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Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
O narcotráfico e o aumento da violência social no México
Somos as mundanças que queremos no planeta
Esta frase que parece arrogante é,
na verdade, o testemunho do que significa o projeto “Cultivando Agua
Boa” implementado pela grande hidrelétrica Itaipu Binacional nos limites
entre o Brasil e o Paraguai envolvendo cerca de um milhão de pessoas.
Os diretores da empresa – Jorge Samek e Nelton Friedrich – com suas
equipes sabiamente entenderam o desafio global que nos vem do
aquecimento global e resolveram dar uma resposta local, o mais inclusiva
e holística possível. Esta se mostrou tão bem sucedida que fez-se uma
referência internacional.
Seus diretores-inspiradores dizem-no claramente: ”A hidrelétrica Itaipu adotou para si o papel de indutora de um verdadeiro movimento cultural rumo à sustentabilidade, articulando, compartilhando, somando esforços com os diversos atores da Bacia Paraná 3 em torno de uma série de programas e projetos interconectados de forma sistêmica e holística e que compõem o Cultivando Agua Boa; eles foram criados à luz de documentos planetários como a Carta da Terra, o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis, a Agenda 21 e os Objetivos do Milênio”.
Operaram, o que é extremamente difícil, uma verdadeira revolução cultural, vale dizer, introduziram um complexo de princípios, valores, hábitos, estilos de educação, formas de relacionamento com a sociedade e com a natureza, modos de produção e de consumo que justifica o lema, escrito em todas as camisetas dos quatro mil participantes do último grande encontro em meados de novembro:”somos as mudanças que queremos no planeta”.
Com efeito, a gravidade da crise do sistema-vida e do sitema-Terra é de tal magnitude que não bastam mais as iniciativas dos Estados, geralmente, tardias e pouco eficazes. A Humanidade inteira, todos os saberes, as instâncias sociais e as pessoas individuais, devem dar a sua contribição e tomar o destino comum em suas mãos. Caso contrário, dificilmente, sobreviveremos coletivamente.
Christian de Duve, prêmio Nobel de Fisiologia de 1974, nos adverte em seu conhecido livro “Poeira Vital: a vida como imperativo cósmico”(1997) que “nosso tempo lembra uma daquelas importantes rupturas na evolução, assinaladas por extinções em massa”. Efetivamente, o ser humano tornou-se uma força geofísica destruidora. Outrora eram os meteoros rasantes que ameaçavam a Terra, hoje o meteoro rasante davastador se chama o ser humano sapiens e demens, duplamente demens.
Dai a importância de “Cultivando Agua Boa”: mostrar que a tragédia não é fatal. Podemos operar as mudanças que vão desde a organização de centenas de cursos de educação ambiental e capacitação, do surgimento de uma consciência coletiva de corresponsabilidade e cuidado pelo ambiente, da gestão compartilhda das bacias hidrográficas, de incentivo à agricultura familiar, da criação de um refúgio biológico de espécies regionais, de corredores de biodiversidade unindo várias reservas florestais, de mais de 800 km de cercas de proteção das matas ciliares, do resgate de todos os rios, do cultivo de plantas medicinais, da geração de energia mediante os dejetos de suinos e aves, da construção de um canal de 10 km para vencer um desnível de 120 metros e permitir a passagem de peixes de piracema até a criação de um Centro Tecnológico, Centro de Saberes e Cuidados Ambientais e da Universidade da Integração Latino-Americana entre outras não citadas aquí.
A sustentabilidade, o cuidado e a participação/cooperação da sociedade civil são as pilastras que sustentam este projeto. A sustentabilidade introduz uma racionalidade responsável pelo uso solidário dos recursos escassos. O cuidado funda uma ética de relação respeitosa para com a natureza, curando feridas passadas e evitando futuras e a participação da sociedade cria o sujeito coletivo que implementa todas as iniciativas. Tais valores são sempre revisados e pactados. O resultado final é a emergência de um tipo novo de sociedade, integrada com o ambiente, com uma cultura da valorização de toda a vida, com uma produção limpa e dentro dos limites do ecossistema e com profunda solidariedade entre todos. Uma aura espiritual benfazeja perpassa os encontros como se todos se sentissem um só coração e uma só alma.
Não é assim que começa o resgate da natureza e o nascimento de um novo paradigma de civilização?
Seus diretores-inspiradores dizem-no claramente: ”A hidrelétrica Itaipu adotou para si o papel de indutora de um verdadeiro movimento cultural rumo à sustentabilidade, articulando, compartilhando, somando esforços com os diversos atores da Bacia Paraná 3 em torno de uma série de programas e projetos interconectados de forma sistêmica e holística e que compõem o Cultivando Agua Boa; eles foram criados à luz de documentos planetários como a Carta da Terra, o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis, a Agenda 21 e os Objetivos do Milênio”.
Operaram, o que é extremamente difícil, uma verdadeira revolução cultural, vale dizer, introduziram um complexo de princípios, valores, hábitos, estilos de educação, formas de relacionamento com a sociedade e com a natureza, modos de produção e de consumo que justifica o lema, escrito em todas as camisetas dos quatro mil participantes do último grande encontro em meados de novembro:”somos as mudanças que queremos no planeta”.
Com efeito, a gravidade da crise do sistema-vida e do sitema-Terra é de tal magnitude que não bastam mais as iniciativas dos Estados, geralmente, tardias e pouco eficazes. A Humanidade inteira, todos os saberes, as instâncias sociais e as pessoas individuais, devem dar a sua contribição e tomar o destino comum em suas mãos. Caso contrário, dificilmente, sobreviveremos coletivamente.
Christian de Duve, prêmio Nobel de Fisiologia de 1974, nos adverte em seu conhecido livro “Poeira Vital: a vida como imperativo cósmico”(1997) que “nosso tempo lembra uma daquelas importantes rupturas na evolução, assinaladas por extinções em massa”. Efetivamente, o ser humano tornou-se uma força geofísica destruidora. Outrora eram os meteoros rasantes que ameaçavam a Terra, hoje o meteoro rasante davastador se chama o ser humano sapiens e demens, duplamente demens.
Dai a importância de “Cultivando Agua Boa”: mostrar que a tragédia não é fatal. Podemos operar as mudanças que vão desde a organização de centenas de cursos de educação ambiental e capacitação, do surgimento de uma consciência coletiva de corresponsabilidade e cuidado pelo ambiente, da gestão compartilhda das bacias hidrográficas, de incentivo à agricultura familiar, da criação de um refúgio biológico de espécies regionais, de corredores de biodiversidade unindo várias reservas florestais, de mais de 800 km de cercas de proteção das matas ciliares, do resgate de todos os rios, do cultivo de plantas medicinais, da geração de energia mediante os dejetos de suinos e aves, da construção de um canal de 10 km para vencer um desnível de 120 metros e permitir a passagem de peixes de piracema até a criação de um Centro Tecnológico, Centro de Saberes e Cuidados Ambientais e da Universidade da Integração Latino-Americana entre outras não citadas aquí.
A sustentabilidade, o cuidado e a participação/cooperação da sociedade civil são as pilastras que sustentam este projeto. A sustentabilidade introduz uma racionalidade responsável pelo uso solidário dos recursos escassos. O cuidado funda uma ética de relação respeitosa para com a natureza, curando feridas passadas e evitando futuras e a participação da sociedade cria o sujeito coletivo que implementa todas as iniciativas. Tais valores são sempre revisados e pactados. O resultado final é a emergência de um tipo novo de sociedade, integrada com o ambiente, com uma cultura da valorização de toda a vida, com uma produção limpa e dentro dos limites do ecossistema e com profunda solidariedade entre todos. Uma aura espiritual benfazeja perpassa os encontros como se todos se sentissem um só coração e uma só alma.
Não é assim que começa o resgate da natureza e o nascimento de um novo paradigma de civilização?
Por que as guerras não são relatadas honestamente?
- O público precisa saber a verdade acerca das guerras. Então porque há jornalistas que cooperam com governos para ludibriar-nos?
por John Pilger
No manual do US Army sobre contra-insurgência, o
general David Petraeus
descreve o Afeganistão como uma "guerra de percepção
... conduzida continuamente com a utilização dos novos
media". O que realmente importa não é tanto as batalhas do
dia-a-dia contra o Taliban e sim o modo como o caso é vendido na
América onde "os media influenciam directamente a atitude de
audiências chave". Ao ler isto, recordei-me do general venezuelano
que dirigiu um golpe contra o governo democrático em 2002.
"Tínhamos uma arma secreta", jactou-se. "Tínhamos
os media, especialmente a TV. Temos de ter os media".
Nunca tanta energia oficial foi gasta para assegurar a conivência de jornalistas com os feitores de guerras de rapina as quais, dizem os generais amigos dos media, agora são "perpétuas". Ao reflectir os mais prolixos senhores da guerra, tais como o waterboarding [*] Dick Cheney, ex-vice-presidente dos EUA, o qual previu "50 anos de guerra", eles planeiam um estado de conflito permanente inteiramente dependente da manutenção à distância de um inimigo cujo nome não ousam dizer: o público.
