O
preço das ações da Petrobras caem nos últimos dias motivado por pelo
menos três razões. A primeira é o aumento da alíquota do IOF, anunciado
pelo Governo para investimentos estrangeiros, o que diminui o lucro dos
investidores estrangeiros. A segunda razão é a flutuação do câmbio. Com a
desvalorização do dólar frente ao real, as ações ficam mais caras. A
terceira e principal eu considero um escândalo: a campanha difamatória
que a velha imprensa, associada a grandes grupos econômicos fazem contra
e empresa. Há interesse em desestabilizar a gestão para, em trazendo
prejuízos, comprovar a tese de que a União é incapaz de administrar
nossa 'galinha dos ovos de ouro'. Nesta quinta-feira, por exemplo, os
boatos tomaram conta do mercado. Seriam divulgadas denúncias envolvendo a
capitalização da empresa, em que funcionários do Governo teriam sido
beneficiadas. A iminência de um escândalo, ainda que falso,
afugenta investidores, avessos à volatilidade e risco. E quando muitos
vendem, as ações caem. Depois eles compram de novo mais barato. Assim é a
lógica. Isso é de uma falta de compromisso público e de uma
irresponsabilidade atrozes. Onde está a Comissão de Valores Mobiliários,
que deveria zelar por isso? E os órgãos reguladores do Governo? Como
evitar esse ataque especulativo contra todos nós brasileiros? Olha,
desse jeito está difícil manter a calma. Ainda mais porque um dos
formuladores da política econômica do candidato da oposição chegou a
pregar no início da semana a revisão do Marco Regulatório do Pré-Sal,
questionando, entre outras coisas, o aumento da participação acionária
do Estado no negócio. Oras, quem tem petróleo tem poder e isso é assim
no mundo todo. Só faltava agora sermos privados de nossa riqueza, em
benefício daqueles que sempre exploraram nosso país e nossas riquezas.
Isso nós brasileiros não vamos permitir!
Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
"É uma hora boa para desmascarar a intolerância"
Com a generosa ajuda da velha mídia brasileira, e uma mãozinha
da candidatura de Marina Silva, Serra conseguiu pautar a reta final do
primeiro turno e o inicio do segundo turno com uma temática religiosa. É
um atraso gigantesco para o Brasil. Parte dos apoiadores de Dilma acha
que a campanha do PT deve fugir desse debate, recolher apoios de
evangélicos e católicos, e rapidamente mudar de assunto. Penso um pouco
diferente.
por Rodrigo Vianna, em seu blog O Escrevinhador
É evidente que essa temática
religiosa não é o que interessa para o Brasil. Mas se Serra escolheu o
obscurantismo, é preciso mostrar isso à população. A esquerda, tantas e
tantas vezes, foge dos enfrentamentos. Acho que desse enfrentamento não
deveria fugir.
Por que ninguém do PT é capaz de dar uma resposta a Serra, deixando a Ciro Gomes a tarefa de pendurar o guiso no gato? Ciro disse -de forma muito apropriada - que o discurso de Serra é o caminho para um regime teocrático. Vejam:
(Ciro Gomes) “Por que o PSDB, que nasceu para ajudar a modernidade do País, resolveu agora advogar o Estado teocrático? O Serra tem de dizer que, na República que ele advoga, primeiro falam os aiatolás, e aí os políticos resolvem o que os aiatolás querem que seja feito.”
O Brasil, agora digo eu, precisa que se faça esse debate.
O Brasil precisa, também, comparar os resultados econômicos e sociais de FHC e Lula. Mas precisa de politização, precisa que se enfrente o pensamento conservador.
Essa é uma hora boa para desmascarar a intolerância religiosa.
Aliás, é preciso tomar cuidado ao associar “evangélicos”, apenas, a esse discurso intolerante. Não. Os ataques mais coordenados e mais perigosos partem da Igreja Católica.
É preciso – com muito cuidado e respeito pelos milhares de católicos e evangélicos que praticam a religião apenas para confortar suas almas, e para difundir o amor ao próximo – lembrar que já houve um tempo em que a religião mandava na política.
