldo e Ronaldo, numa conjuntura favorável, com grandes times caindo, com arbitragens generosas, e uma boa dose de sorte, chegamos lá e fomos campeões. Apesar da péssima preparação o treinador teve méritos, sem dúvida, mas os fatos mostram (não sou eu que estou dizendo) que seu trabalho foi inconsistente e teve que contar com outros fatores para conseguir o êxito.
Copa de 2006: Talvez a segunda pior preparação da história da seleção brasileira. O Brasil também não vinha bem nas eliminatórias. Ganha a Copa América num erro de arbitragem e na bomba de Adriano, depois estréia perdendo do México na Copa das Confederações, e empata com Japão (que ainda tem um gol mal anulado) quando, de repente, surge novamente um salvador para Parreira: Perdendo para Alemanha, Adriano (o Romário de 2006), solta duas bombaças e muda o placar. Na final, o Brasil ganha da Argentina na melhor partida da seleção desde a Escócia na Copa de 82. Criou-se ali a ilusão do “quadrado mágico”, que depois iria ainda empatar com a Bolívia e novamente empatar com o time do Sevilla. Resultado: A bagunça generalizada, jogadores obesos, fanfarrões, um time com erros que não eram corrigidos, treinador dormindo LITERALMENTE no banco na hora do jogo, e saímos de forma melancólica.
Esse histórico é apenas para mostrar que o trabalho realizado por Dunga e Jorginho foi da maior competência e que fez a seleção chegar muito bem preparada, como nunca antes, numa copa do mundo. Perdemos o jogo em falhas individuais e não coletivas. Não houve o “queijo suíço” de 82, não houve a displicência de 86 e muito menos a falta de comando de 90 e nem o descaso de 2006. Foram erros individuais de jogadores (Julio César e Juan) que não erraram nunca nesses 4 anos. São humanos, acontece. Fora isso, o time era bom mas não era imbatível e perdeu numa partida de futebol normal e para a Holanda que também era um grande time; bem diferente por exemplo da Argentina que foi esfacelada de 4 pela Alemanha e poderia ter sido de mais...
O título não veio? Ok, mas é bom não esquecermos que em duas ocasiões com a seleção dirigida por aquele que a imprensa considera “mestre”, e que tinha em suas mãos um manancial de craques, ele também não veio.
Outros técnicos ganharam e ele não? Novamente ok, mas não podemos nos esquecer jamais que Copa do Mundo é talvez o local mais propício para as vicissitudes e muitas vezes até o imponderável, que futebol é o esporte onde a justiça e a lógica não andam de mãos dadas. O histórico acima está aí pra provar isso.
A mídia leiga, movida pelo rancor, quer nos fazer crer que Dunga não tinha qualquer valor; agora, como era de se esperar, está execrando ele de todas as formas, se vingando do jeito que pode - até estampar a cabeça dele numa lata de lixo, fizeram, como nunca fizeram com nenhum outro treinador.
Tudo bem, sabíamos que seria assim. Só que agora, meus amigos, não tem jeito, eles criaram uma situação tão absurda de execração humana e super exigência que fará com que o próximo técnico da seleção seja obrigado a manter o bom trabalho de Dunga e Jorginho, o que não será nada fácil.
Pra terminar, é preciso registrar que Dunga e Jorginho, mesmo não tendo ganho essa copa do mundo, são ídolos, tetracampeões, exemplos de caráter, de trabalho sério, bem feito e, acima de tudo, sabem muito de futebol. E assim como hoje cada vez mais e mais pessoas reconhecem o valor da seleção de 94, num futuro breve, inexoravelmente, irão também reconhecer, mesmo com uma ou outra crítica procedente, o bom trabalho feito por essa dupla. O tempo mostrará.
Isso, meus amigos, podem ter certeza que não é fácil. A coisa mais difícil no futebol é dar padrão e consistência a um time por um bom período, e talvez a coisa quase impossível no futebol é conseguir esse feito sem ter a disposição a fartura de craques que outros treinadores já tiveram. Nesse ponto Dunga merece todo o reconhecimento. Que trabalho!
Para fazer uma comparação nada melhor que lembrar das últimas copas, de pelos menos 30 anos pra cá:
Copa de 82: Um período de vacas gordas, tínhamos craques caindo da árvore no futebol brasileiro, a equipe jogava no talento deles, mas o treinador, desde a preparação, desde o último treino na Toca da Raposa, quando os reservas chegaram a golear por 8 a 2 (!) jamais conseguiu corrigir os erros de cobertura da defesa, o que deixava o Brasil sempre exposto lá atrás...Já na primeira partida contra a URSS, a vulnerabilidade era evidente, mas o talento de Éder, Sócrates e cia, e a boa ajuda do juiz nos fez virar aquele marcador. Resistimos na copa até onde deu no talento de nossos craques, mas sucumbimos em erros pré- anunciados que “gritavam e não eram ouvidos.”
Copa de 86: Ainda uma época de ouro, tivemos troca de técnico, corte por indisciplina do atacante titular que estava no auge e a consequente saída de Leandro. A questão da não escalação de Falcão, onde foi alegada contusão e que depois foi revelada pelo próprio jogador como uma farsa - já que estava de saída para o Nápoli a convite de Maradona e perdera a inscrição em função do fim do prazo para inscrição de estrangeiros. Perdemos nos pênaltis (2 vezes na mesma partida!) sendo a última de forma displicente. Tudo fruto de uma preparação confusa.
Copa de 90: Essa eu prefiro resumir. Era craque pra tudo quanto é lado e um treinador inseguro que chegou ao cúmulo de reunir o grupo antes da última partida e pedir conselhos para alterar ou não o sistema de jogo. Esse fato, revelado por Taffarel quase 20 anos depois e confirmado por outros jogadores, é o cúmulo do anti profissionalismo.
Copa de 94: O trauma de 90 fez com que a CBF buscasse alguém que tivesse identificação com a seleção. A escolha recaiu sobre Falcão, resultado: Convocações polêmicas e 18 meses de um trabalho inconstante e inexpressivo. Foi tirado para entrada da dupla Parreira-Zagallo, que conseguiu montar um time com muita dificuldade, perdendo Copa América e tendo seríssimos problemas para classificá-lo. Perdemos para Bolívia de 2 a 1 estávamos quase ameaçados de, pela primeira vez, ficar fora da Copa do Mundo, quando finalmente Romário imposto na marra pelas circunstâncias, faz seus dois gols no Maracanã e salva a pele de Parreira, que já estava por um triz..A partir daí a equipe entrava nas partidas de mãos dadas, se uniu em torno de lideranças como Ricardo Rocha, Dunga, Taffarel e Jorginho, e se fechou num projeto até a busca suada daquele título.
Copa de 98: Uma péssima preparação. Dessa vez Zagallo era o treinador e convocou mais de 800 jogadores, não tinha time. Na ultima partida no Maracanã os jogadores foram vaiados pelo péssimo futebol apresentado. Quem não se lembra de “Raí pede pra sair e Cafu vai tomar...”. A desorganização era tamanha que no primeiro jogo da Copa o treinador troca metade do meio campo. Sai Raí e Leonardo e entra Rivaldo e Geovanni. E no segundo jogo? Muda tudo, sai Giovanni e entra Leonardo que fez uma copa muito discreta..No talento absurdo de Rivaldo e no auge do fenômeno fomos chegando até desmoronarmos pra França, num episódio até hoje mal explicado mas que não justifica a desorientação evidente do técnico demonstrada durante quatro anos
Copa de 2002: Talvez a pior preparação da história da seleção brasileira. Entra Leão e só faz bobagem, depois vem Luxemburgo e consegue piorar. Com Felipão fizemos uma péssima eliminatória, perdemos pro Paraguai, pro Equador, fomos goleados pelo Chile.. Na copa das Confederações não ganhamos uma e ainda perdemos para a Austrália (!) A Copa América, então, foi um desastre, goleados pela Bolívia e sofrendo a mais vexatória derrota do Brasil quando perdemos de 2x0 para seleção de Honduras. Eu nunca vi uma seleção brasileira tão bagunçada e sem padrão de jogo. Na Copa do Mundo, mais uma vez no talento absurdo de craques como Rivaldo e Ronaldo, numa conjuntura favorável, com grandes times caindo, com arbitragens generosas, e uma boa dose de sorte, chegamos lá e fomos campeões. Apesar da péssima preparação o treinador teve méritos, sem dúvida, mas os fatos mostram (não sou eu que estou dizendo) que seu trabalho foi inconsistente e teve que contar com outros fatores para conseguir o êxito.
Copa de 2006: Talvez a segunda pior preparação da história da seleção brasileira. O Brasil também não vinha bem nas eliminatórias. Ganha a Copa América num erro de arbitragem e na bomba de Adriano, depois estréia perdendo do México na Copa das Confederações, e empata com Japão (que ainda tem um gol mal anulado) quando, de repente, surge novamente um salvador para Parreira: Perdendo para Alemanha, Adriano (o Romário de 2006), solta duas bombaças e muda o placar. Na final, o Brasil ganha da Argentina na melhor partida da seleção desde a Escócia na Copa de 82. Criou-se ali a ilusão do “quadrado mágico”, que depois iria ainda empatar com a Bolívia e novamente empatar com o time do Sevilla. Resultado: A bagunça generalizada, jogadores obesos, fanfarrões, um time com erros que não eram corrigidos, treinador dormindo LITERALMENTE no banco na hora do jogo, e saímos de forma melancólica.
Esse histórico é apenas para mostrar que o trabalho realizado por Dunga e Jorginho foi da maior competência e que fez a seleção chegar muito bem preparada, como nunca antes, numa copa do mundo. Perdemos o jogo em falhas individuais e não coletivas. Não houve o “queijo suíço” de 82, não houve a displicência de 86 e muito menos a falta de comando de 90 e nem o descaso de 2006. Foram erros individuais de jogadores (Julio César e Juan) que não erraram nunca nesses 4 anos. São humanos, acontece. Fora isso, o time era bom mas não era imbatível e perdeu numa partida de futebol normal e para a Holanda que também era um grande time; bem diferente por exemplo da Argentina que foi esfacelada de 4 pela Alemanha e poderia ter sido de mais...
O título não veio? Ok, mas é bom não esquecermos que em duas ocasiões com a seleção dirigida por aquele que a imprensa considera “mestre”, e que tinha em suas mãos um manancial de craques, ele também não veio.
Outros técnicos ganharam e ele não? Novamente ok, mas não podemos nos esquecer jamais que Copa do Mundo é talvez o local mais propício para as vicissitudes e muitas vezes até o imponderável, que futebol é o esporte onde a justiça e a lógica não andam de mãos dadas. O histórico acima está aí pra provar isso.
A mídia leiga, movida pelo rancor, quer nos fazer crer que Dunga não tinha qualquer valor; agora, como era de se esperar, está execrando ele de todas as formas, se vingando do jeito que pode - até estampar a cabeça dele numa lata de lixo, fizeram, como nunca fizeram com nenhum outro treinador.
Tudo bem, sabíamos que seria assim. Só que agora, meus amigos, não tem jeito, eles criaram uma situação tão absurda de execração humana e super exigência que fará com que o próximo técnico da seleção seja obrigado a manter o bom trabalho de Dunga e Jorginho, o que não será nada fácil.
