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- “A Primavera Árabe é uma grande chance para os direitos das mulheres.
Mas também existe o risco real de que conquistas do passado sejam
revertidas.” Em que direção irá, segundo Liesl Gernholtz, diretora de
direitos da mulher da Human Rights Watch, é imprevisível.
Ainda é muito cedo para fazer comentários fundamentados, acredita
Gerntholz, que é advogada especialista em direitos da mulher, mas há
vários indícios. “Existe a chance de que as mulheres não possam colher
os frutos da democracia que substituirá os regimes derrubados.”
O motivo para isso é que os partidos islâmicos conservadores tiveram
vitória substancial nas eleições no Egito e na Tunísia. “Eles defendem
tradições que nem sempre apoiam os direitos da mulher. Há preocupação e
mesmo medo de que estas forças conservadoras queiram voltar atrás nos
limitados progressos que as mulheres conseguiram fazer nesses países.”
Clima desfavorável
Um outro ponto é que nem
todos os países têm um forte movimento feminino. “Na Líbia os movimentos
sociais foram proibidos por 42 anos. Agora têm que ser construídos do
zero. Não há nenhuma experiência na luta pelos direitos da mulher. As
mulheres ainda não têm habilidades para estabelecer organizações, tomar
parte no debate público ou para serem eleitas para o parlamento. É
difícil encontrar confiança e coragem para enfrentar essa aventura.
Tradicionalmente, elas sempre foram mantidas fora do debate social e da
política.”
Gerntholz constata que em muitos países falta um clima favorável para
as mulheres, que têm grande dificuldade em exercer seus direitos.
“No dia 8 de março mulheres egípcias fizeram uma marcha na praça
Tahrir, no Cairo, para celebrar o Dia Internacional da Mulher. Elas
foram atacadas, insultadas e intimidadas. Lhes disseram que não tinham
nada que procurar na rua e que deveriam ficar em casa. A revolução tinha
acabado. E isso foi só um mês depois dos protestos populares, nos quais
se pedia mais liberdade, e não muito depois da queda de Mubarak. Mas
quando as mulheres pedem a mesma liberdade, são mandadas para casa.”
Emancipação feminina
Apesar disso, Gerntholz
também vê sinais que dão esperança. As mulheres estão tentando mudar a
maré. Egito e Tunísia têm movimentos fortes de emancipação feminina. “É
possível que elas se fortaleçam com a transição para a democracia. Na
Tunísia, pelo menos, já foi estabelecido um sistema de quotas. Metade
das cadeiras no parlamento são ocupadas por mulheres. Elas também estão
participando da elaboração da nova constituição.”
Mas Gerntholz está principalmente impressionada com as mulheres na
Líbia. Um mês depois da queda de Kadhafi elas já haviam organizado uma
conferência sobre direitos da mulher, da qual Gerntholz participou.
“Elas discutiram sobre o que querem conquistar, quais são suas
expectativas e principais desafios. Portanto, as mulheres com certeza
vão lutar por seus direitos e estão se organizando. Embora não seja
fácil, porque elas não têm acesso fácil ao poder e aos tomadores de
decisão.”
Sharia
É certo, constatou Gerntholz durante sua
visita à Líbia, que muitas mulheres lá optam por direitos compatíveis
com a sharia, a legislação islâmica. “Elas acreditam que a sharia deve
ser a base para a constituição. São em primeiro lugar muçulmanas. Sua
religião deve ser determinante para a maneira como vivem. Este é um
sentimento generalizado de um grupo de mulheres que certamente não é
homogêneo. São mulheres de diferentes camadas da população, com pouca ou
muita escolaridade, e de todas as idades.”
As mulheres líbias acham que a sharia não vai contra os direitos da
mulher. Se as leis islâmicas forem interpretadas da maneira correta,
elas apoiam estes direitos. “Segundo elas, a sharia não trata do
apedrejamento de mulheres e de poligamia. Nem sobre o casamento de
crianças. Para elas, estas não são leis islâmicas, mas atos ligados à
tradição e à cultura.”
Direitos humanos
De acordo com Gerntholz, não há
nada errado com este feminismo islâmico. Ele apenas é interpretado de
um ângulo religioso, assim como também acontece com feministas
católicas. “Se você é capaz de aplicar coisas como religião, cultura e
tradição de uma maneira positiva e não discriminatória, acho que não é
mau. Mas se isso for usado para excluir pessoas e reprimir, aí é
realmente ruim.”
A introdução da sharia não traz necessariamente problemas, acredita
Gerntholz. Desde que atenda aos princípios dos direitos humanos
universais, nos quais as mulheres são iguais aos homens. Para isso é
preciso assegurar que países como a Líbia, que assinaram estes direitos,
também cumpram estes princípios.
Mas só o tempo dirá que influência a eventual introdução da sharia terá sobre os direitos das mulheres.
Um comentário:
Não será fácil. É uma luta desigual.
Mesmo nos países onde as mulheres acham que tem liberdade, elas são criticadas e ultrajadas.
Beijos!
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