Em Chicksands, Bedfordshire, o estabelecimento da guerra psicológica (Psyops) do Ministério da Defesa , treinadores de media dedicam-se à tarefa, imersos num mundo de jargões como "dominância de informação", "ameaças assimétricas" e "ciber-ameaças". Eles partilham instalações com aqueles que ensinam os métodos que levaram a uma investigação pública quanto à tortura militar britânica no Iraque. A desinformação e a barbárie da guerra colonial tem muito em comum.
É claro que apenas o jargão é novo. Na sequência de abertura do meu filme, A guerra que você não vê (The War You Don't See), , há uma referência a uma conversação privada pré-WikiLeaks, de Dezembro de 1917, entre David Lloyd George, primeiro-ministro britânico durante grande parte da primeira guerra mundial, e C.P. Scott, editor do Manchester Guardian. "Se o povo realmente soubesse a verdade", dizia o primeiro-ministro, "a guerra cessaria amanhã. Mas naturalmente não sabem, e não podem saber".
Na sequência desta "guerra para acabar com todas as guerras", Edward Bernays , um confidente do presidente Woodrow Wilson , cunhou a expressão "relações públicas" como um eufemismo para propaganda "à qual ganhou má reputação durante a guerra". No seu livro, Propaganda (1928), Bernays descreveu as RP como "um governo invisível" o qual é o verdadeiro poder dominante no nosso país" graças à "inteligente manipulação das massas". Isto era alcançado por "realidades falsas" e a sua adopção pelos media (Um dos primeiros êxitos de Bernay foi persuadir as mulheres a fumarem em público. Ao associar o fumo à libertação das mulheres, ele conseguiu manchete que louvavam os cigarros como "tochas da liberdade".)
Comecei a entender isto quando era um jovem repórter durante a guerra americana no Vietname. Durante a minha primeira missão vi os resultados do bombardeamento de duas aldeias e da utilização do Napalm B , o qual continua a queimar debaixo da pela; muitas das vítimas eram crianças; árvores eram engrinaldadas com pedaços de corpos. O lamento de que "estas tragédias inevitáveis acontecem em guerras" não explicava porque virtualmente toda a população do Vietname do Sul estava em grave risco diante das forças do seu declarado "aliado", os Estados Unidos. Expressões de RP como "pacificação" e "dano colateral" tornaram-se moeda corrente. Quase nenhum repórter utilizava a palavra "invasão". "Emaranhamento" e depois "atoleiro" tornaram-se correntes num novo vocabulário que reconhecia a matança de civis meramente como erros trágicos e raramente questionavam as boas intenções dos invasores.
Nas paredes dos escritórios em Saigão das principais organizações americanas de notícias eram muitas vezes afixadas fotografias horrendas que nunca eram publicadas e raramente eram enviadas porque, diziam, "sensacionalizariam" a guerra ao inquietar leitores e visionadores e portanto não eram "objectivas". O massacre de My Lai em 1968 não foi relatado a partir do Vietname, embora um certo número de repórteres soubesse dele (e de outros atrocidades afins), mas por um freelancer nos EUA, Seymour Hersh . A capa da revista Newsweek denominou-o uma "tragédia americana", implicando que os invasores foram as vítimas: um tema de purgação entusiasticamente adoptado por Holliwood em filmes como O caçador (The Deer Hunter) e Platoon. . A guerra era imperfeita e trágica, mas a causa era essencialmente nobre. Além disso, foi "perdida" graças à irresponsabilidade de uma media hostil e não censurada.
Embora o oposto da verdade, tais falsas realidades tornaram-se as "lições" aprendidas pelos feitores das guerras actuais e por muita gente dos media. A seguir ao Vietname, jornalistas "incorporados" ("embedding") tornaram-se centrais para a política da guerra em ambos os lados do Atlântico. Com honrosas excepções, isto teve êxito, especialmente nos EUA. Em Março de 2002, uns 700 repórteres incorporados e equipes de filmagem acompanharam as forças invasoras americanas no Iraque. Observem os seus relatos excitados e é a libertação da Europa mais uma vez. O povo iraquiano está distante, efémeros actores secundários; John Wayne ressuscitou.
O apogeu foi a entrada vitoriosa em Bagdad e as imagens da TV de multidões a saudar a queda de uma estátua de Saddam Hussein. Por trás desta fachada, uma equipe americana de operações psicológicos (Psyops) manipulava com êxito o que um ignorado relatório do US Army descreve como um "circo dos media [com] quase tantos repórteres quanto iraquianos". Rageh Omaar , que estava ali pela BBC, informou no noticiário principal da noite: "O povo saiu saudando [os americanos], mostrando sinais em V. Isto é uma imagem que acontece por toda a capital iraquiana". De facto, na maior parte do Iraque, em grande parte não relatada, estava em marcha a conquista sangrenta e a destruição de toda uma sociedade.
Em The War You Don't See, Omaar fala com franqueza admirável. "Realmente não fiz o meu trabalho adequadamente", afirma ele. "Levanto a minha mão e afirmo que não pressionei os botões mais incómodos com força suficiente". Ele descreve como a propaganda militar britânico manipulou com êxito a cobertura da queda de Bassorá, a qual a BBC New 24 informou ter caído "17 vezes". Esta cobertura, afirma ele, foi "uma câmara de ressonância gigante".
A simples magnitude do sofrimento iraquiano na carnificina tem pouco espaço nos noticiários. De pé em frente à Downing Street nº 10, na noite da invasão, Andrew Marr , então editor político da BBC, declarou: "[Tony Blair] disse que seriam capazes de tomar Bagdad sem um banho de sangue e que no fim os iraquianos estariam a celebrar, e em ambas as afirmações ele demonstrou estar conclusivamente correcto..." Pedi uma entrevista a Marr, mas não recebi resposta. Estudos da cobertura televisiva feitos pela Universidade de Gales, Cardiff e Media Tenor , descobriram que a cobertura da BBC reflectia esmagadoramente a linha do governo e que informações do sofrimento de civis foram relegadas. A Media Tenor coloca a BBC e a CBS dos EUA entre os principais de meios de comunicação ocidentais que permitiram a invasão. "Estou perfeitamente aberto à acusação de que fomos ludibriados", disse Jeremy Paxman, ao falar no ano passado a um grupo de estudantes acerca das não-existentes armas de destruição em massa . "Nós o fomos claramente". Como um profissional altamente pago da comunicação, ele deixou de dizer porque foi ludibriado.
Dan Rather, que foi a âncora dos noticiários da CBS durante 24 anos, foi menos reticente. "Havia um medo em toda sala de redacção da América", contou-me, "um medo de perder o emprego ... o medo de lhe afixarem alguma etiqueta, impatriótica ou outra". Rather afirma que a guerra nos transformou em "estenógrafos" e que se jornalistas houvessem questionado os enganos que levaram à guerra do Iraque, ao invés de amplificá-los, a invasão não teria acontecido. Esta é uma visão não partilhada por um certo número de jornalistas sénior que entrevistei nos EUA.
Na Grã-Bretanha, David Rose, cujos artigos no Observer desempenharam um papel importantes ao ligar falsamente Saddam Hussein à al-Qaida e ao 11/Set, deu-me uma entrevista corajosa na qual afirmou: "Não posso dar desculpas ... O que aconteceu [no Iraque] foi um crime, um crime em escala muito grande ..."
"Será que isso torna os jornalistas cúmplices?", perguntei-lhe.
"Sim ... talvez inconscientes, mas sim".
Qual o valor de jornalistas que falam assim? A resposta é dada pelo grande repórter James Cameron , cuja corajosa e reveladora reportagem filmada, feita com Malcom Aird, do bombardeamento de civis no Vietname do Norte foi proibida pela BBC. "Se nós, cuja missão é descobrir o que os bastardos estão a tramar, não informarmos o que descobrimos, se não falarmos alto", disse-me ele, "quem é que vai travar toda essa guerra sangrenta acontecendo outra vez?"
Cameron não podia ter imaginado um fenómeno moderno tal como o WikiLeaks mas certamente teria aprovado. Na actual avalanche de documentos oficiais, especialmente aqueles que descrevem as maquinações secretas que levaram à guerra – tal como a mania americana sobre o Iraque – o fracasso do jornalismo raramente é notado. E talvez razão porque Julian Assange parece excitar tal hostilidade entre jornalistas que servem uma variedade de "lobbies", aqueles a quem o porta-voz de imprensa de George Bush certa vez chamou de "possibilitadores cúmplices", é que a WikiLeaks e o contar da verdade envergonha-os. Por que o público teve de esperar pelo WikiLeaks para descobrir como a grande potência realmente opera? Como revela um documento de 2000 páginas escapado do Ministério da Defesa, os jornalistas mais eficazes são aqueles encarados nas sedes do poder não como embebidos ou membros do clube, mas como um "ameaça". Isto é a ameaça da democracia real, cuja "moeda", disse Thomas Jefferson, é o "livre fluxo de informação".
No meu filme, perguntei a Assange como WikiLeaks trataria das draconianas leis secretas pelas quais é famosa a Grã-Bretanha. "Bem", disse ele, "quando olhamos para os documentos rotulados na Lei de Segredos Oficiais, vemos uma declaração de que é um delito reter informação e é um delito destruir a informação, de modo que a única resultante possível que temos de publicar a informação". Estes tempos são extraordinários.
