quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Por que a mídia privada não consegue ver o FSM?

Fotos: Eduardo Seidl

Por que a mídia privada não consegue ver o FSM?

A mídia mercantil é um caso perdido para a compreensão do mundo contemporâneo. Não por acaso a crise atual a afeta diretamente. Não tardará para que comecem as quebras de empresa de jornalismo por aqui também. E eles serão vitimas da sua própria cegueira, aquela que lhes impede de ver os projetos do futuro da humanidade, que passeiam pelas veredas de Belém.

Mais uma vez a mídia privada não consegue ver o FSM. Os leitores que dependerem dela ficarão sem saber o que acontece aqui em Belém. Por que? O que impede uma boa cobertura, se a riqueza de idéias, a diversidade de presenças, a força dos intercâmbios – como não se encontra em lugar algum do globo – estão todos aqui? Há jornalistas, algum espaço é dedicado pela imprensa ao evento, mas o fundamental passa despercebido.

O fundamental não tem preço – diz um dos lemas melhores do FSM. Enquanto o neoliberalismo e o seu reino do mercado tentam fazer com que tudo tenha preço, tudo se venda, tudo se compre, ao estilo shoping-center, o FSM se opôs desde o seu começo a isso, opondo os direitos de todos ao privilégio de quem tem poder de compra, incrementando sempre mais as desigualdades.

Um jornalista da FSP (Força Serra Presidente) se orgulha de ter ido a todos os Foros de Davos e, consequentemente, a nenhum Forum Social Mundial. A espetacular marcha de abertura do FSM retratada com belíssimas fotos por Carta Maior, foi inviabilizada pela mídia mercantil.

A cobertura se faz com a ótica com que essa imprensa se comporta, com os óculos escuros que a impedem de ver a realidade. O FSM, como tudo, é objeto das fofocas sobre eventuais desgastes do governo Lula – a obsessão dessa mídia. Não cobrem o dia do Forum PanAmazônico, não deram uma linha sobre o Forum da Mídia Alternativa, não ouvem os palestinos, nem os africanos ou os mexicanos. Nada lhes interessa. No máximo aguardam para ver se Brad Pitt e Angelina Jolie vão vir.

Seu estilo e sua ótica está feita para Davos, para executivos, ex-ministros de economia. Lamenta a imprensa que a América Latina, a África e a China estejam tão pouco representados em Davos. Mas o que teriam a fazer por lá? Não se perguntam, nem querem saber. Seus jornalistas não são orientados senão para seguir os passos de Lula e seus ministros.

Temas como os diagnósticos da crise e as alternativas, a guerra e as alternativas de paz, as propostas de desenvolvimento sustentável – fundamentais no FSM – estão fora da pauta. Nem falar da crise da própria mídia tradicional e das propostas de construção de mídias públicas e democráticas.

A mídia mercantil é um caso perdido para a compreensão do mundo contemporâneo. Não por acaso a crise atual a afeta diretamente. Não tardará para que comecem as quebras de empresa de jornalismo por aqui também. E eles serão vitimas da sua própria cegueira, aquela que lhes impede de ver os projetos do futuro da humanidade, que passeiam pelas veredas de Bel


quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

João Gilberto - Live In Montreux (1986)




download




Créditos: UmQueTenha

RBS quer voltar à casa do Pai


De partido político da direita guasca à Disneylândia de bombachas?

Não é de estranhar que o jornal Zero Hora ao falar em Guerra Fria no Rio Grande (ver suelto abaixo, de 26/1) esqueça de mencionar que um dos combustíveis do conflito Leste-Oeste foi o anticomunismo.

No RS, hoje, o anticomunismo foi atualizado por um sucedâneo ideológico chamado antipetismo. O constructo do antipetismo é uma construção puramente mental – a exemplo do anticomunismo – usado com a funcionalidade de impressionar os espíritos simples do senso comum e mobilizar preconceitos e mitos os mais arraigados.

Quando esses elementos primitivos são excitados no fundo escuro de um espírito ingênuo ou mal formado, a razão passa longe e o indivíduo fica dominado por sensações que vão do medo à intolerância mais funda – presa fácil da propaganda mais simplificadora e rebaixada.

O anticomunismo tinha o mesmo efeito que o bicho-papão para as crianças. Ambos não existiam, mas operavam no susto. A velha União Soviética nunca quis exportar a revolução, aliás, um dos motivos pelos quais não se pode chamar aquele falecido regime estatal de comunista ou socialista.
Se o comunismo foi um bicho-papão que não era bicho nem papão, o mesmo se pode dizer do petismo, especialmente na atual fase de descenso e acomodação conciliatória.

Como se vê, a RBS usa velhos truques manjados para continuar assustando a população menos atenta com tigres de papel pintado.

O Rio Grande do Sul sempre se notabilizou por ter uma imprensa partidária forte e atuante. Do final do século 19 até boa parte do século 20, o Estado e suas principais cidades do interior ostentaram jornais e publicações identificados com os partidos políticos que faziam o debate público regional. O castilhismo-borgismo fez a sua revolução burguesa também através das páginas de “A Federação”, bem como os órgãos de imprensa alinhados com os maragatos, ferrenhos opositores dos republicanos sul-rio-grandenses.

A luta das frações de classe burguesa no Rio Grande sempre foi pública e publicada, pelos menos até o advento do golpe de 1964. Com o regime civil-militar golpista houve um rearranjo neste esquema.

Os dois principais jornais do RS – Zero Hora e Correio do Povo – modificam a trajetória de alinhamento político da imprensa regional. O Correio, criado em 1895, surgiu precisamente para quebrar o paradigma de que jornal deveria estar vinculado a partido político, e não se afiliou a nenhuma linha partidária, mas acabou ficando porta-voz do latifúndio e do setor primário em geral. Hoje, completamente desfigurado é apenas uma caricatura do seu passado.

O jornal ZH, do grupo RBS, é criado imediatamente após o golpe de abril de 1964 e se fortalece à sombra do crescimento da televisão como meio de comunicação de massa no Estado. ZH não tem a mesma origem dos demais órgãos de imprensa do País, cuja personalidade como jornal forjou-se na forma tradicional de fazer diários. Zero Hora resultou da reciclagem errática de um jornal com opinião política aberta – a Última Hora – e firma-se como orgão de mero apoio comercial à mídia televisão, uma espécie de revista de variedades, com notícias e informações em segundo plano. Seu criador, Maurício Sirotsky Sobrinho, sempre foi um animador de programas de auditório com afinado instinto comercial, e depois proprietário de rádios, e jamais teve formação de jornalista militante de redações diárias. Esse é um dos motivos de ZH ser tão pobre em texto e reportagem, as bases são insólitas e não há o menor traço de pedigree jornalístico.

Criado e crescido, portanto, na estufa morna da ditadura civil-militar, ZH cultivou hábitos de ocultar sua filiação político-ideológica, preferindo a política da dissimulação e da camuflagem. Mas isso não significa que não tenha personalidade política e identificação ideológica, ao contrário, não só ZH mas os demais veículos da RBS acabaram ocupando a lacuna funcional dos anêmicos partidos cartoriais do conservadorismo guasca.

Existe alguma ilegitimidade ou ilegalidade nesta representação política delegada da direita? Na origem, nenhuma. O que se contesta é a ocultação permanente desta representação. Aí passa a constituir-se num desvio de função e numa falsidade ideológica (para não falar em constituição de oligopólio de meios de comunicação, que é considerado crime, ao qual o MP Federal de Santa Catarina já está investigando) que deve ser reprovada e denunciada todos os dias.

Recentemente, o grupo RBS recebeu aporte de capital do investidor Armínio Fraga, cerca de 4% do seu capital social. Objeto do aporte: tornar um braço do grupo um forte player no ramo do entretenimento de massas no Brasil.

Vê-se que a RBS retorna ao seu leito de origem, como no mito bíblico, o bom filho à casa torna. Maurício Sobrinho, seu fundador, foi um animador de auditório bem sucedido, pois, agora, seus sucessores fazem justiça ao legado do patriarca voltando ao ramo do entretenimento – de onde nunca deveriam ter saído.

Agora, espera-se que dêem o looping negocial: que saiam do ramo partido-político-da-direita-guasca e migrem em definitivo para adotarem o figurino da Disneylândia de bombachas.

Que Ha-shem os ilumine (e Fraga os financie)!

