segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

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MP3 format, near CD quality

Sonatina for Violin and Piano No. 2 in A minor, D.385
Sonatina for Violin and Piano No. 3 in G minor, D.408
Sonatina for Violin and Piano No. 1 in D, D.384
Rondo in B minor, D. 895, op. 70
Variations on Die schone Mullerin
Sonata for Violin and Piano in A, D.574
Fantasia in C, for Violin and Piano D.934
Polonaise in B flat, D.580
German Dances
Rondo for Violin and Orchestra in A, D.438
Five Minuets and Trios for String Quartet
Konzertstuck (for Violin and Orchestra) in D major, D345
Grand Caprice sur Le Roi des Aulnes de F. Schubert, Op.26
Soir¨¦e de Vienne S 427 (after Schubert)
Octet in F, D.803


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Modelos racistas derivados da escravidão são temas de discursão

domingo, 9 de dezembro de 2007

Crumb,
de Terry Zwigoff



Sinopse: Documentário que retrata a genialidade e o espírito transgressor do cartunista Robert Crumb, papa do movimento underground dos anos 70, nos Estados Unidos. Engraçado e ao mesmo tempo perturbador, o filme percorre seis anos da vida de Crumb e de sua família, revelando crises, obsessões e também seu humor negro. A realização deste documentário só foi possível graças à amizade de 25 anos entre o cartunista e o diretor Terry Zwigoff.

Formato: rmvb
Áudio: Inglês
Legendas: Português
Duração: 120 min
Tamanho: 479 MB
Partes: 5
Servidor: 4shared

Créditos: RapaduraAzucarada - zé qualquer

Título Original: Crumb
Gênero: Documenário
Origem/Ano: EUA/1994
Direção: Terry Zwigoff





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A Constelação Jodorowsky,
de Louis Mouchet



Sinopse:
Esse documentário longa-metragem do suíço Louis Mouchet foi realizado a partir de uma série de entrevistas com Fernando Arrabal, Peter Gabriel, Marcel Marceau, Jean Giraud e com o próprio Jodorowsky, além de imagens de arquivo e de alguns encontros com seus leitores. É considerado pelos seguidores do multifacetado artista como a melhor introdução audiovisual à sua vida e obra.

Formato: rmvb
Áudio: Francês/Inglês
Legendas: Português
Duração: 87 min
Tamanho: 282 MB
Partes: 3
Servidor: Rapidshare

Créditos:RapaduraAzucarada - zé qualquer

Título Original: La Constellation Jodorowsky
Gênero: Documenário
Origem/Ano: SUI/1994
Direção: Louis Mouchet






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sábado, 8 de dezembro de 2007

Led Zeppelin leva a Londres na segunda-feira a reunião mais esperada do rock

LONDRES - Sua dissolução, há quase trinta anos, não conseguiu tirá-lo do Olimpo mais absoluto do rock. Em meio a uma enorme expectativa, o lendário grupo Led Zeppelin ressuscitará nesta segunda-feira no auditório londrino O2 Arena o seu legado.

Que as velhas glórias do rock sintam nostalgia pelos palcos não é novidade. Hoje em dia, o regresso de veteraníssimos como Sex Pistols e The Doors não faz mais do que confirmar uma tendência que parece aumentar.

Mas a reaparição do cantor Robert Plant, do guitarrista Jimmy Page e do baixista John Paul Jones, os três sobreviventes do Led Zeppelin, transformou-se em uma das datas - mais esperadas da história da música.

A desculpa para o reencontro é fazer um tributo dedicado ao fundador, em 1947, da gravadora americana Atlantic Records, Ahmet Ertegun, um show-homenagem que preencherá o vazio que deixou a morte de John Bonham em 1980 com seu filho, Jason Bonham, qna bateria, que parece ter herdado os genes privilegiados de seu pai.

A incalculável influência que o quarteto britânico teve sobre grupos posteriores de hard-rock; o misticismo de suas letras e as pinceladas blues e folk de alguns de seus temas colocaram por direito a banda nos livros mais sagrados da música. Livros salpicados, com freqüência, por lendas que projetam uma imagem obscura de seus componentes.

O show em Londres estava programado inicialmente para o último dia 26 de novembro, mas teve que ser adiado diante da fratura que o guitarrista Jimmy Page sofreu em um dedo. Felizmente, ele já está recuperado.