Nunca tanta energia oficial foi gasta para assegurar a conivência de jornalistas com os feitores de guerras de rapina as quais, dizem os generais amigos dos media, agora são "perpétuas". Ao reflectir os mais prolixos senhores da guerra, tais como o waterboarding [*] Dick Cheney, ex-vice-presidente dos EUA, o qual previu "50 anos de guerra", eles planeiam um estado de conflito permanente inteiramente dependente da manutenção à distância de um inimigo cujo nome não ousam dizer: o público.
Em Chicksands, Bedfordshire, o estabelecimento da guerra psicológica (Psyops) do Ministério da Defesa , treinadores de media dedicam-se à tarefa, imersos num mundo de jargões como "dominância de informação", "ameaças assimétricas" e "ciber-ameaças". Eles partilham instalações com aqueles que ensinam os métodos que levaram a uma investigação pública quanto à tortura militar britânica no Iraque. A desinformação e a barbárie da guerra colonial tem muito em comum.
É claro que apenas o jargão é novo. Na sequência de abertura do meu filme, A guerra que você não vê (The War You Don't See), , há uma referência a uma conversação privada pré-WikiLeaks, de Dezembro de 1917, entre David Lloyd George, primeiro-ministro britânico durante grande parte da primeira guerra mundial, e C.P. Scott, editor do Manchester Guardian. "Se o povo realmente soubesse a verdade", dizia o primeiro-ministro, "a guerra cessaria amanhã. Mas naturalmente não sabem, e não podem saber".
Na sequência desta "guerra para acabar com todas as guerras", Edward Bernays , um confidente do presidente Woodrow Wilson , cunhou a expressão "relações públicas" como um eufemismo para propaganda "à qual ganhou má reputação durante a guerra". No seu livro, Propaganda (1928), Bernays descreveu as RP como "um governo invisível" o qual é o verdadeiro poder dominante no nosso país" graças à "inteligente manipulação das massas". Isto era alcançado por "realidades falsas" e a sua adopção pelos media (Um dos primeiros êxitos de Bernay foi persuadir as mulheres a fumarem em público. Ao associar o fumo à libertação das mulheres, ele conseguiu manchete que louvavam os cigarros como "tochas da liberdade".)
Comecei a entender isto quando era um jovem repórter durante a guerra americana no Vietname. Durante a minha primeira missão vi os resultados do bombardeamento de duas aldeias e da utilização do Napalm B , o qual continua a queimar debaixo da pela; muitas das vítimas eram crianças; árvores eram engrinaldadas com pedaços de corpos. O lamento de que "estas tragédias inevitáveis acontecem em guerras" não explicava porque virtualmente toda a população do Vietname do Sul estava em grave risco diante das forças do seu declarado "aliado", os Estados Unidos. Expressões de RP como "pacificação" e "dano colateral" tornaram-se moeda corrente. Quase nenhum repórter utilizava a palavra "invasão". "Emaranhamento" e depois "atoleiro" tornaram-se correntes num novo vocabulário que reconhecia a matança de civis meramente como erros trágicos e raramente questionavam as boas intenções dos invasores.
Nas paredes dos escritórios em Saigão das principais organizações americanas de notícias eram muitas vezes afixadas fotografias horrendas que nunca eram publicadas e raramente eram enviadas porque, diziam, "sensacionalizariam" a guerra ao inquietar leitores e visionadores e portanto não eram "objectivas". O massacre de My Lai em 1968 não foi relatado a partir do Vietname, embora um certo número de repórteres soubesse dele (e de outros atrocidades afins), mas por um freelancer nos EUA, Seymour Hersh . A capa da revista Newsweek denominou-o uma "tragédia americana", implicando que os invasores foram as vítimas: um tema de purgação entusiasticamente adoptado por Holliwood em filmes como O caçador (The Deer Hunter) e Platoon. . A guerra era imperfeita e trágica, mas a causa era essencialmente nobre. Além disso, foi "perdida" graças à irresponsabilidade de uma media hostil e não censurada.
Embora o oposto da verdade, tais falsas realidades tornaram-se as "lições" aprendidas pelos feitores das guerras actuais e por muita gente dos media. A seguir ao Vietname, jornalistas "incorporados" ("embedding") tornaram-se centrais para a política da guerra em ambos os lados do Atlântico. Com honrosas excepções, isto teve êxito, especialmente nos EUA. Em Março de 2002, uns 700 repórteres incorporados e equipes de filmagem acompanharam as forças invasoras americanas no Iraque. Observem os seus relatos excitados e é a libertação da Europa mais uma vez. O povo iraquiano está distante, efémeros actores secundários; John Wayne ressuscitou.
O apogeu foi a entrada vitoriosa em Bagdad e as imagens da TV de multidões a saudar a queda de uma estátua de Saddam Hussein. Por trás desta fachada, uma equipe americana de operações psicológicos (Psyops) manipulava com êxito o que um ignorado relatório do US Army descreve como um "circo dos media [com] quase tantos repórteres quanto iraquianos". Rageh Omaar , que estava ali pela BBC, informou no noticiário principal da noite: "O povo saiu saudando [os americanos], mostrando sinais em V. Isto é uma imagem que acontece por toda a capital iraquiana". De facto, na maior parte do Iraque, em grande parte não relatada, estava em marcha a conquista sangrenta e a destruição de toda uma sociedade.
Em The War You Don't See, Omaar fala com franqueza admirável. "Realmente não fiz o meu trabalho adequadamente", afirma ele. "Levanto a minha mão e afirmo que não pressionei os botões mais incómodos com força suficiente". Ele descreve como a propaganda militar britânico manipulou com êxito a cobertura da queda de Bassorá, a qual a BBC New 24 informou ter caído "17 vezes". Esta cobertura, afirma ele, foi "uma câmara de ressonância gigante".
A simples magnitude do sofrimento iraquiano na carnificina tem pouco espaço nos noticiários. De pé em frente à Downing Street nº 10, na noite da invasão, Andrew Marr , então editor político da BBC, declarou: "[Tony Blair] disse que seriam capazes de tomar Bagdad sem um banho de sangue e que no fim os iraquianos estariam a celebrar, e em ambas as afirmações ele demonstrou estar conclusivamente correcto..." Pedi uma entrevista a Marr, mas não recebi resposta. Estudos da cobertura televisiva feitos pela Universidade de Gales, Cardiff e Media Tenor , descobriram que a cobertura da BBC reflectia esmagadoramente a linha do governo e que informações do sofrimento de civis foram relegadas. A Media Tenor coloca a BBC e a CBS dos EUA entre os principais de meios de comunicação ocidentais que permitiram a invasão. "Estou perfeitamente aberto à acusação de que fomos ludibriados", disse Jeremy Paxman, ao falar no ano passado a um grupo de estudantes acerca das não-existentes armas de destruição em massa . "Nós o fomos claramente". Como um profissional altamente pago da comunicação, ele deixou de dizer porque foi ludibriado.
Dan Rather, que foi a âncora dos noticiários da CBS durante 24 anos, foi menos reticente. "Havia um medo em toda sala de redacção da América", contou-me, "um medo de perder o emprego ... o medo de lhe afixarem alguma etiqueta, impatriótica ou outra". Rather afirma que a guerra nos transformou em "estenógrafos" e que se jornalistas houvessem questionado os enganos que levaram à guerra do Iraque, ao invés de amplificá-los, a invasão não teria acontecido. Esta é uma visão não partilhada por um certo número de jornalistas sénior que entrevistei nos EUA.
Na Grã-Bretanha, David Rose, cujos artigos no Observer desempenharam um papel importantes ao ligar falsamente Saddam Hussein à al-Qaida e ao 11/Set, deu-me uma entrevista corajosa na qual afirmou: "Não posso dar desculpas ... O que aconteceu [no Iraque] foi um crime, um crime em escala muito grande ..."
"Será que isso torna os jornalistas cúmplices?", perguntei-lhe.
"Sim ... talvez inconscientes, mas sim".
Qual o valor de jornalistas que falam assim? A resposta é dada pelo grande repórter James Cameron , cuja corajosa e reveladora reportagem filmada, feita com Malcom Aird, do bombardeamento de civis no Vietname do Norte foi proibida pela BBC. "Se nós, cuja missão é descobrir o que os bastardos estão a tramar, não informarmos o que descobrimos, se não falarmos alto", disse-me ele, "quem é que vai travar toda essa guerra sangrenta acontecendo outra vez?"
Cameron não podia ter imaginado um fenómeno moderno tal como o WikiLeaks mas certamente teria aprovado. Na actual avalanche de documentos oficiais, especialmente aqueles que descrevem as maquinações secretas que levaram à guerra – tal como a mania americana sobre o Iraque – o fracasso do jornalismo raramente é notado. E talvez razão porque Julian Assange parece excitar tal hostilidade entre jornalistas que servem uma variedade de "lobbies", aqueles a quem o porta-voz de imprensa de George Bush certa vez chamou de "possibilitadores cúmplices", é que a WikiLeaks e o contar da verdade envergonha-os. Por que o público teve de esperar pelo WikiLeaks para descobrir como a grande potência realmente opera? Como revela um documento de 2000 páginas escapado do Ministério da Defesa, os jornalistas mais eficazes são aqueles encarados nas sedes do poder não como embebidos ou membros do clube, mas como um "ameaça". Isto é a ameaça da democracia real, cuja "moeda", disse Thomas Jefferson, é o "livre fluxo de informação".
