,publicado em seu blog, nos possibilita a percepção de uma outra visão e esclarecimento sobre esse tema tão alardeado por nós gaúchos.Leia abaixo o texto na íntegra...
Foi
uma guerra gerada por grandes interesses econômicos, quando o povo foi
manipulado para acreditar que estava lutando pela independência e
liberdade. Guerra que terminou, depois de 10 anos, quando as elites
oligárquicas dos dois lados fizeram um acordo que satisfazia a todos –
menos ao povo.
Descontentes com a desigual distribuição de renda que era feita pelo
Governo Imperial em relação às suas províncias, com os exorbitantes
impostos aos produtos riograndenses, que eram vencidos pela concorrência
dos platinos; aproveitando o período de transição da Regência de Feijó
(entre Dom Pedro I e Dom Pedro II) as elites gaúchas, marcadamente os
grandes latifundiários, aproveitaram o momento histórico para derrubar o
governo da província e lutar por seus interesses pessoais.
Era sua idéia, com esse ato, forçar o governo imperial a decidir-se por
uma solução federalista que daria maior autonomia econômica e política
às províncias do Império.
Como última
opção, usariam o argumento separatista com a possibilidade até de uma
revolução, mas sabiam que o Império jamais abriria mão do Rio Grande do
Sul, principalmente após perder a Cisplatina (hoje Uruguai), em 1825, e
acreditavam que o golpe de força ao tomarem o governo da Província seria
o suficiente para que o governo de Feijó entrasse em acordo com aqueles
que representavam as classes dominantes gaúchas.
Acreditavam,
ainda, que a ameaça de Artigas – que idealizava a criação do que chamava
“Pátria Grande do Prata”, um país que se estenderia pelos territórios
do Paraguai, as províncias argentinas de Corrientes, Entre-Rios e
Missiones e as Missões Brasileiras entre os rios Uruguai, Ibicuí,
Vacacaí e Santa Maria – de criar um novo país incluindo parte do Rio
Grande do Sul, seria um fator importante para que o Império acatasse as
reivindicações dos golpistas, evitando assim a possibilidade de
desmembramento através de uma revolução que poderia ter o apoio de
potências estrangeiras.
Ao contrário
do mito criado em torno de uma revolução libertária exigida pelo povo
gaúcho em pé de guerra contra o Império, a tomada do governo da
Província foi combinada, em seus detalhes, dentro dos salões das Lojas
maçônicas, ponto de encontro das elites gaúchas.
Eram duas as
correntes maçônicas em solo brasileiro, que se identificavam por cores. A
Azul – que pregava o federalismo monárquico – era ligada à Inglaterra,
onde atuava como poder oculto através das “quatro colunas”
exteriorizadas nas quatro principais instituições inglesas: O Foreign
Office (serviço de Relações Exteriores), o Almirantado, o Banco da
Inglaterra e o Intelligence Service (serviço secreto).
A maçonaria Vermelha reivindicava os ideais de Rousseau, Locke e
Montesquieu e defendia o Liberalismo Republicano, aos moldes da
Revolução dos Estados Unidos e da Revolução Francesa. Eram separatistas e
lutavam pelo fim do Império.
Na verdade, era uma só Maçonaria, com duas estratégias não tão
distintas assim. Mesmo o poder dominante da época sendo da Inglaterra
monárquica, já era previsto que esse poder iria passar para os Estados
Unidos republicano, que já invadia o México, dominava o Panamá e
ameaçava a unidade dos países latinos proposta por Bolívar. Nos Estados
Unidos, a Maçonaria vermelha dominava com o apoio do Império Britânico –
maçonaria azul – que de colonizador, após a guerra da independência
passara a principal aliado dos Estados Unidos.
Essas duas
propostas estratégicas da Maçonaria brasileira, no Rio Grande do Sul
atraíam desde intelectuais libertários a reacionários latifundiários.
Entre as duas colunas todos eram iguais. O importante é que essas “duas
colunas” mantivessem a todos os irmãos na mesma obediência e que as
decisões finais fossem acatadas.
No início da
Revolução Farroupilha, antes de ela se constituir de fato em uma
revolução, mas quando ainda era uma simples revolta que visava
unicamente a tomada do governo da Província, objetivando o Federalismo, a
influência da maçonaria Azul era preponderante.
