segunda-feira, 27 de julho de 2009

O MARTÍRIO DE JOANA D'ARC - 1928

La Passion de Jeanne d'Arc




Sinopse:

França, século XV, Joana de Domrémy, filha do povo, resiste bravamente a ocupação de seu país. É presa, humilhada, torturada e interrogada de maneira impiedosa por um tribunal eclesiástico, que a levou, involuntariamente, a blasfemar. É colocada na fogueira e morre por Deus e pela França. Último filme mudo de Carl Th. Dreyer, a sua obra-prima máxima, o filme mais fiel à história da guerreira. Todos os filmes de Dreyer, basearam-se em obras de ficção ou peças teatrais, exceto O Martírio de Joana d'Arc, que foi inspirado nos manuscritos oficiais do julgamento da donzela de Orléans. Interpretada de maneira soberba por Renée Falconetti, uma atriz de palco, descoberta por Dreyer numa comédia de boulevard, que sob sua direção, interpretou seu personagem sem uma gota de maquiagem. Esta película foi filmada oito anos depois da canonização de Joana d'Arc e dez anos após o fim da Primeira Grande Guerra, tendo ambos acontecimentos influenciado bastante a concepção de Dreyer no contexto da produção.

Essa é uma versão restaurada e telecinada diretamente do negativo original, com uma nova trilha sonora produzida especialmente para obra.


Informações sobre o filme:

Direção: Carl Theodor Dreyer
Roteiro: Joseph Delteil, Carl Theodor Dreyer
Ano: 1928
País: França
Gênero: Drama
Duração: 112 minutos
Título Original: La Passion de Jeanne d'Arc
Título em inglês: The Passion of Joan of Arc
Elenco: Maria Falconetti, Eugene Silvain, Maurice Schutz, Antonin Artaud, Michel Simon, Jean d'Yd, André Berley, Louis Ravet, Armand Lurville, Jacques Arnna
Créditos: F.A.R.R.A.-KillBill
Crítica:

São muitos os mitos e histórias que cercam a produção do filme “O Martírio de Joana D´Arc”, obra do cineasta dinamarquês Carl Theodor Dreyer. Reza a lenda que todos os negativos do filme foram perdidos, e apenas um rolo regular foi achado. Essa preciosidade se encontrava no porão de um hospício da Dinamarca.

Vários grandes diretores já narraram a história Joana D'Arc: George Meliés, Robert Bresson, Rosselini são alguns deles. Recentemente Luc Besson idealizou um filme bem famoso sobre a donzela de Orléans. Vários grandes filmes, mas nada que se compare ao filme de Dreyer. Motivo? A belíssima e inesquecível atuação de Maria Falconetti, e a sensibilidade imposta pelo diretor, conhecido como o "o cineasta da vida interior". (...)
Continuação em http://www.cineplayers.com/critica.php?id=1210


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domingo, 26 de julho de 2009

Estava demorando...


Elaine Tavares

Quem assiste TV deve se lembrar. Quando o então senador Barak Obama era candidato à presidência dos Estados Unidos havia uma espécie de “esperança” no sujeito. Era, afinal, um negro, coisa inédita naquele país, bonito, simpático, charmoso, um “democrata”. E, por conta disso, a mídia cortesã o pintava como uma novidade, aquele que iria mudar a cara dos EUA , dar uma certa leveza ao império. Bem, substituir George Bush já significava isso. Mas, entre os “arautos da desgraça” - que são os que tem olho crítico e conhecem a história – já se vaticinava. “Não haverá novidades. Os democratas não se diferenciam dos republicanos em quase nada, a não ser talvez numa certa simpatia tal como se pode encontrar em Carter, Clinton e agora em Obama”. Havia a certeza de que as coisas não mudariam. Bem, aí está o cenário latino-americano se redesenhando na era Obama. E aquilo que Bush, na sua truculência não conseguiu, o jovem charmoso parece lograr.

George Bush saiu de cena com um grande osso na garganta: a Venezuela bolivariana. Durante todo seu mandato não havia conseguido dobrar o país de Bolívar, comandado agora por Hugo Chávez. Este, por sua vez, foi comendo o mingau pelas beiradas. Colocou água no plano da ALCA, desestabilizou alguns Tratados de Livre Comércio bilaterais, criou a PetroCaribe, amealhou aliados como a Nicarágua, a Bolívia, o Equador e conseguiu com que alguns dirigentes auto-denominados à esquerda se aliassem em algumas propostas pontuais dentro da lógica da ALBA, o contraponto da proposta estadunidense. Era um avanço e tanto no território de poder dos Estados Unidos que, por seu lado, andava atolado nas guerras do Afeganistão e do Iraque, que ainda não logrou concluir em face da resistência heróica do povo, que podia até não querer os talibãs ou Sadam, mas também não quer nenhum governo de dominação.

Pois agora com a chegada de Obama, os Estados Unidos tentam recuperar as rédeas da sua reserva estratégica de riquezas, a América Latina. E, para isso, nada melhor do que uma boa e velha receita, tantas vezes já utilizada em momentos de tentativas de rebelião da massa do “quintal”: o golpe militar. Assim, ao contrário do que fizera Bush, que tentara desalojar Chávez em seu próprio país, num golpe de estado articulado pela mídia e pela classe dominante, a jogada do governo Obama é muito mais inteligente. Organiza e leva a cabo um golpe militar numa pequena república da América Central, periférica ao território “rebelde”, mas com algumas ligações políticas capazes de levantar a fúria dos seus aliados. Escolhe Honduras, governada por um latifundiário bem intencionado que já se atrevera a realizar negócios com a Venezuela, buscando melhorar a vida do povo hondurenho.

Manuel Zelaya começou a orbitar o caminho da alternativa bolivariana quando acordou entrar para a PetroCaribe e realizou negócios de compra de petróleo em condições bastante justas e vantajosas para seu país. Foi o que bastou para ficar na mira do império. Assim, quando acenou com a possibilidade de consultar o povo sobre uma mudança constitucional, veio o golpe. Claro, querer ouvir o povo era um pouco demais.

Agora o império se rearticula na América Latina. Dá uma boa lição nos pequenos que tentam fugir de sua órbita, acusa o governo do Equador de ligações “obscuras” com as FARC e acena com a possibilidade de criar várias outras bases militares na Colômbia, uma vez que está para perder a que tem no Equador. Assim, vai cercando os seus potenciais inimigos – Venezuela e Equador – e recuperando o controle na região. É uma grande ofensiva estadunidense o que se vê desde o golpe de Honduras. Nas declarações de seus governantes, o que fica claro é que a única legalidade possível em Honduras é o não retorno de Zelaya. Pode até haver novas eleições, mas sem Zelaya. Ora, isso é apoio explícito ao golpe.