Marcha pela Paz abre Fórum Social Mundial 2009



Agencia Carta Maior

O ponto de partida da caminhada foi a praça Pedro Teixeira (Escadinha) ao lado da Estação das Docas. Representando a vinda do FSM da Àfrica para a Amazônia, os povos indígenas da região foram recebidos pelos povos africanos e afrodescendentes e juntos compartilharam uma Ceia Sagrada. Dezenas de milhares de pessoas participaram da marcha. Segundo a polícia, cerca de 60 mil. Segundo organizadores, número de participantes foi bem maior, podendo chegar a quase 100 mil pessoas. Nem a chuva que caiu em meio à caminhada, tirou o ânimo dos participantes (Foto: Eduardo Seidl).


terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Tarso: 99% dos que querem extraditar Battisti defendem impunidade para torturadores

Críticas ao refúgio concedido a Battisti fazem parte de disputa política, afirma Tarso Genro

Marco Antonio Soalheiro e Ivanir José Bortot

Repórteres da Agência Brasil

Brasília - Alvo nas últimas semanas de inúmeras críticas de autoridades italianas e setores da sociedade brasileira em virtude do refúgio concedido ao escritor Cesare Battisti, o ministro da Justiça, Tarso Genro, reiterou, em entrevista exclusiva à EBC - Empresa Brasil de Comunicação, estar convicto de que o gesto foi plenamente adequado aos princípios constitucionais do país. Para ele, é nítida a motivação política na maior parte dos que se opõem em âmbito interno à sua decisão. Tarso os define, em geral, como entusiastas do neoliberalismo e defensores da impunidade aos torturadores.

“A discussão se tornou política. Não vi até agora, com sobriedade, nenhum argumento jurídico, porque este argumento jurídico teria de desconstituir todas as decisões do Supremo [Tribunal Federal - STF] sobre o assunto, em casos parecidos com esse do senhor Battisti”, afirmou Tarso.

“No momento em que a grande bandeira do neoliberalismo sucumbiu, que era a nossa submissão total ao capital financeiro e às suas necessidades desregulamentadoras, os próprios promotores e ideólogos desse modelo precisavam de um outro argumento para fazer oposição e se apegaram nesse do Battisti. Não é de pasmar que 99% dessas pessoas defendem impunidade para os torturadores. As mesmas pessoas são favoráveis que se entregue o senhor Battisti, mesmo o Brasil não tendo entregue outras pessoas que estavam na mesma situação”, acrescentou.

Battisti foi condenado em seu país de origem à prisão perpétua em duas sentenças, pela suposta autoria de quatro assassinatos, entre 1977 e 1979. Na época, o escritor militava na extrema esquerda da Itália, vinculada ao grupo Proletários Armados pelo Comunismo (PAC).

Em relação ao descontentamento das autoridades italianas com o refúgio, Tarso classificou como natural, se considerado o “ambiente de dor” deixado pelos atos de violência que marcaram a vida política do país nos anos 1970, mas ressalvou não haver base probatória suficiente para a condenação.

“Eu diria até que, no momento em que o senhor Battisti foi julgado na Itália, a decisão provavelmente foi adequada às circunstâncias históricas daquele país. Hoje, qualquer juízo absolveria o senhor Battisti por insuficiência de provas”, avaliou.

Em seu rol de argumentos, o ministro lembrou o fato de a Itália não ter atendido o pedido brasileiro para extraditar o ex-banqueiro Salvatore Cacciola, que tinha sido condenado no Brasil a 13 anos de detenção por crimes contra o sistema financeiro.

“Aí entra a questão da soberania. Quando nós pedimos a extradição do senhor Cacciola a Itália aplicou corretamente a sua Constituição. A Constituição [italiana] proíbe a extradição de preso com dupla nacionalidade. Fomos extraditá-lo lá em Mônaco e nem por isso ofendemos o sistema jurídico italiano ou desconstituímos sua estrutura institucional”, assinalou Tarso.

A disputa definida como “política” pelo ministro terá seus próximos capítulos travados no STF. Os advogados Luiz Eduardo Greenhalgh e Suzana Angélica Paim Figuerêdo, que compõem a banca de defesa de Cesare Battisti, interpuseram no tribunal um pedido de revogação da prisão preventiva do refugiado. A República italiana encaminhou ao STF, na sexta-feira (23), documentação com razões para justificar o pedido de extradição e contra a ação de liberdade de Battisti.

Sobre o caso, o presidente do STF, ministro Gilmar Mendes, solicitou parecer à Procuradoria Geral da República.

do blog Cloaca News...

BARRACO TUCANO NO RS: EM BRIGA DE MARIDO E MULHER, NÃO SE METE...


Na última sexta-feira, a governadora tucana Yeda Crusius detonou o Conselho de Comunicação do Governo do Estado, mandando para o beleléu seu próprio marido, o economista Carlos Augusto Crusius, que presidia o órgão. O relato que o tablóide Zero Hora fez dos antecendentes da exoneração do primeiro-esposo é típico do jornalismo de pastelão, como você, se tiver a pachorra, poderá ler clicando aqui. Na edição de hoje, o jornalzinho da RBS apressa-se em tomar o partido da tucana (leia aqui), dando voz , inclusive, a um "aliado" anônimo, que afirmou que "Yeda optou por profissionalizar um espaço (a comunicação) para ter melhores resultados na imagem do governo". Guarde bem a palavra "profissionalizar".
Ontem mesmo, em uma notinha sob a retranca "OPINIÃO ZH" , que equivale a um editorial, o tabloidezinho estampou: "A extinção do Conselho de Comunicação do governo do Estado chama a atenção dos gaúchos para um órgão que a maioria da população sequer conhecia bem. Criado em 2007, com a atribuição de supervisionar projetos relacionados à publicidade e à comunicação da administração, o conselho será agora substituído por uma estrutura profissional, destinada a dar maior visibilidade aos atos do governo e a aproximar o Executivo da população. Faz sentido. Os cidadãos têm o direito de ser informados sobre as ações de seus representantes públicos, até para ter certeza de que decisões que envolvem os interesses da sociedade estão sendo adotadas por critérios estritamente técnicos. Por isso, é fundamental que a nova estratégia de comunicação tenha como foco prioritário a transparência".
Diante desta proverbial peroração, uma das conclusões a que podemos chegar é a de que, sob a batuta do "Barbicha" - como também é conhecido o Sr. Crusius entre alguns dos indiciados pelas falcatruas no Detran gaúcho - a gestão do Conselho, desde seu início, fora amadora. Ah...mas, agora, livre desse diletante barbicas, finalmente vão liberar umas verbinhas para que a população saiba o que o governo estadual anda fazendo!
Todavia, Zero Hora não dá ponto sem nó. Para coroar seu, digamos, profissionalismo, publicaram uma "entrevista" com o "primeiro-marido" defenestrado. Curiosamente, uma entrevista que ele não concedeu, como se pode constatar aqui. Mas que, certamente, fará com que uma das partes do casal vá dormir no sofá da casa nova, comprada sabe-se lá como.

A crise dos grandes jornais

Mais empresas e grupos midiáticos devem fechar jornais nos próximos meses. O novo príncipe, como Octavio Ianni definiu o poder midiáticos dos nossos tempos, está em crise existencial.

De repente, não mais que de repente, grandes jornais do mundo Ocidental entraram em crise financeira aguda. Entre eles o New York Times, ícone do capitalismo Ocidental, o El Pais, símbolo do novo expansionismo ibérico, o poderosos Chicago Tribune e o veterano Christian Science Monitor. Estão sem caixa. Alguns, venderam seus prédios, outros buscam injeções de capital, redações foram reduzidas à metade. O Christian Science Monitor deixou de vez a forma impressa, ficando só na internet.. Será o começo do fim da era dos grandes jornais?

Ignácio Ramonet apontou ,no Fórum de Mídia Livre desta segunda feira, para a estreita relação, quase que orgânica, entre o capital financeiro e os grande grupos de mídia. É como os bancos fornecessem o combustível dos conglomerados midiáticos. Quando advém ao estrangulamento do crédito, principal mecanismo desta crise depois do colapso dos grandes bancos americanos e alguns europeus, precipita-se uma situação de insolvência que já vinha tomando forma desde que a internet começou a comandar a dinâmica do jornalismo.

Para Ramonet , o aprofundamento e o espalhamento da recessão econômica, etapa seguinte desta crise, afeta profundamente o modo de produção da grande mídia, principalmente ao reduzir sua principal fonte de financiamento, a publicidade.

São três pauladas sucessivas na grande mídia impressa. Primeira paulada: o esvaziamento de suas funções pela interne, processo de natureza estrutural que deverá se aprofundar . Segunda paulada: o estrangulamento do crédito, fator apenas temporário mas que precipitou decisões radicais, algumas irreversíveis.Terceira paulada:a queda das receitas publicitários, que está apenas no começo , devendo perdurar pelo tempo das grandes recessões, em geral três a cinco anos.

Os grandes jornais já vinham sofrendo há muito tempo a erosão de suas funções editoriais principais, apontaram nessa mesma sessão do Fórum os jornalistas Pascual Serrano do site Rebellion, e Luiz Navarro, do La Jornada. Na invasão do Iraque, por exemplo, a grande mídia americana tornou-se uma disseminadora de mentiras geradas pelo governo. Com isso, negou sua função jornalística principal de asseverar verdades.Também perdeu sua função mediadora, na medida em que abandou a mediação dos grandes problemas que efetivamente interessam à população .E mais; perdeu legitimidade, perdeu autenticidade.

Conclusão: mais empresas e grupos midiáticos devem fechar jornais nos próximos meses. O novo príncipe, como Octavio Ianni definiu o poder midiáticos dos nossos tempos, está em crise existencial.