A reunião coincide com o lançamento, no último dia 13 de novembro, na coletânea "Mothership. The Very Best Of Led Zeppelin", um CD duplo recompila 24 dos maiores sucessos do grupo, que se formou há 39 anos.

Mas não é só a excepcional reunião de Page, Plant e Jones que fará do evento um acontecimento especial. A apresentação do Led Zeppelin terá shows de abertura de luxo. Entre eles, o ex-baixsta dos igualmente míticos Rolling Stones, Bill Wyman, o grupo Rhythm Kings, e o escocês Paolo Nutini, que também vão prestar homenagem a Ertegun.

O produtor foi, dentre outros grupos, "padrinho" dos Rolling Stones, e faleceu aos 83 anos em dezembro de 2006. Ele foi o homem que apostou no Led Zeppelin no final dos anos 60, depois de farejar seu imenso potencial depois de escutar uma de suas demos.

A morte de Bonham por intoxicação etílica deixou um buraco que levou à dissolução da banda, um feito que levou à consternação uma legião de seguidores devotados, que herdaram grandes clássicos, como "Stairway to Heaven" (1971), "Heartbreaker" (1969) e "Whole Lotta Love" (1969).

O Led Zeppelin se apresentou pela última vez com sua formação original em Berlim, em julho de 1980, apenas dois meses antes da morte de seu baterista.

Ainda que o anúncio da separação tenha provocado a tristeza de seus súditos, ela não acabou com a influência de seu trabalho.

Desde então, foram contadíssimas as ocasiões em que Page, Plant e Jones se reuniram para ressuscitar seus hits. Foi o que fizeram, por exemplo, em 1985, no "Live Aid", um grande concerto com dezenas de artistas, cujo fim era combater a fome na Etiópia.

Eles também não tiveram dúvida em voltar ao palco três anos depois, em 1988, para celebrar o 40º aniversário da Atlantic Records.

Mas as conhecidas desavenças e rixas que existiam entre John Paul Jones e os outros dois componentes da banda ficaram insustentáveis nos anos 90, com as parcerias de Page e Plant, que começaram a trabalhar juntos sem o baixista.

Talvez por isso, muitos vejam no encontro na capital britânica algo como uma "reconciliação", sem dúvida especial, de uma banda que em seus doze anos de carreira assinou oito trabalhos e estima ter vendido por todo o mundo mais de 300 milhões de álbuns.




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A propriedade intelectual tem sido vista por muitos autores como um fim em si mesma. Tomar tal afirmativa como correta implica na desconsideração de outros direitos, como o direito ao acesso à cultura, à educação, à informação, entre outros. Faz-se necessária uma leitura diferente dos direitos de propriedade intelectual adequando-os aos seus reais fins e respeitando direitos humanos fundamentais. Nesta linha, o Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV Direito Rio encomendou à professora Flávia Piovesan um estudo sobre a relação entre a Propriedade Intelectual e os Direitos Humanos.

Nas palavras da professora, o artigo indaga: “Como compreender a propriedade intelectual à luz dos direitos humanos? Em que medida o sistema internacional de direitos humanos pode contribuir para a proteção do direito à propriedade intelectual sob uma perspectiva emancipatória? Qual há de ser o impacto dos regimes jurídicos de proteção da propriedade intelectual no campo dos direitos humanos? Qual é o alcance da função social da propriedade intelectual? Como tecer um adequado juízo de ponderação entre o direito à propriedade intelectual e os direitos sociais, econômicos e culturais? Quais os principais desafios e perspectivas da relação entre direitos humanos e propriedade intelectual?”

A íntegra do artigo pode ser obtida aqui .

Aonde vai o socialismo de Chávez?

