sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

O "entreguismo da terra" continua....



Os protagonistas da ‘Nova Reforma Agrária’







Ana Candida Echevenguá *Adital

Como é difícil ser leitor de jornais e revistas no Brasil! A gente nunca sabe o porquê da publicação de tal matéria; nunca sabe o quanto de verdade ela contém, já que o compromisso com a verdade está distante da grande mídia. Algumas vezes, capta-se alguma coisa nas entrelinhas.

Olhem só esta notícia da Folha de São Paulo e do Estadão (1): o INCRA - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - registrou, em 2008, o pior índice de assentamentos do governo Lula. Traduzindo: o INCRA não está cumprindo sua missão prioritária, que é realizar a reforma agrária.

Segundo os jornais, a situação do INCRA é bem complicada; descobriram uma quadrilha de fraudadores de processos de desapropriações de terras, na superintendência do INCRA-MS: criminosos trabalhando no INCRA.

Qual a sua opinião, leitor: acabar com o INCRA?

Somos induzidos ao sim. E o ‘Brasil da legalidade e da moralidade’ já está providenciando isso. A notícia fala de ministro querendo que o INCRA deixe de atuar nas terras amazônicas: quer criar o Instituto de Regularização Fundiária da Amazônia. A Frente Parlamentar Ruralista quer tirar o INCRA da demarcação das terras quilombolas.

Daí, lembrei-me que, em uma de suas palestras, o professor Bautista Vidal disse que "FHC vai ser lembrado como o presidente que entregou nossas empresas públicas, privatizando quase tudo. E o Lula vai entrar para a história como o presidente brasileiro que entregou nossas terras aos estrangeiros".

E ele está certo, infelizmente. A terra do Brasil tem novos donos: os investidores estrangeiros tomaram conta do campo brasileiro com as bênçãos do governo que aplaude a idéia com a desculpa de que a estrangeirização da terra implica mais geração de riqueza.

Sabendo disso, fica mais fácil entender o que está acontecendo no INCRA. E coisas clareiam após a leitura de uma das reportagens da revista Exame (edição 933) - que mostra a nova concepção de "reforma agrária" adotada no Brasil. Conta a venda, no município baiano de Jaborandi, de 06 fazendas que somam 15.000 hectares (quase o dobro da área da Grande São Paulo), por 40 milhões de dólares. Os compradores são 02 grupos de investidores com participação majoritária de capital externo: o primeiro é "a Calyx Agro Brasil, sociedade formada em maio pelo Louis Dreyfus, grupo francês do ramo de commodities agrícolas, e pela seguradora americana AIG - que, ironicamente, seria resgatada da falência pelo governo Bush em outubro (...) O segundo grupo comprador é a Sollus Capital, empresa que une o fundo de investimento PCP, pertencente a ex-sócios do banco Pactual, o grupo Los Grobo, maior produtor de soja na Argentina, e o fundo de investimento americano Touradji".

Tais terras, "antes pouco produtivas ou improdutivas, começam a passar por uma transformação - e ingressam num novo ciclo de geração de riqueza e empregos, que dificilmente conseguiriam alcançar com os antigos proprietários".

Gente, terras como estas são passíveis de desapropriação para a reforma agrária constitucional, segundo o Estatuto da Terra e os arts. 184 e 185 da nossa Constituição (2). Será que o INCRA não viu isso???

Bom, mesmo que tenha visto, a reforma agrária prevista no nosso ordenamento jurídico não interessa ao Brasil. A moda é entregar nossas terras aos estrangeiros que vão "elevar a competitividade do agronegócio e, por extensão, valorizar a terra em novas fronteiras agrícolas, como o sudoeste baiano e a chamada região do Mapito, que engloba parte do Maranhão, do Piauí e de Tocantins".

Olha aí: a desgraça não vem sozinha. A estrangeirização das terras e a elevação da competitividade do agronegócio exigem algumas técnicas nada inovadoras.

Abençoada seja a monocultura! A Exame deixa isso bem claro quando trata da compra da fazenda Novo México (com 8 800 hectares, à beira da rodovia BR-020, que liga Goiás ao litoral baiano) também adquirida pela Calyx por 25 milhões de dólares. Ali, a monocultura de soja passou dos 10% da área para os atuais 6.500 hectares.

