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Texto: Prensa Latina
Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
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Desgraças, às vezes, veem embaladas em boas intenções equivocadas. O governo do P.T. ofereceu aos trabalhadores aposentados empréstimos com desconto dos pagamentos diretamente em folha. Como contrapartida, exigiu juros menores dos bancos, se é que juros de até 3% ao mês podem ser considerados decentes. Este presente de grego aos aposentados agraciou os bancos com o fim da inadimplência. Os pagamentos das prestações dos empréstimos passaram a ser garantidos diretamente pelo INSS que os descontam dos holerites dos aposentados e os repassam contabilmente aos bancos. Isso permitiu também uma grande redução de custos às entidades financeiras que não precisam mais arcar com as despesas de cobrança sejam nos seus caixas ou através de carnês. Já o aposentado não tem mais como administrar seu pagamento. Ele já vem reduzido da prestação contratada, diretamente na fonte, restando ao aposentado administrar apenas a sobra do seu salário.
Estranho capitalismo brasileiro. É inerente aos negócios capitalistas, tanto o auferir dos lucros quanto o risco do negócio. Por aqui, o governo cuida de eliminar o risco e garantir o lucro do sistema bancário e financeiro. Ou seja, o melhor dos mundos possíveis para quem tem um banco ou uma financeira neste país. Agora, os jornais anunciam outro futuro “benefício” aos assalariados do país. Os empréstimos da casa própria serão também descontados diretamente da folha de pagamento dos mutuários. Ou seja, o risco do negócio, da falta de pagamento, será mais uma vez anulado. O mutuário pagará compulsoriamente quer possa ou não. Poderá passar fome, deixar de comprar remédios e comida para seus filhos, mas as prestações ao sistema financeiro estarão garantidas todo mês diretamente na fonte. A modernidade acabou com a prisão por dívida, mas a tendência atual de bloquear pagamentos diretamente nos holerites dos trabalhadores os condena à penúria forçada até o final dos contratos. Possibilidades de renegociação das dívidas contraídas em valores mais acessíveis e prazos mais longos deixam de ser uma possibilidade para o devedor. Uma propaganda maciça na televisão e nos jornais cuida em convencer os aposentados desconfiados do ótimo negócio que farão ao hipotecar e bloquear parcialmente seus salários. Se os funcionários públicos e os aposentados são os alvos preferenciais desses empréstimos, o consignado para os empregados de empresas privadas é o próximo mercado a ser ampliado e conquistado. Os bancos públicos falam num potencial a atingir de nove milhões de pessoas no crédito consignado. Leia-se nove milhões de pessoas com seus salários provisoriamente bloqueados. Os refinanciamentos sucessivos são o triste resultado dessa camisa de força do crédito consignado.
Bem, isso é uma violação da liberdade do cidadão brasileiro. Cada cidadão deste país deve ter o sagrado direito de decidir o que quer pagar no fim do mês com seu salário. Isso se chama liberdade! Salário é o resultado da venda de sua capacidade de trabalho e de seu talento a terceiros. Mais ainda, ao receber um salário ele trocou horas e dias do seu tempo de vida em prol da produção de alguma empresa privada ou estatal. É, portanto, um legítimo fruto que lhe pertence por inteiro e não pode ser reduzido e fragmentado por deduções compulsórias que anulam o direito de administrar esse seu bem exclusivo e às vezes único. É uma questão de liberdade civil fundamental que todo cidadão brasileiro possa decidir sobre a totalidade de seu salário e onde e quando ele deverá ser gasto, quais despesas e contratos honrar, pois no caso de inadimplências já existe aparato jurídico adequado protegendo os credores, leis essas à que os devedores estão sujeitos. Os bancos e financeiras, portanto, contam com leis mais do que suficientes para sua proteção, além dos seguros especiais para enfrentarem inadimplências, perdas e quebra de lucros em seus contratos e negócios. Ao permitir que prestações de qualquer tipo sejam descontadas compulsoriamente dos holerites, passamos a ser tutelados pelo estado sobre nossos ganhos de trabalho, como crianças que não têm competência e discernimento para administrar suas vidas. Pagar ou deixar de pagar, em face de contingências imprevistas que possam surgir inesperadamente na vida de cada cidadão, é direito legítimo da pessoa. Não cabe ao estado ou às instituições financeiras decidirem sobre isso. Cabem a eles as cobranças e execuções previstas em lei. Não poderiam nunca invadir e seqüestrar valores no holerite de cada trabalhador. Sobre isso, inclusive, há jurisprudência firmada orientando que em contratos são proibidas cláusulas onde um dos contratantes abra mão de seus direitos futuros. Salários integrais são direitos futuros. Não se hipoteca o futuro.
É chegada a hora de se criar um movimento de conscientização nacional contra qualquer investida do governo e do sistema financeiro na folha de pagamento dos trabalhadores brasileiros. Lamentável que seja um partido nascido das lutas trabalhistas que faça esse assalto ao bem maior do trabalhador que é o seu salário, expresso em seu holerite mensal. O salário deve ser inviolável e constitucionalmente protegido, sendo proibido nele efetuar qualquer desconto, sob qualquer pretexto, principalmente os de origens contratuais. Caberá sempre à liberdade de cada cidadão decidir como e quando gastá-lo ou poupá-lo. É isso, entre outras decisões, que se chama liberdade civil. Tanto a moradia como o salário de cada cidadão deve ser sempre inviolável. O resto é mera proteção e outorga de privilégios a segmentos poderosos da sociedade. Que se termine com os empréstimos consignados em folha de pagamento neste país. Pelo direito de todo trabalhador a um salário inviolável como cláusula pétrea a ser inserida na constituição brasileira. Trata-se de novo em delimitar até onde pode o governo intervir no espaço de nossa vida particular, lugar de autonomia e liberdade de cada ser humano. Espaço de cidadania e direitos conquistados que não podem ser vendidos no balcão dos negócios.
Esta é uma das camisetas usadas por jovens soldados da IDF (Israel Defense Forces). Há outros modelitos, que você pode conferir na reportagem Dead Palestinian babies and bombed mosques - IDF fashion 2009.
