terça-feira, 1 de janeiro de 2008

segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

AS MIL E UMA NOITES - 1974 - Pasolini



Terceiro episódio da Trilogia da Vida
Título Original: Il Fiore Delle Mille e Una Notte
Gênero: Drama/Cinema Europeu
Origem/Ano: ITA-FRA/1974
Duração: 131 min
Direção: Pier Paolo Pasolini
Áudio: Italiano
RMVB Legendado
Cor

Créditos: Forum - Stirner




Elenco:
Ninetto Davoli
Franco Citti
Tessa Bouché
Ines Pellegrini
Franco Merli
Francesco P. Governale
Salvatore Sapienza



Sinopse:
Baseado em contos eróticos antigos. A história principal é sobre um jovem que se apaixona pela escrava que o escolheu como mestre. Depois que os dois se separam, ele sai em uma viagem em busca da escrava. Nessa epopéia, ele encontra uma série de personagens que contam suas tragédias amorosas, incluindo um homem que foi capturado por uma mulher misteriosa no dia de seu casamento e, também, de um homem que faz de tudo para libertar uma mulher das mãos de um
demônio.



Legendas:

Arquivo anexado As_Mil_e_Uma_Noites.zip




Links Rapidshare em três partes
http://rapidshare.com/files/158773107/PPPAN_StirnerFORUMFARRA.7z.003
http://rapidshare.com/files/158703179/PPPAN_StirnerFORUMFARRA.7z.002
http://rapidshare.com/files/158870067/PPPAN_StirnerFORUMFARRA.7z.001

Créditos dos licks: FARRA - Stirner

Senha para descompactar: http://farra.clickforuns.net

Não esqueçam de fazer um cadastro no FARRA antes de entrar...
Tariq Ali analisa os seis anos de guerra no Afeganistão


Em uma entrevista concedida a Sherry Wolf, da revista Socialist Review, o escritor e jornalista Tariq Ali, editor da New Left Review, diretor da Editorial Verso e membro do Conselho editorial do 'Sin Permiso', conta como a permanência das tropas de ocupação do Afeganistão no país está se tornando cada vez mais "asquerosa e desagradável".


"Muito longe de ser uma 'boa guerra' o Afeganistão está a transformar-se numa guerra asquerosa e desagradável, e não há maneira das forças dos Estados Unidos ou de outras potências ocidentais serem capazes de permanecer ali por muito tempo", conta Ali.

A entrevista, publicada no site da Socialist Review em 28 de dezembro deste ano, foi traduzida para o português pelo site O Diario.Info, do qual o Vermelho reproduz sua íntegra.


Sherry Wolf – Agora completa-se o sexto aniversário da guerra dos Estados Unidos no Afeganistão, a qual é vista por muita gente como a batalha "boa" na "guerra contra o terror" o que a diferencia do Iraque. É assim?


Tariq Ali – Argumentei sempre que esta guerra era essencialmente uma vingança grosseira para devolver o golpe imediatamente depois dos ataques do 11 de setembro — e poder mostrar à população dos Estados Unidos, por parte dos líderes políticos, que "nós estamos atarefados a defender-nos". Não houve outro propósito que não fosse uma vingança, olho por olho.


O segundo propósito desta guerra, como Bush explicou detalhadamente, era capturar Osama bin Laden "vivo ou morto". Estas foram as suas palavras exatas, que não deveríamos esquecer. Fora essa, não havia outras razões para a guerra.


Não havia dúvida de que eles iam conquistar o país. Por um lado, a Aliança do Norte não ia resistir, nem tão pouco os iranianos que eram muito fortes no Afeganistão ocidental. Os líderes iranianos eram hostis aos talibãs pelas suas próprias razões oportunistas, portanto, subiram para o carro e disseram: Bem, não podemos desfazer-nos desses tipos, mas se os americanos o fizerem, esperamos os acontecimentos.


Por outro lado, havia o regime militar paquistanês, sem o qual os talibãs não teriam permanecido no poder, e que tinha estado a apoiar os talibãs logística e militarmente, em todos os sentidos.


Dado que os Estados Unidos iam usar as bases militares do Paquistão, o regime pediu para manter durante algumas semanas o seu pessoal militar fora do Afeganistão antes dos Estados Unidos o invadirem. Nestas duas semanas decisivas, supostamente, Osama bin Laden e a direção da al-Qaida também abandonou o Afeganistão.