Enfim, os estrangeiros da reportagem apostam no monocultivo da soja, milho e algodão adotando "procedimentos ainda pouco usuais no campo, como a segmentação por equipes para tarefas de plantio, colheita e manutenção de máquinas e a implantação de uma política de remuneração com base na meritocracia".

Todo esse palavreado difícil significa que eles não vão gastar dinheiro com trabalho braçal nem com maquinário (mão-de-obra e maquinário terceirizados). Trocando em miúdos, o Brasil aposta na geração de trabalho e renda somente para o novo dono da terra!

Abençoado também o desmatamento: "Em 2000, ao comprar a terra ainda virgem, Alexander precisou de um time de 100 homens para desbravar o cerrado ao longo de seis meses". ‘Desbravar o cerrado’ significa destruir a vegetação existente no local.

Abençoada ainda a concentração de riqueza! Os grandes grupos podem captar financiamentos a juros mais baixos. "Tal acesso, que está fora do alcance dos antigos donos da terra em Correntina e Jaborandi, faz a diferença".

Além disso, não há qualquer pudor em falar na exploração da miséria dos antigos donos da terra. Vejam os abençoados urubus na cerca, de olho na carniça: "após as últimas compras as duas empresas decidiram fazer uma pausa. Devem voltar a campo para tentar arrematar boas glebas a preços mais baixos no final da próxima colheita, a partir de abril de 2009. (...) "Como a próxima safra deve ter baixa rentabilidade, é possível que produtores em dívida com bancos privados sejam forçados a vender terras a grupos maiores com capacidade de captação externa de recursos", diz Jacqueline Bierhals, analista da consultoria Agra FNP."

O Poder Legislativo também está ajudando a nova reforma agrária, afastando a tal de ‘ameaça de restrições legais xenófobas’: "Recentemente, o governo resolveu engavetar um projeto de lei que, alegando defender a soberania nacional, limitava a venda de terras a estrangeiros. Diante da turbulência na economia, para não afugentar os investidores internacionais, a idéia foi suspensa por tempo indeterminado".

E encerram o assunto da xenofobia com as palavras grande defensora dos agricultores, a senadora Kátia Abreu, presidente da Confederação Nacional da Agricultura: "Ainda bem que o governo esqueceu essa história. Da nossa parte, os investidores estrangeiros são bem-vindos, porque pagam impostos e ajudam a formalizar o agronegócio".

Se é assim, pra quê INCRA e similares? Aliás, pra que ordenamento jurídico? Nossos governantes, dependendo dos ventos que sopram e das vantagens obtidas, atropelam qualquer regra vigente... com a nossa conivência: quem cala, consente!


Notas:

(1) http://www.estadao.com.br/noticias/geral,incra-encerra-2008-com-baixo-indice-de-assentamentos,297266,0.htm
(2) http://portalexame.abril.com.br/revista/exame/edicoes/0933/economia/
novos-donos-terra-408010.html
: Os novos donos da terra - 11.12.2008 - Investidores estrangeiros estão ampliando a presença no campo brasileiro. Isso é um problema? No caso da fazenda Santana, no interior baiano, o resultado é mais geração de riqueza.


* Advogada ambientalista. Coordenadora do Programa Eco&Ação, presidente da ong Ambiental Acqua Bios


quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Música da boa....

Alvaro Henrique no Concerto de Copacabana, para violão e orquestra, de Radamés Gnatalli, com a Orquestra de Câmara Vale do Paraíba, regência de Rogério Santos.

A composição remete ao Rio idílico dos anos 40, pré-Bossa Nova, e representa as belezas naturais da cidade do Rio de Janeiro.

A orquestra é um grupo que trabalha num projeto social em São José dos Campos, e vêm realizado um trabalho belíssimo.

parte I

Parte II

parte III

Que belo exemplo de cidadania...

Natal, singelos propósitos






Frei Betto *- Adital


Neste Natal, guardarei em caixas bem fechadas o que me transmuta naquele que não sou: a inveja, o ciúme, a sede de vingança, e todos os ressentimentos que me corroem as vísceras. Lacradas as caixas, atirarei todas nas profundezas do mar do olvido.

Neste Natal, esvaziarei o escaninho de minhas torpes intenções; as gavetas de tantas vãs ilusões; os armários de compulsivas ambições. De pés descalços, trilharei a senda saudável de uma existência modesta, por vezes solitária, sempre solidária.