Por conta destes novos movimentos no xadrez político a América Latina está em estado de alerta. Os ataques contra os governos orientados ao socialismo vão recrudescer e isso fica claro nas notícias dos jornais e na histeria dos jornalistas a soldo. Basta ver como tratam a questão do Equador, os conflitos na Bolívia e as posições da Venezuela. A política imperialista dos Estados Unidos segue, portanto, tão dura quanto sempre foi. A diferença é que agora quem a comanda é um jovem negro, charmoso, bonito, sorridente e bom bailarino. Não é à toa que Luis Inácio, o presidente brasileiro, o tenha convidado para uma pescaria no Pantanal. Tristemente, nosso país está mais para capacho do que para território soberano, e certamente ainda se prestará a sujos papéis neste jogo que recomeça.

A "ideologia" da midia de esgoto...

Os chacais de guarda

Emir Sader

O que seria dos interesses das elites dominantes, se não contassem com escribas, pagos pelas empresas de mídia privada, para tentar fazer passar esses interesses com se fossem os interesses do país? Para isso eles contam com equipes de “cães de guarda”, que defendem, com unhas e dentes, os interesses das elites dominantes, especialmente concentrados na mídia.

Tentam, por exemplo, identificar a liberdade com a liberdade do capital, condenando qualquer forma de limitação à sua livre circulação. Tentar identificar liberdade com a existência da grande propriedade privada, opondo-se a qualquer definição de critérios sociais para a propriedade, especialmente a monopólica e a propriedade não produtiva no campo, opondo-se a qualquer tipo de ação de socialização da propriedade. Porque essas próprias empresas são monopolistas.

O filósofo francês Paul Nizan escreveu um livro, em 1932, a que deu o nome de “Cães de guarda” para se referir aos intelectuais que prestam serviço de promover legitimidade e dar razões de sobrevivência ao poder das elites dominantes. “Eles adorariam ser Zola, mas para acusar as vítimas...”, escreve Serge Halimi, no prefácio da edição mais recente do livro, mencionando como esses guardiães da ordem estabelecida adoram estar de acordo com seus patrões, acusando os pobres, os marginalizados, as vítimas do sistema, como se fossem verdugos. “Quanto à sua obra, ela se autodestrói um quarto de segundo depois do tiro de morteiro midiático...”, acrescenta Halimi.

Na introdução do livro de Halimi, “Os novos cães de guarda” – publicado no Brasil pela Jorge Zahar -, Pierre Bourdieu recorda como trabalhos de denuncia desse tipo contribui a “arruinar um dos suportes invisíveis da prática jornalística, a amnésia...” E se pergunta: “por que, de fato, os jornalistas não deveriam responder por suas palavras, dado que eles exercem um tal poder sobre o mundo social e sobre o próprio mundo do poder?”

Mas, entrando já diretamente nos chacais de guarda daqui – para não ofender aos cães -, se tiverem paciência, olhem alguns dos livros que decretaram o fim do governo Lula em 2005. Uma jornalista que insiste em fazer comentários sem voltar sobre o que disse ontem, sustentava seu livro oportunista para ganhar dinheiro e agradar seus patrões com a crise de 2005, apoiada por outro colunista que come nas mesmas mãos, que reiterava essa morte do governo na contracapa do livro. Como não tem compromisso algum com o que escrevem, que só se justifica pelos serviços prestados a seus empregadores, fontes e outros representantes das elites dominantes, seguem em frente como se não tivessem dito nada ontem, como seguirão amanhã fingindo que não disseram nada hoje. Não são mais do que ventríloquos dessas elites.

Indo mais longe: a imprensa que convocou os militares a dar golpe militar, apoiou a derrubada do governo legalmente constituído de Jango e sustentou o golpe militar, inclusive reproduzindo as versões mentirosas que escondiam os seqüestros, as torturas e os fuzilamentos dos opositores, segue de acordo com as posições que tiveram. Um dos jornais, que emprestou seus carros, para que os órgãos repressivos da ditadura atuassem disfarçados de jornalistas, nem sequer tentou se defender das gravíssimas acusações, que faz com que a empresa, os jornais que publicam e os membros dos comitês editoriais, tenham as mãos sujas de sangue pelos seqüestros, torturas e execuções da ditadura. Ao não fazerem autocrítica, automaticamente aceitam ter cometido esses crimes de lesa democracia e jornalismo minimamente objetivo.

Essa mesma mídia vive acusando o povo de “não ter memória”. Talvez seja essa a razão pela qual elegem e reelegem os lideres políticos execrados diariamente pela mídia, porque hoje não obedecem a seus desígnios.

Mas são eles os primeiros a cultuarem a falta de memória, a amnésia, de todos, ao esquecer o que disseram ontem. Estiveram a favor da ditadura, com que moral acusam governos e partidos de não ser democráticos?

O que dizem os empregados de uma empresa que praticamente nasceu durante a ditadura, foi o órgão oficial da ditadura? Que legitimidade acreditam que podem ter órgãos dessa empresa?

Um dos colunistas de um dos jornais da imprensa de propriedade de uma das poucas famílias que dominam de forma monopolista o ramo, se orgulha de nunca ter ido aos Forúns Sociais Mundiais, por ter ido a todos os Foruns de Davos – onde manifestamente ele se sente no seu mundo. Seria bom ele ouvir agora os arautos da globalização – incluído seu prócer FHC – para saber o que pensam da crise atual, provocada por suas políticas. Teria que se deslocar não a Davos, mas algumas prisões, onde alguns deles foram encarcerados, depois de reveladas suas trapaças – alias, nenhuma delas revelada pela imprensa, conivente e complacente com o ricaços de Davos.

Um outro jornalista disse, em outro momento da sua carreira, em conferência pública, que quando um jornalista senta para escrever uma matéria, pensa, em primeiro lugar, no dono da empresa; em segundo, nas fontes do que vai publicar; em terceiro na enorme quantidade de desempregados do lado de fora da empresa. A esse filtro haveria que acrescentar as agências de publicidade e os grandes grupos econômicos que financiam os órgãos de imprensa e acabam pagando os seus salários.

Foi se criando uma verdadeira casta de jornalistas, empregados dos maiores meios de imprensa no Brasil, promíscuos com o poder, que renunciam a qualquer ataque aos interesses do poder que dominou o país durante séculos: capital financeiro, grandes monopólios, latifundiários, as próprias grandes empresas monopólicas da mídia, o imperialismo norteamericano, o FMI, o Banco Mundial, a OMC, a direita política – Tucanos, DEM, FHC, Serra, Tasso Jereissatti, Jarbas Vasconcellos.

Preferem, para conveniência de seus empregos e dos interesses dos seus patrões, atacar o que incomoda à direita – sindicatos, o MST, o pensamento critico, as universidades publicas, os partidos de esquerda.

Além dos casos mencionados, há os pobres diabos que querem adquirir certo verniz “intelectual” – não agüentam a inveja do pensamento crítico – e citam autores, viajam pelo mundo em eventos sem nenhuma importância, escrevem em jornais e falam em rádios e TVs, sem nenhum prestigio, colunas que ninguém leva a sério ou mesmo lê. Um deles foi chefe de gabinete de um dos ditadores, depois foi demitido, fotografado na cama para a Playboy, tentando mostrar méritos que não conseguiu na política e que circulava nos governos anteriores com toda promiscuidade pelos ministérios e Palácio do Planalto – de que esse tipo de gente sentem uma falta danada.