A denúncia não é de nenhuma publicação antissionista, antissemita ou anti-Israel. Está no Haaretz, principal jornal de Israel.
Não é de causar espanto, portanto, que ainda outro dia o mesmo Haaretz (aqui, via BBC) tenha informado que soldados israelenses confirmaram que assassinaram civis em Gaza, obedecendo a ordens superiores:
"Entrávamos em um prédio e recebíamos ordens de subir de andar em andar e atirar em qualquer pessoa que víssemos... chamo isso de assassinato".
"Superiores nos disseram que podemos atirar nas pessoas que não fugiram, pois são terroristas, mas eles não tinham para onde fugir... isso me amedrontou, tentei fazer alguma coisa, da minha posição inferior, para mudar a situação".
Eles assassinam e ainda se divertem.
Como contraponto, publico novamente aqui o vídeo a seguir, para que você sinta a revolta, o sofrimento e o orgulho de um povo na voz de uma menina palestina. Não deixe de assistir.
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Os trabalhadores foram e continuam sendo as vítimas privilegiadas das políticas neoliberais. A instauração do neoliberalismo se fez montado numa imensa virada na correlação de forças entre as classes fundamentais, com um aumento exponencial na apropriação do excedente pelo grande capital às custas dos trabalhadores.
Como resultado, se enfraqueceu o sindicalismo, assim como a identidade com o mundo do trabalho, ao mesmo tempo que a mídia contribuía decisivamente invisibilizando os temas do mundo do trabalho. As teorias do “fim do emprego” na realidade se referem às tentativas de extinção do emprego formal, porque nunca tantos viveram do seu trabalho como no mundo atual, porém ao fazê-lo sob condições heterogêneas, trabalhando em varias atividades ao mesmo tempo ou mudando de atividades de um mês para outro, terminam dificultando a organização, enfraquecendo a cultura do trabalho e a assunção da identidade de trabalhador, assim como das profissões, que mudam de um tempo a outro.
As políticas neoliberais produziram também um grande processo de proletarização de amplos setores das classes médias, empobrecidas pela perda do emprego formal e pela concentração de renda das políticas implementadas pelos governos. O mundo do trabalho nunca congregou a tanta gente, embora as condições do trabalho concreto nunca foram tão diversificadas. O que não impede que todos sejam superexplorados e fonte fundamental da gigantesca acumulação de capital que produzem as grandes fortunas exibidas obscenamente pela mídia.
Políticas minimamente anti-neoliberais de alguns governos – concentrados na América Latina – permitiram a retomada de certo nível de empregos formais, mesmo se com baixa qualificação, voltando a dar certa força de negociação aos sindicatos e protagonismo às centrais sindicais. Políticas redistributivas mediante programas sociais, elevação real dos salários, promoveram a extensão e o fortalecimento do mercado interno de consumo popular, ao mesmo tempo que, em alguns casos, o movimento sindical voltou a obter certos espaços de protagonismo público, mesmo se quase sempre sabotado pela mídia.
A crise fez voltar a recair sobre os trabalhadores o peso da recessão provocada pela especulação financeira, de que se valem as empresas para, como primeira medida, dispensar trabalhadores. Nos anos de crescimento que antecederam a crise, se multiplicaram os lucros; no momento da recessão, as empresas nem sequer queimam uma parte dos lucros acumulados, dispensando imediatamente a milhares de trabalhadores, como se o direito ao emprego não fosse um direito essencial para a imensa maioria da população, que vive do seu trabalho.
Os governos e as forças políticas neste momento se diferenciam se jogam todos seus esforços para diminuir os efeitos da recessão e garantir ritmos de continuidade no crescimento econômico, ao lado da garantia do emprego, e as que apostam na catástrofe econômica, acreditando que, com isso, se enfraquecem governos que colocam ênfase nas políticas sociais. Os trabalhadores e suas organizações tem que se alinhar em torno dessa polarização, lutando para que as medidas dos governos para alimentar o nível de crescimento econômico sejam todas indissociavelmente ligadas à garantia do emprego – direito essencial, se queremos construir uma democracia social.
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A Campanha, que tem caráter permanente, tem o objetivo de sensibilizar a sociedade civil e os agentes públicos para o reconhecimento dos direitos das trabalhadoras domésticas. De acordo com Maria Madalena de Medeiros, coordenadora da Campanha, o trabalho doméstico ainda não é valorizado no Brasil. "Ele é importante para a organização social do trabalho", ressalta.
A coordenadora comenta que, caso as trabalhadoras domésticas resolvessem fazer uma greve, várias pessoas enfrentariam problemas. Ela explica que, enquanto os patrões estão no trabalho, as domésticas ficam nas casas realizando tarefas essenciais, como lavar e "passar" roupas, e fazer almoço.
Além da falta de valorização, a coordenadora acrescenta que as trabalhadoras ainda sofrem preconceito por parte da sociedade, principalmente pelo fato de a maioria ser mulher, negra e de baixa escolaridade. Segundo a Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad), existem oito milhões de pessoas inseridas no trabalho doméstico, sendo que 93,2% são mulheres e, dessas, 61,8% são pardas ou negras.
De acordo com Madalena de Medeiros, a Campanha pretende não somente mostrar a sociedade o valor do trabalho doméstico, mas também informar as próprias trabalhadoras sobre os direitos que possuem através de seminários, cursos e distribuição de materiais de divulgação.
No próximo dia 28 começam as aulas de direito trabalhista e previdenciário. Segundo a Madalena, os cursos são gratuitos e ainda estão com inscrições abertas. "São voltados principalmente às mulheres de baixa renda e que não tenham acesso à informação", comenta.
Contato: (83) 3341.2800
As matérias do projeto "Ações pela Vida" são produzidas com o apoio do Fundo Nacional de Solidariedade da CF 2008.
Em entrevista à New America Media, o novo presidente defende a recuperação do Estado e redução das desigualdades para amenizar problemas centrais como imigração e violência
El Salvador tornou-se, domingo, ao eleger o jornalista salvadorenho Maurício Funes, o mais novo país latino-americano à esquerda. Seu partido, Frente Farabundo Martí Frente Nacional de Libertação (FMLN), é presente nas lutas sociais desde os anos 30, entre governos que se opõe em diferentes graus ao domínio secular das elites.
