Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
terça-feira, 29 de dezembro de 2009
Chico mendes - O preço da floresta - 2008
SINOPSE
Foi
o primeiro documentário sobre Chico Mendes dirigido por um brasileiro e
realizado no local onde os fatos aconteceram. Com muita pesquisa,
entrevistas e boas imagens, o documentário atualiza uma história de
vinte anos atrás para a realidade de hoje de Xapuri e do Acre. Merece
ser projetado mais vezes, principalmente na Reserva Chico Mendes, em
Xapuri, e em Rio Branco, para que as pessoas que ajudaram a contar a
história também vejam o alcance, no presente, do que ajudaram a
construir.
DADOS DO ARQUIVO
Áudio: Português
Duração: 43 min.
Qualidade: DVDRip
Tamanho: 370 MB
Servidor: Rapidshare (3 partes)
segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
Uma nova explosão na Palestina
Nicola Nasser, Counterpunch
Nicola Nasser é jornalista. Trabalha em Bir Zeit, Cisjordânia, Território Palestino Ocupado
“Ante a ausência de qualquer esperança, imponhamos o nosso grito de esperança”. Com essa frase, os líderes cristãos palestinos de várias igrejas e organizações ligadas a elas, reunidos em Belém, dia 11/12, concluíram o documento final do encontro, intitulado “Kairos Palestine – 2009: A Moment of Truth”.
O documento pode ser lido (em inglês) em “Teologia da Libertação”. Ali, os cristãos de todo o mundo são convocados para lutar contra a ocupação israelense dos territórios palestinos. O grito desses católicos simboliza ao mesmo tempo uma disposição popular e o status quo político.
Os palestinos sobrevivem e lutam, divididos entre a Cisjordânia governada pelo Fatah (apoiado pelos EUA, com deputados intimidados pelo poder de Israel, potência ocupante, com quem o Fatah coordena suas ações ‘de paz’ e ‘de segurança’, via pela qual o ‘processo de paz’ chega aos 16 anos em impasse total; e prosseguem as construções ilegais de colônias israelenses em territórios ocupados) e a Faixa de Gaza governada pelo Hamas.
Na Faixa de Gaza, o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas)
dedica-se a manter o cessar-fogo, ao mesmo tempo em que participa de
negociações mediadas pelo Egito e pela Alemanha sobre troca de
prisioneiros. Até agora, falharam todas as vias tentadas, sejam
militares sejam políticas; e sucessivas negociações fracassadas fizeram
abortar qualquer perspectiva de paz. A paz parece ser miragem –
perfeita metáfora do futuro de uma comunidade internacional liderada
pelos EUA de Obama. Se se examina o futuro, a única certeza é que a
Palestina está à beira de explodir.
“Não há solução bilateral. O caminho mais curto até o próximo round de violência passará agora pelo fracasso de mais um ‘processo de paz’, que sim, certamente fracassará. Talvez aconteça em 2010. A Palestina está madura para explodir” – disse Gershon Baskin do Israel-Palestine Center for Research and Information, em debate patrocinado pelos russos na Jordânia, semana passada.
“Não há solução bilateral. O caminho mais curto até o próximo round de violência passará agora pelo fracasso de mais um ‘processo de paz’, que sim, certamente fracassará. Talvez aconteça em 2010. A Palestina está madura para explodir” – disse Gershon Baskin do Israel-Palestine Center for Research and Information, em debate patrocinado pelos russos na Jordânia, semana passada.
O “perigoso impasse” exige que se organize “missão de resgate”,
disseram os palestrantes, segundo a Agência Reuters. O
ex-primeiro-ministro russo Evgeny Primakov alertou para a evidência de
que “uma crise real” acontecerá, se a comunidade internacional não
intervier; acrescentou que o chamado “Quarteto para o Oriente Médio”
(EUA, ONU, Rússia e União Europeia) deixou de operar. Dia 15/12, o
presidente Mahmoud Abbas da Autoridade Palestina disse, em reunião do
Conselho Central da OLP em Ramallah: “Agora, a bola está no campo da
comunidade internacional. A bola está com os EUA.”
Abbas parece estar batendo à porta errada. Barack Obama entrará para a história como o primeiro presidente dos EUA que arrastou um tradicional aliado dos EUA, como Abbas, a declarar publicamente que “a Palestina está desapontada com os EUA”, que fracassaram no papel de mediadores no conflito Israel-Palestina.
Abbas parece estar batendo à porta errada. Barack Obama entrará para a história como o primeiro presidente dos EUA que arrastou um tradicional aliado dos EUA, como Abbas, a declarar publicamente que “a Palestina está desapontada com os EUA”, que fracassaram no papel de mediadores no conflito Israel-Palestina.
Isso, apesar da ‘euforia’ que, segundo Obama, teria tomado os
palestinos quando Abbas foi ungido com a honra de receber o primeiro
telefonema de Obama, no instante em que pisou na Casa Branca como
presidente. O governo Obama até agora obteve “avanço zero. Não falhou
apenas ao não conseguir manter ativas as negociações. Falhou também
porque ninguém espera que Obama consiga, mais tarde, o que não
conseguiu no pico de popularidade, nos primeiros dias de governo.” –
Essa é a opinião de Barry Rubin, diretor do Global Research in
International Affairs (GLORIA) Center, Interdisciplinary University,
publicada em Global Politician, edição de 19/12.
Obama detonou a missão de seu próprio enviado especial ao Oriente Médio, George Mitchell, ao mandar para lá a secretária de Estado Hilária Clinton, em março, aparentemente para que reunisse líderes palestinos e israelenses para que reiniciassem as negociações. Fato é que a visita de Hilária Clinton levou a resultado exatamente oposto e marcou completa inversão dos objetivos de quem, para os palestinos, seria negociador honesto e equilibrado. Depois da passagem de Hilária Clinton pela região, deixou de haver mediador e mediação; e os interesses de Israel passaram a dominar todos os contextos; e as negociações foram imediatamente suspensas.
Evento seguinte foi a operação coordenada entre EUA e Israel para matar na manjedoura o Relatório Goldstone – alegadamente porque o relatório criaria “obstáculo substancial” entre os dois lados (nas palavras do secretário de Estado assistente P.J. Crowley, dia 10/12). Com isso, viu-se que o fracasso da missão Clinton não foi apenas resultado das trapalhadas de Hilária Clinton, mas fracasso de toda uma política ideada pelo governo Obama cujo primeiro movimento foi ‘exigir’ “congelamento” de todas as construções de colônias israelenses.
Obama detonou a missão de seu próprio enviado especial ao Oriente Médio, George Mitchell, ao mandar para lá a secretária de Estado Hilária Clinton, em março, aparentemente para que reunisse líderes palestinos e israelenses para que reiniciassem as negociações. Fato é que a visita de Hilária Clinton levou a resultado exatamente oposto e marcou completa inversão dos objetivos de quem, para os palestinos, seria negociador honesto e equilibrado. Depois da passagem de Hilária Clinton pela região, deixou de haver mediador e mediação; e os interesses de Israel passaram a dominar todos os contextos; e as negociações foram imediatamente suspensas.
Evento seguinte foi a operação coordenada entre EUA e Israel para matar na manjedoura o Relatório Goldstone – alegadamente porque o relatório criaria “obstáculo substancial” entre os dois lados (nas palavras do secretário de Estado assistente P.J. Crowley, dia 10/12). Com isso, viu-se que o fracasso da missão Clinton não foi apenas resultado das trapalhadas de Hilária Clinton, mas fracasso de toda uma política ideada pelo governo Obama cujo primeiro movimento foi ‘exigir’ “congelamento” de todas as construções de colônias israelenses.
Dado que Obama ‘exigiu’, Abbas também teve de ‘exigir’. Nessa
operação, Abbas converteu-se em refém de uma ‘exigência’ que Obama
‘exigiu’, não conseguiu impor e não obteve, em jogada na qual Obama...
perdeu. Com Obama, perdeu também Abbas, que pagou caro pelo erro de
deixar todos os seus ovos na cesta de Obama.
Obama e seu governo não dão sinais de arrependimento e seguem os passos da aliança estratégica tradicional entre EUA e Israel, na contramão de todas as ‘mudanças’ que Obama-candidato prometeu aos eleitores. Semana passada, Obama assinou o orçamento da ajuda para segurança que os EUA distribuirão aos seus aliados em 2010; a quota de Israel subiu, para o próximo ano, para US$2,775 bilhões; dos 2,500 bilhões de 2009, alcançará em 2013 $3,1 bilhões.
Obama e seu governo não dão sinais de arrependimento e seguem os passos da aliança estratégica tradicional entre EUA e Israel, na contramão de todas as ‘mudanças’ que Obama-candidato prometeu aos eleitores. Semana passada, Obama assinou o orçamento da ajuda para segurança que os EUA distribuirão aos seus aliados em 2010; a quota de Israel subiu, para o próximo ano, para US$2,775 bilhões; dos 2,500 bilhões de 2009, alcançará em 2013 $3,1 bilhões.