No meu filme, perguntei a Assange como WikiLeaks trataria das draconianas leis secretas pelas quais é famosa a Grã-Bretanha. "Bem", disse ele, "quando olhamos para os documentos rotulados na Lei de Segredos Oficiais, vemos uma declaração de que é um delito reter informação e é um delito destruir a informação, de modo que a única resultante possível que temos de publicar a informação". Estes tempos são extraordinários.
O original encontra-se em www.guardian.co.uk e em www.johnpilger.com
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
domingo, 19 de dezembro de 2010
A comida não pode ser barata? Uma resposta cúmplice aponta a causa dessa injustiça
Por Antonio Cechin e Jacques Távora Alfonsin no Sul21
“A sociedade tem de aceitar que a época da comida barata acabou.”
Assim, o presidente da Farsul resumiu sua opinião sobre o preço da
comida, na edição de sexta-feira, 17, do jornal Zero Hora.
Para quem ainda passa fome no Brasil, é difícil recordar quando, no
passado, a comida foi barata. Em todo o caso, tratando aquela opinião de
uma necessidade vital das pessoas, como é a de se alimentar, é
conveniente analisar-se o dito no que ele pode revelar sobre as causas
de uma injustiça social como essa, pois, pelo jeito, não temos saída e
estamos condenados a aceitá-la.
Segundo essa maneira de pensar, cabe uma comparação. Entre o possível
prejuízo que a fração de empresários representada pela tal liderança
possa ter na venda do indispensável à vida das pessoas, e o que essas
possam sofrer por não poderem pagar o que lhes mata a fome, quem não
pode sair perdendo é o dono do capital (nem sempre identificado, em
tudo, com o “produtor rural”, a economia familiar que o comprove), pois,
em todo o contexto explicativo da entrevista, a “comida barata” aparece
como prejuízo certo desse personagem.
Como o mercado, onde esse capital se alimenta de dinheiro e não de
comida, é um ente abstrato, de humor desconhecido, refletido em
expressões tão grandiloqüentes quanto aleatórias do tipo “crise da
economia mundial”, “excesso de demanda”, “defesa da liberdade de
iniciativa econômica”, “globalização”, as causas dos perversos efeitos
da previsão feita pelo presidente da Farsul geralmente ficam isentas de
qualquer investigação sancionatória, inclusive do ponto de vista
jurídico. A “mão invisível” (Adam Smith) dos seus ciclos econômicos de
crise, exploração da natureza e das gentes, trata de imunizá-lo.
Algumas mãos visíveis de defesa desse tipo de irresponsabilidade,
todavia, podem ser identificadas, como prova a afirmação categórica do
ministro da agricultura, publicada na mesma edição de ZH, segundo a qual
“índices de produtividade é assunto encerrado.”
Ali aparece, novamente, o porque de se encerrar esse assunto: “Quem
deve definir o que, como e quando o produtor brasileiro vai produzir é o
mercado, a visão que ele tem de oportunidades de negócios, perspectivas
de preço, demanda do mercado interno e internacional. Não pode ser um
ato autoritário, de cima para baixo, dizendo que tem de produzir com
tais índices de produtividade. Não é assim que se faz”.
Entre o que a sociedade, portanto, “tem de aceitar” como diz o
presidente da Farsul, e a forma como essa aceitação deve ser feita
(“assunto encerrado”, “não é assim que se faz”…), como diz o ministro da
Agricultura, o Estado, a democracia, os Poderes Públicos, o ordenamento
jurídico não têm que dar palpite nem se meter.
A lei e o direito, assim, não têm voz nenhuma aí. Quem deve mandar
sobre o que deve se produzir “é o mercado”, “as oportunidades de
negócios”, as “perspectivas de preços”, somente o dinheiro, em última
análise. Poucas vezes se reconheceu, com tanta clareza e pelas vozes dos
seus mais fiéis representes, onde se encontra, efetivamente, o “ato
autoritário, de cima para baixo”, a que faz referência o ministro da
agricultura. Ele desce do mercado e é indiscutível, fatal, como ato
caracteristico de toda ditadura. A/o pobre faminta/o que se submeta a
esse ente-ídolo capaz de ditar o que, como, quando e quanto ele deve
comer. Não é por acaso, portanto, que acabe morrendo de fome. O Estado e
a democracia prossigam fingindo terem o poder de garantir a vida e a
liberdade do povo pobre.
Haja fome, então, para suportar uma opressão a esse nível. Ela
comprova a maior contradição presente em todo o nosso sistema econômico.
Justamente quando a produção rural conquista quantidades de alimento
mais do que suficientes para alimentar o povo todo, o chamado “preço de
mercado” cai a níveis tão baixos, que somente a retenção dessas
quantidades consegue cobrir o custo da produção, seja o real, seja o
inventado por quem sabe manipular dados a favor do seu lucro. Aí o
Estado deixa de ser o vilão e passa a ser a solução…
Não é preciso ser economista para compreender onde tudo isso vai dar.
Esse ar de fatalidade, no qual se inspiram as opiniões das referidas
lideranças, não é igual ao do clima, corriqueiramente invocado em favor
das alegadas dificuldades pelas quais passam os seus liderados. Que a
freqüência desse repetido queixume já alcançou status de segunda
natureza, isso não dá para negar, pois não há ano em que ele não repita o
seu choro.
Quanto cinismo e hipocrisia se refletem, pois, quando o respeito à
lei, especialmente a da segurança nacional, é invocado com veemência,
por essas lideranças, sempre que o povo necessitado de casa e comida
toma em suas próprias mãos a iniciativa de proclamar que o tal respeito
só vale, de fato e materialmente, em favor de minorias historicamente
protegidas por uma ideologia sem outras referências que não as da
propriedade e as do mercado. Se o destinatário de algumas vantagens
previstas em lei é a/o pobre, elas ignoram e desprezam a lei. Essa
exige, por exemplo, o cumprimento da função sal da propriedade, “em prol
do bem coletivo”, das “necessidades dos cidadãos”, da “erradicação da
pobreza”, de “direitos humanos fundamentais”, expressões que não faltam
na Constituição Federal, no Estatuto da Terra e no Estatuto da Cidade,
entre outras regras jurídicas. Aí, o seu efeito material, concreto, é
igual a zero, já que o mercado, pelo menos o refletido nas opiniões
publicadas pela ZH, não precisa se preocupar com isso.
O direito à alimentação, por exemplo, somente entrou expressamente na
Constituição em fevereiro deste ano (Emenda 64), como se a satisfação
de uma necessidade vital como essa, de tão desrespeitada no país,
tivesse necessidade de se proclamar em lei, para ser reconhecida como
direito. Muito antes, os tratados internacionais que o Brasil assinou,
como o dos direitos econômicos, sociais e culturais de 1966, já
vinculavam o nosso país, inclusive, à reforma agrária capaz de, no
mínimo, atenuar as danosas conseqüências da comida cara.
Os conceitos de “soberania alimentar” e de “segurança alimentar”,
capazes de dar sustentação a direitos fundamentais de todo o povo,
garantindo-lhe presidir o que plantar, colher, criar e abater, sem
correr o risco da fome, pela falta de acesso à terra, devem inverter os
sentidos das lições ditadas pelo presidente da Farsul e pelo ministro da
Agricultura. O primeiro “tem de aceitar” e o segundo não pode
“encerrar assunto” que envolva direitos como os que as suas opiniões
desconsideram. O “realismo econômico” da comida cara, sem outro remédio,
previsto por eles, se está sendo pelo menos mitigado nos seus danosos
efeitos sociais, isso não se deveu ao mercado, lá erguido à panacéia dos
nossos males, mas sim aos assentamentos gerados pela reforma agrária,
pelo menos os que deram certo justamente por obedecer à outra lógica que
não a exclusiva do mercado. Não foi este também que presidiu a política
pública de implantação do Fome Zero e do Bolsa Família.
Se existem mais brasileiros saciados, hoje, não devem isso ao
mercado. Felizmente, há uma outra economia em curso, familiar,
solidária, cooperativa, diferente dessa que acumula na mão de poucos o
que falta na mesa de muitos. É por isso que a reforma agrária, esses
assentamentos e essas políticas públicas recebem críticas tão ácidas das
lideranças latifundiárias e daquelas que, no exercício do Poder
Público, lhes são fiéis. “Paternalismos oficiais”, “favelas rurais”
costumam aparecer sustentando essas críticas. É que o ídolo ao pé do
qual elas se ajoelham, rezam e acendem velas diárias de adoração, não
aceita outra forma de produção, distribuição e partilha dos bens
indispensáveis à vida das pessoas que não passe pelo seu poder de
exclusão, medido de acordo com a capacidade de pagar que cada uma dessas
tenha alcançado.
