Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
domingo, 8 de junho de 2008
AGUIRRE - A CÓLERA DOS DEUSES
(Aguirre, Der Zorn Gottes )
Algumas décadas após a destruição do Império Inca, no século XVI, o explorador Gonzalo Pizarro envia uma expedição para uma arriscada missão: encontrar e tomar posse do tão sonhado e enigmático "El Dorado", um lugar cheio de ouro e riquezas. Deixando as montanhas do Peru, os conquistadores rumam em direção ao rio Amazonas, e logo começam a enfrentar os perigos e dificuldades da misteriosa selva. Um dos seus homens, Dom Lope de Aguirre (Klaus Kinski), consumido pela loucura, sonha em conquistar toda a América do Sul. Após uma rebelião e em meio a sua total insanidade, Aguirre parte com a expedição de conquistadores para uma bizarra jornada rumo ao desconhecido.
Fonte
Gênero: Drama / Biografia / Histórico
Diretor: Werner Herzog
Duração: 90 minutos
Ano de Lançamento: 1972
País de Origem: Alemanha
Idioma do Áudio: Alemão
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0068182/
Qualidade de Vídeo: DVD Rip
Vídeo Codec: DivX
Vídeo Bitrate: 901 Kbps
Áudio Codec: Mp3
Áudio Bitrate: 98
Resolução: 512 x 384
Formato de Tela: Tela Cheia (4x3)
Frame Rate: 25.000 FPS
Tamanho: 654 Mb
Legendas: Em anexo
Helena Rojo ... Inez
Del Negro ... Brother Gaspar de Carvajal
Ruy Guerra ... Don Pedro de Ursua
Peter Berling ... Don Fernando de Guzman
Cecilia Rivera ... Flores
Daniel Ades ... Perucho (as Dan Ades)
Edward Roland ... Okello
Alejandro Chavez
Armando Polanah ... Armando
Daniel Farfán
Julio E. Martínez
Alejandro Repulles ... Gonzalo Pizarro
Indianern der Kooperative Lauramarca
3 prêmios e 1 indicação, em categorias como "Melhor Filme Estrangeiro" e "Melhor Fotografia".
Confira a relação aqui.
- A idéia do filme surgiu após Herzog ter pego emprestado um livro de aventuras de um amigo. Depois de ler uma meia página dedicada a Aguirre, o diretor sentiu-se inspirado e imediatamente partiu para a criação da história. Segundo o diretor, o roteiro do longa foi escrito em dois dias e meio, enquanto ele viajava de ônibus com um time de futebol. No entanto, esta viagem trouxe também alguns atrapalhos: Num dia, após uma partida, praticamente todo o time estava muito bêbado, e um dos jogadores que estava sentado atrás de Herzog vomitou em sua máquina, arruinando muitas páginas do script. Como prejuízo, as páginas tiveram que ser jogadas fora, e como o diretor não conseguia se lembrar do que tinha escrito nelas, teve que correr em busca do tempo (e do celulóide) perdido.
- Uma boa parte de Aguirre, bem como alguns dos primeiros trabalhos do diretor, foram feitos com uma única câmera de 35mm, que ele roubou da Faculdade de Cinema de Munique. Descoberto, ele admitiu o roubo, mas rapidamente procurou justificar o seu ato com a relevância do filme que estava fazendo. Anos mais tarde, com a falta já reparada, o diretor deu umas boas risadas do episódio.
- Dentre os vários fatos e mitos que cercam o filme, um que chama a atenção diz respeito à relação conturbada entre o diretor e Klaus Kinski. Segundo relatos, Klaus estava deixando Herzog louco, tomando drogas a todo momento, instigando os outros atores contra o diretor, ameaçando deixar as filmagens e tornando o clima do filme um inferno. Num dia, Herzog disse para Kinski: "Pode ir embora Klaus, mas eu vou subir naquela árvore e dar dois tiros na sua cabeça antes de você virar aquela curva. A última bala vai ser pra mim, mas por Deus, antes eu meto as outras duas na sua cabeça!!". O Klaus era muito maluco, mas também muito medroso e acabou ficando quietinho.