No Brasil Colonial, tivemos a Inquisição católica a prender, torturar e executar. A intolerância religiosa já matou muito – no mundo inteiro. Aprendemos isso na escola, ou deveríamos aprender (quem não se lembra da “Noite de São Bartolomeu” ,na França, pode ler algo aqui).
Já que Serra quer travar esse debate, devemos pendurar o guiso no gato, e perguntar se o que ele quer é um Estado teocrático. É isso?
Do lado de Serra, certamente ficará muita gente. Mas tenho certeza que do outro lado ficará o que há de civilizado nesse nosso país.
Na Espanha, esse debate é travado nas eleições. O PP (partido conservador) tem uma parceria muito próxima com a Opus Dei e com o catolicismo mais reacionário. O PSOE (social-democrata) não tem medo de assumir a defesa de um Estado laico – respeitando as práticas religiosas.
O PSOE ganhou eleição prometendo união civil de homossexuais. A direita católica do PP realizou marchas com quase um milhão de pessoas, contra essa plataforma. Levou bispos e padres (de batina e tudo) para as ruas. O PP tentou intimidar o PSOE. O que fez a centro-esquerda? Travou o debate, resistiu, deu uma banana para o terrorismo religioso. E ganhou.
É preciso ter coragem.
O círculo da direita se fecha: ela tem as igrejas (algumas), ela tem a velha mídia, ela tem a prática da intolerância.
“A ideologia da direita é o medo”, já nos ensinava Simone de Beauvoir.
A intolerância e o medo é que levaram o “Estadão” (que, diga-se, abre espaços para a Opus Dei) a demitir Maria Rita Kehl por ter escrito um artigo que contraria a linha oficial de “somos Serra até a morte”.
Nas redações, não há espaço para dissenso. Quem levanta a cabeça tem a cabeça cortada.
“Folha” (que censura blogs), “Estadão” (que demite colunista), “Veja” (com seu esgoto jornalístico a céu aberto) e “Globo” (sob comando de Ali “não somos racistas” Kamel) são a armada a serviço desse contra-ataque conservador. Isso já está claro há muito tempo. Mas Lula parece ter minimizado essa articulação, e acreditado que enfrentaria tudo no gogó – sem politizar o debate. Não deu certo. É preciso enfrentamento, politização.
Esse é um combate que merecer ser travado. Para ganhar ou perder. E acho que temos toda chance de ganhar.
Até porque, se Serra ganhar com esse discurso de ódio, e com esses apoios (panfletos da TFP, reuniões no Clube Militar, pregação e intolerância religiosas), o país (empresários, trabalhadores, classe média) precisa saber que teremos uma nação conflagrada durante 4 anos.
Não dá pra fazer de conta que isso não está acontecendo.
Há espaço para uma centro-direita civilizada no Brasil? Claro. Mas essa direita que avança com Serra não merece respeito. Merece ser combatida, como fazem os espanhóis e como fez o Ciro Gomes.
Com coragem.
Por que ninguém do PT é capaz de dar uma resposta a Serra, deixando a Ciro Gomes a tarefa de pendurar o guiso no gato? Ciro disse -de forma muito apropriada - que o discurso de Serra é o caminho para um regime teocrático. Vejam:
(Ciro Gomes) “Por que o PSDB, que nasceu para ajudar a modernidade do País, resolveu agora advogar o Estado teocrático? O Serra tem de dizer que, na República que ele advoga, primeiro falam os aiatolás, e aí os políticos resolvem o que os aiatolás querem que seja feito.”
O Brasil, agora digo eu, precisa que se faça esse debate.
O Brasil precisa, também, comparar os resultados econômicos e sociais de FHC e Lula. Mas precisa de politização, precisa que se enfrente o pensamento conservador.
Essa é uma hora boa para desmascarar a intolerância religiosa.
Aliás, é preciso tomar cuidado ao associar “evangélicos”, apenas, a esse discurso intolerante. Não. Os ataques mais coordenados e mais perigosos partem da Igreja Católica.