Não darei ouvidos ao crocitar dos corvos em minhas janelas, nem ficarei indiferente às aquarelas pinceladas pela dor alheia, e manterei vedada a chaminé à entrada consumista de Papai Noel.

Tecerei, com as agulhas do acalanto e os fios invisíveis do mistério, o tapete promissor dos sonhos que me fomentam o entusiasmo. Recolherei as bandeiras da altivez militante e, numa caneca de barro, derramarei singelos propósitos: refrear a língua de maldizer outrem; reconhecer as próprias fraquezas; exercer a difícil arte de perdoar. Sorverei de um só gole até inebriar-me de compaixão.

Armarei, na varanda de casa, uma árvore de Natal cujo tronco será da mesma madeira que os princípios que me norteiam os passos; os galhos, as sedutoras vias às quais ousei dizer não; as flores, a paz colhida ao enclausurar-me no silêncio interior; os frutos, essa esperança-lagarta que insiste em metamorfosear-se em utopia sobrevoando o pessimismo que me assalta.

Aos pés de minha árvore deixarei vazios os sapatos de minhas erráticas peregrinações ao mundo inconsútil dos apegos que me sonegam o que a vida melhor oferece: a experiência amorosa de transcendê-la. Ao lado, minha lista de pedidos: a leveza imponderável da meditação; o dom de respeitar o limite das palavras; a felicidade de saciar-me na brevidade dos meus dias.

Neste Natal, montarei no canto da sala o presépio de minhas inquietudes. No lugar de franciscanos animais, a Declaração Universal dos Direitos Humanos; como são José, um árabe fiel ao Alcorão; Maria, uma jovem judia semelhante a de Nazaré; Jesus, a criança africana carcomida pela fome.

Tragam os reis magos três oferendas: o ramo de oliveira preso ao bico da pomba que anunciou a Noé o fim do dilúvio; a brisa suave que soprou sobre Elias; o pão repartido na estalagem de Emaús.

Não celebrarei liturgias solenes em dissonância com o Glória cantado pelos anjos do presépio; não me fartarei em ceias pantagruélicas enquanto o Menino se abriga ao relento num cocho; nem darei presentes que me doem no bolso e no coração, embalados em falsos sentimentos.

Sim, me farei presente lá onde a família de sem-teto, escorraçada de Belém, ocupa um pedaço de terra nas cercanias da cidade para que do ventre de Maria brote a certeza de que a justiça haverá de brilhar como a estrela de Davi.

Neste Natal, serei todo orações, dançarei ao som das cítaras do reino de Salomão, sairei pelas ruas cantarolando salmos, despirei todos os adereços de neve e, neste país tropical, deixarei que o sol pouse em minha alma.

Colherei as lágrimas dos desesperados para regar meu jardim de girassóis, e arrancarei os impropérios da boca dos irados para revogar a lei do talião. Nos becos da cidade, celebrarei com os bêbados, os mendigos, as prostitutas, a quem tratarei por um único nome: Emanuel. E, num grande circo místico, buscarei com eles a resposta à pergunta que jamais se cala: "o que será que será que cantam os poetas mais delirantes e que não tem governo nem nunca terá?"

Neste Natal, rogo a Deus ressuscitar a criança escondida em algum recanto de minha memória, a que um dia fui, menino que sabia confiar e, desprovido do pudor do ócio, livre das agruras do tempo, era capaz de imprimir fantasias coloridas ao lado obscuro da vida.

Quero um Natal de brindes à alegria de viver, hinos à gratidão da fé, odes à inefável magia da amizade. Natal cujo presépio seja o meu próprio coração, no qual o Menino Jesus desfaça laços e faça desabrochar todo o amor que se oculta nos sombrios porões do meu ego.

[Autor de "A arte de semear estrelas" (Rocco), entre outros livros].


* Escritor e assessor de movimentos sociais

30 anos antes....

Internacional 1979: único campeão brasileiro invicto

Em 38 edições do Campeonato Brasileiro, 16 clubes tiveram o privilégio de levantar a taça de campeão. Mas apenas um pode se vangloriar de ter conquistado um título sem uma derrota sequer. Há 29 anos, no dia 23 de dezembro de 1979, com a vitória por 2 a 1 sobre o Vasco no Beira-Rio, o Internacional fechou uma campanha perfeita no Brasileirão daquele ano, ganhando o torneio de forma invicta. Em 23 partidas, o Colorado venceu 16 e empatou sete. Derrotas: zero.