- O filme conta com a participação do cineasta brasileiro Ruy Guerra (Ópera do Malandro, Estorvo) no elenco, no papel de Don Pedro de Ursua.
- As filmagens de Aguirre ocorreram durante extenuantes cinco semanas, com locações no Peru (Cuzco, Rio Huallage, Rio Nanay) e no Rio Amazonas.
- Para quem desejar saber mais a respeito deste clássico e de muito do que cercou a sua realização, recomendo o ótimo documentário "Meu Melhor Inimigo", também de Herzog, que fala do relacionamento entre o diretor e Klaus Kinski.
- Embora o filme já tenha sido postado, estou trazendo neste repost um outro rip, sem legendas fixas e com o problema de sincronia das legendas corrigido.
- Créditos da legenda para o nosso amigo Corisco, que fez a correção na sincronia da legenda. Fiz algumas adaptações para o tempo deste release e dei uma burilada na tradução em algumas partes. Confiram aí.
Toda essa confusão não impediu “Aguirre” de se transformar em um dos filmes mais cultuados nos círculos de cinéfilos internacionais. Não é um fenômeno alemão, nem mesmo europeu. Nos EUA, os leitores da revista Entertainment Weekly o votaram em 46º, entre os mais importantes cult movies da história. Não é pouco, especialmente se for levado em consideração que Herzog é o mais hermético e o menos conhecido dos realizadores alemães que surgiram na década de 1970. A geração dele, com Rainer Werner Fassbinder e Wim Wenders, foi a mais talentosa a surgir após a época de ouro do cinema europeu (Fellini, Bergman, Antonioni).
A tomada de abertura de “Aguirre” resume não apenas o enredo do filme, mas principalmente a temática central da obra de Herzog: a vastidão, o mistério e o fascínio da natureza, em contraponto contra a pequeneza do ser humano. Em pouco mais de dois minutos, sem cortes, o espectador vê uma paisagem de tirar o fôlego: a encosta de uma alta montanha, com neblina no topo e mata fechada na base. A câmera então se aproxima lentamente, o suficiente para que a platéia perceba uma fileira de homens que descem a montanha. É uma enorme fileira; eles parecem formigas diante da enormidade da imponente montanha. A imagem então se afasta um pouco, e revela que a procissão tem milhares de homens, e se estende por diversos quilômetros. Alguns deles aparecem logo depois, em primeiro plano, diante da câmera, e então jogam a paisagem para segundo plano. É uma seqüência magistral.
A fileira de homens é formada por exploradores espanhóis e escravos índios. O filme se passa no século XVI e narra a lendária expedição empreendida por Francisco Pizarro, em busca da mítica cidade de El Dorado, um suposto vilarejo construído de ouro puro, encravado na floresta. Os espanhóis estão aonde a civilização nunca chegou. À medida que se embrenham na floresta, a expedição perde homens. Índios morrem de inanição, guerreiros de doenças. Quando percebe o erro, Pizarro volta e nomeia um pequeno grupo de homens para ir em frente. É uma espécie de pelotão suicida, pago para desbravar o desconhecido. Entre eles está o nobre Dom Lope de Aguirre (Klaus Kinski), um homem cuja ambição o deixa à beira da loucura. As condições estão, portanto, propícias para que Aguirre desenvolva seus delírios de grandeza. E ele o faz.
Klaus Kinski, no papel do lorde delirante, é a alma do filme. Seus olhos insanos e sua expressão pétrea dão a mistura perfeita de tenacidade e coragem que os integrantes da expedição – e também a platéia – necessitam para acreditar na jornada impossível. Se em algum ponto o véu da cobiça desce sobre os olhos, ninguém percebe – até que seja tarde demais. O Aguirre de Kinski é um homem mirrado, que se move de lado, como se rastejasse. Possui a ameaça de uma cobra. Ele funciona como se fosse um corcunda ou um aleijado – um Ricardo III perdido nas selvas da Amazônia. Shakespeare teria se orgulhado.