Árabes, inclusive os palestinos, veem aí o dinheiro de que Israel
precisa para alimentar intransigência cada vez mais absoluta contra
qualquer paz. Os $500 milhões alocados para a Autoridade Palestina (nos
quais estão incluídos os 100 milhões do general Keith Dayton), são
suficientes, no máximo, para que a Autoridade Palestina mantenha o
nariz fora d’água e possa continuar operando como força auxiliar do
exército israelense.
Nunca antes, nem em tempos melhores, muito antes de os palestinos dividirem-se entre Fatah e Hamas, antes da reocupação militar em 2002 do território da AP na Cisjordânia e antes do bloqueio imposto a Gaza, a Autoridade Palestina dependeu tanto de patrocinadores. O processo começou, de fato, quando foi assinado em Washington, em 1993, a “Declaração de Princípios” entre a OLP e Israel, pela qual Israel conseguiu livrar-se de todos os deveres e obrigações que, como exército ocupante, a lei internacional lhe impunha.
Confusa, mas muito agradecida, a OLP aceitou o dinheiro que lhe davam como arranjo temporário, à espera de negociações que seriam retomadas e só seriam dadas por concluídas com a criação de um Estado palestino independente que existiria ao lado de Israel, com liberdade e segurança. Essa foi a promessa que os EUA (e a comunidade internacional liderada pelos EUA) fizeram aos palestinos, primeiro em 1999, depois em 2005, depois novamente em 2008 e que, agora, o governo Obama está ‘re-prometendo’!
Mas o dinheiro dos patrocinadores internacionais converteu-se, de arranjo temporário em prática permanente. Assim, o orçamento de Israel foi aliviado, dentre outras despesas, de boa parte de seus gastos com a ocupação militar; e de boa parte de seus gastos com ‘prêmios’ dados a qualquer ação de provocação que possa servir de pretexto para novos atos de violência contra palestinos. Não bastasse, a Autoridade Palestina e a OLP caíram na armadilha e, hoje, tornaram-se reféns das condições políticas que interesse aos patrocinadores impor.
A desilusão com o uso dado ao dinheiro dos patrocinadores internacionais cresce entre os palestinos, tanto quanto cresce a desesperança em relação a qualquer ‘processo de paz’. Os palestinos, que contribuíram muito substancialmente para a construção do Estado em termos regionais e nacionais, e que ainda contribuem significativamente em várias economias regionais e locais, são povo cheio de recursos, de capital, de conhecimento, de competências e talentos para trabalho manual e intelectual, perfeitamente capazes de construir a sociedade que desejem ser e ter.
Nunca antes, nem em tempos melhores, muito antes de os palestinos dividirem-se entre Fatah e Hamas, antes da reocupação militar em 2002 do território da AP na Cisjordânia e antes do bloqueio imposto a Gaza, a Autoridade Palestina dependeu tanto de patrocinadores. O processo começou, de fato, quando foi assinado em Washington, em 1993, a “Declaração de Princípios” entre a OLP e Israel, pela qual Israel conseguiu livrar-se de todos os deveres e obrigações que, como exército ocupante, a lei internacional lhe impunha.
Confusa, mas muito agradecida, a OLP aceitou o dinheiro que lhe davam como arranjo temporário, à espera de negociações que seriam retomadas e só seriam dadas por concluídas com a criação de um Estado palestino independente que existiria ao lado de Israel, com liberdade e segurança. Essa foi a promessa que os EUA (e a comunidade internacional liderada pelos EUA) fizeram aos palestinos, primeiro em 1999, depois em 2005, depois novamente em 2008 e que, agora, o governo Obama está ‘re-prometendo’!
Mas o dinheiro dos patrocinadores internacionais converteu-se, de arranjo temporário em prática permanente. Assim, o orçamento de Israel foi aliviado, dentre outras despesas, de boa parte de seus gastos com a ocupação militar; e de boa parte de seus gastos com ‘prêmios’ dados a qualquer ação de provocação que possa servir de pretexto para novos atos de violência contra palestinos. Não bastasse, a Autoridade Palestina e a OLP caíram na armadilha e, hoje, tornaram-se reféns das condições políticas que interesse aos patrocinadores impor.
A desilusão com o uso dado ao dinheiro dos patrocinadores internacionais cresce entre os palestinos, tanto quanto cresce a desesperança em relação a qualquer ‘processo de paz’. Os palestinos, que contribuíram muito substancialmente para a construção do Estado em termos regionais e nacionais, e que ainda contribuem significativamente em várias economias regionais e locais, são povo cheio de recursos, de capital, de conhecimento, de competências e talentos para trabalho manual e intelectual, perfeitamente capazes de construir a sociedade que desejem ser e ter.
Para tanto, precisam obter o direito à autodeterminação, liberdade,
direito de fazer e de ir e vir, e plena soberania. À medida que cresce
a desilusão, o papel dos patrocinadores políticos internacionais gera
cada dia maiores suspeitas, criando humilhações, exacerbando a
frustração e a desesperança. Em resumo, os patrocínios e o mau uso
dados a essas verbas enfraquecem, na sociedade palestina, todas as
forças e os argumentos da conciliação e da prudência. É como se já
ninguém conseguisse manter tampada a panela, enquanto, dentro, a
pressão só aumenta. O desespero transitório vai-se convertendo em
realidade do dia a dia, em status quo que não se altera.
A frustração dos palestinos em relação à comunidade internacional não é novidade; nasceu na assembleia geral da ONU de 1947, da Resolução n. 181 – que determinou a divisão da terra dos palestinos em dois Estados – e da Resolução n. 194, de 1948. O mesmo sentimento de terem sido traídos encontrou expressão forte na Cisjordânia, no “desapontamento” de que falou Abbas. Em seguida, o presidente da AP anunciou que não concorreria às eleições presidenciais: “Para mim, todos os caminhos estão fechados. Decidi não me candidatar a novo mandato. Não sou otimista nem quero cultivar ilusões” – disse Abbas ao jornal Ash-Sharq Al-Awsat editado em árabe, em Londres.
Quanto à Faixa de Gaza, o último capítulo da traição da Palestina pela comunidade internacional foi enunciado em Paris, dia 22/12, por 16 grupos de direitos humanos, dentre os quais Anistia Internacional, Oxfam e Christian Aid: “A comunidade internacional traiu o povo de Gaza quando não uniu ação aos discursos contra o bloqueio israelense (...). As potências mundiais falharam e traíram o povo comum que sobrevive em Gaza. Houve reuniões e declarações, mas praticamente nenhuma ação contra Israel” – diz o documento final daquela reunião em Paris.
A consciência de terem sido traídos e abandonados é fermento explosivo na Palestina, sobretudo por causa do bloqueio político imposto pela ocupação militar direta dos territórios – o cerco contra a OLP e a Autoridade Palestina na Cisjordânia; e o violento bloqueio israelense imposto na Faixa de Gaza. Todas as condições estão maduras para a eclosão da violência mais brutal: uma 3ª intifada palestina na Cisjordânia, e novo ataque militar por Israel contra os cidadãos em Gaza.
Abbas, em entrevista ao The Wall Street Journal dia 22/12, alertou para a intifada iminente. De fato, disse que “enquanto eu estiver no governo não admitirei que ninguém deflagre uma nova intifada, nunca, nunca. Mas depois que me afastar do governo as coisas mudarão. Não posso oferecer quaisquer garantias.”
Simultaneamente, na Faixa de Gaza, o Hamas – às vésperas do primeiro aniversário da invasão pelo exército israelense (Operação Chumbo Derretido) – alerta para o risco iminente de nova invasão israelense.
O indicador mais visível de que Israel prepara-se para novo ataque é um novo muro de aço, uma muralha que o Corpo de Engenheiros do Exército dos EUA está construindo para cercar toda a área na qual se estima que haja 1.500 túneis operados por palestinos – ao longo dos 14 quilômetros da fronteira Sinai-Gaza. Em janeiro de 2008, milhares de árabes palestinos conseguiram entrar em território egípcio – no momento em que pelo menos um governo árabe conseguiu manifestar alguma solidariedade com o sofrimento dos palestinos que se acumulavam na fronteira à espera de água, comida, remédios, socorro médico. Imediatamente, Israel fechou todas as fronteiras. Então os palestinos começaram a construir túneis.
Agora, soldados dos EUA estão construindo um muralha com placas de aço de 18 metros, testadas em laboratórios norte-americanos para resistirem a bombas e armas de alto calibre, que penetram no solo até uma profundidade de 30 metros. Essas placas de aço, além do mais, desviarão o curso e contaminarão os reservatórios naturais de água subterrânea. Quando a barreira estiver concluída – no máximo dentro de 18 meses –, toda a região perderá acesso a 60% da água hoje existente, segundo Karen Koning AbuZayd, comissária-geral da UNRWA.