O objetivo era o federalismo monárquico, com mais autonomia econômica
para a Província. Futuramente, dentro da estratégia proposta, haveria
oportunidade para um golpe de estado que instituísse a República. Mas
não pensavam em separação do Brasil. Pequenas insurgências aqui e ali,
em diversos estados da Coroa, fariam, aos poucos, que o Império se
mostrasse impotente e ultrapassado e a proposta da República – como
“saneadora de todos os males” – faria com que o povo aceitasse
passivamente quando o golpe republicano viesse a acontecer.
Era esta a
idéia dos rebeldes gaúchos quando se reuniram naquela noite de 18 de
setembro de 1835, na Loja Philantropia e Liberdade, da qual Bento
Gonçalves da Silva era Venerável-Mestre, em Porto Alegre. Estavam
presentes José Mariano de Mattos, Gomes Jardim, Vicente da Fontoura,
Pedro Boticário, Paulino da Fontoura, Antônio de Souza Neto e Domingos
José de Almeida. Decidiu-se por unanimidade que dali a dois dias, 20 de
setembro, tomariam militarmente Porto Alegre e destituiriam o presidente
provincial Fernandes Braga.
Na madrugada de 20 de setembro as tropas dos revoltosos, com cerca de
200 homens, penetraram em Porto Alegre, pela Azenha, encontrando pouca
ou nenhuma resistência. O Presidente da Província, Fernandes Braga fugiu
para Rio Grande, onde se refugiou. Ocupada a capital, os revoltosos
deram posse a Marciano Pereira Ribeiro como Presidente Provincial. Cinco
dias depois, Bento Gonçalves leu um manifesto, que deixava clara a
intenção do golpe. Entre outras coisas, explicitava: “(...) não nos
propusemos outro fim que restaurar o império da lei, afastando de nós um
administrador inepto e faccioso, sustentando o trono do nosso jovem
monarca e a integridade do império.”
O final do manifesto termina assim: “Viva a integridade do Império!
Viva a união brasileira! Viva o Sr. D. Pedro I, imperador constitucional
do Brasil! Vivam o riograndenses! Viva o dia 20 de setembro!”
Não havia qualquer intenção de revolução contra o Império e esperavam
que o Regente Feijó (que também era maçom) mandasse outro Presidente
Provincial ao gosto dos que agora detinham o poder.
Mas a
resposta de Feijó foi enviar o novo indicado José de Araújo Ribeiro,
acompanhado de um verdadeiro aparato de guerra: onze brigues e escunas,
além de diversas canhoneiras, lanchas e iates, carregados de armamento e
muitos soldados imperiais, sob o comando do capitão de mar e guerra, o
inglês John Pascoe Grenfell.
Araújo Ribeiro tomou posse do governo da Província na cidade de Rio
Grande, no dia 15 de janeiro de 1836, o que foi recebido pelos
revoltosos como uma declaração de guerra. Até então não tinha havido
nenhum outro combate, desde 20 de setembro de 1835. Mas, imediatamente,
as tropas farroupilhas, que estavam dispersas, começaram a ser reunidas
sob a liderança de Bento Gonçalves, Marciano Ribeiro, Antônio de Souza
Neto, Onofre Pires, David Canabarro, Lucas de Oliveira, Pedro Boticário,
Vicente Ferrer de Almeida e José Mariano de Mattos.
Por seu lado, as tropas imperiais eram lideradas por João da Silva Tavares, Francisco Pedro de Abreu (o Chico Pedro, ou Moringue),
Manuel Marques de Souza (mais tarde, Conde de Porto Alegre), Bento
Manuel Ribeiro (que depois mudou de lado mais três vezes) e Manuel Luís
Osório. Para engrossar as tropas imperiais foram contratados mercenários
do Uruguai.
FARRAPOS
Desde 1831,
havia os jornais “Jurujuba dos Farroupilhas” e “Matraca dos
Farroupilhas”. Farroupilhas, ou Jurujubas era um termo utilizado no
Parlamento do Rio de Janeiro pelos membros do Partido Restaurador, que
tentavam, assim, menosprezar os gaúchos vinculados ao Partido Liberal,
oposicionistas ao governo central. Por seu lado, os liberais chamavam os
conservadores de caramurus ou camelos.
Os liberais
assumiram o termo e, inclusive, formaram o Partido Farroupilha, cujos
membros reuniam-se na Sociedade Continentino (em alusão a Continente de
São Pedro, primeiro nome do Rio Grande do Sul), que deu origem à Loja
maçônica Philantropia e Liberdade.