A ideologia do “’quarto poder” se tornou antiquada, porque o monopólio da mídia privada detém muito mais poder do que isso, termina dando direção ideológica e política aos fracos partidos opositores. Claro que o que realmente não são é “contra-poder”, porque na verdade fazem parte intrínseca dos poderes constituídos, como força conservadora.

Como a noticia se transformou definitivamente em uma mercadoria na mão dessa casta, perdeu toda credibilidade. Conhece-se o caso de colunistas econômicos que fingem estar preocupados com a situação de um setor do empresariado, ao vendem reunião e assessoria com eles, em troca de defender mais explicitamente seus interesses. Se devem às suas fontes, a tal ponto que a editoria econômica passou a ser a mais comprometida com os interesses criados, de forma similar a como certa cobertura policial se deve às fontes nas delegacias e nas policias, sem as quais ficam sem seus “furos”.

“Quem paga, comanda”, recorda Halimi. E a mídia, como sabemos é financiada não pelos leitores com as compras na banca e as assinaturas, mas pelas agencias de publicidade. E vejam quem são os grandes anunciantes, com os quais a mídia tem o rabo preso – bancos, telefonias, fabricas de automóveis, etc. Não pelas organizações populares, sindicatos, centros culturais, nada disso. Quem paga, comanda. Já vieram jornais, rádios,televisões, colunistas, fazem campanha de denuncia – com um pouquinho da sanha que tem contra o governo e a esquerda – contra os bancos, suas falcatruas, contra as grandes corporações multinacionais, contra a lavagem de dinheiro nos paraísos fiscais? Nâo, porque seria tiro no pé, atentado contra os que financiam a essa mídia.

Perguntado sobre como a elite controla a mídia, Chomsky respondeu: “Como ela controla a General Motors? A questão nem se coloca. A elite não tem que controlar a General Motors. Ela lhe pertence. Albert Camus disse que a mídia francesa se tornou “a vergonha do país.” E a nossa? O Brasil e seu povo têm orgulho ou vergonha dessa mídia que anda por ai?

A lei apresentada pelo governo argentino para regulamentar o audiovisual – umas das razões da brutal ofensiva da imprensa de lá contra seu governo – determina que as empresas da mídia tem que declarar publicamente suas fontes de financiamento – quem as financia, com que quantidades de dinheiro. Poderiam aproveitar e declarar publicamente quanto ganham os magnatas dessa casta midiática, enquanto a massa dos jornalistas ganha uma miséria, é terceirizado e passível a qualquer momento de serem mandado embora, se não cumprem à risca as orientações que os chacais lhes impõem.

Um jornalista norteamericano citado por Halimi, disse: “Sobre as questões econômicas (impostos, ajuda social, política comercial, luta contra o déficit, atitude em relação aos sindicatos), a opinião dos jornalistas de renome tornou-se muito mais conservadora à medida que suas rendas foram aumentando”.

Quem discorda dos consensos que tentam impor nos seus desagradabilíssimos e redundantes programas de entrevistas ou suas colunas de merchandising , como se sabe, é chamado de “populista”, de “demagogo”, de “aventureiro”. Que são, como também se sabe, os governantes que fazem políticas sociais e têm alto nível de apoio da população. Por isso chamam sempre os mesmos, seus amigos, operadores das bolsas de valores, empresários que passam a lhes dever favores, para dizer as mesmas baboseiras que a realidade não se cansa de desmentir.

“Mídias cada vez mais concentradas, jornalistas cada vez mais dóceis, uma informação cada vez mais medíocre” –conclui Halimi. E cita um político de direita francês, Claude Allègre, sobre as possibilidades do meio midiático se reformar: “Eu vou lhes dar uma resposta estritamente marxista, eu que jamais fui marxista: porque não há interesse... Por que vocês queriam que os beneficiários dessa situação sintam necessidade de mudá-la?” E, para concluir, conforme se aproxima a Conferencia Nacional de Comunicação, declaração do também conservador jornalista Frances Jacques Julliard: “Uma das reformas mais urgentes neste país, seria aquela que pudesse dar às mídias um mínimo de seriedade e de dignidade. Sobretudo de dignidade!”

Ainda sobre o Golpe em Honduras....

O ENVOLVIMENTO DOS EUA
NO GOLPE DAS HONDURAS


ZELAYA CUMPRIMENTA O CORONEL COMANDANTE DAS FORÇAS HONDURENHAS EM LAS MANOS ANTES DE REGRESSAR À NICARÁGUA













Editores de odiario.info

Transcorrido um mês do golpe de estado nas Honduras, tornou-se transparente – as provas acumuladas são irrefutáveis – que o Departamento de Estado dos Estados Unidos teve conhecimento prévio do gorilazo e que a secretária Hillary Clinton aprovou o papel decisivo desempenhado pelo embaixador norte-americano na sua preparação.

• Nos dias que precederam a prisão e deportação para a Costa Rica do Presidente Manuel Zelaya, os generais golpistas e assessores de Micheletti realizaram reuniões na Embaixada dos Estados Unidos, com a presença do chefe da missão diplomática. Este interveio na discussão e somente discordou da data escolhida, sugerindo que o golpe deveria ser desfechado após as eleições previstas para Janeiro.

• O embaixador Hugo Llorens é um cubano de Miami, naturalizado, e conspirou contra Zelaya em ligação com o subsecretario de Estado Thomas Shanon e o embaixador John Negroponte, destacado elemento da CIA, actualmente assessor de Hillary Clinton.

• O embaixador teve conhecimento e apoiou a formação, nas semanas anteriores ao golpe, de uma coligação de partidos políticos da direita, empresários, membros da hierarquia católica e directores de órgãos de comunicação social, cujo objectivo era o derrubamento do presidente Zelaya. Cinco dias antes do golpe um porta-voz dessa coligação, a União Cívica Democrática, dirigiu um apelo às forças armadas para assumirem o seu papel «na defesa da constituição, da paz e do estado de direito». Logo após o gorilazo, a referida União Cívica declarou que a «Democracia tinha sido resgatada».

• Washington, contrariamente aos países da União Europeia, não retirou o seu embaixador de Tegucigalpa, não definiu como «golpe» o cuartelazo, não suspendeu a ajuda económica às Honduras.

• O governo de Obama, se condenou formalmente o golpe, manteve contactos telefónicos com o presidente fantoche Micheletti através de Hillary Clinton e, desde o inicio da crise, utilizou a expressão «as duas partes» colocando no mesmo plano os golpistas e o governo legítimo.

• Partiu do Departamento de Estado a ideia da mediação de Oscar Arias. O objectivo foi ganhar tempo e impedir o regresso imediato de Zelaya. O presidente da Costa Rica, que é um aliado submisso de Washington, colocou no mesmo plano o governo legítimo das Honduras e os golpistas.