A Venezuela bolivariana vive um processo inédito de mobilização social. Foi isso que tornou inviáveis os aspectos ultra-centralizadores e retrógrados do projeto do presidente. Diálogo em Caracas com o sociólogo Edgardo Lander, um socialista comprometido com o futuro da democracia

Elizabeth Carvalho

Do longo discurso de três horas, restou apenas uma frase. Os bons ouvintes, experientes e calejados, imediatamente identificaram ali a dúvida, o tênue sinal de fraqueza, a pequena brecha por onde escoava o mal-estar oculto nas próprias fileiras chavistas, com a reforma constitucional que o presidente Hugo Chávez acreditava ver aprovada no dia seguinte, por referendo popular. Diante da multidão que cobria de vermelho a imensa Avenida Bolívar, no comício de encerramento de sua campanha em Caracas, ele advertiu: “que fique bem claro: quem votar NÃO vota contra Chávez, vota por Bush”. Chávez sabia que ali mesmo, naquela massa compacta que constituía sua base de apoio, havia muita gente que desta vez não queria, nem iria, dizer SIM ao presidente – apesar da chantagem política implícita na frase.

O professor Edgardo Lander é bem mais que um bom ouvinte, experiente e calejado. Catedrático do Departamento de Sociologia da Universidade de Venezuela e professor do programa de pós-doutorado, dono de uma obra respeitada em todo o mundo, é um intelectual profundamente engajado no processo histórico de mudança que seu país vem experimentando nos últimos anos. Mas é também um crítico feroz da fracassada experiência socialista do século 20, que ele teme se repetir na Venezuela. Uma ordem autoritária, demolidora dos ideais democráticos, que incorporou as tendências mais negativas do modelo industrial-capitalista, com padrões de destruição ambiental ainda mais acelerados que os da sociedade que pretendia combater. Em suma, é um socialista venezuelano que votou NÃO. E acha que o resultado das urnas, que rechaçaram a reforma constitucional com uma diferença de apenas 1,5 %, foi o melhor que poderia ter acontecido à Venezuela e ao governo Chávez — que, pela legislação atual, vai se estender até o ano de 2013.

O impacto mais importante deste resultado, segundo Lander, se deu no próprio chavismo. Comparado com o desempenho da oposição, nas presidenciais do ano passado, o NÃO contabilizou 200 mil votos adicionais, e eles certamente não saíram apenas dos que rejeitam o presidente. Da mesma forma, não se pode creditar a estes a totalidade do índice de 44% de abstenção. Lander faz questão de ressaltar que é ainda muito cedo para uma análise numérica mais detalhada, mas admite que os níveis de abstenção em muitas zonas populares foram elevados. “São muitas as leituras que se pode fazer destes níveis de abstenção”, ele diz, “mas creio que uma proporção significativa desta falta de disposição de sair para votar pela reforma é uma expressão do desconforto que ela provocou. Entre assumir o NÃO e se abster, muitos preferiram ficar em casa”.

Nas últimas semanas que antecederam a votação do dia 2, Lander produziu uma extensa contribuição ao debate sobre a proposta de reforma. Esmiuçou cada um dos artigos que deveriam ser modificados, para concluir que não se tratava de uma reforma, mas uma nova Constituição, cheia de lacunas, que deveria substituir a que em 1999 instituiu a República Bolivariana. Ou seja: só uma nova assembléia constituinte poderia, do ponto de vista constitucional, elaborar as mudanças que Chávez considerava indispensáveis em sua viagem rumo ao incerto “socialismo do século 21”.

"Socialismo do século 21": em parte, nunca definido; em parte, volta ao estatismo e à ultra-centralização

O presidente levantou a bandeira deste vago conceito em sua campanha pela reeleição, em 2006. Uma mudança significativa num discurso político que, em 1999, falava apenas de combate sem tréguas ao capitalismo selvagem e bebia na fonte da teoria do desenvolvimento de Celso Furtado. Mas, como observa Lander, o novo discurso navegou à deriva. Nenhum passo concreto foi dado para um debate que ajudasse a desenhar concretamente o socialismo que se pretendia construir.

“Sendo socialismo do século 21, seria lógico supor que não seria o socialismo do século 20. Mas em que aspectos se distanciaria dele? Na negação do modelo do partido único? No rechaço a uma ideologia oficial do Estado? Em alternativas ao modelo monocultural que negava toda a diferença? Em formas de organização orientadas para não repetir a chamada democracia popular proletária, que terminou por negar a própria democracia? Em um modelo não baseado na planificação burocrática centralizada? No questionamento radical do produtivismo de crescimento sem limite, como ontem na União Soviética e hoje na China? Socialismo com pluralismo político, compatível com a Constituição vigente?”