Assim os Estados Unidos invadiram Cabul com a ajuda da Otan, mas não tiveram a qualquer dificuldade porque não houve a menor resistência. Assim surgiu a pergunta: Que iam fazer com o país?


Não podiam apanhar Osama, embora tivesse havido duas semanas de histeria mediática sobre "encontrar as grutas de Tora Bora e propaganda desse tipo. Lançaram estas bombas e o que aconteceu? Nada. Destruíram as grutas, mas a presa tinha escapado.


Portanto que fazer agora? É óbvio que bin Laden abandonou o país e foi para as zonas tribais entre o Paquistão e o Afeganistão, onde as tradições de hospitalidade são muito fortes e não seria entregue.


Os Estados Unidos impuseram um regime marionete no Afeganistão. Lembremos que Zalmay Khalilzad era então conselheiro chefe de Bush no Afeganistão e trouxe um dos cupinchas que trabalhou para a companhia petrolífera Unlocal, Hamid Karzai, para ser presidente do Afeganistão. Bingo: rapidamente conseguimos um país.


O problema tornou-se logo evidente para o Ocidente: estes planos não podiam ultrapassar Cabul e Kandahar, as duas grandes cidades no Sul, e isso apenas durante o dia. Em todo o lado, a oeste do país, as forças pro-iranianas tinham-no sob controlo. E no norte, as antigas repúblicas soviéticas, ainda sob a influência de Moscou, eram comandadas.


Portanto que iam fazer com o país? A resposta era: nada

Os Estados Unidos têm algum tipo de apoio dentro do Afeganistão?

Não há dúvida que muitos afegãos se alegraram com a queda dos talibãs – algumas pessoas pensaram, bem, ao menos teremos alguma paz e tranquilidade, e talvez comida. Foi também essa a opinião de alguns comentaristas liberais do Paquistão.


Alguns de nós discutimos com eles, dizendo que os talibãs podiam ter sido desalojados, mas que aconteceria agora? Alertámo-los que no diz respeito à infra-estrutura social, nada ia mudar para a maioria dos afegãos. É isso exatamente o que aconteceu nestes seis anos. O que a gente subestimou é que as ocupações imperiais sob o neoliberalismo refletem as prioridades da nova ordem capitalista, privatizar tudo nos seus próprios países. Portanto o que aconteceu é que este dinheiro foi colocado aqui — e este dinheiro foi usado por Hamid Karzai e seus cupinchas para construir uma elite no Afeganistão.


No coração de Cabul, nas melhores terras de que puderam apropriar-se, a elite esteve e está a construir grandes mansões protegidas pelas tropas da Otan diante de toda a população da cidade e do campo.


Custa cerca de 5 mil a 6 mil dólares construir uma casa barata para uma família de cinco ou seis membros, mas a elite não o fez. Gastou milhões de dólares a construir grandes mansões. Sabe Deus por que o fizeram já que necessitam de uma guarda permanente da Otan para viver numa dessas mansões. E serão retirados delas logo que os exércitos ocidentais se retirem.


Isso originou uma grande crise e surgiram os casos de inocentes assassinados pelo gatilho fácil das tropas dos Estados Unidos.


Onde os Estados Unidos ouvem tiros, lançam bombas. Alguém deveria ter-lhes dito que o Afeganistão era uma sociedade tribal, uma cultura onde se disparam armas para celebrar bodas, nascimentos... correm e disparam armas de fogo para o ar. Poderia pensar-se que os americanos seriam mais compreensivos com isso, dada a cultura armamentista dos Estados Unidos, mas não acharam graça a isso no Afeganistão.


Assim os Estados Unidos começaram a bombardear as pessoas. Numa festa de casamento os Estados Unidos chegaram, bombardearam e criaram o inferno. Vítimas: 90 ou 100 assassinados, homens, mulheres e crianças. E isto multiplicou-se.

Como é que os talibãs regressaram?


Os talibãs começaram a reagrupar-se, a rearmar-se e a lutar, e conseguiram alguns êxitos. O que também começou a suceder simultaneamente é que houve gente feliz em os ver regressar — já que ninguém mais os defendia.