• O ex-candidato à Presidência senador McCain coordenou a visita a Washington de golpistas com o conhecimento e aprovação do Departamento de Estado e promoveu os seus contactos com lobbys favoráveis a Micheletti.

• O estado-maior da Força Aérea Hondurenha continua instalado na base militar norte-americana de Palmerola, situada perto de Tegucigalpa.

• Os generais golpistas são diplomados pela Escola de Las Américas dos EUA, especializada em cursos «anti-insurreccionais» e de «combate ao socialismo». O chefe do gorilazo, general Romeo Vasquez, cumpriu pena de prisão em 1993 por ser o chefe de uma organização criminosa que roubava automóveis. Continua ser recebido cordialmente na base militar estadunidense.

Hillary Clinton teima em insistir na fracassada mediação de Oscar Arias, defende «o diálogo» com os golpistas e criticou a decisão do presidente Zelaya de regressar ao seu pais.

***

A cumplicidade dos EUA no golpe é tão evidente que tanto as cadeias de televisão como os grandes diários dos EUA reconhecem que uma atitude de Washington de apoio firme ao regresso de Manuel Zelaya teria há muito posto fim à crise.

O Presidente atravessou na sexta-feira a fronteira e pisou solo hondurenho por alguns minutos, num regresso simbólico.

Mas são do domínio da especulação quaisquer previsões sobre a evolução da crise e a reinstalação na Presidência de Zelaya.

O apoio inconfessado dos EUA aos golpistas é hoje inocultável. Obama está consciente de que o regresso do presidente constitucional a Tegucigalpa reforçaria em toda a América Latina as forças progressistas e anti-imperialistas.

O povo hondurenho, apoiado por um largo movimento de solidariedade internacional, com destaque para os povos da América Latina – que sabem que este golpe se dirige também contra todos e cada um deles – prossegue e organiza a resistência cívica e democrática.



sábado, 25 de julho de 2009

Enquanto isso em Honduras...

Zelaya afirmou que o país estava dando um "exemplo de paz" ao mundo






Adital -


O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, entrou ontem(24) no país, na cidade de Paraíso, pela fronteira com Nicarágua, através da cidade de Las Manos. Às 14h25 de Honduras (17h25 de Brasília), um coronel das Forças Armadas permitiu o ingresso de Zelaya, que foi recebido por milhares de hondurenhos. Até o fechamento desta edição, no entanto, o presidente se mantinha na fronteira.

Ao ingressar, Zelaya agradeceu ao povo hondurenho e afirmou que o país estava dando um "exemplo de paz" ao mundo. O presidente havia chegado à fronteira às 13 horas de Honduras. Inicialmente, o mandatário havia sido impedido de ingressar em sua nação pelas forças militares.

O presidente deposto pediu à nação que "não se use de violência, já que tenho o direito legítimo de regressar a meu país e atender o mandato que o povo hondurenho me deu", informou a TeleSul.

Ao chegar, Zelaya garantiu que os soldados iriam "baixar os rifles", "porque são bons hondurenhos". "Quero fazer um chamado ao povo hondurenho para que não se renda, porque estariam sacrificando o futuro de nossos filhos a um grupo golpista", afirmara o presidente constitucional, segundo a TeleSul.

"Mel", como é popularmente chamado, espera por sua família na cidade hondurenha de Paraíso. A primeira dama, Xiomara Castro de Zeleya, seus filhos, mãe e sogra ainda não puderam chegar ao local. Devido ao bloqueio da estrada, os parentes de Zelaya se deslocam à fronteira a pé.

A mãe de Zelaya, dona Hortenzia, pediu ao general Romeo Vásquez, chefe das Forças Armadas hondurenhas, que seja mais flexível e coopere com o povo.

O presidente provisório, Roberto Micheletti, havia decretado toque de recolher na fronteira, que foi tomada por hondurenhos que exigiam a entrada de Zelaya. A medida deveria impedir o trânsito de hondurenhos na fronteira das 12h da tarde até as 4h30 da manhã, mas os manifestantes pró-Zelaya se mantiveram no local.

No início da tarde, as Forças Armadas arremeteram contra os manifestantes que viajaram de diferentes cidades do país até a fronteira. Segundo informações da TeleSul, a polícia lançou bombas de gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes. Um manifestante disse ao canal de televisão que uma pessoa ficou ferida, mas a informação ainda não foi confirmada.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

A crise estrutural do capital...















Mészáros: Crise e Revolução

*Por Plínio de Arruda Sampaio Jr.

Os sete ensaios de interpretação histórica reunidos por István Mészáros em ‘A Crise Estrutural do Capital’ articulam-se em torno de um objetivo central: definir o marco histórico mais geral dentro do qual se dá a crise econômica mundial. Com textos escritos ao longo de várias décadas, o mais antigo em 1971 e o mais recente em 2009, a publicação condensa a quinta-essência da reflexão do filósofo húngaro - um dos expoentes do pensamento marxista contemporâneo - sobre as causas e as conseqüências da "crise estrutural do sistema de metabolismo do capital" – o processo que condiciona as mudanças tectônicas de nossa época. Preparado especialmente para o público brasileiro, o livro conta ainda com uma providencial introdução de Ricardo Antunes, na qual se encontra uma didática exposição do sistema teórico de Mészáros, o que facilita muito a vida dos leitores que não conhecem a complexidade de sua filosofia.

Tendo como prisma o papel primordial da luta de classes na determinação do movimento histórico, a reflexão apresentada em ‘A Crise Estrutural do Capital’ organiza-se em função de duas questões fundamentais: entender por que o capital não é mais capaz de encontrar soluções duradouras para seus próprios problemas, ficando, por essa razão, condenado a exacerbar todas as suas taras; e desvendar, nas contradições inscritas no próprio desenvolvimento capitalista, os requisitos e as condições para ir além do capital.

Tomando como substrato de sua interpretação o movimento histórico das últimas quatro décadas, seu diagnóstico sobre a natureza do capitalismo contemporâneo é implacável. Sem espaço para acomodar as contradições com o trabalho, o processo de valorização do capital assume um caráter particularmente reacionário, violento e predatório, inaugurando uma época histórica marcada por forte instabilidade econômica, grandes convulsões sociais e inevitáveis turbulências políticas.

Crítico das estratégias gradualistas, que buscam soluções institucionais para os problemas gerados pela crise estrutural, restringindo a ação política aos marcos da ordem. A razão desta impossibilidade é que a absoluta subordinação do Estado burguês à lógica do capital torna o poder público impotente para conter os excessos do capital. Em tais circunstâncias, a intervenção do Estado na economia perde todas as suas propriedades curativas para se converter em causa adicional de agravamento da crise do capital, realidade que fica evidente na patética estratégia de "nacionalização da bancarrota" que caracteriza a política econômica das potências imperialistas para combater as crises dos negócios, como a provocada pelo estouro da bolha especulativa em 2008.

