Título Original: Keoma
Título em inglês: Django Rides Again
Direção: Enzo G. Castellari
Roteiro: George Eastman, Enzo G. Castellari, Nico Ducci, Mino Roli e Joshua Sinclair (diálogos)
Gênero: Ação/Drama/Faroeste
Origem: Itália
Ano de Lançamento: 1976
Música: Guido de Angelis, Maurizio de Angelis
Fotografia: Aiace Parolin
Créditos da postagem: acullen, no
cine gratuitohttp://www.imdb.com/title/tt0074740/ - 7.1/10
Sinopse:Ao
final da Guerra Civil Americana, Keoma, um pistoleiro mestiço, cansado
de fazer da morte um meio de vida, retorna para aquilo que um dia
costumava ser seu lar. Encontra sua cidade natal totalmente destruída
pela peste e sob o comando de um homem chamado Caldwell. Seus
meio-irmãos Butch, Sam e Lenny trabalham para Caldwell e Keoma se vê
sozinho contra todos.
Informações do Arquivo:
Formato: avi
Qualidade: DVDRip
Áudio: Inglês
Legendas: Português/BR
Duração: 97 min
Cor
Tamanho: 682 MB em 3 partes
TRILHA SONORA ORIGINAL DE 1976
Composer(s): Guido De Angelis e Maurizio De Angelis
Released in: 1976, Italy
Track listing
1. Keoma (instrumental) (04:43)
2. In front of my desperation (02:06) - canta Guy
3. Dusty banjo (part one) (00:42)
4. Keoma (harmonica) (01:38)
5. Piano and beer (01:25)
6. In front of my desperation (instrumental) (03:08)
7. Waiting (instrumental) (01:05)
8. Dusty banjo (part two) (01:25)
9. Keoma (04:45) - canta Sybil & Guy
DOWNLOAD 18 MB
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Elenco :Franco Nero - Keoma
William Berger - William Shannon
Olga Karlatos - Lisa
Orso Maria Guerrini - Butch Shannon
Gabriella Giacobbe - The Witch
Antonio Marsina - Lenny Shannon
Joshua Sinclair - Sam Shannon
Donald O'Brien - Caldwell
Leonardo Scavino - Doctor
Wolfango Soldati - Confederate Soldier
Victoria Zinny - Brothel Owner
Alfio Caltabiano - Member of Caldwell's Gang
Woody Strode - George
Por que me ajuda? Todos temos o direito de nascer.
A guerra? Não sei bem.
Acho que, logo que massacramos aqueles índios, achamos que deveríamos fazer algo generoso. Então demos a liberdade aos negros.
Assim, nos sentíamos bem para voltar a acabar com os índios.
Ele não pode morrer! E sabe por quê? Porque ele é livre.
Keoma
é um filme que fala de legalidade, preconceitos, princípios de família e
valores, com uma trilha sonora incrível e um elenco de primeira linha.
Clássico do "western espaguetti", o filme é de propriedade ímpar:
locação, atuação, trilha, etc., excepcionais.
O diretor, Enzo
Castellari, saudado por Quentin Tarantino na utilização do título The
Inglorious Bastards (1978), e que já levou até personagens
shakespearianos para os saloons (Johnny Hamlet, 1968), se superou em
Keoma, encabeçado pelo solitário personagem de Franco Nero.
O WESTERN, QUEM DIRIA, JÁ FOI REVOLUCIONÁRIO E CONTESTADOR...Por Celso Lungaretti, jornalista e escritor
Fonte: http://www.jornalorebate.com.br/site/Muitos
dos que hoje se deslumbram com as estilizações de duelos e a
extraordinária trilha musical de “Kill Bill” (Kill Bill: Vol. 1, 2003, e
Kill Bill: Vol.2, 2004, d. Quentin Tarantino), ignoram que as primeiras
inspiraram-se diretamente nas coreografias dos filmes do diretor Sergio
Leone, enquanto várias músicas foram compostas há quatro décadas atrás,
por Ennio Morricone, para os bangue-bangues italianos. É que Quentin
Tarantino estava prestando um comovido tributo a esses dois mestres, que
devem ter-lhe inspirado sonhos e brincadeiras nos seus tempos de
menino.
Nascido em meados da década de 1960, o spaghetti-western
lavou a alma de todos nós que gostávamos dos bangue-bangues, mas não da
caretice dos norte-americanos.
Teve surpreendente sucesso nas
bilheterias: "O Dólar Furado" ( Un Dollaro Bucato, 1965, d. Giorgio
Ferroni), p. ex., chegou a ficar em cartaz por cerca de um ano num
cinema de São Paulo. Isto se deveu não só a ter ocupado um espaço vazio,
já que os norte-americanos haviam deixado de fazer westerns, como
também a haver trazido um novo enfoque e uma nova moldura para o gênero.