Já naquela época, circulava no Rio Grande do Sul o conde italiano Tito
Lìvio Zambeccari. Maçom e carbonário, Zambeccari atuava na Sociedade
Continentino como uma espécie de elo de ligação entre os carbonários
italianos e os maçons gaúchos. Tornou-se amigo e assessor daqueles que
viriam a ser alguns dos principais líderes da Revolução Farroupilha:
Bento Gonçalves, Onofre Pires e Domingos José de Almeida.
Segundo relato de seus contemporâneos, Zambeccari, Bento Gonçalves,
Onofre Pires e José Calvet é que tratavam dos negócios da República
Rio-Grandense, sendo Zambeccari a primeira cabeça que planejara a marcha
que se deveria seguir mais tarde. Para o historiador Alfredo Varela, o
italiano influenciara os manifestos assinados por Bento Gonçalves, sendo
o de 24 de março de 1836, de sua autoria. Assim, também, a bandeira da
República Rio-Grandense teria sido idealizada por Zambeccari, antes
mesmo do início da revolução. Ao rebentar o conflito, tornou-se
secretário e chefe do estado-maior do general Bento Gonçalves. Com ele
foi preso na batalha do Fanfa, em 4 de outubro de 1836, e enviado à
Presiganga, navio-prisão ancorado no rio Guaíba, para depois ser
transferido para a Fortaleza de Santa Cruz, no Rio de Janeiro.
Assim, o nome
Farroupilha não se originou do fato dos revolucionários andarem em
farrapos – conforme hoje se veicula, erradamente – mas já existia alguns
anos antes de eclodir a revolução. Por outro lado a influência dos
maçons Zambeccari, Rossetti e Garibaldi, se não foram decisivas foram
predominantes para formar o “espírito revolucionário” necessário para
que a revolta libertária tomasse um caráter revolucionário e
separatista.
A REVOLUÇÃO
Em 15 de
julho de 1836, os imperiais retomam a cidade de Porto Alegre, ocasião em
que foram presos Marciano Ribeiro, Pedro Boticário e mais 32
revoltosos. Bento Gonçalves tentou recuperar a cidade duas semanas
depois, mas foi derrotado. Entre 1836 e 1840, Porto Alegre sofreu 1283
dias de cerco – um dos maiores da História – sem que os farroupilhas
conseguissem tomar a cidade.
Em 9 de
setembro de 1836 ocorreu o combate de Seival, nos campos dos Menezes,
localidade perto de Bagé. Naquela ocasião, os farroupilhas, liderados
por Antonio de Souza Netto, derrotaram fragorosamente as tropas de João
da Silva Tavares. Naquele momento, a revolução ainda detinha um caráter
estritamente regional. Mas, entusiasmados com o feito, os
revolucionários, apesar da ausência de Bento Gonçalves, decidiram
proclamar a República Riograndense, o que foi feito no dia seguinte, 11
de setembro. A primeira sede do governo foi em Piratini – por isto,
também foi apelidada de República de Piratini. A capital da República
foi mudada mais duas vezes: para Caçapava do Sul, em 1939 e para
Alegrete, em julho de 1842.
Em outubro de
1836, Bento Gonçalves foi preso na Batalha de Fanfa. Transferido para a
Bahia, ficou preso no Forte do Mar. Mesmo preso, foi aclamado
Presidente da República Riograndense no dia 6 de dezembro de 1836.
Conseguiu fugir, com a ajuda dos maçons baianos, e em 16 de dezembro de
1837 voltou para o Rio Grande do Sul e tomou posse do Governo.
Foi uma
guerra de guerrilhas. Poucas vezes houve confronto direto entre dois
exércitos, porque os farroupilhas sabiam que não poderiam enfrentar em
campo aberto as forças muitas vezes superiores do Império. A tática de
fustigar e recuar foi a mais empregada, provocando desgaste e constante
apreensão no inimigo que nunca sabia o momento em que poderia ser
atacado. Ocorreram 118 confrontos entre os farrapos e os imperialistas,
com 59 vitórias para cada lado. A estimativa é de que morreram 3.400
homens.
Embora tenha
durado dez anos, os combates ocorriam geralmente no verão ou primavera.