Ainda que a crise estrutural do capital bloqueie o crescimento da economia mundial, desencadeando uma tendência estrutural à estagnação, não há em Mészáros nem sombra de uma teoria do colapso que poderia colocar em causa a própria sobrevivência do capitalismo. Neste ponto, seu raciocínio não deixa margem para confusão. Se as bases do regime não forem negadas, o capital sempre encontrará, à custa de grandes sacrifícios humanos e ambientais, um meio de restaurar as condições para a sua valorização, mesmo que apenas para preparar uma nova crise econômica ainda mais violenta no futuro. Em outras palavras, largado à sua própria sorte, o desenvolvimento capitalista torna-se uma crise permanente. Sua interpretação sobre o significado da crise estrutural para o futuro da humanidade segue por outro caminho.

A incapacidade de o capital encontrar soluções duradouras para seus problemas abre ‘brechas’ para a primazia da política, criando condições para o aparecimento de conjunturas revolucionárias que podem (ou não) ser aproveitadas para ir além do capital. Preocupado em tirar as conseqüências práticas de seu diagnóstico, Mészáros estabelece as diretrizes que devem orientar a organização da revolução e o caminho para o socialismo.

Sem se intimidar com assuntos-tabu, ‘A Crise Estrutural do Capital’ contém uma profunda crítica às experiências socialistas do século XX. Para evitar os impasses das revoluções operárias que ficam a meio caminho entre o capitalismo e o socialismo, sujeitas permanentemente aos riscos da restauração capitalista, a ruptura com o sistema de metabolismo do capital deve ser total. A superação das teias que atam a humanidade às determinações da lógica do capital requer não apenas a negação da santíssima trindade que sustenta o sistema de metabolismo do capital - propriedade privada, trabalho assalariado e Estado como aparelho de poder – como também a afirmação de um modo alternativo de organizar a vida material - a produção planejada de valores de uso por indivíduos sociais livremente associados.

Ainda que a forma de argumentação e a linguagem de Mészáros possam dar a impressão, muitas vezes, de que suas soluções sejam abstratas, descoladas da realidade, sua teoria da transição tem conseqüências práticas concretas. Revelando a forte influência de Rosa Luxemburgo em suas convicções políticas, o segredo da transição reside em devolver o controle efetivo das decisões estratégicas, econômicas e políticas aos produtores diretos, subordinando integralmente a esfera da produção material à esfera social, pois, somente assim as transformações promovidas no calor da luta revolucionária podem funcionar como ‘alavancas estratégicas’ de impulso permanente à criação de uma sociedade sem classes, baseada na igualdade substantiva como princípio organizador da vida social.

Publicado com a evidente intenção de dialogar com os intelectuais e os militantes do movimento socialista brasileiro, na expectativa de que o agravamento da crise estrutural do capital abra novas ‘brechas’ para a práxis revolucionária, ‘A Crise Estrutural do Capital’ é um livro criativo e ousado. Em suas páginas o leitor encontrará as grandes controvérsias que cercam o debate sobre as condições e os desafios da transição socialista. Sua leitura incita a reflexão e o estudo. É um convite não apenas para voltar a ler Marx, Engels, Lênin, Rosa Luxemburgo e todos os clássicos do marxismo revolucionário, como também para retomar a rica e profícua produção intelectual do próprio Mészáros.

*Plínio de Arruda Sampaio Jr. é professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas – IE/UNICAMP.

**Resenha do livro A Crise Estrutural do Capital, de István Mészaros, publicado pela Editora Boitempo, 2009. - Fonte: Correio da Cidadania

Breve biografia de Guimarães Rosa













João Guimarães Rosa, mais conhecido como Guimarães Rosa (Cordisburgo, 27 de junho de 1908 — Rio de Janeiro, 19 de novembro de 1967) foi um dos mais importantes escritores brasileiros de todos os tempos. Foi também médico e diplomata.



Os contos e romances escritos por João Guimarães Rosa ambientam-se quase todos no chamado sertão brasileiro. A sua obra destaca-se, sobretudo, pelas inovações de linguagem, sendo marcada pela influência de falares populares e regionais. Tudo isso, somado a sua erudição, permitiu a criação de inúmeros vocábulos a partir de arcaísmos e palavras populares, invenções e intervenções semânticas e sintáticas.


Guimarães Rosa foi o primeiro dos sete filhos de Florduardo Pinto Rosa ("Fulô") e de D. Francisca Guimarães Rosa ("Chiquitinha").


Autodidata, começou ainda criança a estudar diversos idiomas, iniciando pelo francês quando ainda não tinha 7 anos, como se pode verificar neste trecho de entrevista concedido a uma prima, anos mais tarde:


“Eu falo: português, alemão, francês, inglês, espanhol, italiano, esperanto, um pouco de russo; leio: sueco, holandês, latim e grego (mas com o dicionário agarrado); entendo alguns dialetos alemães; estudei a gramática: do húngaro, do árabe, do sânscrito, do lituano, do polonês, do tupi, do hebraico, do japonês, do checo, do finlandês, do dinamarquês; bisbilhotei um pouco a respeito de outras. Mas tudo mal. E acho que estudar o espírito e o mecanismo de outras línguas ajuda muito à compreensão mais profunda do idioma nacional. Principalmente, porém, estudando-se por divertimento, gosto e distração”.


Ainda pequeno, mudou-se para a casa dos avós, em Belo Horizonte, onde concluiu o curso primário. Iniciou o curso secundário no Colégio Santo Antônio, em São João del-Rei, mas logo retornou a Belo Horizonte, onde se formou. Em 1925, matriculou-se na então "Faculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais", com apenas 16 anos.


Em 27 de junho de 1930, casou-se com Lígia Cabral Penna, de apenas 16 anos, com quem teve duas filhas: Vilma e Agnes. Ainda nesse ano se formou e passou a exercer a profissão em Itaguara, então município de Itaúna (MG), onde permaneceu cerca de dois anos. Foi nessa localidade que passou a ter contato com os elementos do sertão que serviram de referência e inspiração a sua obra.


De volta de Itaguara, Guimarães Rosa serviu como médico voluntário da Força Pública (atual Polícia Militar), durante a Revolução Constitucionalista de 1932, indo para o setor do Túnel em Passa-Quatro (MG) onde tomou contato com o futuro presidente Juscelino Kubitschek, naquela ocasião o médico-chefe do Hospital de Sangue. Posteriormente, entrou para o quadro da Força Pública, por concurso. Em 1933, foi para Barbacena na qualidade de Oficial Médico do 9º Batalhão de Infantaria. Aprovado em concurso para o Itamaraty, passou alguns anos de sua vida como diplomata na Europa e na América Latina.