Aquela outra economia sabe que o dinheiro não se come, nem impõe um
“ter de aceitar” ou um “assunto encerrado” prepotentes e
anti-democráticos como os publicados pela ZH do dia 17. Os direitos e os
interesses alheios não lhe são estranhos ou, até, hostis. O que ela
mais deseja é a suficiência para todas/os e não somente para um pequeno
grupo. Está a serviço de uma justiça social capaz de produzir comida e
mesa fartas onde ninguém se assente constrangido pela dor de saber-se
estranho à comum união.
sábado, 18 de dezembro de 2010
Koyaanisqatsi
Estréia
de Reggio como diretor e produtor, é o primeiro filme da trilogia
Qatsi. O título é uma palavra da língua indígena Hopi e significa ‘vida
desequilibrada’. Filmado entre 1975 e 1982, o filme mostra uma visão
apocalíptica do choque entre dois mundos distintos – a vida
pós-moderna, repleta de tecnologia contra o planeta Terra. A trilha
sonora é de autoria de Philip Glass.
Screenshots
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Gênero: Documentário / Música
Diretor: Godfrey Reggio
Duração: 96 minutos
Ano de Lançamento: 1982
País de Origem: Estados Unidos
Idioma do Áudio: Inglês
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0085809/
Qualidade de Vídeo: DVD Rip
Vídeo Codec: DivX
Vídeo Bitrate: 990 Kbps
Áudio Codec: Mp3
Áudio Bitrate: 128
Resolução: 608x336
Formato de Tela: Tela Cheia (4x3)
Frame Rate: 23.976 FPS
Tamanho: 694 Mb
Legendas: No torrent
- Ganhador do Prêmio do Público no Festival de São Paulo (1984);
- Indicado ao Urso de Ouro no Festival de Berlim (1983);
- Além de outros quatro prêmios (Veja aqui!).
“O primeiro filme (Koyaanisqatsi) lida com aspectos da indústria tecnológica hipercinética do Hemisfério Norte. O segundo filme (Powaaqatsi) lida com culturas de moralidade, de tradição e da existência artesanal - culturas da simplicidade no Hemisfério Sul. E (Naqoyqatsi) é claro, completa a trilogia e lida com o momento globalizante que vivemos, onde computadores, a Internet, a tecnologia, se tornam alguma coisa que nós não mais usamos, mas algo que vivemos. O objetivo da trilogia, numa maneira limitada, foi mostrar um espelho da vida assim como ela é, numa via muito rápida.” (Godfrey Reggio, diretor, sobre a trilogia).
O TORRENT COM A LEGENDA SOLICITEM NO MEU EMAIL
Sionismo e anti-semitismo
O verdadeiro anti-semitismo (título original)
Por Abdel Latif Hasan Abdel Latif, palestino, médico
O termo é inexato porque a maioria dos judeus na Europa são
descendentes de convertidos aos judaísmo no século IX e X. e
principalmente dos khazares.
Os Khazares constituíam um império de tribos turcas na Ásia central e Rússia, que adotou o judaísmo como religião oficial do império, dando origem à população judaica na Europa oriental, em especial Rússia e Polônia.
Os Khazares constituíam um império de tribos turcas na Ásia central e Rússia, que adotou o judaísmo como religião oficial do império, dando origem à população judaica na Europa oriental, em especial Rússia e Polônia.
A perseguição contra judeus na Europa foi motivada por questões religiosas, políticas e sobretudo econômicas.
A situação atual modificou-se de forma radical.
Os
judeus gozam de situação privilegiada em termos econômicos, culturais e
políticos. Não sofrem restrições de acesso a postos importantes e
cobiçados.
Hoje, são os palestinos, árabes e
muçulmanos, as grandes vítimas da perseguição, discriminação e massacres
nas mãos dos novos anti-semitas – os “sionistas” e simpatizantes.
Enquanto
muitos estudiosos questionam a origem semita dos atuais judeus, não há
dúvida alguma de que os árabes (gênero) e os palestinos (espécie) são
povos semitas, que nunca abandonaram sua terra, muito menos sua
história na região.
O Estado sionista não apenas
ocupou a Palestina Histórica e expulsou a maioria do seu povo desde
1948, mas discrimina os palestinos que continuam vivendo em suas casas e
terras no que é hoje conhecido como Israel.
Exemplo
disso é uma declaração recente feita por centenas de rabinos
israelenses. O “decreto” religioso proíbe aluguel ou venda de casas
para cidadãos árabes que vivem em Israel e ameaça aqueles que violarem
essa ordem de serem isolados “excomungados” e punidos.
Segundo
a bula religiosa, “qualquer um que venda ou alugue casa para árabes
causa grande prejuízo aos judeus, uma vez que os goym tem estilo de vida
diferente do nosso e o objetivo deles é nos prejudicar sempre”.
Até hoje, mais de trezentos rabinos influentes em Israel assinaram o decreto.
O
chefe do movimento, rabino Shmuel Eliahu, da cidade de Safad, é
conhecido por suas declarações e posições racistas contra a minoria
palestina em Israel.
O que causou o movimento do
rabino é a presença de alguns alunos árabes, que estudam em uma
faculdade local e são vítimas de agressões racistas diárias por parte
da comunidade judaica da cidade.
A solução encontrada pelos religiosos judeus é proibir os árabes de morar na cidade.
Vale lembrar que Safad é uma cidade palestina, construída pelos
cananitas, há três mil anos e seu nome em aramaico significa Fortaleza.
Situa-se no litoral norte da Galiléia.
No
século XVI, um pequeno grupo de judeus religiosos, fugindo da
perseguição na Espanha e em Portugal, após a expulsão dos árabes da
Andaluzia, instalou-se na cidade. Eles viviam em harmonia e paz com os
árabes-palestinos da cidade até o início do século XX.
A
chegada dos novos imigrantes sionistas, com a intenção de expulsar os
nativos e criar um Estado exclusivo para os judeus em toda Palestina,
deu início a um novo capítulo na História da cidade e da região.
Safad foi ocupada no início de maio de 1948 por forças militares isarelenses, poucos dias antes da criação do Estado judeu.
Sua população árabe-palestina foi expulsa e suas casas foram destruídas. A população de várias aldeias circunvizinhas foi massacrada, como por exemplo, as aldeias de Saasa, Ein Zeitun e várias outras localidades.
Sua população árabe-palestina foi expulsa e suas casas foram destruídas. A população de várias aldeias circunvizinhas foi massacrada, como por exemplo, as aldeias de Saasa, Ein Zeitun e várias outras localidades.
Nas
ruínas dessas aldeias, os sionistas construíram fazendas para os
imigrantes judeus recém-chegados, parques nacionais ou simplesmente
deixaram a terra abandonada.
Safad, hoje, é uma
cidade totalmente judaica. Os árabes nativos da região não apenas foram
expulsos e proibidos de retornar a suas terras, mas são proibidos de
comprar ou alugar casas e terras na cidade.
Para
os religiosos judeus, a proibição baseia-se no Torah. Dizem que no
Torah está escrito que “Deus deu a terra de Israel ao povo de Israel. O
mundo é tão grande e Israel tão pequena, mas todos a cobiçam. Isso é
injusto”. São as palavras do rabino Yusef Sheinin, um dos líderes do
movimento.
A “justiça” desse rabino é estranha.
Ele prega não apenas expulsar um povo de sua pátria, mas discriminar a
minoria desse povo que ainda vive na sua terra.
O
que o mundo não deve aceitar e permitir é uma “justiça” desse naipe,
que ainda usurpa o nome de Deus para encobrir práticas de ódio.
Outro
rabino do assentamento Beit Il, dentro dos territórios palestinos
ocupados desde 1967, líder do movimento Gush Emunin, Shlomo Aviner,
declarou que “os árabes são 25% dos cidadãos de Israel e não devemos
permitir que criem raízes aqui”.
Os palestinos
não precisam criar raízes na terra, porque suas raízes são a própria
terra. A cidade de Safad é exemplo disso: uma cidade cananita milenar,
com nome aramaico (Aram = Síria) e alma árabe, onde viviam antes da
invasão dos sionistas, muçulmanos e cristãos e judeus, em um mesmo
espaço, com respeito e harmonia.
Os sionistas
transformaram Safad em um gueto. Colonos, que enfrentam dificuldades em
criar laços com a terra e os povos onde vivem , falando de raízes, é
pura hipocrisia.
A bula dos rabinos de Israel
mostra a crise que uma sociedade racista e colonialista enfrenta para se
afirmar e auto-definir. O racismo, discriminação, expansionismo e
militarismo são instrumentos indispensáveis não apenas para construir
essas comunidades coloniais, como também para mantê-las.
A
discussão sobre o decreto religioso envolveu vários setores da
sociedade israelense: religiosos e seculares, da esquerda e da direita.
Os rabinos ditos moderados emitiram opinião que se mostrou tão
racista quanto à dos extremistas.
Um dos
rabinos considerados moderados, Haim Drucman, tentou amenizar os efeitos
das declarações dos rabinos favoráveis aos pogroms contra os palestinos
dentro de Israel.
Segundo Drucman, “é
necessário diferenciar entre árabes leais ao Estado Judeu e árabes não
confiáveis”. “Os primeiros devem ter direitos e devem ser tratados de
forma diferente, mas os outros devem ser expulsos”. O rabino não
explicou como ser leal a um Estado, que exclui e se define como não
seu, exclusivo de outro grupo.
A minoria
árabe-palestina do Estado judeu (25%) é considerada uma ameaça, “a bomba
demográfica” e a única solução, segundo muitos políticos sionistas é a
expulsão dos palestinos.