Começaram a tratar dos talibãs como uma organização "guarda-chuva" e a informá-los do que passava. Muitas pessoas que supostamente trabalhavam com as autoridades de ocupação dos Estados Unidos e da Otan, informavam os talibãs sobre os movimentos de tropas. As operações da clássica guerra de guerrilhas começou, e os Estados Unidos responderam com mais bombardeios aéreos. Estava em marcha um círculo vicioso.


Se examinarmos os jornais do último ano e fizermos uma sondagem de todas as informações onde houve 60 talibãs mortos, 80 talibãs mortos, 90 talibãs mortos, e se fizerem as contas, já teriam acabado com os milhares de supostos membros das milícias talibãs (a teórica força total calcula-se ser de 10 mil).


Por outras palavras, a julgar por estas informações, já estariam eliminadas três quartas partes da organização talibã, o que está longe da verdade. Mas como os Estados Unidos estão envergonhados de matar civis, deve ser esta a versão.


Tens uma situação no país em que o irmão de Hamid Karzai, Wali Ahmed Karzai é muito conhecido como o traficante de armas e de heroína mais importante da região. Chegou a esse ponto porque o irmão governa o país.


Tens este sujeito que foi feliz dirigindo um restaurante afegão em Baltimore e vende comida cara aos estudantes da John Hopkins — e agora é o segundo chefe no país a fazer uma fortuna — um "matador" por assim dizer.


Simbolicamente, tudo isto representou um grande desastre. Assim, muito longe de ser uma "boa guerra" o Afeganistão está a transformar-se numa guerra asquerosa e desagradável, e não há maneira das forças dos Estados Unidos ou de outras potências ocidentais serem capazes de permanecer ali por muito tempo.


O que esperam conseguir os poderes regionais como consequência do Afeganistão?

O exército paquistanês espera que o Ocidente se retire e se improvise um tipo de governo de coligação entre Karzai e o que resta dos talibãs.


Isto vale a pena sublinhar. Apoiado no Ocidente, o regime de Karzai, agora mesmo, está a negociar seriamente com os talibãs. Assim, os talibãs que foram demonizados como a pior força que já existiu no mundo, estão agora com o beneplácito do Ocidente, a negociar porque o fazem com Karzai.


A primeira resposta dos talibãs à oferta de Karzai é dizer: "nunca negociaremos convosco até as tropas estrangeiras terem abandonado o país" ao que Karzai respondia: "Não é possível" . E pensa que não é possível porque sem as tropas estrangeiras não duraria nem 48 horas.


Mas no que respeita ao exército paquistanês, sabem que não são capazes de conseguir um acordo entre talibãs e Karzai enquanto as tropas estrangeiras permanecerem na região. Os militares imaginam que quando as tropas ocidentais tiverem abandonado o país, podem controlá-lo novamente, através dos talibãs e de Karzai.


Mas creio que esta possibilidade está agora excluída porque a Otan fez da ocupação um caos e porque nestes últimos seis anos, a autonomia regional emergiu como fator político principal. O Afeganistão foi sempre uma confederação tribal, mas agora está tem inclusive um caráter mais confederado.


E os iranianos e os russos não estão dispostos a permitir uma tomada do poder talibã no país consentida pelos Estados Unidos. Assim que os líderes militares paquistaneses podem aspirar a governar numa parte do Afeganistão, mas não serão capazes de o fazer no conjunto do país.


Defendi no Paquistão e em vários lugares a retirada total e imediata de todas as tropas e simultaneamente, a convocatória de uma conferência de paz dos poderes regionais envolvidos no Afeganistão — o que significa Paquistão, Irão, Rússia e Índia, que é o maior poder de todos — para erigir um governo nacional depois da retirada das tropas ocidentais que dê uma possibilidade a este país para descansar e convocar eleições para uma assembleia constituinte em dois ou três anos.


Entretanto, estes poderes regionais terão de garantir que não haja luta nem guerra civil. As pessoas deveriam entender esta ideia, porque o Afeganistão esteve em guerra permanente virtualmente desde 1979. O que se passa neste país é horrível.


É improvável que os americanos ou os paquistaneses estejam de acordo com isto, em cujo caso, a situação irá de mal a pior, na minha opinião.


Para resumir a situação no Afeganistão: é um desastre. Os Estados Unidos nunca podem ganhar a guerra e a principal razão é que os afegãos não gostam da ocupação. Os afegãos correram com os britânicos no século 19, com os soviéticos no século 20 e agora estão em luta de novo contra os Estados Unidos e seus aliados da Otan.