No início da carreira diplomática, exerceu, como primeira função no exterior, o cargo de Cônsul-adjunto do Brasil em Hamburgo, na Alemanha, de 1938 a 1942. No contexto da Segunda Guerra Mundial, para auxiliar judeus a fugir para o Brasil, emitiu, ao lado da segunda esposa, Aracy de Carvalho Guimarães Rosa, mais vistos do que as cotas legalmente estipuladas, tendo, por essa ação humanitária e de coragem, ganhado, no pós-Guerra, o reconhecimento do Estado de Israel. Aracy é a única mulher homenageada no Jardim dos Justos entre as Nações, no Museu do Holocausto, em Israel.


No Brasil, em sua segunda candidatura para a Academia Brasileira de Letras, foi eleito por unanimidade (1963). Temendo ser tomado por uma forte emoção, adiou a cerimônia de posse por quatro anos. Em seu discurso, quando enfim decidiu assumir a cadeira da Academia, em 1967, chegou a afirmar sob tom sarcástico: "...a gente morre é para provar que viveu."[1] Faleceu três dias mais tarde na cidade do Rio de Janeiro, em 19 de novembro. Se o laudo médico atestou um infarto, sua morte permanece um mistério inexplicável, sobretudo por estar previamente anunciada em sua obra mais marcante — Grande Sertão: Veredas —, romance qualificado por Rosa como uma "autobiografia irracional". Talvez a explicação esteja na própria travessia simbólica do rio e do sertão de Riobaldo, ou no amor inexplicável por Diadorim, maravilhoso demais e terrível demais, beleza e medo ao mesmo tempo, ser e não-ser, verdade e mentira.


Diadorim-Mediador, a alma que se perde na consumação do pacto com a linguagem e a poesia. Riobaldo (Rosa-IO-bardo), o poeta-guerreiro que, em estado de transe, dá à luz obras-primas da literatura universal. Biografia e ficção se fundem e se confundem nas páginas enigmáticas de João Guimarães Rosa, desaparecido prematuramente aos 59 anos de idade, no ápice de sua carreira literária e diplomática.


Contexto literário


Realismo mágico, regionalismo, liberdades e invenções lingüísticas e neologismos são algumas das características fundamentais da literatura de Guimarães Rosa, mas não as suficientes para explicar seu sucesso. Guimarães Rosa prova o quão importante é ter a linguagem a serviço da temática, e vice-versa, uma potencializando a outra. Nesse sentido, o escritor mineiro inaugura uma metamorfose no regionalismo brasileiro que o traria de novo ao centro da ficção brasileira.


Guimarães Rosa também seria incluído no cânone internacional a partir do boom da literatura latino-americano pós-1950. O romance entrara em decadência nos Estados Unidos (onde à época era vitrine da própria arte literária, concorrendo apenas com o cinema), especialmente após a morte de Céline (1951), Thomas Mann (1955), Albert Camus (1960), Hemingway (1961), Faulkner (1962). E, a partir de Cem anos de solidão (1967), do colombiano Gabriel García Márquez, a ficção latino-americana torna-se a representação de uma vitalidade artística e de uma capacidade de invenção ficcional que pareciam, naquele momento, perdidas para sempre. São desse período os imortais Vargas Llosa (Peru), Carlos Fuentes (México), Julio Cortázar (Argentina), Juan Rulfo (México), Alejo Carpentier (Cuba) e mais recentemente Angel Ramá (Uruguai).


(Extraído de Wikipédia, a Enciclopédia Livre, em http://pt.wikipedia.org/wiki/Guimar%C3%A3es_Rosa)

A China e os turcos...

A questão turca na China: o ocidente do oriente




Escrito por Isaac Bigio

Xinjiang em julho de 2009, assim como o Tibete em 2008, viu vários enfrentamentos sangrentos entre nativos e imigrantes urbanos provenientes do resto da China. Ambas são as duas regiões autônomas nas quais se divide o oeste da República Popular da China (RPC). Pequim promoveu a imigração de chineses Hans a essas zonas pouco povoadas, a fim de i-las homogeneizando.

Mesmo assim, no ‘oeste do leste’ as nações nativas têm tradições mais afins às de seus vizinhos da Ásia central que às da distante capital Pequim. As línguas, alfabetos e autoridades religiosas dali são diferentes em relação ao resto da China.

Os tibetanos têm um idioma e um alfabeto desenvolvido pelos lamas, cuja fé budista é proveniente da Índia.

Os uigures de Xinjiang se originaram nas tribos turcas das planícies da Ásia central que hoje dominam o arco que une Sibéria, o noroeste chinês, cinco ex-repúblicas soviéticas e a Turquia. Essas nações turcas compartilham uma língua similar (e escrevem com caracteres ocidentais ou arábicos) e muitas delas também aderem ao Islã sunita. O ocidente trata de influir sobre Xinjiang e Tibete para pressionar o gigante que vai se potencializando no Oriente.

Hans

Um de cada 5 humanos é han. Os 1,3 bilhão de hans são a maior etnia que o mundo já conheceu. Sua população é maior que a de continentes inteiros, como os das Américas, Europa e África.

Os hans possuem línguas, crenças e costumes diferentes, mas o que os une é sua adesão à civilização chinesa e que eles – ainda que não possam se entender ao se falarem – podem comunicar-se por meio do alfabeto de milhares de caracteres ideográficos dos mandarins.

Apesar de os hans representarem 92% da população da China, seguem sendo uma minoria em quase todas as regiões fronteiriças, como esta em questão.

Desde que em 1949 o Partido Comunista Chinês tomou o poder, este quis absorver ditas regiões (algumas das quais foram independentes) combinando a concessão de autonomias ou direitos nacionais a 54 minorias, com estímulo à luta de classes no interior dessas.

Hoje, Pequim já não promove o igualitarismo, mas sim o capitalismo. Este produziu um boom e uma nova classe de milionários hans, mas também choques entre estes e os trabalhadores ou novas competições empresariais não-hans, cujos reclames as potências ocidentais querem utilizar com a finalidade de ganhar terreno diante de Pequim.

Rebiya Kadeer

Ela se converteu no símbolo do novo nacionalismo uigur que se choca com Pequim. Nascida em Xinjiang, em 1947, e na pobreza, ela se beneficiaria da nova abertura ao mercado promovida por Deng Xiaoping para se converter numa próspera empresária. Entre 1999 e 2005, foi presa para que logo os EUA conseguissem que fosse libertada, exilada em seu solo e um ano depois se transformar na presidente do Congresso Mundial Uigur.

Bush a recebeu apresentando-a como alguém similar ao Dalai Lama. Assim como o patriarca tibetano, ela chama a uma luta pacífica e não-violenta para defender os direitos nacionais e religiosos de sua minoria contra o ‘colonialismo’ chinês (apesar de se opor a qualquer secessão), e se apresenta como uma vítima da ‘tirania comunista’ que encarna o sofrimento de seu povo (ainda que possua um alto padrão de vida).

Enquanto Washington usa Kadeer e o Dalai Lama para tentar romper o monopólio do Partido Comunista sobre o poder e o planejamento econômico na China, Pequim prefere que eles apareçam como os porta-vozes do protesto para desacreditá-la como se fosse um instrumento ocidental e também para debilitar os radicais e possíveis grupos violentos. 

