Rachel Duarte
Um governo plural e de diálogo. Essa foi a primeira afirmação do
governador eleito no Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), sobre como
será o seu mandato nos próximos quatro anos. Já nesta segunda-feira, 4,
Tarso reuniu-se com a coordenação geral da campanha para tratar das
prioridades da coligação Unidade Popular pelo Rio Grande. A primeira
tarefa será organizar uma comissão, responsável por levantar os
problemas que possam encontrar ao assumir o Palácio Piratini. A
definição do secretariado e o início da transição ficaram para novembro.
Neste momento, a prioridade da Coligação é ajudar na eleição de Dilma
Rousseff, no segundo turno.
Focar as ações no segundo turno é importante, também, para o o
governador eleitor. Tarso vai trabalhar para evitar que o Rio Grande do
Sul siga a tradição de ter um governo estadual contrário ao nacional, o
que voltaria a acontecer com uma eventual derrota de Dilma nas urnas. O
ex-ministro, assim como o senador petista Paulo Paim e alguns líderes do
PT gaúcho foram convocados ainda no domingo (3) para uma reunião com a
campanha da Dilma em Brasília. Tarso viajou na tarde desta
segunda-feira, 4, para cumprir o compromisso.
O governador eleito do RS se colocou à disposição do PT nacional, mas
alertou: não deixará de trabalhar na transição. “Nós vamos conciliar as
duas atividades. Pois agora, precisamos ouvir os partidos da Frente
sobre como pode ser o processo de composição do governo”, falou. Sobre
os critérios que serão adotados afirmou: “vamos montar o governo com
pessoas adequadas aos cargos e os partidos terão que oferecer os
melhores”.
Possibilidades partidárias
Como já fora anunciado, antes mesmo da vitória de Tarso se confirmar,
o PDT será chamado para compor o governo. Os rumores levantados às
vésperas da votação sobre a possibilidade de o ex-governador Alceu
Collares (PDT) integrar o governo, ou mesmo sua esposa Neuza Canabarro,
não devem se confirmar, transformando-se em um mero boato. Collares
disse ao Sul21 que não há convite e que já deu sua contribuição aos
gaúchos, apesar de não ter se pronunciado sobre um possível convite à
sua esposa.
Segundo o presidente do PDT, Romildo Bolzan Jr., é cedo para esta
conversa, em razão da derrota recente do projeto apoiado pelo partido.
Ele disse ainda que a decisão sobre o diálogo com a Coligação de Tarso
será feita de forma coletiva, mas a independência do PDT será defendida
por ele. “Se esse assunto chegar a mim, vou levar para as instâncias
partidárias. Mas defendo que o PDT tem que ter posição de construção de
estado e independência. Essa proposta tem que amadurecer”, falou.
O caminho para esta costura com o PDT deve ser trilhado pelos
pedetistas que apoiaram Tarso na campanha. Entre eles, o prefeito de
Taquara, Décio Hugentobler. As movimentações do tabuleiro passam pela
formação da futura chapa à Prefeitura de Porto Alegre, em 2012. Mas,
esta cota pode não ser ocupada pelo PDT, uma vez que a deputada federal
Manuela D´Ávila (PCdoB) foi a quarta mais votada no país.
Independente do peso dos deputados federais ou estaduais da
Coligação, Tarso afirmou que não irá fazer um governo fracionado, apenas
por divisão de cargos. “Nós fazemos questão que a cabeça de chapa seja
da Unidade, mas isso não implica que ela tenha o poder. Nós temos uma
responsabilidade com a nossa Coligação, mas queremos formar um grande
bloco político no estado. Então não haverá nenhuma postura absolutista”,
disse.
Tarso ainda irá ouvir o PTB e o PP para saber o que os partidos
pensam sobre o futuro do RS. Este diálogo também pode favorecer a
indicação ao governo de quadros de partidos que não estiveram aliados
com Tarso, no primeiro turno. Entre os mais próximos do governador
eleito, o único que surgiu foi o do superintendente da Polícia Federal
no Rio Grande do Sul, Ildo Gasparetto, cotado ao cargo de secretário de
Segurança.
Ampliar a Coligação é importante para o futuro governo Tarso ter
maioria na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. Pode, no
entanto, esbarrar em resistências dentro do núcleo do partido e até
mesmo entre as diferentes correntes dos 14 deputados petistas eleitos
para a Assenbleia. Somando os deputados petistas aos quatro da bancada
do PR/PSB/PCdoB, a Unidade Popular pelo Rio Grande tem 18 das 55
cadeiras, que compõem o parlamento gaúcho. Com o PDT, PTB e PP, o
governo teria a maioria para aprovar projetos com tranquilidade.
As siglas que Tarso salientou que não irão compor o seu governo são
as opositoras diretas à sua campanha nesta eleição: PSDB, PMDB e DEM.
“Mas isso não quer dizer que não vamos dialogar com a oposição, pois tem
quadros bons e que querem o melhor para o Rio Grande”, salientou.
Consertação da casa
O futuro governador Tarso Genro salientou que pretende voltar a cinco
das mais de 300 cidades gaúchas que visitou durante a campanha, para
agradecer pela confiança do voto.
Sem aprofundar qualquer análise sobre a situação do Rio Grande do
Sul, ele disse que pretende governar de acordo com o programa de governo
elaborado ao longo da campanha junto com os partidos aliados,
entidades, movimentos sociais e população.
A fundamentação básica do plano de governo de Tarso Genro é o aumento
da capacidade de investimentos, a recuperação das funções públicas do
Estado, o desenvolvimento sustentável e uma participação forte e
protagonista no cenário nacional.
O governo será organizado em redes, por meio do ProRedes RS, que será
um comitê ligado ao gabinete do governador. O ProRedes RS terá o
objetivo de definir metas e estabelecer as prioridades de
desenvolvimento. O fortalecimento e a pluralidade dos mecanismos de
participação popular, como o Orçamento Participativo e os Conselhos
Regionais e Municipais de Desenvolvimento são prioridade. Há previsão de
criar um Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, nos moldes do
Conselho de Desenvolvimento Nacional. A participação virtual e as redes
sociais na internet também serão estimuladas.
Na rede da Educação, o programa prevê implantação do turno integral
nas escolas de ensino fundamental e um Programa Universidade Para Todos
(ProUni) específico para o Estado. Também está previsto o resgate e
revitalização da Universidade Estadual (Uergs) e investimentos em
pesquisa e tecnologia. Na rede da segurança pública está previsto o
reforço na implantação do Pronasci – Programa de Segurança Pública com
Cidadania, que alia ação policial com programas sociais. Além do
trabalho integrado entre as forças policiais.
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