domingo, 31 de outubro de 2010

Acabou...ultrapassamos mais uma dificuldade, até quando continuarão???

ACABOU!!!!
Dilma ganhou! o povo ganhou! o Brasil ganhou!
Quem perdeu?
A direita, conservadora e fascista, preconceituosa e que tem aversão a que os pobres ascendam socialmente.
Isso é fato.Mas foi com muita dificuldade.
Os instrumentos usados por essa extrema direita, aliada ao Opus Dei, da Igreja Católica, aos empresários predadores, aos evangélicos fundamentalistas e a "grande mídia" manipuladora, foi de uma baixeza sem tamanho, nunca antes visto no Brasil.
Ainda bem que na internet, tivemos uma participação bastante positiva no sentido de desmascarar os engôdos e as mentiras proporcionadas pela imprensa corrupta e entreguista.
Infelismente, a internet ainda não contempla boa parte daquele povo que ascendeu socialmente.
Então o que vimos foi uma enorme massa de pessoas contempladas com projetos de ascensão social mas completamente desprovidas de consciência política, ainda viscejando naquela "consciência intransitiva", como nos ensinou Paulo Freire.
Esse, me parece, foi o grande entrave que facilitou as dificuldades de eleger uma candidata, de um governo com mais de 80% de aprovação pela população.
As pessoas, ainda dentro dessa "consciência intransitiva" não conseguem distinguir aquilo que é feito como um projeto social de melhoria da qualidade de vida dos excluídos, daquilo que parece uma oferta de peixe, sem ensinar a pescar.Então, votam em pessoas, em esteriótipos culturais, em mentiras, em manipulações enganosas, enfim, nos medos que sempre foi impingido aos necessitados, por parte daqueles que detinham o poder e mandavam no país, os senhores da Casa Grande.
Passado esse momento de euforia, temos que trabalhar nesse sentido. Não basta dar o pão, temos que ensinar a pescar, e nesse caso, proporcionar mecanismos de libertação consciencial.Para que todos possam sair dessa consciência nula e subserviente e ingressar numa "consciência crítica" que possibilitará  as transformações necessárias a continuidade dos avanços sociais, sem termos que passar por esse sofrimento de que uma simples eleição possa deixar todos horripilados e temerosos de um retorno daquilo que odiamos, eleger políticos comprometidos com interesses pessoais e de fora do país.
Está na hora de o PT e o governo, começar a se preocupar com as pessoas, no sentido de libertá-las, não só economicamente mas também consciencialmente, aliás, como faz Chavez na Venezuela, onde a grande massa populacional assistida possui uma capacidade de julgamento político bastante crítico.
E, também, proporcionar ao nosso país uma democratização midiática, organizando uma nova regulamentação para nossa mídia, a fim de que a participação popular e socialista possa tambem ser representada ao povo.
Essas duas questões são fundamentais quando se deseja avançar na justiça social atendendo as necessidades de todos aqueles que ao longo do tempo foram alijados da participação e da autoria, deixando de serem coadjuvantes para serem protagonistas do crescimento social brasileiro.






Tendências da Barbárie e Perspectivas do Socialismo

James Petras*
 
 James Petras
Introdução
As sociedades e Estados ocidentais caminham inexoravelmente para condições que aparentam barbárie; acontecem mudanças estruturais que invertem décadas de benefícios sociais e submetem os trabalhadores, recursos naturais e a riqueza das nações à exploração, pilhagem e roubo, baixando o nível de vida e criando patamares de descontentamento sem precedentes.
A barbárie torna-se mais evidente nas guerras genocidas, organizadas e dirigidas pelos EUA e pela Europa Ocidental. A destruição imperial de sociedades inteiras é acompanhada pela desarticulação, assassínios e exílio do actual núcleo científico secular e artístico da sociedade iraquiana e pelo fomento de conflitos étnico-religiosos retrógrados e sátrapas. A barbárie imperial manifesta-se na aplicação sistemática de castigos cruéis e pouco habituais, torturas sancionadas pelo governo e assassinatos transfronteiras fazendo parte da política de Estado. O imperialismo bárbaro é conduzido pelos militaristas e sionistas que tentam destruir os adversários, as suas economias e sociedades, em contraste com os imperialistas tradicionais que procuram controlar e explorar os recursos e os trabalhadores especializados. As práticas barbáricas são o resultado dos formuladores das políticas e os seus assessores infiltrados em instituições barbáricas: médicos e psicólogos aconselham e participam nas torturas; académicos propagam doutrinas («guerras justas») que defendem guerras bárbaras; responsáveis militares projectam e praticam crimes contra a humanidade para garantir promoções, salários maiores e pensões lucrativas. Os grandes meios de comunicação social transmitem os eufemismos triunfalistas oficiais apoiando os deslocamentos em massa das populações, atribuindo crimes de guerra às vítimas e aplaudindo os carrascos. Em suma, a barbárie começa com a elite urbana e filtra até ao trabalhador manual provinciano.
Vamos continuar definindo os processos económicos, políticos e militares que impulsionam o processo de declínio e decomposição e seguir com um relato da resposta popular das massas às suas condições em deterioração. As profundas mudanças estruturais que acompanham o crescimento da barbárie tornam-se a base para analisar as perspectivas do socialismo no século XXI.

A Onda Crescente da Barbárie

Na sociedade antiga a «barbárie» e os seus portadores, «os bárbaros», foram encarados como ameaças de invasores exteriores de regiões afastadas que desciam sobre Roma e Atenas. Nas sociedades ocidentais contemporâneas, os bárbaros vieram de dentro, da elite da sociedade, apostados em impor uma nova ordem que destrói o tecido social e a base produtiva da sociedade, transformando meios de vida estáveis num dia a dia inseguro e em deterioração.
A chave para a barbárie contemporânea encontra-se nas profundas estruturas do Estado e da economia. Elas incluem:
1. A ascendência de uma elite financeira e especulativa que pilhou biliões de dólares dos aforristas, investidores, pessoas com hipotecas, consumidores e Estados, sugando enormes recursos da economia produtiva para uma elite parasitária infiltrada dentro do Estado e numa economia de papel.
2. Uma elite política militarista que se encontra num estado de guerra permanente desde os meados do século passado. Guerras intermináveis, assassínios transfronteiras, terrorismo de Estado, suspensão das garantias tradicionais levaram a uma concentração de poderes ditatoriais, prisões arbitrárias, torturas e negação de habeas corpus.
3. No meio de uma profunda recessão económica, grandes gastos do Estado na construção de um império económico e militar à custa da economia interna e o nível de vida reflectem a subordinação da economia local às actividades do Estado imperial.
4. Crimes e corrupção ao mais alto nível, em todas as esferas da actividade do Estado e negócios – desde as compras do Estado às privatizações, aos subsídios para os super-ricos – estimulam o crescimento do crime internacional de cima para baixo, a lumpenização da classe capitalista e um Estado onde a lei e ordem caíram em desgraça.
5. Como resultado dos grandes custos de construção do império e da pilhagem pela oligarquia financeira, o peso socio-económico recaiu em cheio sobre os ombros dos salários e trabalhadores assalariados, pensionistas e trabalhadores por conta própria, criando um abaixamento da mobilidade a longo prazo e em larga escala. Com a perda de empregos e a perda de empregos bem remunerados, a execução de hipotecas dispara em flecha e a classe média estável e trabalhadora encolhe e é obrigada a aumentar as suas horas e anos de trabalho.
6. À medida que as guerras imperiais se espalham pelo mundo atingindo populações inteiras, com bombardeamentos continuados e operações de terror clandestinas, geram-se redes de terroristas opositoras que também atingem civis nos mercados, nos transportes e nos espaços públicos. O mundo parece um mundo Hobbesiano, sem regras, de «todos contra todos».
Na realidade, o «mundo occidental» (EUA/UE/NATO/Israel e seus satélites) estão empenhados numa «guerra total» contra os povos do mundo, que resistem a submissão imperialista e sionista. A «guerra total» tal como é praticada pelo Ocidente, significa que
(a) não existe distinção entre alvos militares e civis – todos são sempre considerados dignos de destruição. Num sentido perverso de ironia totalitária, ao bombardear os civis, os poderes imperiais transformam uma guerra de guerrilha numa «guerra popular»: guerras totais unem comunidades, famílias, clãs aos lutadores da resistência.
(b) As guerras totais utilizam todos os meios para aniquilar o inimigo – armas de envenenamento em massa (urânio enfraquecido), esquadrões de morte, execuções sumárias, bombardeamento indiscriminado de aldeias com drones teleguiados, prisões em massa de homens adultos nas regiões de grande conflito. Como resultado da «guerra total» imperial como padrão de conflito, a oposição replica, atingindo civis, incluindo professores, médicos e tradutores utilizados pelas agências internacionais.
7. O crescente extremismo étnico-religioso ligado ao militarismo existe entre os cristãos, judeus, muçulmanos, hindus, substituindo a solidariedade internacional de classe por doutrinas de supremacia racial e penetrando com profundidade as estruturas do Estado e da sociedade,
Um dos mais flagrantes resultados do período pós 2ª Guerra Mundial tem sido a influência sem precedentes da configuração do poder Judaico-Sionista e o seu papel central dentro do Estado imperial dos EUA, juntando as bárbaras práticas imperiais dos EUA e Israelitas. Essas incluem torturas sistemáticas, sanções económicas, bombardeamento de civis e outros crimes contra a humanidade. Às longas guerras de Israel contra os povos árabes e muçulmanos – mais de 60 anos e continuam – juntam-se agora aos estrategas sionistas em Washington que promovem guerras prolongadas, em série e que seguem a agenda israelita incitando uma islamofobia histérica através dos grandes meios de comunicação social e a academia. Hoje, o Judeo-fascismo está infiltrado no governo israelita (3 ministros), exército, ordens religiosas e sectores significativos da população.
8. O desaparecimento do colectivismo providêncial Europeu e Asiático – na ex-URSS e China – retirou as pressões de competição sobre o capitalismo ocidental e animou-o a revogar todas as concessões de previdência concedidas aos trabalhadores no período pós 2ª Guerra Mundial.
9. O desaparecimento do Comunismo e a integração da social-democracia no sistema capitalista conduziu a um forte enfraquecimento da Esquerda, que os protestos sociais esporádicos dos movimentos sociais não conseguiram substituir.
10. Tendo em vista o actual ataque em grande escala contra o nível de vida dos trabalhadores e da classe média, existem protestos ocasionais na melhor das hipóteses e impotência política no mínimo.
11. A exploração maciva do trabalho nas sociedades pós-revolucionárias, como na China e Vietname, inclui a exclusão de centenas de milhões de trabalhadores emigrantes dos serviços públicos elementares de ensino e saúde. A pilhagem sem precedentes e o confisco pelos oligarcas domésticos e multinacionais de milhares de empresas públicas estratégicas lucrativas na Rússia, nas repúblicas ex-Soviéticas, Europa do Leste, os Balcãs e países Bálticos representou a maior transferência da riqueza pública para o privado e no mais curto período de toda a história.
Em suma, a «barbárie» surgiu como uma realidade definidora, produto da emergência nos EUA de uma classe parasitária dominante militarista sionizada e financeira. Os bárbaros estão aqui e agora, presentes dentro das fronteiras das sociedades e Estados ocidentais. São dominantes e prosseguem agressivamente uma agenda que reduz continuamente o nível de vida, transfere a riqueza pública para os seus cofres privados, pilham recursos públicos, destroem direitos constitucionais na sua busca de guerras imperiais, segregando e perseguindo milhões de trabalhadores imigrantes e promovendo a desintegração e diminuição de uma classe média e trabalhadora estável. Mais do que nunca na história recente, 1% da população do topo controla uma parte cada vez maior da riqueza e os recursos nacionais.