A fundo:

Cabeças de turco

O termo ‘turco’ é algo que vem mudando muito com o tempo. Alguns sustentam que a primeira ilha que os europeus descobriram no Caribe foi a Gran Turca. Essa não foi batizada assim em homenagem ao império otomano, e sim porque Colombo ou seus acompanhantes viram que um cacto que havia ali tinha a forma do chapéu de seus inimigos turcos.

Foi o ódio aos turcos que levou os iberos a buscar cruzar o Atlântico. Meio século antes das viagens de Colombo, os otomanos conquistaram a Roma do leste (Bizâncio) e obstaculizaram o comércio com o Oriente, o que produziu o desejo de encontrar novas rotas.

‘Turco’, dessa forma, era sinônimo da maior ameaça muçulmana que já tinha visto a Cristandade. A principal obra em espanhol foi escrita depois que seu autor (Cervantes) ficou manco em uma batalha contra os otomanos.

Depois, nas Américas de antes da primeira guerra mundial (1914-1918) se denominavam ‘turcos’ os imigrantes que vinham do Mediterrâneo Oriental, ainda que muitos deles não fossem muçulmanos e nem falassem turco, pois eram árabes cristãos ou judeus dos territórios que logo seriam reconhecidos como Síria, Líbano, Palestina ou Jordânia.

Descendentes deles chegaram a ser chefes de Estado (Menem na Argentina, Saca em El Salvador, Turbay na Colômbia, Bucaram e Mahued no Equador), de governo (Simons, no Peru), de oposição (Handal, em El Salvador) ou da maior cidade (Maluf, em São Paulo). Johnson, o prefeito de Londres, é um nova-iorquino de pai turco. Até pouco tempo atrás, ser ‘turco’ equivalia a ser da República da Turquia.

De toda forma, há duas décadas a imprensa mundial começou a se encher de manchetes em que apareciam uns ‘turcos’, que até então haviam estado relativamente relegados. Em 1991, a União Soviética se desintegrou em 15 novas repúblicas (5 das quais falam uma língua turca: Azerbaijão, Turcomenistão, Uzbequistão, Cazaquistão e Quirguistão).

Esses novos membros da ONU começaram a se destacar, seja pelo boom de suas exportações de hidrocarbonetos ou algodão, por suas guerras ou pelos seus laços com o conflito afegão. Dostum, que lutou a favor da União Soviética na invasão do país, ainda tem um feudo turco-uzbeque no Afeganistão.

Os gagauzes da Moldávia, os tártaros da Ucrânia e diversas repúblicas turcas da Rússia foram reivindicando mais direitos nacionais ou mais autonomia. Um dos novos Estados da União Européia, o Chipre, tem em seu interior uma república separatista turca.

Moussavi, que desatou a maior crise do Irã pós-1979 ao questionar os resultados que não o levaram à presidência, nasceu na zona turca do Irã (Azerbaijão do leste), onde possui uma forte base social.

Hoje, ser turco não equivale a ser a ameaça islâmica sobre a Europa ou proveniente do império otomano. Deste último surgiram mais países na África, Ásia e Europa que as 15 repúblicas em que se desintegrou a URSS e nenhum deles, salvo a Turquia ou seu satélite Chipre, se reivindica atualmente como ‘turco’. E mais, cerca de 20% da população da Turquia podem potencialmente rechaçar ser catalogada como ‘turca’, pois falam uma língua indo-européia e podem reivindicar ser parte da maior nação sem Estado que há no mundo (os 25 milhões de curdos).

Turcas não são aquelas populações do Mar Mediterrâneo árabe do qual chegaram os ‘turcos americanos’, mas aquelas nações que se originaram da zona mais mediterrânea e afastada de todo o oceano que existe neste planeta: as planícies da Ásia central.

Há de 180 milhões a 200 milhões de pessoas que falam uma das trinta línguas turcas e que se encontram espalhadas em uma faixa (interrompida apenas pela Mongólia) que vai do sudoeste do Mediterrâneo até o Pacífico norte-oriental asiático. Somente de 30% a 40% deles residem na República da Turquia. O resto vive nas outras cinco repúblicas turcas ex-soviéticas, em uma dúzia de regiões ou repúblicas autônomas da Rússia, China, Moldávia, Ucrânia ou Chipre, em importantes regiões do Irã, Iraque, Afeganistão, Bulgária, Macedônia, Tadjiquistão e Mongólia e em significativas concentrações na Finlândia, Lituânia, Polônia, Alemanha e outras partes da União Européia.

A Turquia sempre mirou a Europa ou o Oriente Médio, enquanto que todas as zonas turcas da Ásia central foram áreas de influência dos impérios russo, persa ou chinês. A possibilidade de se gerar um movimento ou uma liga pan-turca não poderia se realizar antes do colapso soviético.

Paradoxalmente, a zona mais oriental e marginal onde habitam turcos (Sibéria norte-oriental) é aquela de que há mais de 10 milênios partiram os primeiros povoadores que cruzaram a região até o Alaska.

A ilha Gran Turca não foi povoada por turcos, mas os primeiros americanos estão geneticamente emparentados com os siberianos da grande faixa turca.

Na Alemanha se publicou um famoso livro cujo título ‘Cabeça de Turco’ não tinha nada a ver com a forma pela qual foi batizada essa ilha caribenha, mas com a maneira que os alemães vinham tratando os milhões de imigrantes turcos, como se fossem os novos bodes expiatórios.

"Cabeças de turco" podem ser considerados milhões de imigrantes (sobretudo muçulmanos) na Europa que fecha suas fronteiras, assim como os novos movimentos que se desatam na Ásia central. O mote ‘terrorismo uigur’ foi utilizado como se fosse ‘cabeça de turco’ por parte de Wang Lequan (secretário do Comitê Regional do Partido Comunista da China na Região Autônoma Uigur de Xinjiang), que há 15 anos esmaga toda dissidência em Xinjiang.

Por outro lado, uma das questões que mais seguirá convulsionando o mundo pós-guerra fria é a emergência de nações turcas que buscando maiores graus de autonomia ou independência encabecem novos protestos ou guerras.

Mapas das nações turcas no mundo

Isaac Bigio é analista internacional. Foi professor de política brasileira e latino-americana na London School of Economics & Political Sciences.

Este artigo foi retirado do Boletim ‘Análisis Global’, do próprio autor.

Traduzido por Gabriel Brito.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Pré-sal: a esquina de pedra...

Se correr, ele pega; se ficar, ele come; mas se mobilizar, é ele que se ferra




Escrito por Paulo Metri

Os ministros Lobão e Dilma vão aos Estados Unidos para uma reunião de executivos americanos e brasileiros, e para reuniões com autoridades americanas, incluindo o presidente Obama, com o tema principal dos debates sendo o pré-sal. Lembro, de pronto, que amigos me falam há anos sobre o Diálogo Interamericano, entidade com a qual as lideranças brasileiras submissas ao capital internacional, principalmente ao anglo-saxão, selam acordos antes de se candidatarem à Presidência da República, permitindo a elas ter acréscimos consideráveis em suas chances de vencer as eleições. Sempre achei que estes amigos tinham muito da "teoria da conspiração", conceito exposto no filme de mesmo nome, em que o personagem principal via conspiração de grupos e países fortes em diversos atos e fatos. Hoje, começo a achar que existe a possibilidade de eles não estarem tão errados.