É preciso – com muito cuidado e respeito pelos milhares de católicos e evangélicos que praticam a religião apenas para confortar suas almas, e para difundir o amor ao próximo – lembrar que já houve um tempo em que a religião mandava na política.
No Brasil Colonial, tivemos a Inquisição católica a prender, torturar e executar. A intolerância religiosa já matou muito – no mundo inteiro. Aprendemos isso na escola, ou deveríamos aprender (quem não se lembra da “Noite de São Bartolomeu” ,na França, pode ler algo aqui).
Já que Serra quer travar esse debate, devemos pendurar o guiso no gato, e perguntar se o que ele quer é um Estado teocrático. É isso?
Do lado de Serra, certamente ficará muita gente. Mas tenho certeza que do outro lado ficará o que há de civilizado nesse nosso país.
Na Espanha, esse debate é travado nas eleições. O PP (partido conservador) tem uma parceria muito próxima com a Opus Dei e com o catolicismo mais reacionário. O PSOE (social-democrata) não tem medo de assumir a defesa de um Estado laico – respeitando as práticas religiosas.
O PSOE ganhou eleição prometendo união civil de homossexuais. A direita católica do PP realizou marchas com quase um milhão de pessoas, contra essa plataforma. Levou bispos e padres (de batina e tudo) para as ruas. O PP tentou intimidar o PSOE. O que fez a centro-esquerda? Travou o debate, resistiu, deu uma banana para o terrorismo religioso. E ganhou.
É preciso ter coragem.
O círculo da direita se fecha: ela tem as igrejas (algumas), ela tem a velha mídia, ela tem a prática da intolerância.
“A ideologia da direita é o medo”, já nos ensinava Simone de Beauvoir.
A intolerância e o medo é que levaram o “Estadão” (que, diga-se, abre espaços para a Opus Dei) a demitir Maria Rita Kehl por ter escrito um artigo que contraria a linha oficial de “somos Serra até a morte”.
Nas redações, não há espaço para dissenso. Quem levanta a cabeça tem a cabeça cortada.
“Folha” (que censura blogs), “Estadão” (que demite colunista), “Veja” (com seu esgoto jornalístico a céu aberto) e “Globo” (sob comando de Ali “não somos racistas” Kamel) são a armada a serviço desse contra-ataque conservador. Isso já está claro há muito tempo. Mas Lula parece ter minimizado essa articulação, e acreditado que enfrentaria tudo no gogó – sem politizar o debate. Não deu certo. É preciso enfrentamento, politização.
Esse é um combate que merecer ser travado. Para ganhar ou perder. E acho que temos toda chance de ganhar.
Até porque, se Serra ganhar com esse discurso de ódio, e com esses apoios (panfletos da TFP, reuniões no Clube Militar, pregação e intolerância religiosas), o país (empresários, trabalhadores, classe média) precisa saber que teremos uma nação conflagrada durante 4 anos.
Não dá pra fazer de conta que isso não está acontecendo.
Há espaço para uma centro-direita civilizada no Brasil? Claro. Mas essa direita que avança com Serra não merece respeito. Merece ser combatida, como fazem os espanhóis e como fez o Ciro Gomes.
Com coragem.
Segundo turno pode se tornar batalha do esclarecimento contra obscurantismo
Por Arlete Sampaio
Qualquer análise sobre o que significa este segundo turno deve ser
precedida por uma correta percepção sobre o que estamos travando: isso é
uma campanha ou é uma guerra? A última semana de 1º turno e o início da
primeira semana do 2º turno mostram que não estão fazendo campanha
contra Dilma. Estão travando uma guerra. Campanha insidiosa não é
campanha, é guerra. Campanha que abusa do sentimento religioso não é
campanha, é cruzada. Campanha que inventa frases nunca proferidas por
Dilma para demonizá-la não é campanha, é crime.