A expedição viaja de barco. É uma espécie de enorme jangada construída artesanalmente, que luta contra a forte correnteza do rio Amazonas e também contra índios que a platéia jamais vê – as flechas, no entanto, reduzem o grupo de guerreiros a cada investida. Nada disso, porém, impede que Aguirre conduza seus homens até o final da jornada, em busca de ouro, riqueza e poder. “Aguirre”, como fica claro, tem semelhanças incríveis com “Apocalypse Now”, que Coppola faria alguns anos depois. Mas não denuncia os horrores da guerra; é, sim, um dos grandes filmes sobre a cobiça (ao lado de “O Tesouro de Sierra Madre”) que já foram feitos. A majestosa seqüência final, que envolve Aguirre, um grupo de macacos e a força do rio, encerra o filme como uma nota grave.
Existem duas edições em DVD nacional, e elas são parecidas. A primeira é da Abril DVD. Essa edição possui um comentário em áudio de Werner Herzog, em inglês (sem legendas). O som do filme, remixado em Dolby Digital 5.1, também é ótimo; valoriza a música etérea e evocativa do grupo Popol Vuhl e também amplifica os ruídos da selva, que emprestam um senso de mistério ao longa-metragem. O som, aliás, é parte essencial de “Aguirre”, porque evoca algo de divino, algo não traduzível em palavras. A versão lançada pela Versátil não possui a trilha de comentário e o som é apenas DD 2.0, mas compensa a falha trazendo um documentário (59 minutos) e um curta-metragem de Herzog. Nos dois casos, a imagem aparece “encaixotada” no formato quase quadrado da TV (standard 4x3), com cortes laterais.
Fonte
Créditos: makingoff - Willams
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sábado, 7 de junho de 2008
O governo Yeda Crusius é uma vergonha
É um governo onde a governadora não fala com o vice-governador.
É um governo onde o chefe da Casa Civil tenta comprar a posição do vice-governador.
É um governo onde o vice-governador grava uma conversa com o chefe da Casa Civil para denunciá-lo.
É um governo onde o chefe da Casa Civil chama o vice de canalha e mau-caráter.
É um governo onde aliados da governadora a chamam de sem-vergonha. E nada acontece.
É um governo onde secretários de Estado negociam, combinam festas e tomam chopp com acusados de integrar uma quadrilha que roubou mais de R$ 40 milhões dos cofres públicos.
É um governo onde os partidos de sustentação da governadora, nas palavras do chefe da Casa Civil, utilizam empresas públicas para financiar campanhas eleitorais e para comprar maioria no Parlamento.
É um governo que, diante de graves denúncias de corrupção, com provas materiais eloqüentes, emudece, se esconde e, através de seu patético porta-voz, afirma não existirem fatos relevantes.
É um governo onde a governadora foge da imprensa e do povo.
É um governo onde a governadora não tem coragem de prestar contas sobre seus atos e de seus aliados, mas tem coragem de fechar escolas, demitir funcionários públicos e mandar a polícia bater em manifestantes.
É um governo que privatiza o meio ambiente e hipoteca o futuro.
É um governo onde seus aliados e padrinhos (como o inacreditável senador Pedro Simon, que foi incapaz de pronunciar uma palavra sobre todos esses escândalos) não tem mais coragem de defendê-lo e abandonam o navio em número cada vez maior.
É um governo cujo modus vivendi é a dissimulação e a covardia.
É um governo que chegou ao fim.