Bom para a democracia? Talvez não. Ruim com os grandes jornais, pior sem eles. A democracia de massa precisa meios de comunicação de massa para funções de mediação e agendamento do debate nacional e mundial, que a mídia pequena ou alternativa não tem escala para exercer.

O que interessa à democracia é que esse espaço, o da comunicação de massa seja habitado por uma mídia mais plural, mais comprometida com os valores humanos e menos com os ditames do capitalismo. Vários participantes desse debate apontaram para a necessidade do campo popular disputar a hegemonia da grande imprensa, com projetos de mesmo porte.

Também foram cobradas políticas publicas mais audazes de democratização do espaço midiático por parte dos novos governos da América do Sul. E mais empenho das entidades mais poderosas da sociedade civil na ocupação desse espaço. A hora é agora, quando a crise jogou os tycoons da comunicação na defensiva, e as novas tecnologias favorecem o pluralismo no espectro eletromagnético e barateiam a produção dos meios impressos.


Bernardo Kucinski, jornalista e professor da Universidade de São Paulo, é colaborador da Carta Maior e autor, entre outros, de “A síndrome da antena parabólica: ética no jornalismo brasileiro” (1996) e “As Cartas Ácidas da campanha de Lula de 1998” (2000).

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

FORUM SOCIAL MUNDIAL-2009

Uma outra mídia é possível (e necessária)

O I Fórum Mundial de Mídia Livre discutirá a construção dessa nova mídia e, também, claro, não poderá deixar de discutir as responsabilidades da mídia hegemônica na construção da crise econômica e social na qual fomos mergulhados pela especulação financeira e por seu arautos neoliberais.

O Fórum Social Mundial começa com o Fórum Mundial de Mídia Livre. Nesta segunda, dois painéis e outras atividades, põem em debate os meios de comunicação e, mais importante, discutem a construção de meios alternativos de comunicação. Será isto possível? É como perguntar se um outro mundo é possível. Talvez um outro mundo seja mesmo possível, mas, com certeza, não o será sem uma outra mídia necessária.

Nas dimensões sociais e espaciais em que vivemos hoje, neste mundo em que somos afetados, instantaneamente, tanto pelo que acontece em nosso bairro, quanto por uma guerra em alguma região aparentemente distante como Gaza ou Chechênia, a realidade que nos chega é aquela que nos chega pela mídia. Aquilo que aconteceu, aconteceu porque foi noticiado no jornal, na TV ou no rádio. Se não foi noticiado, não aconteceu. Significa dizer, boa parte de nosso conhecimento do mundo, boa parte do modo como pensamos, é moldado pela mídia. No limite, a mídia decide o que devemos pensar, sobre o que devemos pensar e como devemos pensar o mundo. Pensar uma outra organização de sociedade, alternativa a esta ordem capitalista que aí está, poderá ser quase impossível, se o mundo que vemos, lemos e ouvimos através da mídia, parece ser um mundo sem alternativas...

Daí a importância da construção de uma mídia alternativa, de uma mídia livre dos compromissos políticos e econômicos da mídia hegemônica, de uma mídia livre para discutir e disseminar a idéia de que um outro mundo é possível.

A base social para a construção dessa mídia é o próprio movimento popular. Na medida em que os mais diversos segmentos da sociedade se organizam em defesa dos seus interesses e se mobilizam para viabilizar suas plataformas políticas e culturais, é natural que eles queiram verbalizar suas demandas e propostas. Através da rede mundial de computadores e graças ao barateamento generalizado dos meios de reprodução das idéias, o movimento popular não precisa mais depender de custosos equipamentos e instalações para colocar suas propostas em debate na sociedade.

O jornal ou revista impressos podem ainda serem veículos importantes, mas não são mais os únicos. Blogues, sítios de internet, rádios de baixa potência (comunitárias), até mesmo canais de TV, sem falar das listas de discussão em rede ou simples panfletagens digitais (spans) já se tornaram poderosos meios de divulgação de idéias alternativas e de mobilização política. Através deles, o agendamento do que pensar, sobre o que pensar e como pensar ditado pela mídia hegemônica, pode ser contraditado por uma agenda alternativa, isto é, por uma nova proposta a respeito do que deve ser prioritário para ser pensado e sobre como deve ser pensado.

O FML que, nesta segunda, realiza o seu primeiro fórum mundial, nasceu com essa proposta e pôde assim nascer porque foi construído por organizações e entidades jornalísticas ou não, comprometidas com a construção dessa agenda alternativa e popular. Parte de seus construtores são jornalistas e estão engajados na produção, edição e veiculação de publicações jornalísticas. Parte deles porém não são propriamente jornalistas, mas são comunicadores vinculados ao movimento popular que estão também muito engajados na produção, edição e veiculação de publicações (impressas ou eletrônicas) que discutam a agenda de interesse do movimento popular. Não raro, esses comunicadores demonstram muito mais competência e sensibilidade para perceber e elaborar essa agenda, do que os profissionais do ramo. Trata-se de uma competência e sensibilidade nascida da vivência real com os problemas da injustiça, da exploração, da exclusão.

O I FMML discutirá a construção dessa nova mídia e, também, claro, não poderá deixar de discutir as responsabilidades da mídia hegemônica na construção da crise econômica e social na qual fomos mergulhados pela especulação financeira e por seu arautos neo-liberais. Era uma crise anunciada. Alguns analistas insuspeitos já diziam, há anos, que ela logo viria. Fatos só agora revelados, ainda assim a conta-gotas, mostravam que a prosperidade neo-liberal não passava de fachada. Essa imprensa que não dava voz aos críticos, essa mídia que não corria atrás de informações perturbadoras, são tão responsáveis por essa crise quanto os especuladores de Wall Street ou da Bovespa. Alimentaram a ilusão. A sociedade não pode agora inocentá-las.

É de se esperar que o FSM, em Belém, defina alguns pontos essenciais de agenda para a reconstrução da sociedade, dada a crise. O I FSML deverá definir os caminhos para dar às propostas do FSM, a mais ampla divulgação possível pelo mundo a fora.


Marcos Dantas é professor do Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio, doutor em Engenharia de Produção pela COPP-UFRJ e autor de “A lógica do capital-informação: da fragmentação dos monopólios à monopolização dos fragmentos num mundo de comunicações globais” (Ed. Contraponto).

Bolivia para os bolivianos...

“Sim” ganha com 60%



Apoiantes do Sim festejam vitória no referendo em La Paz - Foto da LusaO Sim ganhou o referendo à nova Constituição da Bolívia com cerca de 60%. Nos quatro departamentos onde a oposição a Morales detém o poder o "Não" ganhou.
Na pergunta sobre o tamanho máximo de uma propriedade agrícola (10.000 ou 5.000 hectares), a opção 5.000 ganhou por 78%, tendo triunfado mesmo nos departamentos da "meia lua". O Presidente Evo Morales considerou que o resultado do referendo "é o fim do Estado colonial".

No referendo à Constituição os resultados foram os seguintes, segundo o jornal boliviano La Prensa:

Nos departamentos do ocidente (La Paz, Cochabamba, Oruro e Potosi) o "Sim" obteve 72% e o "Não" 28%. Nos quatro departamentos da "meia lua" (Santa Cruz, Beni, Tarija e Pando) 63% dos votantes disseram "Não" e 38% "Sim". No departamento de Chuquisaca, 51% dos votantes apoiaram o "Sim" e 49% o "Não". De salientar que no departamento de La Paz, a capital, o "Sim" ganhou com 76%.

Além do referendo à Constituição, os bolivianos votaram também sobre o tamanho máximo que uma propriedade rural pode ter. O artigo 398 da nova Constituição proíbe o latifúndio e o referendo punha duas alternativas como limite máximo da propriedade rural: 10.000 ou 5.000 hectares.

A opção 5.000 venceu em todos os departamentos, mesmo nos da "meia lua", com uma percentagem de 78% no global do país, contra 22% para a opção 10.000 hectares.

O presidente Morales declarou, no discurso que fez após ser conhecida a vitória: "Hoje é a refundação da Bolívia (...) é o fim do Estado colonial, termina o colonialismo interno e externo".

Morales sublinhou ainda que o resultado do referendo é "o fim da grande propriedade e dos grandes proprietários".

PARA A (DES)GOVERNADORA DO RS ieda...

O Vosso Tanque General, É Um Carro Forte

Derruba uma floresta esmaga cem
Homens,
Mas tem um defeito
- Precisa de um motorista

O vosso bombardeiro, general
É poderoso:
Voa mais depressa que a tempestade
E transporta mais carga que um elefante
Mas tem um defeito
- Precisa de um piloto.

O homem, meu general, é muito útil:
Sabe voar, e sabe matar
Mas tem um defeito
- Sabe pensar

Bertold Bretch

Do blog do Nassif...

As barbeiragens do Banco Central


A redução da taxa Selic em um ponto foi pouco e chegou atrasada. Em dezembro havia sinais claros de que a economia estava em queda livre. E mesmo assim o Copom (Comitê de Política Monetária) manteve a taxa de juros inalterada. A incapacidade do Banco Central de perceber o que estava acontecendo em tempo real na economia foi completa.