A quem interessa esse clima de guerra? A ninguém que cultive um
mínimo de espírito democrático. A ninguém que tenha esclarecimento
suficiente para saber que uma campanha eleitoral não é um plebiscito
sobre questões bioéticas que são complexas, que envolvem os três poderes
da República e que merecem um tratamento sério, e não sua banalização e
uso preconceituoso. Não era para ser isso, mas o segundo turno pode se tornar uma batalha do esclarecimento contra o obscurantismo. Voltamos ao século XVIII. É lá, no século XVIII, que os setores elitistas ultraconservadores insistem em querer manter o Brasil, em inúmeras questões. E é lamentável que parte considerável dos que se dizem democratas se renda a esse senhorio e aceite entrar pela porta dos fundos desse condomínio.
uso preconceituoso. Não era para ser isso, mas o segundo turno pode se tornar uma batalha do esclarecimento contra o obscurantismo. Voltamos ao século XVIII. É lá, no século XVIII, que os setores elitistas ultraconservadores insistem em querer manter o Brasil, em inúmeras questões. E é lamentável que parte considerável dos que se dizem democratas se renda a esse senhorio e aceite entrar pela porta dos fundos desse condomínio.
Ao percebermos esse quadro, é preciso uma mudança de postura. Da
candidata, dos partidos, dos militantes, e principalmente dos cidadãos
que vêem sua cidadania ser arranhada pelas patas do reacionarismo; dos
que são ameaçados em seu direito de discernir corretamente sobre o que
está em jogo, diante de uma pregação que não é só destinada ao 2º turno,
mas até a um 3º turno da eleição presidencial. Todos os setores
democráticos e populares, os que votaram em Marina e mesmo parte dos que
votaram em Serra têm o dever de entender o que se está passando. A
candidatura adversária está sendo capturada pelo
reacionarismo. O candidato Serra, que se dizia orgulhoso de sua biografia, será que ainda faz questão de preservá-la? É o que veremos, não no horário eleitoral gratuito, mas nas ruas, nos panfletos apócrifos, nas mensagens que destilam ódio pela internet, nos pronunciamentos de seu vice (seja lá quem for).
reacionarismo. O candidato Serra, que se dizia orgulhoso de sua biografia, será que ainda faz questão de preservá-la? É o que veremos, não no horário eleitoral gratuito, mas nas ruas, nos panfletos apócrifos, nas mensagens que destilam ódio pela internet, nos pronunciamentos de seu vice (seja lá quem for).
As três principais candidaturas (Dilma, Serra e Marina) fizeram um
primeiro turno relativamente tranqüilo, salvo pelas duas últimas semanas
de ataques irracionais à candidata governista. Dilma com um programa
propositivo, Serra fingindo não ser de oposição e Marina falando,
justamente, contra a polarização (que ela paradoxalmente contribuiu para
produzir, com o 2º turno). Segundo turno, não tem jeito: é plebiscito.
Ele representa um instrumento de grande importância em nosso sistema
político, pois garante que o escolhido seja de fato respaldado pela
ampla maioria dos eleitores. Por isso, os candidatos são obrigados a
mostrar quem são, o que representam e quem representam.
É disso que se trata: a partir de agora, vai ser preciso dar nome aos
bois e às boiadas. Dilma ultrapassou o teto histórico da votação da
esquerda em primeiro turno, mesmo das votações dadas às campanhas
vitoriosas de Lula. É um feito que demonstra o avanço conquistado pelos
movimentos sociais e suas organizações e pelo amadurecimento do
eleitorado brasileiro, facilitado por um conjunto de políticas públicas
que mostrou as diferenças abissais do governo Lula em relação a qualquer
outro governo.
