MORALES DIZ QUE CIA TINHA ESCRITÓRIO NO PALÁCIO; CORREA QUER OEA SEM OS ESTADOS UNIDOS
SÃO PAULO - Os governos da Bolívia e do Equador informaram nas últimas horas que foram vítimas de infiltração por parte de agentes a serviço da Central de Inteligência Americana, a CIA. "Depois de dois ou três meses [no poder], nos demos conta de que no Palácio [Quemado], havia um escritório da CIA", disse Evo Morales, acrescentando que as informações eram repassadas para a CIA "a pretexto da luta contra o terrorismo." O escritório era coordenado por um general da polícia boliviana.
Morales fez a afirmação durante um discurso em Santa Cruz, o departamento da Bolívia que no próximo dia 4 de maio realiza um referendo autonômico. "Os gringos pagavam um escritório no Palácio!", afirmou. O presidente boliviano disse também que a Embaixada dos Estados Unidos em La Paz encabeça uma "conspiração" para derrubá-lo. De acordo com Morales, parte da campanha é promovida pela United States Agency for International Development, USAID, através de financiamento a grupos da sociedade civil. O embaixador americano na Bolívia é Philip Goldberg, considerado um especialista em lidar com movimentos separatistas, tendo servido anteriormente em Pristina, Kosovo, de 2004 a 2006.
Acusações contra a CIA são uma ferramenta política freqüente na América Latina, um instrumento de vitimização que rende dividendos políticos. Pero que las hay, hay...
No Equador, o vice-ministro de Defesa, Miguel Carvajal, informou que vai investigar se existem no país redes de inteligência repassando dados à Colômbia e à CIA, assim como ligadas à guerrilha das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e dos paramilitares colombianos.
A investigação foi determinada pelo presidente Rafael Correa, que formou uma comissão civil e militar para "por fim a essas práticas." Correa manifestou a suspeita de que órgãos de inteligência estrangeiros - dentre os quais a CIA - tinham contatos extra-oficiais com integrantes de seu governo. Isso teria ficado claro durante a crise diplomática que teve início quando a Colômbia violou a fronteira do Equador e destruiu um acampamento das FARC, matando o número dois da guerrilha, de codinome Raúl Reyes.
As relações diplomáticas entre os dois países permanecem congeladas, apesar da sugestão da Organização dos Estados Americanos (OEA) de que fossem retomadas como primeiro passo para resolver a disputa. O relatório feito pela OEA sobre o ataque militar apresenta versões conflitantes. A Colômbia diz que atirou as bombas de seu território e realizou uma incursão para resgatar o corpo de Raúl Reyes e documentos da guerrilha. O Equador diz que foram usados mísseis do arsenal dos Estados Unidos, disparados de aviões que sobrevoavam território equatoriano.
O incidente pôs fim ao avanço do chamado acordo humanitário, pelo qual as FARC vinham libertando reféns de forma unilateral com a mediação do presidente da Venezuela, Hugo Chávez. O governo da França negociava, através de Raúl Reyes, a libertação da franco-colombiana Íngrid Betancourt, que permanece refém da guerrilha.
Numa demonstração de que a crise diplomática está longe de se resolver, o presidente do Equador manifestou seu desagrado com a atuação da OEA propondo a formação de uma Organização dos Estados Latino-Americanos e denunciou formalmente a Colômbia na Corte Internacional de Justiça. O Equador alega que a fumigação feita por aviões colombianos para destruir as plantações de coca causa danos ambientais, contamina os rios da fronteira e ameaça a saúde dos moradores da região.