Para AbuZayad, que falou em fórum organizado na American University no Cairo, a nova muralha de aço é mais resistente que a Linha Bar Lev, construída pelo exército de Israel na costa leste do Canal de Suez depois de ter ocupado a Península do Sinai, do Egito, em 1967.
Nenhum povo ou país no mundo toleraria esse tipo de muralha ‘defensiva’ em suas fronteiras – caso não conhecido no mundo moderno –, ou deixaria de considerar a construção da muralha como ato de guerra. A muralha de aço só interessa aos objetivos políticos e militares de Israel, embora a muralha, de fato, seja ‘made in USA’ – segundo depoimento de AbuZayd – e esteja sendo construída por soldados da guarda de fronteira egípcia.
A frustração dos palestinos em relação à comunidade internacional não é novidade; nasceu na assembleia geral da ONU de 1947, da Resolução n. 181 – que determinou a divisão da terra dos palestinos em dois Estados – e da Resolução n. 194, de 1948. O mesmo sentimento de terem sido traídos encontrou expressão forte na Cisjordânia, no “desapontamento” de que falou Abbas. Em seguida, o presidente da AP anunciou que não concorreria às eleições presidenciais: “Para mim, todos os caminhos estão fechados. Decidi não me candidatar a novo mandato. Não sou otimista nem quero cultivar ilusões” – disse Abbas ao jornal Ash-Sharq Al-Awsat editado em árabe, em Londres.
Quanto à Faixa de Gaza, o último capítulo da traição da Palestina pela comunidade internacional foi enunciado em Paris, dia 22/12, por 16 grupos de direitos humanos, dentre os quais Anistia Internacional, Oxfam e Christian Aid: “A comunidade internacional traiu o povo de Gaza quando não uniu ação aos discursos contra o bloqueio israelense (...). As potências mundiais falharam e traíram o povo comum que sobrevive em Gaza. Houve reuniões e declarações, mas praticamente nenhuma ação contra Israel” – diz o documento final daquela reunião em Paris.
A consciência de terem sido traídos e abandonados é fermento explosivo na Palestina, sobretudo por causa do bloqueio político imposto pela ocupação militar direta dos territórios – o cerco contra a OLP e a Autoridade Palestina na Cisjordânia; e o violento bloqueio israelense imposto na Faixa de Gaza. Todas as condições estão maduras para a eclosão da violência mais brutal: uma 3ª intifada palestina na Cisjordânia, e novo ataque militar por Israel contra os cidadãos em Gaza.
Abbas, em entrevista ao The Wall Street Journal dia 22/12, alertou para a intifada iminente. De fato, disse que “enquanto eu estiver no governo não admitirei que ninguém deflagre uma nova intifada, nunca, nunca. Mas depois que me afastar do governo as coisas mudarão. Não posso oferecer quaisquer garantias.”
Simultaneamente, na Faixa de Gaza, o Hamas – às vésperas do primeiro aniversário da invasão pelo exército israelense (Operação Chumbo Derretido) – alerta para o risco iminente de nova invasão israelense.
O indicador mais visível de que Israel prepara-se para novo ataque é um novo muro de aço, uma muralha que o Corpo de Engenheiros do Exército dos EUA está construindo para cercar toda a área na qual se estima que haja 1.500 túneis operados por palestinos – ao longo dos 14 quilômetros da fronteira Sinai-Gaza. Em janeiro de 2008, milhares de árabes palestinos conseguiram entrar em território egípcio – no momento em que pelo menos um governo árabe conseguiu manifestar alguma solidariedade com o sofrimento dos palestinos que se acumulavam na fronteira à espera de água, comida, remédios, socorro médico. Imediatamente, Israel fechou todas as fronteiras. Então os palestinos começaram a construir túneis.
Agora, soldados dos EUA estão construindo um muralha com placas de aço de 18 metros, testadas em laboratórios norte-americanos para resistirem a bombas e armas de alto calibre, que penetram no solo até uma profundidade de 30 metros. Essas placas de aço, além do mais, desviarão o curso e contaminarão os reservatórios naturais de água subterrânea. Quando a barreira estiver concluída – no máximo dentro de 18 meses –, toda a região perderá acesso a 60% da água hoje existente, segundo Karen Koning AbuZayd, comissária-geral da UNRWA.
Para AbuZayad, que falou em fórum organizado na American University no Cairo, a nova muralha de aço é mais resistente que a Linha Bar Lev, construída pelo exército de Israel na costa leste do Canal de Suez depois de ter ocupado a Península do Sinai, do Egito, em 1967.
Nenhum povo ou país no mundo toleraria esse tipo de muralha ‘defensiva’ em suas fronteiras – caso não conhecido no mundo moderno –, ou deixaria de considerar a construção da muralha como ato de guerra. A muralha de aço só interessa aos objetivos políticos e militares de Israel, embora a muralha, de fato, seja ‘made in USA’ – segundo depoimento de AbuZayd – e esteja sendo construída por soldados da guarda de fronteira egípcia.
Assim, do ponto de vista dos palestinos, a muralha é vista como
parte da ocupação israelense e ato de agressão – e, claro, como alvo
possível de ataque. Contudo, os palestinos, pelo menos na Faixa de
Gaza, estão em estado de guerra contra Israel, mas não contra o Egito.
Consequentemente, qualquer ato violento que se materialize contra a
muralha deverá ser entendido como ato das hostilidades entre palestinos
e israelenses.
Segundo as análises feitas pelo Hamas, o Egito ter-se-ia precavido contra a reação palestina, árabe, muçulmana e internacional ante mais esse ato de punição coletiva de 1,5 milhão de palestinos, a menos que o Cairo já esteja contando com uma invasão israelense, que levantará “os protestos de sempre”, ante os quais mal se ouvirão protestos específicos contra a muralha.
Israel está trabalhando para desviar a atenção do mundo e ocultar a iminente explosão na Palestina. Por isso, tanto tem falado a respeito de uma “ameaça iraniana” que não poderia ser deixada sem resposta. Tudo indica que o governo Obama já deu luz verde para a agenda sionista e já arrastou consigo os aliados europeus. Pelo que se vê, tudo se passa como se não houvesse outro problema no mundo... além da “ameaça iraniana” e, claro, como sempre, a ‘ameaça’ palestina.
Segundo as análises feitas pelo Hamas, o Egito ter-se-ia precavido contra a reação palestina, árabe, muçulmana e internacional ante mais esse ato de punição coletiva de 1,5 milhão de palestinos, a menos que o Cairo já esteja contando com uma invasão israelense, que levantará “os protestos de sempre”, ante os quais mal se ouvirão protestos específicos contra a muralha.
Israel está trabalhando para desviar a atenção do mundo e ocultar a iminente explosão na Palestina. Por isso, tanto tem falado a respeito de uma “ameaça iraniana” que não poderia ser deixada sem resposta. Tudo indica que o governo Obama já deu luz verde para a agenda sionista e já arrastou consigo os aliados europeus. Pelo que se vê, tudo se passa como se não houvesse outro problema no mundo... além da “ameaça iraniana” e, claro, como sempre, a ‘ameaça’ palestina.
O "Feliz Natal" numa outra perspectiva...
Moises Diniz - EcoDebate
Fico impressionado com o comportamento das pessoas nestes dias de resguardo de Natal e aguardo de Ano Novo. É como se uma luz incandescente emergisse de cada veia e de cada neurônio. É um espetáculo o que acontece no cérebro de cada pessoa.
As pessoas ficam mais alegres, acreditam mais, reduzem os seus medos. Acreditam que o 13º salário vai quitar todas as dívidas e que, de uma hora para outra, a vida vai ser bem melhor no ano que vai nascer.
Aquele que te fez sofrer aperta a tua mão e tu respondes com ternura ao mesmo aperto de mãos. O carrasco que te algemou recebe um abraço teu, mesmo que não tenhas mãos.
O menino da periferia, de cor negra e já sem dentes básicos, aguarda inquieto aquele embrulho que vai lhe trazer alegria. O seu pobre pai, alcoolizado na esquina, não percebe o tamanho do sonho do filho. E se percebe se alcooliza para não perceber.
A menina adolescente acredita que são verdadeiras aquelas palavras lindas que ouviu no celular, que só liga a cobrar, e que não vai demorar a chegada daquele príncipe encantado.
Ela não sabe que aquele calhorda quer apenas se aproveitar de sua carne tenra. Que do outro lado da vila, da vida, da palafita ele dorme numa mansão inconsolável e que o seu sonho juvenil vai acordar com os gritos da primeira briga de rua do ano.
