Por Marcelo Branco
Os jovens nativos digitais da sociedade em rede têm orgulho de
ser brasileir@s, acreditam que o Brasil é o país do presente e concordam
que têm um papel de transformar a sociedade. Se conectam mais com
discursos coletivos do que individualistas e querem menos consumismo.
Apenas 5% tem como objetivo ficar rico e sabem que podem trabalhar por
uma causa coletiva e buscar seus sonhos pessoais ao mesmo tempo. Estes
mesmos jovens, cada vez mais, vêem a Internet como ferramenta de
mobilização e engajamento político e menos os partidos. [1]
“Quantos jovens não votaram no Chile, na Espanha? Não achem que
estes jovens não acreditam na democracia. Eles não crêem na democracia
que oferecem a eles (…).” Eduardo Galeano na Praça Catalunya [2]
Quando eu divulguei esta pesquisa na rede, surgiram muitos
questionamentos e diálogos vindos, principalmente, de militantes
partidários: isso é positivo ou negativo? Acho isso tremendamente
positivo e tentarei sucintamente colocar a minha opinião, já tuitada de
forma pulverizada. Acontece que os jovens estão exigindo muito mais
participação e democracia do que os partidos políticos e a democracia
representativa os oferecem. Eles querem mais participação. Estão
errados?
Os partidos e os sindicatos são organizações construídas com base na
revolução tecnológica industrial. Foram, por longos anos, a única e a
melhor forma de catalizar de forma coletiva os pensamentos e ideologias
para uma ação política efetiva. Sozinho, ninguém chega a lugar algum, e
isso continua valendo. Estas organizações mediam e intermediam a relação
entre os diversos interesses individuais e coletivos, através do
“programa”, e representam estes interesses junto à sociedade.
Os movimentos sociais em rede, pós-internet, são formados por
indivíduos conectados em rede, que manifestam suas opiniões e movem suas
ações na perspectiva do engajamento coletivo, sem a intermediação de
qualquer organização. Aliás, a Internet veio para questionar o papel de
todas as organizações intermediárias. A indústria fonográfica que o
diga.
Acredito que as formas de organizações da era industrial e as
organizações de indivíduos conectados em rede, típicas da sociedade em
rede, conviverão. Uma não substitui a outra.
Mas é #fato que nos últimos anos, em todo mundo, os partidos
políticos e os sindicatos têm tido menos capacidade de mobilização
coletiva do que os movimentos sociais em rede. E isso não é somente
porque os programas dessas organizações estão defasados ou que não
contemplam os interesses dos coletivos. Atualizar os programas dos
partidos é importante, mas não será o suficiente para engajar a geração
atual na forma de organização hierárquica dos partidos. Estes jovens
estão, cada vez mais, experimentando novas formas para organizar suas
ações políticas coletivas, utilizando a plataforma da Internet como
base. E isso tem dado resultado.
Há quase 12 anos, na manifestação chamada de N30, mais conhecida como a “batalha de Seattle” [3], através da Direct Action Network (ação direta em rede) possivelmente tenhamos inaugurado a era das mobilizaçoẽs 2.0.
Desde Seattle, passando pelas mobilizações do Fórum Social Mundial
aqui em Porto Alegre, nas marchas contra as guerras do Bush-pai, nas
manifestações anti-globalização neoliberal, com destaque para Gênova e
Barcelona, até as recentes revoltas árabes e agora a #globalrevolution
partindo da Espanha para toda Europa [4], comprovam a força das redes da internet para organização de grandes ações coletivas.
Não acredito que os partidos ou sindicatos estão descartados como
forma de organização política. Acontece que agora existem NOVAS formas
de organização política. As novas formas de organização social
(indivíduos conectados em rede) e as velhas (partidos e sindicatos) vão
conviver, mas como organizações distintas.
As velhas organizações não podem ter a pretensão de englobar ou
cooptar as novas. Terão que conviver, lado a lado, mas cada uma com a
sua dinâmica própria. As dinâmicas das redes são distintas das dinâmicas
partidárias. Não há como enquadrar as dinâmicas em rede nas hierarquias
partidárias. Nem é possível que um partido funcione com as dinâmicas
horizontais e sem hierarquias como nas redes.
O sucesso das organizações da era industrial (partidos e sindicatos)
foi justamente o de organizar as pautas e as lutas de forma hierárquica e
aprovadas por maioria. Nas dinâmicas em redes, raramente há votações
para hierarquizar as ações. Funciona por adesão voluntária. A proposta
com maior adesão avança na prática e mobiliza. Assim tem sido as
experiências da última década.
No entanto, as dinâmicas dos movimentos em rede ainda tem sido
incapazes de estabelecer uma nova ordem. Pelo menos por enquanto. Os
partidos sim, estabelecem uma nova ordem, assumem o poder e governam.
Creio que no futuro teremos experiências de uma nova ordem a partir de
dinâmicas sociais em rede. Vivemos uma transição da era industrial para a
era das sociedades em redes. As velhas formas e as novas conviverão,
mas são distintas formas de organizações. Aliadas? Antagônicas?
Complementares?
O certo é que existe, neste momento, uma tendência e um potencial
global democratizante, que questiona os limites da democracia
representativa e que aponta para uma nova democracia participativa,
tendo a internet como plataforma de mobilização e viabilização desta
nova relação direta dos cidadãos com a democracia.
Acredito que a recente pesquisa, “o sonho brasileiro”, realizada
entre jovens de 18 a 24 anos e que ouviu mais de três mil pessoas de 173
cidades do país, aponta dados extremamente positivos na perspectiva de
transformação social.
Fontes:
[1]- Pesquisa “O sonho brasileiro”. Box1824 (agência especializada em mapear tendências de comportamento), e Instituto Datafolha.
Geração “sonhadora” quer “oportunidade para todos” e menos consumismo By Marina Novaes, do R7
- Jovens sonham e acreditam no Brasil By Ricardo Kotscho, do R7
- Pesquisa mostra que enquanto 59% dos jovens não têm preferência partidária, 71% consideram a internet uma ferramenta política By Naira Alves IG
[3]- Seattle: uma década de ativismo 2.0 By #comunidadedigital das turmas e ex-alunos de comunicação digital da ESPM-RJ Turma 7A – 2009.2
[4]-Da #democraciarealya à #WorldRevolution By Marcelo Branco
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