Pra terminar, é preciso registrar que Dunga e Jorginho, mesmo não tendo ganho essa copa do mundo, são ídolos, tetracampeões, exemplos de caráter, de trabalho sério, bem feito e, acima de tudo, sabem muito de futebol. E assim como hoje cada vez mais e mais pessoas reconhecem o valor da seleção de 94, num futuro breve, inexoravelmente, irão também reconhecer, mesmo com uma ou outra crítica procedente, o bom trabalho feito por essa dupla. O tempo mostrará.
E no Brasil os torturadores continuam impunes...
Depoimento de Videla é repudiado por críticos da ditadura militar argentina
Vinte e sete anos após o fim da ditadura militar
argentina (1976-1983), o ex-ditador Jorge Rafael Videla senta mais uma
vez no banco dos réus. Acostumado a manter-se calado durante os
julgamentos, ontem (5/7), numa atitude inédita, Videla assumiu e
defendeu os crimes cometidos no período. O fato provocou revolta entre
ex-presos políticos, familiares de desaparecidos e políticos argentinos.
“Ver Videla me causa uma rejeição visceral, pois ele é o símbolo da
pior ditadura”, disse o deputado portenho, Aníbal Ibarra, ex-prefeito de
Buenos Aires, que foi secretário do julgamento das Juntas Militares.
Videla e outros 24 acusados respondem pelo fuzilamento em 1976 de 30
detidos em uma prisão da província de Córdoba.
Carlos Arco/Efe (02/07/2010)
Jorge Videla e o general Luciano Benjamín Menéndezacompanham início do julgamento
Na sessão de ontem, Videla não negou as acusações imputadas. “Assumo minha responsabilidade na guerra interna, meus subordinados se limitaram a cumprir minhas ordens”, afirmou diante do tribunal de Córdoba.
Segundo a imprensa local, os outros réus pediram para deixar a sala durante o depoimento do ex-ditador, que se comportou de forma “fria, como se estivesse justificando os crimes cometidos”, detalhou em uma reportagem publicada no Clarín a jornalista Marta Platía.
Após a declaração de Videla, a presidente da Associação das Mães da Praça de Maio, Hebe de Bonafini, disse que “repudia a divulgação permanente das palavras do genocida”.
“Em vez de passar o que Videla disse, para que os jovens saibam o que aconteceu durante a ditadura, as Mães acreditam que é preciso mostrar o que ele fez”, afirmou, por meio de um comunicado. Segundo Hebe, as palavras de Videla são “repugnantes”, pois o ex-ditador quer justificar a tortura, os fuzilamentos, sequestros e destruição de famílias.
Leia mais:
Especial: Memórias do passado de terror
Esma: Por dentro da escola de tortura argentina
Argentina julga primeiro presidente da ditadura militar
Videla assume culpa por crimes na ditadura argentina
Hoje na História: Golpe militar instaura ditadura na Argentina
Ex-ditadores argentinos serão julgados em setembro por roubo de bebês
Desde sexta-feira (2/7), o ex-ditador, 84 anos, está sendo julgado por crimes de violação de direitos humanos, como assassinato, tortura, sequestro e prisão arbitrária. Essa foi a primeira vez que o ex-ditador deu uma declaração pública após a redemocratização, segundo o promotor Julio César Strassera, que acompanha o julgamento de ex-repressores.
Na avaliação do promotor Carlos Gonella, no depoimento de Videla está “evidente a cumplicidade com o terrorismo de Estado”.
“Estamos diante de um julgamento paradigmático do que foi o terrorismo de Estado e o que é importante é que vai ficar em evidência o consentimento que houve entre setores da sociedade civil que atuaram junto com aquele governo”, afirmou Gonella, citado pelo site Diário do Julgamento, criado pela associação Hijos da filial de Córdoba para reunir e divulgar o material do processo.
Ficha
Videla encabeçou o golpe de estado de 24 de março de 1976 que substituiu a então presidente Isabelita Perón por uma junta militar, formada por ele, representando o Exército, o almirante Emilio Eduardo Massera da Marinha e o brigadeiro general Orlando Ramón Agosti pela Força Aérea, dando início ao “Processo de Reorganização Nacional”.
Hoje, devem ser ouvidos os outros 24 réus. Depois, serão apresentadas provas e documentos, além de testemunhos de ex-presos e familiares. Segundo o Ministério Público da Argentina, desde 2003, 625 pessoas foram processadas por violações de direitos humanos cometidas na ditaduras. Destas, 53 foram condenadas.
O ex-ditador, que também enfrenta acusações na Itália, na Espanha, na França e na Alemanha pelas mortes de civis na Argentina, chegou a ficar em cadeias militares e em prisão domiciliar, mas agora está em uma cela comum. Com o ex-ditador já condenado à prisão perpétua, o julgamento que começa nesta sexta não pode elevar seu tempo na cadeia, mas as famílias das vítimas consideram que uma possível condenação pode ajudar a superar as mortes.
Fonte: Opera Mundi
Carlos Arco/Efe (02/07/2010)
Jorge Videla e o general Luciano Benjamín Menéndezacompanham início do julgamento
Na sessão de ontem, Videla não negou as acusações imputadas. “Assumo minha responsabilidade na guerra interna, meus subordinados se limitaram a cumprir minhas ordens”, afirmou diante do tribunal de Córdoba.
Segundo a imprensa local, os outros réus pediram para deixar a sala durante o depoimento do ex-ditador, que se comportou de forma “fria, como se estivesse justificando os crimes cometidos”, detalhou em uma reportagem publicada no Clarín a jornalista Marta Platía.
Após a declaração de Videla, a presidente da Associação das Mães da Praça de Maio, Hebe de Bonafini, disse que “repudia a divulgação permanente das palavras do genocida”.
“Em vez de passar o que Videla disse, para que os jovens saibam o que aconteceu durante a ditadura, as Mães acreditam que é preciso mostrar o que ele fez”, afirmou, por meio de um comunicado. Segundo Hebe, as palavras de Videla são “repugnantes”, pois o ex-ditador quer justificar a tortura, os fuzilamentos, sequestros e destruição de famílias.
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Especial: Memórias do passado de terror
Esma: Por dentro da escola de tortura argentina
Argentina julga primeiro presidente da ditadura militar
Videla assume culpa por crimes na ditadura argentina
Hoje na História: Golpe militar instaura ditadura na Argentina
Ex-ditadores argentinos serão julgados em setembro por roubo de bebês
Desde sexta-feira (2/7), o ex-ditador, 84 anos, está sendo julgado por crimes de violação de direitos humanos, como assassinato, tortura, sequestro e prisão arbitrária. Essa foi a primeira vez que o ex-ditador deu uma declaração pública após a redemocratização, segundo o promotor Julio César Strassera, que acompanha o julgamento de ex-repressores.
Na avaliação do promotor Carlos Gonella, no depoimento de Videla está “evidente a cumplicidade com o terrorismo de Estado”.
“Estamos diante de um julgamento paradigmático do que foi o terrorismo de Estado e o que é importante é que vai ficar em evidência o consentimento que houve entre setores da sociedade civil que atuaram junto com aquele governo”, afirmou Gonella, citado pelo site Diário do Julgamento, criado pela associação Hijos da filial de Córdoba para reunir e divulgar o material do processo.
Ficha
Videla encabeçou o golpe de estado de 24 de março de 1976 que substituiu a então presidente Isabelita Perón por uma junta militar, formada por ele, representando o Exército, o almirante Emilio Eduardo Massera da Marinha e o brigadeiro general Orlando Ramón Agosti pela Força Aérea, dando início ao “Processo de Reorganização Nacional”.
Hoje, devem ser ouvidos os outros 24 réus. Depois, serão apresentadas provas e documentos, além de testemunhos de ex-presos e familiares. Segundo o Ministério Público da Argentina, desde 2003, 625 pessoas foram processadas por violações de direitos humanos cometidas na ditaduras. Destas, 53 foram condenadas.
O ex-ditador, que também enfrenta acusações na Itália, na Espanha, na França e na Alemanha pelas mortes de civis na Argentina, chegou a ficar em cadeias militares e em prisão domiciliar, mas agora está em uma cela comum. Com o ex-ditador já condenado à prisão perpétua, o julgamento que começa nesta sexta não pode elevar seu tempo na cadeia, mas as famílias das vítimas consideram que uma possível condenação pode ajudar a superar as mortes.
Fonte: Opera Mundi
EUA: a receita certa para uma economia doente
O aumento da desigualdade está no centro
da atual crise econômica nos EUA. E como esse aumento na desigualdade
não é um processo natural, mas o resultado de uma política consciente,
pode ser revertido. Alguns dos remédios são bem conhecidos. Restaurar
alguma disciplina aos pagamentos dos executivos seria um grande passo
inicial. Os pacotes do FED e do Tesouro foram vendidos como necessários
para salvar a economia, mas foram majoritariamente destinados ao resgate
do Goldmann Sachs, Citigroup e de outras grandes instituições
financeiras. O artigo é de Dean Baker.
Dean Baker - The Nation
As raízes desta crise econômica estão muito
vinculadas ao crescimento da desigualdade das últimas três décadas. Isso
se torna claro quando reconhecemos que o tumor financeiro é um aspecto
menor da crise geral, e que sua causa principal é o desequilíbrio criado
pela bolha imobiliária.
A crise financeira produziu muito drama e manchetes, assim como tivemos de assistir ao secretário do Tesouro, ao presidente do Federal Reserve e aos executivos de bancos colapsados acordados nas noites de fins de semana preparando juntos pacotes de resgate. Contudo, esse show era apenas uma nota de pé de página para nós, que não trabalhamos nesses bancos ou que não temos grandes quantias de ativos depositados neles. Os pacotes do FED e do Tesouro foram vendidos como necessários para salvar a economia, mas foram majoritariamente destinados ao resgate do Goldmann Sachs, Citigroup e de outras grandes instituições financeiras.
No pior cenário, os grandes bancos sofreriam uma intervenção do FED e do FDIC, levando a mais incerteza nos mercados financeiros e a uma maré de processos. Isso provavelmente teria resultado numa queda mais aguda do que aquela que experienciamos, mas certamente não a uma segunda Grande Depressão, que os políticos ameaçaram que iria ocorrer, caso não vomitássemos o dinheiro para salvar os bancos.
A primeira Grande Depressão não foi simplesmente o resultado de um erro político no início da crise bancária. Foi causada por dez anos de respostas políticas inadequadas. Se o governo tivesse buscado suficientemente um estímulo agressivo nos marcos dos anos 30, poderia ter restaurado a economia do pleno emprego muito antes de a Segunda Guerra Mundial forçar esse estímulo ao país. Da mesma maneira, fracassar no resgate dos bancos no outono de 2008 não teria necessitado dez anos de política estúpida; uma segunda Grande Depressão jamais foi considerada por eles.
Também é importante desfazer a afirmação de que a retração econômica está sendo perpetrada pela falta de boa vontade dos bancos em emprestar, por conta de seu capital fraco. Essa história não se encaixa nos fatos. A posição de capital de muitos bancos cautelosos está simplesmente bem, e ainda assim eles não estão se esforçando para emprestar e roubar participação em mercado de competidores sequelados. Do mesmo modo, grandes firmas não têm problema em levantar agora capital a custos muito baixos. Ainda assim a Wall-Mart e a Starbucks não estão correndo para ganhar às expensas dos pequenos negócios que não podem emprestar dos bancos. O problema é simplesmente que os consumidores estão sem dinheiro algum: bancos saudáveis não estão emprestando e companhias ricas e endinheiradas não estão expandindo seus negócios, porque a fraca demanda torna qualquer investimento arriscado.