O dono do boteco na ponta da rua acredita que todo o bairro esquecido pelos homens do poder vai se lembrar de quitar as suas dívidas. Ele sonha encher, no ano que vem e que chega sob as primeiras luzes e nos mais sutis apertos de mão, as prateleiras com mais feijão e açúcar, bolacha, sardinha e arroz, palito de fósforo, pouco papel, goiabada e cibalena, muito sal, farinha e pão dormido, lâmina de barbear semanal.
O homem do boteco é como a gente que vende sonhos a prazo, não exige assinatura, não cobra a fatura e nem digital. Tudo fica aguardando o Natal, o Ano Novo que vai chegar como búfalo, locomotiva e temporal.
Esses dias especiais vão trazer de volta o meu emprego, a minha alegria, o meu pão, a mulher perdida, a conta esquecida que o vizinho não pagou. Vai ter leite em toda mama, vergonha em todo homem, beleza em toda dama.
Não serei mais tão estúpido a ponto de não perceber os olhares do povo que exige mais abrigo, escola e pão. Vou abraçar o amanhecer e ver que a vida não passa de um pedaço do universo que também se partiu.
Verei que a felicidade humana é como um pouco de carne na boca sempre faminta de um rico qualquer. E que cada um alimenta o seu animal a partir do tamanho da alma do seu próprio dono.
Por isso me incomodam esses abraços, que parecem laços, pedaços de sonhos que não vão se realizar, como se uma serpente engolisse a outra que também lhe quer bem.
Neste Natal as serpentes de cada mente humana vão abraçar as outras serpentes. Será um abraço de quem come e dorme, veste e acorda a custa do trabalho humano, dos outros trabalhos que não são os seus.
Neste final de ano incerto eu vou abraçar meus amigos que ainda não conheci. Pois sei o quanto é fácil abraçar o meu irmão, minha filha, meu parente. Como abraçar os que choram nas ruas nas quais eu não ando, nas periferias que me fazem medo?
Como dizer ‘Feliz Natal’ para quem não nasceu e ‘Feliz Novo Ano’ para quem envelheceu? Por que abraçar as serpentes que cultivamos e fingir que não vemos a dor que elas produzem lá mais distante, onde meus olhos não alcançam, minha solidariedade não atinge e minha voz não leva nenhum acalanto?
Um Natal assim me deixa doente, é como uma doença antiga, do tempo em que o meu coração se partiu em três, quatro pedaços colossais, a amar meus desejos pequenos e a esquecer os desejos gigantes da humanidade.
Queria um Natal diferente, onde o homem amasse de fato a si mesmo e aos outros. Que as árvores não fossem sufocadas pelos coronéis do carbono, nem as águas, nem o ar, nem as larvas, nem as sementes, nem os pássaros sadios, os doentes, nem as raízes, nem os lagos, nem os homens, nem os peixes, nem os animais de pele, de escama, de asas, nem as lagartas, nem a terra.
Nenhum pedaço de sol eu posso dar, nenhuma esmola que não agüenta uma investigação. Por isso eu vou proteger o sol neste Natal, a única beleza natural que eu posso cuidar. Abraçar a lua não me deixará em conflito com os donos do poder.
Acho que vou acabar abraçando a chuva aqui nesta Amazônia indecente, que fica nua nas aldeias indígenas e não se preocupa com a cretinice dos apóstatas do verde e apóstolos do medo e da moral divina.
Vou abraçar o vento, vou falar com os pedaços soltos de asfalto, porque sei que eles são restos mortais milenares de nossos antepassados, de nossas árvores, animais, tudo que se acumulou no subsolo invisível do planeta. Com eles conversarei.
Pedirei perdão aos entes da floresta, aos meninos pobres e às adolescentes convertidas à prostituição, aos desempregados do capital, aos negros, aos povos indígenas, aos homossexuais, aos africanos, palestinos, aos latinos e iraquianos.
Feliz Natal ao homem das margens dos igarapés amazônicos, às mulheres que não lhe deram a oportunidade de pintar o cabelo, os lábios, usar um bracelete, um vestido de moda, aos pássaros que não se vestem contra o frio ou para adornar a noite.
Lutarei contra os meus medos e as minhas antipatias ao novo, ao desconhecido e a tudo aquilo que maltrata e provoca dúvida, preconceito e aversão. Uma idéia nova, uma pessoa doente, sem lar e esperança, uma nódoa na minha blusa de linho, um desvio no meu caminho, um medo de repartir, de amar.
Feliz Natal aos homens de sonho nobre, de idéias encantadas e coletivas. Que cada silêncio de rua faça nascer uma fogueira de sonhos.
Feliz Natal à humanidade que não se rende ao atraso de acumular sempre as mesmas dores no costado dos fracos e as mais iluminadas alegrias nas almas de poucos.
Feliz Natal!
Moises Diniz é neto de nordestinos de Riacho do Sangue e índios ashaninkas das margens do Rio Amônia, no Acre.
Fico impressionado com o comportamento das pessoas nestes dias de resguardo de Natal e aguardo de Ano Novo. É como se uma luz incandescente emergisse de cada veia e de cada neurônio. É um espetáculo o que acontece no cérebro de cada pessoa.
As pessoas ficam mais alegres, acreditam mais, reduzem os seus medos. Acreditam que o 13º salário vai quitar todas as dívidas e que, de uma hora para outra, a vida vai ser bem melhor no ano que vai nascer.
Aquele que te fez sofrer aperta a tua mão e tu respondes com ternura ao mesmo aperto de mãos. O carrasco que te algemou recebe um abraço teu, mesmo que não tenhas mãos.
O menino da periferia, de cor negra e já sem dentes básicos, aguarda inquieto aquele embrulho que vai lhe trazer alegria. O seu pobre pai, alcoolizado na esquina, não percebe o tamanho do sonho do filho. E se percebe se alcooliza para não perceber.
A menina adolescente acredita que são verdadeiras aquelas palavras lindas que ouviu no celular, que só liga a cobrar, e que não vai demorar a chegada daquele príncipe encantado.
Ela não sabe que aquele calhorda quer apenas se aproveitar de sua carne tenra. Que do outro lado da vila, da vida, da palafita ele dorme numa mansão inconsolável e que o seu sonho juvenil vai acordar com os gritos da primeira briga de rua do ano.
O dono do boteco na ponta da rua acredita que todo o bairro esquecido pelos homens do poder vai se lembrar de quitar as suas dívidas. Ele sonha encher, no ano que vem e que chega sob as primeiras luzes e nos mais sutis apertos de mão, as prateleiras com mais feijão e açúcar, bolacha, sardinha e arroz, palito de fósforo, pouco papel, goiabada e cibalena, muito sal, farinha e pão dormido, lâmina de barbear semanal.
O homem do boteco é como a gente que vende sonhos a prazo, não exige assinatura, não cobra a fatura e nem digital. Tudo fica aguardando o Natal, o Ano Novo que vai chegar como búfalo, locomotiva e temporal.
Esses dias especiais vão trazer de volta o meu emprego, a minha alegria, o meu pão, a mulher perdida, a conta esquecida que o vizinho não pagou. Vai ter leite em toda mama, vergonha em todo homem, beleza em toda dama.
Não serei mais tão estúpido a ponto de não perceber os olhares do povo que exige mais abrigo, escola e pão. Vou abraçar o amanhecer e ver que a vida não passa de um pedaço do universo que também se partiu.
Verei que a felicidade humana é como um pouco de carne na boca sempre faminta de um rico qualquer. E que cada um alimenta o seu animal a partir do tamanho da alma do seu próprio dono.
Por isso me incomodam esses abraços, que parecem laços, pedaços de sonhos que não vão se realizar, como se uma serpente engolisse a outra que também lhe quer bem.
Neste Natal as serpentes de cada mente humana vão abraçar as outras serpentes. Será um abraço de quem come e dorme, veste e acorda a custa do trabalho humano, dos outros trabalhos que não são os seus.
Neste final de ano incerto eu vou abraçar meus amigos que ainda não conheci. Pois sei o quanto é fácil abraçar o meu irmão, minha filha, meu parente. Como abraçar os que choram nas ruas nas quais eu não ando, nas periferias que me fazem medo?
Como dizer ‘Feliz Natal’ para quem não nasceu e ‘Feliz Novo Ano’ para quem envelheceu? Por que abraçar as serpentes que cultivamos e fingir que não vemos a dor que elas produzem lá mais distante, onde meus olhos não alcançam, minha solidariedade não atinge e minha voz não leva nenhum acalanto?
Um Natal assim me deixa doente, é como uma doença antiga, do tempo em que o meu coração se partiu em três, quatro pedaços colossais, a amar meus desejos pequenos e a esquecer os desejos gigantes da humanidade.
Queria um Natal diferente, onde o homem amasse de fato a si mesmo e aos outros. Que as árvores não fossem sufocadas pelos coronéis do carbono, nem as águas, nem o ar, nem as larvas, nem as sementes, nem os pássaros sadios, os doentes, nem as raízes, nem os lagos, nem os homens, nem os peixes, nem os animais de pele, de escama, de asas, nem as lagartas, nem a terra.