No tempo frio, os combatentes se recolhiam nas fazendas dos caudilhos,
cuidava-se do gado e da cavalhada. Mas não havia desmobilização - o
inverno era o período de recrutamento e organização. Período ideal para
planejamentos e para os negócios. Durante a revolução, os chefes
farroupilhas compravam armas, munições e víveres através dos seus
contatos nos países do Prata.
Para isso era
necessário dinheiro, porque a revolução não poderia ser financiada
apenas pelos estancieiros ricos, porque, se fosse assim, em pouco tempo
os recursos estariam exauridos e a guerra perdida. Foi então que entrou
em cena Irineu Evangelista de Souza, o barão e visconde de Mauá. Natural
de Arroio Grande, RS, Mauá também era maçom e muitas vezes ajudou a
libertar, com o seu dinheiro, líderes farroupilhas que estavam presos na
capital do Império.Há indícios de que Mauá coordenou a capitalização da
revolução através de seus contatos na Inglaterra. No Brasil, ele
representava a firma Carruthers, Castro e Cia., de Manchester – da qual
tornou-se gerente e depois sócio.
A revolução
tomou novo ímpeto com a vinda de Giuseppe Garibaldi e de Luigi Rosseti,
da Itália. Ambos carbonários e maçons. Eram exímios guerrilheiros.
Garibaldi tinha fugido da Itália, depois do fracasso do levante liderado
por Mazzini. Condenado à morte, em 1835, fugiu para Marselha e depois
para a Tunísia. Em 1839 veio para o Brasil e juntou-se à revolução.
Com
Garibaldi, a revolução teve o seu período romântico. Organizou-se uma
pequena frota, na tentativa de combater pelo mar, o que apenas deu a
oportunidade ao Império de bloquear o acesso à Lagoa dos Patos e ao
oceano. Para romper o cerco, Garibaldi mandou construir dois enormes
lanchões numa fazenda do atual município de Camaquã (que dista cerca de
125 km de Porto Alegre), que foram arrastados entre o atual município de
Palmares do Sul e a foz do Rio Tramandaí (no atual município de
Tramandaí) sobre carreta de 8 rodas, por cerca de 200 bois.
Em Araranguá, no Estado de Santa Catarina, o lanchão Rio Pardo
naufragou; todavia, seguiram em frente com o lanchão Seival, comandado
pelo estadunidense John Griggs. Em Laguna, as tropas de Garibaldi e de
David Canabarro obtiveram grande vitória e anexaram a Província, em
29/07/1839, denominando-a República Juliana.
Foi naquela ocasião que Garibaldi conheceu Ana Maria de Jesus Ribeiro,
com quem veio a casar-se e que ficou conhecida como Anita Garibaldi e
que o acompanhou em suas lutas – tanto no Brasil, como no Uruguai e,
depois, na guerra da unificação italiana.
Na batalha de Curitibanos, no início de 1840, Anita foi feita
prisioneira, mas o comandante do exército imperial, admirado com o seu
temperamento indômito, deixou-se convencer a deixá-la procurar o cadáver
do marido, supostamente morto na batalha. Em um instante de distração
dos guardas, tomou um cavalo e fugiu. Após atravessar a nado com o
cavalo o rio Pelotas, chegou ao Rio Grande do Sul, e encontrou-se com
Garibaldi em Vacaria.
Em 16 de setembro de 1840 nasceu o primeiro filho do casal, que recebeu
o nome de Menotti Garibaldi, em homenagem ao patriota italiano Ciro
Menotti. Depois de poucos dias, o exército imperial cercou a casa e
Anita fugiu a cavalo com o recém-nascido nos braços e alcançou o bosque
onde ficou deitada por quatro dias, até que Garibaldi a encontrou.
Os imperiais
retomaram Laguna em 15/11/1839. Em 1842, Bento Gonçalves dispensou
Garibaldi, que foi para o Uruguai, lutar contra Rosas. O jornalista
Luigi Rossetti, que editava o jornal farroupilha “O Povo”, tinha morrido
no combate de Viamão, em 1840, com o posto de capitão.
Apesar dos
inúmeros combates – mais escaramuças que combates – nenhuma grande
batalha ocorreu. Durante aqueles quase dez anos de guerra houve um jogo
tático entre os comandantes dos dois exércitos. Mas três grandes
combates foram quase decisivos. A tentativa de tomada de São José do
Norte pelos farroupilhas, quando não houve vitória, mas muito
derramamento de sangue; a tomada de Caçapava pelos legalistas, que
também foi cruenta, e o combate de Taquari, quando tropas de Bento
Gonçalves enfrentaram as tropas legalistas, mas foram obrigadas a
recuar.