Mitos e Realidades do Capitalismo Histórico

O corte, sustentado e em larga escala, dos direitos e disposições sociais, salários, segurança no emprego, pensões e salários demonstra a falsidade das ideias de um progresso linear do capitalismo. O retrocesso, fruto do maior poder da classe capitalista, demonstra a validade da proposição marxista de que a luta de classes é a força motora da história – pelo menos, na medida em que a condição humana é considerada o centro da história.
A segunda premissa falsa é que os Estados com base em «economias de mercado» precisam da paz e o corolário de que os «mercados» derrotam o militarismo, é refutada pelo facto de que a economia de mercado principal, os Estados Unidos, tem estado num estado de guerra constante desde os princípios de 1940; activamente empenhados em guerras, em quatro continentes, até aos dias de hoje. Com novas guerras maiores e mais sangrentas no horizonte. A causa e resultado da guerra permanente, é o crescimento de um «Estado nacional securitário» monstruoso que não reconhece quaisquer fronteiras nacionais e absorve a maior parte do orçamento nacional.
O terceiro mito do capitalismo “avançado” maduro é que ele revoluciona constantemente a produção através da inovação e da tecnologia. Com o crescimento da elite militarista e financeira especulativa, as forças produtivas têm sido pilhadas e a “inovação” fica principalmente pela criação de instrumentos financeiros que exploram os investidores, roubam os activos e aniquilam o emprego produtivo.
Enquanto o império cresce, a economia interna diminui, o poder fica centralizado no executivo, os poderes legislativos são cortados e nega-se à cidadania uma representatividade real e até mesmo um veto através de processos eleitorais.

A Resposta das Massas ao Crescimento da Barbárie

O crescimento da barbárie no nosso seio criou uma repulsa pública maciça contra o seus principais autores. As sondagens mostram repetidamente:
1. Um desgosto profundo e repulsa contra todos os partidos políticos.
2. Vastas maiorias sentem uma grande desconfiança em relação à elite empresarial e política.
3. Maiorias rejeitam a concentração do poder empresarial e o abuso deste poder, principalmente pelos banqueiros e financeiros.
4. Existe um questionamento generalizado das credenciais democráticas dos dirigentes políticos que actuam ao mando da elite empresarial e promovem as políticas repressivas do Estado de segurança nacional.
5. Uma grande maioria rejeita a pilhagem dos cofres do Estado para salvar os bancos e a elite financeira, ao mesmo tempo que impõem programas regressivos de austeridade na classe média e trabalhadora.

A Transição do Imperialismo Económico para o Bárbaro

Os EUA têm estado envolvidos em guerras imperiais contínuas há mais de 60 anos. A guerra tem sido endémica ao sistema imperial: na maioria dos casos tem sido para garantir recursos económicos, quotas de mercado e a exploração de mão-de-obra barata. A dialéctica entre expansão militar e conquista, domínio político através de regimes colaborantes e acesso económico privilegiado para as corporações multinacionais dos EUA (CMC) foi efectivamente o carácter definidor do imperialismo dos EUA. Hoje, a dialéctica imperial já não funciona. O crescimento do capital financeiro e a fuga das CMC dos EUA para o estrangeiro, para Estados asiáticos soberanos enfraqueceu o papel do capital industrial como motor da expansão imperial. Hoje, existem novos mecanismos que fomentam as guerras imperiais – militarismo e sionismo – que olham para as guerras e conquista militar como «um fim em si mesmo». Não capturam recursos ou quotas de mercado, destroem-nos, como demonstram as guerras dos EUA no Iraque, Afeganistão, Somália, Iémen, Honduras e noutros locais. Estas guerras destroem a riqueza das nações. Elas enfraquecem o tesouro americano. Não enriquecem as corporações (excepto temporariamente as empresas de mercenários de guerra) e não levam a uma remessa de lucros para os EUA/UE.
As guerras imperiais, que destroem a sociedade civil, o Estado e desarticulam as sociedades modernas seculares, criam alianças com as colectividades clericais e étnicas mais retrógradas que compartilham as tendências assassinas bárbaras dos seus apoiantes e patrocinadores imperiais.

Perspectivas do Socialismo

As esperanças ténues do socialismo existem fora da Europa e dos Estados Unidos. Mesmo nas regiões de guerra anti-imperialista de grande intensidade como no Golfo, Ásia do Sul, o Corno de África, as principais forças de resistência são dirigidas por movimentos islâmicos que rejeitam os programas socialistas seculares. Movimentos liderados por movimentos islâmicos podem enfraquecer o império mas também são contra e reprimem quaisquer movimentos operários abertamente marxistas. Na América Latina, os regimes nacionalistas têm enfraquecido o garrote do imperialismo americano sobre a sua política externa e criaram oportunidades para que a classe capitalista local ganhasse novos mercados, mas também se desradicalizaram, desmobilizaram e cooptaram os antigos movimentos de classe independentes e sindicatos dirigidos pelos marxistas e socialistas.
Na medida em que o socialismo existe como fenómeno de massas – e não apenas entre os académicos e os intelectuais que comparecem nas conferências uns dos outros – encontra-se entre sectores dissidentes dos mineiros bolivianos, trabalhadores industriais e do sector público, sindicatos, sectores dos sem-terra brasileiros e espalhando-se entre minorias nos sindicatos e movimentos camponeses em toda a região. Somente na Venezuela, com o Presidente Chávez, um programa socialista tem um apoio popular do Estado e das massas populares, apesar de co-existirem grandes contradições entre «Estado» e «regime».
Na Ásia, as recentes ondas de greves dos trabalhadores, num quadro de um passado revolucionário socialista, dá substância à esperança de um renascimento socialista de massas baseado na militância da classe operária e do campesinato. O mesmo se aplica ao Vietname, onde a militância dos trabalhadores procura organizações de classe independentes contra a exploração selvagem do capital estrangeiro e oligarcas locais «comunistas». Na Índia, guerrilheiros camponeses controlam vastas extensões de regiões tribais e estabeleceram um «poder duplo» em certos domínios, sujeitos a cerco militar e missões de busca e destruição. Protestos de massas na Grécia, Espanha, França e Itália mostram uma grande hostilidade dos trabalhadores contra os programas de austeridade de classe selectivos. Teoricamente, poderiam constituir uma base para o renascimento de uma política marxista; mas de momento, nenhum partido revolucionário importante ou movimento existe para transformar as greves num projecto de poder político.
Embora as perspectivas do socialismo, nomeadamente nos EUA, estejam bastante distantes e actualmente quase invisíveis, certas situações poderiam provocar um ressurgimento radical – que infelizmente pode «virar à direita» antes de olhar para a esquerda. Em qualquer caso, as perspectivas de socialismo nos EUA e na Europa Ocidental envolvem um processo longo e difícil, baseado na (re)criação da consciência e organização de classe.
A ofensiva capitalista tem certamente um grande impacto nas condições objectivas e subjectivas das classes trabalhadoras e médias, aumentado a miséria e criando uma onda crescente de descontentamento pessoal, mas não ainda movimentos anti-capitalistas massivos ou mesmo uma resistência organizada dinâmica.
Grandes mudanças estruturais requerem um acerto de contas com as actuais circunstâncias adversas e a identificação de novas entidades e formas de luta de classes e de transformação.
Um dos principais problemas é a necessidade de recriar uma economia produtiva e reconstruir um novo operariado industrial, tendo em conta anos de pilhagem financeira e de desindustrialização. Não necessariamente as indústrias «sujas» do passado, mas certamente novas indústrias que utilizem e inventem novos recursos energéticos limpos.
Em segundo lugar, as sociedades capitalistas altamente endividadas necessitam de uma mudança fundamental no militarismo e construção de império muito caros para uma espécie de austeridade baseada na classe, que imponha sacrifícios e reformas estruturais aos sectores da banca, financeiros e sectores de retalho de grande importação, substituindo pela produção local as importações de consumo baratas.
Em terceiro lugar, a redução dos sectores financeiro e de retalho exige a melhoria das qualificações dos trabalhadores e empregados deslocados, bem como mudanças no sector das TI para se adaptar às mudanças da economia. Mudanças paradigmáticas do salário em dinheiro para salário social, em que o ensino público gratuito ao mais alto nível e cuidados de saúde universais e pensões adequadas substituam o consumismo financiado pelo endividamento. Estas mudanças podem tornar-se a base para fortalecer a consciência de classe contra o consumismo individual.
A questão que se põe é saber como transportar movimentos laborais e sociais enfraquecidos, fragmentados em retracção ou na defensiva para uma posição de lançar uma ofensiva anti-capitalista.
Talvez muitos factores subjectivos e objectivos trabalhem para esse fim. Em primeiro lugar, existe uma rejeição crescente de largas maiorias contra os políticos incumbentes e em particular contra as elites financeiras e económicas que são claramente identificadas pela quebra das condições de vida e desigualdades crescentes. Em segundo lugar, existe uma opinião popular, partilhada por milhões, de que os actuais programas de austeridade são claramente injustos – com os trabalhadores a pagarem pelas crises criadas pela classe capitalista. Contudo, estas maiorias são mais «anti» situação do que pró transformação. A transição do descontentamento privado para acção colectiva é uma questão em aberto sobre quem e como, mas a oportunidade existe.
Vários factores objectivos podem desencadear uma mudança qualitativa do descontentamento de raiva passivo num movimento anti-capitalista massivo. Uma recessão muito acentuada, o fim da actual recuperação anémica e o aparecimento de uma recessão/depressão mais profunda e prolongada, podem desacreditar ainda mais os actuais governantes e os seus apoiantes económicos.
Em segundo lugar um período de austeridade interminável e profundo iria desacreditar a noção actual da classe dirigente da «dor necessária para ganhos futuros» e abrir as mentes e movimentar as entidades para procurar soluções políticas no sentido obter ganhos imediatos infringindo dor nas elites económicas
Guerras imperiais sem fim e não vitoriosas que sangram a economia, acabam por criar a consciência de que a classe dirigente «sacrificou o país» sem «qualquer propósito útil».
Talvez, a combinação de uma nova fase da recessão, a austeridade perpétua e guerras imperiais irracionais possam virar o actual mal-estar das massas e lançar hostilidade contra a elite política e económica, para os movimentos, partidos e sindicatos socialistas…