A reforma deixava sem resposta boa parte das perguntas de Lander, e esclarecia outras de forma bastante perturbadora. O artigo 136 da reforma, por exemplo, acrescentava um poder popular (comunas, conselhos comunais, conselhos de operários, camponeses, estudantis) à divisão territorial tradicional do Poder Público (municipal, estatal e nacional). Um “poder”, na verdade, diretamente submetido à lógica do Estado, alternativo, diferente dos outros poderes, que ao sociólogo soa como um contra-senso. “Organizações populares convertidas em conselhos comunais ligados ao Estado não fortalecem a autonomia”, ele diagnostica. “Acabam funcionando como mecanismo de cooptação e controle que vem de cima.”

Na análise de Lander, a reforma proposta conduzia de um modo geral a um modelo de socialismo estatista, tendo como centro de poder o presidente da República e ampliando suas atribuições. A ele cabe estabelecer as linhas de um plano geral estratégico de desenvolvimento. A ele cabe a administração das reservas internacionais e das reservas para a economia nacional. A ele estão atreladas as Forças Armadas. Todos os caminhos do novo Estado socialista venezuelano levam a Chávez. Como um super-herói, ele tem a força. “Chávez se cerca de colaboradores incapazes de contestá-lo e de uma intelectualidade cortesã”, revela o sociólogo. “É impossível atravessar nove anos de poder sem críticas e não acabar se separando da realidade, sem sucumbir aos males de uma patologia política.”

O outro lado da moeda: inclusão social, resgate da cidadania, avanço da organização popular

Mas foram também nove anos de avanços indiscutíveis na sociedade venezuelana. Lander destaca mudanças substanciais no acesso à educação e à saúde, no resgate da cidadania e no processo de inclusão social, no consumo de alimentos da população carente. Relaciona a escassez de produtos de primeira necessidade não apenas ao claro boicote de empresários do ramo que se opõem a Chávez, mas a um grande aumento da demanda de consumo. São avanços que se chocam com problemas estruturais que a revolução bolivariana de Chávez não foi capaz de solucionar.

Há 14 trimestres, a economia venezuelana apresenta os mais altos índices de crescimento da América Latina, em torno de 10%. O Produto Interno Bruto é hoje exatamente o dobro de 1998, ainda que a aceleração tenha caído de 10,3%, em 2006, para 7%, em 2007. Mas os lucros do grande capital permanecem intocáveis, estratosféricos. Os dos bancos subiram 33% em 2006, atingindo cerca de R$ 12,606 bilhões num único semestre. A inflação melhorou, mas não está controlada: vai fechar este ano em torno de 20%. As políticas agrícolas são ineficientes: Lander não enxerga sinais de um combate efetivo à chamada “doença holandesa” de que padece o país — um conceito econômico que explica a relação entre a exploração dos recursos naturais e o declínio de outros setores da economia. A produção interna está escravizada às divisas geradas pelo petróleo. A Venezuela não produz o que come. Setenta por cento do consumo de alimentos depende das importações, da lógica perversa de que comprar fora sai mais barato do que plantar, colher e distribuir. São problemas que a grave e contumaz ineficiência da gestão pública não ajuda a resolver.

Junte-se neste caldeirão uma das maiores conquistas da sociedade venezuelana nos últimos anos, que é a cultura política impulsionada pelos processos de organização popular. A Venezuela é hoje certamente a nação mais politizada da América do Sul. Lander avalia que o sucesso das missões bolivarianas não teria sido possível sem a sólida mobilização das comunidades em torno de suas propostas. É fácil constatar essa avaliação nas ruas, nas escolas, nos mercados e nos escritórios. O povo venezuelano é bem informado, conhece profundamente os seus direitos e alimenta um orgulho pátrio que no Brasil só aflora durante a Copa do Mundo.

A esperança: que esta sociedade mobilizada rejeite o messianismo, como fez no referendo do dia 2

Esta é a mistura que se derramou sobre as urnas em 2 de dezembro. “O resultado do referendo nos dá um quadro diferente do que analistas políticos, e mesmo Chávez, seriam capazes de imaginar”, Lander conclui. “Não há um povo passivo disposto a seguir um líder messiânico, que dita normas de conduta. As urnas revelam que, entre optar pela revolução bolivariana chavista e o fascismo-imperialismo”, há outras opções ainda para se pensar”.