Mesmo que não haja a submissão criminosa e impatriótica citada, até porque ela seria um complô contra a sociedade brasileira, existe na atitude dos ministros, inquestionavelmente, um erro de prioridade e outro de entendimento sobre o que representa o pré-sal, ambos muito preocupantes. Erro de prioridade porque os ministros não explicaram, salvo engano, as novas medidas a serem tomadas com relação ao pré-sal para sindicatos, associações de funcionários, federações sindicais, centrais de trabalhadores e nem para nenhum movimento social. A classe trabalhadora e os movimentos sociais não precisam ser ouvidos, segundo os ministros? Pensam eles que estes grupos não têm para onde correr em 2010?

O erro de entendimento é porque o pré-sal é a última oportunidade de redenção do nosso povo sofrido. Apesar de o governo Lula ter como discurso que o lucro da exploração da riqueza do pré-sal deve ser utilizado em programas sociais, a primeira ação dos seus ministros é buscar entregar o petróleo desta área para ser explorado e produzido por empresas estrangeiras, abrindo mão de boa parcela da riqueza. Se disserem que há a necessidade das empresas estrangeiras porque a Petrobrás não tem os recursos, esta afirmação não é verdadeira. A Petrobrás tem os recursos necessários para tocar o pré-sal na velocidade de interesse da sociedade brasileira.

O ministro Lobão parece estar querendo iludir a sociedade, quando diz, por exemplo, que: "60% das ações da Petrobrás estão nas mãos de investidores privados, assim, não podemos entregar o pré-sal para a Petrobrás". Obviamente, o leigo pensa que, se a entrega ocorrer, 60% do petróleo do pré-sal cairá nas mãos dos entes privados. Pois, não se trata disso.

A Petrobrás entrega para acionistas somente dividendos, que correspondem a 25% do "lucro após a retirada das reservas". As reservas são, no mínimo, 10% do "lucro após o pagamento de tributos". Este último lucro é igual a 60% do lucro, porque os tributos são da ordem de 40% do mesmo. Assim, como em mãos privadas estão 60% das ações, a parcela do lucro que vai para as mãos privadas corresponde a somente 8% do lucro (0,60 x 0,25 x 0,90 x 0,60 = 0,08).

Logo depois de confundir a população, o ministro Lobão, dando a impressão de ser grande nacionalista e estatizante, fala: "Por isso, temos que criar uma estatal com 100% das ações em mãos da União". Menos de dez minutos depois, ele continua: "Esta nova empresa ou a própria ANP irá fazer licitações de blocos do pré-sal, onde a Petrobrás e as empresas privadas poderão concorrer". Estas empresas privadas, na grande maioria das vezes, são estrangeiras. Assim, onde está a coerência do ministro nacionalista e estatizante?

Muito mais poderia ser falado, mas não temos que concluir todos os temas neste artigo. Contudo, o ponto mais importante ainda precisa ser dito. Com a orfandade em que a sociedade brasileira se encontra, em matéria de estadistas, e com a mídia do capital deformando a mesma e pobre sociedade, só resta aos movimentos sociais, às entidades de classe dos trabalhadores e aos sindicatos, suas federações e centrais, como repositório do que há de melhor, com relação ao compromisso social e ao sentimento de brasilidade, mobilizarem a sociedade brasileira para dar o recado ao governo: "Não importa o que tenham ouvido nossos ministros, de Obama e demais autoridades estrangeiras, o petróleo brasileiro, incluindo o do pré-sal, é só nosso. Acabou a farra."

Paulo Metri é conselheiro da Federação Brasileira de Associações de Engenheiros.

Grandes companhias farmacêuticas faturam bilhões com a gripe A



É o que informa o insuspeito Financial Times

Algumas das maiores companhias farmacêuticas do mundo estão auferindo bilhões de dólares em receita adicional, em meio à preocupação global sobre a expansão cada vez maior da gripe suína.
Analistas estimam alta significativa nas vendas da GlaxoSmithKline, da Roche e da Sanofi-Aventis, quando elas divulgarem nos próximos dias resultados do primeiro semestre engordados por encomendas governamentais de vacinas contra a gripe e medicamentos antivirais. A informação é do Financial Times.

As novas vendas - ao mesmo tempo em que a suíça Novartis e a americana Baxter, que também produzem vacinas, já divulgaram resultados expressivos - surgem no momento em que o mais recente cômputo aponta para um total de mais de 700 vítimas fatais do vírus da gripe A (H1N1) e para milhões de pessoas infectadas em todo o mundo.

A britânica GlaxoSmithKline (GSK) confirmou que até o momento já vendeu 150 milhões de doses de uma vacina pandêmica contra a gripe (o equivalente ao total anual de vendas de vacinas sazonais contra a doença), a países como o Reino Unido, os EUA, a França e a Bélgica, e anunciou que estava se preparando para expandir a produção.

A GSK também produz o Relenza, um medicamento antivírus que reduz a duração e atenua a severidade da infecção, e está se preparando para ampliar a produção, rumo a uma meta de 60 milhões de doses anuais. O governo do Reino Unido encomendou 10 milhões de doses do medicamento neste ano.

Um dos principais beneficiários do temor crescente de uma pandemia foi a suíça Roche, que vende o Tamiflu, o principal medicamento antiviral usado no combate à gripe, e registra alta considerável nos pedidos de governos e empresas privadas.

Uma pesquisa do banco de investimento americano JPMorgan Chase estimou, na semana passada, que governos de todo o mundo já teriam encomendado quase 600 milhões de doses de vacinas contra a pandemia e adjuvantes (produtos químicos que aumentam sua eficácia). Isso representa US$ 4,3 bilhões em vendas, e existe o potencial de vender mais 342 milhões de doses de vacina, ou US$ 2,6 bilhões, no futuro próximo.

O JP Morgan Chase previu que novos pedidos de antivirais podem elevar as vendas da Roche e da GlaxoSmithKline em mais US$ 1,8 bilhão nos países desenvolvidos e, em potencialmente, mais US$ 1,2 bilhão nas nações em desenvolvimento.

Mas também existem incertezas para os fabricantes de produtos farmacêuticos. Com a probabilidade de demanda superior à oferta e os lotes iniciais de produção sugerindo que o rendimento da vacina contra a pandemia é relativamente baixo, as companhias podem ter de enfrentar escolhas difíceis na alocação de produtos aos diferentes países que estão apresentando encomendas.

As companhias também estão sob pressão para fornecer mais medicamentos e vacinas gratuitamente, ou a preços extremamente baixos, para os países em desenvolvimento.