Israel não é Estado de
todos os seus cidadãos, como qualquer outro Estado normal do mundo, mas
Estado de uma parcela da população, cidadãos judeus. Os árabes em
Israel são cidadãos de terceira categoria, tratados como estrangeiros na
sua própria terra, e temem a toda hora serem expulsos de suas casas.
O
que Israel quer de fato é a redefinição de conceitos humanos básicos,
como liberdade, direitos humanos, cidadania, igualdade e fraternidade.
A
ideologia sionista pode ser definida como nazi-sionista, uma vez que
baseia-se nos mesmos fundamentos nazistas da pureza racial e mito da
supremacia e separação total entre grupos e etnias diferentes. O
decreto do rabinato é irmão das leis de Nuremberg.
Em
um artigo publicado no jornal Israel Hoje, em 13/12/2010, a jornalista
Amona Alon, sugeriu que é obrigação de Israel mostrar ao mundo que a
desigualdade não é discriminação, mas apenas reflexo de diferenças entre
povos diferentes. Os brancos da África do Sul não foram tão longe.
Segundo
a jornalista, as medidas tomadas por Israel, para forçar seu caráter
de exclusividade judaica, são necessárias e justificáveis, mesmo
contrariando os ideais liberais. O que a jornalista sugere é que os
judeus em Israel tem direitos que os não judeus não podem ter. Fim da
isonomia. Sua lógica é distorcida, racista, retrógrada e oportunistas,
já que certamente se qualquer outro Estado tomasse essas medidas
discriminatórias contra os seus cidadãos judeus, seria acusado de
crime, racismo, perseguição anti-semita.
Em resumo, a lógica israelense se funda nas seguintes asserções:
1º Tenho direito de ser racista e o mundo deve aceitar isso, porque é a maneira da minha auto-afirmação;
2º
É direito meu praticar a discriminação contra os árabes cidadãos de
Israel, porque é a única forma de manter o caráter de exclusividade
judaica do Estado.
3º É meu direito viver em
guerra permanente, já que é a garantia da minha existência, porque a
paz verdadeira é justa e isso representa ameaça a meus privilégios.
4ª
Matar e causar sofrimento é a única maneira encontrada por Israel para
sobreviver, já que precisa subjugar a população nativa, para manter seus
privilégios.
Isso não é lógica, isso é patológico! Essas anomalias e taras ameaçam o mundo!
Uma nova chance para a TVE do RS. Entrevista especial com Pedro Osório
“Creio que os governos dos últimos anos optaram por não investir em
radiodifusão pública. Havia neste último governo um desejo manifesto de
forma clara, algumas vezes; e outras, implícita de extinguir,
inclusive, a Fundação Cultural Piratini”, descreve o professor Pedro Osório.
Nomeado como o novo presidente da Fundação, que contempla a emissora
pública de TV e rádio do Rio Grande do Sul, Osório pretende reorganizar o
órgão de modo que a função pública seja realmente exercida pelos
veículos. “Há, também, um quadro defasado. Muitas pessoas se aposentaram
ou se afastaram e partiram para outras atividades. As condições
materiais são muito ruins, tanto em relação a móveis quanto
equipamentos. Mas especialmente o que mais preocupa é o quadro do
desânimo dos funcionários pela forma com que eles vêm sendo tratados nos
últimos anos, especialmente nesta última gestão”, explicou durante a
entrevista que concedeu por telefone à IHU On-Line.
Pedro Osório é graduado em
Comunicação Social pela Universidade Federal de Santa Maria. É
especialista em Sociologia e mestre em Comunicação e Informação pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Atualmente, é professor da
Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos e secretário geral do
Fórum Nacional pela Democratização das Comunicações – FNDC/RS. É
doutorando em Ciência Política pela UFRGS e, durante os últimos anos,
atuou como presidente do Conselho Deliberativo da Fundação Piratini
(gestora da TVE/RS).
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Você já tem um panorama das condições em que vai encontrar a Fundação Cultural Piratini quando iniciar na presidência?
Pedro Osório – Sim. Tenho um levantamento detalhado que foi feito pelos funcionários nas últimas semanas. Além disso, eu, até então, era presidente do conselho deliberativo da Fundação Cultural Piratini e, por isso, vinha acompanhando bem a situação que é muito ruim. É uma fundação que tem duas emissoras as quais, nos últimos oito anos, não tiveram qualquer investimento em equipamentos que estão defasados. A migração para o padrão digital não está em andamento, nenhuma providência significativa, aliás, foi tomada. Mesmo um transmissor que foi adquirido na época do governo Olívio Dutra não foi instalado até hoje por razões que não se sabe bem quais foram.
Há, também, um quadro defasado. Muitas pessoas se aposentaram ou se afastaram e partiram para outras atividades. As condições materiais são muito ruins, tanto em relação a móveis quanto equipamentos. Mas especialmente o que mais preocupa é o quadro do desânimo dos funcionários pela forma com que eles vêm sendo tratados nos últimos anos, especialmente nesta última gestão. É um cenário difícil, mas do qual eu tenho conhecimento pleno.
IHU On-Line – A que você atribui esse descaso que a Fundação Cultural Piratini sofreu nos últimos anos?
Pedro Osório – Creio que os governos dos últimos anos optaram por não investir em radiodifusão pública. Havia neste último governo um desejo manifesto de forma clara, algumas vezes; e outras, implícita de extinguir, inclusive, a Fundação Cultural Piratini. Ela era considerada um peso e uma despesa desnecessária, pois a comunicação poderia se dar apenas através dos meios privados. Atribuo isso também a determinadas dificuldades financeiras e de gestão. É, porém, evidente que os dois últimos governos não consideraram prioridade considerar emissoras que tenham um caráter público e que possam cumprir um papel diferente das emissoras de rádio e TV comerciais.
IHU On-Line – O que a TVE representa para o RS?
Pedro Osório – Há uma pesquisa que foi feita há pouco mais de um ano e meio por profissionais de propaganda e publicidade ligados ao conselho deliberativo que indica que os gaúchos, especialmente da área metropolitana, têm um carinho muito grande pela emissora. A Rádio também detém de uma admiração muito grande. Ainda assim, os índices de audiência são pequenos.
De modo geral, há manifestações de carinho e apreço que chegam a todo momento. Estou convencido de que o povo do Rio Grande do Sul tem uma grande consideração pelas duas emissoras. É sempre um motivo de satisfação quando um novo município consegue captar, receber e firmar o sinal da TVE. Ainda que a programação esteja muito precária, ela é diferenciada do que se encontra em outros ambientes comerciais.
IHU On-Line – Quais foram os caminhos percorridos dentro do PT até essa nomeação?
Pedro Osório – Eu sou filiado ao PT desde os anos 1980. Sempre militei nessa área de comunicação e estive vinculado ao sindicato, lidando com os embates no que se refere à democratização da comunicação. Depois integrei o primeiro governo da Administração Popular como coordenador de projeto especiais na área de comunicação. No segundo governo, quando Tarso Genro foi prefeito de Porto Alegre, eu fui secretário de comunicação. Para além dessa militância junto ao PT, sempre militei na minha atividade acadêmica e junto à sociedade civil, trabalhando pela democratização da comunicação integrando o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação ou o Instituto de Pesquisas em Comunicação, que no momento está desativado. Essa minha trajetória também veio me qualificando no decorrer desses anos para assumir essa função. Creio que o governador leva tudo isso em conta quando indica alguém para tal cargo.
IHU On-Line – O senhor pertence a alguma ala dentro do partido?
Pedro Osório – Sim, há muito tempo integro o PT Amplo e Democrático. O critério de escolha que tem sido adotado nesse governo está sendo muito relativizado. De forma que a escolha por mim tenha sido mesmo uma opção do governador que, evidentemente, sabe que tendência eu entrego.
IHU On-Line – O senhor continuará atuando na academia?
Pedro Osório – Espero continuar vinculado à Unisinos. Já conversei com o coordenador de jornalismo sobre isso. O serviço público viabiliza e estimula o exercício do magistério, desde que sem prejuízo para a atividade pública. Eu pretendo continuar lecionando, talvez diminuindo um pouco a carga horária, mas lecionar é fundamental para minha vida.
IHU On-Line – No RS, quais são os principais entraves para que se consolide uma democratização da comunicação?
Pedro Osório – Os impasses do RS são os mesmos do país com uma característica de que aqui há uma rede muito forte, que é a Rede Brasil Sul de Comunicações. Penso que se constituiu historicamente no Brasil um monopólio das comunicações com características muito próprias, resultantes de determinadas conjunturas e períodos históricos. Os meios de comunicação, em geral, são complemente avessos a qualquer tipo de crítica que se possa fazer, assim como são avessos a qualquer tipo de regulação. Quando falamos em regulação, não estamos falando em censura ou controle de conteúdo. Trata-se de estabelecer algumas ordens que permitam que esses meios de comunicação expressem ou recebam sinais da sociedade para que possam, da melhor forma possível, contribuir para a constituição de uma sociedade democrática e plural para o exercício da cidadania. Então, há uma desconfiança e resistência dos meios de comunicação para um debate sobre regulação.
