Ramez Philippe Maalouf* via blog do bourdoukan
Um
dos maiores mitos já disseminados na mídia internacional e, inclusive,
nos meios acadêmicos, é definir Israel como “Estado judeu” (motivo pelo
qual uso aspas sempre que escrevo a referida alcunha).
Israel jamais foi, não é e jamais será um Estado judeu.
Até porque é pouco provável que governo e população do Estado de Israel sigam os princípios do judaísmo.
Não
surpreende, portanto, que a maioria dos judeus (ou aqueles que afirmam
ser judeus) prefira viver fora do Estado que, a princípio, deveria
protegê-los.
A
despeito das questões éticas e morais, a realidade demográfica
(Demografia é uma ciência maldita, banida da academia, especialmente no
Oriente Médio, inclusive no mundo árabe) insiste refutar este mito.
Proporcionalmente,
há mais árabes em Israel (cerca de 1.500.000 ou 20,1% da população
israelense dentro das fronteiras de 1967,) do que curdos no Iraque (17%)
e negros nos EUA (13%), só para termos de comparação.
Se
considerarmos as populações da Faixa de Gaza (1.600.000) e da
Cisjordânia (2.400.000), bloqueadas e sob ocupação militar sionista
desde 1967, a proporção de árabes na população total sob o controle do
governo israelense (11.600.000) sobe para cerca de 47,4%, alcançando
5.500.000 em termos absolutos, em 2010.
Como
a população supostamente judia alcança a cifra de 5.700.000 (49,1% da
população total e cerca de 75% dos habitantes dentro das fronteiras de
1967), calcula-se que em 2014, a número de árabes vivendo sob o domínio de Israel alcance a mesma cifra de judeus (50%/50%), colocando em xeque a suposta identidade judaica de Eretz Yisrael, expondo o fracasso do projeto sionista.
A
bomba demográfica palestina está detonando Israel, explicando, em
grande medida, os motivos do Massacre de Gaza, na virada de 2008 para
2009, que exterminou mais de 1.400 palestinos, dos quais 1/3 eram
crianças. Um dos objetivos do Massacre era forçar a retirada dos
palestinos para o Egito (cujo governo, irônica e covardemente, dera
sinal verde para o ataque israelense), para diminuir a pressão
demográfica palestina sob o domínio sionista.
Egito
e Israel são aliados de velha data. Em 1948, durante a chamada Guerra
de Independência de Israel, os egípcios fizeram um acordo com os
sionistas (a semelhança do que os hachemitas transjordanos fizeram com
os líderes sionistas com relação à Cisjordânia); a Faixa de Gaza e o
Negev seriam “cedidos” ao governo de Cairo em troca da Paz com o “Estado
judeu”. Entretanto, no decorrer da guerra, os sionistas preferiram
“ceder” apenas a Faixa de Gaza, retendo o domínio sob o Negev. Mais de
750 mil árabes palestinos foram expulsos da Palestina, destruída pela
fundação de Israel, outros 160 mil árabes (incluindo milhares de druzos,
que não se consideram palestinos) permaneceram no novo Estado hebreu. O
Egito ocupou a Faixa de Gaza até 1967, quando foi atacado pela aviação
israelense, que passou a ocupar também a Península do Sinai. As vitórias
egípcias nas Guerras de Atrito (1967-70) e do Yom Kippur (1973) levaram
os israelenses às negociações, acordos e tratado de Paz, concluídos com
a devolução do Sinai ao governo de Cairo, em janeiro de 1982, para tão
somente abrir caminho para a grande invasão israelense do Líbano em
junho do mesmo ano, que exterminou mais de 25 mil árabes em 70 dias de
ataques.
Calcula-se
o total refugiados palestinos em todo mundo alcance a cifra de 5,6
milhões. Se metade deles retornassem à Palestina histórica, como demanda
a resolução 194 da ONU, o país voltaria a ter a mesma proporção de
árabes e judeus residentes no país (60%/40%) antes da Guerra de 1947-49,
que resultou na expulsão de mais de 750 mil palestinos.
Acredita-se
que em 2020 esta proporção alcance a cifra de 25% dos residentes no
país, dentro das fronteiras anteriores à Guerra dos Seis Dias (1967). A
demanda pelo caráter binacional do suposto Estado judeu continuaria.
A demografia, como visto, está fazendo com que a Palestina renasça como um Estado de maioria árabe, como sempre foi há milênios.
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