* Professor (Emeritus) de Sociologia na Universidade Binghamton de Nova York e professor adjunto na Universidade Saint Mary, no Canadá. Recebeu numerosas distinções profissionais e académicas.
É autor de mais de 60 livros e de centenas de artigos especializados na área da Sociologia, e de mais de 2.000 artigos de opinião publicados em jornais internacionais de grande projecção. Actualmente colabora com regularidade no jornal mexicano La Jornada, contribui para o Conter Punch e Atlantic Free Press, e integra o colectivo editorial de Canadian Dimension.

HOJE É O DIA!!!



VOTE COM ORGULHO

Hoje, a esperança progressista de todo o mundo dirige seu olhar para o Brasil. Dois projetos de futuro confrontam-se aqui numa síntese dos antagonismos históricos realçados pela crise econômica mundial. Trata-se de decidir a quem pertence o destino da sociedade e do desenvolvimento no século XXI: ao escrutínio da cidadania organizada e ativa –que não restringe sua participação ao momento do voto-- ou à supremacia das finanças desreguladas, cujos impulsos irracionais, mais uma vez evidenciados nesta crise, esfarelam ciclicamente não apenas a riqueza fictícia, mas os direitos que sustentam a convivência compartilhada e, cada vez mais, os recursos que formam as bases da vida na Terra. A América Latina representa hoje a fronteira do mundo onde o embate entre essas duas lógicas evolui de forma cada vez mais nítida e veloz a favor das forças populares. A eleição brasileira representa sem dúvida o grande guarda-chuva político que influenciará decisivasmente o passo seguinte da história regional . As diferentes concepções de desenvolvimento e de estratégia internacional ficaram claramente demarcadas ao longo da campanha que desemboca agora na urna eletrônica. Por isso, hoje, vote 13, vote com orgulho, vote pelo Brasil. Mas também pelo futuro de uma América Latina mais justa e solidária.

O QUE ESTÁ EM JOGO HOJE NAS URNAS?

O aborto ou os 70 bilhões de barris do pré-sal; uns seis trilhões de dólares; o maior impulso industrializante do país desde Vargas? Quais valores estão em jogo, esses, confirmados hoje nos 15 bilhões de barris, só no poço de Libra, ou os da água benta falsa de Serra? Se prevalecer o modelo tucano de exploração, o pré-sal vira remessa de lucros e exportação de óleo bruto nas mãos das petroleiras internacionais. Perde-se seu efeito multiplicador numa cadeia de suprimento industrial da ordem de 55 mil itens, desde plataformas e navios, a válvulas, aço e parafusos. Porém mais que isso, perder-se-ia a chance histórica deste país eliminar a miséria e abrir uma avenida de ampla convergência de oportunidades e direitos para as gerações do presente e do futuro. Qual é a discussão mais relevante? É essa, por isso não sai no Jornal.
(Carta Maior; 31-10)

O dia decisivo. E a paz do dever cumprido



Brizola Neto no TIJOLACO

Chegamos ao dia decisivo.
Foram meses que ensinaram muito a todos nós.
Creio que o primeiro ensinamento foi algo que todos partilhamos: do mais humilde dos brasileiros ao próprio presidente Lula.
O de que não existe caminho para justiça social no Brasil que não passe pelo desenvolvimento econômico e pela afirmação de nossa soberania como nação.
Acho que todos entendemos que, reescrevendo a frase que ficou famosa nos tempos do “milagre econômico” da ditadura, o bolo só cresce se for mais bem dividido e só é mais bem dividido quando cresce.
Progresso econômico e progresso social são duas faces inseparáveis de um Brasil que quer e precisa crescer.
De fato, basta examinar todos os indicadores econômicos e sociais para que se veja que o governo Lula disparou em realizações e em popularidade no seu segundo mandato, ao assumir claramente sua natureza nacional e popular, deixando à beira do caminho aqueles que defendiam, embora com menos ferocidade, as mesmas regras neoliberais que marcaram o governo FHC.
Numa palavra, foi finalmente o governo Lula quem retomou a linha de afirmação nacional, econômica e social que marcou a vida brasileira nas décadas de 30, 40, 50 e até mesmo na década de 60, pois o progresso desse país tinha uma força inercial que nem mesmo a ditadura militar, embora com seus componentes entreguistas, conseguiu romper de imediato.
A década final do regime autoritário, marcada pela estagnação,  foi sucedida primeiro pela nulidade de Sarney, o energúmeno, e depois, pelo neoliberalismo privatista se afirmou com a nova ditadura: a do pensamento único.
Em 1995, com Fernando Henrique Cardoso, o viés subalterno que passou a comandar a vida brasileiro sentiu-se seguro ao ponto de rasgar o véu da hipocrisia e declarar que sua missão era sepultar definitivamente o que chamaram de Era Vargas, significando com isso o seu desejo de alienar todas as riquezas desta nação e conformar o Brasil a uma condição colonial.
Mas manter o Brasil como colônia, embora o venham conseguindo há cinco séculos, é algo que não se consegue se há liberdade.
Um grande e maravilhoso país, com um grande e generosa população só pode ser pequeno se nos aceitarmos assim, se nos desprezarmos como povo e como nação. Se vivermos na tristeza e no silêncio.
Foi por isso que suprimiram a liberdade em 64. Foi por isso que a deformaram, com o poder midiático, na eleição de Collor e, depois, com a ideia de que a história dos conflitos pela afirmação das nações era passado e a globalização e o mercado eram fenômenos divinos e invencíveis.
Daí nos vem o segundo ensinamento: se a liberdade de imprensa sempre foi uma ferramenta da rebeldia generosa e da decência humana, o direito à comunicação, que a engloba, é ainda maior: é o fundamento da liberdade e da democracia.
Controlá-lo, desde os tempos em que os livros dependiam do imprimatur dos senhores dos feudos terrestres e celestiais, sempre foi a chave do poder.
É verdade que os meios tecnológicos, pouco a pouco, foram eliminando estes “privilégios de impressão”, culminando nesta maravilhosa ferramenta que é a internet.
Mas um a um, o poder sempre procurou se apoderar deles e desvirtuar o seu sentido libertário, fazendo dele não apenas o que deve também ser, diversão e entretenimento, mas diversionismo e entorpecimento.
E, sejamos realistas, os espaços que abrimos aqui, na internet, ainda são pequenos e pouco significativos perto das estruturas de manipulação e mentira que dominam e que, também aqui, conseguem montar.
Um governo popular, no Brasil, tem de encarar a democratização da comunicação como a espinha dorsal de sua sobrevivência política.
Porque os inimigos de um Brasil popular contam com quase toda a comunicação, com suas máquinas de produzir mentiras, de distorcer verdades e de deformar consciências.
Outro dia, num evento na Carta Capital exortou os políticos a não terem medo da grande imprensa.
Concordo com ele, mas é preciso que o Governo também não a tema, como vem sendo tristemente verdadeiro há décadas.
Procurei praticar aqui, tanto quanto pude, este conselho.
Este pequeno espaço, que começamos a abrir há menos de um ano e meio, modestamente, procurou não ter este medo, nem viver em função de vantagens, poder ou sucesso eleitoral.Nunca, apesar dos conselhos para que o fizesse, deixei de lado as grandes lutas para cair no terreno estéril e falso da promessa, da cooptação, da formação de grupos de interesse.
Hoje, no dia em que se encerra uma etapa importante da luta histórica de nosso povo, o corpo está extenuado, mas a consciência serena.
Este mês, 1,2 milhão de acessos ao Tijolaço e , sobretudo, os mais de 15 mil comentários postados desde 1º de outubro mostram que este se tornou um lugar de encontro, para dividir ideias, angústias, revoltas e paixões.
Para dividirmos o que somos de verdade, pois é o que somos de verdade o melhor que podemos dar uns aos outros.
A minha gratidão a todos os que colaboraram neste processo, lendo, criticando, sugerindo, me dando até uns “foras” de vez em quando.
Carregar este sobrenome e escrever sob um título que identifica a luta de um grande homem é um enorme peso para alguém tão pequeno.
Mas se cada um de nós, nas nossas pequenas forças, pudermos, cada um, conduzir um grão de areia, é certo que juntos podemos fazer uma montanha.
A minha gratidão e reconhecimento a todos, e que o destino sorria a este povo tão sofrido.
Viva o povo brasileiro, razão de ser do Brasil!
PS. Em cumprimento da legislação eleitoral, não farei postagens mencionando candidatos  hoje, dia das aleições, até o fechamento das urnas. A tela de Di Cavalcanti que encima este post, chamada “Mulheres Protestando”, diz tudo

