O MENTOR NEOLIBERAL DE GABEIRA
Bajulado pela mídia como o legítimo representante da “esquerda light”, Fernando Gabeira ainda seduz parcelas do eleitorado progressista do Rio de Janeiro. Mas estas pessoas, com maior senso crítico, deveriam ficar atentas às péssimas companhias do candidato da coligação PV-PSDB. O principal coordenador e financiador da sua campanha é o rentista Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central no triste reinado de FHC, ex-funcionário do megaespeculador George Soros e atual dono da empresa Gávea Investimentos. Ele é tratado por Gabeira como o mentor da sua principal proposta programática, a da implantação do “choque de gestão” na prefeitura carioca.
Nos últimos dias, Arminio Fraga voltou a ocupar os holofotes da mídia. Além de ser a estrela dos programas de TV de Gabeira, deu várias entrevistas sobre a grave crise que atinge os EUA e que promete contagiar a economia mundial. Sua receita, se aplicada no Rio de Janeiro, seria um duro golpe nos eleitores do tucano-verde. Sem papas na língua, o neoliberal convicto defende que “o governo Lula tem de adotar uma posição conservadora e aceitar que, nestas circunstâncias, o país não pode ter a expectativa de repetir o crescimento econômico deste ano... Eu recomendaria agora alguma prudência. Seria bom também a essa altura do jogo uma agenda de reformas”.
O choque de gestão do banqueiro
O rentista não esconde seus interesses de classe. Para garantir os altos lucros dos banqueiros, ele defende a adoção de medidas de contenção do crescimento da economia, que jogarão nas costas dos trabalhadores o peso da grave crise capitalista, com a explosão do desemprego e a redução da renda dos assalariados. Na prática, prega o aumento da taxa de juros e do superávit primário, o fundo de reserva dos banqueiros. Ele propõe ainda a sua conhecida “agenda de reformas”, com novos ataques aos direitos trabalhistas e previdenciários. Caso Fernando Gabeira vença a eleição, estas idéias neoliberais é que deverão orientar o seu “choque de gestão” na prefeitura carioca.
Arminio Fraga têm ambições e projetos definidos. É hoje um dos símbolos do rentismo no país. Após sair do governo, ele recrutou boa parte da equipe econômica de FHC e montou a segunda maior gestora de fundos de investimentos do Brasil, sediada na Leblon Corporate, um luxuoso prédio de sete andares e vidros fumê na zona sul carioca. A Gávea nasceu em agosto de 2003 e, em menos de três meses, contando com fortes influências e informações valiosas, recebeu US$ 550 milhões em aplicações, gerando desconfiança entre os seus pares. Alguns rentistas rotulam Fraga de “strike”, jargão usado no mercado financeiro que significa agressivo, sem escrúpulos.
Um rentista sem escrúpulos
O coordenador do programa de Gabeira realmente não tem escrúpulos. Ele encara tudo como um negócio lucrativo, inclusive o poder político. “A nossa filosofia é investir apenas onde tenhamos um grau de confiança elevado”, revelou à revista IstoÉ Dinheiro. Ele não tem compromissos com o Brasil e o seu povo. “Especula-se que a Gávea Investimentos recebeu aplicações do seu antigo patrão, George Soros, e dos ex-donos do banco Garantia, como Jorge Lehman”, relata a revista. Lehman é um dos estopins da atual crise ianque. Arminio Fraga ainda afirmou à IstoÉ que “não teria qualquer constrangimento em me desfazer de papéis do Brasil se eles perderem atração”.
Tido nos bastidores da política carioca como o homem forte numa prefeitura dirigida pela aliança PV-PSDB-PPS, Arminio Fraga tem muitos interesses econômicos e financeiros para administrar. Reportagem da revista Exame revela que o rentista agora é sócio da McDonald’s, que vendeu no ano passado 1.600 lojas na América Latina por US$ 700 milhões. “A entrada num negócio deste porte chama a atenção para um novo traço da personalidade de Arminio Fraga: o de empresário”. Além do seu fundo de investimento, o Gávea, ele hoje possui ações na BRA transporte aéreo, em terminais de contêineres, em shopping center e, “a partir de agora também em hambúrgueres”.
Os “vigaristas” do deus-mercado
Gabeira ainda seduz alguns com seu figurino de “esquerda light”, mas o seu principal mentor não deveria deixar dúvida sobre a triste sina do Rio de Janeiro nas mãos deste xiita neoliberal. Como presidente do Banco Central no segundo mandato de FHC, ele sempre defendeu os interesses do “deus-mercado”, impondo altas taxas de juros, elevados superávits primários e total libertinagem financeira. Foi um defensor ardoroso das privatizações e da redução do papel do Estado, através de cortes nos investimentos sociais, demissões e arrocho do funcionalismo.
Num desabafo recente, o economista carioca José Carlos Assis, editor do site Desemprego Zero, disse estar “de saco cheio de vigaristas que defendem o interesse próprio como interesse geral. Arminio Fraga é um economista vulgar de mercado... Mas o ‘mercado’ decidiu que é um sábio em economia. Isso não é de admirar, pois ele primou por atender os interesses genuínos do mercado... O que não dá para engolir é que Arminio Fraga, o rei do mercado, deite falação sobre economia como se fosse autoridade independente neste campo, acima de interesses particulares”. O desabafo é mais do que justo e deveria servir de alertar aos eleitores de Fernando Gabeira.