Créditos: Marco Aurélio Weissheimer
sexta-feira, 6 de junho de 2008
Marta Gomez - Cantos De Agua Dulce
01 - La Finca
02 - Eso Pido Yo
03 - Seis
04 - Cancion De Cuna
05 - Bolero
06 - La Flor
07 - Canta
08 - Receta
09 - El Pueblo
10 - Tonada De La Luna Llena
11 - El Hormigueo
12 - Confesión
13 - Dejalo Ir
14 - Aquellas Pequenas Cosas
15 - La Ronda
16 - Maria Mulata
17 - Mal De Amores
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Adital
A realização da Eurocopa 2008, a partir do próximo sábado (7), em dois países tradicionalmente receptores de mulheres vítimas do tráfico, Suíça e Áustria, levou organizações européias de direitos das mulheres a desenvolver uma campanha de prevenção desse crime. O temor delas é que a grande presença masculina incentive o tráfico de mulheres com fins de prostituição.
A campanha começou em março e busca sensibilizar os homens que irão visitar a Suíça e a Áustria, durante os jogos, e as populações locais para a gravidade do problema. Além disso, a campanha também denuncia a falta de medidas de proteção às vítimas. Ao invés de serem tratadas como vítimas, as mulheres são vistas pela polícia de imigração como criminosas.
Assim, a campanha pede que elas não corram risco de deportação, quando denunciarem crime de que são vítimas; recebam acomodação segura e acompanhamento profissional; e que as autoridades policiais, judiciais e migratórias sejam instruídas, para que colaborem com as organizações que trabalham com o problema.
Por ano, cerca de 2,5 milhões de pessoas são vítimas de tráfico humanos. Cerca de 80% delas, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), são mulheres e crianças. Só na Suíça, chegam entre 1.500 e 3 mil mulheres, anualmente, para trabalhar em bordéis, cabarés, como escravas domésticas ou no "mercado do matrimônio".
Todos os países do mundo estão envolvidos - seja como país de origem, de trânsito, ou de destino -, por isso, é necessário que eles promovam ações conjuntas de combate ao tráfico de pessoas, que é uma atividade tão lucrativa quanto o tráfico de armas e o de drogas. Os lucros anuais são em torno de 3,5 bilhões de dólares.
Como parte da campanha, se está ainda colhendo assinaturas para serem entregues às autoridades suíças, a fim de que façam algo para proteger as vítimas e atuem, no marco de ações legais, para permitir que essas mulheres possam continuar no país. Até hoje, a Suíça não ratificou o Convênio contra o Tráfico de Seres Humanos do Conselho de Europa, que promove a defesa dos direitos humanos dessas pessoas.
Futebol, tráfico de atletas e conivência do Estado
Dez anos após a aprovação da Lei Pelé, Executivo e Congresso finalmente estudam medidas para coibir a evasão clandestina de jogadores. Mas, influenciadas pela lógica de mercado e pelo desejo de satisfazer os clubes, as propostas em debate podem agravar o problema, ao invés de saná-lo
Em março último, sob pressão de denúncias na imprensa, o Congresso Nacional voltou a debater medidas para limitar a transferência ao exterior (muitas vezes sob forma de tráfico) de atletas de futebol. O fenômeno cresce a cada dia, desde a aprovação da Lei 8615/98, a chamada “Lei Pelé”. Acompanhado de dirigentes de clubes, o ministro do Esporte, Orlando Silva, compareceu à Câmara dos Deputados e pediu que sejam acelerados os trâmites para efetivar as mudanças. A intenção é bem-vinda mas o caráter das propostas, não. Governo e Congresso querem, essencialmente, antecipar a idade a partir da qual os jovens jogadores podem vincular-se – assumindo contratos de trabalho de caráter mercantil – com os clubes brasileiros. Neste afã, atenta-se contra o próprio Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Seria perfeitamente possível enfrentar o problema de outra maneira — como fazem, aliás, outros países. Para tanto, o Estado precisaria, ao invés de reforçar relações de clientelismo com os clubes e seus “cartolas”, assumir seu papel de criador de mecanismos de proteção social.