O Inter na final de 79: João Carlos, Benitez, Mauro Pastor, Falcão, Mauro Galvão e Cláudio Mineiro; Valdomiro, Jair, Bira, Batista e Mário Sérgio

O time treinado por Ênio Andrade reunia habilidade e força. Experiência e juventude. Na ponta direita, estava Valdomiro, perto de completar 34 anos, que defendeu o Brasil na Copa do Mundo de 74. Na zaga, despontava o jovem Mauro Galvão, 18 anos completados quatro dias antes da decisão. E sobrava técnica nos pés de Falcão, Batista, Mário Sérgio e Jair, que três anos depois lideraria o Peñarol (Uruguai) ao título da Taça Libertadores de 82.

Futpédia: os números do Campeonato Brasileiro de 1979

Após passar com sobras por duas etapas do Brasileiro, o Inter reencontrou o Cruzeiro no grupo das quartas-de-final, revivendo a decisão do Nacional de 75. O regulamento previa turno único, e o time gaúcho teve que enfrentar o adversário no Mineirão. Mas mostrou sua força, vencendo fora de casa por 3 a 2, gols de Valdomiro, Falcão e Zezinho Figueroa (contra). Alexandre e Joãozinho marcaram para o time mineiro. Vitórias sobre Goiás (1 a 0) e Atlético-MG (por W.O.) garantiram a classificação para as semifinais.

O adversário então foi o Palmeiras. O time treinado por Telê Santana e comandado em campo por Jorge Mendonça chegou credenciado pela goleada de 4 a 1 sobre o Flamengo no Maracanã na fase anterior. Mas o Inter não se intimidou no Morumbi e venceu o jogo de ida por 3 a 2 - dois gols de Falcão e um de Jair. Jorge Mendonça e Baroninho descontaram para o Alviverde. No Beira-Rio, o Colorado aproveitou a vantagem do empate - 1 a 1 (Jair e Mococa).

O último obstáculo era o Vasco de Roberto Dinamite e Leão. Em 20 de dezembro, o Inter novamente iniciou a disputa fora de casa. E repetiu a boa atuação do Morumbi. Dois gols do ponta-direita reserva Chico Spina deixaram o time gaúcho com a mão na taça (2 a 0). Que foi assegurada em uma tarde ensolarada de início de verão no Beira-Rio. Jair e Falcão marcaram um gol em cada tempo, garantindo a festa da torcida. O tento de Wilsinho aos 39 do segundo tempo não diminuiu a empolgação nas arquibancadas. E não a final não terminou em goleada porque Leão fez várias defesas difíceis. Final: Inter 2 a 1 e o título brasileiro invicto, um feito até hoje inigualável no futebol brasileiro.


Inter 2 x 1 Vasco da Gama

Data: 23 dezembro de 1979
Local: Beira-Rio (Porto Alegre-RS)
Árbitro: José Favilli Neto
Gols: Jair, aos 40 minutos do 1° tempo; Falcão, aos 12 minutos do 2° tempo; e Wilsinho aos 39
Internacional: Benítez; João Carlos, Mauro Pastor, Mauro Galvão, Cláudio Mineiro; Batista, Falcão, Jair; Valdomiro (Chico Spina), Bira e Mário Sérgio. Técnico: Ênio Andrade
Vasco: Leão; Orlando, Ivan, Gaúcho, Paulo César; Zé Mario, Paulo Roberto (Xaxá), Paulinho (Zandonaide); Catinha, Roberto e Wilsinho. Técnico: Oto Glória.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Os USA não admitem uma crítica sincera e justa...

Atirador de sapatos: 'sem desculpas' a ninguém


Muntazer al-Zaidi, o jornalista iraquiano que atirou seus sapatos contra George W. Bush, presidente dos Estados Unidos, disse que não pedirá desculpas pelo ato, ao mesmo tempo que seu advogado afirmou que o jornalista foi torturado na prisão.




Dhiya'a al-Sa'adi, advogado de al-Zaidi disse à al-Jazira, a rede catariana de televisão, nesta segunda-feira, que ''Muntazer al-Zaidi considera que o que fez ao atirar seus sapatos contra Bush foi exercitar seu direito à liberdade de expressão, em oposição e rejeição à ocupação, que trouxe o caos ao Iraque''.


Al-Sa'adi disse que al-Zaidi não estava pensando em pedir desculpas ao presidente dos Estados Unidos, ''nem hoje, nem no futuro''.