Por Luis Nassif, em seu blog



Em relação à atividade industrial, o Relatório de Inflação de dezembro enxergou um “relativo arrefecimento”, mas destacou que “se manteve em crescimento no trimestre encerrado em outubro”. A autoridade monetária apontou, ainda, que a atividade deverá seguir em desaceleração nos próximos meses.


Os dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI) referentes a novembro do ano passado mostraram um tombo de 9,9% frente a outubro e de 7% na comparação com igual mês de 2007.


Em relação ao emprego, o Banco Central foi “traído” pela defasagem dos números. O Relatório de Inflação apontou que “As condições do mercado de trabalho não evidenciaram de forma expressiva, até outubro, os impactos da intensificação da crise nos mercados financeiros internacionais, persistindo as trajetórias de redução na taxa de desemprego, substituição de empregos informais por postos com carteira assinada e continuidade da incorporação de ganhos reais aos rendimentos.”


Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) de dezembro apontaram para 0 fechamento de 654,9 mil vagas formais no Brasil no mês de dezembro, o dobro da média para o mês.


Esses dados já seriam suficientes para justificar o início da queda da Selic. Havia outros, bastante concretos.


O pior impacto da Selic é sobre as contas públicas e sobre o câmbio. Quando as taxas internas estão muito mais elevadas que as externas, há um aumento do ingresso de dólares apreciando o real e tornando as exportações mais caras e as importações mais baratas.


Mas sobre o nível de atividade o efeito é indireto. Teoricamente, a alta dos juros aumenta o custo do dinheiro na ponta, reduzindo as vendas a prazo, a formação de estoques e o nível de atividade. O custo do dinheiro é formado pela taxa básica mais um spread - em geral tão elevado que acaba fazendo com que a taxa final seja pouco sensível aos movimentos da Selic.


A exceção eram as grandes empresas. Nos meses imediatamente anteriores à crise, o spread era quase negativo. Depois, da crise, aumentou substancialmente. Logo, já havia um efeito adicional de aumento de juros na ponta do spread, permitindo reduzir na ponta Selic.


Desde outubro, sinais claros de que a atividade estava desabando. Em dezembro, o BC continua insistindo em atividade econômica robusta, no momento em que ocorria a maior leva de demissões dos últimos anos.


Os estoques aumentaram substancialmente e caiu o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (NUCI), dois indicadores que serviam de álibi para a manutenção de Selic elevada.


É possível que a economia possa começar a se recuperar a partir do segundo trimestre. Mas houve mais uma dose adicional de sacrifício inútil por conta das barbeiragens do BC.



domingo, 25 de janeiro de 2009

Enigmatic Ocean - 1977



http://upload.wikimedia.org/wikipedia/en/f/fe/Enigmatic_Ocean.jpg

1. Overture
2. The Trans-Love Express
3. Mirage
4. Enigmatic Ocean - Part I
5. Enigmatic Ocean - Part II
6. Enigmatic Ocean - Part III
7. Enigmatic Ocean - Part IV
8. Nostalgic Lady
9. The Struggle Of The Turtle To The Sea - Part I
10. The Struggle Of The Turtle To The Sea - Part II
11. The Struggle Of The Turtle To The Sea - Part III

Jean-Luc Ponty - violín y viola eléctricas, piano, campanas
Steve Smith - batería, percusión
Allan Holdsworth - guitarra eléctrica
Daryl Stuermer - guitarras eléctrica y acústica
Allan Zavod - piano, piano eléctrico, clavinet, órgano, sintetizadores
Ralph Armstrong - bajo eléctrico

David Coimbra e a midia de esgoto(RBS)...


Produtividade para os professores:Um debate sem a presença de educadores...


Lupiscinio Pires escreve:

Já se passam várias semanas e para o jornal Zero Hora a questão da produtividade para os professores estaduais é praticamente pauta obrigatória do principal jornal do grupo RBS.É curioso que após a inconfidência do Sr. Lauro Quadros que relatou o almoço de Rosane de Oliveira com Mariza de Abreu às vesperas do famoso DIA DO FICO, a principal cronista política de ZH diminuiu considerávelmente as suas inserções nas questões das alterações do plano de carreira.

Mas tudo tem solução! Literalmente entrou em campo o jornalista esportivo David Coimbra para opinar sobre o plano de carreira em curso. Ao participar do Painel sobre Educação o referido jornalista optou por endereçar perguntas difíceis para a Presidente do CPERS, deixando o campo livre para a secretaria Mariza Abreu. Especialista em textos do cotidiano do amor e de futebol ,David Coimbra escreveu, logo após o Painel sobre educação, um artigo intitulado Mariza X Rejane que atribui os problemas educacionais ao sectarismo do sindicato.

Hoje ao escrever o artigo, O PATRÃO elege um novo algoz : OS DIRETORES DE ESCOLA. Há algum tempo já tinha se manifestado contra as eleições diretas para diretores de escola. Enquanto isto, os pedagogos, as universidades, os professores, os alunos e os círculos de pais e mestres não existem para o jornal Zero Hora. A Zero Hora já transcreveu a opinião do mega-empresário Gerdau, do economista Ioschpe, de Rosane de Oliveira e agora por ultimo de David Coimbra. Se seguir nesta trilha em breve leremos a opinião do responsável pela editoria de carros e motos, da página policial e por fim do editor do Caderno Donna. E os EDUCADORES?Pelo visto estes não existem no Rio Grande do Sul.

Enquanto isso em gaza...

alunos voltam às aulas e encontram cenário desolador


As crianças de Gaza voltaram nesta sexta-feira (23) às aulas e encontraram uma realidade de salas destruídas, carteiras quebradas, livros despedaçados e colegas que nunca mais verão. A volta às aulas não acontece após férias escolares, e sim depois do conflito mais violento vivido pela Faixa nos últimos 40 anos — e de cenas que as crianças demorarão bastante tempo para deixar para trás.


"Fiquei muito triste quando, esta manhã, voltei para a escola e descobri que minha amiga Cristina al-Torok foi assassinada durante o conflito", disse à Agência Efe Dona Matta, uma cristã palestina de 16 anos que voltou, pela primeira vez em um mês, ao colégio da Sagrada Família em Cidade de Gaza. Segundo a adolescente, apesar de os confrontos terem terminado, a "situação psicológica das pessoas é muito ruim, vamos precisar de tratamento por muito tempo".

"Pode-se ver as marcas das bombas nas paredes do colégio", afirma Mohammed Abu Jalala, de 15 anos. Na semana passada, 55 palestinos que haviam se refugiado na escola onde ele estuda, a Al-Fakhoura, morreram após um bombardeio israelense.

"É muito difícil para todos voltar a este cenário. Em minha sala, há quatro crianças que foram assassinadas, e mais dez de outras turmas estão feridas nos hospitais", diz Mohammed, que afirmou estar triste, irritado e "cheio de ódio contra Israel pelo que nos fez". "Ninguém perdoará Israel pelos crimes que cometeu contra nós", assegura.

Os alunos contam uns para os outros como passaram as últimas semanas, onde se refugiaram, as coisas terríveis que viram, como encontraram suas casas, os parentes que perderam, a ajuda que receberam ou não. A casa de Amal Baker, de 17 anos, fica ao lado do hospital de Shifa, o maior de Gaza, e os sons das ambulâncias, das bombas e dos aviões fizeram com que ficasse sem dormir direito durante quase um mês. "Estava morta de medo, não sabia se meus amigos sobreviveriam", explica.

Segundo o Ministério da Educação em Gaza, controlado pelo Hamas, cerca de 200 mil crianças voltaram às aulas, menos de uma semana após o fim das hostilidades. Mas foi preciso fazer um grande esforço para encontrar um lugar para acomodar todos. Das cerca de 400 escolas de Gaza, 35 foram destruídas pelas bombas israelenses e o mesmo número ainda está sendo usado como refúgio pelas mais de quatro mil famílias que perderam as casas.

Muitos alunos tiveram que ser mandados para outros colégios, que foram obrigados a abrir turnos noturnos e a juntar duas ou três turmas em uma só, com casos de até 120 estudantes em uma sala, para poder atender a todos. As autoridades educacionais e da agência da ONU para os refugiados palestinos (UNRWA) pediram aos colégios que dediquem esta primeira semana a dar apoio psicológico aos jovens para ajudá-los a se recuperar do trauma. Os professores foram instruídos a estimulá-los a falar sobre o que vivenciaram.

No entanto, o conflito não será facilmente esquecido por esses estudantes. Por três semanas, muitos ficaram trancados em casa, tendo como único contato com o mundo externo a televisão, o rádio e as ligações telefônicas aos parentes. Alguns precisaram fugir de casa e ir morar com conhecidos em uma área mais segura, ou acabaram nos refúgios da ONU. Quase todos vivenciaram a escassez de alimentos e cortes constantes de luz e água.