Funes, antigo correspondente da CNN, tem linha moderada. Entrou no partido em 2008. Seu vice, Salvador Sanchez, foi candidato anteriormente e é do grupo dos socialistas revolucionários, ala mais radical do partido.
A disputa foi intensa, foram 51,2% votos contra 47%. A oposição usou o “perigo vermelho” como arma de campanha. O slogan “Eu não vou entregar meu país”, de Rodrigo Ávila, do Arena, alegava riscos do “chavismo”. Não faltaram acusações, com respaldo da mídia conservadora. De acordo com o grupo de pesquisas Funde, o Arena gastou quatro vezes mais em publicidade que o FMLN.
Além disso, o Arena tentou persuadir dois outros candidados a desistir em seu favor, de acordo com a revista The Economist.
O desafio de Funes será imenso; receberá um Estado extremamente empobrecido, numa conjuntura adversa. A estreita relação econômica com os Estados Unidos torna o país ainda mais vulnerável à crise financeira global.
Nos últimos trinta anos, quase um quarto dos salvadorenhos imigraram em busca de trabalho e as remessas estrangeiras correspondem a 17% do PIB nacional. Os investimentos estrangeiros significavam 3%, em 2005.
Em entrevista concedida à New America Media, o presidente-eleito expôs seus planos para o novo governo. (Veja o vídeo)
“Vamos mudar nossa forma de fazer política, interromper uma economia que dá privilégios aos privilegiados”. “Colocaremos o governo e a estrutura do Estado a serviço do povo salvadorenho – em sua totalidade – mas, fundamentalmente, da grande maioria oprimida e excluída do desenvolvimento social e econômico do país. Não só nos últimos vinte anos, mas há mais de 200 essas pessoas não tiveram a possibilidade de participar das políticas públicas. O governo que vou criar vai dar a eles o papel de protagonistas que nunca tiveram.”
Ao mesmo tempo, procurou acenar para os EUA e para cerca de 1.5 milhões de salvadorenhos que vivem no país, suas perspectivas:
“O fato de buscarmos reconstruir as instituições democráticas – dando força à Constituição e fazendo de El Salvador um Estado democrático, que respeita o vigor da lei – é a melhor garantia para os Estados Unidos de que vamos reduzir o fluxo de imigração”.
Sobre o radicalismo de esquerda, foi claro: “A primeira mensagem que gostaria de mandar a Obama é que não buscarei alianças ou acordos com nenhum chefe de Estado da parte sul do continente que possa estragar minha relação com os Estados Unidos.”
Em 2006, El Salvador obteve o maior índice de homicídios do mundo, segundo estatísticas oficiais (ONU). A violência urbana permanece alarmante; cerca de 40% vive abaixo dos níveis de pobreza. Parte da esfera geopolítica norte-americana na América Central, a presença militar transformou o país em teatro da Guerra Fria. Mais tarde, o conflito culminou em uma guerra civil, que foi somente resolvida em 1992.
O primeiro grande levante das guerrilhas no país aconteceu em 32. Foi organizado por indígenas ruralistas, em cultura de café. A reação dizimou dezenas de guerrilheiros em um episódio que ficou conhecido como La Matanza.
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Daniel Bensaïd | |
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O capitalismo? "É compreensível que as pessoas não acreditem mais nele", confessa Tony Blair em pessoa (1). Quando se deixa de acreditar no inacreditável, uma crise de legitimidade, ideológica e moral se soma à crise social, e acaba por estremecer a ordem política. A crise atual não é uma crise a mais, equiparável à dos mercados asiáticos ou à da bolha da Internet.
Uma crise de fé
Trata-se, na realidade, de uma crise histórica - econômica, social, ecológica - da lei do valor, uma crise de medição e de excesso. A medição de tudo através do tempo de trabalho abstrato passou a ser - como anunciava Marx nos Manuscritos de 1857 - uma forma "miserável" de medir as relações sociais. "As crises econômica e planetária têm um ponto em comum", constata Nicholas Stern, autor em 2008 de um informe sobre a economia das mudanças climáticas. "Ambas são conseqüência de um sistema que não considera os riscos que seu funcionamento gera, que não leva em conta o fato de que pode conduzir a uma destruição superior ao benefício imediato que procura, e que subestima a interdependência entre os atores" (2). A lógica da corrida atrás do lucro, pelo "benefício imediato" é, com efeito, uma lógica a curto prazo, E a "concorrência não falsificada", por sua parte, é cega à "interdependência" sistemática.Um novo Brenton Woods? Um sistema de governo mundial? O problema é que a União Européia nem sequer tem sido capaz de criar uma agência de controle dos mercados financeiros em escala continental, ou de promover uma definição comum de paraísos fiscais! Desde outubro de 2008, Laurence Parisot tem se encarregado de deixar claro que o Estado deve desempenhar seu papel nos socorro das finanças, mas que deve retirar-se, quando os negócios recuperem seu curso lucrativo. Dito de maneira mais direta: que deve socializar as perdas para logo reprivatizar os lucros. Por trás de ter admitido que o Estado é o único capaz, de forma imediata, de "salvar a economia e os bancos", Jean-Marie Messier, ressuscitado do purgatório, não se esquece de explicar que "o guarda-chuva deverá fechar uma vez que a tempestade tenha passado". O Estado não deveria, assim, ser mais do que "um passageiro em meio à chuva" (3).
O plano de recuperação governamental descarrega o custo sobre os trabalhadores e os contribuintes. Por detrás do congresso de Reims, Martine Aubry pretendia descobrir que "torna-se inoperante atacar aos que se utilizaram do sistema, sem atacar o próprio sistema" (4). Contudo, o Partido Socialista se contenta em oferecer um contra-plano "equilibrado", de medidas supostamente sociais, mas em nenhum momento radicais, no sentido de que suponham uma nova redistribuição de riquezas em benefício do trabalho. Nada se falou sobre a nacionalização do sistema bancário e a criação de um serviço público para tratar do crédito, nada sobre uma reforma fiscal radical, nada sobre a necessidade de reorientar a construção européia. "Atacar o próprio sistema" seria atacar o poder absoluto do mercado, a propriedade dos grandes meios de produção e troca, a concorrência de todos contra todos. Até o liberal Nicolas Baverez define a banca como um "bem público da mundialização": "pelas suas características, tem a natureza de um bem público" (5). Seria de esperar, na verdade, que, dada esta "natureza", este bem público fosse submetido a gestão pública sob o controle público. Para Baverez, pelo contrário, o Estado deveria assegurar aos bancos uma "imunidade ilimitada" por suas perdas, e assumir os riscos ligados a seus lucros.
