domingo, 14 de novembro de 2010

Correntes do PT-RS se movimentam para conquistar mais espaço no governo Tarso


Wilson Dias/ABr
Tarso: impostos de micro e pequenas empresas serão desonerados / Foto: Wilson Dias/ABr

Rachel Duarte no Sul21

Dos nove nomes anunciados pelo governador eleito do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), para o secretariado, cinco são quadros do PT, que contemplam três das sete principais correntes que compõem o partido no estado. Passado pouco mais de um mês da sua eleição, em primeiro turno, Tarso já tem definido um terço do primeiro escalão.
Os critérios adotados pelo futuro governador para a escolha dos nomes são: competência técnica; votação obtida na última eleição por candidatos das correntes petistas e dos partidos aliados; relação de confiança do indicado com o próprio Tarso; peso político do escolhido e, ainda, a busca pela maioria na Assembleia Legislativa. Integrantes das mais diversas correntes do PT afirmaram ao Sul21 que Tarso Genro não tem privilegiado nenhuma das correntes.

Partido Plural

A composição do secretariado tem se mostrado uma tarefa complexa para Tarso, porque o PT é um partido plural, formado desde a sua origem por diferentes grupos de pensamento. Ao mesmo tempo, em seus oito anos de governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ensinou que a governabilidade passa por uma ampla coalizão. Tarso Genro, responsável pela articulação politica no governo Lula, seguirá o exemplo do líder. Com base na experiência obtida em dialogar com partidos das mais diferentes tendências, o governador eleito vem conversando com as legendas da Coligação Unidade pelo Rio Grande (PSB, PCdoB e PR), que o elegeu, e com as que convidou a participar do seu governo, como o PDT e o PTB.
Ao viajar para a Europa, Tarso deixou o vice-governador eleito, Beto Grill (PSB), e o futuro secretário do Planejamento, João Motta (PT), encarregados de dar seguimento ao diálogo com os demais partidos, incluindo o PMDB, adversário do PT na disputa pelo Piratini.
Fabiano Pereira /Divulgação Assembleia Legislativa

Diálogo essencial

Para o deputado estadual Fabiano Pereira (PT), da corrente PT de Luta e Massa, o diálogo dentro do partido é essencial para lidar com os descontentamentos individuais que eventualmente surjam quando o governo é amplo. “É preciso manter a representatividade de um governo plural. As correntes não podem estar acima do partido e dos interesses do estado. Para um governo de coalizão ampla, o essencial é consenso”, explica. Ele revela que, desde o início do processo eleitoral, o PT já tinha claro que seria necessário ampliar a governança. “A decisão pela coligação com PCdoB e PSB foi acordada entre todas as correntes, bem como com os apoiadores trabalhistas e petebistas. Ninguém quer avançar o sinal, para não eliminar os espaços para os apoios que darão maioria na Assembleia para o governador governar”, afirma.
Apesar dos constantes diálogos e das sugestões das correntes, a decisão final dos nomes está sendo do próprio governador. Com a divisão dos cargos entre os partidos aliados, “o que sobrar será conversado entre as correntes”, disse Fabiano Pereira. As estatais mais fortes, como a Corsan e a CEEE, estariam no páreo desta disputa interna do PT.
Na avaliação do presidente do PT de Porto Alegre, Adeli Sell (PT), da corrente Construindo um Novo Brasil, Tarso pode ter se precipitado em alguma das indicações, mas nenhuma escolha que fez compromete a relação com o PT. “Sempre haverá disputa e pessoas não contempladas, mesmo porque os espaços no governo são limitados”, disse. O vereador explica que a disputa se dá na área do convencimento e não pela determinação de cotas por correntes. Adeli lembra que o debate entre as correntes leva em conta também o espaço para os demais partidos e a eleição para a prefeitura de Porto Alegre. “Com a participação do PDT no governo Tarso até podemos vir a apoiar a candidatura de José Fortunati (PDT) à reeleição na prefeitura. Mas, isso exigiria a retirada de alguns secretários que hoje estão com ele e o ingresso do PCdoB ou do PSB na chapa”, opinou.
Adeli Sell / Divulgação CMPA