sábado, 30 de outubro de 2010

IstoÉ: as mamatas da família de Paulo Preto no governo Serra



À medida que são esmiuçados os passos de Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, nos subterrâneos do governo tucano, vão ficando cada vez mais claras as relações comprometedoras do ex-diretor do Dersa com as empreiteiras responsáveis pelas principais obras de São Paulo.
Em agosto, quando trouxe a denúncia formulada por dirigentes do PSDB do sumiço de pelo menos R$ 4 milhões dos cofres da campanha de José Serra à Presidência, IstoÉ revelou que a maior parte da dinheirama fora arrecadada junto a grandes empreiteiras responsáveis pela construção do rodoanel.

Agora é descoberto um elo ainda mais forte entre o engenheiro e as construtoras da obra, considerada uma das vitrines do governo tucano em São Paulo. A empresa Peso Positivo Transportes Comércio e Locações Ltda., de propriedade da mãe e do genro do ex-diretor do Dersa, prestou serviços para as obras do lote 1 do trecho sul do rodoanel por um período de, pelo menos, três meses no ano de 2009.

A informação foi confirmada à IstoÉ pela Andrade Gutierrez/Galvão, do consórcio de empreiteiras contratado pela obra. Os serviços consistiram no fornecimento de guindastes para o transporte e a elevação de cargas.

“A empresa Peso Positivo, assim como outros fornecedores prestadores de serviços do consórcio, é contratada sempre de acordo com a legislação em vigor. A decisão de contratar prestadores de serviços é exclusivamente técnica”, alega a Andrade Gutierrez.

Arquivos da Junta Comercial de São Paulo mostram que a Peso Positivo foi criada em 30 de julho de 2003, com capital social de R$ 100 mil. Os sócios são Maria Orminda Vieira de Souza, mãe de Paulo Preto, 85 anos, e o empresário Fernando Cremonini, casado com Tatiana Arana Souza, filha do ex-diretor do Dersa, que trabalha no cerimonial do Palácio dos Bandeirantes, a sede do governo de São Paulo, e que já prestara serviços para a administração de José Serra à frente da Prefeitura de São Paulo.

Tantas coincidências fizeram o PT pedir à Procuradoria-Geral de Justiça de São Paulo que investigasse as relações da Peso Positivo com o rodoanel. “É uma relação incestuosa que existe entre Paulo Preto, sua filha e José Serra”, afirmou o líder do PT na Assembleia, Antônio Mentor.

A confirmação da ligação entre as empreiteiras do rodoanel e a Peso Positivo, obtida por IstoÉ, mostra que as suspeitas tinham fundamento. E também derruba de maneira cabal a versão de Cremonini, apresentada na última semana em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo. Segundo ele, a empresa “nunca teve clientes” na construção civil. “Meus maiores clientes são a Petrobras e a Votorantim Metais”, afirmou o empresário. “A única coisa que o Paulo me deu nestes anos todos foi a mão da filha e uma bicicleta.”

O íntimo relacionamento de Paulo Preto com as empreiteiras do rodoanel não se restringe ao negócio envolvendo uma empresa de familiares. Na última semana, denúncia da Folha de S.Paulo revelou que Paulo Preto, um dia após assumir a diretoria do Dersa, assinou uma alteração contratual na obra. Essa mudança permitiu às empreiteiras fazer alterações no projeto do rodoanel e até utilizar materiais mais baratos.

No acordo assinado por Paulo Preto em maio de 2007 ficou definido que, em vez de ganharem de acordo com a quantidade, tipo de serviço ou material usado na obra, as empreiteiras receberiam um “preço fechado” no valor de R$ 2,5 bilhões. Para quem conhece os meandros do mundo da construção civil, a impressão que fica ao analisar as mudanças é de que o diretor do Dersa preferiu privilegiar as empreiteiras, em detrimento da qualidade do empreendimento e da boa gestão do dinheiro do contribuinte.

A iniciativa de Paulo Preto também tinha outro propósito: o de adequar o andamento da obra ao timing eleitoral. É que o acordo teve como contrapartida das empreiteiras a garantia de acelerar a construção do trecho sul para entregá-lo até abril deste ano, quando José Serra (PSDB) saiu do governo para se candidatar.

O cronograma foi cumprido a contento. Agora, as empreiteiras apresentam um fatura extra de R$ 180 milhões. Essa espécie de taxa de urgência soma-se, portanto, aos adicionais de R$ 300 milhões já pagos em 2009.

As suspeitas sobre a maneira como Paulo Vieira de Souza atuava no Dersa extrapolam os limites geográficos da cidade de São Paulo. Recaem também sobre a fase III das obras de ligação das rodovias Carvalho Pinto e Presidente Dutra, no município de São José dos Campos.

Desde que assumiu a diretoria de engenharia do Dersa, ele assinou dois aditivos sobre o convênio de R$ 84 milhões. Um desses aditivos previu a “implantação da marginal Capuava”, que nunca foi entregue. Onde foi parar o R$ 1,1 milhão, relativo à execução desse trecho, ninguém sabe dizer.

“O dinheiro simplesmente desapareceu”, acusa o vereador de São José dos Campos Wagner Balieiro (PT). “Tive uma reunião com os diretores do Dersa e ninguém conseguiu me explicar por que a marginal não foi executada, embora o dinheiro tenha sido pago”, afirma Balieiro.


Fonte: IstoÉ via Patria Latina

Empresas alemãs lucram com a escravidão infantil no Usbequistão

Todo outono, crianças do Usbequistão são obrigadas a trabalhar na colheita do algodão, por um pequeno pagamento. Empresas alemãs estão entre as que lucram com essa violação dos direitos humanos.

No Usbequistão, as férias de verão começam em meados de setembro, quando o calor diminui. Ela dura cerca de dois meses, mas muitas crianças quase não veem seus pais durante esse tempo. São obrigadas a servir a seu país colhendo algodão.

Um obscuro ritual que data do antigo regime soviético se desenrola durante a temporada de colheita, no outono, nessa república da Ásia Central, quando o presidente Islam Karimov mobiliza as massas. Cerca de 2 milhões de escolares são então obrigados a trabalhar nos campos colhendo o "ouro branco", como é chamado o algodão desde o tempo do ditador soviético Josef Stalin. Além do gás natural e do ouro, o algodão é uma das mais importantes fontes de divisas para a elite usbeque. O preço do algodão está atualmente no nível mais alto desde que começou seu comércio há 140 anos.

Mas os jovens colhedores de algodão não veem muito desse lucro. Nazira tinha apenas 11 anos quando trabalhou nos campos no ano passado. Durante um mês inteiro, ela, seus professores e as outras crianças de sua classe em uma aldeia perto de Andijan, no leste do Usbequistão, começavam a colher às 7 da manhã e trabalhavam até as primeiras horas da noite.

As crianças tinham de cumprir sua cota de 10 quilos por dia. "Eu mal conseguia apanhar 3 quilos", relata Nazira. Ela ganhava 60 sums por quilo (0,03 euro). Depois de um mês de trabalho, deu o dinheiro para sua mãe. "Ela o usou para comprar um boné de inverno para mim, mas não foi suficiente e teve de pagar um pouco a mais."

Surras por não cumprir as cotas

As crianças um pouco mais velhas que foram enviadas para trabalhar na região se saíram ainda pior. Seus professores simplesmente ficavam com os salários das crianças. As que não cumpriam as cotas também eram surradas. Os poucos pais que objetaram ao recrutamento forçado de seus filhos foram assediados por professores que visitaram suas casas.

Em outubro de 2008, Umida Donisheva, uma garota de 17 anos, se enforcou em uma árvore na borda de um campo de algodão. Segundo o rápido relatório de um site de notícias usbeque, Umida não conseguiu suportar a pressão de seus professores para colher cada vez mais algodão.