Devemos pensar em três frentes: na política, na questão ambiental e
no desenvolvimento do país. Na política, o que está em jogo é o
enraizamento da participação popular no desenho das políticas públicas e
o fortalecimento das classes sociais menos favorecidas, em sua luta não
apenas por ascensão econômica, mas por protagonismo político. Isso é
algo que incomoda muita gente e que a ultradireita quer eliminar a todo
custo. Na questão ambiental, há uma guerra do setor predatório do
agronegócio
contra Dilma. Basta ver que os mapas de votação que dão maioria a Serra localizam-se fortemente em Estados e localidades que têm os maiores focos de agronegócio predatório. É só ver quem está do lado de Serra e os ruralistas que o apóiam.
contra Dilma. Basta ver que os mapas de votação que dão maioria a Serra localizam-se fortemente em Estados e localidades que têm os maiores focos de agronegócio predatório. É só ver quem está do lado de Serra e os ruralistas que o apóiam.
Já o modelo de desenvolvimento sustentável com inclusão social deve
mostrar suas diferenças com o modelo de desenvolvimento excludente,
privatista e predatório. Vamos ter que lembrar dos vôos de galinha, dos
“inimpregáveis”, dos “vagabundos” (foi assim mesmo que FHC denominou os
servidores públicos aposentados), da época em que se considerava delírio
um salário mínimo de100 dólares (isso mesmo, hoje daria menos de 170
reais). Será preciso mostrar o que fizemos em crescimento econômico e em
desenvolvimento social das regiões mais pobres. Teremos que relembrar o
que era a Petrobrás e o BNDES há 8 anos e o que eles representam agora,
ao terem sido transformados em alavancas do desenvolvimento nacional,
com impactos positivos até sobre a América do Sul.
Será preciso mostrar o que se fez política externa, que de um lado
simboliza a importância do Brasil no exterior e, de outro, atiça os que
têm o complexo de vira latas. Será preciso comparar o que se fez na
Saúde no Governo Lula com o caos da saúde em São Paulo, confrontando as
opções de gestão: de um lado, o fortalecimento da gestão pública; do
outro, o desmonte, a terceirização, a falta de investimentos. Será
preciso defender o Plano Nacional de Direitos Humanos 3, inclusive com a
ajuda dos que foram responsáveis pela área de direitos humanos durante a
gestão anterior.
Questões como essas deveriam ser o cerne do debate. Mas isso é para
uma campanha. Para uma guerra, é mais do que urgente que não só os
partidos coligados à candidatura Dilma, mas todos os movimentos de
cidadania que lutam arduamente pela melhoria da qualidade do voto, pelo
aperfeiçoamento da nossa democracia, pela não deturpação e manipulação
do debate eleitoral cumpram a tarefa de alertar os cidadãos e cidadãs
sobre as ações perversas dos que se aproveitam desse momento eleitoral e
do espaço dado pela candidatura adversária para esgrimir suas
ignomínias.
É preciso uma nova campanha da legalidade, com um trabalho militante
de recolhimento de denúncias e acionamento penal daqueles que se acham
livres para produzir atentados à democracia. Tenho a certeza de que, se
isso for estancado, deixaremos de travar uma guerra e poderemos
democraticamente iniciar uma campanha. E poderemos certamente descobrir
que os que apostam no envenenamento do debate eleitoral são
provavelmente os mesmos que acabaram derrotados na luta pela
redemocratização do país. Luta que custou muitas vidas e foi vitoriosa
graças a muita mobilização popular. É essa história que devemos defender
neste momento em que não podemos cair na defensiva, nem nos acovardar
pelas ameaças infames dos
profetas do golpismo e dos Zés do Apocalipse.
profetas do golpismo e dos Zés do Apocalipse.
(*) Arlete Sampaio é Deputada Distrital eleita pelo PT-DF, foi
Vice-Governadora do DF (1995-1998) e Secretária Executiva do Ministério
do Desenvolvimento Social do Governo Lula.
Paco de Lucia - III
1 La cañada
2 Mi niño Curro
3 La barrosa
4 Caña de azúcar
5 El pañuelo
6 Callejón del muro
7 Casilda
8 Gloria al niño Ricardo
Zyryab - 1990
Soniquete (Bulerías)
Tío Sabas (Tarantas)
Chick
Compadres
Zyryab
Canción de amor
Playa del Carmen (Rumba)
Almonte (Fandangos de Huelva)
Mais austeridade em Portugal trará nova recessão, alerta FMI
A economia portuguesa vai voltar a recuar no
próximo ano, segundo as previsões do Fundo Monetário Internacional
(FMI). A recessão vai atingir 1,4% e o número de desempregados vai
continuar a aumentar.