Atacar o coração do sistema suporia adotar-se uma blindagem social que proteja os trabalhadores das conseqüências da crise. Para isso, dever-se-ia romper os grilhões dos critérios de Maastricht e do Pacto da Estabilidade, restabelecer os controles políticos sobre o Banco Central europeu, abolir o Tratado de Lisboa, reorientar de maneira radical a construção européia, começando pela harmonização social e fiscal, e iniciar um processo constituinte de verdade. No mínimo, exigir a revogação do artigo 56 do Tratado de Lisboa que proíbe qualquer restrição aos movimentos do capital financeiro, assim como a "liberdade de estabelecimento", reconhecida no artigo 48, uma liberdade que permite ao capital mudar de lugar, para onde as condições lhe sejam mais favoráveis, e às instituições financeiras encontrar asilo onde lhes agrade.
Uma crise duradoura
Porque se trata de uma crise sistêmica, que anuncia o fim de um modo de acumulação, as medidas de recuperação conjuntural terão um efeito limitado. Uma saída para a crise que conduza à emergência de uma nova ordem produtiva e de um novo regime de acumulação não depende somente da economia. Exige uma nova correlação de forças, novas relações geopolíticas, novos dispositivos institucionais e políticos.
Se a crise de 1929 foi a da "emergência estadunidense", que emergência prefigura a crise atual? A chinesa? A de uma organização multipolar de espaços continentais? A de um sistema de governo mundial?
Em um tempo em que se invocam a necessidade de uma nova ordem monetária internacional e respostas globais, o próprio Giscard d’Estaing reconhece que "a gestão econômica da crise se tornou, na Europa, mais nacional durante a crise do que antes do seu início", e que "os instrumentos de intervenção são essencialmente nacionais" (6). A crise agudiza, na verdade, as diferenças nacionais e libera tendências centrífugas. Em nome de uma "correspondência necessária entre os espaços econômicos e sociais", Emmanuel Todd se arvora em paladino de um "protecionismo europeu" (7) que crie "as condições para a recuperação dos salários" e uma oferta que gere sua própria demanda. A questão não é doutrinária ou de princípios. Proteger? Sim, mas quem, contra quem e como? Se a Europa começasse em adotar critérios sociais de convergência em matéria de emprego, renda, proteção social, direito do trabalho e harmonização fiscal, poderia, legitimamente, adotar medidas de proteção, não as dos interesses egoístas de seus empresários e financistas, mas a dos direitos e conquistas sociais. Poderia fazê-lo de maneira seletiva e pontual, adotando como contrapartida acordos de desenvolvimento solidário com os países do Sul em questões migratórias, de cooperação técnica, de comércio eqüitativo, sem ceder a um protecionismo de ricos, cujo efeito principal fosse disseminar os estragos da crise entre os países mais pobres.
Imaginar que uma medida de proteção alfandegária implicaria de forma mecânica em melhora nas condições sociais européias, como se pudesse ser tecnicamente neutra no contexto de uma luta de classes exacerbada pela crise, é uma enorme ingenuidade. Os trabalhadores acabariam afetados pelas travas burocráticas e fronteiriças, sem obter as respectivas vantagens sociais. Um protecionismo desta índole não resistiria muito tempo em razão de sua impopularidade, ou não tardaria em derivar para uma "preferência nacional" (ou européia) de corte chauvinista.
Refundar o capitalismo ou combatê-lo
Todos os governantes, de ontem e de hoje, de direita e de esquerda, acabaram por denunciar a loucura sistêmica dos mercados. Contudo, sua desregulação não tem sido fruto da famosa mão invisível, mas de decisões políticas e de medidas legislativas concretas. Foi a partir de 1985, quando era ministro da Economia o socialista Pierre Bérégovoy, que se concebeu a grande desregulamentação dos mercados financeiros e da bolsa de valores na França. Foi um governo socialista que, em 1989, liberalizou os movimentos do capital, antecipando-se a uma decisão européia. Foi o governo de Jospin que, ao privatizar mais do que os governos de Balladur e Juppé juntos, assentou as bases para que o capitalismo francês pudesse acolher fundos de investimentos especulativos. Foi um ministro das finanças socialista, Dominique Strauss-Khan, que propôs uma forte "desfiscalização" das célebres stock-options, e foi outro ministro socialista, Laurent Fabius, quem a pôs em prática. Foi um Conselho Europeu, com maioria social-democrata, que decidiu em 2002, em Barcelona, liberalizar o mercado de energia e o conjunto de serviços públicos, aumentar em 5 anos a idade de aposentadoria e sustentar os fundos de pensão. Foi a maioria do Partido Socialista que aprovou a sacralização da concorrência gravada no projeto do Tratado constitucional europeu de 2005. Foi seu voto, uma vez mais, que permitiu a adoção do Tratado de Lisboa, confirmando assim a lógica liberal da construção européia.
Para os salvadores do Titanic capitalista, a tarefa se anuncia dura. Um novo New Deal? Um retorno ao Estado social? Seria esquecer muito rápido que a desregulação liberal não foi um capricho doutrinário de Thatcher ou de Reagan. Foi a resposta à baixa das taxas de lucros, provocada pelas conquistas sociais do pós-guerra. Depois de 1973, "a incapacidade das políticas keynesianas para recuperar a atividade produtiva deixa o campo aberto a uma surpreendente contra-revolução conservadora", recorda Robert Boyer (8). Voltar ao ponto de partida seria reencontrar-se com as mesmas contradições. Como comenta ironicamente Jean-Marie Harribey: "regular sem transformar não é regular".