A maioria está feliz em voltar às aulas, em recuperar, pouco a pouco, sua vida, mas carrega consigo as más notícias e o cansaço de semanas de horror. Falta esperança nas palavras de Lara Abu Ramadan, uma adolescente de 17 anos do instituto Ahmed Shawqi. "Isto não foi o final. Israel continua existindo, Gaza continua existindo, e o cessar-fogo não vai acabar com o conflito. Só terminará quando houver um acordo de paz entre Israel e nós", afirmou.

Por outro lado, o movimento islâmico Hamas aproveitou a trégua para criticar recentes declarações do presidente americano, Barack Obama, nas quais pedia que o grupo aceitasse as condições do Quarteto para o Oriente Médio (Estados Unidos, União Europeia, ONU e Rússia), que incluem o abandono da luta armada e o reconhecimento de Israel. Em Gaza, o Hamas afirmou que Obama começou seu mandato "com um passo ruim".

"O apelo de Obama para aceitar as injustas condições do Quarteto é um passo ruim em direção à tradicional política americana, que é a razão do sofrimento dos palestinos", disse à Agência Efe o porta-voz do Hamas na Faixa, Fawzi Barhoum. "Obama deve apoiar a legitimidade da causa palestina, deter os crimes da ocupação (israelense) e reconhecer o direito dos palestinos à autodefesa", acrescentou Barhoum, para quem a postura do presidente americano "pode ser usada por Israel para prosseguir seu assassinato e cerco aos palestinos".

Khaled al-Batsh, líder do outro principal grupo armado palestino, a Jihad Islâmica, também criticou Obama. "A declaração de Obama não é para nós nenhuma surpresa, porque a política americana está controlada pelos grupos de pressão judeus”, afirmou Batsh. “A todos os que pensam que os Estados Unidos vão ajudar agora os palestinos, digo que estão enganados e perdem o tempo.”

Fonte: EFE

Créditos: vermelho

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Mensagem do sub-comandante Marcos...

“NÃO FAÇAMOS DE NOSSA FORÇA UMA FRAQUEZA”.


Hermann Bellinghausen. La Jornada,

San Cristóbal de las Casas, Chiapas.“Queremos dizer-lhes, pedir, que não façamos de nossa força uma fraqueza. O ser tantos e tão diferentes nos permitirá sobreviver à catástrofe que se aproxima e levantar algo novo. Queremos lhes pedir que este novo seja também diferente”. Foi com estas palavras que, ontem à noite, o Subcomandante Marcos resumiu a mensagem principal da delegação zapatista no encerramento do primeiro Festival da Digna Raiva.

“Vocês e nós temos visto e ouvido esta raiva acumulada”, afirmou perante os participantes que abarrotavam as salas da Universidade da Terra até a última sessão do evento.

“Não nos preocupa quem, ou como, ou com que vai se dirigir esta raiva. Não nos preocupa a velocidade do sonho. Temos aprendido a confiar nas pessoas. Não precisam de quem as dirija. Criam suas próprias estruturas para lutar a triunfar. Tomam em suas mãos seus próprios destinos, e o fazem melhor do que os governos impostos de fora”.

Por outro lado, “preocupa-nos o rumo e o destino”, disse. E que “o mundo que a nossa raiva vai parir se pareça com aquele no qual hoje sofremos”. Admitiu que o “EZLN teve a tentação da hegemonia e da homogeneidade”. Mas “os povos nos ensinaram que há muitos mundos e que o respeito mútuo é possível e necessário”. Na Outra Campanha “não nos propusemos a organizar e a dirigir o México inteiro”.

Ao tomar um conceito do pensador Jean Robert, declarou: “Reconhecemos nossos limites, nossas possibilidades, nossa ‘proporcionalidade’”. Pronunciou-se a favor “de fazer um trato entre nossas respectivas proporcionalidades, e que o país que sair disso, o mundo que se conseguir seja formado pelos sonhos de todos e de cada um dos espoliados”.

Na primeira parte de sua exposição, com o título “Alguns mortos dignos e raivosos”, Marcos respondeu, sem mencionar seus nomes, a questionamentos de Jesusa Rodríguez e Liliana Felipe publicados nesta segunda-feira no La Jornada: “Duas pessoas a quem queremos e respeitamos, talvez a seu pesar, nos perguntam de que serve ao movimento zapatista que Marcos desqualifique o movimento lopezobradorista. Que faço isso sempre que compareço na mídia, entre outras coisas, para insultar AMLO [Andrés Manoel López Obrador]. Bom, não estou na mídia, esse período já passou faz muito tempo”, assegurou, mas sim “ouvindo pessoas que lutam e pensam em vários cantos do planeta”.

Usou o tempo para explicar como o CCRI-CG do EZLN organiza o seu trabalho. Descreveu que os povos zapatistas integram regiões. Cada uma delas “tem uma estrutura organizativa, agora paralela à da autoridade autônoma” onde há “um comando coletivo organizativo”. Não militar, enfatizou.

Tzotziles, tzeltales, tojolabales, choles, zoques, mames e mestiços, “têm seus próprio problemas e ‘maneiras’ de enfrentá-los e resolvê-los”. O EZLN é “ponte de enlace entre as regiões”. Além disso, “cabe-lhe” representá-las diante do mundo externo.

Assim, “apesar de comandante de Los Altos, Hortênsia não fala com você sobre Los Altos, por sua voz fala a voz do EZLN”. O mesmo acontece com “qualquer um” do CCRI-CG. “Quando Marcos ou qualquer um de nós fala em público” não o faz “a título pessoal”.

Lembrou que em 2006, durante a caravana da Outra Campanha e “os dias mais detestáveis” da repressão em Atenco, “gritou-se contra nós e fomos agredido em atos públicos e reuniões por parte do movimento lopezobradorista. Se resistimos a 500 anos de tentativas de dominação e aniquilamento, 25 nas montanhas, 15 de assédio militar, não vemos porque não poderíamos resistir aos gritos histéricos, às calúnias, às mentiras, às desqualificações e aos vetos jornalísticos do ‘lopezobradorismo’”.

Os partidos políticos, disse, “podem dizer uma coisa e fazer o contrário”. Isso pode ser constatado “em qualquer lugar onde têm o poder”, pois “seu critério de congruência é outro. Para eles é a quantidade que podem mobilizar, sem se importar com os métodos”. Por outro lado, “nós pensamos que cada um deve tornar-se responsável do que diz e faz”. O EZLN “tem se responsabilizado sempre, e coloca a vida nisso”.

Convidou a que “nos digam quem entre nossos ‘aliados’ são perseguidores, discriminadores e assassinos de indígenas. Nós já lhes dissemos quem entre seus dirigentes e ‘aliados’ o são. Aqueles que perseguem, hostilizam e cortam a água a nossos companheiros zapatistas de Zinacantán pertencem à CND lopezobradorista”. Asseverou que “dentro e fora” de seu território “são simpatizantes de AMLO; claro, além do governo federal, estadual, municipal, dos meios de comunicação (agora todos), do exército, da polícia estadual, da AFI, do CISEN, da CIA e demais amigos que os acompanham”.

Marcos questionou de que serviu ao lopezobradorismo “aliar-se com os Nuñez, Montreal, Muñoz Ledo, Sabines, Albores, Kanter, Iruegas, os ex-funcionários indígenas de Fox e os que votaram contra os acordos de San Andrés”. Onde são governo “desalojam, expropriam, reprimem, exploram, discriminam, cortejam o poderoso e entregam riquezas naturais ao estrangeiro”.

De que serve ao movimento lopezobradorista, pergunta, “não ver nem ouvir os mortos que são de sua responsabilidade. Podem dizer que isso não é AMLO”. Apesar disso, afirmou, “um dirigente deve assumir a responsabilidade pelo que dizem e fazem ele e o seu movimento. E os integrantes de um movimento também”.

Xangai - Mutirão da Vida (1998)




download




Créditos: UmQueTenha
Comédia do poder



Breno Raigorodsky - correio da cidadania

A "Comédia do Poder" do Claude Chabrol, foi a última besteira que fiz no ano de 2008.

"Pare com isso, Breno" uma voz interna me dizia, "pare de alimentar idiossincrasias, o ano novo está chegando", insistia, enquanto eu chafurdava nas prateleiras da videolocadora no dia 30 de dezembro. "Dê-lhe mais uma oportunidade, ele era da turma do Truffau e do Godard, no Cahiers du Cinema, rodou 55 filmes em 50 anos de cinema...".

No verso da caixinha do vídeo vinha escrito que o filme relatava uma história real, de uma juíza francesa que tentou pegar um crime de Estado, onde a petrolífera ELF e o governo francês se envolvem nas maiores falcatruas com governos africanos. Dizia também que o filme tinha sido indicado para o Urso de Ouro do Festival de Berlim, além de ter como protagonista a ótima Isabelle Huppert, atual presidente do júri do Festival de Cannes 2009.

220109_comediadopoder.jpg

Tudo bem, vamos lá, se dei tantas oportunidades ao Eric Rhomer, com seu amadorismo assumido, porque não uma nova chance para o verborrágico Chabrol?