Segundo Joanna Ewart-James, da Anti-Slavery International [Antiescravidão Internacional], o que está acontecendo no Usbequistão é simplesmente "escravidão infantil". Embora o Usbequistão tenha assinado a convenção da ONU contra as piores formas de escravidão e negue qualquer desvio, pouco mudou para as crianças das áreas rurais, diz Ewart-James.
A ativista participou recentemente de conferências internacionais sobre algodão no Texas (EUA) e em Liverpool (Inglaterra). Representantes dos principais revendedores, como a americana Cargill, o grupo suíço Reinhart e a empresa alemã Otto Stadtlander, de Brêmen, estavam lá, mas Ewart-James afirma que foi ridicularizada quando tentou abordar a questão da mão-de-obra infantil.

O clima otimista da indústria poderá ser um pouco abalado esta semana. Uma queixa foi depositada contra sete negociantes de algodão europeus na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Segundo a acusação, as empresas violaram princípios da OCDE para companhias multinacionais, ao lucrar com o trabalho infantil usbeque.

Na Alemanha, o Centro Europeu para Direitos Humanos e Constitucionais (ECCHR na sigla em inglês) está fazendo uma queixa contra a Stadtlander, uma grande negociante de algodão europeia com mais de 100 milhões de euros em vendas anuais. Durante anos a empresa teve um escritório em Tashkent, onde mantém boas relações com o governo Karimov.

Violações dos direitos humanos

Embora a ECCHR ainda seja uma organização relativamente jovem, já obteve uma vitória contra a rede de supermercados Lidl, que havia afirmado em seus anúncios que seus produtos eram produzidos sob condições de trabalho justas. A Stadtlander ajuda e aprova violações de direitos humanos, diz a coordenadora do ECCHR, Miriam Saage-Maass, mas ela nota que é um caso contestado.

Ao contrário da Lidl, a firma baseada em Brêmen não faz em sua publicidade qualquer alegação sobre o tratamento justo dos trabalhadores. Além de perguntas embaraçosas, a Stadtlander tem pouco a temer no momento. E as diretrizes da OCDE estão cheias de regulamentações de metas, ou o que Saage-Maass, que também é advogada, chama de "lei branda" sem dentes. Embora a lei internacional da Organização Mundial de Comércio inclua dispositivos sobre discriminação, eles só se aplicam a produtos e à livre movimentação de bens. As condições sob as quais os produtos são feitos não são críticas para os guardiões do livre comércio.

A queixa também se destina a expor uma brecha legal absurda, qual seja, que as empresas que lucram com violações dos direitos humanos são quase intocáveis juridicamente. Seria útil se as diretrizes da OCDE incluíssem sanções como a suspensão da ajuda econômica. Mas Saage-Maass vê poucas evidências de interesse na maioria dos escritórios de contato da OCDE em países individuais. "Com frequência eles são muito ineficazes", ela diz.

A direção da Otto Stadtlander ignorou as solicitações do ECCHR durante mais de um ano, acrescenta Saage-Maass. A companhia também não quis responder às perguntas do "Spiegel".

"Nova parceria" da Alemanha com Karimov

O bom relacionamento da Stadtlander com o Usbequistão está totalmente de acordo com as políticas do governo alemão. Uma "nova parceria" liga a Alemanha ao presidente Karimov, e soldados alemães embarcam para o Afeganistão de uma base militar alemã no Usbequistão.

Karimov, uma ex-autoridade comunista, se converteu ao capitalismo sem abandonar suas atitudes stalinistas. Ele é eleito a intervalos irregulares por uma maioria absurda de votos. Até os candidatos da oposição admitiram votar nele. Críticos do regime em seu país supostamente foram mergulhados em água fervente. O governo também já disparou contra a população, como fez em Andijan em 2005, quando mais de 700 membros da oposição teriam sido mortos.

Isto levou muitos países europeus a pedir sanções, mas a Alemanha não os acompanhou. Pelo contrário, ministros alemães visitaram o país com grandes delegações empresariais.

O governo alemão não se dispõe a dizer como a parceria melhorou as condições para as crianças, mas uma porta-voz menciona um "sistema de monitoramento" e o "diálogo regular".

Bancos alemães também lucram com o comércio de algodão. Um deles é o Commerzbank, parcialmente estatal, que tem um escritório em Tashkent. O banco participou do financiamento de contratos de algodão para clientes europeus no Usbequistão "durante anos", diz um porta-voz. O Deutsche Bank também financia negócios no Usbequistão.

Varejistas como C&A e Walmart hoje tentam não estocar roupas que contenham algodão do Usbequistão. Mas é difícil rastrear o algodão usbeque, que os negociantes misturam com o produto de outros países.

Agricultores ganham um terço do valor de exportação

Apesar de seus abundantes recursos naturais, a população do Usbequistão é tão pobre quanto sempre foi. As fazendas são operadas de modo ineficiente, com equipamento antiquado. Em Sheikh Lar, uma aldeia a noroeste da cidade de Samarkand, não se veem mais as colheitadeiras que eram usadas na era soviética. Embora os agricultores sejam oficialmente autônomos, eles alugam a terra do governo, compram fertilizantes de empresas estatais e têm de cumprir suas cotas. Eles recebem um terço do preço de exportação, enquanto o governo Karimov coleta o resto.

A cultura do algodão também é enormemente prejudicial ao meio ambiente. A irrigação das fazendas de algodão é o principal motivo pelo qual o mar de Aral, no oeste do Usbequistão, encolheu para apenas um décimo de seu tamanho original. As 24 espécies de peixes antes encontradas no lago estão extintas. O desemprego na região é de 70%.

Umida Niyasova, uma ativista de direitos humanos do Usbequistão que já esteve nas prisões de Karimov, hoje documenta em Berlim a situação de seu país. Ela recebe relatórios de acidentes de trabalho e condições de higiene indizíveis nos acampamentos perto dos campos. O pai de uma garota que foi obrigada a colher algodão na região de Jisak, no sudoeste, acaba de contatá-la. "A polícia manteve os pais sob vigilância durante horas antes que eles pudessem ver sua filha", diz Niyasova.

A Stadtlander pinta uma imagem diferente do Usbequistão. Nos últimos anos a empresa alemã patrocinou uma comemoração do festival de primavera usbeque na Bolsa de Algodão em Brêmen (noroeste da Alemanha). "Plov", um cozido usbeque, foi servido e dançarinas do país em vestidos brilhantes se apresentaram enquanto grandes cartazes mostravam a visão de Karimov das cidades do futuro.

Poderia ser um programa de TV transmitido diretamente do Usbequistão.

Fonte: Der Spiegel via VERMELHO
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves/UOL

Essa é a capa da nova VEJA!

Andre Lux no TUDO EM CIMA

A revista VEJA, expoente máximo do panfletarismo nazi-fascista tupiniquim, jogou a toalha.

Toda a blogosfera estava em alerta máximo esperando qual seria a nova jogada da famiglia Civita e seus capachos amestrados para tentar detonar a candidata da esquerda progressista e ajudar Zé Serra a se eleger o primeiro faraó do Brasil.

Mas, que nada. A VEJA deu chabu e resolveu atacar, a apenas um dia da eleição, o presidente mais popular da história! Tentam até igualar Lula ao "terrível ditador" Fidel Castro só porque ambos, pasmem, já usaram óculos escuros e tiraram fotos! Ou seja, essa é uma jogada ridícula que vai fazer efeito apenas na classe média ignara que consome esse lixo e tem ódio do Lula, da Dilma e de qualquer coisa que cheire a esquerda.

Inacreditável. Chamei minha esposa para ver a capa da nova VEJA e olha a resposta dela:

- Hahahahahaha! Foi você que fez?

Preciso dizer algo mais?

Mas, lembrem-se: eleição só acaba quando as urnas são abertas e contabilizadas. Por isso, nada de salto alto! Vamos continuar nas ruas pedindo votos para Dilma e na net fazendo nosssa guerrilha virtual contra a sujeira do PSDB.

Domingo está chegando... Vamos fazer a nossa parte para ajudar o Brasil continuar crescendo com distribuição de renda e justiça social!

O Globo se rói de ódio do sucesso da Petrobras



Brizola Neto no TIJOLACO

Da campanha que levou ao suicídio de Getúlio Vargas – quando os microfones da Rádio Globo foram entregues a Carlos Lacerra (ops, troquei uma letra) à eleição de Fernando Collor, passando, claro, pelo golpe de 64, o império Globo esteve metido até os ossos com tudo o que de mau se fez a este país.
Não é, portanto, de estranhar que o jornal esteja em campanha aberta contra a Petrobras, no momento em que esta empresa se afirma como instrumento da libertação econômica e social deste país.
Ontem, já chamava atenção para isso aqui no blog. Mas hoje o jornal superou o insuperável e “desceu aos píncaros” da imundície.
Sua manchete, simplesmente, “acusa” a Petrobras de achar e extrair petróleo.
Trata o início de operação de Tupi, a descoberta de petróleo em Sergipe e a definição das reservas gigantes da área de prospecção de Libra como sendo “eleitorais”.
Desculpem-me, mas só um energúmeno pode achar que atividades complexas como estas podem ser tratadas assim. “Fulano, na quarta-feira você acha petróleo no fundo do mar, a 2.400 metros lá em Sergipe, beltrano, na quinta você coloca um navio-plataforma com capacidade para 100 mil barris/dia em operação e sicreno, na sexta você termina os estudos geológicos lá em Libra e anuncia que são bilhões de barris”.
Só mesmo quem manipula a informação como faz o império Globo pode achar que as coisas podem ser feitas assim numa empresa gigantesca, onde o corpo técnico e os trabalhadores não podem, no caso de não se prestarem docilmente às ordens dos donos, podem ser convidados a passar no departamento de pessoal.
As Organizações Globo são as grandes deformadoras da consciência social desta Nação. São elas que fazem, com seu poderio, a escolha dos integrantes do próximo “Big Brother” ser mais importante nos meios de comunicação do que o país encontrar, em um úinico campo de petróleo, reservas que poderão, sozinhas, mais do que dobrar nosso potencial petrolífero.
O império Globo não quer que o Brasil seja um país livre, quer seguir a ser o feitor de uma colônia escrava.
Mas, se Deus quiser, o que não foi feito nos oito anos de Governo Lula, que viveu a ilusão de que serpentes podem ser domadas, entrou em marcha nestas eleições. Não é censura, não é perseguição. É luz, é fazer o Brasil entender quem são eles, o que desejam e perceber que a Globo não é mais a senhora dos nossos destinos, que estão nas mãos do povo brasileiro, seu único e legítimo dono.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Poesia anarquista....