Tirando
obras de exceção como "Matar ou Morrer" (High Noon, 1952, d. Fred
Zinneman), "Sem Lei e Sem Alma" (Gunfight at O.K. Corral, 1957, d. John
Sturges), "O Matador" (The Gunfighter, 1950, d. Henry King), "Estigma da
Crueldade" (The Bravados, 1958, d. Henry King) e "Rastros do Ódio" (The
Searchers, 1956, d. John Ford), os faroestes made in USA de até então
tinham o insuportável defeito de tentarem nos impingir aquela ladainha
da luta eterna do Bem contra o Mal -- um tédio!
O mocinho não
fumava, não bebia, não praguejava e nem trepava. A mocinha era recatada
donzela. O xerife, pachorrento mas digno. Os índios, selvagens bestiais
que tinham de ser tirados do caminho para não atrapalharem o progresso.
Os mexicanos, beberrões subumanos.
Mesmo no mato, conduzindo boiada, o mocinho tinha a decência de manter-se sempre limpo e escanhoado. Bah!
O
western italiano surgiu meio por acaso. A indústria cinematográfica
italiana conseguira nos anos anteriores faturar uma boa grana com filmes
épicos e mitológicos. Hércules, Maciste, Ursus, Golias, fundação de
Roma, guerra de Tróia, etc. O filão, entretanto, estava esgotando-se e a
Cinecittà saiu à cata de um novo produto.
Sergio Leone, então
com 34 anos, tinha começado a carreira no neo-realismo italiano (como
assistente de direção e diretor de segunda unidade), mas não conseguira
alçar-se à direção. Era difícil abrir um espaço entre mestres como
Vittorio De Sica, Lucchino Visconti, Pier Paolo Pasolini, Federico
Fellini, Michelangelo Antonioni, etc.
Então, entre atuar
eternamente à sombra dos medalhões do cinema de arte e mostrar seu
trabalho no cinema dito comercial, escolheu a segunda opção. Depois de
dirigir os épicos “Os Últimos Dias de Pompéia” (Gli Ultimi Giorni di
Pompei, 1959, creditado, entretanto, a Mario Bonnard) e “O Colosso de
Rodes” (Il Colosso di Rodi, 1961, d. Sergio Leone), teve a sorte de
estar no lugar certo, no momento exato, para dar o pontapé de partida
num novo ciclo.
Adaptou para o Oeste a história de “Yojimbo”
(Yojimbo, 1961), um filme de Akira Kurosawa sobre samurai que açula a
discórdia entre dois senhores feudais para prestar-lhes serviço
alternadamente, sem que percebam seu jogo duplo. O que Leone fez em “Por
Um Punhado de Dólares” ((Per un Pugno di Dollari, 1964), basicamente,
foi mudar a ambientação e colocar um pistoleiro caça-prêmios no lugar do
samurai.
O protagonista também teve aí seu grande golpe de
sorte. Clint Eastwood não emplacara em Hollywood como mocinho, ficando
relegado a papéis secundários em séries de TV e a filminhos classe “B” e
“C”. Leone percebeu nele um bom anti-herói. Compôs seu personagem (o
“Estranho Sem Nome”) com barba rala, chapéu sobre os olhos, charuto na
boca, fala arrastada e um poncho. Com isto, acabou alçando-o ao
estrelato e fazendo jus à homenagem que depois Eastwood lhe prestaria,
ao dedicar-lhe sua obra-prima “Os Imperdoáveis” (Unforgiven, 1992, d.
Clint Eastwood).
O que diferenciou o western italiano foi
exatamente ter sido feito por cineastas bem diferentes dos tarefeiros
hollywoodescos (os ditos “artesãos”, que se limitavam ao
feijão-com-arroz artístico que lhes garantisse o dito cujo
gastronômico).
Damiano Damiani, Carlo Lizzani e Sergio Corbucci
eram outros talentos com a cabeça feita pelo cinema de arte, assim como o
superlativo roteirista Sergio Donatti (aliás, até o grande diretor
Bernardo Bertolucci chegou a desenvolver uma história para western).
Então, não se limitaram a realizar filmes com muita ação e nenhuma vida
inteligente; fizeram questão de deixar sua marca, passando mensagens
cifradas, dando toques, propondo outra abordagem para o western.
Em
vez de um palco em que o Bem vence sempre o Mal, o bangue-bangue
italiano mostrou o velho Oeste como uma terra de ninguém, primitiva e
selvagem, em que todos perseguem seus objetivos como podem.
Evidentemente, há muito mais verossimilhança nesse enfoque do que no
norte-americano. O Oeste do século 19 seria algo como o garimpo de Serra
Pelada no seu apogeu. Um grotão selvagem e sem lei.