Um porta-voz do premiê do Iraque, Nuri al-Maliki, afirmou na última quinta-feira (18), em uma coletiva de imprensa em Bagdá, que al-Zaidi teria reconhecido que atirar seus sapatos teria sido um ''ato hediondo''.


Entretanto, Dhargham al-Zaidi, o irmão do jornalista questionou a veracidade da afirmação. Ele disse que seu irmão foi surrado com uma barra de ferro logo depois que foi retirado da coletiva com o premiê e o presidente americano.


''Ele não volta atrás em relação ao que fez'', disse o advogado à al-Jazira.


''As suas ações objetivavam somente o presidente Buhs, para dizer a ele que rejeita a ocupação e tudo o que isso significa para o Iraque''


''Em particular, à luz da forma desumana pela qual os prisioneiros iraquianos foram tratados pelas forças americanas''.


Espancamentos


Permitiram a al-Zaidi ver seu advogado no domingo à tarde, que em seguida confirmou as informações iniciais de que ele teria sido espancado e que sua condição médica era ''muito ruim''.


''Há sinais visíveis de torturem em seu corpo, em resultado do espancamento com instrumentos de metal'', disse al-Sa'adi.


''Relatórios médicos mostraram que o espancamento a que foi foi submetido al-Zaidi levaram-no a perder um dente, assim como ferimentos em sua mandíbula e ouvidos.


''Ele teve sangramento no olho esquerdo, assim como marcas em seu rosto e abdôme. Quase nenhuma parte de seu corpo foi poupada de ser espancada.''


Hajar Smouni, um porta-voz do Doha Centre for Media Freedom no Catar disse que ''a forma como ele foi preso foi muito brital. Algumas pessoas relataram que havia sangue no chão no lugar onde ele foi detido''.


''Embora ele não tenha sido preso por causa de suas opiniões, nós não podemos permancer em silêncio, diante dos maus-tratos a que foi submetido pelas forças iraquianas de segurança. É vital que ele tenha acesso a cuidados médicos e que lhe seja dado um julgamento justo'', disse.

Reclamações

"O fato dele ter sido assistido por um advogado já é um sinal positivo, mas o que preocupa é que ele será julgado pela Corte Central Iraquiana, que é o tribunal que julga os casos dos acusados por terrorismo".


"Esse á um julgamenteo difícil. Ele pode ser sentenciado a 25 anos na prisão, e nós precisamos assegurar que a ele não seja dada uma pena excessiva".


"No passado, houve muitos casos que foram interpretados como
reveladores da submissão e falta de independência do sistema judicial iraquiano".


Al-Zaidi fez uma ação contra os guardas que o espancaram, de acordo com seu advogado, e solicitou que eles sejam julgados também pela Corte Central Iraquiana".


"A corte aceitou a ação e tomou as medidas cabíveis para que os guardas sejam levados à justiça e punidos por infração à lei", disse al-Sa'adi.


O julgamento de al-Zaidi está marcado para 31 de dezembro de 2008, quando será acusado de "insultar um líder estrangeiro".




segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

A explicação marxista das crises - Ernest Mandel

Ernest Mandel, economista alemão e um dos mais importantes dirigentes trotskistas do século XX, proferiu essa fala em uma conferência no Seminário "Marxismo Crítico", celebrado em Atenas em junho de 1983 e organizado pelo círculo político e cultural PROTAGORA.

Traduzido da revista Sous le drapeau du socialisme, Paris, num 97-98, junho de 1984, editado por Coyoacan, revista marxista latino-americana, num 17-18 – México em janeiro e junho de 1985. Reeditada por Globalización, Revista de Economia, Sociedade e Cultura em julho de 2003 como uma contribuição às discussões sobre a atual crise mundial. Tradução para o Português de Carlos Bittencourt a partir do texto em espanhol retirado do site www.ernestmandel.org. Leia na integra no sitio www.enlace.org

Do blog Desacato...