Nenhum pedaço de sol eu posso dar, nenhuma esmola que não agüenta uma investigação. Por isso eu vou proteger o sol neste Natal, a única beleza natural que eu posso cuidar. Abraçar a lua não me deixará em conflito com os donos do poder.
Acho que vou acabar abraçando a chuva aqui nesta Amazônia indecente, que fica nua nas aldeias indígenas e não se preocupa com a cretinice dos apóstatas do verde e apóstolos do medo e da moral divina.
Vou abraçar o vento, vou falar com os pedaços soltos de asfalto, porque sei que eles são restos mortais milenares de nossos antepassados, de nossas árvores, animais, tudo que se acumulou no subsolo invisível do planeta. Com eles conversarei.
Pedirei perdão aos entes da floresta, aos meninos pobres e às adolescentes convertidas à prostituição, aos desempregados do capital, aos negros, aos povos indígenas, aos homossexuais, aos africanos, palestinos, aos latinos e iraquianos.
Feliz Natal ao homem das margens dos igarapés amazônicos, às mulheres que não lhe deram a oportunidade de pintar o cabelo, os lábios, usar um bracelete, um vestido de moda, aos pássaros que não se vestem contra o frio ou para adornar a noite.
Lutarei contra os meus medos e as minhas antipatias ao novo, ao desconhecido e a tudo aquilo que maltrata e provoca dúvida, preconceito e aversão. Uma idéia nova, uma pessoa doente, sem lar e esperança, uma nódoa na minha blusa de linho, um desvio no meu caminho, um medo de repartir, de amar.
Feliz Natal aos homens de sonho nobre, de idéias encantadas e coletivas. Que cada silêncio de rua faça nascer uma fogueira de sonhos.
Feliz Natal à humanidade que não se rende ao atraso de acumular sempre as mesmas dores no costado dos fracos e as mais iluminadas alegrias nas almas de poucos.
Feliz Natal!
Moises Diniz é neto de nordestinos de Riacho do Sangue e índios ashaninkas das margens do Rio Amônia, no Acre.
O arco - 2005
SINOPSE
Em
um barco de pesca no mar, um homem de 60 anos tem criado uma menina
desde que ela era um bebê. O combinado é que eles se casariam quando
ela completasse 17 anos, e falta apenas um ano para isso. Eles vivem
uma existência tranqüila e reclusa, rezando e alugando o barco para
pescadores, até que suas vidas são alteradas com o embarque de um
estudante adolescente.
DADOS DO ARQUIVO
Áudio: Japonês
Legendas: Português
Duração: 90 min.
Qualidade: DVDRip
Tamanho: 305 MB
Servidor: Rapidshare (3 partes)
Créditos: Bukowski - Laranja Psicodelica
LINKS
Parte 1
Parte 2
Parte 3
Sobre fome a e miseria...
POBREZA VITORIANA
“Nenhuma «bruxaria económica» poderá ocultar um facto essencial: a actual crise, a mais profunda e global do sistema capitalista desde há quase um século, cai já com toda a violência sobre os trabalhadores e as camadas mais desprotegidas da sociedade, e está longe de ter atingido seu auge. O capitalismo hoje globalmente hegemónico conduz a retrocessos sociais de enorme e trágica extensão, e essa situação não se verifica apenas nos países mais dependentes e menos desenvolvidos. Verifica-se igualmente em países centrais do sistema.”
Uma das mais curiosas expressões que a crise global do sistema
capitalista pôs a uso entre os economistas anglo-saxónicos mais
esclarecidos é o termo «voodoo economics». Traduzido será algo como
«bruxarias económicas».
Significa esta expressão que muitos economistas do sistema que não dispõem - por insuficiência científica dos instrumentos teóricos que adoptam - de condições para interpretar a natureza da crise e para apontar as vias para a sua superação, recorrem à tentativa de influenciar factores subjectivos, na esperança absurda de que esses factores possam alterar condições objectivas perante as quais são, ou preferem ser, impotentes.
Nenhuma «bruxaria económica» poderá ocultar um facto essencial: a actual crise, a mais profunda e global do sistema capitalista desde há quase um século, cai já com toda a violência sobre os trabalhadores e as camadas mais desprotegidas da sociedade, e está longe de ter atingido seu auge. O capitalismo hoje globalmente hegemónico conduz a retrocessos sociais de enorme e trágica extensão, e essa situação não se verifica apenas nos países mais dependentes e menos desenvolvidos. Verifica-se igualmente em países centrais do sistema.
Um estudo recente publicado pela Fabian Society (The Independent, 30.11.2009) utiliza uma comparação brutal: «a Inglaterra encontra-se perante o risco de regressar a níveis de pobreza idênticos aos da época vitoriana». Não precisamos de reler Engels (ou Dickens) para alcançar a dimensão deste alerta. Na Inglaterra vitoriana o acelerado desenvolvimento do capitalismo gera situações da mais extrema miséria e degradação social. Os baixíssimos salários são contidos por um colossal exército de reserva de desempregados, as condições de habitação e de vida do proletariado são desumanas, o trabalho infantil (incorporando crianças com apenas três anos de idade) é a regra nas explorações mineiras, a prostituição e a prisão por dívidas são o futuro previsível dos pobres, cuja esperança de vida não atinge os vinte e seis anos.
Que uma organização reformista inglesa hoje ligada ao «New Labour» recorra a um tão dramático alerta diz quase tudo.
Na Inglaterra vitoriana Marx e Engels apontaram o caminho para a superação revolucionária da situação existente.
É hoje também no combate das massas pelo socialismo que reside a via para a resolução da miséria, das injustiças e das desigualdades que a exploração capitalista gerará sempre enquanto existir.
Este texto foi publicado no Avante nº 1.882 de 23 de Dezembro de 2009
Significa esta expressão que muitos economistas do sistema que não dispõem - por insuficiência científica dos instrumentos teóricos que adoptam - de condições para interpretar a natureza da crise e para apontar as vias para a sua superação, recorrem à tentativa de influenciar factores subjectivos, na esperança absurda de que esses factores possam alterar condições objectivas perante as quais são, ou preferem ser, impotentes.
Nenhuma «bruxaria económica» poderá ocultar um facto essencial: a actual crise, a mais profunda e global do sistema capitalista desde há quase um século, cai já com toda a violência sobre os trabalhadores e as camadas mais desprotegidas da sociedade, e está longe de ter atingido seu auge. O capitalismo hoje globalmente hegemónico conduz a retrocessos sociais de enorme e trágica extensão, e essa situação não se verifica apenas nos países mais dependentes e menos desenvolvidos. Verifica-se igualmente em países centrais do sistema.
Um estudo recente publicado pela Fabian Society (The Independent, 30.11.2009) utiliza uma comparação brutal: «a Inglaterra encontra-se perante o risco de regressar a níveis de pobreza idênticos aos da época vitoriana». Não precisamos de reler Engels (ou Dickens) para alcançar a dimensão deste alerta. Na Inglaterra vitoriana o acelerado desenvolvimento do capitalismo gera situações da mais extrema miséria e degradação social. Os baixíssimos salários são contidos por um colossal exército de reserva de desempregados, as condições de habitação e de vida do proletariado são desumanas, o trabalho infantil (incorporando crianças com apenas três anos de idade) é a regra nas explorações mineiras, a prostituição e a prisão por dívidas são o futuro previsível dos pobres, cuja esperança de vida não atinge os vinte e seis anos.
Que uma organização reformista inglesa hoje ligada ao «New Labour» recorra a um tão dramático alerta diz quase tudo.
Na Inglaterra vitoriana Marx e Engels apontaram o caminho para a superação revolucionária da situação existente.
É hoje também no combate das massas pelo socialismo que reside a via para a resolução da miséria, das injustiças e das desigualdades que a exploração capitalista gerará sempre enquanto existir.
Este texto foi publicado no Avante nº 1.882 de 23 de Dezembro de 2009
domingo, 27 de dezembro de 2009
"Amigos, estou com dificuldades para acessar os blog do boogler via blogspot. Somente consigo usando o programa de proxi. Não sei o que acontece, nem meu blog consigo acessar normalmente atraves do firefox. Se alguem mais estiver passando por dificuldades semelhantes entre em contato. Será o inicio do controle da blogsfera pela midia corporativa? Tomara que não. Abraços a todos...."
Eduardo Galeano é fantástico...
