quinta-feira, 5 de junho de 2008

Muito além do diploma


Manuela Azenha

“Muita gente com educação formal já fez muito desastre”.


Foi assim que Oded Grajew, fundador do Movimento Nossa São Paulo, presidente do instituto Ethos e um dos idealizadores do Fórum Social de Porto Alegre deu início ao debate sobre o papel da educação na sustentabilidade, durante a Conferência Internacional 2008 – Empresas e Responsabilidade Social, que foi realizada entre os dias 26 e 30 de maio em São Paulo.

Também participaram da reunião Oscar Motomura, presidente da Amana Key, Mario Monzoni, coordenador do Centro de Sustentabilidade na Fundação Getúlio Vargas e Jane Nelson, diretora do Centro de Iniciativa para a Responsabilidade Social Empresarial da Universidade de Harvard.

A discussão procurou ir além do consenso de que a educação é uma ferramenta necessária para interferir e melhorar a realidade. O enfoque foi dado ao tipo e à qualidade da educação dada.

Segundo Motomura, a causa para o desleixo ambiental dos brasileiros é justamente o analfabetismo nesse setor. Saindo do conceito tradicional de alfabetização, Motomura alega que a ignorância e a excessiva fragmentação do pensamento impedem o indivíduo de enxergar a sua relação com os outros e com o meio ambiente. A educação formal é imprescindível não só para as crianças, mas também para os líderes políticos, muitos deles analfabetos em setores como a sustentabilidade.

Tanto Motomura quanto Jane Nelson enfatizaram importância da educação para além das salas de aula. Incentivaram o ensino criativo, não tradicional, do aprendizado adquirido pelas convivências e experiências de vida. Para Nelson, o modelo de educação seria multidisciplinar e incentivaria o que ela chama de 4 “c”s: cooperação, cidadania, comunidade e competição.

O papel da educação seria criar a cultura sustentável e incitar o comportamento consciente. Segundo o professor Monzoni, “a demanda que faz a procura e não o contrário”, se referindo ao curso de meio ambiente no qual leciona. Motomura comentou que acredita existirem milhares de gênios que carecem de uma orientação. Profissionais muito capazes dedicados a questões menores no emprego.

“Como acabar com a pobreza sem destruir o ecossistema?” A pergunta foi feita pelo presidente da empresa Interfaces numa palestra anterior da conferência e apresentada por Nelson como um interessante desafio a ser encarado. De fato, já foi dito que caso os mais de dois bilhões de chineses e indianos tivessem todos poder de consumo igual ao dos norte-americanos, por exemplo, o meio ambiente pagaria um preço alto. Por isso a questão discutida passou a ser a transformação social através da educação, e não apenas assegurar o direito de todos à escola.


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