Cântico negro
José Régio

"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!


José Régio
, pseudônimo literário de José Maria dos Reis Pereira, nasceu em Vila do Conde em 1901. Licenciado em Letras em Coimbra, ensinou durante mais de 30 anos no Liceu de Portalegre. Foi um dos fundadores da revista "Presença", e o seu principal animador. Romancista, dramaturgo, ensaísta e crítico, foi, no entanto, como poeta. que primeiramente se impôs e a mais larga audiência depois atingiu. Com o livro de estréia — "Poemas de Deus e do Diabo" (1925) — apresentou quase todo o elenco dos temas que viria a desenvolver nas obras posteriores: os conflitos entre Deus e o Homem, o espírito e a carne, o indivíduo e a sociedade, a consciência da frustração de todo o amor humano, o orgulhoso recurso à solidão, a problemática da sinceridade e do logro perante os outros e perante a si mesmos.

Fenomenologia do Lulismo...


291010_Lulismo_-_BRASIL_ESCOLA Marxismo Revolucionário Atual - [Ricardo Antunes] Um dos mais argutos analistas da política do século 20, o italiano Antonio Gramsci, tecendo considerações sobre o cesarismo/bonaparti smo, que considerava sinônimos, disse certa feita que esse fenômeno político, no qual aflora com destaque a figura do "chefe carismático", poderia assumir uma forma progressista ou reacionária: a impulsão fundamental dada pelas forças sociais de sustentação conferia um sentido de progresso ou de reação.
César e Napoleão I seriam exemplos progressistas, e Napoleão III e Bismarck estariam atados ao universo reacionário. Este fenômeno esparramou-se pelo mundo afora, chegando aos trópicos. Perón, na Argentina, e Vargas, no Brasil, foram emblemáticos. Antes tivemos o curto ensaio do florianismo militar durante a "República da Espada".

Poderíamos lembrar também, no espectro mais à direita, do janismo, externando um moralismo presente em setores da direita brasileira e do ademarismo, mais ancorado em setores do lumpesinato que também vislumbravam nas dádivas do Estado a alternativa para a sobrevivência. João Goulart e Leonel Brizola marcaram forte presença: o janguismo e o brizolismo foram herdeiros "de esquerda" do getulismo, cimentados pelo ideário nacionalista, o primeiro mais moderado, e o segundo mais acentuadamente reformista. Collor foi um espasmo, uma espécie de janismo que floresceu nos grotões.

Quebrou-se logo e ensaia um retorno localizado, depois de longa invernada. E qual, então, o significado maior do lulismo, fenômeno relativamente recente?

Se uma resposta mais conclusiva ainda é difícil, é possível ensaiar alguns caminhos. Poder-se-ia dizer, retomando a formulação gramsciana com a qual iniciamos esse artigo, que o lulismo mescla elementos progressistas e conservadores (e não reacionários) . O seu sentido progressista, presente em sua história, entretanto, exauriu-se em seu passado. O traço conservador se avoluma no presente.

Sua máxima de que, quando se chega aos sessenta anos na "esquerda é porque tem problemas", é expressão fenomênica do seu conservantismo dominante.

Se nos anos 1970/80 a autêntica espontaneidade de Lula o consolidou como o mais importante líder operário, neste novo milênio sua espontaneidade, esvaziada de sua origem, é preenchida pela contingência e pela vacuidade. Além de messiânico, capaz de "falar direto com Deus", tornando prescindível o partido que ajudou a criar, o lulismo é expressão de um pragmatismo que se molda às circunstâncias, que se atola no mesmismo e estanca no colaboracionismo.

Não é por acaso que o único traço que Lula tem feito questão de repetir, em relação ao seu passado, é que era um conciliador, esquecendo-se que sua vitalidade floresceu por sua prática de confrontação.

Alguém poderia dizer que a atual política de alianças de Lula também fora exercitada por outros políticos com carismáticos, como Leonel Brizola. Vale lembrar, como o líder dos pampas gostava de dizer, que poderia se aliar com qualquer um "porque tinha luz própria". Já a lanterna de Lula é de baixa amplitude; contenta-se com uma profusão de momentos "catárticos" em que viceja o estancamento e aumenta o regozijo dos áulicos. Seu governo de coalizão, abarcando um leque que vai de setores da esquerda a vários espectros da direita (malufiana e delfiniana inclusive, dois símbolos de monta), caminha celeremente para a colisão.

Com dotes de ventríloquo, nas poucas vezes em que recebe os movimentos sociais, fala nos pobres. Em plenário requintado, lasca neodarwinismo político para deleite da malta.

Freqüentemente resvala para o pícaro. Se não bastasse sua recusa "madura" à esquerda, sua conhecida aversão ao trabalho intelectual, em breve poderá reeditar uma frase do ex-governador de São Paulo, Paulo Egídio, que gostava de se definir como "radical de centro".

O apoliticismo sindical de Lula, também presente em sua origem, gerou, enfim, o lulismo, um pragmatismo desprovido do mais remoto radicalismo. O que parece ser um elemento central quando se procura compreender um pouco de fenomenologia do lulismo.

RICARDO LUIZ COLTRO ANTUNES, 53, é professor titular de sociologia do trabalho do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp (Universidade de Campinas). É autor, entre outras obras, de "Riqueza e Miséria do Trabalho no Brasil" (Boitempo).

Começa o Fórum Mundial da Educação na Palestina


Dez mil marcham pelo fim da ocupaçao sionista




 por Hilde C Stephansen, Soraya Misleh

Na marcha de abertura, palestinos e visitantes pedem justiça, dignidade e respeito aos direitos humanos pelo Estado de Israel.

O Forum Mundial da Educação foi aberto nesta quinta-feira (29), com a presença de ativistas de todo o mundo, inclusive do Brasil.
Na tradicional marcha que da a largada aos eventos do FSM, cerca de 8 mil participantes, segundo os organizadores, caminharam pelas ruas de Ramallah, na Cisjordania, território ocupado pelo Estado de Israel.
O encontro segue até o próximo domingo (31) e permitirá aos visitantes conhecerem as dificuldades enfrentadas pelos palestinos para assegurar a educacao. Apesar de todos os obstáculos impostos por uma politica segregacionista - como barreiras, muros, postos de controle -, na Palestina praticamente toda a juventude encontra-se na escola e quase não há analfabetismo. (S.M.)

Confira a abertura em imagens de Hilde Stephansen:

Ver online : Ciranda Palestina

Portfólio

De céticos e cínicos


Emir Sader no Carta Maior



Algumas vozes espalham o ceticismo na imprensa, nas universidades, de repente passam do ceticismo ao cinismo, já não importa nada, tudo é ruim, cambalache, tudo é igual, o mundo vai para o pior dos mundos possíveis.

Foi uma atitude que foi amadurecendo ao longo das ultimas décadas, passou-se a achar que o século XX foi um século muito ruim para a humanidade, o pior dos séculos, etc. Uma atitude de melancolia, de desencanto, de desânimo, de abandono da luta, traduzida no ceticismo, na crítica, que se alastra para jovens gerações, precocemente envelhecidas.

Todos os governos, todos os partidos, todos os processos traem, decepcionam, se corrompem. O socialismo teria dado em totalitarismo – e se soma nisso à direita. Os sindicalistas só querem defender seus interesses. A esquerda e a direita são iguais, etc., etc.

Como as teorias parecem ser maravilhosas e as práticas concretas, não, preferem ficar com as teorias – se possível, misturando um pouco de Nietzsche, de Foucault, de Tocqueville. Pronto, o pessimismo está constituído como visão trágica do mundo.

Encontra-se lugar na velha imprensa para escrever, contanto que não se critique a própria velha imprensa, e se concentre em criticar a esquerda – a URSS, Cuba, a Venezuela, Lula, o PT. Terminam fortalecendo o desinteresse pela política, fortalecendo a direita e desalentando os jovens, enquanto ainda mantêm seu prestígio com eles. Depois de um certo momento já se confundem diretamente com a direita.

O ceticismo pode ser liberal, certamente não é marxista. O marxismo parte da realidade concreta, mas sempre na perspectiva da sua transformação. Esse pessimismo, somado ao catastrofismo, fortalece o mundo tal qual ele é, promove a impotência diante da realidade.

Uma análise dialética da realidade supõe a apreensão das contradições que articulam o concreto, desembocando em linhas de ações e não na perplexidade, na impotência, na passividade, na melancolia e no ceticismo.

No momento em que o povo brasileiro, no seu conjunto, pela primeira vez, começa a melhorar substancialmente suas condições de vida e o expressa em um apoio como nenhum governo teve, é triste ver uma parte da intelectualidade de costas para o povo, melancolicamente continuando a pregar que tudo está muito ruim, pior do que antes, brigando com a realidade, em um isolamento total em relação ao povo e ao pais realmente existente.