Um exemplo: nos EUA, que é um país essencialmente capitalista, não existem redes como existem aqui. Não seria viável uma empresa que detivesse o maior jornal, a rádio e a TV de maior audiência. Isso, nos EUA, é proibido porque limita a pluralidade a participação social e impede a competição. Esses assuntos que estão em pauta a partir da Conferência Nacional de Comunicação e confio que aos poucos nós vamos avançando no sentido de democratizar mais a comunicação e estabelecer algumas normas. Isso não significa ser contra empresários ou estabelecer censura. Pelo contrário, significa trabalhar para que haja um número maior de veículos, fortalecer as emissoras municipais e por aí vai.
IHU On-Line – Quais são os problemas jurídicos que envolvem a Fundação Cultural Piratini hoje?
Pedro Osório – Não tenho conhecimento por inteiro. Não sei que tipo de ação trabalhista, por exemplo, que possam estar correndo lá. Problema jurídico no sentido específico da palavra não há. Há alguns ajustes que precisam ser feitos. Recentemente, uma decisão da Justiça do Trabalho determinou que não se utilize mais o cargo em comissão para funções que não sejam de chefia, assessoramento e direção. Portanto, a fundação não poderá contratar repórter ou apresentador em cargos em comissão, como fazia antes. Isso determinou a demissão de pouco mais de 20 pessoas. Muito provavelmente, a Justiça aprovará a contratação temporária até que se possa fazer um concurso, o que já está determinado.
IHU On-Line – O senhor já tem planos e ideias de novidades para a TVE e para a FM Cultura?
Pedro Osório – Naturalmente, temos já algumas ideias. Mas a nossa prioridade, no momento, dada a precariedade da programação e a demissão recente de um número significativo de pessoas que ocupavam cargos de confiança, nossa missão principal é manter as duas emissoras funcionando. A rádio, por exemplo, funciona basicamente no computador, pois não há funcionários para mantê-la no ar. Nos primeiros 60 dias é mantê-la funcionando, adequando à realidade que vamos encontrar lá que se tornou mais difícil nos últimos 30 dias. Se a gestão atual já vinha enfrentando muitas dificuldades por conta de recursos e opções que tomou, agora este quadro ficou mais difícil.
Nós devemos fazer um convênio com a Empresa Brasil de Comunicação, retransmitindo parte de sua programação de modo provisório e vamos começar a pensar numa televisão que tenha um caráter público sem ignorar que o Estado precisa se manifestar através desse tipo de emissora também. Não me parece sensato que o Estado recorra apenas à iniciativa privada para expressar as suas opiniões. Portanto, não imaginamos uma TV e um rádio no qual o RS e seus governantes não tenham voz. Evidentemente, não se trata de transformar essas emissoras em assessoria de imprensa do Estado. Longe disso. Queremos uma emissora cuja informação seja contrastada, precisa e plural. E no que diz respeito à formação, que muitas vezes fica esquecida, que possa ser recuperado como ferramenta educacional no sentido amplo e cultural, evitando sentidos degradantes. Precisamos de canais públicos que estejam atentos aos grandes desafios da humanidade.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Você já tem um panorama das condições em que vai encontrar a Fundação Cultural Piratini quando iniciar na presidência?
Pedro Osório – Sim. Tenho um levantamento detalhado que foi feito pelos funcionários nas últimas semanas. Além disso, eu, até então, era presidente do conselho deliberativo da Fundação Cultural Piratini e, por isso, vinha acompanhando bem a situação que é muito ruim. É uma fundação que tem duas emissoras as quais, nos últimos oito anos, não tiveram qualquer investimento em equipamentos que estão defasados. A migração para o padrão digital não está em andamento, nenhuma providência significativa, aliás, foi tomada. Mesmo um transmissor que foi adquirido na época do governo Olívio Dutra não foi instalado até hoje por razões que não se sabe bem quais foram.
Há, também, um quadro defasado. Muitas pessoas se aposentaram ou se afastaram e partiram para outras atividades. As condições materiais são muito ruins, tanto em relação a móveis quanto equipamentos. Mas especialmente o que mais preocupa é o quadro do desânimo dos funcionários pela forma com que eles vêm sendo tratados nos últimos anos, especialmente nesta última gestão. É um cenário difícil, mas do qual eu tenho conhecimento pleno.
IHU On-Line – A que você atribui esse descaso que a Fundação Cultural Piratini sofreu nos últimos anos?
Pedro Osório – Creio que os governos dos últimos anos optaram por não investir em radiodifusão pública. Havia neste último governo um desejo manifesto de forma clara, algumas vezes; e outras, implícita de extinguir, inclusive, a Fundação Cultural Piratini. Ela era considerada um peso e uma despesa desnecessária, pois a comunicação poderia se dar apenas através dos meios privados. Atribuo isso também a determinadas dificuldades financeiras e de gestão. É, porém, evidente que os dois últimos governos não consideraram prioridade considerar emissoras que tenham um caráter público e que possam cumprir um papel diferente das emissoras de rádio e TV comerciais.
IHU On-Line – O que a TVE representa para o RS?
Pedro Osório – Há uma pesquisa que foi feita há pouco mais de um ano e meio por profissionais de propaganda e publicidade ligados ao conselho deliberativo que indica que os gaúchos, especialmente da área metropolitana, têm um carinho muito grande pela emissora. A Rádio também detém de uma admiração muito grande. Ainda assim, os índices de audiência são pequenos.
De modo geral, há manifestações de carinho e apreço que chegam a todo momento. Estou convencido de que o povo do Rio Grande do Sul tem uma grande consideração pelas duas emissoras. É sempre um motivo de satisfação quando um novo município consegue captar, receber e firmar o sinal da TVE. Ainda que a programação esteja muito precária, ela é diferenciada do que se encontra em outros ambientes comerciais.
IHU On-Line – Quais foram os caminhos percorridos dentro do PT até essa nomeação?
Pedro Osório – Eu sou filiado ao PT desde os anos 1980. Sempre militei nessa área de comunicação e estive vinculado ao sindicato, lidando com os embates no que se refere à democratização da comunicação. Depois integrei o primeiro governo da Administração Popular como coordenador de projeto especiais na área de comunicação. No segundo governo, quando Tarso Genro foi prefeito de Porto Alegre, eu fui secretário de comunicação. Para além dessa militância junto ao PT, sempre militei na minha atividade acadêmica e junto à sociedade civil, trabalhando pela democratização da comunicação integrando o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação ou o Instituto de Pesquisas em Comunicação, que no momento está desativado. Essa minha trajetória também veio me qualificando no decorrer desses anos para assumir essa função. Creio que o governador leva tudo isso em conta quando indica alguém para tal cargo.
IHU On-Line – O senhor pertence a alguma ala dentro do partido?
Pedro Osório – Sim, há muito tempo integro o PT Amplo e Democrático. O critério de escolha que tem sido adotado nesse governo está sendo muito relativizado. De forma que a escolha por mim tenha sido mesmo uma opção do governador que, evidentemente, sabe que tendência eu entrego.
IHU On-Line – O senhor continuará atuando na academia?
Pedro Osório – Espero continuar vinculado à Unisinos. Já conversei com o coordenador de jornalismo sobre isso. O serviço público viabiliza e estimula o exercício do magistério, desde que sem prejuízo para a atividade pública. Eu pretendo continuar lecionando, talvez diminuindo um pouco a carga horária, mas lecionar é fundamental para minha vida.
IHU On-Line – No RS, quais são os principais entraves para que se consolide uma democratização da comunicação?
Pedro Osório – Os impasses do RS são os mesmos do país com uma característica de que aqui há uma rede muito forte, que é a Rede Brasil Sul de Comunicações. Penso que se constituiu historicamente no Brasil um monopólio das comunicações com características muito próprias, resultantes de determinadas conjunturas e períodos históricos. Os meios de comunicação, em geral, são complemente avessos a qualquer tipo de crítica que se possa fazer, assim como são avessos a qualquer tipo de regulação. Quando falamos em regulação, não estamos falando em censura ou controle de conteúdo. Trata-se de estabelecer algumas ordens que permitam que esses meios de comunicação expressem ou recebam sinais da sociedade para que possam, da melhor forma possível, contribuir para a constituição de uma sociedade democrática e plural para o exercício da cidadania. Então, há uma desconfiança e resistência dos meios de comunicação para um debate sobre regulação.
Um exemplo: nos EUA, que é um país essencialmente capitalista, não existem redes como existem aqui. Não seria viável uma empresa que detivesse o maior jornal, a rádio e a TV de maior audiência. Isso, nos EUA, é proibido porque limita a pluralidade a participação social e impede a competição. Esses assuntos que estão em pauta a partir da Conferência Nacional de Comunicação e confio que aos poucos nós vamos avançando no sentido de democratizar mais a comunicação e estabelecer algumas normas. Isso não significa ser contra empresários ou estabelecer censura. Pelo contrário, significa trabalhar para que haja um número maior de veículos, fortalecer as emissoras municipais e por aí vai.
IHU On-Line – Quais são os problemas jurídicos que envolvem a Fundação Cultural Piratini hoje?