Em resumo, a história da fraqueza econômica sendo resultante de um sistema bancário quebrado é uma completa fabricação. Essa é uma história boa se sua intenção é pegar mais dinheiro para os bancos. Não é uma boa história se o seu objetivo é trazer a economia de volta ao pleno emprego.
A história real é uma simples história da explosão de uma bolha imobiliária. Com o seu auge em 2006, a riqueza criada pela bolha e a bolha menor, de imóveis não residenciais estavam gerando mais de um trilhão de dólares por ano em demanda. Isso tomou a forma de mais de 500 bilhões de dólares em demandas de construções excessivas, com construtores apressados em concluir projetos que lideram os preços inflados da bolha. E também levou a mais 500 bilhões de dólares em consumo adicional, enquanto as pessoas gastaram 8 trilhões de dólares baseados no valor da bolha dos empréstimos de tipo home equity gerados.
Por mais que os economistas gostem de fingir serem magos, eles não têm pouca dificuldade em alocar 1 trilhão de dólares anuais em demanda. O pacote de estímulo de 2009 da administração Obama talvez tenha sido um terço disso, e já era grande o suficiente.
Isso nos leva à questão de por que, em primeiro lugar, tivemos a bolha financeira, o que nos conduz diretamente à questão da desigualdade. Nas três décadas subsequentes à Segunda Guerra Mundial, não houve qualquer bolha relevante na economia. O crescimento da produtividade foi traduzido no crescimento dos salários, que por sua vez legou a mais consumo. O crescimento da demanda levou a mais investimento, crescimento da produtividade e dos salários.
Esse círculo virtuoso foi quebrado na era das políticas de Reagan que visavam a enfraquecer o poder do trabalhador comum. Os salários deixaram de estar vinculados ao crescimento da produtividade, eliminando a ligação automática entre crescimento da produtividade e da demanda. Isso levou a economia a exceder sua capacidade, o que foi plenamente realizado nos anos 90, com a demanda gerada pela bolha de ações e nos anos 2000, com a demanda gerada pela bolha imobiliária.
Se as mudanças institucionais da era Reagan não tivessem enfraquecido o poder de barganha dos trabalhadores, essas bolhas não teriam sido possíveis. A demanda teria sido acompanhada da capacidade de produção da economia. O FED não teria sentido a necessidade de baixar as taxas de juros para sustentar a demanda. Mais ainda, se o FED tivesse qualquer preocupação com a inflação, a qual nesse ambiente teria sido liderada pelo crescimento de salário, jamais teria baixado as taxas de juros, como o fez nos anos 90 e ainda mais na década passada. A queda na taxa de juros sozinha não pode ser culpada pelas bolhas de ações e imobiliária, mas é seguro dizer que essas bolhas não poderiam ter sido ampliadas num ambiente de altas taxas de juros.
Em resumo, o aumento da desigualdade está no centro da atual crise econômica. E como esse aumento na desigualdade não é um processo natural, mas o resultado de uma política consciente, pode ser revertido. Alguns dos remédios são bem conhecidos. Restaurar alguma disciplina aos pagamentos dos executivos seria um grande passo inicial. Uma maneira de fazê-lo seria mudar as regras da governança corporativa e exigir que esses pacotes de compensação fossem aprovados pelos acionistas, onde só os votos diretamente lançados [sem procuração] contariam.
Uma pequena taxa sobre especulação financeira seria um caminho longo para a moderação dos salários multimilionários em Wall Street. A cotação das taxas sendo discutida no Congresso aumentaria os custos dos negócios ao nível do fim dos anos 80 ou início dos 90, mas dariam uma pequena mordida nos lucros dos negócios de curto prazo em que a turma de Wall Street se excede.
Comércio e política de imigração tem sido estruturados para pôr os trabalhadores de baixa formação em competição direta por baixos salários, no mundo em desenvolvimento, pressionando então seus salários para baixo. Nós podemos em vez disso reestruturar o comércio e a política de imigração de maneira a sujeitar profissionais altamente bem remunerados (doutores, advogados, dentistas, etc) para que desempenhem todo o seu potencial em níveis de competição internacional. Isso ajudaria a diminuir os salários dos 2 ou 3% melhor remunerados na distribuição dos salários. E também aumentaria os salários reais para o resto da força de trabalho, ao baixar os preços dos bens e serviços produzidos por esses profissionais.
Finalmente, os sindicatos têm sido há muito a maior força na redução da desigualdade. O que quer que possa ser feito para proteger o direito de organização e que permita aos trabalhadores a opção de organizar sindicatos ajudará a reduzir a desigualdade.
Não é a dificuldade em desenvolver políticas de redução da desigualdade que tem nos levado a uma crise econômica. O problema é ter vontade política para isso.
Dean Baker é codiretor do Center for Economic and Policy Research (CEPR) http://www.cepr.net/ . É autor de Plunder and Blunder: The Rise and Fall of the Bubble e de False Profits: Recovering From the Bubble Economy
Tradução: Katarina Peixoto
A crise financeira produziu muito drama e manchetes, assim como tivemos de assistir ao secretário do Tesouro, ao presidente do Federal Reserve e aos executivos de bancos colapsados acordados nas noites de fins de semana preparando juntos pacotes de resgate. Contudo, esse show era apenas uma nota de pé de página para nós, que não trabalhamos nesses bancos ou que não temos grandes quantias de ativos depositados neles. Os pacotes do FED e do Tesouro foram vendidos como necessários para salvar a economia, mas foram majoritariamente destinados ao resgate do Goldmann Sachs, Citigroup e de outras grandes instituições financeiras.
No pior cenário, os grandes bancos sofreriam uma intervenção do FED e do FDIC, levando a mais incerteza nos mercados financeiros e a uma maré de processos. Isso provavelmente teria resultado numa queda mais aguda do que aquela que experienciamos, mas certamente não a uma segunda Grande Depressão, que os políticos ameaçaram que iria ocorrer, caso não vomitássemos o dinheiro para salvar os bancos.
A primeira Grande Depressão não foi simplesmente o resultado de um erro político no início da crise bancária. Foi causada por dez anos de respostas políticas inadequadas. Se o governo tivesse buscado suficientemente um estímulo agressivo nos marcos dos anos 30, poderia ter restaurado a economia do pleno emprego muito antes de a Segunda Guerra Mundial forçar esse estímulo ao país. Da mesma maneira, fracassar no resgate dos bancos no outono de 2008 não teria necessitado dez anos de política estúpida; uma segunda Grande Depressão jamais foi considerada por eles.
Também é importante desfazer a afirmação de que a retração econômica está sendo perpetrada pela falta de boa vontade dos bancos em emprestar, por conta de seu capital fraco. Essa história não se encaixa nos fatos. A posição de capital de muitos bancos cautelosos está simplesmente bem, e ainda assim eles não estão se esforçando para emprestar e roubar participação em mercado de competidores sequelados. Do mesmo modo, grandes firmas não têm problema em levantar agora capital a custos muito baixos. Ainda assim a Wall-Mart e a Starbucks não estão correndo para ganhar às expensas dos pequenos negócios que não podem emprestar dos bancos. O problema é simplesmente que os consumidores estão sem dinheiro algum: bancos saudáveis não estão emprestando e companhias ricas e endinheiradas não estão expandindo seus negócios, porque a fraca demanda torna qualquer investimento arriscado.
Em resumo, a história da fraqueza econômica sendo resultante de um sistema bancário quebrado é uma completa fabricação. Essa é uma história boa se sua intenção é pegar mais dinheiro para os bancos. Não é uma boa história se o seu objetivo é trazer a economia de volta ao pleno emprego.
A história real é uma simples história da explosão de uma bolha imobiliária. Com o seu auge em 2006, a riqueza criada pela bolha e a bolha menor, de imóveis não residenciais estavam gerando mais de um trilhão de dólares por ano em demanda. Isso tomou a forma de mais de 500 bilhões de dólares em demandas de construções excessivas, com construtores apressados em concluir projetos que lideram os preços inflados da bolha. E também levou a mais 500 bilhões de dólares em consumo adicional, enquanto as pessoas gastaram 8 trilhões de dólares baseados no valor da bolha dos empréstimos de tipo home equity gerados.
Por mais que os economistas gostem de fingir serem magos, eles não têm pouca dificuldade em alocar 1 trilhão de dólares anuais em demanda. O pacote de estímulo de 2009 da administração Obama talvez tenha sido um terço disso, e já era grande o suficiente.
Isso nos leva à questão de por que, em primeiro lugar, tivemos a bolha financeira, o que nos conduz diretamente à questão da desigualdade. Nas três décadas subsequentes à Segunda Guerra Mundial, não houve qualquer bolha relevante na economia. O crescimento da produtividade foi traduzido no crescimento dos salários, que por sua vez legou a mais consumo. O crescimento da demanda levou a mais investimento, crescimento da produtividade e dos salários.
Esse círculo virtuoso foi quebrado na era das políticas de Reagan que visavam a enfraquecer o poder do trabalhador comum. Os salários deixaram de estar vinculados ao crescimento da produtividade, eliminando a ligação automática entre crescimento da produtividade e da demanda. Isso levou a economia a exceder sua capacidade, o que foi plenamente realizado nos anos 90, com a demanda gerada pela bolha de ações e nos anos 2000, com a demanda gerada pela bolha imobiliária.
Se as mudanças institucionais da era Reagan não tivessem enfraquecido o poder de barganha dos trabalhadores, essas bolhas não teriam sido possíveis. A demanda teria sido acompanhada da capacidade de produção da economia. O FED não teria sentido a necessidade de baixar as taxas de juros para sustentar a demanda. Mais ainda, se o FED tivesse qualquer preocupação com a inflação, a qual nesse ambiente teria sido liderada pelo crescimento de salário, jamais teria baixado as taxas de juros, como o fez nos anos 90 e ainda mais na década passada. A queda na taxa de juros sozinha não pode ser culpada pelas bolhas de ações e imobiliária, mas é seguro dizer que essas bolhas não poderiam ter sido ampliadas num ambiente de altas taxas de juros.
Em resumo, o aumento da desigualdade está no centro da atual crise econômica. E como esse aumento na desigualdade não é um processo natural, mas o resultado de uma política consciente, pode ser revertido. Alguns dos remédios são bem conhecidos. Restaurar alguma disciplina aos pagamentos dos executivos seria um grande passo inicial. Uma maneira de fazê-lo seria mudar as regras da governança corporativa e exigir que esses pacotes de compensação fossem aprovados pelos acionistas, onde só os votos diretamente lançados [sem procuração] contariam.
Uma pequena taxa sobre especulação financeira seria um caminho longo para a moderação dos salários multimilionários em Wall Street. A cotação das taxas sendo discutida no Congresso aumentaria os custos dos negócios ao nível do fim dos anos 80 ou início dos 90, mas dariam uma pequena mordida nos lucros dos negócios de curto prazo em que a turma de Wall Street se excede.
Comércio e política de imigração tem sido estruturados para pôr os trabalhadores de baixa formação em competição direta por baixos salários, no mundo em desenvolvimento, pressionando então seus salários para baixo. Nós podemos em vez disso reestruturar o comércio e a política de imigração de maneira a sujeitar profissionais altamente bem remunerados (doutores, advogados, dentistas, etc) para que desempenhem todo o seu potencial em níveis de competição internacional. Isso ajudaria a diminuir os salários dos 2 ou 3% melhor remunerados na distribuição dos salários. E também aumentaria os salários reais para o resto da força de trabalho, ao baixar os preços dos bens e serviços produzidos por esses profissionais.
