quarta-feira, 13 de junho de 2007

DOIS MILHÕES DE PALESTINOS EM SITUAÇÃO INSUSTENTÁVEL APÓS 40 ANOS DE OCUPAÇÃO.


Yasmina Jiménez, El Mundo/Rebelión

Khaled Daud Faquih, um bebê palestino de seis meses, morreu no último dia 8 de março num posto de controle israelense quando seus pais tentavam levá-lo ao hospital de Ramallah para que fosse atendido por problemas respiratórios. Morreu a dez minutos do hospital diante da impotência de seus pais e da tranqüilidade dos soldados israelenses. Perto de completar 40 anos de ocupação de Israel na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, Anistia Internacional pede às autoridades israelenses que ponham fim a esta constante violação dos direitos humanos.

Os abusos generalizados contra os direitos têm se transformado em mais uma rotina na vida diária dos palestinos. No informe de Anistia, "Suportando a ocupação, a população palestina sob estado de sítio na Cisjordânia", a organização denuncia os efeitos devastadores de quatro décadas de ocupação israelense. "Dois milhões de pessoas vivem em estado de sítio quando se completam 40 anos de ocupação", garante Estevão Beltran, diretor de Anistia Internacional na Espanha.

A história de Khaled não é um caso isolado. Complicações médicas, partos e mortes nos postos de controle, horas de espera para ir ao trabalho ou ao colégio, demolições de casas e lojas são algumas das situações vivenciadas pelos palestinos "pelo fato de serem palestinos". Todos os dias, centenas de controles e bloqueios forçam a população árabe a dar longas voltas em nome da segurança israelense. Contudo, a finalidade destas medidas é somente a de "restringir ou impedir a circulação de palestinos entre cidades e povoados, dividir e isolar as comunidades palestinas, porque os controles estão no interior da Cisjordânia, não entre Israel e a Cisjordânia", explica Anistia.

O texto da organização documenta a expansão incessante dos assentamentos ilegais dos colonos israelenses nos territórios ocupados que priva a população palestina de recursos essenciais, como a água. "A ocupação israelense é militar e civil porque se trata de uma ocupação permanente e não provisória, como foi o caso do Kuwait ou do Iraque, agora, por parte dos EUA", explica Lucia Pizarro, coordenadora internacional do Comitê Israelense contra as Demolições de Casas (ICAHD, pela sigla em inglês).

Impunidade para os colonos israelenses.

"As restrições sofridas pelos árabes são ilegais, desproporcionadas, discriminatórias e violam o direito à liberdade de circulação", afirma o informe. As proibições nos territórios palestinos só beneficiam os colonos israelenses que contam com suas próprias estradas, ajudas econômicas e todos os benefícios proporcionados pelo governo para garantir a permanência de civis entre o "inimigo".

Cerca de 450.000 colonos israelenses vivem em assentamentos ilegais violando resoluções da ONU e demonstrando que a ocupação de Israel na Palestina será permanente. Além disso, os colonos contam com uma vantagem atroz: podem atacar e destruir impunemente as propriedades dos palestinos, sem temer a ação da justiça que, acima de tudo, os protege.

Mas, o dano maior imposto ao povo palestino é a construção de um muro de 700 quilômetros que deixará mais de 60.000 palestinos à mercê de uma cerca construída dentro de suas terras com o propósito de separar cidades, povoados, comunidades e famílias palestinas. Haverá agricultores que não poderão ter acesso a suas roças, nem estudantes a seus colégios, nem doentes aos hospitais.

O afastamento do muro é garantido por mensagens, em hebraico, árabe e inglês, colocadas ao longo de toda a cerca e onde se adverte: "Perigo de morte Zona militar: qualquer pessoa que tente pular ou provocar danos ao muro colocará sua vida em perigo". A prova de que esta advertência é real a teve a família de uma adolescente palestina de 14 anos que foi abatida a tiros por soldados israelenses quando brincava perto do muro com uma amiga de 12 em dezembro passado.

Um organismo internacional.

Clara Cordero, especialista em Israel e territórios ocupados de Anistia Internacional, expôs as demandas da organização para melhorar o quanto antes esta situação que tem colocado os palestinos em seu pior momento desde 1967. Os árabes dependem de uma ajuda internacional que também está sujeita a restrições, a economia tem sido profundamente atingida e os estragos das proibições começam a se materializar em forma de desnutrição crônica ou anemia, entre outras enfermidades.

Cordero tem reivindicado ao Governo de Israel que "ponha fim ao impedimento da liberdade de circulação de pessoas e mercadorias, que interrompa a construção do muro e os assentamentos ilegais de colonos, a destruição de casas palestinas e garanta a proteção dos civis".

Anistia tem insistido, sobretudo, num pedido que, há anos, vem apresentando à comunidade internacional: "O estabelecimento de um organismo internacional que vigie o cumprimento dos direitos humanos em Israel e nos territórios ocupados". A organização se pergunta se os palestinos terão que esperar outros 40 anos antes que o mundo reaja e dirija o olhar aos territórios ocupados.

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