Por trás da crise de 1929, para redistribuir as cartas da riqueza e do poder e para anunciar uma nova onda expansiva, fez-se necessário nada menos do que uma guerra mundial. A colocação em marcha de um novo modelo de acumulação, e o, eventual, impulso de uma nova grande onda de crescimento envolverão o surgimento de novas hierarquias planetárias de dominação, uma re-acomodação de nações e continentes, novas condições para a valorização do capital, uma transição da matriz energética. Tal mudança não pode ser resolvida através da amabilidade diplomática, nos tapetes verdes das chancelarias, mas no campo de batalha, através de lutas sociais. A crise, como bem escreveu Marx, supõe "o estabelecimento por força da unidade entre momentos (produção e consumo) impulsionados de forma autônoma".
Na realidade, não é mais do que um começo
"A crise financeira - insistia Nicolás Sarkozy em seu discurso de Toulon - não é a crise do capitalismo. É a crise de um sistema afastado dos valores fundamentais do capitalismo, dos que - de certo modo - o traíram. Quero deixar claro aos franceses: o anticapitalismo não oferece nenhuma solução para a crise atual". A mensagem é clara: o inimigo não é o capitalismo, mas o anticapitalismo.
O presidente retornou à questão na sua intervenção no colóquio sobre a refundação do capitalismo, organizado, por sua iniciativa, em 8 de janeiro de 2009, pela Secretaria de Estado: "A crise do capitalismo financeiro não supõe a do capitalismo como tal. Não é um chamamento a sua destruição, o que seria uma catástrofe, mas a sua moralização". Suas palavras receberam um vigoroso respaldo de Michel Rocard: "Devemos começar por aí: nosso propósito é salvar o capitalismo". Estas declarações de guerra social traçam uma linha forte entre dois campos. É preciso eleger: ou discutir com os proprietários como refundar, reinventar, moralizar o capitalismo, ou lutar junto com os explorados e despossuídos para derrotá-lo.
Ninguém poderia predizer como serão as revoluções futuras. O que temos, unicamente, é um fio condutor. Trata-se de duas lógicas de classe que se enfrentam. A do lucro a qualquer preço, do cálculo egoísta, da propriedade privada, da desigualdade, da concorrência de todos contra todos, e a do serviço público, dos bens comuns da humanidade, da apropriação social, da igualdade e da solidariedade.
Notas:
(1) Le Journal du Dimanche, 14 de dezembro de 2008. (2) Le Monde, 15 de dezembro de 2008. (3) La Tribune, 15 de janeiro de 2009. (4) Journal du Dimanche, 5 de outubro de 2008. (5) Le Monde, 26 de novembro de 2008. (6) Le Monde, 13 de janeiro de 2008. (7) Emmanuel Todd, Après la démocratie, París, Gallimard, 2008. (8) Libération, 29 de dezembro de 2008.
Daniel Bensaïd é professor de Filosofia na Universidade de Paris VIII. Foi um dos fundadores das Juventudes Comunistas Revolucionárias e da Liga Comunista Revolucionária. Atualmente é um dos intelectuais de referência do Novo Partido Anticapitalista, recentemente constituído na França.
Originalmente publicado em Sin Permiso, em castelhano, traduzido pela rede Adital de Notícias.
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Algumas declarações históricas
Não pretendo aqui fazer uma história da origem e desenvolvimento do sionismo, enquanto corrente de opinião de caráter racista, cujo objetivo principal é a construção de um estado judeu em terras históricas pertencentes aos palestinos. Tal processo, como sabemos, inicia-se na segunda metade do século 19 e se intensifica com a ajuda da Inglaterra desde que esta recebeu da Liga das Nações o Mandato sobre a palestina, quando facilitava imensamente a migração judaica para a região.
Já tratamos desse assunto ao longo de anos nesta coluna. Assim como mostramos que Israel não é e nunca foi um estado democrático como a mídia insiste em propagar aos quatro ventos. Ao contrário. É um estado racista, discriminador, que usa a força para impor sua vontade às minorias, que faz dos árabe-palestinos cidadãos de segunda classe, que penaliza quem não professa a religião judaica. Enfim, um estado – único na comunidade das nações que integram a ONU – a não possuir uma constituição e uma fronteira reconhecida internacionalmente, além de ocupar ilegalmente milhares de quilômetros quadrados de terras que a própria ONU destinou aos palestinos em 1947 na fatídica sessão de 29 de novembro.
Quero, antes de entrar nas análises sobre a questão sionista hoje e os impasses que as eleições israelenses de 10 de fevereiro levaram o país, apresentar aos nossos leitores, quase que lhes prestando um serviço, em especial aos estudiosos e apoiadores da causa palestina, um conjunto de declarações de sionistas históricos. Como a história comprovou, tais sionistas, que realizaram atividades bárbaras, que perpetraram massacres em aldeias palestinas, nunca falaram em “Estado de Israel”, mas falavam em Palestina, como aquela região é milenarmente conhecida.
Sempre houve um grande endeusamento na mídia a algumas figuras históricas desse movimento sionista que, nada mais é, do que um projeto de colonização da Palestina, cujos líderes judeus estabeleceram amplas alianças políticas, ora com a potência inglesa, ora com os americanos, de acordo com o sabor de seus interesses estratégicos. Pode parecer incrível, mas até certas alianças e acordos com o Partido Nacional Socialista da Alemanha nazista foram feitos acordos que estimulassem a migração judaica para a Palestina, mas isso é assunto para outro momento.
Vejamos aqui algumas das principais declarações de renomados judeus sionistas. Todas elas foram selecionadas por Ralph Schoenman, que, na juventude, chegou a ser secretário particular do prêmio Nobel da Paz, Bertrand Russel (1). As referências indiretas em suas respectivas páginas são dessa obra.
Chaim Weizmann – ex-presidente da Organização Sionista Mundial
“É bastante aceitável dizer que, se a Palestina cair na esfera de influência britânica e a Grã Bretanha estimular o estabelecimento dos judeus lá, com uma dependência britânica, em 20 ou 3 anos poderemos ter lá um milhão de judeus. Eles desenvolveriam o país, restituiriam a civilização e formariam uma guarda muito, mais efetiva para o Canal de Suez” (Trial and error: the autobiography of Chaim Weizmann, Nova York, Harper, 1949, página 149).