Dexter Gordon Quartet - Cheese Cake - 1964

http://i10.tinypic.com/7w4mnpg.jpg


Dexter Gordon Quartet - Cheese Cake - 1964
MP3
320Kbps
RS.com: 81mb
Uploader:redbhiku

Personnel:
Dexter Gordon - tenor saxophone
Tete Montoliu - piano
Niels-Henning Шrsted Pedersen - bass
Alex Riel - drum

Jazzhus Montmartre, Copenhagen, Denmark
Recorded by Danish Radio - June 11, 1964
SteepleChase SCCD 36008

Tracks:
1. Introduction 1:39
2. Cheese Cake (Gordon) 13:29
3. Manha De Carnival (Bonfa) 9:20
4. Second Balcony Jump (Eckstine, Valentine) 13:14

Download abaixo:
http://rapidshare.com/files/73766847/dgchee.rar

Tendinha - Martinhho da Vila - 1978

Faixas:

01 - Minha comadre
(Martinho da Vila)
• Garçon
(Cabana)
02 - Zé Ferreira
(Neoci - Jorge Aragão)
• Trepa no coqueiro
(Martinho da Vila - Tião Graúna)
• Poeira do caminho
(Mário Pereira)
• Chora viola, chora
(Carlito Cavalcanti - Nilton Santa Branca)
Participação: Neoci
03 - Mulata faceira
(Martinho da Vila)
Participação: Almir Guineto
04 - Amor não é brinquedo
(Candeia - Martinho da Vila)
05 - Que pena, que pena
(Gracia do Salgueiro - Martinho da Vila)
• Deixa serenar
(Sidney da Conceição - Castelo)
• Nem a lua
(Martinho da Vila - Noca - Charlote)
• O pior é saber
(Valter Rosa)
• Se eu errei
(Tolito)
06 - Deixa a Maria sambar
(Paulo Brazão)

Créditos: CapsulaDaCultura


Kim Waters - All Because Of You (1990)

http://ecx.images-amazon.com/images/I/41RTA8VFYRL._AA240_.jpg
Uploader: kippique

1. After The Romance
2. All Because Of You
3. On The Move
4. Nikita
5. Just Be My Lady
6. Pleasure Interlude
7. Pleasure
8. Baby, Say You Love Me
9. Sitting On The Dock Of The Bay
10. Captive Moments
11. I Never Think Of You


Kim Waters - Peaceful Journey (1993)

http://ecx.images-amazon.com/images/I/41MWH1E10KL._AA240_.jpg


1. End Of The Road
2. Peaceful Journey
3. Late Night Hour
4. K & R's Funk Party
5. Never Leave Me
6. Silky Smooth
7. Be My Lover
8. Easy Does It
9. Save The Best For Last
10. Kick It


Kim Waters - All For Love (2005)

http://ecx.images-amazon.com/images/I/51MV3WNVWQL._AA240_.jpg


1. She's My Baby
2. Hot Tub
3. Daydreaming
4. Steppin' Out
5. All For Love
6. Dream Machine
7. Nature Walk
8. Happy Feeling
9. Good To Go
10. Sideways


Kim Waters - You Are My Lady (2007)

http://ecx.images-amazon.com/images/I/51NMR4ombZL._AA240_.jpg


1. So Sick
2. Got To Give It Up
3. The Closer I Get To You
4. Flying High
5. Two Keys To My Heart
6. Secret Romance
7. You Are My Lady
8. East Coast Strollin'
9. Inseparable 4:13
10. I Want You Tonight

Downloads abaixo:
Part 1
Part 2

Feliz Ano Novo!!!!

Ano novo, estou aqui para lhe propor um acordo.
Eu sempre espero muito de você,
e acho que a decepção é recíproca,
porque a cada dia que passa,
em vez de rejuvenescer, eu envelheço,
em vez de ficar rico, vou ficando mais pobre,
e em vez de ser amado, vou sendo cada vez mais esquecido.

Você realmente rejuvenesce, ou pensa que o faz,
quando abre suas asas sobre o mundo
anunciando ser mais um que se inicia.

Mas ao contrário do que deveria acontecer
com tudo que é novo,
você já nasce trazendo no colo crianças famintas,
homens amargurados, governos inescrupulosos,
muito desamor
e guerra... sempre guerra!