A favor do futuro, Edgardo Lander ressalta a comprovação da absoluta transparência do sistema eleitoral venezuelano, que considera uma das mais importantes conquistas para a legitimidade do processo político no país e cala de vez as vozes que a cada eleição semearam a suspeita de manipulação eleitoral no país. Nesse quadro, a vitória do NÃO pode também isolar os setores golpistas mais radicais, abrindo espaço para uma oposição mais democrática.

Por fim, no pronunciamento da madrugada de 3 de dezembro, apresentou-se frente às câmeras de televisão um Chávez bem diferente daquele que na véspera da votação ameaçava a multidão no comício. Reconheceu que o SIM teve 3 milhões de votos a menos dos que lhe tinham sido dados nas eleições presidenciais, e que era preciso escutar a voz do povo. Lander acredita que aí reside a chave do tesouro: se isso realmente ocorrer e permitir um desdobramento de reflexão autocrítica, uma nova vida democrática pode estar a caminho no processo de mudança na Venezuela.

Brasil - Somos nossos heróis

Maluca por cinema eu vejo tudo que há. Não importa a qualidade. Mesmo nas "bombas" estadunidenses sempre há algo que se possa tirar, desde que tenhamos olhos críticos. Dentro delas há um gênero de que gosto demais. É o dos super-heróis. Encantam-me com suas sempre bondosas tentativas de salvar o mundo. E não é à toa que a indústria cultural os mostre assim. Solitários, um pouco tristes, salvadores individuais. A vida de todos gira em torno da boa vontade de um, o que tem os superpoderes. Talvez por isso me enterneça uma cena do Homem-Aranha em que ele, cansado de salvar o mundo, passa a se comportar como pessoa comum. Só que não consegue. O mundo precisa dele, e ele volta. E o salva. Eis a sempre repetida mensagem do way of life estadunidense. "Fique tranqüilo, alguém virá te salvar. De preferência um dos nossos".


Cá com meus botões fico a pensar se essa lógica dos super-heróis não é afinal a que temos de combater. Estamos sempre esperando o salvador. Aquele que, num átimo, virá, com suas roupas coloridas e superforça nos salvar. Com os olhos no céu esperamos a saída individual, o gesto do outro, o herói. Esquecemos as propostas coletivas, a necessidade da união, as lutas travadas em comunhão. Ah, essa fortaleza que desconhece seu poder.


Agora aí está, nosso frei Luiz Cappio, outra vez colocado, sozinho, diante da monstruosa idéia da transposição do Rio São Francisco. Ele que é magrinho, que não tem capa, nem superpoderes. Ele que é só um homem, demasiado frágil, demasiado só. E o que ele quer? Bancar o herói? Não! Ele quer que nos recordemos (voltar ao coração). Quer que a gente se lembre dos tempos imemoriais em que, juntos, superávamos nossos medos e as ameaças que se colocavam diante da raça. Desesperadamente quer que nossos ouvidos se abram e possamos voltar a ouvir a canção da comunhão. Juntos, povo, comunidade.


O frei Luiz não quer piedade, nem lágrimas, nem lamúrias. Ele quer ação. Ação nossa, conjunta, real. Frei Luiz não quer lamentos. Quer o povo em pé como se fosse uma copa do mundo, a bramir bandeiras e a se dirigir, cego, para o canteiro de obras da transposição, como cegas vão as gentes para as olimpíadas ou campeonatos. Só que, neste caso, não é um jogo de bola. É o destino de milhares de pessoas que vai se decidir.

Frei Luiz quer que as pessoas saibam que, conforme atestam centenas de relatórios e estudos feitos por técnicos gabaritados, a transposição vai ser um desastre para as pessoas e para a natureza. A Fundação Joaquim Nabuco mostra que, com a obra, vai haver uma redução brutal na geração de energia. O Instituto Miguel Calmon diz que pode faltar água ao rio, pois os afluentes são temporários, e a retirada de água só vai piorar as coisas. O Comitê Executivo de Estudos Integrados da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco-CEEIVASF, diz que a obra pode provocar uma maior evaporação das águas, que já é elevada no semi-árido. Na verdade, só vai ser bom mesmo para as empreiteiras, que ganharão astronômicas quantias para fazer a obra e para os latifundiários, que poderão irrigar suas terras sem maiores investimentos.