Meus comentários: aqui dois aspectos importantes. A prova de que os sionistas só se referiam à região como “Palestina” e a clara e estratégica aliança com os ingleses, a favor dos sionistas e seu projeto colonial. Destaca-se a quase premonitória cifra de um milhão de judeus migrantes, atingida alguns anos depois da sua previsão.
“As esperanças de seis milhões de judeus da Europa estão nas centradas na imigração. Alguém me perguntou: ‘você pode levar seis milhões de judeus para a Palestina?’. Eu respondi ‘não’. Dos abismos da tragédia eu quero salvar os jovens da Palestina. Os velhos desaparecerão. Eles aguentarão a sorte ou não. Eles são pó, pó econômico e moral num mundo cruel (...). Somente o ramo dos jovens sobreviverá. Eles têm de aceitar isso” (relato ao Congresso Sionista de 1937, sobre seu testemunho junto à Comissão Peel; citado em Yahya, página 55).
Meus comentários: aqui, de forma fria e calculista, Weizmann deixa claro que não defende todo o povo judeu, mas quer salvar apenas os mais jovens, que poderiam migrar para a Palestina e lá estabelecerem colônias e aderirem aos bandos terroristas para matar e expulsar palestinos. Os velhos ficariam à sua sorte. Isso nos lembra uma famosa frase de efeito de Gurion, quando ele afirmou que se tivesse que escolher salvar todas as crianças judiais da Alemanha e Europa, enviando-as para vários países e se só pudesse salvar metade deles, enviando-as para a Palestina, ele afirmou taxativamente que ficaria com a segunda hipótese.
Wladimir Jabotinsky – ideólogo do sionismo
“Todas as pessoas bem intencionadas, salvo os cegos de nascimento, compreenderam há muito a completa impossibilidade de se chegar a um acordo voluntário com os árabes da Palestina para transformar a Palestina de um país árabe em um país de maioria judia. Cada um de vocês tem uma ideia geral da história das colonizações. Tente achar pelo menos um exemplo de colonização de um país que aconteceu com o acordo da população nativa. Tal coisa nunca ocorreu. Os nativos sempre lutaram obstinadamente contra os colonizadores – e não importa que eles tenham cultura ou não. Os companheiros de armas de Hernán Cortez e Francisco Pizarro comportaram-se como bandidos. Os peles-vermelhas lutaram com ardor inflexível contra os colonizadores de bom e de mau coração. Os nativos lutaram porque qualquer tipo de colonização, em qualquer parte, em qualquer época, é inadmissível para qualquer povo nativo. Qualquer povo nativo considera seu país como seu lar nacional, do qual devem ser donos absolutos. Nunca aceitarão outro mestre voluntariamente. Assim ocorre com os árabes. Conciliadores entre nós tentam nos convencer de que os árabes são uma espécie de tolos que serão enganados com formulações que ocultem nossos objetivos básicos. Nego-me redondamente a aceitar essa visão dos árabe-palestinos. Eles têm a mesma psicologia que nós. Olham a Palestina com o mesmo amor instintivo e o mesmo autêntico fervor com que qualquer asteca olhava seu México ou qualquer sioux contemplava a sua pradaria. Qualquer povo lutará contra os colonizadores enquanto lhe reste um fio de esperança de que eles possam evitar o perigo da conquista e da colonização. Os palestinos lutarão dessa forma até que não haja o menor lampejo de esperança. Não importam as palavras com que expliquemos nossa colonização. A colonização tem seu próprio significado, pleno e imprescindível, compreendido por qualquer judeu e por qualquer árabe. A colonização tem um só objetivo. Tal é a natureza das coisas. E tentar mudar seu caráter é impossível. Foi necessário desenvolver a colonização contra a vontade dos árabes palestinos e a mesma situação se dá hoje. Inclusive um acordo com os não palestinos representa o mesmo tipo de fantasia. Para que os nacionalistas árabes de Bagdá, de Meca e de Damasco aceitassem pagar um preço tão alto, eles teriam de negar-se a manter o caráter árabe da Palestina. Não podemos dar nenhuma compensação pela Palestina, nem aos palestinos nem aos demais árabes. Portanto, é inconcebível um acordo voluntário. Qualquer colonização, ainda que a mais restrita deve-se desenvolver desafiando a vontade da população nativa. Portanto, a colonização somente pode continuar e desenvolver-se sob um escudo de força que inclua uma muralha de ferro que jamais possa ser penetrada pela população local. Essa é a política árabe. Formulá-la de qualquer outro modo seria hipocrisia... A censura estúpida de que esse ponto de vista não é ético, respondo: ‘totalmente falso’. Essa é a nossa ética. Não há outra ética. Enquanto os árabes tiverem a menor esperança de impedir-nos, eles não venderão essas esperanças por nenhuma palavra doce nem nenhum bocado apetitoso, porque não nos enfrentaremos com gentalha e som com um povo, um povo vivo. E nenhum povo faz concessões grandes sobre questões tão decisivas, a não ser quando não lhes resta nenhuma esperança, até que tenhamos tampado qualquer brecha na muralha de ferro” (The Iron Wall – O Zheleznoi Stene, Rassvet, 4 de novembro de 1923).
Meus comentários: aqui o reforço de que a região era mesmo “Palestina” e a palavra Israel nunca era dita. Um segundo aspecto, a frieza da confissão aberta de sua “ética” de negar qualquer acordo com os árabes e seguir abertamente com seus ideais colonizadores. Por fim, o desmascaramento de um dos mitos, uma das maiores mentiras que os sionistas contam ao mundo de que aquela terra era uma terra “sem povo”. Esse cidadão é considerado um dos maiores intelectuais do povo judeu.