Jörg Decressin,
director assistente do departamento de pesquisa do FMI alertou para
nova recessão em Portugal, prevendo o efeito das novas medidas de
austeridade do Governo Sócrates.Foto LUSA/EPA/Stephen Jaffe
Parece que Portugal não tem escolha pois o corte no défice é mesmo para fazer já e a consequência será o regresso à recessão.
Esta quarta-feira, em Washington, a organização apresentou o seu último
'World Economic Outlook', onde se encontram as previsões semestrais
para a economia mundial e para Portugal. Estas estimativas não
contabilizam o impacto das novas medidas de austeridade anunciadas pelo
Governo, onde se inclui o corte de cinco por cento na massa salarial da
função pública e o aumento do IVA para 23 por cento.
Contudo, Jörg Decressin, director assistente do departamento de
pesquisa do FMI, considerou que o impacto dessas medidas poderá fazer
com que a economia portuguesa volte a mergulhar na recessão em 2011,
contraindo 1,4 por cento. "Estas medidas terão um efeito grande",
reconheceu o director, acrescentando que representam cerca de "3% do
PIB", cita o Diário Económico.
Ainda assim, o FMI apoia a decisão do Governo de intensificar os cortes
no défice. "Portugal está sob muita pressão e por isso aplaudimos a
decisão do Governo", garantiu Dressing.
Portugal deverá estagnar em 2011 e crescer 1,1% este ano, com desemprego a aumentar até aos 11%
No relatório ‘World Economic Outlook', o FMI revê em alta a previsão de
crescimento dos países da moeda única para 1,7 por cento em 2010 e 1,5
por cento em 2011, avisando, no entanto, que haverá "diferenças
significativas" nas perspectivas entre os diferentes países,
nomeadamente com as "graves restrições de financiamento externo" para
Portugal, Espanha, Grécia e Irlanda, que continuam a ser "uma ameaça" à
manutenção da zona euro.
A economia portuguesa deverá crescer 1,1 por cento este ano e estagnar
em 2011, enquanto a taxa de desemprego deverá continuar a aumentar tanto
em 2010 (10,7 por cento), como em 2011 (10,9 por cento). Segundo os
cálculos do FMI, entre 2009 e 2013 o país terá o segundo maior
agravamento mundial na taxa de desemprego.
A austeridade nas contas públicas e a ineficiência do tecido produtivo
vão empurrar a taxa de desemprego portuguesa para os 11% da população
activa, um dos maiores aumentos previstos a nível mundial na taxa de
desemprego em 2013, ano em que termina o programa de consolidação
orçamental.
Segundo adianta o jornal I, o pacote da austeridade pode gerar mais 120
mil desempregados até ao ano em que o défice descerá até 3% do PIB,
segundo o plano do governo. A crise que deu os primeiros sinais em 2007
custou ao país a destruição de 109 mil postos de trabalho até 2009. A
consolidação orçamental (2009-2011) que vem agora, segundo as contas do
FMI, roubará mais 31 mil empregos na economia portuguesa.
A inflação para este ano e para o próximo foi revista em alta pelo FMI
em 0,1 pontos percentuais. Para 2010, o FMI prevê um valor negativo de
dez por cento do Produto Interno Bruto (PIB), contra a previsão anterior
de 9 por cento. Para 2011, a previsão é de 9,2 por cento.
Já o Governo português espera que Portugal cresça mais de 1% em 2010 e
0,5% em 2011, apesar do impacto negativo das medidas de austeridade.
“Com as novas medidas de austeridade, será inevitável uma recessão económica em Portugal”
Francisco Louçã, contesta esta previsão de crescimento para 2011: “O
que percebemos hoje de todas as instituições internacionais é que os
sinais de alerta são gravíssimos, nós estamos à beira de uma recessão e o
aumento dos impostos acentua a recessão, a redução dos salários acentua
a recessão e por isso é escusado fechar os olhos”, argumentou o
deputado e coordenador da Comissão Política do Bloco.