Assistido o filme, faço minhas as palavras de um tal de Alexandre de São Paulo, que escreveu para o Guia da Semana na época: "O tema ou o enredo seria maravilhoso... Se fosse conduzido de alguma outra forma; nesse caso foi exposto de forma muito artificial. O filme abordou o assunto de um modo muito superficial e sem emoção; não há investigação, suspense, dinamismo, nada; os fatos já vêm mastigados e apenas são jogados na tela. Por incrível que pareça, a única expectativa que fica no ar é saber se a juíza teria ou não um romance com o sobrinho. Quando o filme acabou fiquei sem ação na poltrona; não queria acreditar que havia acabado; depois de alguns minutos comecei a sentir uma decepção. Um filme muito fraco!".

O cara pegou um tema de esquerda e achou que bastava pronunciar uma série de frases feitas para que o filme se sustentasse?! Que nada, o filme não tem estrutura, seus personagens são construídos de qualquer jeito, a vida pessoal da juíza sugere um drama pessoal que não se aprofunda nem é levado a sério. No fim não consegue cumprir a função de todo filme ideológico, que é o de denunciar de modo a convencer os adversários daquela determinada tese. Fala apenas para quem se satisfaz com meia dúzia de refrões progressistas e genéricos, uma chatice.

É o inverso do que um cara como o Bertolucci conseguiu, num filme como "O Último Imperador". Cenário político em movimento, dramas sociais e psicológicos bem colocados, personagens bem construídos, fazendo – a partir de uma produção hollywoodiana – um filme que convence até quem jamais pensou no que é discutido, ou seja, a possibilidade de uma pessoa mudar seus hábitos, superar a sua formação, a partir de um exemplo extremo – um imperador criado para ser o representante de Deus na terra, transformado em humilde jardineiro, feliz(?) com sua nova vida, no mínimo apto a conviver com as questões que a sobrevivência coloca.

É o inverso do que tantos outros diretores conseguiram desde que o cinema de denúncia e reflexão política existe como arma de propaganda, para o bem e para o mal. Pois todos sabemos o quanto o cinema serviu para – por exemplo – demonizar "inimigos da pátria", especialmente em época de guerra, quando os japoneses nos filmes da década de 1940 pareciam sempre assassinos histéricos e os inimigos do James Bond pareciam sempre saídos diretamente do inferno.

Para o lado progressista, temos uma história longa de filmes bem sucedidos, principalmente fora dos EUA. Filmes como os italianos da década de 1970, tendo em primeiro lugar o filme de Eli Petri com o Gian Maria Volonté no papel principal; Batalha de Argel, do Gilo Pontecorvo; a Classe Operária Vai ao Paraíso e tantos outros mostraram vários caminhos para fazer do cinema um modo de expressão da arte engajada.

Se esta era a intenção do francês Chabrol, não chegou lá.

Breno Raigorodsky é filósofo pela USP, publicitário e professor de enogastronomia. "Ou seja, um sujeito sem foco", como se define.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Forum Social Mundial-2009-Belém do Pará

O Fórum Social Mundial e a crise da globalização

O fracasso do fundamentalismo de mercado amplia as tentações autoritárias e xenófobas — mas também abre novas oportunidades. Distribuição de renda, nova geopolítica internacional e regulação pública das finanças e reinvenção da democracia estão na agenda. Só será possível avançar propondo alternativas

Gustave Massiah - LeMonde-BR

O Fórum Social Mundial (FSM) de Belém abre um novo ciclo do movimento altermundialista. O FSM acontecerá na Amazônia, no coração da questão ecológica planetária, e deverá colocar a grande questão sobre as contradições entre a crise ecológica e a crise social. Será marcado ainda pelo novo movimento social a favor da cidadania na América Latina, pela aliança dos povos indígenas, das mulheres, dos operários, dos camponeses e dos sem-terra, da economia social e solidária.

Esse movimento cívico construiu novas relações entre o social e o político que desembocaram nos novos regimes e renovaram a compreensão do imperativo democrático.

Ele modificou a evolução do continente, mostrando a importância das grandes regiões na globalização e diante da crise de hegemonia dos Estados Unidos. O movimento altermundialista deverá também responder à nova situação mundial nascida da crise escancarada da fase neoliberal da globalização capitalista.

O movimento altermundialista em seus diferentes significados é portador de uma nova esperança nascida da recusa da fatalidade. É esse o sentido da afirmação “um outro mundo é possível”. Não vivemos nem “o fim da História” nem “o choque de civilizações”.

Ao longo dos fóruns, uma orientação estratégica se consolidou: a do acesso aos direitos fundamentais para todos. Trata-se da construção de uma alternativa à lógica dominante, ao ajustamento de todas as sociedades ao mercado mundial

A estratégia desse movimento se organiza em torno da convergência dos movimentos sociais e pela cidadania que enfatizam a solidariedade, as liberdades e a paz. No espaço do FSM, eles comparam suas lutas, práticas, reflexões e propostas. E constroem também uma nova cultura política, fundada na diversidade, nas atividades autogeridas, na partilha, na “horizontalidade” em vez da hierarquia.

Ao longo dos fóruns, uma orientação estratégica se consolidou: a do acesso aos direitos fundamentais para todos. Trata-se da construção de uma alternativa à lógica dominante, ao ajustamento de todas as sociedades ao mercado mundial por meio da regulação pelo mercado mundial de capitais.

À evidência imposta, que presume que a única forma aceitável de organização de uma sociedade é a regulação pelo mercado, podemos opor a proposta de organizar as sociedades e o mundo a partir do acesso para todos aos direitos fundamentais. Essa orientação comum ganha sentido com a convergência dos movimentos e se traduz por uma nova cultura da transformação que se lê na evolução de cada um dos movimentos.

Os debates em curso no movimento enfatizam a questão estratégica. Ela põe em relevo o problema do poder, que remete ao debate sobre o Estado, e atravessa a questão dos partidos e do modelo de transformação social, assim como dos caminhos do desenvolvimento.

O movimento altermundialista não se resume aos Fóruns Sociais, mas o processo dos fóruns ocupa de fato uma posição especial.

O movimento altermundialista não deixa de expandir e de se aprofundar. Com a expansão geográfica, social, temática, viu sua força aumentar consideravelmente em menos de dez anos. No entanto, nada está ganho, mesmo que a crise em muitos aspectos confirme várias de suas análises e justifique seu chamado à resistência.

Do ponto de vista ideológico, a crise do neoliberalismo está fortemente ligada ao aumento da força do altermundialismo, que evidenciou as contradições internas ao sistema. Mas vários cenários são possíveis a médio prazo

O movimento altermundialista é histórico e prolonga e renova os três movimentos históricos precedentes: o da descolonização – o altermundialismo modificou em profundidade as representações norte-sul em proveito de um projeto mundial comum; o das lutas operárias – desse ponto de vista, está comprometido com a mudança rumo a um movimento social e pela cidadania mundial; e o das lutas pela democracia a partir dos anos 1960-1970 – é um movimento pela renovação do imperativo democrático após a implosão dos Estados soviéticos em 1989 e as regressões representadas pelas ideologias e doutrinas de segurança/militaristas/disciplinares/paranóicas. A descolonização, as lutas sociais, o imperativo democrático e as liberdades constituem a cultura de referência histórica do movimento altermundialista.

O movimento altermundialista se vê diante da crise da globalização capitalista em sua fase neoliberal. Essa crise não é uma surpresa para o movimento; ela estava prevista e era anunciada há muito tempo.

Três grandes questões determinam a evolução da situação em escala mundial e marcam os diferentes níveis de transformação social (mundial, por região, nacional e local): a crise ecológica mundial, que se tornou patente, a crise do neoliberalismo e a crise geopolítica com o fim da hegemonia dos Estados Unidos.

A crise de hegemonia norte-americana aprofunda-se rapidamente. A evolução das grandes regiões se diferencia: as respostas de cada uma à crise de hegemonia norte-americana são muito diferentes. A luta contra a pretensa guerra entre civilizações e contra a tão real guerra sem-fim constitui uma das prioridades do movimento altermundialista.

A fase neoliberal parece ofegante. A nova crise financeira é particularmente grave. Não é a primeira crise financeira deste período (outras ocorreram no México, Brasil, Argentina etc.) nem é suficiente para sozinha caracterizar o esgotamento do neoliberalismo.

A consequência das diferentes crises é mais singular. A crise financeira aumenta as incertezas a respeito dos rearranjos monetários. A crise imobiliária nos Estados Unidos revela o papel que o superendividamento exerce, bem como suas limitações como motor do crescimento. A crise energética e a climática revelam os limites do ecossistema planetário. A crise alimentar, de gravidade excepcional, pode pôr em xeque os equilíbrios mais fundamentais.

O aprofundamento das desigualdades e das discriminações, em cada sociedade e entre os países, atinge um nível crítico e repercute na intensificação dos conflitos e das guerras e na crise de valores.