O otimismo, por si só, não é revolucionário, mas todos os grandes líderes revolucionários foram e são otimistas, porque acreditam sempre nas possibilidades de transformação revolucionária da realidade. Enquanto o ceticismo leva à inação e, muitas vezes, até mesmo ao cinismo.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Jornalista é demitido por fazer matéria sobre marxismo


O jornal Diário do Nordeste demitiu, dia 18 de outubro, o jornalista Dawton Moura, por ter escrito e editado matéria no Caderno 3 sobre as revoluções marxistas que marcaram os séculos XIX e XX. O caderno especial, de seis páginas, foi considerado pela direção da empresa "panfletário" e "subversivo", além de "inoportuno ao momento atual". Tendo, entre outras fontes, o filósofo Michael Löwi, que estaria em Fortaleza para lançar o livro "Revoluções"

No momento em que a grande mídia distorce e critica o projeto de indicação aprovado na Assembleia Legislativa do Ceará, que propõe a criação do Conselho Estadual de Comunicação - sob a alegação de que vai "cercear a liberdade de expressão" -, o jornal Diário do Nordeste demitiu de forma arbitrária, no último dia 18 de outubro, o jornalista Dawton Moura, por ter escrito e editado matéria no Caderno 3 sobre as revoluções marxistas que marcaram os séculos XIX e XX.

O caderno especial, de seis páginas, foi considerado pela direção da empresa "panfletário" e "subversivo", além de "inoportuno ao momento atual". Tendo, entre outras fontes, o filósofo Michael Löwi, que estaria em Fortaleza para lançar o livro "Revoluções" (com imagens que marcaram os movimentos contestatórios decisivos para a história dos últimos dois séculos), a matéria foi pautada pelo editor-chefe do jornal, Ildefonso Rodrigues, tendo sido sugerida pela historiadora e professora Adelaide Gonçalves, da Universidade Federal do Ceará (UFC). No entanto, ao comunicar a demissão do jornalista, o editor-chefe se limitou a dizer que "não sabia o conteúdo da reportagem até vê-la publicada".

O caso do jornalista Dawton Moura não se trata de demissão por delito de opinião, pois ele não emitiu, em qualquer momento, juízo de valor sobre o conteúdo da pauta. Perdeu o emprego muito menos por incompetência ou negligência na sua função. Ironicamente, o trabalhador foi dispensado simplesmente por cumprir uma pauta que, depois de publicada, percebeu-se ser contra os interesses da empresa. A direção do jornal não pode alegar, no entanto, que desconhecia o conteúdo da matéria, pois além de ter sido pautado pelo editor-chefe, o assunto foi relatado em, pelo menos, quatro reuniões de pauta que antecederam sua publicação.

A demissão do então editor do Caderno 3 expõe o abismo entre o discurso da grande mídia conservadora, que se diz ameaçada em sua liberdade de expressão - inclusive atacando com este falso argumento o projeto do Conselho de Comunicação do Estado -, e suas práticas cotidianas, restritivas ao exercício profissional dos jornalistas, bem como à livre opinião de colaboradores e leitores.

"O Sindicato dos Jornalistas do Ceará protesta contra esta demissão arbitrária e mantém sua luta pela verdadeira liberdade de expressão para os jornalistas e para todos os brasileiros, manifestada em projetos como o do Conselho de Comunicação", afirma o presidente do Sindjorce, Claylson Martins

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Uma coisa estranha aconteceu na noite passada em Natal