Pedro Osório – Não tenho conhecimento por inteiro. Não sei que tipo de ação trabalhista, por exemplo, que possam estar correndo lá. Problema jurídico no sentido específico da palavra não há. Há alguns ajustes que precisam ser feitos. Recentemente, uma decisão da Justiça do Trabalho determinou que não se utilize mais o cargo em comissão para funções que não sejam de chefia, assessoramento e direção. Portanto, a fundação não poderá contratar repórter ou apresentador em cargos em comissão, como fazia antes. Isso determinou a demissão de pouco mais de 20 pessoas. Muito provavelmente, a Justiça aprovará a contratação temporária até que se possa fazer um concurso, o que já está determinado.
IHU On-Line – O senhor já tem planos e ideias de novidades para a TVE e para a FM Cultura?
Pedro Osório – Naturalmente, temos já algumas ideias. Mas a nossa prioridade, no momento, dada a precariedade da programação e a demissão recente de um número significativo de pessoas que ocupavam cargos de confiança, nossa missão principal é manter as duas emissoras funcionando. A rádio, por exemplo, funciona basicamente no computador, pois não há funcionários para mantê-la no ar. Nos primeiros 60 dias é mantê-la funcionando, adequando à realidade que vamos encontrar lá que se tornou mais difícil nos últimos 30 dias. Se a gestão atual já vinha enfrentando muitas dificuldades por conta de recursos e opções que tomou, agora este quadro ficou mais difícil.
Nós devemos fazer um convênio com a Empresa Brasil de Comunicação, retransmitindo parte de sua programação de modo provisório e vamos começar a pensar numa televisão que tenha um caráter público sem ignorar que o Estado precisa se manifestar através desse tipo de emissora também. Não me parece sensato que o Estado recorra apenas à iniciativa privada para expressar as suas opiniões. Portanto, não imaginamos uma TV e um rádio no qual o RS e seus governantes não tenham voz. Evidentemente, não se trata de transformar essas emissoras em assessoria de imprensa do Estado. Longe disso. Queremos uma emissora cuja informação seja contrastada, precisa e plural. E no que diz respeito à formação, que muitas vezes fica esquecida, que possa ser recuperado como ferramenta educacional no sentido amplo e cultural, evitando sentidos degradantes. Precisamos de canais públicos que estejam atentos aos grandes desafios da humanidade.
Desemprego de 5,7% em novembro é o menor desde 2002
A taxa de desemprego no Brasil caiu para 5,7% em novembro, ante 6,1%
em outubro, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) nesta sexta-feira, no Rio, acrescentando que se trata do menor
patamar da série histórica iniciada em março de 2002. Em relação a
outubro (6,1%) a taxa de desocupação caiu 0,4 ponto percentual e, em
relação a novembro de 2009 (7,4%), recuou 1,7 ponto percentual, informou
ainda a instituição.
A população desocupada (1,359 milhão) atingiu seu menor número desde
2002, apresentando queda (-5,9%) em relação a outubro e também frente a
novembro do ano passado: -20,7% ou 354 mil pessoas desocupadas a menos. A
população ocupada (22,4 milhões) estável (0,2) em relação a outubro
cresceu 3,7% (ou mais 795 mil postos de trabalho) no ano.
O número de trabalhadores com carteira assinada no setor privado
(10,4 milhões) em novembro de 2010 ficou estável na análise mensal e
cresceu 8,7% na comparação anual (ou mais 839 mil postos de trabalho com
carteira assinada).
O rendimento médio real dos trabalhadores (R$ 1.516,70) recuou (-0,8)
no mês e cresceu 5,7% frente a novembro do ano passado. A massa de
rendimento médio real habitual (R$ 34,4 bilhões) em novembro, teve queda
(-0,6%) em relação a outubro e cresceu 9,6% em relação a novembro do
ano passado. A massa de rendimento médio real efetivo (R$ 34,4 bilhões)
estimada em outubro de 2010 ficou estável no mês e cresceu 10,4% no ano.
Fonte: Correio do Brasil
Decisão do Caso Araguaia não é de Corte de repúblicas bananeiras como imagina Jobim. As decisões da Corte Interamericana são vinculantes
Wálter Maierovitch *no Sul21
1. A Corte Interamericana de Direitos Humanos acaba de condenar o
Brasil. Isto por ter conferido — pela sua lei de autoanistia de (Lei
n.6683, de 1979)–, um “bill de indenidade” aos responsáveis por
assassinatos e desaparecimentos de 62 pessoas, entre 1972 e 1979, na
região do Araguaia e em repressão a grupo de contraste à ditadura
militar.
Como todos sabem trata-se de uma Corte de Justiça, com jurisdição
internacional. Ou melhor, a Corte Interamericana tem competência para
declarar, em matéria de direitos humanos, o direito aplicável no âmbito
dos estados-membros da Organização dos Estados Americanos (OEA) que a
aceitaram, como é o caso do Brasil.
O Brasil é subscritor da Convenção Americana de Direitos Humanos.
Mais ainda, expressamente aceitou a jurisdição da Corte Interamericana
de Direitos Humanos.
Essa referida Corte é composta por sete juízes, eleitos e entre
“nacionais dos Estados-membros da Organização dos Estados Americanos”
(OEA).
Os seus juízes são eleitos a “título pessoal, dentre os juristas da
mais alta autoridade moral, de reconhecida competência em matéria de
direitos humanos, que reúnam as condições para o exercício das mais
elevadas funções judiciais, de acordo com a lei do Estado do qual sejam
nacionais, ou do Estado que os propuser como candidatos”.
Uma comparação. Por força da Convenção de Roma de 18 de julho de 1998
foi constituído o Tribunal Penal Internacional (TPI). Apenas sete (7)
Estados membros da Organização das Nações Unidas, como por exemplo
Estados Unidos, China, Israel e Índia, não aceitam a jurisdição do TPI.
Como consequência da não aceitação, os sete (7) Estados referidos
estão fora da jurisdição do TPI. Portanto, o TPI, por falta de
legitimação, não pode instaurar processos contra os sete (7) estados.
Ainda que tenham sido consumados crimes de genocídio, de guerra, delitos
contra a humanidade e crimes de agressões internacionais: esses crimes
estão na competência do TPI.
O Brasil aceita a jurisdição internacional do TPI. Portanto, está
sujeito à sua jurisdição. O mesmo acontece com a Corte Interamericana de
Direitos Humanos.
E a jurisdição internacional, ocorrida a aceitação pelo estado,
prevalece sobre a nacional. É hierarquicamente superior. Por exemplo:
num caso de genocídio consumado no Brasil e após a instalação do TPI
(1998), uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de atipicidade
ficará submetida, por força de hierarquia das normas, a entendimento
contrário do TPI.
No caso de conflito entre a decisão nacional e a de Corte
internacional competente, prevalecerá a internacional: o STF
recentemente entendeu legítima a Lei de Anistia de 1979 (uma autoanistia
preparada e imposta pelo ilegítimo governo militar). A Corte
Interamericana, com relação ao Araguaia, entende diversamente. Assim,
prevalece a decisão da Corte Interamericana. Sobre essa obviedade, já
cansou de explicar o professor Fábio Conder Comparato.
Com efeito. A jurisdição internacional, da Corte Interamericana, é
viculante e prevalente. Em outras palavras, vale a decisão da Corte
Interamericana relativamente aos 62 desaparecidos do Araguaia.
–2. A Corte Europeia de Direitos Humanos, com sede na francesa cidade
de Estrasburgo e instituída pela Convenção Europeia para a Salvaguarda
dos Direitos Humanos, tem jurisdição vinculante em todos os
Estados-membros da União Europeia.
Cesare Batisti, a propósito, foi a esse Corte Europeia para anular os
processos condenatórios da Justiça italiana e confirmados pela mais
alta corte de Justiça daquele país (Corte de Cassação da Itália).
Caso tivesse a Corte Europeia dado razão a Btaisti, as decisões da
Corte de Cassação (que o Supremo Tribunal da Itália) estariam revogadas.
Como ensinam todos os juristas europeus, sem qualquer divergência e
ao interpretarem a Convenção e a força imperativa das decisões da Corte
Europeia de Direitos Humanos, “ as sentenças da Corte Européia dos
direitos do homem são diretamente vinculantes para os Estados membros da
Convenção”.
–3. Para o ministro Nelson Jobim, a decisão da Corte Interamericana,
no caso Araguaia, é política e não prevalece sobre o Supremo Tribunal
Federal (STF).
Trata-se de um argumento de autoridade e nada mais. Não é jurídico. É
um palpite, sem consistência jurídica mínima, de uma autoridade que
responde, às vezes com uniforme militar, pelo ministério da Defesa.
O entendimento de Jobim demonstra total desconhecimento do que seja o alcance da jurisdição internacional.
Se Jobim, por exemplo, determinar, como ministro da Defesa, a invasão
de comunidades indígenas para perpetração de genocídio, estará, ainda
que o STF diga que não, sujeito à jurisdição do Tribunal Penal
Internacional e poderá, até, ser preso preventivamente. Ficará, no
exemplo dado e caso a Força cumpra uma ilegal e inconstitucional ordem
jobianiana, na cela ao lado de Rodovan Karadizic, o carniceiro dos
bálcãs.
* Jurista e professor
Originalmente publicado no blogue de Sem Fronteiras
Originalmente publicado no blogue de Sem Fronteiras
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