Assunto de numerosas matérias jornalísticas, o êxodo intensificou-se desde que a “Lei Pelé” “libertou” os atletas dos vínculos que os atavam às equipes (em especial o chamado “passe”, que precisava ser “comprado” junto ao clube de origem, quando o jogador se transferia para outra) nas transferências interclu). “Livres” para buscar contratos vantajosos, milhares de jovens jogadores são seduzidos pela miragem dos contratos milionários no exterior. Mas a fortuna dos que têm visibilidade na mídia é exceção, como demonstrou a Comissão Parlamentar de Inquérido (CPI) da CBF-Nike, instalada a em 2000. Um dos pontos marcantes da CPI foram os resultados de investigações sobre comércio de atletas brasileiros no futebol mundial. Uma rede de falsificação de passaportes e identidades com idade adulterada acabou emergindo. A Comissão fez recomendações à CBF, à Fifa, às autoridades brasileiras e apresentou proposta sugerindo mudanças na legislação, para prevenir tantos abusos. Os passaportes falsos repercutiram internacionalmente, aumentando o controle em vários países, como a Itália.
A denúncia reforçava os sinais de algo que continua a incomodar a humanidade: o tráfico de seres humanos. Na indústria dos lazeres, nascida e consolidada durante o século vinte, o futebol ganhou uma posição de destaque, mesmo que para isto leis internacionais sejam desrespeitadas. Segundo a Organização Internacional para Migrações (OIM), o tráfico de jogadores menores de idade é um fenômeno que precisa ser controlado. Por isso, um guia sobre formas de prevenir o tráfico de jogadores, com conselhos práticos para jovens, vem sendo distribuído aos clubes na França, para facilitar a integração dos jogadores e informá-los sobre seus direitos.
No Brasil, prossegue o drama. Oito anos depois da CPI, a Folha de S.Paulo fez uma série de reportagens denunciando a exploração de crianças por supostos agentes e clubes em Minas Gerais. Em dezembro de 2007, o jornal publicou matéria sobre a ação do Ministério Público do Trabalho do Estado, que investigou a situação de jovens aspirantes a atletas de futebol em clubes mineiros. Mais tarde, em março deste ano, a polícia civil fechou um alojamento, em Belo Horizonte, com um grupo de 22 jogadores amadores (sendo uma criança, 19 adolescentes e dois jovens de 18 anos). As famílias dos garotos pagavam até R$ 1.500 para que os filhos tivessem a oportunidade de realizar testes em clubes, o que não aconteceu para a maioria. Um agente, sem credenciamento junto à Fifa (Federação Internacional de Futebol Association) ou CBF, foi preso por aliciamente de menores e estelionato. O Conselho Tutelar da Pampulha também participou da ação.
Criam-se vínculos empregatícios para crianças a partir de oito anos de idade, embora o ECA considere crianças (portanto, protegidas do trabalho) aqueles que têm até 12 anos incompletos
Pressionados, Congresso e governo procuraram mostrar sinais de ação. Mas, a pretexto de coibir a migração descontrolada de jovens e adolescentes, propõem medidas que mercantilizam ainda mais o futebol, favorecem os clubes e não exigem destes nenhuma contrapartida social. Estão em debate alterações na Lei Pelé tais como a diminuição da idade para vincular e federar atletas. Criam-se vínculos empregatícios para crianças a partir de oito anos de idade, embora o ECA considere crianças (portanto, protegidas do trabalho) aqueles que têm até 12 anos incompletos. Segundo este critério, pela primeira vez a Federeção Paulista de Futebol e alguns clubes de São Paulo criaram novos mecanismos para lucrar com as crianças. São os campeonatos paulistas sub-11 e sub-13 anos, instituídos em janeiro.
A tentação para transformar esporte em lucro é imensa. O impulso econômico proporcionado pela prática de modalidades esportivas, somado às atividades de produção, comércio e serviços ligados direta ou indiretamente ao esporte movimentou R$ 37,1 bilhões em 2005, valor correspondente a 1,95% do PIB brasileiro.
Em nome desta receita, esquece-se a uma dimensão cultural do esporte, que torna particularmente o futebol um fenômeno social. Esta dimensão está no futebol praticado nas ruas e nos campos pelados de terra batida, revelando todo o seu potencial educativo e criador de comportamentos sociais, e que, em certa medida resiste ao entretenimento do espetáculo esportivo.