Frei Luiz está jejuando, está pedindo socorro, como se ele mesmo fosse o rio. É porque ele sabe que não existem super-homens, nem homens-aranha, nem madrakes. Como homem, desgraçadamente homem, ele sabe que só há um jeito para parar as máquinas. A força e a união de todas as gentes. Por isso só há dois jeitos de salvar o padre, o rio e a nós mesmo. Ou vamos todos para Sobradinho, na Bahia, ou fazemos ações em nossos estados. Mas ações fortes, firmes, capazes de serem ouvidas pelos governantes! Nada de moções. Ações. Nós, de camisa verde-amarela, com nossas bandeiras, nossos sonhos, nossas esperanças. Para barrar a obra. Afinal, há outras soluções para a questão da água no nordeste. Centenas delas, dadas por técnicos competentes.



Só assim, agindo concretamente, a gente salva o rio, a vida, o frei. Esse homem que se entrega em oblação, porque nós ainda precisamos de heróis. Penso que será muita covardia da gente deixar frei Luiz sozinho. Ele nos quer, juntos. Não quer estar sozinho. Sejamos, então, milhões...


* Jornalista
Nada mudou



Rogério Grassetto Teixeira da Cunha


“Em outros declives semelhantes, vimos, com prazer, progressivos indícios de desbravamento, isto é, matas em fogo ou já destruídas, de cujas cinzas começavam a brotar o milho, a mandioca e o feijão”.

“Pode-se prever que em breve haverá falta até de madeira necessária para construções se, por meio de uma sensata economia florestal, não se der fim à livre utilização, ou, melhor dizendo, devastação das matas desta zona”.

“As ervas desse campo, para serem removidas e para fertilizar o solo com carbono e extirpar a multidão de insetos nocivos, são queimadas anualmente pouco antes de começar a estação chuvosa (...) assistimos com espanto à surpreendente visão da torrente de fogo ondulando poderosamente sobre a planície sem fim”.

“(...) a atividade dos homens que esburacam o solo (...) para a extração de metais. Covas informes e montões de cascalho desfiguram as serras situadas a oeste e norte da cidade, nas quais corre ouro no xisto argiloso”.

“Infelizmente (...), ávidos de sua carne [tatu galinha], não ponderam sobre essas sábias disposições. Perseguem-no com tanta violência, como se a espécie tivesse de ser extinta.”

“No solo adubado com cinzas das matas queimadas dá boas colheitas (...) Contudo, isso se refere somente à colheita do primeiro ano; no segundo já é menor e, no terceiro, o solo em geral está parcialmente esgotado e em parte tão estragado por um capim compacto (...) que a plantação é desfeita ...”

“Maiores lucros deram, outrora, as minas de ouro (...). Agora estão esburacados os bancos de areia dos rios de todos os lugares e a superfície da terra”

“Em parte, haviam sido queimadas grandes extensões das pradarias. Assisti hoje a este fenômeno diversas vezes e, por um quarto de hora, atravessamos campos incendiados, crepitando em altas chamas”.

“Subimos então a Serra Garo, que oferecia um aspecto totalmente singular de abandono e devastação pelas inúmeras escavações feitas para as lavras de ouro”.

***

Lendo as citações acima, o leitor pode estar se perguntando de onde elas foram extraídas, até pela linguagem pouco usual, e a que lugares referem-se. Poderá imaginar que são trechos de publicações técnicas sobre o meio ambiente, talvez algum relato de um membro de uma ONG ambientalista ou de um viajante de Portugal ou outra coisa qualquer do gênero. Pois bem, não é nada disso. Na verdade, as citações foram extraídas do livro “Viagem no Interior do Brasil” (1976, Editora Itatiaia/EDUSP, tradução de Milton Amado e Eugênio Amado) do naturalista austríaco Johann Emanuel Pohl (aliás, livro que particularmente recomendo, pela riqueza de informações sobre o Brasil da época). O detalhe que torna as citações mais interessantes para aquelas pessoas preocupadas com o meio ambiente é a época em que foi feita a viagem: entre 1818 e 1819. Isto mesmo, há quase 190 anos! Repito: cento e noventa anos atrás. Triste constatar que, de lá pra cá, não só pouca coisa mudou como retrocedemos em outras.