Finalmente, os sindicatos têm sido há muito a maior força na redução da desigualdade. O que quer que possa ser feito para proteger o direito de organização e que permita aos trabalhadores a opção de organizar sindicatos ajudará a reduzir a desigualdade.
Não é a dificuldade em desenvolver políticas de redução da desigualdade que tem nos levado a uma crise econômica. O problema é ter vontade política para isso.
Dean Baker é codiretor do Center for Economic and Policy Research (CEPR) http://www.cepr.net/ . É autor de Plunder and Blunder: The Rise and Fall of the Bubble e de False Profits: Recovering From the Bubble Economy
Tradução: Katarina Peixoto
Tragédia em Pernambuco....
SOS Palmares: ajuda para vítimas de tsunami fluvial
by Marco Aurélio Weissheimer.
O professor Beto
Gesteira, técnico de hóquei sobre patins do Sport Recife e que,
entre outras coisas, usa esse esporte para mudar a vida de crianças
carentes na comunidade de Caranguejo-Tabaiares, em Recife, envia
mensagem descrevendo a tragédia que se abateu sobre a cidade de
Palmares, na Zona da Mata Sul, em Pernambuco. Palmares é uma das cidades
arrasadas por um verdadeiro tsunami fluvial causado pelas fortes chuvas
na região. Beto Gesteira sobrevoou a cidade de helicóptero registrou a
tragédia com várias fotografias e está pedindo ajuda. Ele escreve:
Estas fotos foram tiradas por mim. Fiz um vôo de helicóptero e
andei pela cidade. Fiquei muito triste com o que vi, não foi só uma
enchente onde a água chega e inunda as casas e ruas, foi uma “tsunami
fluvial”, onde uma enxurrada de mais de 15 metros de altura de água
destruiu casas, quarteirões, bairros. A situação aqui é muito difícil de
descrever, faltam remédios, produtos de higiene pessoal, colchões, água
mineral. Quanto à infraestrutura da cidade…
Sem energia elétrica, postes e mais postes arrancados e partidos
pela força da água, canos de esgotos e água estourados, um metro de lama
pelas ruas e dentro das residências, muitos animais mortos, alimentos
estragados na lama, cheiro muito ruim por todos os lados, centenas de
estabelecimentos comerciais completamente destruídos, hospitais com 5
metros de água.
O povo está necessitando de tudo, são milhares de pessoas que
tiveram não só suas casas como também seus estabelecimentos comerciais
destruídos. Palmares vive da cana de açúcar e da entressafra do
comércio. O povo está perambulando pelas ruas sem esperança e muita
tristeza. Como estou aqui sei das maiores necessidades, peço que quem
puder ajude de alguma maneira, mobilize seus amigos, parentes, vizinhos,
o pessoal do trabalho e do condomínio. As maiores necessidades são:
-Produtos de higiene pessoal
-Produtos de limpeza
-Água mineral
-Colchões
-Mobília em geral
Quem quiser pode também contribuir com a conta:
-Produtos de limpeza
-Água mineral
-Colchões
-Mobília em geral
Quem quiser pode também contribuir com a conta:
S.O.S. PALMARES
AG – 0916
CC – 258-4
Operação – 06
Caixa Econômica Federal
CC – 258-4
Operação – 06
Caixa Econômica Federal
Amigos, estou muito triste e conto com ajuda de todos.
Igualdade Racial....
Estatuto da Igualdade Racial: 'Luta Social ou Luta de Raça?' |
Escrito por Valéria Nader, da Redação do Correio da Cidadania | |
A versão do Estatuto da Igualdade Racial recém aprovada pelo Senado
foi bastante discutida nas últimas semanas. Tratando-se de um daqueles
temas amplamente abordados tanto pelos grandes veículos de comunicação,
como também por aqueles menores, mais alternativos e com um viés à
esquerda, nem por isso as opiniões suscitadas são capazes de consolidar
um entendimento mais fundamentado de questão tão complexa.
Deparamo-nos os leitores, essencialmente, com a visão daqueles que
defendem as políticas afirmativas de inclusão, em contraposição àqueles
que não as vêem como positivas, na medida em que reforçariam a
‘racialização’ da sociedade brasileira. A defesa das cotas para negros
em universidades é o tópico em que se concentram os maiores esforços dos
primeiros, como forma de se contrapor minimamente às injustiças
históricas e arraigadas em um país de passado colonial e escravocrata.
Os críticos à racialização não têm, por sua vez, espaço amplo e
diversificado o suficiente para a apresentação de seus argumentos,
O historiador Mário Maestri, entrevistado especial do Correio,
amplifica os termos desse debate, tomando-o a partir da atual sociedade
capitalista, uma sociedade dividida entre as classes ligadas ao capital e
ao trabalho, e na qual se desenvolvem as relações sociais e as relações
de produção. O historiador alerta para que as discussões estão sofrendo
pesada influência das forças do capital, deixando na ‘penumbra a
diferença de qualidade entre a luta anti-racista e a proposta da luta
pela igualdade racial’.
Ainda segundo Maestri, para a ideologia da igualdade racial não
haveria mal na existência de opressores e oprimidos, desde que ambos os
segmentos se caracterizassem pelo equilíbrio étnico. Confira entrevista
exclusiva a seguir.
Correio da Cidadania: Qual a importância da discussão sobre a
igualdade racial e do Estatuto da Igualdade Racial, para regulamentá-la?
Mario Maestri: Trata-se de debate fundamental, até agora dominado
pelas forças do capital e sofrendo sua influência, que tem mantido na
penumbra a diferença de qualidade entre a luta anti-racista e a proposta
da luta pela igualdade racial. O anti-racismo é luta democrática contra
a discriminação na escola, no trabalho, na educação etc. É parte da
luta geral, no aqui e no agora, contra os exploradores, pela extinção da
sociedade de classes, base das opressões econômica, nacional, sexual,
étnica etc. A luta anti-racista é parte do programa do mundo do
trabalho, é mobilização democrática, progressista, revolucionária.
A proposta de igualdade racial propõe a existência de raças diversas,
que devem ser igualadas no que se refere ao tratamento e, sobretudo, às
oportunidades no seio da sociedade atual. Por além de eventual retórica
radical e apesar do indiscutível unitarismo da espécie humana, recupera e
trabalha com o conceito medonho de raça e reduz a opressão social à
opressão racial de negros por brancos. É programa regressista e
conservador, parte das estratégias do capital contra o mundo do trabalho
e seu programa.
A proposta de igualdade racial avança essencialmente no combate às
desigualdades de oportunidade. Denuncia o tratamento, no melhor dos
casos, igual, dos desiguais. Através da discriminação positiva, os
discriminados negativamente concorreriam em igualdade com os
privilegiados, estabelecendo-se, assim, a justiça social. Nos fatos,
naturaliza e recupera positivamente a competição social, pilar essencial
da retórica capitalista. Para essa ideologia, não há mal em haver
opressores e multidões de oprimidos. Desde que exista equilíbrio étnico
nos dois segmentos!
A África do Sul é exemplo patético e cada vez mais gritante dessa
política. Durante décadas, o apartheid serviu para a dura exploração das
terras e dos braços negro-africanos. Por isso, o movimento de
libertação articulava corretamente a luta contra o racismo e contra a
exploração capitalista. Com a derrota mundial dos trabalhadores em fins
dos anos 1980, a direção do CNA (Congresso Nacional Africano) terminou
aceitando substituir a já superada elite racista na gerência da
exploração das massas negras sul-africanas.
No governo pós-apartheid, mantiveram-se as relações de propriedade e de
exploração, ou seja, econômico-sociais, sob gestão de classe política e
lumpén-burguesia negro-africana, a serviço do capital e do imperialismo.
O fim do apartheid estabilizou a opressão de classe, a tal ponto que o
país acolhe hoje uma Copa do Mundo, sendo apresentado como exemplo a ser
seguido!
A miséria e a opressão dos trabalhadores e populares sul-africanos
seguiram aprofundando-se, sob a batuta de políticos negro-africanos tão
corruptos e venais como os brasileiros. Atualmente, eles se preocupam,
essencialmente, em formar uma classe média negra, para maior
estabilização da nova ordem!
Correio da Cidadania: Qual a sua opinião sobre as cotas
universitárias, o principal e mais discutido tópico de reivindicações do
movimento negro?
Mario Maestri: A proposta de igualdade racial e discriminação
positiva (cotas estudantis) não se preocupa com as multidões de jovens
negros (pardos, brancos etc.) marginalizados em diversos graus pelo
capitalismo. Pretende sobretudo conquistar equilíbrio racial entre os
privilegiados. De certo modo, é como se propusesse colocar pesos nos
corredores brancos, esguios, para igualá-los aos negros, mais pesados,
devido a handicaps sociais históricos. Equilibrando-se as desigualdades,
os vencedores serão os mais capazes.
O problema é que essa corrida premia os cem primeiros chegados e
marginaliza os 9.900 perdedores, em diversos graus. O que importa é
conquistar equilíbrio racial entre os cem laureados. Uma proposta que
sequer vislumbra a possibilidade e necessidade de se pôr fim à
competição canibal, para que todos sejam vencedores, segundo seus
esforços, capacidades e necessidades. Trata-se de mobilização por um
mundo de exploradores e de explorados sem diferenças raciais, desde que
no paraíso dos privilegiados e opressores haja vagas cativas para
privilegiados e opressores negros.
Estudar nas melhores universidades, em geral públicas, é privilégio de
pequena minoria de jovens, principalmente brancos ou quase brancos. A
política cotista promete que, um dia, nessa minoria de felizardos,
haverá um número proporcional de negros. O que já é uma falácia, pois a
base da desigualdade social apóia-se essencialmente na posse e no
domínio da propriedade. A proposta cotista despreocupa-se com as
multidões de jovens marginalizados – em forte proporção, negros. O
fundamental é mais generais, advogados, médicos, engenheiros,
farmacêuticos, capitalistas negros. Todos ferrando a população
trabalhadora, branca e negra, como fazem normalmente os congêneres
brancos.
As principais justificativas dessa proposta são duas. A primeira é que,
enquanto não chegamos a uma sociedade justa (socialismo), há que
melhorar a realidade na sociedade capitalista. O problema é que essa
proposta correta justifica o incorreto abandono da luta, no aqui e no
agora, do ensino universal, gratuito e de qualidade, parte do programa
democrático – e não socialista. Esse programa inarredável das classes
populares foi imposto, substancialmente, pelo mundo da democracia e do
trabalho, em países como a Alemanha, a França, a Bélgica, a Itália, a
Suécia etc., todas sociedades capitalistas!
A segunda justificativa é que o Brasil não teria recursos para garantir
esse privilégio para todos. Defendendo o programa cotista, Valério
Arcary, intelectual pró-cotista, afirmou, sem enrubescer, que sequer um
"governo dos trabalhadores, pelo menos nas fases iniciais da transição
ao socialismo, num país como o Brasil, poderia garantir acesso
irrestrito ao ensino superior para todos "! O governo brasileiro entrega
bilhões a banqueiros e capitalistas, nacionais e internacionais, mas
não tem os meios para implementar programa cumprido por Cuba, um país
pobre, literalmente desprovido de recursos naturais e de capitais!
Correio da Cidadania: Dessa forma, a quem interessa a política de
igualdade racial e as propostas de discriminação positiva na escola,
partidos, serviço público etc., rejeitadas pelo Senado quando da
aprovação do Estatuto da Igualdade Racial?
