Por Carla Santos
Com o tema “Perspectivas do Sindicalismo Classista” 150 lideranças das 50 principais entidades sindicais de mais de 30 cidades paulistas se reuniram na quarta-feira (18) no Sindicato dos Marceneiros, em São Paulo, para debater os rumos da Corrente Sindical Classista (CSC) no estado. Mais de 40 pessoas falaram no encontro e nenhuma delas, a exemplo do encontro realizado anteriormente pela CSC-BA, se opôs à construção de uma central sindical como alternativa plural, democrática e combativa aos trabalhadores.
“Essa nova realidade repercutiu no movimento sindical — e o que está acontecendo agora é uma dispersão entre as centrais. Hoje nosso país conta com mais de dez entidades nacionais. A mais recente é a União Geral dos Trabalhadores (UGT), mas nenhuma delas apresenta o socialismo como alternativa clara aos trabalhadores, podemos ajudar a construir isso”, concluiu.
Críticas
Os sindicalistas também rebateram notícias e opiniões que estão sendo veiculadas em alguns meios de comunicação sobre a decisão. Eles afirmam que a iniciativa não está ligada à medida provisória do governo que regulamentará as centrais, nem a estratégias eleitorais do PCdoB.
“Foi a CSC que propôs esse debate ao PCdoB — partido do qual ela guarda autonomia”, disse João Batista Lemos, coordenador nacional da CSC. “Até porque a base da corrente é bastante diversa, contando, inclusive, com companheiros e companheiras filiados a outros partidos e centrais sindicais que não são a CUT.”
Batista esclarece que a decisão em favor de uma nova central está ligada a outros fatores. “A dificuldade que passamos a ter de dialogar com a Articulação Sindical (Artisind-PT) na CUT, a exigência de uma ação mais combativa dos trabalhadores neste segundo governo Lula e a grande quantidade de sindicatos não-filiados a nenhuma central que passaram a nos procurar nos motivou a repensar nosso papel na construção da unidade dos trabalhadores”.
A iniciativa de sair da CUT e construir uma central “não é oportunista nem divisionista”, segundo o coordenador da CSC. “Essa decisão está sendo fruto de um amadurecido debate e de uma necessidade histórica”, afirma, contrapondo-se ao recente artigo do ex-presidente do PT José Dirceu, que foi criticado no encontro.
CSC e CUT
Os motivos que levam a CSC a construir uma alternativa às centrais existentes também foi tema de algumas falas no encontro. Um dos sindicalistas presentes chegou a interpretar que a decisão significaria uma ruptura com a CUT.
“Não estamos rompendo”, esclareceu Batista. “Reconhecemos que ela é a maior central sindical do Brasil e um patrimônio dos trabalhadores também por nós construído. A central que construiremos deverá contar com a CUT em inúmeros momentos, e acreditamos que ela será uma de nossas principais aliadas — senão a principal — em várias batalhas”, agregou.
Ele afirmou que a atuação da base da corrente poderá se dar com a participação em várias centrais. “Em muitos locais, os trabalhadores poderão decidir permanecer filiados à CUT, assim como também a outras centrais, e não vamos nos abster de participar desses sindicatos e de qualquer luta no movimento em função desta decisão.”
Os sindicalistas destacaram que reuniões ocorreram com as principais lideranças da Artisind no sentido de manter a CSC na CUT. Porém, as reivindicações por mais transparência nas finanças da entidade, o método de proporcionalidade qualificada para a composição das direções, e um maior diálogo entre as diferentes posições sobre o governo e o movimento, entre outras questões, não foram ouvidas pelos petistas.
Somado a isso, a CSC diz ter sido procurada por entidades importantes de vários estados do país – que não se enquadravam em nenhuma das centrais existentes – enquanto que a saída de outras correntes importantes da CUT – como a que hoje deu origem ao movimento da Intersindical, ligado ao PSOL – ocorreram. Diante destes e outros fatores, o encontro apontou que a unidade dos trabalhadores não passa mais necessariamente pela CUT, o que abre possibilidades para um novo caminho na busca desta unidade.
Possibilidades
Batista afirmou que a CSC está aberta para o debate com todas correntes do movimento, inclusive a Artisind. “Esse é um momento muito novo e estamos abertos para conversar com todos, seja com a Artisind sobre a CUT, seja com outras lideranças sobre as centrais que existem.”
Entretanto, o coordenador da CSC acha muito difícil que haja um recuo na decisão que está sendo debatida na corrente. Seria necessário uma grande reviravolta no comportamento do PT com relação a CUT para que um recuo se desse, o que dificilmente se dará, segundo a avaliação das lideranças.
Outra possibilidade que surgiu durante as discussões foi a de integrar alguma das centrais já existentes, “mas isso dependeria de um programa mais claro em direção ao socialismo e a perspectiva de luta classista a que a corrente está ligada”, afirmou. “O que não quer dizer que faremos uma central para caber só a CSC”, conclui.
A nova central
Algumas pistas do que poderá ser a nova central apareceram no encontro. “Queremos uma central ampla, com as mais diversas correntes do movimento sindical, mas amparada num programa político combativo e classista”, disse Marcelo Cardia, coordenador da CSC-SP.
A central que está por vir também abrigaria secretarias de juventude, negros e mulheres – entre outras – e, se possível, destinará recursos próprios para o trabalho destas secretarias.
A proporcionalidade qualificada é outro ponto já fechado entre as lideranças da CSC. “O método de composição da nova central deve aproveitar experiências positivas que existem nas entidades dos movimentos sociais. A proporcionalidade qualificada que é aplicada na UNE (União Nacional dos Estudantes) é um dos exemplos a serem seguidos na nova central”, completou Cardia.
O nome que a nova central terá ainda não está definido. “Estamos conversando com todas as correntes e entidades que querem conosco construir esta alternativa e vamos, democraticamente, definir com elas como poderá ser chamada à nova central”, informou.
Os próximos passos da corrente incluem uma agenda de encontro nos estados, o lançamento de um movimento pela nova central e, finalmente, um encontro nacional da corrente ainda neste ano. O encontro, que tem características de um congresso, deverá selar a construção da nova central.
Entre outros objetivos da CSC está à construção de um espaço nacional, inspirado nas experiências dos Conclat (Congresso da Classe Trabalhadora), que reúna todo o movimento sindical para debater ações conjuntas. Os sindicalistas reafirmaram que um 1º de Maio unitário entre todas as centrais poderia ser resultado de um espaço deste tipo.
Histórico
Fundada em 28 de agosto de 1.983, a Central Única dos Trabalhadores não nasceu com o apoio imediato dos sindicalistas ligados ao PCdoB. No período, o partido avaliou como divisionista a ação dos sindicalistas ligados ao PT de fundar a Central. O caminho apontado era pelo fortalecimento da unidade através do Congresso da Classe Trabalhadora, que havia recém realizado seu primeiro encontro em 1.981, e que depois fundaria em 1.986 a Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT).
Porém, no calor das lutas pela Constituinte de 1.988, a CGT foi sendo tomada pelo sindicalismo de direita e a Corrente Sindical Classista, em um expressivo congresso no ano de 1.990, decide sair da CGT e ingressar na CUT. Desde então, passou a integrar as lideranças que constituíram a Central.
Para Mário Odereti, da Central dos Trabalhadores da Argentina (CTA), que acompanhou o encontro da CSC, “a realidade nos nossos países [Brasil e Argentina] nos coloca a necessidade de termos uma central inspirada nos ideais classistas para ajudar a construir a unidade dos trabalhadores na América Latina”. Na sua avaliação a nova central poderá ser um instrumento importante neste sentido.