O naturalista viajou pelos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás e Tocantins e descreveu os caminhos por onde passou, detalhes geológicos, aspectos da fauna e da flora, costumes e tradições das cidades, do campo e de agrupamentos indígenas, aspectos históricos, etc. Embora não seja seu foco principal, pode-se extrair várias conclusões a respeito da forma como o meio ambiente era tratado. O imediatismo, a destruição pela cobiça, a nefanda prática das queimadas, a falta de planejamento e o hábito de esgotar os recursos para posteriormente mudar o local da destruição são facilmente percebidos ao longo do texto. Na verdade, dada a época em que o relato foi feito, isto não constitui grande surpresa. O mais impressionante, no entanto, é a analogia com os dias atuais. No tocante à mineração, basta lembrar Serra Pelada, os acidentes com derramamento de substâncias tóxicas no rio Pomba, as invasões de Terras Indígenas e áreas protegidas. Sobre a exploração madeireira, temos a mesma gana exploratória, agora disfarçada sob os auspícios das Concessões Florestais de florestas públicas, planos de manejo e do recém criado Serviço Florestal Brasileiro. No quesito queimadas, continuamos com taxas recordes e números que beiram ao ridículo. Quanto à extinção de espécies e desmatamento, bem, estas é melhor nem comentar. Quase dois séculos se passaram, o discurso ambientalista ganhou força, as ONGs são entidades de peso político extraordinário, mas tudo indica que, na prática, nada mudou.

Rogério Grassetto Teixeira da Cunha, biólogo, é doutor em Comportamento Animal pela Universidade de Saint Andrews.

E-mail: rogcunha@hotmail.comEste endereço de e-mail está protegido contra spam bots, pelo que o Javascript terá de estar activado para poder visualizar o endereço de email


Impasse entre ricos e pobres ameaça conferência de Bali

Países emergentes, o Brasil entre eles, não aceitam assumir metas obrigatórias de redução das emissões de gases provocadores do aquecimento global. Proposta brasileira de incentivo ao desmatamento evitado gera polêmica. EUA ficam isolados no papel de vilão ambiental.

RIO DE JANEIRO – Ao fim da primeira semana de discussões da 13ª Conferência das Partes da Convenção sobre Mudanças Climáticas da ONU (COP-13), que reúne representantes de 190 países e se realiza na belíssima ilha de Bali (Indonésia), ainda não é possível fazer previsões sobre o sucesso do encontro de cúpula, que pretende lançar as bases de uma agenda de combate ao aquecimento global a ser adotada a partir de 2012, após o término da vigência do Protocolo de Quioto em seus termos atuais.

O principal nó das negociações multilaterais continua sendo a recusa dos países ditos emergentes _ China, Brasil e Índia à frente _ em assumir metas obrigatórias de redução para suas emissões de gases provocadores do aquecimento da atmosfera. Os ministros e chefes de Estado começam a chegar à Bali na segunda-feira (10) para a segunda e decisiva semana de negociações, e a preocupação geral é evitar um fracasso que impeça a adoção de uma proposta acabada de agenda global já em 2009, como deseja a ONU.

Os países emergentes baseiam sua posição no princípio das “obrigações comuns, porém diferenciadas”, estabelecido no Protocolo de Quioto, que reconhece o maior grau de responsabilidade dos países industrializados pelo aquecimento global e imputa somente a estes a obrigação de assumir metas compulsórias de redução das emissões. Afirmações como “os países ricos emitem gases desde o século XIX e agora não podem exigir que outros países freiem seu desenvolvimento” são comuns nas falas dos diplomatas chineses, indianos e brasileiros, entre outros, presentes à COP-13.

Os países mais industrializados, por sua vez, insistem na tese de que o desmatamento das florestas é um dos principais causadores do aquecimento global na atualidade (responde por 20% das emissões globais, segundo estudos) e exigem que os emergentes também assumam metas concretas e obrigatórias para reduzir suas emissões. Além do desmatamento, os governantes dos países ricos apontam o modelo de desenvolvimento “sujo” (baseado na queima do carvão e do petróleo) que é levado a cabo na China e na Índia e o crescente volume de emissões desses dois países como outro fator que contribui decisivamente para o aquecimento da atmosfera.