A armadilha está em enxergar só o negócio, que nega o ócio. Violenta-se, assim, a própria origem do esporte. O futebol foi organizado na Inglaterra vitoriana e incorporado nas public schools por sugestão de Thomas Arnold [1], pedagogo inglês no século XIX. Foi este sentido, educacional e comunitário, que levou o esporte “bretão” a espalhar-se pelo mundo.
O futebol inglês está entre os mais ricos do mundo. Os clubes são obrigados a manter trabalho junto às comunidades, criar centros e escolas, submeter-se a uma rede de proteção à infância
Também se esquecem exemplos bem-sucedidos, inclusive do ponto de vista financeiro, porque guiados por projetos menos imediatistas. É o caso da Inglaterra, cujos clubes de futebol estão entre os mais ricos do mundo [2]. Lá, os clubes são sociedades anônimas de capital aberto. Mas a legislação britânica é rigorosa no controle e na definição de responsabilidades sociais para as entidades — neste caso empresas esportivas.
Desde o final dos anos 1980, em resposta à violência promovida no futebol pelo chamado “hooliganismo”, a legislação obriga os clubes a manter trabalho junto às comunidades, principalmente para as crianças e jovens. Graças a isso, criaram-se, por exemplo, centros comunitários e escolas que ensinam futebol, informática e reforço escolar.
Há também uma forte rede de proteção à infância. Chamada de “The Child Protection in Sport Unit (CPSU) [3]” encarrega-se de fiscalizar e punir abusos cometidos contra crianças e adolescentes. O Child Protection é parte do The National Society for the Prevention of Cruelty to Children (NSPCC) organização fundada em 1884, antes com o nome de London Society, alterado para National Society em 1889. Os clubes de futebol são parte deste sistema e só podem receber crianças após aval do sistema, estando obrigados a seguir as orientações e condutas definidas por ele.
No Brasil, apesar dos múltiplos benefícios oferecidos pelo Estado aos clubes (a Timemania é apenas o mais recente), e da tolerância infinita diante da sonegação de impostos (em especial as contribuições previdenciárias), não há, ainda, nenhuma exigência legal que os comprometa com obrigações e responsabilidades sociais. O Estado despreza suas próprias prerrogativas e deixa de adotar medidas que defendam a juventude, ou que efetivem a relevância que o futebol pode ter em sua formação. Surge um triste híbrido de liberalismo com clientelismo. Foi um decreto-lei no Estado Novo, assinado por Getúlio Vargas em 1941 (depois convertido em Lei 3199/41) que deu aos clubes a condição de base do sistema esportivo brasileiro. Na essência, a lógica foi reforçada por nova lei, de 1975 (na ditadura militar) e pelas leis “Zico” e “Pelé”, frutos da onda neoliberal dos anos 1990.
Tudo isto gera, como conseqüência falta de controle e fiscalização efetivas sobre os clubes, permitindo, muitas vezes, que jovens deixem de estudar para ficar à disposição de possíveis negócios. Mesmo o Estatuto do Torcedor, que deveria transformar estádios em espaços seguros e confortáveis, pela lógica do entretenimento, surtiu efeitos limitados. O exemplo emblemático foi a tragédia ocorrida em 26 de novembro 2007 na Fonte Nova, na Bahia, como 7 torcedores desabando da arquibancada.
A explosiva carta de Lair Ferst para a governadora Yeda Crusius
Quando ainda estava tentando absorver o duro golpe que sofreu, quarta-feira, na CPI do Detran, o governo Yeda Crusius (PSDB) sofreu um novo baque nesta quinta com a divulgação da carta que o empresário e lobista tucano Lair Ferst escreveu para a governadora denunciando uma suposta campanha difamatória contra ele e a ação de um grupo mafioso com a participação de integrantes do governo. Obtida pela jornalista Adriana Irion, do jornal Zero Hora, a carta foi apreendida pela Polícia Federal durante a Operação Rodin e interpretada como uma confissão extrajudicial do esquema de fraude no Detran. A carta teria sido entregue por Lair para Marcelo Cavalcante, ex-chefe de gabinete de Yeda Crusius (quando era deputada federal) e atual chefe do escritório de representação do Rio Grande do Sul em Brasília, com status de secretário de Estado.