Eu duvido que se emocione como deveria,
com os fogos que são calorosamente oferecidos
em sua homenagem...

Eu duvido que consiga vibrar
nos seus primeiros minutos,
ouvindo a sirene das ambulâncias,
e o matraquear do fogo cerrado
que se estabelece entre irmãos de uma mesma favela...

Eu duvido que consiga se sentir NOVO,
meu querido ano novo.

Por isso, eu queria lhe propor,
que em vez de você ser NOVO,
que seja diferente, apenas diferente...

Que você plante no coração das pessoas,
a semente do amor.
Mas que faça isso com vontade, com determinação,
não aceitando que nasça dessas sementes,
nada menos, que muito amor.

Que o ser humano, governante ou mendigo,
sinta em seu interior a necessidade de amar,
de querer bem, de procurar fazer a sua parte,
seja ela governar ou caminhar à beira da estrada,
sem ferir, sem abusar.

E sabe Ano Novo... que isso fique entre nós,
mas junto com a semente do amor,
alguns corações precisam de um reforço,
por isso, você deve jogar displicentemente,
uma sementinha de decência,
de humanidade, de caridade humana.
São aqueles que detém o poder,
os multimilionários que se fartam desse mundo
como se fossem os donos,
limpando os pés no resto da humanidade.

E então sim, você poderá se auto intitular ANO NOVO!!!
E eu poderei vibrar a cada vez que você chegar...
pulando as sete ondas,
soltando fogos
ou simplesmente abraçando o meu irmão!!!
Porque será, incontestavelmente...
ANO NOVO!!
VIDA NOVA!!"

anônimo


Suspiria, arte e sentidos

Avesso às fórmulas e clichês dos filmes de terror, o italiano Dario Argento produz obras marcadas por cenários, tons e música incomuns; tempo e espaço não-lineares; debates psicanalíticos. Texto inaugura nova coluna do Diplô, agora sobre cinema e diversidade

Bruno Carmelo

A idéia de uma coluna intitulada Outros Cinemas visa, a princípio, dar espaço a filmes que apresentem propostas artísticas diferentes da estética massiva dos blockbusters norte-americanos.

Logicamente, não se ignora o valor de filmes de grande orçamento, que têm papel importante na manutenção da indústria, e por vezes até possibilitam a realização de obras independentes. Lembremos de Orson Welles, que sempre atuou em filmes que não o agradavam para poder financiar seus próprios projetos...

No entanto, é claro que a distribuição global das produções hollywoodianas é acompanhada de uma propaganda que toma espaço considerável na mídia; de modo que muitos filmes que julgamos interessantes (e diferentes dessa corrente principal) ganham pouca visibilidade.

Vale dizer que a proposta de “Outros Cinemas” não é justiceira, nem radical. Primeiro, apontaremos alguns filmes que nos chamam atenção, sabendo que será impossível mencionar todos que nos interessam. Inevitavelmente, será feito um recorte pessoal sobre um terreno tão vasto de filmes inovadores... Isso porque a intenção é de não limitar a coluna às produções recentes, e também discutir eventualmente filmes antigos e fora do circuito.

Por fim, é importante dizer que não pretendemos recusar completamente as obras norte-americanas — somente a estética predominante das grandes produções. Muitos filmes produzidos nos EUA são incrivelmente ousados, assim como filmes de outros países podem se apoiar nessa estrutura massiva. Portanto, visaremos, acima das nacionalidades, as propostas.

Para abrir esta coluna, escolhemos um clássico do cinema de terror italiano, Suspiria. Mais ousado, impossível.

Bruno Carmelo

O terror é geralmente considerado um gênero menor dentro do cinema, supostamente por suas fórmulas rígidas e por se apoiar unicamente no medo do público, sem oferecer material de reflexão. Monstros, vampiros e assassinos são normalmente associados à produções de baixa qualidade, destinadas aos pequenos cinemas de bairro.

Alguns autores, no entanto, conseguiram elevar o patamar do horror à arte, ao explorarem os limites do gênero. Enquanto George Romero, com seus filmes de zumbi, faz uma crítica de sociedades contemporâneas (a norte-americana em especial), Dario Argento, outro mestre do terror, revolucionou a estética dos “filmes B”. Suspiria, de 1977, é um bom exemplo das astúcias do diretor.