Mario Maestri: Por primeiro, interessa ao capital, grande
responsável pela defesa, propaganda e impulsão dessa política nos EUA,
em fins dos anos 1950. Ela foi consolidada, como política de manipulação
da questão racial, após a repressão geral e não raro massacre físico da
vanguarda negra classista e revolucionária estadunidense, nos anos 1960
e 1970. Ela começou a ser introduzida no Brasil pela Fundação Ford,
entre intelectuais negros, nos anos 1980. Não é por nada que a senhora
Hillary Clinton, em recente viagem ao Brasil, na única atividade não
oficial, foi prestigiar essas políticas em faculdade brasileira
organizada a partir de critérios raciais.
Mas qual foi e é o resultado das cotas nos EUA? No frigir dos ovos, meio
século após a implantação da política cotista, a droga e sobretudo o
cárcere são a solução prioritária para a questão negra estadunidense. Os
EUA, com 5% da população mundial, possuem 20% dos prisioneiros. Deles,
50% negros! No país mais rico do mundo, com recursos inimagináveis, o
jovem negro acaba normalmente nos braços da droga e da prisão e
raramente em universidade e emprego razoáveis.
E, apesar disto, o Estatuto da Igualdade Racial propõe nada menos que o
Brasil esteja, "no mínimo, meio século atrás dos Estados Unidos em
matéria de cidadania para o povo negro"! Isso porque, ali, o fundamental
para essa política foi atingido – temos presidente, alguns generais,
médicos, diplomatas, capitalistas etc. negros.
A política cotista é estratégia do grande capital, pois prestigia e
naturaliza a ordem capitalista; nega a luta social e de classes; procura
dividir os trabalhadores e oprimidos por cor e raça; fortalece a base
social da sociedade opressora. E tudo isso, em geral, sem custos ao
Estado.
A política de escola pública, gratuita e de qualidade exige
investimentos, que são feitos onde ainda dominam os princípios
democráticos e republicanos dos serviços públicos básicos universais. Ao
contrário, a política cotista não exige que o Estado gaste um real, ao
destinar 30%, 60% ou 90% das vagas das universidades públicas – dos
cargos federais, postos de trabalho etc. – para negros, índios, mulheres
etc. O Estado não gasta nada, pois são investimentos já feitos. Só
redistribui os privilégios e as discriminações.
E, com as políticas cotistas, além dos dividendos político-ideológicos, o
Estado classista, prestigiado, vê cair a luta e a pressão popular pela
extensão desses serviços. Ao igual que nos EUA. Não é por nada,
portanto, que as atuais lideranças do movimento negro cotista não exigem
ensino público, livre e gratuito universal. E imaginem só a saia justa
do governo, do Estado e do capital, se a juventude popular e
trabalhadora, como um todo, tomasse as ruas, exigindo ensino universal,
público e de qualidade! Se não obtivessem tudo que pedissem na primeira
vez, levariam certamente muito.
As propostas de igualdade entre as raças, na ordem capitalista,
interessam também a certo tipo de liderança negra. Defendendo as
políticas do capital de racialização da sociedade, inserem-se no jogo da
representação política e institucional, sendo por isso gratificada
econômica, social e simbolicamente. Não creio que tenha sido estudada a
gênese-consolidação dessa representação étnica nascida à sombra do
Estado, fortemente impulsionada durante os governos Lula da Silva. Porém,
mutatis mutandis, não parece ser processo diverso do ocorrido com
as representações sindicais e populares cooptadas pelo Estado, após a
enorme derrota dos trabalhadores de fins dos anos 1980.
Finalmente, essas políticas interessam a segmentos médios e médio-baixos
negros. É segredo de Polichinelo que as políticas de cotas privilegiam
sobretudo os segmentos negros relativamente mais favorecidos, em
detrimento dos trabalhadores e marginalizados de mesma origem. O filho
do professor negro vence o filho do pedreiro negro, na disputa de uma
cota. Ao igual do que ocorre com filho do engenheiro branco, ao disputar
com o do zelador de mesma cor no vestibular. Ainda que, em bem da
verdade, os filhos dos zeladores e dos pedreiros sequer sonhem com um
curso universitário.
Correio da Cidadania: E quem está contra o Estatuto da Igualdade Racial?
O que você pensa da participação do senador Demóstenes Torres na
relatoria desse projeto, após declarações preconceituosas sobre a
escravidão e a opressão aos negros?
Mario Maestri: No Brasil, a oposição às políticas de igualdade
racial tem duas grandes vertentes, essencialmente opostas (com posições
intermediárias, é claro). A vertente minoritária, com escasso espaço na
mídia e no debate, é formada por um punhado de intelectuais, ativistas,
sindicalistas, lideranças sociais etc., negros e brancos, de tradição
republicana, democrática, socialista e revolucionária. Em geral, ela
expressa, direta ou indiretamente, os interesses do mundo do trabalho e,
portanto, da grande população trabalhadora e marginalizada negra,
discriminada e esquecida pelas propostas retóricas de igualdade racial.
Essa vertente mobiliza-se pela luta anti-racista e pelos direitos
democráticos gerais, no aqui e no agora, sem qualquer exceção e
privilégios.
A vertente majoritária, com grande presença na mídia, formada sobretudo
por políticos, jornalistas, intelectuais, é impulsionada por
preconceitos elitistas, racistas e corporativistas. É formada
essencialmente por brancos e alguns oportunistas não-brancos. O senador
Demóstenes Torres é representante exótico desta corrente, assim como,
por exemplo, o jornalista Ali Kamel constitui defensor refinado das
mesmas visões.
A primeira vertente, ao refletir, direta ou indiretamente, o mundo do
trabalho e seu programa, tem consciência das conseqüências dramáticas
das propostas de racialização da sociedade brasileira para a luta e as
conquistas sociais e para a própria organização e convivência nacionais.
A segunda representa os setores sociais médios brancos em parte
deslocados por essas políticas, em favor dos setores da classe média e
médio-baixa negra, como proposto.
No último caso, trata-se de defesa conservadora de privilégios das
classes médias brancas, contra as políticas raciais conservadoras do
grande capital, despreocupado no geral com aqueles segmentos. Trata-se
de um movimento em algo semelhante à resistência final dos racistas
sul-africanos, quando o capital decidira a entronização da nova classe
política negro-africana. Resistência que se mantém até hoje em forma já
residual na África do Sul. Não devemos esquecer que o capital não tem
cor. Historicamente, ele se serve do racismo para impor sua dominação e
obter super-exploração. Porém, quando necessário, ferra sem dó os
segmentos racistas.
Correio da Cidadania: O Senado retirou do projeto a obrigatoriedade do
registro da cor das pessoas nos formulários de atendimento do SUS,
considerado por muitos como o retrocesso maior, já que os índices
referentes à saúde da população negra denunciariam fortemente a
discriminação racial.
Mario Maestri: É enrolação estatística dizer que os negros, por
serem negros, são mais desfavorecidos que os brancos, por serem brancos,
por exemplo, no relativo à saúde. Comparemos os engenheiros negros e os
pedreiros brancos. Nesse caso, a saúde dos brancos é certamente pior do
que a dos negros. E se cotejarmos a saúde dos médicos brancos à dos
médicos negros certamente ela será, no geral, idêntica.
O fato de que há maioria de negros entre as classes exploradas e maior
número de brancos entre os privilegiados determina diferença social que
pode ser percebida artificialmente como racial, e não social. Seria
estatisticamente mais interessante registrar e tornar pública a situação
sócio-profissional dos atendidos pelo SUS, registrando a enorme
insuficiência das classes trabalhadoras e marginalizadas, brancas,
negras e pardas, quanto à saúde e à esperança de vida. Realidade não
retida, como devia ser, no relativo à remuneração e à idade de
aposentadoria.
No essencial, as propostas da obrigação da definição da cor (no fato, da
pretensa raça) quando de registros públicos procuram impor literalmente
racialização artificial do país. Para essa proposta, você não seria
mais simplesmente brasileiro. Mas, obrigatoriamente, brasileiro branco
ou brasileiro negro.
Trata-se de proposta anti-republicana, antidemocrática e profundamente
racista determinar pela lei que todo cidadão assuma uma identidade
racial aleatória ou oportunista. Uma identidade racial que, no novo
mundo proposto, poderia ensejar privilégios em relação ao resto da
população. Esta proposta se apóia igualmente na concepção da necessidade
da definição da raça quando do atendimento médico, pois, segundo ela,
negros e brancos, de raças diversas, exigiriam tratamentos e
procedimentos médicos diversos! Ou seja, que brancos e negros seriam
biologicamente diversos, como defendiam já os escravistas e seus
ideólogos racistas, como o celerado e farsante conde de Gobineau
(1816-1882).
Proposta racista, de caráter acientífico, que demonstra sua enorme
obtusidade, ainda mais no Brasil, onde a auto-definição racial tende no
geral a sequer possuir uma correspondência genética mais precisa. Os
estudos científicos apontam para que, em uma enorme quantidade, os
brasileiros são produtos de uma forte mescla genética de população das
mais diversas origens européias, americanas, africanas, asiáticas etc. E
não devemos esquecer que aquelas populações já resultavam de enormes
interações genéticas.
Correio da Cidadania: Como você enxerga as lamentações do movimento
negro, que definiu a aprovação dessa versão do Estatuto como traição a
lutas históricas e que seria melhor brigar mais dez anos pela aprovação
de versão satisfatória? Você incluiria o projeto aprovado no rol de
recuos do governo Lula da Silva, em praticamente todas as pautas de
caráter mais progressista?
Mario Maestri: Foi enorme a cooptação pelo Estado de dirigentes
populares no governo Lula da Silva. Hoje, enorme parte das direções
negras tem ligações diretas ou indiretas com o lulismo, com o petismo,
com o Estado, com os quais não arriscam oposição e dissidências. Ao
igual que as direções sindicalistas, camponesas, populares etc. também
cooptadas.
Jamais vimos essas lideranças do movimento negro mobilizando-se contra a
ocupação do Haiti pelo Exército brasileiro. Ou levantando-se contra o
tratamento bestial do sistema prisional brasileiro, habitado por enorme
população negra. Ou denunciando o quase total abandono das populações
flageladas dos últimos tempos. Silêncio de túmulo.
A reprovação do Estatuto no Senado parece ter causado apenas as
assinaladas lamentações das lideranças responsáveis por sua
apresentação. Ele não interpretava as necessidades da população negra
pobre e explorada, que continua abandonada à sua sorte, sem conseguir
construir suas verdadeiras lideranças e programas, ao igual que a
maioria dos trabalhadores e oprimidos dos campos e das cidades do
Brasil.
Correio da Cidadania: Por fim e diante de todos os pontos expostos, você
acredita que se realizou um debate público a contento, com a
participação efetiva da sociedade, na discussão das políticas de
discriminação racial positiva, em geral, e do Estatuto, em particular?
Mario Maestri: Houve debate, superestrutural e institucional:
programas de rádio e de televisão; artigos e livros jornalísticos e
acadêmicos; alguns editoriais. Porém, o debate jamais alcançou a
população nacional, a ser enquadrada pelo Estatuto, seja qual for a sua
cor. Se fizéssemos um levantamento, a imensa maioria dos brasileiros não
sabe o que seja o Estatuto e a quase totalidade não sabe realmente o
que ele propõe.
O debate jamais foi realmente enfrentado, mesmo pela esquerda, que,
paradoxalmente, no passado, destacou-se pela ênfase da importância da
escravidão e do racismo na sociedade de classes no Brasil. No século 20,
foram efetivamente militantes marxistas e comunistas que contribuíram
fortemente para que a questão negra se transformasse no Brasil em
problema histórico e teórico de larga discussão – Astrogildo Pereira,
Edison Carneiro, Benjamin Perét, Clóvis Moura, Décio Freitas etc.