por Miguel Nicolelis*, especial para o Viomundo

Desde que cheguei ao Brasil, há duas semanas, eu vinha sentindo uma sensação muito estranha. Como se fora acometido por um ataque contínuo da famosa ilusão, conhecida popularmente como déjà vu, eu passei esses últimos 15 dias tendo a impressão de nunca ter saído de casa, lá na pacata Chapel Hill, Carolina do Norte, Estados Unidos.
Mas como isso poderia ser verdade? Durante esse tempo todo eu claramente estava ou São Paulo ou em Natal. Todo mundo ao meu redor falava português, não inglês. Todo mundo era gentil. A comida tinha gosto, as pessoas sorriam na rua. No aeroporto, por exemplo, não precisava abrir a mala de mão, tirar computador, tirar sapato, tirar o cinto, ou entrar no scan de corpo todo para provar que eu não era um terrorista.  Ainda assim, com todas essas provas evidentes de que eu estava no Brasil e não nos EUA, até no jogo do Palmeiras, no meio da imortal “porcada”, a sensação era a mesma: eu não saí da América do Norte! Mesmo quando faltou luz na Arena de Barueri durante o jogo, porque nem a 25 km da capital paulista a Eletropaulo consegue garantir o suprimento de energia elétrica para um prélio vital do time do coração do ex-governador do estado (aparentemente ninguém vai muito com a cara dele na Eletropaulo. Nada a ver com o Palmeiras), eu consegui me sentir à vontade.
Custou-me muito a descobrir o que se sucedia.
Porém, ontem à noite, durante o debate dos candidatos a Presidência da República na Rede Record, uma verdadeira revelação me veio à mente. De repente, numa epifania, como poucas que tive na vida, tudo ficou muito claro. Tudo evidente. Não havia nada de errado com meus sentidos, nem com a minha mente. Havia, sim, todo um contexto que fez com que o meu cérebro de meia idade revivesse anos de experiências traumatizantes na América do Norte.
Pois ali na minha frente, na TV, não estava o candidato José Serra, do PSDB, o “partido do salário mais defasado do Brasil”, como gostam de frisar os sofridos professores da rede pública de ensino paulistana, mas sim uma encarnação perfeita, mesmo que caricata, de um verdadeiro George Bush tropical. Para os que estão confusos, eu me explico de imediato. Orientado por um marqueteiro que, se não é americano nato, provavelmente fez um bom estágio na “máquina de moer carne de candidatos” em que se transformou a indústria de marketing político americano, o candidato Serra tem utilizado todos os truques da bíblia Republicana. Como estudante aplicado que ainda não se graduou (fato corriqueiro na sua biografia), ele está pronto para realizar uns “exames difíceis” e ser aceito para uma pós-graduação em aniquilação de caracteres em alguma universidade de Nova Iorque.
Ao ouvir e ver o candidato, ao longo dessas duas semanas e no debate de ontem à noite, eu pude identificar facilmente todos os truques e estratégias patenteados pelo partido Republicano Americano. Pasmem vocês, nos últimos anos, essa mensagem rasa de ódio, preconceito, racismo, coberta por camadas recentes de fé e devoção cristã, tem sido prontamente empacotada e distribuída para o consumo do pobre povo daquela nação, pela mídia oficial que gravita ao seu redor.
Para quem, como eu, vive há  22 anos nos EUA, não resta mais nenhuma dúvida. Quem quer que tenha definido a estratégia da campanha do candidato Serra decidiu importar para a disputa presidencial brasileira tanto a estratégia vergonhosa e peçonhenta da “vitória a qualquer custo”, como toda a truculência e assalto à verdade que têm caracterizado as últimas eleições nos Estados Unidos.  Apelando invariavelmente para o que há de mais sórdido na natureza humana, nessa abordagem de marketing político nem os fatos, nem os dados ou as estatísticas, muito menos a verdade ou a realidade importam. O objetivo é simplesmente paralisar o candidato adversário e causar consternação geral no eleitorado, através de um bombardeio incessante de denúncias (verdadeiras ou não, não faz diferença), meias calúnias, ou difamações, mesmo que elas sejam as mais absurdas possíveis.
Assim, de repente, Obama não era mais americano, mas um agente queniano obcecado em transformar a nação americana numa república islâmica. Como lá, aqui Dilma Rousseff agora é chamada de búlgara, em correntes de emails clandestinos. Como os EUA de Bill Clinton, apesar de o país ter experimentado o maior boom econômico em recente memória, foi vendido ao povo americano como estando em petição de miséria pelo então candidato de primeira viagem George Bush.
Aqui, o Brasil de Lula, que desfruta do melhor momento de toda a sua história, provavelmente desde o período em que os últimos dinossauros deixaram suas pegadas no que é hoje o município de Sousa, na Paraíba, passa a ser vendido como um país em estado de caos perpétuo, algo alarmante mesmo. Ao distorcer a verdade, os fatos, os números e, num último capítulo de manipulação extremada, a própria percepção da realidade, através do pronto e voluntário reforço  do bombardeio midiático, que simplesmente repete o trololó do candidato (para usar o seu vernáculo favorito), sem crítica, sem análise, sem um pingo de honestidade jornalística, busca-se, como nos EUA de George Bush e do partido Republicano, vender o branco como preto, a comédia como farsa.
Não interessa que 26 milhões de brasileiros tenham saído da miséria. Nem que pela primeira vez na nossa história tenhamos a chance de remover o substantivo masculino “pobre” dos dicionários da língua portuguesa. Não faz a menor diferença que 15 milhões de novos empregos tenham sido criados nos últimos anos. Ou que, pela primeira vez desde que se tem notícia, o Brasil seja respeitado por toda a comunidade internacional. Para o candidato da oposição esse número insignificante de empregos é, na sua realidade marciana, fruto apenas de uma maior fiscalização que empurrou com a barriga do livro de multas 10 milhões de pessoas para o emprego formal desde o governo do imperador FHC.
Nada, nem a realidade, é  capaz de impressionar os fariseus e arautos que estão sempre prontos a denegrir o sucesso desse país de mulatos, imigrantes e gente que trabalha e batalha incansavelmente para sobreviver ao preconceito, ao racismo, à indiferença e à arrogância daqueles que foram rejeitados pelas urnas e vencidos por um mero torneiro mecânico que virou pop star da política internacional. Nada vai conseguir remover o gosto amargo desse agora já fato histórico,  que atormenta, como a dor de um membro fantasma, o ego daqueles que nunca acreditaram ser o povo brasileiro capaz de construir uma nação digna, justa e democrática com o seu próprio esforço. Como George Bush ao Norte, o seu clone do hemisfério sul não governa para o povo, nem dele busca a sua inspiração. A sua busca pelo poder serve a outros interesses; o maior deles, justiça seja feita, não é escuso, somente irrelevante, visto tratar-se apenas do arquivo morto da sua vaidade, o maior dos defeitos humanos, já dizia dona Lygia, minha santa avó anarquista. Para esse candidato, basta-lhe poder adicionar no currículo uma linha que dirá: Presidente do Brasil (de tanto a tanto). Vaidade é assim, contenta-se com pouco, desde que esse pouco venha embalado num gigantesco espelho.
Voltando à estratégia americana de ganhar eleições, numa segunda fase, caso o oponente sobreviva ao primeiro assalto, apela-se para outra arma infalível: a evidente falta de valores cristãos do oponente, manifestada pela sua explícita aquiescência para com o aborto; sua libertinagem sexual e falta de valores morais, invariavelmente associada à defesa do fantasma que assombra a tradição, família e propriedade da direita histérica, representado pela tão difamada quanto legítima aprovação da união civil de casais homossexuais. Nesse rolo compressor implacável, pois o que vale é a vitória, custe o que custar, pouco importa ao George Bush tupiniquim que milhares de mulheres humildes e abandonadas morram todos os anos, pelos hospitais e prontos-socorros desse Brasil afora, vítimas de infecções horrendas, causadas por abortos clandestinos.
George Bush, tanto o original quanto o genérico dos trópicos, provavelmente conhece muitas mulheres do seu meio que, por contingências e vicissitudes da vida, foram forçadas a abortos em clínicas bem equipadas, conduzidas por profissionais altamente especializados, regiamente pagos para tal prática. Nenhum dos dois George Bushes, porém, jamais deu um plantão no pronto-socorro do Hospital das Clínicas de São Paulo e testemunhou, com os próprios olhos e lágrimas, a morte de uma adolescente, vítima de septicemia generalizada, causada por um aborto ilegal, cometido por algum carniceiro que se passou por médico e salvador.
Alguns amigos de longa data, que também vivem no exterior, andam espantados com o grau de violência, mentiras e fraudes morais dessa campanha eleitoral brasileira. Alguns usam termos como crime lesa pátria para descrever as ações do candidato do Brasil que não deu certo, seus aliados e a grande mídia.
Poucos se surpreenderam, porém, com o fato de que até o atentado da bolinha de papel foi transformado em evento digno de investigação no maior telejornal do hemisfério sul (ou seria da zona sul do Rio de Janeiro? Não sei bem). No caso em questão, como nos EUA, a dita grande imprensa que circunda a candidatura do George Bush tupiniquim acusa o Presidente da República de não se comportar com apropriado decoro presidencial, ao tirar um bom sarro e trazer à tona, com bom humor, a melhor metáfora futebolística que poderia descrever a farsa. Sejamos honestos, a completa fabricação, desmascarada em verso, prosa e análise de vídeo, quadro a quadro, por um brilhante professor de jornalismo digital gaúcho.
Curiosamente, a mesma imprensa e seus arautos colunistas não tecem um único comentário sobre a gravidade do fato de ter um pretendente ao cargo máximo da República ter aceitado participar de uma clara e explicita fabricação. Ou será que esse detalhe não merece algumas mal traçadas linhas da imprensa? Caso ainda estivéssemos no meio de uma campanha tipicamente brasileira, o já internacionalmente famoso “atentado da bolinha de papel” seria motivo das mais variadas chacotas e piadas de botequim. Mas como estamos vivendo dentro de um verdadeiro clone das campanhas americanas, querem criminalizar até a bolinha de papel. Se a moda pega, só eu conheço pelo menos uns dez médicos brasileiros, extremamente famosos, antigos colegas de Colégio Bandeirantes e da Faculdade de Medicina da USP, que logo poderiam estar respondendo a processos por crimes hediondos, haja vista terem sido eles famosos terroristas do passado, que se valiam, não de uma, mas de uma verdadeira enxurrada, dessas armas de destruição em massa (de pulgas) para atingir professores menos avisados, que ousavam dar de costas para tais criminosos sem alma .
Valha-me Nossa Senhora da Aparecida — certamente o nosso George Bush tupiniquim aprovaria esse meu apelo aos céus –, nós, brasileiros, não merecemos ser a próxima vítima do entulho ético do marketing eleitoral americano. Nós merecemos algo muito melhor.  Pode parecer paranoia de neurocientista exilado, mas nos EUA eu testemunhei como os arautos dessa forma de fazer política, representado pelo George Bush original e seus asseclas,  conseguiram vender, com grande sucesso e fanfarra, uma guerra injustificável, que causou a morte de mais de 50 mil americanos e centenas de milhares de civis iraquianos inocentes.
Tudo começou com uma eleição roubada, decidida pela Corte Suprema. Tudo começou com uma campanha eleitoral baseada em falsas premissas e mentiras deslavadas. A seguir, o açodamento vergonhoso do medo paranóico, instilado numa população em choque, com a devida colaboração de uma mídia condescendente e vendida, foi suficiente para levar a maior potência do mundo a duas guerras imorais que culminaram, ironicamente, no maior terremoto econômico desde a quebra da bolsa de 1929.
Hoje os mesmos Republicanos que levaram o país a essas guerras irracionais e ao fundo do poço financeiro acusam o Presidente Obama de ser o responsável direto de todos os flagelos que assolam a sociedade americana, como o desemprego maciço, a perda das pensões e aposentadorias, a queda vertiginosa do valor dos imóveis e a completa insegurança sobre o que o futuro pode trazer, que surgiram como conseqüência imediata das duas catastróficas gestões de George Bush filho.
Enquanto no Brasil criam-se 200 mil empregos pro mês, nos EUA perdem-se 200 mil empregos a cada 30 dias. Confrontado com números como esses, muitos dos meus vizinhos em Chapel Hill adorariam receber um passaporte brasileiro ou mesmo um visto de trabalho temporário e mudar-se para esse nosso paraíso tropical. Eles sabem pelo menos isto: o mundo está mudando rapidamente e, logo, logo, no andar dessa carruagem, o verdadeiro primeiro mundo vai estar aqui, sob a luz do Cruzeiro do Sul!
Fica, pois, aqui o alerta de um brasileiro que testemunhou os eventos da recente história política americana em loco. Hoje é a farsa do atentado da bolinha de papel. Parece inofensivo. Motivo de pilhéria. Eu, como gato escaldado, que já viu esse filme repulsivo mais de uma vez, não ficaria tão tranqüilo, nem baixaria a guarda. Quem fabrica um atentado, quem se apega ou apela para questões de foro íntimo, como a crença religiosa (ou sua inexistência), como plataforma de campanha hoje, é o mesmo que, se eleito, se sentirá livre para pregar peças maiores, omitir fatos de maior relevância e governar sem a preocupação de dar satisfações aqueles que, iludidos, cometeram o deslize histórico de cair no mais terrível de todos os contos do vigário, aquele que nega a própria realidade que nos cerca.
Aliás, ocorre-me um último pensamento. A única forma do ex-presidente (Imperador?) Fernando Henrique Cardoso demonstrar que o seu governo não foi o maior desastre político-econômico, testemunhado por todo o continente americano, seria compará-lo, taco a taco, à catastrófica gestão de George Bush filho. Sendo assim, talvez o candidato Serra tenha raciocinado que, como a sua probabilidade de vitória era realmente baixa,  em último caso, ele poderia demonstrar a todo o Brasil quão melhor o governo FHC teria sido do que uma eventual presidência do George Bush genérico do hemisfério sul. Vão-se os anéis, sobram os dedos. Perdido por perdido, vamos salvar pelo menos um amigo. Se tal ato de solidariedade foi tramado dentro dos circuitos neurais do cérebro do candidato da oposição (truco!), só me restaria elogiá-lo por este repente de humildade e espírito cristão.
Ciente, num raro momento de contrição, de que algumas das minhas teorias possam ter causado um leve incômodo, ou mesmo, talvez, um passageiro mal-estar ao candidato, eu ousaria esticar um pouco do meu crédito junto a esse grande novo porta-voz do cristianismo e fazer um pequeno pedido, de cunho pessoal, formulado por um torcedor palmeirense anônimo, ao candidato da oposição. O pedido, mais do que singelo, seria o seguinte:
Candidato, será  que dá pro senhor pedir pro governador Goldman ou pro futuro governador Dr. Alckmin para eles não desligarem a luz da Arena Barueri na semana que vem? Como o senhor sabe, o nosso Verdão disputa uma vaguinha na semifinal da Copa Sulamericana e, aqui entre nós, não fica bem outro apagão ser mostrado para todo esse Brazilzão, iluminado pelo Luz para Todos, do Lula. Afinal de contas, se ocorrer outro vexame como esse, o povão vai começar a falar que se o senhor não consegue nem garantir a luz do estádio pro seu time do coração jogar, como é que pode ter a pretensão de prometer que vai ter luz para todo o resto desse país enorme? Depois, o senhor vem aqui e pergunta por que eu vou votar na Dilma? Parece abestalhado, sô!

* Miguel Nicolelis é um  dos mais importantes neurocientistas do mundo. É professor da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, e criador do Instituto Internacional de Neurociência de Natal, (RN). Em 2008, foi indicado ao Prêmio Nobel de Medicina.