Investimento em telefonia não segue expansão de clientes e panes crescem
Nos celulares, base de usuários avançou 16,6% em 2010, chegando a
202,9 milhões de linhas, mas investimento das empresas caiu 2,4%
Karla Mendes e Renato Cruz – O Estado de S.Paulo
O investimento das operadoras de telecomunicações não tem acompanhado
o crescimento de sua base de clientes, o que tem levado a panes cada
vez mais frequentes nos serviços de telefonia e internet. Essa situação
já incomoda o governo. O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo,
cobrou medidas da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
Um exemplo do descompasso entre investimento e crescimento está no
setor de telefonia móvel. A base de clientes avançou 16,6% no ano
passado, chegando a 202,9 milhões de linhas, segundo a consultoria
Teleco. Mas o investimento das empresas diminuiu 2,4%, ficando em R$ 8,2
bilhões. Esse montante foi 16,3% inferior ao pico de R$ 9,8 bilhões
destinados ao setor em 2004.
O que acontece com o celular é somente um exemplo, pois a combinação
de investimento baixo e crescimento alto se repete em outras áreas das
telecomunicações. Os consumidores estão cada vez mais insatisfeitos com a
qualidade dos serviços.
Em pouco mais de um mês, a Intelig, que pertence à TIM, teve três
panes. O Speedy, da Telefônica, voltou a deixar seus usuários na mão no
dia 13 deste mês, dois anos depois de a empresa ter sido punida pela
Anatel, sendo impedida até de vender os serviços. E a Nextel ficou entre
as palavras mais tuitadas por brasileiros no dia 10, por causa de
problemas no Rio de Janeiro.
“Falta acompanhamento, supervisão e investimento”, disse Ruy Bottesi,
presidente da Associação dos Engenheiros de Telecomunicações (AET). “A
infraestrutura não está preparada para suportar o crescimento. O
investimento é reativo. As operadoras investem depois do aumento de
tráfego, mas leva de 60 a 90 dias para importar equipamentos.”
No ano passado, os investimentos totais das operadoras no País
(incluindo telefonia fixa, móvel e outros serviços) chegaram a R$ 17,4
bilhões, alta de 3,6% sobre 2009. Mesmo com o crescimento modesto, o
valor está 28,1% abaixo dos R$ 24,2 bilhões investidos em 2001. A
receita bruta do setor subiu mais que o investimento, avançando 4,2%,
para R$ 184,9 bilhões.
“A essência do problema não está nas operadoras, mas na agência reguladora e no governo”, disse Bottesi.
“O serviço é público. O que a Anatel está fazendo para que tenhamos
qualidade no serviço de telecomunicações hoje, em 2011?”, indagou.
Explicações. Para as operadoras, as críticas de que o investimento é
baixo não procedem. Elas argumentam que os problemas verificados nos
últimos meses são pontuais e o investimento realizado é suficiente para
sustentar a expansão da base.
O fato de ele não acompanhar o ritmo do aumento do mercado teria três
explicações: os equipamentos têm ficado mais baratos, graças à evolução
tecnológica e à queda da demanda nos países ricos; o câmbio está
favorável, fazendo com que os reais possam comprar mais equipamentos
importados do que antes; e o desembolso maior é feito na instalação da
rede, não na expansão desta mesma rede.
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