A razão das correntes do PT

Num partido, como o PT, composto por mais de 30 grupos distintos, a disputa por espaço é legítima. A organização do PT foi se modificando ao longo de seus 30 anos de existência. Atualmente, as correntes estão abrigadas em dois campos: Construindo um Novo Brasil e Mensagem.
A maioria das correntes petistas, como a Unidade na Luta, Ação Democrática e os grupos independentes, estão no campo Construindo um Novo Brasil. Já no campo Mensagem, estão as correntes PT Amplo, Democracia Socialista e Esquerda Democrática. Há ainda correntes importantes, como a Articulação de Esquerda e o Movimento PT. Recentemente, um grupo liderado pelo deputado Fernando Marroni e o prefeito de Canoas, Jairo Jorge, gerou uma nova corrente, o Novo Grupo, integrada ambém pela deputada eleita Miriam Marroni, mulher de Fernando. O casal deixou há bastante tempo o PT Amplo para integrar o movimento Maioria Nacional, bem como o grupo de Jairo Jorge, uma dissidência recente do PT Amplo. O Novo Grupo surgiu este ano, durante a campanha eleitoral e os movimentos para a formação do governo Tarso. O grupo pretende emplacar o nome do sociólogo Jorge Branco, ex-superintendente da Metroplan no governo Olívio Dutra. Ele está cotado para a secretaria de Meio Ambiente e parece ter recebido sinal verde de Tarso Genro.
As pretensões futuras de Tarso e o papel que ele pretende desempenhar no cenário nacional vão influenciar na composição do governo e na participação das correntes. Tarso precisar ser uma alternativa à maioria nacional, ainda comandada direta ou indiretamente por José Dirceu.
Bruno Alencastro/Sul21
Raul Pont / Foto: Bruno Alencastro/Sul21

Particularidades regionais

Segundo o cientista político Tarson Nuñes, o número de grupos dentro do PT tem particularidades regionais e se diferenciam nos estados brasileiros. “Cada corrente tem uma identidade própria e os campos são os aglutinadores dos pensamentos. A organização do partido em correntes pode gerar ambiente de conflito e tem uma necessidade de constantes reuniões, mas este formato evita o movimento excludente”, explicou.
Tarson falou que, historicamente o PT é um partido diferenciado, pois, reuniu pessoas de sindicatos, sobreviventes da clandestinidade no regime militar, religiosos e intelectuais de esquerda. Já o presidente do PT gaúcho, deputado estadual Raul Pont, diz que a existência das correntes tem ainda outra justificativa: O PT, partido de esquerda, não pode ser monolítico como foram outros partidos de esquerda no Brasil e no mundo.
“A nossa concepção de construção partidária é a de que, mesmo tendo programa definido, estratégico e claro, o partido de esquerda não pode ser de poucos tomando decisões para maiorias. Nós somos o único partido de esquerda de massas hoje no mundo dentro deste formato”, salientou Pont. Segundo o deputado, no estatuto do PT está assegurada a organização de tendências de opinião e seus integrantes têm direito a produzir boletins informativos e lançar chapas em momentos de eleição.
A composição do governo Tarso obedece ao seu jeito de fazer política, que, naturalmente, fortalece algumas lideranças, legitimando alguns quadros petistas. Algumas correntes, no entanto, podem divergir da forma de Tarso fazer política e se distanciar do seu governo.

A origem e os rompimentos

Nos primeiros anos, um bloco de sindicalistas e alguns intelectuais formavam o PT. Havia ainda os grupos que atuavam em outros setores da sociedade, como a Igreja, e que viviam na clandestinidade. Estes, lembra o deputado Raul Pont, foram classificados como petistas de duas camisetas. “Este debate foi muito forte no começo. E, a partir daí, se legitimaram os grupos em forma de correntes”, explica o presidente do PT RS, Raul Pont.
Durante os 30 anos do PT, alguns agrupamentos romperam com o partido ou foram expulsos. Entre os intelectuais de maior porte no PT, o sociólogo Chico de Oliveira passou para o PSol, assim como o economista Plínio de Arruda Sampaio. Da mesma forma, os setores mais à esquerda da Igreja Católica, também sofreram alguns afastamentos.
O PT, no entanto, foi se reciclando com o passar do tempo e as correntes conquistaram espaço proporcional na composição de governos, diretórios e demais instâncias partidárias. Em 2001, o partido decidiu por mudar a forma de escolha dos seus candidatos que era por meio de congressos e passou a ser por votação.
Na avaliação do deputado estadual Fabiano Pereira (PT), as correntes serviram para organizar o partido durante muito tempo, mas, apesar de serem boas, podem ser revistas. “As correntes ainda são boas, mas não podem ser utilizadas para um bloqueamento dentro do partido, de forma enfraquecida entre nós”, diz.
Para o presidente do PT de Porto Alegre, Adeli Sell, o partido tem que se recriar e rever o sistema de muitas correntes. “Devemos apostar na organização do partido por setoriais e fortalecer os debates nas diferentes áreas para que possamos debater soluções para as diversas demandas da população”, acredita.