Marcelo Cavalcante admitiu ao jornalista Leandro Fontoura, de ZH, que recebeu a carta mas que não teria entregue a mesma à governadora pelo fato de não ter apresentado prova das acusações. Como secretário de Estado, Cavalcante tinha a obrigação de encaminhar as graves denúncias feitas na carta para instâncias superiores do Estado. De acordo com sua primeira explicação, não fez nada. Assim como as gravações telefônicas, a carta é explosiva. Lair Ferst diz que, em virtude da visibilidade adquirida durante a campanha eleitoral de Yeda (na CPI, ele assegurou que não teve nenhum papel importante na mesma), passou a ser vítima de uma campanha difamatória por parte de um grupo de pessoas corruptas chefiadas por José Fernandes, da empresa Pensant, um dos pivôs da fraude no Detran.
CRÉDITOS: Marco Aurélio Weissheimer
quinta-feira, 5 de junho de 2008
Também participaram da reunião Oscar Motomura, presidente da Amana Key, Mario Monzoni, coordenador do Centro de Sustentabilidade na Fundação Getúlio Vargas e Jane Nelson, diretora do Centro de Iniciativa para a Responsabilidade Social Empresarial da Universidade de Harvard.
A discussão procurou ir além do consenso de que a educação é uma ferramenta necessária para interferir e melhorar a realidade. O enfoque foi dado ao tipo e à qualidade da educação dada.
Segundo Motomura, a causa para o desleixo ambiental dos brasileiros é justamente o analfabetismo nesse setor. Saindo do conceito tradicional de alfabetização, Motomura alega que a ignorância e a excessiva fragmentação do pensamento impedem o indivíduo de enxergar a sua relação com os outros e com o meio ambiente. A educação formal é imprescindível não só para as crianças, mas também para os líderes políticos, muitos deles analfabetos em setores como a sustentabilidade.
Tanto Motomura quanto Jane Nelson enfatizaram importância da educação para além das salas de aula. Incentivaram o ensino criativo, não tradicional, do aprendizado adquirido pelas convivências e experiências de vida. Para Nelson, o modelo de educação seria multidisciplinar e incentivaria o que ela chama de 4 “c”s: cooperação, cidadania, comunidade e competição.
O papel da educação seria criar a cultura sustentável e incitar o comportamento consciente. Segundo o professor Monzoni, “a demanda que faz a procura e não o contrário”, se referindo ao curso de meio ambiente no qual leciona. Motomura comentou que acredita existirem milhares de gênios que carecem de uma orientação. Profissionais muito capazes dedicados a questões menores no emprego.
“Como acabar com a pobreza sem destruir o ecossistema?” A pergunta foi feita pelo presidente da empresa Interfaces numa palestra anterior da conferência e apresentada por Nelson como um interessante desafio a ser encarado. De fato, já foi dito que caso os mais de dois bilhões de chineses e indianos tivessem todos poder de consumo igual ao dos norte-americanos, por exemplo, o meio ambiente pagaria um preço alto. Por isso a questão discutida passou a ser a transformação social através da educação, e não apenas assegurar o direito de todos à escola.
Com os olhos secos diante dos miseráveis | | | |
Mário Maestri | |
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Em ‘A destruição da razão’, de 1953, escrita após a hecatombe da grande guerra inter-imperialista de 1939-45, com seus talvez cinqüenta milhões de mortos, George Lukács traçou magnífica crítica da gênese e do desenvolvimento do pensamento irracionalista moderno, de candente vigência nos dias de hoje. Lamentavelmente, como tantos outros trabalhos desse importante filósofo marxista húngaro, esse livro também não se encontra disponível no Brasil.