“É impossível que alguém seja assimilado por outro povo que tenha sangue diferente do seu. Para que seja assimilado, esse alguém tem que trocar de corpo, tem de converter-se em um deles, no sangue. Não pode existir assimilação. Nunca poderemos permitir coisas como o matrimônio misto porque a preservação da integridade nacional só é possível mediante a pureza racial e, para tal, temos de ter esse território onde nosso povo constituirá os habitantes racialmente puros... A fonte do sentimento nacional (...) reside no sangue das pessoas (...) em seu tipo físico e somente nisso (...). a perspectiva espiritual de um homem é determinada previamente pela sua estrutura física. Por isso, não acreditamos na assimilação espiritual. É impossível, do ponto de vista físico, que um judeu nascido de família de sangue puramente judeu possa se adaptar à estrutura espiritual de um alemão ou de um francês. Essa pessoa pode ser totalmente imbuída de fluidos alemães, porém o núcleo de sua estrutura espiritual permanecerá sempre judeu.” (citado por Lenni Brenner em The Iron Wall: revisionism from Jabotinsky to Shamir, Londres, Zed Books, 1984, página 29).
Meus comentários: aqui uma versão clara e aberta do que Hitler viria a definir como a “raça pura”,a ariana. Condena os casamentos multi-étnicos e usa o termo “raça”, definindo árabes como raça inferior, que nunca poderiam casar-se com judeus, os “mais preparados”.
Joseph Weitz – Chefe do Departamento de Colonização da Agência Judaica em 1940
“Entre nós temos que ter claro que não há espaço algum para que os dois povos permaneçam juntos neste país. Nós não atingiremos nosso objetivo se os árabes permanecerem neste pequeno país. Não há outra maneira a não ser transferir os árabes daqui para os países vizinhos. Todos eles. Nem um único vilarejo, nem uma única tribo deve restar” (A solution to the refugee problem, Davar, 29 de setembro de 1967, encontrada em Uri Davis e Norton Mezvinsky, Editor, Documents from Israel, 1967-1973, página 21).
Meus comentários: aqui a confissão clara e aberta da completa impossibilidade da convivência dos dois povos, da defesa da transferência compulsória dos palestinos para países vivinhos. De fato, dados de 1948 mostram que dos 475 vilarejos e aldeias palestinas existentes nessa época, 358 foram completamente arrasados pelos sionistas e seus bandos terroristas, reduzidos à pó. Apenas uns 90 permaneceram em pé.
Relatório Koening
“Devemos usar o terror, o assassinato, a intimidação, o confisco de terras e o corte de todos os serviços sociais para libertar a Galileia de sua população árabe” (Al Hamishmar, 7 de setembro de 1976).
Heilbrun, presidente do Comitê Pró-Reeleição do general Shlomo Lahat, prefeito de Tel Aviv
“Devemos matar todos os palestinos, a não ser que se resignem a viver aqui como escravos” (Citado por Fouzi El-Asmar e Salih Baransi durante debates ocorridos com Ralph Schoenman em 1983, publicado em seu livro na página 75).
Uri Lubrai – conselheiro para assuntos árabes de Ben Gurion
“Vamos reduzir a população árabe a uma comunidade de lenhadores e garçons” (Sabry Jiris, The arabs in Israel, Monthly Review Press, Nova York, 1976).
Raphael Eitan – Ex-chefe do Estado Maior das Forças Armadas de Israel
“Manifestemos abertamente que os árabes não têm direito algum a ocupar sequer um centímetro do Grande Israel (...). A única coisa que eles entendem e entenderão é a força. Nós utilizaremos a força mais decisiva até que os palestinos venham até nós, engatinhando, de joelhos (...). Quando tivermos ocupado as terras, os árabes não poderão fazer nada mais do que se revolver como baratas drogadas dentro de uma garrafa”. (Gad Becker, Yediot Ahronot de 13 de abril de 1983; The New York Times de 14 de abril de 1983).
Meus comentários: aqui, de forma clara e cristalina, em várias passagens, vemos o sentimento que sempre nutriu a liderança sionista, qual seja, a eliminação física e completa da população palestina e árabe em geral de toda a Palestina. Ou, no mínimo a subjugação física e moral, a completa humilhação e escravização. Compara-se a baratas os palestinos. Agora mesmo nas eleições de 10 de fevereiro, onde venceu a direita, Ehud Barak, o grande derrotado do Partido Trabalhista, ministro d Defesa de Israel, fez campanha pedindo votos e atacando o direitista Avigdor Liebermann, que será o provável chanceler do governo de Bibi, afirmando abertamente na sua propaganda na TV: “Quantos palestinos ele já matou?”, ao criticar a inexperiência em guerra do fascista do Partido Israel Beitenu.
Ben Gurion – Fundador do Estado Judeu, em declaração de 1936
“Nós não propomos que proclamemos agora nosso objetivo final, que é de grande alcance – principalmente em relação aos revisionistas que se opõe à partilha. Eu me nego a renunciar a uma grande visão, à visão final que é um componente orgânico, espiritual e ideológico de minhas aspirações sionistas (...). Um estado judeu parcial não é o final, senão somente o princípio. Estou convencido de que nada pode nos impedir de nos estabelecermos em outras partes do país e da região (...). As fronteiras e as aspirações sionistas são de interesse do povo judeu e nenhum fator externo poderá limitá-las (...)”.(Memoirs, Volume III, página 467).
“As fronteiras da aspiração sionista incluem o sul do Líbano, o sul da Síria,a atual Jordânia, toda a Cisjordânia e o Sinai”. (“Report to the World Council of Poale Zion” – antecessor do Partido Trabalhista – em Tel Aviv em 1938, encontrado em Israel Shahak, journal of Palestine Studies, 1981).
“Quando nos convertermos em uma força com peso, como resultado da criação de um estado, aboliremos a partilha e nos expandiremos por toda a Palestina. O Estado será somente uma etapa na realização do sionismo e sua tarefa é preparar terreno para nossa expansão. O estado terá de preservar a ordem, não através da pregação, mas sim com as metralhadoras” (Discurso pronunciado em 1938, do Livro Memórias).
“Deveríamos nos preparar para avançar em uma ofensiva. Nosso objetivo é esmagar o Líbano, a Transjordânia e a Síria. O ponto débil é o Líbano, porque o regime muçulmano é artificial e fácil de ser minado. Teremos de implantar um estado cristão ali e então derrotaremos a Legião Árabe, eliminaremos a Transjordânia; a Síria cairá em nossas mãos. Então nós bombardearemos e ocuparemos Port Said, Alexandria e o Sinai, no Egito” (Michel bar Zoha, Ben Gurion: a Biography, Nova York, Delacorte, 1978).