“Nossa Informação Alternativa é Pouco Eficaz”
Afirma Igancio Ramonet. Por Rosangela Bion. Brasil

Ignacio Ramonet, diretor-presidente Le Monde diplomatique, dispensou o tradutor e, em espanhol, fez uma crítica pesada à qualidade da informação que circula na Internet. Durante o 14º Curso Anual do Núcleo Piratininga de Comunicação, realizado no Rio de Janeiro entre 19 e 22 de novembro, Ramonet declarou que é cada vez mais difícil informar-se, pois a abundância de informação é a repetição da mesma informação. “Há tanta informação que as pessoas não conseguem ver o que é importante, o que falta”. Contrariando outros palestrantes que o sucederam no evento, na mesa que tratou da “comunicação do Império e a resistência dos movimentos sociais”, o sociólogo e jornalista afirmou que “temos uma nova forma de censura, acontecendo mesmo nos países ditos democráticos: a maioria não acredita que a informação circula de forma democrática. Há uma desconfiança generalizada, uma sensação de que a verdade está sendo ocultada.” Por isso, Ramonet vê espaço para a circulação da informação alternativa, complementar, pois há pouca informação sobre os processos de informação, as lutas dos trabalhadores e os movimentos sociais e, quando ela existe, sai deformada.

Mas, todo esse potencial de liberdade e democratização da informação, na prática, não acontece, na opinião de Ignacio Ramonet. “A Internet é consumida através da busca realizada, principalmente no Google, e as quatro opções iniciais são sítios de meios dominantes. Nossa informação alternativa tem uma pequena audiência, é pouco eficaz”. Ele afirmou que é fácil produzir uma publicação, mas a informação não será lida. “Cada um de nós pode ter um blog que, em geral, não terá grande difusão; é o grande mito contemporâneo: somos todos jornalistas.” Sítios alternativos não têm condições financeiras de realizar os investimentos necessários para realizar as atualizações constantes que a Internet exige, declarou o diretor do Le Monde diplomatique.

Para Ramonet, a invenção da Internet, em 1989, equivaleu a revolução realizada em 1440 por Gutenberg. A Internet reuniu três sistemas de signos: o som, a imagem e a palavra, declarou o palestrante. “Essa concentração refletiu-se também nas empresas de comunicação que fundiram-se, tornando-se ainda mais poderosas e controladoras, fazendo crescer o perigo da manipulação da informação pela mídia.” Ramonet, que também é colaborador do jornal espanhol El País, explicou que a informação já caminhou à velocidade de uma diligência puxada à cavalos, hoje, o tempo entre o acontecimento e a divulgação de um fato é quase zero. “O jornalista virou um comentarista, como qualquer outra pessoa, pois todos vêem a imagem na mesma hora, só que a imagem engana”.

Com o conhecimento de alguém que é consultor da Telesur, rede de televisão pan-latino-americana, criada na Venezuela para se contrapor à hegemonia das grandes redes privadas de TV, Ramonet afirmou que nunca os meios de comunicação de massa tiveram tanto poder na América Latina. Para ele, os meios de comunicação substituíram a oposição e tornaram-se o primeiro poder a atacar os governos que estão fazendo a transformação no continente latino americano. “Em todos os locais do mundo são canceladas licenças de TV, sem gerar tanto debate quanto o provocado pelo cancelamento da RCTV, realizado por Hugo Chaves.” Apesar de tudo, Ramonet acredita que vivemos um momento excepcional na América Latina. “Evo e Hugo não estariam no poder há 15 anos atrás, eles teriam sido assassinados.” Ramonet também defendeu a luta por um setor público de informação, totalmente desatrelado dos governos.

Ramonet avaliou que a atual crise internacional marca o fim do neoliberalismo e terá enormes conseqüências sociais em 2009. “Em outubro de 2008 entramos em outro mundo. 25 bilhões de dólares evaporaram e isso vai engessar o Estado.” O palestrante afirmou que haverá muito desemprego no setor industrial, que na Espanha já existem 200 mil desempregados. “Será um terremoto social nos Estados Unidos.”

Para finalizar o jornalista falou rapidamente sobre o fenômeno dos periódicos gratuitos na França, que fazem a qualidade da informação despencar. O mesmo acontece com os salários dos jornalistas, pois é preciso gastar pouco para produzir informação. Ramonet declarou que os jornais não vendem mais informação, eles vendem os seus leitores para os anunciantes.