A narrativa do filme se passa numa renomada academia de balé alemã, na qual estranhas mortes chocam os alunos. Escolha incomum: nada de casas abandonadas, florestas escuras, mas o calmo ambiente de uma academia. Argento faz desse prédio o personagem principal de seu filme.

Cenário labiríntico, uso ostensivo das cores e geometria, música dissonante e repetitiva

Trata-se de um imóvel gigantesco, onde supõe-se haver vários andares, corredores e salas. A noção de espaço, no entanto, é propositadamente omitida: vemos salões sem saber onde se situam, passagens que não nos indicam onde terminam. Além desse caráter labiríntico, cria-se um clima de claustrofobia: os dançarinos são todos internos e nunca saem da academia. A movimentação que lhes é permitida restringe-se à mudança de um cômodo a outro.

Sem direções e sem saídas, o terror criado por Dario Argento apóia-se principalmente na confusão de sentidos (dos personagens e, conseqüentemente, do público). Perde-se as noções de tempo e espaço, e Suspiria mostra um trabalho elaborado para confundir visão e audição.

Primeiramente, faz-se uso ostensivo de cores. As paredes de cada cômodo são cobertas de papéis de parede com motivos geométricos e vertiginosos, em cores vivas: vermelhos, amarelos, verdes e laranjas. Mesmo a fotografia do filme ignora qualquer tentativa de verossimilhança, ao criar focos de luz multi-coloridos nos personagens, que desfilam ao longo de toda a narrativa encobertos de auras esverdeadas e alaranjadas.

A música, igualmente, é excessiva e perturbadora. Um simples abrir de portas é acompanhado de trilha (com tons dissonantes e repetitivos) e de ruídos, que crescem em intensidade e volume. Cada morte simboliza a reunião máxima desses elementos: o sangue dos corpos se mistura à vermelhidão das paredes, o grito das vítimas se confunde com os estridentes acordes dos instrumentos da trilha.

Não há monstros ou psicopatas. O que mata é o próprio mal, que se revela por meio de indícios

Quanto aos assassinatos, o diretor faz uma escolha interessante ao não materializar o autor dos crimes. Não há monstros ou psicopatas; o que mata, em Suspiria, é o próprio mal. Basta que uma personagem sinta uma vertigem nos corredores da escola para que apareçam sombras, para que as luzes mudem e logo ela apareça morta. Alguns indícios, entretanto, são dados: olhos esverdeados que aparecem em fundos negros, mãos humanóides que estrangulam as dançarinas (sem que nunca vejamos o resto do corpo), ou animais pacíficos que, possuídos por espíritos, fazem vítimas fatais.

Outro elemento perturbador dissimula a identidade do assassino: no caso, trata-se da possibilidade de complô. A idéia de perseguição (tão bem usada, por exemplo, em O Bebê de Rosemary, outro clássico) serve de fundo de cena em Suspiria. Por que as dirigentes da academia não se mobilizam contra as mortes? Por que a aparente apatia face aos crimes? Nesse momento, o público identifica-se perfeitamente com a protagonista, divide as angústias dessa bailarina aprisionada, e faz das dúvidas delas as suas próprias.

Por fim, o filme apóia-se em idéias psicanalíticas (muito em voga na década de 70) para atestar a seriedade de seus fatos. Normalmente, em obras fantásticas, a ciência serve para dar credibilidade ao improvável, e é este o caso de Suspiria: quando todas as mortes parecem absurdas, uma conferência de doutores nos lembra que distúrbios mentais podem transformar pessoas comuns em assassinos cruéis.

Nos filmes de terror, é comum se criar personagens cuja função única é a de servir ao fetichismo da morte, ao espetáculo de sangue. Dario Argento mexe com os nervos do público de maneira mais inteligente, utilizando-se essencialmente da própria linguagem cinematográfica (montagem, fotografia, efeitos sonoros). Nossos sentidos, única maneira de perceber e conhecer o mundo, são manipulados a tal ponto que o terror maior não é criado pelas mortes em si, mas pela maneira como são mostradas. No cinema de Argento, o menor elemento pode ser aterrorizante; e nesses momentos, percebe-se a inteligência de um diretor que controla totalmente a arte cinematográfica e os efeitos que ela produz sobre seu público.

Sadao Watanabe Quartet Sextet - Jazz & Bossa (1966)




download