Meus comentários: aqui também de forma cristalina, o fundador de Israel confessa, nessas várias passagens e discursos, que o plano de partilha da ONU seria apenas o começo para a tomada de toda a Palestina e quiçá, com foi com a guerra de 1967, o Eretz Israel (em hebraico “Grande Israel”, do Tigre, no Iraque ao Nilo, no Egito). O projeto colonialista, aliado com as potências ocidentais era muito grande, incluía quase todo o Oriente Médio. E tudo isso com a força da bala, dos massacres, dos genocídios, amplamente registrados desde 1947, como o de Der Yassim.
Como queríamos demonstrar...
Nas ciências chamadas “exatas”, em especial a física e a matemática, quando terminamos a demonstração de uma equação, quando resolvemos um problema, escrevemos ao final a sigla CQD, “como queríamos demonstrar”. As citações acima compiladas, extraídas de Schoenman, demonstram de maneira cabal pelo menos o seguinte:
1. O projeto sionista é um movimento de colonização, que se articulou com as potências imperialistas do século 20;
2. O objetivo final sempre foi a tomada de todas as terras da Palestina histórica, de forma que a partilha seria apenas uma mera etapa, um passo para a construção de um estado em terras palestinas, quando o grande objetivo seria ampliar o controle territorial, expandindo-o para países como o Líbano, a Jordânia, a Síria e o Egito. Quem sabe até ao Iraque;
3. Sionismo é racismo. As declarações de todos os grandes líderes árabes sempre foram racistas, no sentido de discriminar os árabes e palestinos como cidadãos de segunda classe;
4. Em vários momentos fica claro que o objetivo seria até a eliminação física dos palestinos ou, no mínimo, subjugá-los, humilhá-los e transformá-los em cidadãos de segunda classe.
Essas frases falam por si só. Por isso, esta semana, em véspera do governo fascista de Bibi ser formado em Israel, quando um fascista e racista declarado como Avigdor pode vir a ser ministro das Relações Exteriores, estas frases reforçam, entre nós, lutadores pela causa palestina, a convicção de que estamos certos em nosso caminho e Israel vai se tornando a cada dia um país mais inviável, pelo que vem fazendo há mais de 60 anos contra os palestinos.
(1) Ver livro A História Oculta do Sionismo, da Editora Sundermann, São Paulo, 2008, 243 páginas.
*Lejeune Mirhan, Presidente do Sindicato dos Sociólogos do Estado de São Paulo, Escritor, Arabista e Professor Membro da Academia de Altos Estudos Ibero-Árabe de Lisboa, Membro da International Sociological
Um estudo amplo sobre os dados do Instituto Verificador de Circulação (IVC) – que audita a tiragem de jornais e revistas – e do Ibope – para TV e rádio – comprova que a última década foi de mudanças estruturais. Essas modificações reduziram sensivelmente o papel e a influência da chamada grande mídia – categoria onde entram a Rede Globo, os jornais Folha de S.Paulo, Estado de S. Paulo, O Globo, Jornal do Brasil e Correio Braziliense. E um sensível aumento de competidores, da imprensa do interior e dos jornais populares.
Por Luis Nassif, em seu blog
Entre as TVs abertas, a Globo tinha um share de audiência de 50,7% em 2001. Chegou a bater em 56,7% em 2004 – coincidindo com a queda de audiência do SBT. Hoje está em 40,6% – coincidindo com a subida da TV Record – que saiu de 9,2% em 2001 para 16,2%.
Nas três últimas semanas, o Jornal Nacional deu 26% de audiência em São Paulo. Seis anos atrás, era de 42%. Nessa época, quando o JN caiu para 35% houve um reboliço na Globo. A ponto de edições do JN terem blocos de 22 minutos com várias matérias de apelo.
Aparentemente, perdeu esse pique.
O que interessa
Com os jornais da chamada grande mídia, repete-se o mesmo fenômeno. O estudo dividiu os jornais entre tradicionais (Folha, Estado, Globo, JB e Correio Braziliense), jornais das capitais, jornais do interior e jornais populares.
De 2001 a 2009, os tradicionais perderam 300 mil exemplares diários – de 1,2 milhão para 942 mil, queda de 25%. Os jornais de capitais (excetuando os do primeiro grupo) cresceram de 1,2 milhão para 1, 37 milhão – crescimento de 10,5%. Os jornais populares passaram de 663 mil para 1,2 milhão – alta de 85%. E os jornais do interior saltaram de 300 mil para 552 mil – alta de 83,5%.
Não apenas isso. Nos últimos anos, gradativamente os jornais estão se desvencilhando da pauta da chamada grande mídia. Antes, havia um processo de criação de ondas concêntricas em torno dos temas levantados pelo núcleo central, com os demais jornais acompanhando as manchetes e as análises.
De alguns anos para cá, essa dependência cessou. Um estudo de caso analisou bem essa diferença de enfoque. Lula esteve em São Paulo. Anunciou que as informações do INSS seriam fornecidas em três horas. Os grandes jornais e o JN deram destaque para a visita a uma sinagoga (para repercutir a questão do Holocausto) e para intrigas políticas. Todos os jornais populares, do interior e das capitais, deram destaque àquilo que interessava diretamente ao seu leitor: a diminuição dos prazos de informações do INSS.
Caminho longo
Esse exemplo sintetiza a armadilha na qual se meteu nos últimos anos a chamada grande mídia. Perdeu-se a noção dos temas relevantes ao leitor. Em vez de buscar a informação útil, enrolaram-se no chamado jornalismo de intriga – sempre procurando frases ou enfoques que privilegiassem conflitos.
Enquanto isto, os jornais populares – com exceção dos paulistanos (Agora, Diário de S.Paulo e Jornal da Tarde), que não decolaram – passaram a tratar dos temas de interesse de seu público, assim com os jornais de interior e da capital.
Vai ser um longo trajeto para recuperar os princípios do jornalismo.