Depois de Cuba e Venezuela, Bolívia é o 3° país da América Latina livre de analfabetismo


Com três anos de formidável mobilização social, somada à vontade política de um indígena que queria ser presidente para alfabetizar a Bolívia e à solidariedade dos governos e povos de Cuba e Venezuela, se logrou a proeza: neste sábado, 20 de dezembro, o segundo país mais pobre da América depois do Haiti foi declarado área livre de analfabetismo. A Bolívia converteu-se, assim, no terceiro país que conseguiu vencer o analfabetismo na América Latina, depois de Cuba, em 1961, e da Venezuela, com apoio cubano, em 2005. Os números: 819.417 pessoas alfabetizadas em um universo de 824.101 analfabetos detectados (99,5%); 28.424 pontos de alfabetização criados nos nove departamentos da Bolívia; 130 assessores cubanos e 47 venezuelanos que capacitaram 46.457 facilitadores e 4.810 supervisores bolivianos na aplicação do método audiovisual cubano “Yo sí puedo”.

E algo mais: aqui o analfabetismo tinha “cara de mulher”, dado que mais de 85% dos alfabetizados eram do gênero feminino, explicou ao jornal La Jornada o embaixador cubano na Bolívia, Rafael Dausá. As mulheres também eram a maioria de um grupo ruidoso que, às sete da manhã de um domingo, na comunidade de Quila Quila, departamento de Chuquisaca, compareceu para sua aula de alfabetização no local instalado junto ao museu paleontológico construído pelos membros da comunidade para albergar os restos de animais pré-históricos encontrados no lugar. Ali, dona Juana, de uns 70 anos, segurava seu lápis com o punho cerrado enquanto murmurava angustiada “não vou conseguir”. Ao final da primeira meia hora em frente ao televisor olhando o “Yo sí puedo” com a ajuda de um facilitador, ela sorria enquanto se esforçava para desenhar sua primeira linha de redondos “os”.

Um painel solar dava energia à televisão e ao aparelho de vídeo-cassete utilizado para dar as aulas nessa comunidade. Cuba doou para o Programa Nacional de Alfabetização da Bolívia (PNA) 30 mil televisores e uma igual quantidade de aparelhos de vídeo, 1,2 milhão de cartilhas, os correspondentes jogos das 17 fitas do método audiovisual e os manuais para os facilitadores. Cubanos e venezuelanos doaram também 8.350 painéis solares para outras comunidades carentes de energia elétrica na intrincada geografia boliviana, salpicada de povos marginalizados. O embaixador Rafael Dausá nunca falou de dinheiro. Quem deu as cifras foi o ministro de Educação boliviano, Rafael Aguilar, que informou que o PNA teve um custo de 260 milhões de bolivianos, ou seja, um valor equivalente a cerca de 36,7 milhões de dólares.

As informações são do jornal La Jornada

domingo, 21 de dezembro de 2008

Enquanto isso na Nicarágua.....

Importantes avanços na campanha de alfabetização nicaragüense



Managua (Prensa Latina) As autoridades nicaragüenses obtêm importantes lucros com vista de declarar ao país livre de analfabetismo o 19 de julho de 2009, disse hoje o presidente da Juventude Sandinista, Mario Rivera.
Em declarações a Imprensa Latina, Rivera assegurou que a intensa campanha despregada permitirá chegar ao mês de janeiro com muitos municípios com cerca do seis por cento ou menos de iletrados.
Na atualidade há 56 municípios com o quatro por cento de pessoas que não sabem ler e nem escrever, inclusive alguns com o dois por cento, como Manágua onde o índice é de 1.84 por cento.
A grande preocupação dos dirigentes da cruzada pelo saber é conseguir que as pessoas que sejam alfabetizadas se incorporem a alternativas de continuidade e continuem a sua educação.
Se conseguirmos isto, disse Rivera, evitaremos o retrocesso que afetou à população em anos de governos liberais, onde as cifras se incrementaram, após o atingido na primeira etapa de governo sandinista.
O dirigente juvenil destacou o labor do contingente de cubanos e venezuelanos, que sob o guarda-chuva da Alternativa Bolivariana para os povos de nossa América (ALBA), assessoram neste labor.
Na atualidade temos coberta todas as cabeceiras municipais com presença dos pedagogos cubanos, indicou.
Com marcado otimismo, Rivera sublinhou que a meta do governo é ultrapassar os planos de ter menos do 5 por cento de analfabetos e prosseguir a educação das pessoas, inclusive de cegos e surdo- mudos .
Na atualidade, agregou, Nicarágua tem o menor índice de analfabetos de sua história, com 7,48 por cento.
A alfabetização é só o começo deste processo de devolver os direitos negados ao povo pelos governos neoliberais, assinalou.
Reiterou que a cruzada é em saúdo ao XXX Aniversário da Revolução Popular Sandinista, o 19 de Julio, quando com o apoio dos irmãos cubanos e venezuelanos desterraremos este flagelo.