Quatro frases que fazem crescer o nariz do Pinóquio
por Eduardo Galeano
[*]
1. Somos todos culpados pela ruína do planeta
A saúde do mundo está um asco. "Somos todos responsáveis", clamam as vozes do alarme universal e a generalização absolve: se somos todos responsáveis, já ninguém é. Reproduzem-se como coelhos os novos tecnocratas do meio ambiente. É a taxa de natalidade mais alta do mundo: os peritos geram peritos e mais peritos que se ocupam de envolver o tema na papel celofane da ambiguidade. Eles fabricam a nevoenta linguagem das exortações ao "sacrifício de todos" nas declarações dos governos e nos solenes acordos internacionais que ninguém cumpre. Estas cataratas de palavras – inundação que ameaça converter-se numa catástrofe ecológica comparável ao buraco do ozono – não se desencadeiam gratuitamente. A linguagem oficial afoga a realidade para conceder impunidade à sociedade de consumo, a qual é imposta como modelo em nome do desenvolvimento e para as grandes empresas que lhe extraem o sumo. Mas as estatísticas confessam. Os dados ocultos sob o palavreado revelam que 20 por cento da humanidade comete 80 por cento das agressões contra a natureza, crime que os assassinos chamam suicídio, e é a humanidade inteira quem paga as consequências da degradação da terra, da intoxicação do ar, do envenenamento da água, do enlouquecimento do clima [1] e da dilapidação dos recursos naturais não renováveis. A senhora Harlem Bruntland, que encabeça o governo da Noruega, comprovou recentemente que os 7 mil milhões de povoadores do planeta consumissem o mesmo que os países desenvolvidos do Ocidente, "seriam precisos 10 planetas como o nosso para satisfazer as suas necessidades". Uma experiência impossível. Mas os governantes dos países do Sul prometem a entrada no Primeiro Mundo, passaporte mágico que nos tornará todos ricos e felizes, não deveriam ser processados apenas por trapaça. Não estão apenas a escarnecer de nós, não: além disso, esses governantes estão a cometer o delito de apologia do crime. Porque este sistema de vida que se oferece como paraíso, fundado na exploração do próximo e na aniquilação da natureza, é o que nos está a enfermar o corpo, a envenenar-nos a alma e a deixar-nos sem mundo.
2. É verde o que se pinta de verde
Agora, os gigantes da indústria química fazem a sua publicidade em cor verde e o Banco Mundial lava a sua imagem repetindo a palavra ecologia em cada página dos seus relatórios e tingindo de verde os seus empréstimos. "Nas condições dos nossos empréstimos há normas ambientais estritas", esclarece o presidente da banca suprema do mundo. Somos todos ecologistas, até que alguma medida concreta limita a liberdade de contaminação. Quando foi aprovada no Parlamento do Uruguai uma tímida lei de defesa do meio ambiente, as empresas que lançam veneno ao ar apodrecem as águas arrancaram subitamente a recem comprada máscara verde e gritaram a sua verdade em termos que poderiam assim ser resumidos: "os defensores da natureza são advogados da pobreza, dedicados a sabotar o desenvolvimento económico e a espantar o investimento estrangeiro". O Banco Mundial, em troca, é o principal promotor da riqueza, do desenvolvimento e do investimento estrangeiro. Talvez por reunir tanas virtudes, o Banco manejará, junto à ONU, o recem criado Fundo para o Meio Ambiente Mundial. Este imposto à má consciência disporá de pouco dinheiro, 100 vezes menos do que haviam pedido os ecologistas, para financiar projectos que não destruam a natureza. Intenção impecável, conclusão inevitável: se esses projectos exigem um fundo especial, o Banco Mundial está a admitir, de facto, que todos os seus demais projectos fazem um fraco favor ao meio ambiente. O Banco chama-se Mundial, como o Fundo Monetário chama-se Internacional, mas estes irmãos gémeos vivem, ganham e decidem em Washington. Quem paga, manda e a numerosa tecnocracia jamais cospe no prato onde come. Sendo, como é, o principal credor do chamado Terceiro Mundo, o Banco Mundial governo nossos países cativos que pelo serviço da dívida pagam aos seus credores externos 250 mil dólares por minuto e lhes impõe a sua política económica em função do dinheiro que concede ou promete. A divinização do mercado, que compra cada vez menos e paga cada vez pior, permite apinhar de quinquilharias mágicas as grandes cidades do Sul do mundo, drogadas pela religião do consumo, enquanto os campos se esgotam, apodrecem as águas que nos alimentam e crosta seca cobre os desertos que antes foram bosques.
3. Entre o capital e o trabalho, a ecologia é neutra
Poder-se-á dizer qualquer coisa de Al Capone, mas ele era um cavalheiro: o bom do Al sempre enviava flores aos velórios das suas vítimas... As empresas gigantes da indústria química, petrolífera e automobilística pagaram boa parte dos gastos da Eco 92. A conferência internacional que no Rio de Janeiro se ocupou da agonia do planeta. E essa conferência, chamada Cimeira da Terra, não condenou as transnacionais que produzem contaminação e dela vivem e nem sequer pronunciou uma palavra contra a ilimitada liberdade de comércio que torna possível a venda de veneno. No grande baile de máscaras do fim do milénio, até a indústria química veste-se de verde. A angústia ecológica perturba o sono dos maiores laboratórios do mundo, que para ajudar à natureza estão a inventar novos cultivos biotecnológicos. Mas estes desvelos científicos não se propõem encontrar plantas mais resistentes às pragas sem ajuda química. Buscam, sim, plantas capazes de resistir aos praguicidas e herbicidas que esses mesmos laboratórios produzem. Das 10 maiores empresas produtoras de sementes do mundo, seis fabricam pesticidas (Sandoz, Ciba-Geigy, Dekalb, Pfiezer, Upjohn, Shell, ICI). A indústria química não tem tendências masoquistas. A recuperação do planeta ou o que nos resta dele implica a denúncia da impunidade do dinheiro e da liberdade humana. A ecologia neutra, que se parece antes à jardinagem, faz-se cúmplice da injustiça de um mundo onde a comida sã, a água limpa, o ar puro e o silêncio não são direitos de todos e sim privilégios dos poucos que podem pagá-los. Chico Mendes, seringueiro, caiu assassinado em fins de 1988, na Amazónia brasileira, por acreditar no que acreditava: que a militância ecológica não se pode divorciar da luta social. Chico acreditava que a floresta amazónica não será salva enquanto não se fizer a reforma agrária no Brasil. Cinco anos depois do crime, os bispos brasileiros denunciaram que mais de 100 trabalhadores por ano morrem assassinados na luta pela terra e calcularam que quatro milhões de camponeses sem trabalho vão para as cidades abandonando as plantações do interior. Adaptando os números de cada país, a declaração dos bispos retrata toda a América Latina. As grandes cidades latino-americanas, inchadas, a rebentar pela incessante invasão de exilados do campo, são uma catástrofe ecológica: uma catástrofe que não se pode entender nem mudar dentro dos limites da ecologia, surda perante o clamor social e cega perante o compromisso político.
4. A natureza está fora de nós
Nos seus 10 mandamentos, Deus esqueceu de mencionar a natureza. Entre as ordens que nos envio do monte Sinai, o Senhor teria podido acrescentar, por exemplo: "Honrarás a natureza de que fazes parte". Mas não lhe ocorreu. Há cinco séculos, quando a América foi apresada pelo mercado mundial, a civilização invasora confundiu a ecologia com a idolatria. A comunhão com a natureza era pecado. E merecia castigo. Segundo as crónicas da Conquista, os índios nómadas que usavam cascas de árvores para vestir-se jamais descascavam todo o tronco, para não aniquilar a árvore. E os índios sedentários plantavam cultivos diversos e com períodos de descanso, para não cansar a terra. A civilização que vinha impor as devastadoras monoculturas de exportação não podia entender as culturas integradas à natureza e confundiu-as com a vocação demoníaca ou a ignorância. Para a civilização que diz ser ocidental e cristã, a natureza era uma besta feroz que era preciso domar e castigar para que funcionasse como uma máquina, posta ao nosso serviço desde sempre e para sempre. A natureza, que era eterna, devia-nos escravatura. Muito recentemente percebemos que a natureza se cansa, como nós, seus filhos, e soubemos que, como nós, pode morrer assassinada. Já não se fala de submeter a natureza. Agora, até os seus verdugos dizem que há que protegê-la. Mas num caso ou outro, natureza submetida e natureza protegida, ela está fora de nós. A civilização que confunde os relógios com o tempo, o crescimento com o desenvolvimento e o grandote com a grandeza, também confunde a natureza com a paisagem, enquanto o mundo, labirinto sem centro, dedica-se a romper o seu próprio céu.
[1] O clima (felizmente) não pode ser enlouquecido pela
acção humana. Esta tem poder "apenas" para
degradar e
destruir o ambiente. (N.R.)