Em que pese o impasse diplomático, o secretário-executivo da COP-13, Yvo de Boer, aposta na inclusão do desmatamento florestal como um dos pontos que farão parte do acordo pós-Quioto: “Se não chegarmos a um consenso aqui em Bali, poderemos não conseguir estabelecer uma agenda global em 2008 e, desta forma, comprometer a seqüência do Protocolo de Quioto em 2012”, ameaça. A maneira como a questão do desmatamento vai entrar no novo acordo, no entanto, ainda é fruto de importantes divergências nas rodas de negociação.

Em meio à polêmica, uma proposta apresentada pelo Brasil no ano passado e reafirmada agora ganha destaque na COP-13, apesar de não ter angariado apoios significativos. Embalado pelos três anos consecutivos de redução no desmatamento da Amazônia, o governo brasileiro quer que o desmatamento evitado pelos países que ainda possuem grandes florestas passe a ser levado em conta nos cálculos das metas de combate ao aquecimento global.

Brasil apresenta proposta

O desmatamento evitado, de acordo com a proposta apresentada pelo Brasil, seria remunerado pelos países ricos, que criariam para isso uma espécie de fundo de doações voluntárias a ser gerido pela ONU. No ponto que provocou o maior repúdio entre europeus e norte-americanos, a proposta brasileira estabelece ainda que a redução conseguida pelos países em desenvolvimento não implique em diminuição das metas estabelecidas para os países industrializados.

Além de não contar com a simpatia da União Européia (com a exceção da Alemanha), do Japão, do Canadá e dos Estados Unidos, a proposta do Brasil acabou isolada também por outros países possuidores de extensas florestas, como Filipinas, Gana e a anfitriã Indonésia. Estes governos já manifestaram sua preferência por um modelo de incentivo ao desmatamento evitado, defendido pela maioria dos países ricos, que seja mais ligado ao mercado e transforme a floresta preservada em créditos a serem comprados pelos países poluidores.

A posição do Brasil sobre essa discussão não poderia ser mais clara: “Os países ricos não apóiam nossa proposta porque querem um mecanismo de compensação de suas emissões. Querem créditos porque sabem que não vão conseguir reduzir as emissões. O que estamos vendo aqui é um bando de países tentando colocar a questão florestal na frente da questão da queima de combustíveis fósseis, que é o grande problema do planeta. Eu não posso transformar a mata em crédito e deixar os ricos continuarem queimando combustível. Isso é loucura”, disse a secretária de Mudanças Climáticas do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Thelma Krug, segundo o jornal O Globo.

Bush vilão, Ruud herói

Outra característica marcante da primeira semana de discussões da COP-13 foi a consolidação do governo de George W. Bush em seu papel de vilão ambiental. Responsável, segundo estimativas feitas pela ONU, por 27% das emissões globais de gases provocadores do efeito estufa, os Estados Unidos se recusam a assumir metas obrigatórias de redução e retiraram sua assinatura do Protocolo de Quioto, mas não deixam de marcar presença nas discussões multilaterais sobre as mudanças climáticas.

A estratégia do governo dos EUA de esvaziar o processo de discussão para a fase pós-Quioto parece não ter acabado. Chefe da delegação do país na COP-13, Harlan Watson anunciou na quinta-feira (6) que o presidente Bush está convidando os chefes de Estado dos 17 países maiores emissores para uma rodada de discussões sobre mudanças climáticas prevista para janeiro do ano que vem em Honolulu, no Havaí. Uma reunião semelhante aconteceu em Washington, em setembro, sem qualquer resultado concreto: “Nossa idéia é acelerar o processo de combate ao aquecimento global e facilitar o compromisso dos países com a redução das emissões”, disse Watson, sem entrar em maiores detalhes.

O papel de vilão do governo Bush está sendo ainda mais realçado em Bali pela mudança radical de postura de um aliado histórico dos EUA nas discussões ambientais multilaterais: a Austrália. Eleito primeiro-ministro australiano em novembro, o trabalhista Kevin Ruud anunciou no primeiro dia da COP-13 que seu país “vai ratificar o Protocolo de Quioto o mais breve possível”. Após o anúncio, Ruud foi aplaudido de pé pelo plenário, tornando-se até agora a principal estrela do evento. Com a adesão da Austrália, os Estados Unidos passam a ser o único país industrializado a continuar de costas para a luta global contra as mudanças climáticas provocadas pelo homem.