'Insects in the backyard', dirigido por tailandês, foi considerado 'pornográfico'.
Produção fez sua estreia na última edição do Festival de Toronto.
Cena do filme "Insects in the backyard", de Tanwarin
Sukhapisit. (Foto: Divulgação)
Sukhapisit. (Foto: Divulgação)
A diretora do primeiro filme que denuncia a marginalização dos
transexuais na Tailândia acaba de esbarrar na censura. "Insects in the
backyard" foi proibido de ser exibido no país, julgado "pornográfico e
imoral".
O longa-metragem, estreia de Tanwarin Sukhapisit e que ela mesma
protagoniza, tem enredo baseado na sua própria história. Sukhapisit é
um pai solteiro com dois filhos adolescentes que se envergonham de sua
escolha sexual e que se prostituem para fugir de casa.
O filme foi bem aceito pelo público quando exibido pela primeira vez em
setembro, em Toronto e, depois do sucesso, foi lançado no Festival
Internacional de Cinema de Bangcoc.
Quando Sukhapisit pediu em dezembro a permissão para projetar o filme
nas salas comerciais, sua solicitação foi rejeitada sem nenhuma
explicação. "Não me disseram nada, mas depois soube por amigos e pela
imprensa que eles não gostaram de várias cenas", disse diretora, que
nasceu 37 anos atrás no corpo de um homem, mas que desde muito jovem se
sentia uma mulher.
Sukhapisit recorreu à sentença contra o Ministério da Cultura. O órgão
se mostrou disposto a levantar o veto se a diretora cortar todas as
sequências de sexo homossexual explícito, estudantes uniformizados
exercendo a prostituição e o sonho do filho que assassina o pai.
A diretora recusou cortar qualquer parte da produção. Quem se arrisca a
distribuir o filme poderá ser multado em até 1 milhão de bat
(equivalente a US$ 33 mil), o dobro do orçamento.
Sukhapisit também não pode classificar o filme como proibido para
menores de 18 anos porque todas as formas de pornografia são ilegais na
Tailândia.
"Claro que há muitas cenas fortes, com violência e sexo, não só
homossexual, mas garanto que não tem mais do que filmes de Hollywood e
ele pode ser assistido por qualquer adulto", argumentou a diretora.
Na sua opinião, o comitê de censura presidido pelo primeiro-ministro
tailandês, Abhisit Vejjajiva, "é como um dinossauro que não entende de
cinema, acredita que todos os tailandeses são tão incultos como ele e
por isso limita a liberdade".
Personagens cômicos e secundáriosSukhapisit se
queixa que, em seu país, os transexuais são limitados a papéis cômicos
secundários no cinema - que ela mesma interpretou em infinitas ocasiões -
como reflexo de uma sociedade que garante ser tolerante, mas que na
realidade continua sendo "profundamente conservadora".
"É uma atitude paternalista, porque as pessoas aceitam a cultura
contemporânea mais do que seus próprios governantes. É triste que alguém
com 18 anos esteja apto a votar nas eleições democráticas, mas não seja
suficientemente maduro para ver meu filme", lamentou.
Também é algo contraditório que as mesmas autoridades que proibiram o
filme a contratam para palestrar sobre cinema nas universidades, mesmo
vestida de mulher.
"Há dez anos, jamais me sentiria à vontade de me vestir assim em
público, mas pouco a pouco as coisas estão mudando e já não é um tabu
para a maioria dos tailandeses", explica Sukhapisit.
A cineasta pertence a uma nova geração liderada por Apichatpong
Weerasethakul, o diretor mais famoso da história da Tailândia após
conquistar a Palma de Ouro de Melhor Diretor em Cannes em 2010.
O homossexual declarado Weerasethakul enfrentou a censura diversas
vezes, e reprova que, enquanto isso, as autoridades financiam
superproduções épicas com um fundo nacionalista.
A responsável por "Insects in the backyard", cujo título é uma metáfora
sobre como os transexuais não são vistos como humanos e são excluídos
pela sociedade, afirma que levará seu caso aos tribunais e não
descansará até que se derrogue a lei "antidemocrática".
Fonte: G1
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