Texto: Luis Beaton/Prensa Latina /



Violentada e respeitada




Frei Betto
- Correio da Cidadania

Completei 60 anos a 10 de dezembro. Sou um dos mais destacados consensos entre os associados à ONU. Fui aprovada por 192 países. No entanto, raros os que me respeitam.

Infelizmente não recebi, até hoje, aprovação do Estado do Vaticano. Logo ele, que se propõe a defender os valores encarnados por Jesus, que coincidem com os meus.

Nasci no pós-guerra. O mundo ansiava por justiça e paz. Ao longo desses 60 anos, sofri todo tipo de violações: a Coréia dividiu-se em duas; o Vietnã teve sua população civil bombardeada pela França e pelos EUA; empresas usamericanas de produtos químicos – as mesmas que monopolizam as sementes transgênicas – chegaram ao perverso requinte de criar o agente laranja e o napalm, destinados a intoxicar letalmente seres vivos.

Fui violentada na África do Sul, vítima do apartheid, e no Oriente Médio, onde ainda sofro em decorrência de preconceitos étnicos e religiosos. Na continente africano, todos os meus preceitos são ignorados, por culpa do neocolonialismo e da indiferença das nações ricas. Estas só se lembram das africanas quando se trata de vender suas armas.

Em Guantánamo, o governo dos EUA promove descarado acinte contra todos os meus princípios. No Iraque e no Afeganistão, os excessos praticados são ainda mais graves.

Padeci também na União Soviética e na China. Sob a bandeira da nova sociedade, reprimiram manifestações de pensamento e religião; decretaram a censura; perseguiram opositores políticos; implantaram, em nome do socialismo, um capitalismo de Estado.

Na América Latina tenho uma trágica trajetória. Ditaduras militares seviciaram-me de todas as maneiras: prisões arbitrárias, torturas, desaparecimentos, banimentos, assassinatos, seqüestros de crianças...

Sofri massacres em El Salvador, Guatemala, Colômbia e Peru. Grupos paramilitares se vangloriam de violar-me. E em alguns países, como é o caso do Brasil, meus transgressores continuam impunes. Felizmente a OEA me leva a sério e trata de apurar denúncias que recebe.

Hoje, sou duramente vilipendiada pelo narcotráfico e o terrorismo. As drogas corroem profundamente a dignidade humana; o terrorismo, tanto de Estado quanto de grupos fundamentalistas, inocula no ser humano o medo e a ira como condição existencial.

No Brasil, estou longe de merecer o devido respeito. Muitos nem querem ouvir falar de mim. Julgam que sou mulher de bandido. Sou ignorada pelos policiais que torturam e também pelos que praticam exploração sexual de crianças, discriminação de negros e indígenas, preconceito à homossexualidade e agressão às mulheres.

Sofro, de modo especial, em decorrência da estrutura injusta que perdura no país, sobretudo a desigualdade social acentuada pela falta de reforma agrária. O latifúndio figura entre os meus principais inimigos, ao lado da devastação ambiental.

Contudo, há avanços. Comissões de Justiça e Paz se multiplicam pelo país. Inúmeras ONGs se dedicam à minha causa. O governo Lula deu status de ministério à Secretaria Especial dos Direitos Humanos, à frente da qual se encontra um homem íntegro e corajoso: Paulo de Tarso Vannuchi.

Nas escolas, sou cada vez mais estudada. Há um setor da Justiça atento às ameaças e violações que sofro. As leis Afonso Arinos e Maria da Penha inibem e/ou punem uma parcela de meus agressores. A aprovação dos estatutos da Criança e do Adolescente e também do Idoso são avanços que me favorecem.

Se muitos ainda não me respeitam mundo afora, ao menos já não ousam falar mal de mim abertamente. Empresas e governos se sentem obrigados a levar em conta também meus direitos ecológicos, sociais e raciais.

Sou um projeto de futuro. Só na medida em que eu for assumida e respeitada, a humanidade haverá de desfrutar a felicidade como experiência pessoal e fenômeno coletivo.

Meu nome é Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Frei Betto é escritor, autor, em parceria com Moacyr Scliar e Veríssimo, entre outros, de "O desafio ético" (Garamond), entre outros livros.