A guerra não
se decidia e as tropas farroupilhas, apesar dos feitos heróicos, estavam
exauridas. Foi quando assumiu o governo da Província o maçom Luiz Alves
de Lima e Silva - Barão de Caxias.
AS TRAIÇÕES E O MASSACRE DE PORONGOS
[…]
Regule V. S. suas marchas de maneira que no dia 14, às duas horas da
madrugada possa atacar as forças a mando de Canabarro, que estará nesse
dia no Serro dos Porongos. […] No conflito poupe o sangue brasileiro o
quanto puder, particularmente da gente branca da Província ou índios,
pois bem sabe que essa pobre gente ainda nos pode ser útil no futuro.
[…] Não receia a infantaria inimiga, pois ela há de receber ordem de um
ministro de seu general-em-chefe para entregar o cartuchame sob o
pretexto de desconfiarem dela. Se Canabarro ou Lucas forem prisioneiros
deve dar-lhes escápula de maneira que ninguém possa nem levemente
desconfiar […]
Assinado por Luiz Alves de Lima e Silva, o então Barão de Caxias.
(Contestado
por muitos defensores de Canabarro, o documento escrito por Duque de
Caxias para o coronel Francisco Pedro de Abreu, o Moringue, em 9
de novembro de 1844 foi publicado em 1950 pela editora oficial do
Exército, sob ordens do então Ministro da Guerra, General Canrobert
Pereira da Costa, junto com outros documentos do Duque de Caxias. O
documento apresentado, inclusive com a devida assinatura de Caxias, é
reconhecido como autêntico pelo Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul.)
Os ideais dos
farroupilhas não foram além da luta pela igualdade de direitos entre
duas oligarquias monopolistas. A que centralizava o poder no país – o
Império – e os representantes das classes dominantes gaúchas,
principalmente latifundiários e profissionais liberais. Não foi uma luta
para a melhoria das relações sociais ou, mesmo, uma luta de classes
onde o povo teria reivindicado uma reestruturação da sociedade.
Ao contrário.
O povo foi enganado com idéias libertárias vagas, como “direito dos
cidadãos” e “luta contra o Império”, que foi demonizado. Mas os
verdadeiros direitos que os chefes farroupilhas buscavam eram os seus
direitos de classe possuidora dos meios de produção: o poder político.
Mas, no decorrer da revolução e para atrair adeptos e tornar simpática a
sua causa, os farroupilhas lançaram os ideais de Liberdade, Igualdade e
Humanidade. Palavras que, na prática, eram nulas, porque aquela era uma
sociedade opressora e escravocrata. Percebendo isso, os revolucionários
prometeram a libertação dos escravos e maior igualdade social.
Para que isso
se concretizasse e adotasse ares de verdade, e também para fortalecer
as forças farroupilhas, foram criados os corpos de Lanceiros Negros.
Foram dois corpos de lanceiros constituídos, basicamente, de negros
livres ou de libertos pela República Rio-Grandense que lutaram na
Revolução Farroupilha. Possuíam 8 companhias de 51 homens cada,
totalizando 426 lanceiros .
Os Corpos de Lanceiros Negros eram integrados por negros livres ou libertados pela Revolução e, após, pela República - com a condição de lutarem como soldados pela causa.Eram
recrutados, principalmente, entre os negros campeiros, domadores e
tropeiros das charqueadas, e, apesar de lhes ser prometida a liberdade
em caso de vitória da revolução, formavam corpos de combatentes
separados dos brancos. A sua única e verdadeira liberdade era a de lutar
pela causa dos brancos.
Foram os responsáveis pelas principais vitórias dos farroupilhas, como a
de 11 de setembro de 1936 e a da vitória de Laguna, em 1939.
Com a vinda
de Caxias como Presidente de Província, em novembro de 1842 começou a
estratégia de estrangulamento da economia dos revolucionários. Para isso
contou não só com os seu inexperientes 12.000 soldados como,
principalmente com a adesão do eterno traidor Bento Manuel Ribeiro.