Os riscos de guerra são também uma saída clássica para as grandes crises. Não esqueçamos que o mundo já está em guerra e que cerca de 1 bilhão de pessoas vivem em regiões em guerra. Os conflitos são permanentes e a desestabilização é sistemática

As instituições responsáveis pela regulação do sistema econômico internacional (FMI, Banco Mundial, OMC) perderam a legitimidade. O G8 se reuniu para resolver os problemas do planeta. Mesmo remodelado como G20, com alguns países de peso a mais, não tem legitimidade para fazê-lo. Somente as Nações Unidas e sua Assembleia Geral, apesar de suas limitações, podem falar em nome de todos. O G20 não tem solução porque ele é o problema, na medida em que são esses países que têm a maior parte da responsabilidade pela crise atual. Para os povos e as sociedades, é hora de se fazer ouvir.

A incerteza pesa sobre o tempo e os horizontes da crise. É provável que um novo ciclo caracterize os 25 ou 40 próximos anos. A crise do neoliberalismo, do ponto de vista ideológico, está fortemente ligada ao aumento da força do altermundialismo, que evidenciou as contradições internas ao sistema. No entanto, a crise do neoliberalismo não significa seu desaparecimento irremediável. Além do mais, o movimento altermundialista não é único movimento antissistema. Outros movimentos de reintegração também podem contestar a corrente dominante. Vários cenários são possíveis a médio prazo, com numerosas variantes: um neoliberalismo reconfortado, uma dominante neoconservadora, uma variante neokeynesiana. Uma saída altermundialista é bem pouco provável a curto prazo, pois as condições políticas não foram ainda preenchidas; mas uma maior força do movimento altermundialista pesará sobre as escolhas possíveis.

É nos próximos cinco a dez anos que a nova racionalidade econômica se formalizará, assim como o neoliberalismo se impôs, a partir de tendências existentes, entre 1979 e 1985. Fica então a discussão sobre a sequência desse ciclo no futuro.

Immanuel Wallerstein trabalha com a hipótese de um retorno do ciclo secular, e mesmo multissecular, colocando para os próximos 30 ou 40 anos a questão histórica sobre a superação do capitalismo e criando assim uma nova perspectiva para o altermundialismo.

O ideograma chinês que representa a palavra “crise”, muito antigo e venerável, associa dois signos, contraditórios como é de esperar de toda boa dialética: o dos perigos e o das oportunidades.

O primeiro perigo se relaciona à pobreza e permite entrever profundas contradições por vir. A saída da crise consiste em fazer com que os pobres e, sobretudo, os discriminados e os colonizados paguem por ela. Trata-se também de espremer as camadas intermediárias. E, caso isso não funcione, fazer com que certas classes ricas também paguem a conta.

Para que tais políticas sejam “aceitas”, será preciso muita repressão, muita criminalização dos movimentos sociais, punição da solidariedade, propagação da ideologia da segurança, instrumentalização do terrorismo, que explora o medo para espalhar mecanismos de segurança e de disciplina, muita agitação racista, islamofóbica e nacionalista, muita criação de bodes expiatórios, exploração de migrantes e de ciganos.

Para além dos perigos, quatro oportunidades foram abertas pela crise. Já é possível falar em nova regulação pública, redistribuição de riquezas, menor desequilíbrio entre Norte e Sul e reinvenção da democracia

Essa evolução fará com que certas regiões rumem para regimes autoritários e repressivos, e mesmo para fascismos e populismos de contornos fascistas. Os riscos de guerra são também uma saída clássica para as grandes crises. Não esqueçamos que o mundo já está em guerra e que cerca de 1 bilhão de pessoas vivem em regiões em guerra. Os conflitos são permanentes e a desestabilização é sistemática.

As formas de guerra mudaram com a militarização das sociedades, o apartheid global, a guerra dos fortes contra os fracos, a banalização da tortura.

Pode-se lutar contra esses perigos pela resistência, pelas alianças e pelas coalizões em favor das liberdades, da democracia e da paz.

Para além dos perigos, que são mais conhecidos, quatro oportunidades foram abertas pela crise.

1. A derrota ideológica do neoliberalismo favorece a ascensão em termos de força das políticas de regulação pública.

2. A redistribuição das riquezas traz novamente a possibilidade de retorno ao mercado interno, à estabilidade de salários e à garantia das rendas e da proteção social, a uma nova ampliação dos serviços públicos.

3. O reequilíbrio entre norte e sul abre uma nova fase da descolonização e uma nova geopolítica do mundo. E é acompanhado por uma nova urbanização e por ondas migratórias que são as novas formas de povoamento do planeta.

4. A crise do modelo político de representação torna incontornável a ampliação da democracia social e o reforço da democracia representativa pela democracia participativa.

Entre 30 e 50 países emergentes – dos quais os três mais dinâmicos são Brasil, Índia e China – trazem a potencialidade de defender em conjunto seus pontos de vista e interesses. Não se trata de um mundo multipolar, mas da possibilidade de um novo sistema geopolítico internacional. As consequências poderiam ser consideráveis, notadamente para os termos de troca internacional e para as características das migrações.

Existem duas condições para essa evolução, que não se realizará sem algumas confusões. A primeira é que os países emergentes sejam capazes de mudar seu modelo de crescimento privilegiando o mercado interno e o consumo das camadas populares e classes médias, em detrimento das exportações. Essa desconexão é possível. A segunda é que os países emergentes construam alianças com os países do sul.

A primeira fase da descolonização fracassou, em grande parte, quando os países produtores de petróleo, após o choque de 1977, permitiram a divisão entre os países do sul. Essa condição permitiu ao G7, apoiado pelo FMI e pelo Banco Mundial, impor os ajustes estruturais.

Uma experiência neokeynesiana poderia se traduzir em reabilitação dos sistemas de proteção social e estabilidade salarial. Os pisos salariais, progressivamente elevados, seriam motor do crescimento. Mas há duas condições para tanto

A redistribuição de riquezas, necessária em razão da lógica do neoliberalismo e de seus excessos, abre espaço para uma tentação neokeynesiana. Ela consolida a tendência a reabilitar o mercado interno em escala nacional e estimula a integração regional.

Essa tentação neokeynesiana poderia se traduzir em uma reabilitação dos sistemas de proteção social e de uma estabilidade salarial. Os pisos salariais e sua progressão reencontrariam seu papel como motor do crescimento, no lugar do superendividamento que a crise dos subprimes revelou. O acesso universal a direitos, do qual os Objetivos de Desenvolvimento para o Milênio são um pálido sucedâneo, conquistaria de novo sua importância na agenda mundial. Existem duas condições para que se realize essa hipótese (que não deve ser confundida com a ideia de um simples retorno ao modelo keynesiano de antes do neoliberalismo).

A primeira é a necessidade de dar uma resposta aos limites ecológicos que tornam perigoso um prolongamento do produtivismo. A contradição entre o ecológico e o social tornou-se determinante, e sua superação é primordial. A segunda é a necessidade de uma regulação aberta em escala mundial, em comparação com a regulação nacional preconizada pelo sistema de Bretton Woods dos anos 1960.

O maior poder da regulação pública completará a derrota ideológica do neoliberalismo. O neoliberalismo permanece predominante, mas a ideologia neoliberal sofreu uma derrota lancinante, cuja recuperação será difícil. As nacionalizações ditas temporárias, até que se saia da crise, dificilmente poderão ser revertidas.

Os fundos soberanos já tinham aberto a via das intervenções inesperadas dos Estados em escala global. A análise e o questionamento das privatizações, até então pedidas sem qualquer sucesso, reservarão certamente algumas surpresas. A nova racionalidade dificilmente poderá continuar a submeter completamente a regulação aos mercados e a confundir o privado com os capitais e seus mercados.

Se o capitalismo não é eterno, a questão de sua superação pode ser atualizada. E poderíamos começar desde já a reivindicar e a construir um outro mundo possível

O retorno da regulação pública poderia tomar outro aspecto, distinto da estatização clássica, e combinar socialização e controle democrático. As diferentes formas de propriedade social e coletiva poderiam encontrar uma nova legitimidade. As nacionalizações poderiam adaptar-se à construção de novos blocos e comunidades regionais. A renovação dos modelos de poder e de representação deveria estar no centro das recomposições econômicas e sociais. É provável que a reconstrução do elo social encontre novas alternativas às formas jurídicas da democracia imposta de cima para baixo.

A democracia continuaria como uma referência, mas as determinantes poderiam mudar. Os sistemas institucionais e eleitorais dificilmente poderiam ser considerados como independentes das situações sociais.

As reivindicações poderiam dar maior relevo às liberdades individuais e coletivas e às respectivas garantias. O acesso aos direitos individuais e coletivos para todos poderia fundar uma democracia social sem a qual a democracia política perderia muito de seus atrativos.

As formas de articulação entre a democracia participativa e a democracia representativa, e sua ligação primordial com a democracia social, poderiam progredir e se diversificar.

Outros desdobramentos, já iniciados, deverão ganhar mais importância. As coletividades locais expandirão seu papel como poderes e instituições locais.

A aliança estratégica entre as coletividades locais e os movimentos associativos estará na base dos territórios e do reconhecimento da cidadania a migrantes.

Evidenciando o potencial trazido pelas resistências e pelas práticas atuais, o altermundialismo oferece uma perspectiva à saída da crise atual em seus diferentes aspectos.