A vanguarda da esquerda organizada aceitou as propostas de racialização
da sociedade nacional sem crítica e reflexão, como parte das novas e
antigas sensibilidades ambientalistas, feministas, anti-racistas etc.
Contribuíram nessa aceitação acrítica e passiva a escassa formação
política e, sobretudo, os frágeis vínculos com o operariado nacional.
Operariado em franca regressão, no Brasil e no mundo, sobretudo após a
derrota histórica de fins de 1980, que ensejou depressão dos valores
universalistas, racionalistas, socialistas etc. Ou seja, com a crescente
fragilidade do programa dos trabalhadores, fortaleceu-se a influência
das propostas ideológicas e conservadoras do capital, também entre a
própria esquerda, como no caso das visões raciais da sociedade.
Nas razões dessa renúncia passiva ao programa socialista ajuntaríamos
uma espécie de consciência culpada, por parte de militantes em geral com
origem na classe média e médio-baixa branca, no contexto de escassa
importância dada à questão, vista tradicionalmente como periférica aos
problemas centrais da revolução, mesmo quando destacada nos programas
políticos. Foram também importante as pressões da juventude negra
estudantil radicalizada, conquistada para essas propostas no processo de
flexibilização de organizações de esquerda, como o PSTU, de frágeis
vínculos sociais e políticos com os trabalhadores.
Valéria Nader, economista, é editora do Correio da Cidadania;
colaborou Gabriel Brito, jornalista.
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segunda-feira, 5 de julho de 2010
ALMA GAÚCHA, ALMA CASTELLANA
Ótima reflexão sobre nossa latinidade americana. Por Fausto Brignol, no seu blog
(foto capturada na Internet).
O Uruguai já
ganhou a sua Copa do Mundo. Tudo o que fizer, doravante, será lucro e
se perder a semifinal sairá aplaudido, ao contrário do time dos amigos
do Dunga que, por sorte, perdeu apenas por 2 a 1 para a Holanda.
Agora, a mídia futeboleira quer achar um vilão
para a previsível derrota e já estão culpando o Felipe Melo. É sempre
assim: criou-se o mito de que o Brasil é imbatível no futebol e, quando
perde, tem que haver um único culpado. Os midiáticos futebolísticos
sobrevivem em sua profissão através desses mitos. Sabem que o povo
brasileiro é facilmente influenciável, e, como aqui continua sendo o
“país do futuro”, eles querem que o Brasil seja o eterno país do
presente apenas no futebol. Fabricaram esse mito e o povo acreditou.
Pobre povo brasileiro! Favelizado,
marginalizado, aculturado, acreditando sempre que poderá acertar na
próxima mega-sena, enganado pelos políticos que o manipulam, pagando
impostos até pelo ar que respira, pensando que o voto quadrienal é
sempre salvador, submisso às mensagens midiáticas, assistindo com fervor
religioso cada capítulo da sua novelinha das oito, torcendo pelo
fulaninho ou pela fulaninha do BBB, aceitando as esmolas do Sílvio
Santos e do Jô Soares, fazendo milagres para que o dinheiro do dia 1º de
cada mês dure até o dia 10 – escravizado mental e materialmente pela
burguesia que lucra com o seu trabalho e que depois vai passear na Copa
do Mundo da África do Sul, enquanto os escravos ficam aqui, acreditando
no mito do futebol, torcendo pelos milionários jogadores que formam uma
seleção medíocre, que acaba perdendo para outra seleção um pouquinho
menos medíocre.
Alguns dirão: “o povo merece ser enganado,
porque é submisso demais.” Nenhum povo merece ser enganado por nenhum
motivo. Menos ainda pela sua ingenuidade, o que é o mesmo que enganar
crianças. É certo que submissão e ingenuidade podem se transformar em
indignidade e subserviência. Mas ainda mais indignos e subservientes são
aqueles que manipulam o povo - usando de todas as malícias para
torná-lo em massa moldável aos seus interesses -, porque são os servos
do capital, promotores da invasão da cultura estrangeira e que excluíram
do seu vocabulário a palavra “nacionalismo”, negando o seu sentido.
O Uruguai recentemente se reergueu, depois de
décadas de luta contra os inimigos internos e externos. É um país que
tem um povo corajoso e – o que é mais importante – consciente de sua
realidade. Ali não se criam mais mitos, recria-se uma nação. Uma nação
com verdadeira alma gaúcha, alma castellana. Vale dizer: dignidade e
força. Aquele povo muito irmão conserva sempre a cabeça erguida e não
vive de ilusões, mas sabe dos seus limites e luta para ultrapassá-los.
Ainda resta muito para que isso aconteça, para que a luta diária
torne-se revolucionária e provoque uma verdadeira transformação social
que irá beneficiar a todos. Mas, a cada passo, cada passo...
A partida épica contra Gana revelou, mais uma
vez, essa alma gaúcha. Não somente pela vitória. Se a seleção uruguaia
tivesse perdido aquela partida, não deixaria de ser uma seleção
vencedora, porque é composta por lutadores. Igualmente seria aplaudida.
A força e a consciência de uma nação
refletem-se nas atitudes dos seus integrantes. E o Uruguai, assim como
outros países da nossa América Latina, tem revelado essa força interna.
É um exemplo que nós, brasileiros, devemos
seguir. Está-se tornando urgente reconstruir a alma brasileira. Mas não
através do futebol ou de quaisquer outros mitos. Devemos tratar o
esporte como esporte, não como uma guerra de vida ou morte. O Brasil
precisa de brasilidade. Nós, brasileiros, precisamos recuperar a nossa
identidade que está cada vez mais diluída ante o assédio pernicioso da
cultura anglófila. Não só a nossa identidade cultural e social, mas
também a nossa identidade como povo latino-americano. Já está durando
demais esse vírus maléfico da subcultura estadunidense que faz dos
brasileiros bonecos de mola. Precisamos resgatar nossa alma.
O estupro e a hipocrisia(e a impunidade) das elites...
Quando o ‘menor’ não é meu
|
Elaine Tavares * Adital
A cidade de Florianópolis, no sul do Brasil, está estarrecida diante de
algumas informações que chegam aos correios eletrônicos como se fosse um
rastilho de pólvora. Uma garota de 13 anos, de um colégio de gente
endinheirada, teria sido estuprada por colegas, praticamente da mesma
idade. Um dos garotos seria filho de conhecido empresário, outro de um
delegado. Uma carta de mães indignadas - que o colégio nega que sejam de
lá - descreve a atrocidade com riqueza de detalhes. Nenhuma informação
saíra na imprensa porque, dizem as mães, um dos estupradores é filho do
dono de uma rede de comunicação. O jornal Diário Catarinense deu uma
nota no dia 30 de junho, lacônica, divulgando o ocorrido, mas, alertando
para o fato de que como todos são menores de idade o inquérito segue
sob segredo de justiça. Nenhum nome, nenhuma informação a mais.
Muito bem. Corretíssima nota do DC. Quando são menores os
envolvidos em crimes, não se divulgam nomes, não se publicam fotos. E
mesmo se são maiores e não há flagrante, não se poderia divulgar porque
haveria apenas uma presunção de crime. Os nomes só poderiam ser
divulgados depois de as pessoas terem sido julgadas. E as fotos, só
publicadas com a autorização do vivente. Mas, claro, isso só vale para
os que conhecem a lei, no caso, os ricos, que podem ter bons advogados.
Com os pobres, tudo é liberado.
Seria bom que o DC agisse assim em todos os casos que envolvessem
adolescentes infratores. Seria bom que os jornais preservassem o direito
dos menores, impedindo assim que eles ficassem marcados para o resto da
vida por conta de alguma infração cometida nesta idade "tão
problemática". Mas ocorre que este debate está eivado de um recorde de
classe. Quando são os pobres que cometem crimes, o que está implícito
nos informes que nos chegam via TV ou jornal é de só poderiam acabar
assim. "Não tem educação, não tem chances, estão fadados ao fracasso".
Como se isso fosse coisa natural. E não é assim. O prefeito Sérgio
Cabral, do Rio de Janeiro, chegou ao absurdo de chamar as mulheres
pobres e negras que vivem nos morros de "fábricas de marginal" porque,
afinal, é de seus ventres que saem os filhos da pobreza.
Mas e quando quem comete um crime é um rico? Como a coisa anda? A
primeira tese que se levanta é que a criatura deve ter algum problema
mental. Vide o caso da loira que matou os pais, num fato que ficou
semanas no ar. Pois é assim. Já se é um pé rapado quem mata os pais, aí
está certo. É quase óbvio, é "da sua natureza". Um juiz que rouba o INSS
é protegido pela polícia federal. Jovens que matam um homossexual não
têm seus nomes revelados para não terem seu futuro estragado. Não são
menores, só ricos. Os canalhas que falsificam licenças ambientais,
porque são empresários freqüentados por artistas e governadores são
escoltados por agentes públicos, sem autorização para fotos. Depois,
quando são soltos seguem suas vidas entre champanhes e festas. Nada os
marca para sempre. Nada.
Agora este caso da garota violentada é mais um para esta triste
estatística. Ficará em segredo de justiça para não manchar a vida dos
garotos. Certamente haverão de se defender teses sobre graves problemas
que teriam estes adolescentes, porque só isso poderia explicar tamanha
infâmia, tamanha crueldade. Não é da natureza de jovens bem-nascidos
cometerem atrocidades. Vamos lembrar os que queimaram o índio Galdino,
hoje vivendo muito bem, em cargos públicos até. "Foi uma fatalidade".
Ah! A hipocrisia burguesa! Todos os dias, em cada lugar deste mundão
de deus os ricos estão violentando as gentes. De todas as formas. Parece
ser da natureza de quem domina permanecer na impunidade. Por isso eles
criam exércitos, milícias, leis, justiça. Porque estas coisas existem
para eles, para proteção deles. É por isso que os gritos de "justiça,
justiça" dos que estão à margem, fora do centro de poder, se perdem no
vazio. A justiça é uma invenção dos poderosos para sua própria proteção.
Só a eles serve. Vez em quando se dá uma vitória a um pobre para que o
povo tenha a ilusão de que é possível confiar no sistema. Bobagem! Lei
não é sinônimo de justiça.
Dou um exemplo de uma comunidade indígena dos Andes, por exemplo. Lá,
se alguém viola o código da comunidade, é punido exemplarmente. O
coletivo não pode ser maculado pela ação individual. A comunidade
depende da harmonia. Se um homem mata outro ele não vai preso. Ele é
obrigado a sustentar por toda a vida a sua família e a do outro que ele
matou, vivendo essa vergonha para sempre. Porque um homem morto é um
braço a menos na construção do coletivo. São regras simples, de
comunidades simples.
No mundo capitalista a justiça é individual. Um homem morto é só um
homem morto num universo de milhares de braços sobrantes. Uma peça, que é
trocada, sem dor. Não há uma quebra no equilíbrio, porque é cada um por
si. Por isso às famílias agredidas só resta chorar.
É o que ocorre agora, em Florianópolis, neste triste caso. A família
da garota violada buscará justiça. Achará? O que devolve uma inocência
perdida? O que recupera toda essa dor de nunca mais poder confiar em
alguém? Como se retoma o equilíbrio numa sociedade medida pelo
individualismo e pelo consumo? Quem se importa com essa dor? Haverá uma
indignação momentânea e o caso cairá no esquecimento, como sempre é numa
sociedade eternamente a espera do próximo espetáculo? Num estado
dominado por um monopólio de comunicação, qual será a repercussão disso
tudo?