A saúde do mundo está um asco. "Somos todos responsáveis", clamam as vozes do alarme universal e a generalização absolve: se somos todos responsáveis, já ninguém é. Reproduzem-se como coelhos os novos tecnocratas do meio ambiente. É a taxa de natalidade mais alta do mundo: os peritos geram peritos e mais peritos que se ocupam de envolver o tema na papel celofane da ambiguidade. Eles fabricam a nevoenta linguagem das exortações ao "sacrifício de todos" nas declarações dos governos e nos solenes acordos internacionais que ninguém cumpre. Estas cataratas de palavras – inundação que ameaça converter-se numa catástrofe ecológica comparável ao buraco do ozono – não se desencadeiam gratuitamente. A linguagem oficial afoga a realidade para conceder impunidade à sociedade de consumo, a qual é imposta como modelo em nome do desenvolvimento e para as grandes empresas que lhe extraem o sumo. Mas as estatísticas confessam. Os dados ocultos sob o palavreado revelam que 20 por cento da humanidade comete 80 por cento das agressões contra a natureza, crime que os assassinos chamam suicídio, e é a humanidade inteira quem paga as consequências da degradação da terra, da intoxicação do ar, do envenenamento da água, do enlouquecimento do clima [1] e da dilapidação dos recursos naturais não renováveis. A senhora Harlem Bruntland, que encabeça o governo da Noruega, comprovou recentemente que os 7 mil milhões de povoadores do planeta consumissem o mesmo que os países desenvolvidos do Ocidente, "seriam precisos 10 planetas como o nosso para satisfazer as suas necessidades". Uma experiência impossível. Mas os governantes dos países do Sul prometem a entrada no Primeiro Mundo, passaporte mágico que nos tornará todos ricos e felizes, não deveriam ser processados apenas por trapaça. Não estão apenas a escarnecer de nós, não: além disso, esses governantes estão a cometer o delito de apologia do crime. Porque este sistema de vida que se oferece como paraíso, fundado na exploração do próximo e na aniquilação da natureza, é o que nos está a enfermar o corpo, a envenenar-nos a alma e a deixar-nos sem mundo.
2. É verde o que se pinta de verde
Agora, os gigantes da indústria química fazem a sua publicidade em cor verde e o Banco Mundial lava a sua imagem repetindo a palavra ecologia em cada página dos seus relatórios e tingindo de verde os seus empréstimos. "Nas condições dos nossos empréstimos há normas ambientais estritas", esclarece o presidente da banca suprema do mundo. Somos todos ecologistas, até que alguma medida concreta limita a liberdade de contaminação. Quando foi aprovada no Parlamento do Uruguai uma tímida lei de defesa do meio ambiente, as empresas que lançam veneno ao ar apodrecem as águas arrancaram subitamente a recem comprada máscara verde e gritaram a sua verdade em termos que poderiam assim ser resumidos: "os defensores da natureza são advogados da pobreza, dedicados a sabotar o desenvolvimento económico e a espantar o investimento estrangeiro". O Banco Mundial, em troca, é o principal promotor da riqueza, do desenvolvimento e do investimento estrangeiro. Talvez por reunir tanas virtudes, o Banco manejará, junto à ONU, o recem criado Fundo para o Meio Ambiente Mundial. Este imposto à má consciência disporá de pouco dinheiro, 100 vezes menos do que haviam pedido os ecologistas, para financiar projectos que não destruam a natureza. Intenção impecável, conclusão inevitável: se esses projectos exigem um fundo especial, o Banco Mundial está a admitir, de facto, que todos os seus demais projectos fazem um fraco favor ao meio ambiente. O Banco chama-se Mundial, como o Fundo Monetário chama-se Internacional, mas estes irmãos gémeos vivem, ganham e decidem em Washington. Quem paga, manda e a numerosa tecnocracia jamais cospe no prato onde come. Sendo, como é, o principal credor do chamado Terceiro Mundo, o Banco Mundial governo nossos países cativos que pelo serviço da dívida pagam aos seus credores externos 250 mil dólares por minuto e lhes impõe a sua política económica em função do dinheiro que concede ou promete. A divinização do mercado, que compra cada vez menos e paga cada vez pior, permite apinhar de quinquilharias mágicas as grandes cidades do Sul do mundo, drogadas pela religião do consumo, enquanto os campos se esgotam, apodrecem as águas que nos alimentam e crosta seca cobre os desertos que antes foram bosques.
3. Entre o capital e o trabalho, a ecologia é neutra
Poder-se-á dizer qualquer coisa de Al Capone, mas ele era um cavalheiro: o bom do Al sempre enviava flores aos velórios das suas vítimas... As empresas gigantes da indústria química, petrolífera e automobilística pagaram boa parte dos gastos da Eco 92. A conferência internacional que no Rio de Janeiro se ocupou da agonia do planeta. E essa conferência, chamada Cimeira da Terra, não condenou as transnacionais que produzem contaminação e dela vivem e nem sequer pronunciou uma palavra contra a ilimitada liberdade de comércio que torna possível a venda de veneno. No grande baile de máscaras do fim do milénio, até a indústria química veste-se de verde. A angústia ecológica perturba o sono dos maiores laboratórios do mundo, que para ajudar à natureza estão a inventar novos cultivos biotecnológicos. Mas estes desvelos científicos não se propõem encontrar plantas mais resistentes às pragas sem ajuda química. Buscam, sim, plantas capazes de resistir aos praguicidas e herbicidas que esses mesmos laboratórios produzem. Das 10 maiores empresas produtoras de sementes do mundo, seis fabricam pesticidas (Sandoz, Ciba-Geigy, Dekalb, Pfiezer, Upjohn, Shell, ICI). A indústria química não tem tendências masoquistas. A recuperação do planeta ou o que nos resta dele implica a denúncia da impunidade do dinheiro e da liberdade humana. A ecologia neutra, que se parece antes à jardinagem, faz-se cúmplice da injustiça de um mundo onde a comida sã, a água limpa, o ar puro e o silêncio não são direitos de todos e sim privilégios dos poucos que podem pagá-los. Chico Mendes, seringueiro, caiu assassinado em fins de 1988, na Amazónia brasileira, por acreditar no que acreditava: que a militância ecológica não se pode divorciar da luta social. Chico acreditava que a floresta amazónica não será salva enquanto não se fizer a reforma agrária no Brasil. Cinco anos depois do crime, os bispos brasileiros denunciaram que mais de 100 trabalhadores por ano morrem assassinados na luta pela terra e calcularam que quatro milhões de camponeses sem trabalho vão para as cidades abandonando as plantações do interior. Adaptando os números de cada país, a declaração dos bispos retrata toda a América Latina. As grandes cidades latino-americanas, inchadas, a rebentar pela incessante invasão de exilados do campo, são uma catástrofe ecológica: uma catástrofe que não se pode entender nem mudar dentro dos limites da ecologia, surda perante o clamor social e cega perante o compromisso político.
4. A natureza está fora de nós
Nos seus 10 mandamentos, Deus esqueceu de mencionar a natureza. Entre as ordens que nos envio do monte Sinai, o Senhor teria podido acrescentar, por exemplo: "Honrarás a natureza de que fazes parte". Mas não lhe ocorreu. Há cinco séculos, quando a América foi apresada pelo mercado mundial, a civilização invasora confundiu a ecologia com a idolatria. A comunhão com a natureza era pecado. E merecia castigo. Segundo as crónicas da Conquista, os índios nómadas que usavam cascas de árvores para vestir-se jamais descascavam todo o tronco, para não aniquilar a árvore. E os índios sedentários plantavam cultivos diversos e com períodos de descanso, para não cansar a terra. A civilização que vinha impor as devastadoras monoculturas de exportação não podia entender as culturas integradas à natureza e confundiu-as com a vocação demoníaca ou a ignorância. Para a civilização que diz ser ocidental e cristã, a natureza era uma besta feroz que era preciso domar e castigar para que funcionasse como uma máquina, posta ao nosso serviço desde sempre e para sempre. A natureza, que era eterna, devia-nos escravatura. Muito recentemente percebemos que a natureza se cansa, como nós, seus filhos, e soubemos que, como nós, pode morrer assassinada. Já não se fala de submeter a natureza. Agora, até os seus verdugos dizem que há que protegê-la. Mas num caso ou outro, natureza submetida e natureza protegida, ela está fora de nós. A civilização que confunde os relógios com o tempo, o crescimento com o desenvolvimento e o grandote com a grandeza, também confunde a natureza com a paisagem, enquanto o mundo, labirinto sem centro, dedica-se a romper o seu próprio céu.
O original encontra-se em cultural.argenpress.info/2009/12/cuatro-frases-que-hacen-crecer-la-nariz.html
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
Jornal Le Monde elege Lula como o "Homem do Ano"
A
publicação francesa apontou o presidente brasileiro como o responsável
pelo renascimento do Brasil como um gigante na cena mundial. O jornal
espanhol El Pais também escolheu Lula como a "Personalidade do Ano",
destacando que ele passará à história pela ambição realizada de tornar
o Brasil um país desenvolvido. Para o Le Monde, o presidente soube ser
um democrata, lutando contra a pobreza sem ignorar os motores de um
crescimento mais respeitoso dos equilíbros naturais. "A consagração de
Lula acompanha a renovação do Brasil", resume o jornal
O jornal francês Le Monde
escolheu o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva como o
“Homem do Ano”, apontando-o como responsável pelo renascimento do
Brasil como um gigante na cena mundial. É a segunda homenagem deste
tipo que Lula recebe neste final de ano. O jornal espanhol El País também elegeu o presidente brasileiro como a “Personalidade do Ano” e a revista The Economist dedicou um número especial ao Brasil, destacando na capa o Cristo Redentor como um foguete decolando rumo ao espaço.