Ele permite fundar, contra os conservadorismos autoritários e repressivos, coalizões pelas liberdades e pela democracia. Dá condições para o combate da possível aliança entre neoliberais e neokeynesianos, ao provocar as resistências e as reivindicações pela modernização social. Permite pressionar o neokeynesianismo até seus limites. E permite o esboço das alternativas que caracterizarão um outro mundo possível.

Mas é preciso ir além. Afinal, se o capitalismo não é eterno, a questão de sua superação pode ser atualizada. E poderíamos começar desde já a reivindicar e a construir um outro mundo possível.


MST, a luta continua...

25 anos de luta: partidos, artistas e lideranças saúdam MST


É grande a lista de mensagens divulgadas na página do MST em saudação aos 25 anos do movimento. Entre as mais diversas personalidades, figuram presidentes dos partidos PCdoB, PT, PSTU, PSol, PPS, PCB, entre outros. Também os artistas Eduardo Galeano, Augusto Boal, Leci Brandão, Lucélia Santos, Osmar Prado e Paulo Betti enviaram textos de estímulo e reconhecimento ao movimento fundado entre 20 e 22 de janeiro de 1984.


Conheça abaixo algumas das mensagens enviadas ao MST:

A questão agrária no Brasil — onde se apresenta um forte predomínio do monopólio da terra, de grandes áreas improdutivas e com a presença de gigantescas empresas monopolistas nacionais e estrangeiras — sobre os quais se desenvolveu o capitalismo no campo, é muito importante o papel que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra, nestes seus 25 anos de atividade desenvolveu e desenvolve, no sentido da mobilização dos que na terra queiram trabalhar. Ao lado dessa ação permanente, o MST também se destaca no caminho da unificação dos movimentos sociais no país e em toda a América Latina, pela soberania nacional, pela Reforma Agrária por uma verdadeira alternativa civilizacional avançada em nossa terra.

Renato Rabelo, presidente do Partido Comunista do Brasil

O MST desempenhou um papel de grande relevância nesses 25 anos, ao chamar a atenção para a questão da reforma agrária e organizar a luta pelo acesso à terra. Com os movimentos populares em geral, participou ativamente da reconstrução da democracia brasileira, tarefa ainda em curso que exige sempre a unidade na diversidade daqueles que lutam por um país justo e democrático. Parabéns pelos 25 anos.

Ricardo Berzoini – presidente do PT

O MST é o mais profundo e, por isso, o mais importante movimento social brasileiro. Apoiá-lo em todas as suas frentes de luta é lutar pela transformação de nosso país em uma sociedade menos perversa e menos excludentes. Este é o dever de todo socialista e de todo democrata.

Roberto Amaral é escritor, vice-presidente nacional do Partido Socialista Brasileiro e ex-Ministro da Ciência e Tecnologia

O MST é o movimento social mais importante do Brasil. Se a reforma agrária está lenta, estaria praticamente parada se não fosse o MST. Valorizamos as formas de luta e a maneira de o MST se organizar, necessárias, diante da intolerância e da agressividade dos latifundiários, protegidos pelo estado burguês. O MST, de uns anos para cá, deu um grande salto de qualidade, quando passou a participar das lutas democráticas, populares e antimperialistas e por um mundo sem explorados.

Ivan Martins Pinheiro - secretário geral do PCB

O aniversário do MST marca uma data histórica para a luta de todos os movimentos sociais. Foram 25 anos de enfrentamento, de coragem e de combatividade, mantendo acesa a chama da organização dos trabalhadores. Desde sua origem, o movimento trava batalhas na construção de um Brasil mais justo e, neste percurso, conquistou o reconhecimento dos campesinos como sujeitos históricos, assim como transformou a luta pela reforma agrária numa luta nacional, que deve ser inserida num programa democrático e popular para o nosso país. Que o exemplo do MST siga vivo, inspirando cada um de nós na defesa do socialismo."

Ivan Valente - Deputado Federal PSOL/SP

O MST completa 25 anos de vida e de luta como um dos movimentos sociais mais importantes do nosso país. Foi o movimento que colocou e mantém a luta pela reforma agrária na agenda do país, dentro de uma perspectiva transformadora da sociedade brasileira. Isso não é pouco. E não é outra a razão pela qual o movimento tem sido vitima de tanta perseguição do latifúndio e dos governos. Mas é também a razão pela qual o MST é um parceiro privilegiado de todos e todas que, neste país, lutam pelo fim da exploração e da opressão que afligem a vida da classe trabalhadora. Parabéns ao MST pelos 25 anos de vida e de luta. Vida longa ao MST!

José Maria de Almeida - Coordenação Nacional da Conlutas e do PSTU

Para nós que defendemos o socialismo, a reforma agrária é uma necessidade. Poderia ser uma necessidade, também, para os que defendem o capitalismo. Mas o capitalismo no Brasil se desenvolveu de maneira dependente, altamente concentrada e politicamente conservadora. Para este tipo de capitalismo, a reforma agrária é um problema, não uma solução. No Brasil, a reforma agrária ou será uma conquista da luta dos trabalhadores e de toda a esquerda, ou não será. É por isto que o MST é tão importante, uma organização que deve ser apoiada, defendida e protegida pelo conjunto da esquerda brasileira. Só não digo "vida longa ao MST", porque espero que antes cedo do que tarde consigamos viabilizar seu principal objetivo histórico, que é a reforma agrária no Brasil.

Valter Pomar, secretário de relações internacionais do PT

Eu suplico aos deuses e aos demônios que protejam o Movimento Sem Terra e a toda sua linda gente que comete a loucura de querer trabalhar, neste mundo onde o trabalho merece castigo. (yo suplico a los dioses y a los diablos que protejan al movimiento sin tierra, y a toda su linda gente que comete la locura de querer trabajar, en este mundo donde el trabajo merece castigo).

Eduardo Galeano – escritor

O MST é a mais democrática organização social que o Brasil tem ou que já teve. Não esquece as necessidades individuais de cada um dos seus integrantes como costumam fazer as organizações políticas e é capaz de conjugá-las com as necessidades mais amplas da luta pela terra. Não só da luta pela terra, mas da luta pela emancipação do Brasil. Não só do Brasil como nação, mas dos brasileiros como gente.

Augusto Boal - diretor artístico do Centro do Teatro do Oprimido do Rio de Janeiro

Eu tenho muito prazer em poder parabenizar o MST pela passagem dos seus 25 anos de existência e afirmar que me sinto privilegiada por ter participado de um CD realizado pelo MST em que eu cantei uma música falando sobre a importância da educação e da liberdade. E quero dizer também que a contribuição do Movimento Sem Terra é importantíssima. A contribuição e conscientização que o MST deu para o brasileiro para que isso acontecesse foi fundamental, porque o MST nunca deixou de estar presente nas principais lutas sociais do nosso país, da nossa nação. Por isso, eu me sinto orgulhosa de ter podido participar de vários eventos do movimento sem-terra e dizer que espero que continuem com essa luta, com essa consciência política e que nunca se deixem ser submetidos por oligarquias, por classes dominantes de forma alguma. Se chegamos onde chegamos, o MST também é responsável por isso. Parabéns a todos vocês!

Leci Brandão - sambista

Eu gostaria de parabenizar o MST pelos 25 anos da sua atividade e dizer que esse movimentos tem sido muito importante pro Brasil na questão agrária e na questão social e eu espero que vocês tenham muita saúde, muita paz e muitas realizações nesse ano de 2009.

Lucélia Santos - atriz

Tenho uma grande simpatia e admiração pelo MST. É necessário que haja um movimento organizado de defesa de interesses populares. Evidentemente, o MST visa fundamentalmente a questão da reforma agrária no país, necessária doa a quem doer. É necessário que se reveja a questão agrária no país, até porque a própria colonização portuguesa e a maneira como se distribuiu terras nesse país, desde a colonização, é absurda. É necessário esses movimentos e, paralelamente a isso, o MST estendeu a sua rede para ensino, escolas, como a Escola Florestan Fernandes, de formação cultural e de dar apoio às pessoas que não têm acesso a educação como deveria ser. É um movimento de coragem e de resistência, que a imprensa de um modo geral conservadora sataniza. E chegar como movimento organizado a 25 anos de existência não deixa de ser um grande ato de heroísmo, uma grande vitória.

Osmar Prado - ator

Quero cumprimentar o MST nesta data em que ele comemora os seus 25 anos. Acho que o MST é uma das coisas mais importantes que aconteceram na história recente do Brasil. Acho que o MST teve, tem e terá uma função muito importante na democratização e na distribuição da terra no Brasil. Desejo vida longa ao MST! Desejo muita sorte em seus projetos, muita luta e melhorias para o povo brasileiro que virão através da luta do MST! Um abraço à todos. Parabéns MST pelos seus 25 anos. Parabéns pela importante luta que desenvolve no Brasil e boa sorte.

Paulo Betti - ator

Leia também:
- Encontro Nacional do MST discute efeitos da crise no Brasil


MST