Em vez do
herói, o western italiano consagrou o anti-herói: barbudo, desgrenhado,
com roupas sinistras, muitas vezes um caça-prêmios, quase sempre um
mau-caráter. No fundo, só se diferencia dos bandidos por agir sozinho
enquanto os outros atuam em bando.
Lembrem-se: era a década de
1960, quando havia um imenso desencanto com a ordem estabelecida.
Rebeldes eram tudo que queríamos ver Não suportávamos mais os
heroizinhos c.d.f. de Hollywood. Os Djangos, Sabatas e Sartanas nos
cativaram à primeira vista (o único mocinho nos moldes estadunidenses
era o bonitão Ringo, de “O Dólar Furado”, interpretado por Giuliano
Gemma).
E, enquanto os poderosos viraram vilãos, os índios e os
peões mexicanos passaram a ser mostrados como vítimas e heróis. Afinal,
vários cineastas italianos tinham inclinações revolucionárias, mas não
havia nada revolucionário para destacar nos EUA do século 19. A solução
foi transferir a ação para o efervescente México, como em "Quando
Explode a Vingança" (Giù la Testa, 1971, d. Sergio Leone), "Gringo" (El
Chuncho, Quién Sabe?, 1967, d. Damiano Damiani), "Reze a Deus e Cave Sua
Sepultura" (Violenza al Sole, 1968, d. Florestano Vancini), "Réquiem
Para Matar" (Requiescant, 1967, d. Carlo Lizzani), "Companheiros" (Vamos
a Matar, Compañeros, 1970, d. Sergio Corbucci) e "O Dia da Desforra"
(La Resa dei Conti, 1966, d. Sergio Sollima).
Toques esquerdistas, sim, eles podiam inserir em filmes ambientados nos EUA:
o próprio "Django" (Django, 1966, d. Sergio Corbucci), no qual os vilãos são visivelmente inspirados na Ku-Klux-Khan;
"Quando os Brutos Se Defrontam" (Faccia a Faccia, 1967, d. Sergio Sollima), reflexão sobre a gênese de líderes oportunistas;
"O
Especialista" (Gli Specialisti, 1969, d. Sergio Corbucci), que coloca
jovens rebeldes (referência às barricadas francesas de 1968) em ação no
Oeste;
"O Vingador Silencioso" (Il Grande Silenzio, 1968, d. Sergio
Corbucci), denunciando o massacre de Johnson Country, quando centenas de
imigrantes eslavos foram dizimados pelos barões de gado do Wyoming – o
mesmo episódio histórico que foi depois retratado em "O Portal do
Paraíso" (Heaven's Gate, 1980, d. Michael Cimino);
e o extraordinário
"Três Homens em Conflito" (Il Buono, Il Brutto, Il Cattivo, 1966, d.
Sergio Leone), com algumas das mais marcantes seqüências antibelicistas
do cinema.
Uma última característica notável foi libertar a trilha
musical da tirania do country. Não mais o que realmente existia nos EUA
do século retrasado, como violões, violinos, banjos, gaitas e sanfonas,
mas também flauta, saxofone, órgão, sintetizadores, castanholas -- tudo
que se harmonizasse com o clima daquela seqüência, pouco importando se
tais instrumentos eram encontrados ou não no velho Oeste. Para
completar, o uso criativo de sinos, caixas de música, assobios e outros
achados. Morricone é, com certeza, o melhor criador de trilhas musicais
de todos os tempos.
FILMES INESQUECÍVEIS
"Quando Explode a
Vingança" está entre os melhores filmes do Leone. É, na verdade, o
segundo da trilogia "era uma vez", que inclui “Era Uma Vez No Oeste”
(C'Era Uma Volta il West, 1968, d. Sergio Leone) e “Era Uma Vez Na
América” (Once Upon a Time in América, 1984, d. Sergio Leone). Deveria
ter-se chamado "Era Uma Vez A Revolução", mas acabou com um título que
em italiano significa "abaixe a cabeça" e, nos EUA, "abaixe-se, otário".
Na
visão do Leone, os verdadeiros heróis da revolução são os anônimos
homens do povo, enquanto os líderes acabam sempre traindo a causa --
seja no México (o médico interpretado por Romolo Valli) ou na Irlanda (o
dirigente do IRA que é amigo do John/James Coburn).
Foi feito em
1971, quando os movimentos revolucionários pipocavam na Itália,
radicalizando-se progressivamente. Parece expressar o desencanto do
Leone com o Partido Comunista Italiano e ser um alerta de que as
Brigadas Vermelhas e congêneres teriam destino trágico.
Um lance
interessante é mostrar de forma totalmente desumanizada o comandante das
forças contra-revolucionárias: ele é visto escovando repulsivamente os
dentes, chupando um ovo, olhando pelo binóculo. Leone não lhe concede
sequer a dignidade da fala. De sua forma sutil, expressa o desprezo
absoluto que tinha pela direita troglodita.
