por Igor Felippe Santos
O
Brasil bateu recorde na utilização de agrotóxicos no ano passado. Mais
de um bilhão de litros de venenos foram jogados nas lavouras, de acordo
com dados do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Defesa
Agrícola. Com a aplicação exagerada de produtos químicos nas lavouras no
país, o uso de agrotóxicos está deixando de ser uma questão relacionada
especificamente à produção agrícola e se transforma em um problema de
saúde pública e de preservação da natureza.
De acordo com dados divulgados em novembro de 2009 pelo Censo
Agropecuário 2006 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), houve, em 2006, pelo menos 25.008 casos de intoxicação de
agricultores. Os dados também indicam que herbicidas, fungicidas e
inseticidas foram usados em mais de um milhão de fazendas.
O pesquisador da Fiocruz, médico e professor da Universidade Federal
do Mato Grosso (UFMT), Wanderlei Antonio Pignati, responsabiliza o
agronegócio por essa expansão desenfreada. Para ele, “é preciso discutir
o modelo de produção agrícola que está aí. É um modelo insustentável”.
As transnacionais da agricultura vem concentrando a terra e utilizando
uma grande quantidade de agrotóxicos para garantir a produção em escala
industrial. Também prometiam diminuir a utilização com os transgênicos,
mas com a sua aprovação de diversas variedades só aumenta o uso dessas
substâncias químicas.
Pignati explica que “as sementes das grandes indústrias são
dependentes de agrotóxicos e fertilizantes químicos. As indústrias não
fazem sementes livres desses produtos, porque são produtores tanto das
sementes como dos agrotóxicos. Criam sementes dependentes de
agrotóxicos”. Ele realizou estudos sobre os impactos dos agrotóxicos no
Mato Grosso, demonstrando que nas regiões com maior utilização de
agrotóxicos é maior a incidência de problemas de saúde agudos e
crônicos.
Os trabalhadores das fazendas que aplicam os agrotóxicos, seus
familiares que vivem nas áreas pulverizadas, a população das cidades
vizinhas e os consumidores de alimentos são os principais prejudicados
pela utilização excessiva de venenos. Determinados agrotóxicos causam
distúrbios neurológicos, respiratórios, cardíacos, pulmonares e no
sistema endócrino, ou seja, na produção de hormônios, principalmente nas
pessoas que trabalham diretamente na aplicação dessas substâncias.
Além disso, causam um desequilíbrio no ecossistema, com a
contaminação dos poços artesianos de água potável, dos córregos, rios e
lagoas, da água de chuva e do ar, além da própria produção que será
comercializada.
O Brasil também é o principal destino de agrotóxicos banidos no
exterior. Pelo menos dez produtos proibidos na União Europeia (UE) e
Estados Unidos são liberados nas lavouras brasileiras, de acordo com a
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Os agrotóxicos ocupam
o quarto lugar no ranking de intoxicações. Ficam atrás apenas dos
medicamentos, acidentes com animais peçonhentos e produtos de limpeza.
Houve registro de 6.260 casos provocados por agrotóxicos em 2007.
Laboratórios demonstram o risco de algumas substâncias provocarem
problemas agudos e crônicos (veja abaixo).
Alimentos com resíduos tóxicos
Uma análise da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária ), realizada desde 2001, chamada Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (Para), acompanha os níveis de resíduos de agrotóxicos nos alimentos consumidos pela população acima do permitido por lei. Os dados impressionam: no pimentão, foram encontrados até 64,36% de resíduos de substância tóxicas acima do permitido; 36,05%, no morango; 32,67%, na uva; 30,39%, na cenoura; 19,8%, no alface; e 17%31%, no mamão.
Uma análise da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária ), realizada desde 2001, chamada Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (Para), acompanha os níveis de resíduos de agrotóxicos nos alimentos consumidos pela população acima do permitido por lei. Os dados impressionam: no pimentão, foram encontrados até 64,36% de resíduos de substância tóxicas acima do permitido; 36,05%, no morango; 32,67%, na uva; 30,39%, na cenoura; 19,8%, no alface; e 17%31%, no mamão.
Para o professor Wanderlei Antonio Pignati, “a tendência é aumentar a
utilização de agrotóxicos. Por isso, é preciso uma política mais
contundente do governo, dos movimentos de agroecologia e da sociedade,
que cada vez mais consome agrotóxicos”. Nesse quadro, o MST pretende
fazer uma campanha nacional para denunciar os efeitos nocivos dos
agrotóxicos, ao lado de cientistas, pesquisadores, organizações
ambientalistas, movimentos populares, centrais sindicais e entidades
ligadas à educação.
Nesse período, é importante também questionar os candidados em
relação às propostas para o controle dos agrotóxicos. Até agora, apenas
José Serra (PSDB) se pronunciou sobre o assunto: propôs a criação do
“defensivo agrícola genérico”. Com o apoio à utilização dessas
substâncias químicas, que contaminam os alimentos e o ambiente, Serra
quer criar doenças crônicas e agudas genéricas…
O modo de produção do agronegócio, além de aumentar a concentração de
terra e expulsar famílias do campo, sustenta a sua produção na
utilização de agrotóxicos em escala industrial. Precisamos de um novo
modelo de produção agrícola, baseado em pequenas propriedades,
organizadas em agroindústrias gerenciadas por cooperativas de
trabalhadores rurais, para garantir a produção de alimentos saudáveis e
de qualidade para a população brasileira.
Doenças causadas por agrotóxicos
Saiba algumas das doenças agudas e crônicas causadas pelos venenos nos trabalhadores, suas famílias, populações que moram perto das fazendas e consumidores em geral:
Saiba algumas das doenças agudas e crônicas causadas pelos venenos nos trabalhadores, suas famílias, populações que moram perto das fazendas e consumidores em geral:
Má formação fetal
Dor de cabeça
Diarréia
Vômitos
Desmaios
Náuseas
Problemas de rim
Doenças de pele
Irritação ocular e auditiva
Depressão
Lesão neurológica
Neurite da coluna neurológica cervical
Câncer
Problemas hormonais, neurológicos e reprodutivos
Dor de cabeça
Diarréia
Vômitos
Desmaios
Náuseas
Problemas de rim
Doenças de pele
Irritação ocular e auditiva
Depressão
Lesão neurológica
Neurite da coluna neurológica cervical
Câncer
Problemas hormonais, neurológicos e reprodutivos
Igor Felippe Santos é jornalista, editor da Página do MST, integrante da Rede de Comunicadores pela Reforma Agrária e do Centro de Estudos Barão de Itararé.
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