Este é o estado da coisa. E deve ser pensado no seu todo. Os finos
salões da burguesia também são capazes das coisas mais sórdidas. E não é
por problema mental não. Só que aos poderosos tudo parece permitido.
Até quando? Até que as gentes mudem este panorama, construindo uma outra
sociedade que não esta, dominada pelo dinheiro de alguns. Porque hoje,
aqui, neste modo de organizar a vida, a burguesia, por exemplo, pede
histericamente a redução da idade penal para conter a violência cada dia
maior. Mas, não é para todos. Isso vale apenas para quando o "menor"
não é seu.
* Jornalista
Sobre a midia tendenciosa...
A velha mídia está derretendo
Pesquisa aponta que quase 60% das
pessoas acham que as notícias veiculadas pela imprensa brasileira são
tendenciosas. Oito em cada dez brasileiros acreditam muito pouco ou não
acreditam no que a imprensa veicula. Quanto maior o nível de renda e de
escolaridade do brasileiro, maior o senso crítico em relação ao que a
mídia veicula.
Antonio Lassance no Carta Maior
Como um iceberg a navegar em águas quentes e
turbulentas, a velha mídia está derretendo. O mundo está mudando, o
Brasil é outro e os brasileiros desenvolvem, aceleradamente, novos
hábitos de informação.
Um retrato desse processo pode ser visto na recente pesquisa encomendada pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom-P.R.), destinada a descobrir o que o brasileiro lê, ouve, vê e como analisa os fatos e forma sua opinião.
A pesquisa revelou as dimensões que o iceberg ainda preserva. A televisão e o rádio permanecem como os meios de comunicação mais comuns aos brasileiros. A TV é assistida por 96,6% da população brasileira, e o rádio, por expressivos 80,3%. Os jornais e revistas ficam bem atrás. Cerca de 46% costumam ler jornais, e menos de 35%, revistas. Perto de apenas 11,5% são leitores diários dos jornais tradicionais.
Quanto à internet, os resultados, da forma como estão apresentados, preferiram escolher o lado cheio do copo. Avalia-se que a internet no Brasil segue a tendência de crescimento mundial e já é utilizada por 46,1% da população brasileira. No entanto, é preciso uma avaliação sobre o lado vazio do copo, ou seja, a constatação de que os 53,9% de pessoas que não têm qualquer acesso à internet ainda revelam um quadro de exclusão digital que precisa ser superado. Ponto para o Programa Nacional da Banda Larga, que representa a chance de uma mudança estrutural e definitiva na forma como os brasileiros se informam e comunicam-se.
A internet tem devorado a TV e o rádio com grande apetite. Os conectados já gastam, em média, mais tempo navegando do que em frente à TV ou ao rádio. Esse avanço relaciona-se não apenas a um novo hábito, mas ao crescimento da renda nacional e à incorporação de contingentes populacionais pobres à classe média, que passaram a ter condições de adquirir um computador conectado.
O processo em curso não levará ao desaparecimento da TV, do rádio e da mídia impressa. O que está havendo é que as velhas mídias estão sendo canibalizadas pela internet, que tornou-se a mídia das mídias, uma plataforma capaz de integrar os mais diversos meios e oferecer ao público alternativas flexíveis e novas opções de entretenimento, comunicação pessoal e “autocomunicação de massa”, como diz o espanhol Manuel Castells.
Ainda usando a analogia do iceberg, a internet tem o poder de diluir, para engolir, a velha mídia.
A pesquisa da Secom-P.R. dá uma boa pista sobre o grande sucesso das plataformas eletrônicas das redes sociais. A formação de opinião entre os brasileiros se dá, em grande medida, na interlocução com amigos (70,9%), família (57,7%), colegas de trabalho (27,3%) e de escola (6,9%), o namorado ou namorada (2,5%), a igreja (1,9%), os movimentos sociais (1,8%) e os sindicatos (0,8%). Alerta para movimentos sociais, sindicatos e igrejas: seu “sex appeal” anda mais baixo que o das(os) namoradas(os).
Estes números confirmam estudos de longa data que afirmam que as redes sociais influem mais na formação da opinião do que os meios de comunicação. Por isso, uma informação muitas vezes bombardeada pela mídia demora a cair nas graças ou desgraças da opinião pública: ela depende do filtro excercido pela rede de relações sociais que envolve a vida de qualquer pessoa. Explica também por que algo que a imprensa bombardeia como negativo pode ser visto pela maioria como positivo. A alta popularidade do Governo Lula, diante do longo e pesado cerco midiático, talvez seja o exemplo mais retumbante.
Em suma, o povo não engole tudo o que se despeja sobre ele: mastiga, deglute, digere e muitas vezes cospe conteúdos que não se encaixam em seus valores, sua percepção da realidade e diante de informações que ele consegue por meios próprios e muito mais confiáveis.
É aqui que mora o perigo para a velha mídia. Sua credibilidade está descendo ladeira abaixo. Segundo a citada pesquisa, quase 60% das pessoas acham que as notícias veiculadas pela imprensa são tendenciosas.
Um dado ainda mais grave: 8 em cada 10 brasileiros acreditam muito pouco ou não acreditam no que a imprensa veicula. Quanto maior o nível de renda e de escolaridade do brasileiro (que é o rumo da atual trajetória do país), maior o senso crítico em relação ao que a mídia veicula - ou “inocula”.
A velha mídia está se tornando cada vez mais salgada para o povo. Em dois sentidos: ela pode estar exagerando em conteúdos cada vez mais difíceis de engolir, e as pessoas estão cada vez menos dispostas a comprar conteúdos que podem conseguir de graça, de forma mais simples, e por canais diretos, mais interativos, confiáveis, simpáticos e prazerosos. Num momento em que tudo o que parece sólido se desmancha... na água, quem quiser sobreviver vai ter que trocar as lições de moral pelas explicações didáticas; vai ter que demitir os pit bulls e contratar mais explicadores, humoristas e chargistas. Terá que abandonar o cargo, em que se autoempossou, de superego da República.
Do contrário, obstinados na defesa de seus próprios interesses e na descarga ideológica coletiva de suas raivas particulares, alguns dos mais tradicionais veículos de comunicação serão vítimas de seu próprio veneno. Ao exagerarem no sal, apenas contribuirão para acelerar o processo de derretimento do impávido colosso iceberg que já não está em terra firme.
Um retrato desse processo pode ser visto na recente pesquisa encomendada pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom-P.R.), destinada a descobrir o que o brasileiro lê, ouve, vê e como analisa os fatos e forma sua opinião.
A pesquisa revelou as dimensões que o iceberg ainda preserva. A televisão e o rádio permanecem como os meios de comunicação mais comuns aos brasileiros. A TV é assistida por 96,6% da população brasileira, e o rádio, por expressivos 80,3%. Os jornais e revistas ficam bem atrás. Cerca de 46% costumam ler jornais, e menos de 35%, revistas. Perto de apenas 11,5% são leitores diários dos jornais tradicionais.
Quanto à internet, os resultados, da forma como estão apresentados, preferiram escolher o lado cheio do copo. Avalia-se que a internet no Brasil segue a tendência de crescimento mundial e já é utilizada por 46,1% da população brasileira. No entanto, é preciso uma avaliação sobre o lado vazio do copo, ou seja, a constatação de que os 53,9% de pessoas que não têm qualquer acesso à internet ainda revelam um quadro de exclusão digital que precisa ser superado. Ponto para o Programa Nacional da Banda Larga, que representa a chance de uma mudança estrutural e definitiva na forma como os brasileiros se informam e comunicam-se.
A internet tem devorado a TV e o rádio com grande apetite. Os conectados já gastam, em média, mais tempo navegando do que em frente à TV ou ao rádio. Esse avanço relaciona-se não apenas a um novo hábito, mas ao crescimento da renda nacional e à incorporação de contingentes populacionais pobres à classe média, que passaram a ter condições de adquirir um computador conectado.
O processo em curso não levará ao desaparecimento da TV, do rádio e da mídia impressa. O que está havendo é que as velhas mídias estão sendo canibalizadas pela internet, que tornou-se a mídia das mídias, uma plataforma capaz de integrar os mais diversos meios e oferecer ao público alternativas flexíveis e novas opções de entretenimento, comunicação pessoal e “autocomunicação de massa”, como diz o espanhol Manuel Castells.
Ainda usando a analogia do iceberg, a internet tem o poder de diluir, para engolir, a velha mídia.
A pesquisa da Secom-P.R. dá uma boa pista sobre o grande sucesso das plataformas eletrônicas das redes sociais. A formação de opinião entre os brasileiros se dá, em grande medida, na interlocução com amigos (70,9%), família (57,7%), colegas de trabalho (27,3%) e de escola (6,9%), o namorado ou namorada (2,5%), a igreja (1,9%), os movimentos sociais (1,8%) e os sindicatos (0,8%). Alerta para movimentos sociais, sindicatos e igrejas: seu “sex appeal” anda mais baixo que o das(os) namoradas(os).
Estes números confirmam estudos de longa data que afirmam que as redes sociais influem mais na formação da opinião do que os meios de comunicação. Por isso, uma informação muitas vezes bombardeada pela mídia demora a cair nas graças ou desgraças da opinião pública: ela depende do filtro excercido pela rede de relações sociais que envolve a vida de qualquer pessoa. Explica também por que algo que a imprensa bombardeia como negativo pode ser visto pela maioria como positivo. A alta popularidade do Governo Lula, diante do longo e pesado cerco midiático, talvez seja o exemplo mais retumbante.
Em suma, o povo não engole tudo o que se despeja sobre ele: mastiga, deglute, digere e muitas vezes cospe conteúdos que não se encaixam em seus valores, sua percepção da realidade e diante de informações que ele consegue por meios próprios e muito mais confiáveis.
É aqui que mora o perigo para a velha mídia. Sua credibilidade está descendo ladeira abaixo. Segundo a citada pesquisa, quase 60% das pessoas acham que as notícias veiculadas pela imprensa são tendenciosas.
Um dado ainda mais grave: 8 em cada 10 brasileiros acreditam muito pouco ou não acreditam no que a imprensa veicula. Quanto maior o nível de renda e de escolaridade do brasileiro (que é o rumo da atual trajetória do país), maior o senso crítico em relação ao que a mídia veicula - ou “inocula”.
A velha mídia está se tornando cada vez mais salgada para o povo. Em dois sentidos: ela pode estar exagerando em conteúdos cada vez mais difíceis de engolir, e as pessoas estão cada vez menos dispostas a comprar conteúdos que podem conseguir de graça, de forma mais simples, e por canais diretos, mais interativos, confiáveis, simpáticos e prazerosos. Num momento em que tudo o que parece sólido se desmancha... na água, quem quiser sobreviver vai ter que trocar as lições de moral pelas explicações didáticas; vai ter que demitir os pit bulls e contratar mais explicadores, humoristas e chargistas. Terá que abandonar o cargo, em que se autoempossou, de superego da República.
Do contrário, obstinados na defesa de seus próprios interesses e na descarga ideológica coletiva de suas raivas particulares, alguns dos mais tradicionais veículos de comunicação serão vítimas de seu próprio veneno. Ao exagerarem no sal, apenas contribuirão para acelerar o processo de derretimento do impávido colosso iceberg que já não está em terra firme.