Naquele trabalho, Lukács lembrava que o irracionalismo moderno assumiu faces diversas nos dois últimos séculos, sendo, porém os nexos fundamentais dessa vertente filosófica a incessante desvalorização do intelecto e da razão em prol da intuição; a refutação da objetividade das leis históricas e da possibilidade de conhecê-las; a subjetivação da história e a negação da idéia da possibilidade de progresso.
Lukács assinala que, nesse contexto geral, a defesa da ordem capitalista dá-se através da apologia direta e indireta. A primeira louva aquela sociedade e nega e dissimula seus aspectos mais negativos. A segunda, quando o mundo real começa a horrorizar até mesmo os insensíveis, defende o caráter incompreensível da história; a desigualdade, a agressividade, o egoísmo etc. como atributos da natureza humana e próprios a todas as ordens sociais.
O objetivo último dessa apologia é fortalecer as tendências à destruição da confiança na práxis social como fator de progresso social; a passividade e o imobilismo como comportamentos políticos gerais; o cinismo e o pessimismo como estados psicológicos diante das mazelas da sociedade que avançam a galope desenfreado.
George Lukács lembrava que as interpretações irracionalistas do mundo assumem singular importância em épocas de transição e quando de graves crises sociais, como a que vivemos atualmente. Então, diante das novas demandas postas pela história, a razão irracional transforma os problemas em respostas, nega ao pensamento materialista dialético a capacidade de desvelar os nexos fundamentais do mundo social, transforma a maior riqueza do fenômeno em relação a sua representação teórica, em desvalorização da capacidade de compreendê-lo teoricamente.
Hoje, as novas tendências neo-irracionalistas apresentam-se sob aparências diversas. Pensadores partidários das concepções do ingresso da humanidade em idade pós-industrial e pós-moderna defendem o fim da credibilidade nos "grandes relatos" sobre a necessidade e possibilidade da superação das contradições sociais; sugerem a definitiva subjunção do homem aos processos tecnológicos; proclamam o fim da objetividade e da unidade da vida social.
Na aparente contramão, defensores de retorno aos valores superiores, intemporais e ideais do Século das Luzes criticam a atual barbarização da cultura impulsionada pelos pós-modernos. Todos convergem na proclamação do fim da "radicalidade" de toda e qualquer interpretação social a partir das oposições interclassistas e proclamam a morte do marxismo, do socialismo, do terceiro-mundismo.
Neo-iluministas e pós-modernistas predizem que o desnível abismal e crescente entre países ricos e pobres "não cessará de alargar-se", sendo os próprios miseráveis culpados pela miséria que vivem. Convergem em apreciação filosófica da história e da sociedade atual que incentiva e justifica o cinismo e o elitismo dos privilegiados, o pessimismo e a inatividade dos explorados. Sobretudo nos últimos vinte anos, após a maré neoliberal que açoitou o mundo, para número crescente de pensadores, a história apresentar-se-ia finalmente em sua natureza: processo eminentemente ininteligível e filha do absoluto caos.
Como resultado do crescente prestígio intelectual do irracionalismo, cresce igualmente em forma frenética o interesse pelos pais do moderno irracionalismo – Schopenhauer, Kierkegaard, Nietzsche, Spengler, Heidegger etc. Para a razão irracional, a consciência da agonia final das ilusões sociais de redenção e uma existência cruel que escapa à compreensão humana aconselhariam o refúgio no imóvel, contemplativo e desesperado eticismo kierkegaardiano ou, talvez, no imperativo nietzschiano de ficar de olhos secos diante dos miseráveis.
Mário Maestri, 59, rio-grandense, historiador, é professor do Programa de Pós-Graduação em História da UPF.
E-mail: maestri@via-rs.netEste endereço de e-mail está protegido contra spam bots, pelo que o Javascript terá de estar activado para poder visualizar o endereço de email
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