Na homenagem divulgada nesta quinta-feira (24), o Le Monde afirma: “Embandeirado dos países emergentes, mas também do mundo em desenvolvimento do qual se sente solidário, o presidente brasileiro, de 64 anos, colocou decididamente seu país em uma dinâmica de desenvolvimento".
Na avaliação do jornal francês, “o presidente brasileiro, que no fim de 2010 deixará a presidência sem ter tentado modificar a Constituição para concorrer a um terceiro mandato, soube continuar sendo um democrata, lutando contra a pobreza sem ignorar os motores de um crescimento mais respeitoso dos equilíbrios naturais". E acrescenta:
"Presidente do Brasil desde 1º de janeiro de 2003, ao fim de dois mandatos terá dado uma nova imagem a América Latina". "A consagração de Lula acompanha a renovação do Brasil", destaca a publicação que define assim o presidente brasileiro: "Carismático, de sorriso fácil e jovial, Lula, nascido em 27 de outubro de 1945 no estado de Pernambuco, ex-torneiro mecânico e sindicalista, transformou o Brasil em ator essencial do cenário internacional. Diplomacia, comércio, energia, clima, imigração, espaço, droga: tudo lhe interessa e diz respeito."
O Le Monde destaca ainda que Lula foi o primeiro presidente da América Latina a ser recebido pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, na Casa Branca. O jornal aponta também como destaques da ação do presidente brasileiro a liderança exercida dentro do G20, a aspiração do Brasil a uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) e a condição de primeiro sócio comercial da China.
Já o espanhol El País destaca a gestão do presidente brasileiro dizendo: “Quando foi eleito para um segundo e último mandato, Lula disse que o Brasil estava cansado de ser uma potência emergente e que havia chegado a hora de o país se tornar um país desenvolvido sem andar para trás outra vez. Esta é a ambição com que Lula passará à história, diz o jornal.
“Nos sete anos de Presidência, Lula fez o país avançar muito; o Brasil foi o primeiro país a sair da recessão provocada pela crise econômica mundial, seus índices de crescimento ao longo deste período tem sido muito superiores aos das duas décadas anteriores, a pobreza extrema caiu de 35% em 2001 para 24,1% em 2008, e quatro milhões de cidadãos deixaram o patamar da pobreza, incorporando-se às classes médias que já superam a casa dos 50% da população".
Na homenagem divulgada nesta quinta-feira (24), o Le Monde afirma: “Embandeirado dos países emergentes, mas também do mundo em desenvolvimento do qual se sente solidário, o presidente brasileiro, de 64 anos, colocou decididamente seu país em uma dinâmica de desenvolvimento".
Na avaliação do jornal francês, “o presidente brasileiro, que no fim de 2010 deixará a presidência sem ter tentado modificar a Constituição para concorrer a um terceiro mandato, soube continuar sendo um democrata, lutando contra a pobreza sem ignorar os motores de um crescimento mais respeitoso dos equilíbrios naturais". E acrescenta:
"Presidente do Brasil desde 1º de janeiro de 2003, ao fim de dois mandatos terá dado uma nova imagem a América Latina". "A consagração de Lula acompanha a renovação do Brasil", destaca a publicação que define assim o presidente brasileiro: "Carismático, de sorriso fácil e jovial, Lula, nascido em 27 de outubro de 1945 no estado de Pernambuco, ex-torneiro mecânico e sindicalista, transformou o Brasil em ator essencial do cenário internacional. Diplomacia, comércio, energia, clima, imigração, espaço, droga: tudo lhe interessa e diz respeito."
O Le Monde destaca ainda que Lula foi o primeiro presidente da América Latina a ser recebido pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, na Casa Branca. O jornal aponta também como destaques da ação do presidente brasileiro a liderança exercida dentro do G20, a aspiração do Brasil a uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) e a condição de primeiro sócio comercial da China.
Já o espanhol El País destaca a gestão do presidente brasileiro dizendo: “Quando foi eleito para um segundo e último mandato, Lula disse que o Brasil estava cansado de ser uma potência emergente e que havia chegado a hora de o país se tornar um país desenvolvido sem andar para trás outra vez. Esta é a ambição com que Lula passará à história, diz o jornal.
“Nos sete anos de Presidência, Lula fez o país avançar muito; o Brasil foi o primeiro país a sair da recessão provocada pela crise econômica mundial, seus índices de crescimento ao longo deste período tem sido muito superiores aos das duas décadas anteriores, a pobreza extrema caiu de 35% em 2001 para 24,1% em 2008, e quatro milhões de cidadãos deixaram o patamar da pobreza, incorporando-se às classes médias que já superam a casa dos 50% da população".
Fotos: Agência Reuters
Do Gramna Internacional...
Jean-Guy Allard
•
LA Voz de las Américas (VOA) se espalha pela
Venezuela, Bolivia, Ecuador e Nicaragua, revelou um
jornal de Miami, ao assinalar que, com este
objetivo, a cadeia radiofônica que em nível mundial
difunde a propaganda norte-americana, se apropriará
das instalações da Radio e da TV Martí.
“Estamos dando uma atenção especial à região andina,
devido ao que acontece lá”, declarou o diretor da
publicação em espanhol, o cubano-americano Alberto
Mascaró, ao colaborador do El Nuevo Herald, o
veterano Juan O. Tamayo.
Segundo parece a informação é certa. Vários
jornalistas do El Nuevo... em espanhol foram
denunciados no passado pela sua bem paga colaboração
com a Radio e a TV Martí.
Por
sua vez, Juan O. Tamayo foi contratado há alguns
meses pelo Iccas do ex-analista CIA Jaime Suchlicki,
um organismo fortemente subsidiado pela Usaid para
realizar “estudos” sobre Cuba.
A
VOA penetra a zona geográfica com sua informação
“made in USA”, orientada a favorecer os interesses
das oligarquias.
Segundo Tamayo, “tem 319 emissoras de rádio
afiliadas na região dos Andes, que transmitem seus
programas grátis — 199 na Bolívia, 77 na Colômbia, e
7 no Equador e Peru, respectivamente”.
A
VOA é obrigada a observar normas de “exatidão,
equilíbrio, caráter abrangerador e objetividade”
afirma o artigo, nomeando o parente de Pedro Roig.
Sem
dúvida, é com este objetivo que este órgão
“imparcial” do Departamento de Estado se dedica há
anos, na Venezuela, a “arremetr contra a economia,
espalhando notícias falsas sobre desabastecimento,
programas de confiscações do governo bolivariano,
movimentos nos quartéis, notícias sobre corrupção
documentada dos funcionários”, como assinalou o site
web aporrea.
Para
conseguir seus objetivos, a VOA utilizará as
instalações da Radio e da TV Martí, o qual, segundo
o jornal mafioso de Miami, tem provocado
“especulações de que estas emissoras passarão a
fazer parte da VOA”. Nos últimos anos, a Radio e a
TV Martí tem sido alvo de vários escândalos de
corrupção.
O
mais divertido é que Alberto Mascaró, quem anunciou
a nova orientação da VOA, é o sobrinho da esposa de
Pedro Roig, diretor geral da Radio e da TV Martí,
corporação famosa por dedicar-se a contratar
amizades de seus chefões.
Ex-diretor da Interamerican Military Academy de
Miami, Roig foi formado pela CIA em Fort Benning,
juntamente com o terrorista intrnacional Luis Posada
Carriles, como sicário da Operação 40, com vista à
fracassada invasão da Baia dos Porcos.
Em
agosto, Pedro Roig, que sempre teve postos de
trabalho livres para sua parentela, deixou na rua 35
empregados desta corporação, que se dedica a
fabricar calúnias contra Cuba, que depois não
consegue difundir.
Incrivelmente, as emissoras de propaganda anticubana
Radio e TV Martí têm, 170 empregados e um orçamento
de US$34,8 milhões deste ano 2009, e nem sequer
assim difundem sua programação em Cuba, apesar de
suas tentativas, na maioria das vezes fracassadas.
Entretanto, para transmitir sua propaganda imperial
na América Latina toda, a divisão da VOA em espanhol
tem 21 empregados e um orçamento de US$3,1 milhões
deste ano 2009.
Enquanto os EUA vivem a pior crise desde os anos 30,
dispõem de dinheiro suficiente para a guerra suja do
império contra a América Latina.
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