*Antonio Lassance é pesquisador do
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e professor de Ciência
Política.
domingo, 4 de julho de 2010
A face visível do movimento pacífico palestino
A face visível do movimento pacífico
palestino
O documentário "Budrus" conta a história
da resistência pacífica da população de uma aldeia da Cisjordânia
contra a invasão do muro de “segurança”, construído por Israel. A força
do documentário reside no fato de que ele não mostra as típicas imagens
da resistência palestina difundidas pelos meios de comunicação
ocidentais. O filme teve êxito no Festival Internacional de Berlim e no
de Silverdocs, em Washington, mas vem encontrando dificuldades para ser
distribuído nos EUA. As manifestações em Budrus tiveram um certo êxito e
conseguiram liberar 95% do território do povo que seria bloqueado pelo
muro.
Ellen Massey - IPS
Ayed Morrar é um homem tranqüilo, de baixa
estatura, com olhos amáveis, mas intensos, que olham o mundo através de
seus óculos de arame. Seu rosto se converteu na cara da resistência
palestina não violenta. Morrar é o personagem principal do documentário
“Budrus” (dirigido por Julia Bacha, brasileira de 29 anos radicada em
Nova York), de 2009, que narra a permanente resistência pacífica dessa
aldeia da Cisjordânia à invasão do muro de “segurança”, construído por
Israel. No filme, produzido pela Organização Just Vision, com sede em
Jerusalém e Washington, pode-se ver dezenas de bandeiras palestinas em
mãos de manifestantes que descem de alguns morros rochosos até a área
onde há soldados e máquinas israelenses. Também se pode ver as raízes
retorcidas de uma antiga oliveira, arrancadas por uma escavadeira, e os
rostos dos manifestantes, alguns infantis, outros curtidos ou
bronzeados, mas todos orgulhosos, desafiadores e determinados e não
permitir que sejam expulsos de suas terras.
Julia Bacha, brasileira de 29 anos radicada em Nova York
A força do documentário reside no fato de que ele não mostra as típicas imagens da resistência palestina difundidas pelos meios de comunicação ocidentais. A fúria midiática se alimenta com imagens de homens mascarados, combatentes do Hamás (Movimento de Resistência Islâmica), com lenços verdes e jovens esquálidos jogando pedras contra grandes tanques israelenses. Em troca, os relatos da “coragem sem armas”, como denomina a produtora executiva de “Budrus”, Ronit Avni, não aparecem em primeiro plano.
O legislador estadunidense do Partido Democrata, Brian Baird, aplaudiu o chamado à não violência, incluída aí a declaração do presidente dos EUA, Barack Obama, em seu conhecido discurso do Cairo, em junho de 2009: “os palestinos devem abandonar a violência”. Para isso, é preciso de um líder como Mahatma Ghandi (1869-1948) ou Martin Luther King (1929-1968), assinalou Baird. E acrescentou: “Creio que estamos diante de um”, referindo-se a Morrar. Baird e o deputado democrata Keith Ellison participaram de uma das apresentações do filme a poucas quadras do Capitólio, acompanhados de Morrar, Avni e da diretora Julia Bacha. Os dois deputados distribuíram cópias do documentário na Câmara de Representantes. “Não sei se convencemos alguém, mas não vamos parar”, assinalou Ellison.
Baird e Ellison têm um papel ativo no conflito palestino-israelense. Ambos votaram contra uma resolução da Câmara de Representantes condenando o informe Goldstone e participaram da primeira delegação do Congresso dos EUA que viajou a Gaza após o ataque israelense de 27 de dezembro de 2008 a 18 de janeiro de 2009. O juiz Richard Goldstone dirigiu uma investigação sobre os crimes de guerra perpetrados pelo exército israelense durante a Operação Chumbo Fundido, que matou cerca de 1.400 pessoas e deixou mais de 5.000 feridos, a maioria civis.
Os dois legisladores são um elemento essencial da estratégia de divulgação de “Budrus” e de sua mensagem. O filme teve êxito no Festival Internacional de Berlim e no de Silverdocs, em Washington, na semana passada. No entanto, os realizadores não conseguiram uma distribuição massiva nos EUA. É um assunto delicado, explicou Avni. “Vão nos atacar em todas as frentes”, reconheceu.
A difusão do documentário coincide com a atenção que recebe na atualidade o conflito palestino-israelense que já dura 60 anos. A pressão pela situação nos territórios palestinos é cada vez maior. Isso pode ser visto pelo desacordo recente do presidente Barack Obama com o primeiro ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, pelos assentamentos judeus na Cirjordânia, até o ataque das forças israelenses contra os ativistas do barco Mavi Marmara, que no dia 31 de maio rompeu o bloqueio imposto por Israel contra Gaza.
Há cada vez mais expressões não violentas de protesto contra as políticas israelenses nos territórios palestinos. Algumas delas são as manifestações contra a expansão de assentamentos judeus no bairro de Jeque Jarrah, em Jersusalém oriental, os contínuos protestos contra o muro por parte da população cisjordana de Bil’in e Na’alin, até as frotas humanitárias no final de maio.
Há protestos que atingem certo êxito. As manifestações em Budrus conseguiram convencer os israelenses a desviar o trajeto do muro que foi desviado para muito mais perto da Linha Verde, liberando 95% do território do povo. Mas outras não conseguem o mesmo êxito. Os protestos semanais realizdos em Jeque Jarrah desde novembro não conseguiram impedir o início, nesta semana, da construção de casas nos novos assentamentos judeus.
O documentário “Budrus” mostra como movimentos pacíficos conseguiram unir os manifestantes de diversas religiões e nacionalidades e garantir o respeito aos direitos humanos em protestos não violentos. Os realizadores combinam imagens tomadas por manifestantes que enfrentaram a polícia israelense da fronteira, com entrevistas com pessoas envolvidas no conflito de ambos os lados, incluindo um soldado israelense, que enfrenta o dilema de como lidar com manifestantes desarmados. Também utilizam imagens da cobertura midiática sobre o caso e procuram oferecer uma visão multifacetada sobre o conflito.
“Agora vimos outro tipo de israelenses”, assinalou Morrar, em alusão aos ativistas que protestaram com eles diariamente em Budrus. Cidadãos estadunidenses também se manifestaram em Budrus e em outros povoados próximos ao muro. Morrar disse estar orgulhoso pelo apoio destes cidadãos. O aspecto mais importante do documentário é, sem dúvida, Morrar, de voz suave mas clara, sentado frente a muita gente e a milhares de quilômetros do povo que tanto luta para salvar, e os realizadores do filme. É só um povo, só um homem, mas ele dá cara e voz a um movimento muitas vezes esquecido. “Budrus” estréia em Ramalah e em Jerusaláem no início de julho.
Tradução: Katarina Peixoto, na Carta Maior
Julia Bacha, brasileira de 29 anos radicada em Nova York
A força do documentário reside no fato de que ele não mostra as típicas imagens da resistência palestina difundidas pelos meios de comunicação ocidentais. A fúria midiática se alimenta com imagens de homens mascarados, combatentes do Hamás (Movimento de Resistência Islâmica), com lenços verdes e jovens esquálidos jogando pedras contra grandes tanques israelenses. Em troca, os relatos da “coragem sem armas”, como denomina a produtora executiva de “Budrus”, Ronit Avni, não aparecem em primeiro plano.
O legislador estadunidense do Partido Democrata, Brian Baird, aplaudiu o chamado à não violência, incluída aí a declaração do presidente dos EUA, Barack Obama, em seu conhecido discurso do Cairo, em junho de 2009: “os palestinos devem abandonar a violência”. Para isso, é preciso de um líder como Mahatma Ghandi (1869-1948) ou Martin Luther King (1929-1968), assinalou Baird. E acrescentou: “Creio que estamos diante de um”, referindo-se a Morrar. Baird e o deputado democrata Keith Ellison participaram de uma das apresentações do filme a poucas quadras do Capitólio, acompanhados de Morrar, Avni e da diretora Julia Bacha. Os dois deputados distribuíram cópias do documentário na Câmara de Representantes. “Não sei se convencemos alguém, mas não vamos parar”, assinalou Ellison.
Baird e Ellison têm um papel ativo no conflito palestino-israelense. Ambos votaram contra uma resolução da Câmara de Representantes condenando o informe Goldstone e participaram da primeira delegação do Congresso dos EUA que viajou a Gaza após o ataque israelense de 27 de dezembro de 2008 a 18 de janeiro de 2009. O juiz Richard Goldstone dirigiu uma investigação sobre os crimes de guerra perpetrados pelo exército israelense durante a Operação Chumbo Fundido, que matou cerca de 1.400 pessoas e deixou mais de 5.000 feridos, a maioria civis.
Os dois legisladores são um elemento essencial da estratégia de divulgação de “Budrus” e de sua mensagem. O filme teve êxito no Festival Internacional de Berlim e no de Silverdocs, em Washington, na semana passada. No entanto, os realizadores não conseguiram uma distribuição massiva nos EUA. É um assunto delicado, explicou Avni. “Vão nos atacar em todas as frentes”, reconheceu.
A difusão do documentário coincide com a atenção que recebe na atualidade o conflito palestino-israelense que já dura 60 anos. A pressão pela situação nos territórios palestinos é cada vez maior. Isso pode ser visto pelo desacordo recente do presidente Barack Obama com o primeiro ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, pelos assentamentos judeus na Cirjordânia, até o ataque das forças israelenses contra os ativistas do barco Mavi Marmara, que no dia 31 de maio rompeu o bloqueio imposto por Israel contra Gaza.
Há cada vez mais expressões não violentas de protesto contra as políticas israelenses nos territórios palestinos. Algumas delas são as manifestações contra a expansão de assentamentos judeus no bairro de Jeque Jarrah, em Jersusalém oriental, os contínuos protestos contra o muro por parte da população cisjordana de Bil’in e Na’alin, até as frotas humanitárias no final de maio.
Há protestos que atingem certo êxito. As manifestações em Budrus conseguiram convencer os israelenses a desviar o trajeto do muro que foi desviado para muito mais perto da Linha Verde, liberando 95% do território do povo. Mas outras não conseguem o mesmo êxito. Os protestos semanais realizdos em Jeque Jarrah desde novembro não conseguiram impedir o início, nesta semana, da construção de casas nos novos assentamentos judeus.
O documentário “Budrus” mostra como movimentos pacíficos conseguiram unir os manifestantes de diversas religiões e nacionalidades e garantir o respeito aos direitos humanos em protestos não violentos. Os realizadores combinam imagens tomadas por manifestantes que enfrentaram a polícia israelense da fronteira, com entrevistas com pessoas envolvidas no conflito de ambos os lados, incluindo um soldado israelense, que enfrenta o dilema de como lidar com manifestantes desarmados. Também utilizam imagens da cobertura midiática sobre o caso e procuram oferecer uma visão multifacetada sobre o conflito.
“Agora vimos outro tipo de israelenses”, assinalou Morrar, em alusão aos ativistas que protestaram com eles diariamente em Budrus. Cidadãos estadunidenses também se manifestaram em Budrus e em outros povoados próximos ao muro. Morrar disse estar orgulhoso pelo apoio destes cidadãos. O aspecto mais importante do documentário é, sem dúvida, Morrar, de voz suave mas clara, sentado frente a muita gente e a milhares de quilômetros do povo que tanto luta para salvar, e os realizadores do filme. É só um povo, só um homem, mas ele dá cara e voz a um movimento muitas vezes esquecido. “Budrus” estréia em Ramalah e em Jerusaláem no início de julho.
Tradução: Katarina Peixoto, na Carta Maior
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