Bento Manuel Ribeiro começou ao lado da Revolução, passou a apoiar o
Império, voltou para a Revolução e terminou defendendo o Império e
ajudando Caxias. Era a época dos caudilhos, que tinham as suas próprias
tropas e Bento Manuel era considerado o fiel da balança. Com o seu
apoio, Caxias atacou as cidades de fronteira, evitando o escoamento de
charque para Montevidéu e Laguna e comprando cavalos para impedir que os
Farrapos tivessem montaria. Mesmo assim, não conseguiu uma vitória
decisiva, porque os farroupilhas – com cerca de 4.000 soldados -
preferiam escolher o seu próprio campo de batalha e evitavam o confronto
direto. Quando perseguidos, os revolucionários se refugiavam no
Uruguai. Era a guerra de guerrilhas.
Ainda assim, os farroupilhas, atacando São Gabriel em 10 de abril de
1843 e, em 26 do mesmo mês, destroçaram Bento Manuel em Ponche Verde.
Mas Bento Manuel escapou, para se tornar, depois, marechal do exército
imperial. Foi a última vitória dos farrapos.
Em dezembro
de 1842 reuniu-se em Alegrete a Assembléia Constituinte, sob forte
discussão política. Era forte a oposição a Bento Gonçalves. Durante 1843
e 1844, sucederam-se brigas entre os farrapos. Numa destas, o líder
oposicionista Antônio Paulo da Fontoura foi assassinado. Onofre Pires
acusou Bento Gonçalves de ser o mandante. Este respondeu com o desafio a
um duelo. Neste duelo (28 de fevereiro de 1844) Onofre é ferido e
faleceu dias depois. Ainda em 1844, Bento Gonçalves iniciou conversações
de paz, mas retirou-se por discordar de Caxias em pontos fundamentais,
assumindo o seu lugar David Canabarro.
As tratativas
estavam em andamento quando surgiu um grande problema: o Império não
aceitava a libertação dos negros. Algo tinha que ser feito nesse sentido
para que a paz pudesse ser assinada. A questão dos escravos era o único
ponto que ainda barrava a assinatura da paz entre os grandes donos de
terras que articularam a Revolução Farroupilha e as forças do governo.
Em 9 de novembro de 1844 Caxias escreveu o documento acima (grifado) para Francisco Pedro de Abreu, o Moringue,
indicando lugar e hora para o ataque aos Lanceiros Negros que estariam
desarmados pelo próprio David Canabarro. Em 14 de novembro houve o
massacre. Durante a tarde, Canabarro os desarmou deixando apenas as
lanças e espadas - e foi passear com o seu estado-maior em uma fazenda
próxima.
À noite, Moringue
atacou, matando mais de cem negros e alguns brancos. Os que escaparam
foram “remanejados” para o exército imperial, após a revolução. Muitos
foram vendidos como escravos no Rio de Janeiro. Cerca de 40 ex-Lanceiros
Negros foram para a fazenda do general Netto, no Uruguai, como
escravos. As famílias dos que combateram pelos estancieiros continuaram
escravas. Os poucos negros que conseguiram escapar ao massacre formaram
pequenos grupos quilombolas.
O Império
precisava da paz devido à ameaça de Rosas e à já prevista Guerra contra o
Paraguai – ocasião e que Caxias ficou tristemente famoso. Sua fama de
carniceiro é bem conhecida, o povo paraguaio que o diga. Na guerra
travada contra o Paraguai, entre 1864 e 1870, ele lá esteve liderando o
genocídio de 76% dos habitantes daquele país - conforme os estudos de
Júlio José Chiavenato, publicados em livros que ficaram famosos anos
atrás.
Porém, ainda persiste o mito criado pelas classes dominantes
brasileiras e suas Forças Armadas de que Caxias seria "magnânimo na
vitória", apesar das evidências no Paraguai e do massacre de Porongos. O
general Netto também lutou naquela guerra. Foi quando, definitivamente,
perdeu a sua alma.
Segundo vários historiadores, a famosa “Paz de Ponche Verde” foi uma
paz comprada. Ninguém foi punido. Ao contrário, os chefes farroupilhas
receberam indenizações do governo. Muitos compraram terras com as
indenizações. Os oficiais republicanos passaram a pertencer ao exército
imperial, com o mesmo posto angariado na revolução. As dívidas de guerra
foram pagas pelo Império. Os ex-revolucionários puderam, finalmente,
indicar o Presidente da Província ao seu gosto.