As correntes e seus líderes

No Rio Grande do Sul, há correntes em que a lidernça é exercida por apenas uma pessoa, enquanto em outras, ela aparece dividida, ou sendo disputada, por duas ou mais. A liderança pode sofrer altos e baixos de acordo com os resultados das eleições. Veja aqui quais são as correntes e seus líderes gaúchos:
Divulgação
Estilav Xavier / Foto: Divulgação

PT Amplo

O deputado Federal Paulo Pimenta e o ex-deputado federal Luiz Fernando Mainardi lideram o PT Amplo. No entanto, Estilac Xavier, pelo lugar conquistado no governo de Tarso (Secretaria Geral de Governo), voltou a ser uma das lideranças mais importantes da corrente, como era quando foi deputado. Ao defini-lo como secretário, Tarso reforçou a liderança de Estilac. Pimenta e, principalmente, Mainardi têm maiores ligações com os setores moderados do PT, enquanto Estilac, hoje, encontra-se mais próximo da Democracia Socialista – corrente do deputado estadual e presidente do PT, Raul Pont, e do futuro chefe da Casa Civil, Carlos Pestana. Com estas escolhas – Estilac e Pestana – Tarso sinaliza uma aproximação maior com a DS.
Elvino Bohn Gass/ Divulgação AL

Democracia Socialista

Apesar de estar muito dividida, a Democracia Socialista é, majoritariamente, liderada pelo presidente do PT, deputado estadual Raul Pont. Carlos Pestana, na prática um moderado, é homem de confiança de Pont. Eleito para a Câmara Federal, o deputado estadual Ronaldo Zulke expressa uma posição mais pragmática. Já o deputado Elvino Bohn Gass, que também é liderança importante na corrente, tem uma posição mais ligada ao sindicalismo.
Adão Villaverde / Marcos Eifler/ AL

Construindo um Novo Brasil

A maioria nacional, agrupada no Construindo um Novo Brasil, agrega muitas correntes, sendo a maior delas a Unidade na Luta, do deputado Villaverde. Outra corrente que compõe a Construinhdo um Novo Brasil é a Ação Democrática, do deputado federal Marco Maia e o deputado estadual Ivar Pavan. Diante dos resultado das eleições 2010 e de sua expressão pública, o deputado Adão Villaverde surge como um dos nomes mais importantes do Bloco. Já Marco Maia, reeleito para a Câmara Federal com 122.134 votos é uma figura importante na montagem tanto do governo de Tarso quanto no de Dilma. Ex-presidente da Assembleia, o deputado Ivar Pavan não conseguiu eleger-se para a Câmara Federal e a derrota transformou-o em figura secundária na corrente, abrindo espaço para outros nomes como o do deputado eleito Valdeci Oliveira, que poderá conquistar espaço no primeiro escalão de Tarso.
Divulgação
Maria do Rosário/ Divulgação

Movimento PT

A figura pública da corrente Movimento PT é a deputada federal reeleita Maria do Rosário. Seu marido, Eliezer Pacheco, é o “pensador estratégico” da corrente. Ele chegou a ser cotado para a secretaria de Educação do governo Tarso, mas espera manter-se no governo federal.
Bruno Alencastro/Sul21
Ary Vanazzi / Foto: Bruno Alencastro/Sul21

Articulação de Esquerda

A maior liderança do grupo é o prefeito de São Leopoldo, Ary Vanazzi, que inclusive conseguiu eleger a vereadora leopoldense Ana Affonso como deputada estadual. Desta corrente, o cotado para o governo Tarso é o secretário de Habitação, Saneamento e Desenvolvimento Urbano de São Leopoldo, Marcel Frison, bancado pelo próprio Vanazzi.
Fabiano Pereira / Divulgação AL

PT de Luta e Massa

Esta corrente é liderada praticamente por uma única pessoa: o deputado estadual Fabiano Pereira.
Flávio Koutzii /Divulgação

Esquerda Democrática

A Esquerda Democrática foi fundado por Flavio Koutzii, que vai assessorar o gabinete de Tarso. A corrente, que nasceu como uma dissidência dentro do partido, atua como braço auxiliar da Democracia Socialista. Apesar de ter se retirado da atividade parlamentar e da direção da corrente, Koutzii segue sendo o comandante de fato da Esquerda Democrática, integrada, também, pelo deputado federal Henrique Fontana. Esta é uma corrente que se identifica com o governo Lula.

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