Outra grande sacada
do Leone é ressaltar que a História nunca fixa a versão correta dos
fatos. A frase que o Irlandês sempre repete, sobre "os grandes e
gloriosos heróis da revolução", é um primor de sarcasmo.
* * *
"Três
Homens em Conflito" foi, claramente, o divisor de águas na carreira de
Sergio Leone, o momento em que ele mostrou ser muito mais do que um
(brilhante) artesão.
"Por um Punhado de Dólares" introduziu a
figura do anti-herói no centro da trama; a amoralidade básica dos tipos e
das situações; a apresentação criativa dos letreiros iniciais, com o
uso de animação; a nova concepção musical que Morricone trouxe para os
westerns; e um dos personagens mais emblemáticos do bangue-bangue à
italiana, o pistoleiro oportunista interpretado por Clint Eastwood.
Em
"Por Uns Dólares a Mais" (Per Qualche Dollaro in Più, 1965, d. Sergio
Leone), todas essas características foram desenvolvidas e aprimoradas. É
um filme muito melhor do que o anterior, mas, paradoxalmente, não
apresentou novidades significativas. A única que vale a pena citar é a
colocação de dois personagens em destaque, em vez de um. A partir daí,
os filmes de Leone trariam sempre essa dupla de anti-heróis ocupando o
espaço dos antigos mocinhos. Depois dos personagens interpretados por
Clint Eastwood/Lee Van Cleef em “Por Uns Dólares a Mais”, tivemos
Charles Bronson/Jason Robards (“Era Uma Vez no Oeste”), Rod
Steiger/James Coburn (“Quando Explode a Vingança”) e Robert De
Niro/James Woods (“Era Uma Vez na América”).
"Três Homens em
Conflito" foi a obra em que Leone definiu e afirmou seu estilo,
embutindo no cinema de ação discussões mais profundas, sem prejuízo do
entretenimento propriamente dito. É um tipo de obra em camadas. De
acordo com sua sensibilidade, o espectador pode se divertir apenas com o
básico ou captar os muitos toques subjacentes.
E é grandiosa a
crítica que Leone fez ao belicismo, com algumas das seqüências mais
comoventes que o cinema já apresentou: o oficial bêbado sem coragem para
destruir a ponte, a orquestra do campo de prisioneiros tocando para
abafar os ruídos da tortura, o jovem soldado agonizante a quem o
Estranho Sem Nome dá seu charuto.
Nos três filmes seguintes ele
dissecaria a lenda (vinganças) e a realidade (construção da ferrovia) no
Velho Oeste, as verdades e mentiras de uma revolução e a transição da
época glamourosa do aventureirismo para a hegemonia insípida das grandes
organizações. Foi o cineasta que conseguiu ir mais longe na proposta de
mesclar entretenimento e reflexão, saindo-se tão bem nas bilheterias
quanto em termos de qualidade cinematográfica.
* * *
“Keoma”
(Keoma, 1976, d. Enzo G. Castellari) foi o canto do cisne do western
italiano. E encerrou o ciclo com extrema dignidade. Trata-se daquela
única obra-prima que, às vezes, um diretor convencional faz na vida,
como que para provar que tinha talento para vôos maiores.
O subtexto é riquíssimo:
a briga entre os quatro irmãos remete, evidentemente, a Freud e suas teorias sobre a horda primitiva;
o nascimento da criança num estábulo é um paralelo bíblico, assim como a crucificação do herói;
a presença da velha índia nos momentos culminantes do filme vem da mitologia grega, ela é um tipo de deusa do destino;
o herói errante em busca de um desígnio que justifique sua vida também tem inspiração mitológica;
a
peste se constituiu num elemento bíblico e mitológico ao mesmo tempo,
além de estabelecer uma ponte com o escritor Albert Camus ("A Peste", "O
Estrangeiro"), cujas obras são uma óbvia referência no delineamento do
personagem principal;
finalmente, Castellari reverencia seus mitos
cinematográficos -- Keoma é filho de Shane, o herói protagonizado por
Alan Ladd em "Os Brutos Também Amam" (Shane, 1953, d. George Stevens),
enquanto a presença de Woody Strode no elenco constitui uma homenagem a
John Ford, de quem o negro era um dos atores prediletos.
E não foi só
Castellari quem se superou, atingindo uma qualidade de que ninguém o
suporia capaz. A dupla de compositores Guido e Maurizio de Angelis fez
uma trilha musical extraordinária, capaz de rivalizar com as melhores de
Morricone. O contraste do baixo com a soprano chega a nos arrepiar, as
letras se casam maravilhosamente com o filme.
Em suma: trata-se de um clássico ainda não reconhecido.