“Com as medidas de austeridade anunciadas será inevitável uma recessão
económica em Portugal”, alerta, defendendo que o Orçamento do Estado
deve ter o emprego como prioridade.
“No último debate [quinzenal] perguntei ao primeiro-ministro o que
pensava que seria o efeito das suas políticas e ele garantiu que não
aconteceria nada, que a economia ficaria na mesma aumentando os impostos
ou mantendo o mesmo nível de impostos, diminuindo ou melhorando o
emprego, aumentando ou diminuindo os salários”, notou Louçã, em
declarações à imprensa, esta quarta-feira no Parlamento.
Segundo Francisco Louçã, uma recessão económica também agravará o
défice: “A recessão garante que o défice será maior no futuro, as
agências de notação e o FMI pedem-nos que reduzamos os salários e que
aumentemos os impostos, isso provoca recessão, a recessão vai provocar
menos receitas fiscais porque há menos economia, portanto vamos ter mais
défice num círculo vicioso do qual nunca saímos”.
“A ideia destes economistas [do FMI e da União Europeia] é que quanto
pior estiver o país melhor está o pagamento dos juros para a dívida
externa”, criticou.
quarta-feira, 6 de outubro de 2010
Ascensão social, egoísmo e liberdade
Boa reflexão pós primeiro turno feita por Miguel do Rosário em seu blog óleo do diabo
Não é de hoje que a agressividade se tornou uma das características
marcantes do serrismo. Na verdade, nem existe serrismo propriamente
dito, e sim um antilulismo radicalizado, que conseguiu transferir para
Dilma todo seu ódio. Todos nós que atuamos na blogosfera política
pertencemos à classe média ou nos relacionamos com ela, e sofremos na
pele essa hostilidade quase fanática que toma conta das pessoas
identificadas com o antilulismo. Ontem fiquei sabendo que a filha de
nove anos um amigo nosso da blogosfera sofreu um "bullying" no colégio
onde estuda, em São Paulo, porque manifestou apoio à Dilma. Seus
coleguinhas perseguiram-na depois da aula, chutaram-na, xingaram-na e
aterrorizaram-na por conta de suas razões políticas. Se isso não é o
início de uma mentalidade fascista, então não sei mais o que é fascismo.
O próprio crescimento econômico e a ascensão social acentuou esse egoísmo, tão natural ao ser humano, que o leva a agarrar-se às suas conquistas com uma espécie de pavor, com medo que o mesmo processo que o levou a ascender socialmente possa beneficiar seus vizinhos. É um sentimento maligno, vil, atrasado, mas perfeitamente humano, e como tal inspirado pelo instinto de sobrevivência. Roma decidiu destruir a bela Cartago apenas pelo medo de que esta ameaçasse sua hegemonia. Os EUA tornaram-se uma grande potência democrática impondo regimes totalitários a seu redor e espalhando miséria. Mesmo as pessoas mais generosas não conseguem resistir a uma pontinha de prazer ao saber do fracasso alheio.
Por isso mesmo, as propagandas do governo sobre as dezenas de milhões de famílias que ascenderam à classe média não comove a maior parte desta mesma classe média. Ela sente, afinal, e com razão, que ascendeu devido a seu próprio esforço e não em virtude das qualidades gerenciais daquela senhora com ar orgulhoso e sobrenome estrangeiro.
E a classe média tradicional propriamente dita não aguenta mais ouvir falar em ascensão social, porque experimenta na pele as consequências danosas desse processo. Até pouco tempo, um filho da classe média conseguia facilmente uma vaga na universidade e depois um cargo nas altas esferas do serviço público. Hoje isso está cada vez mais difícil. Os aeroportos eram vazios e confortáveis. O pobre era invisível, inofensivo, submisso, e agora invade os espaços antes reservados aos do andar de cima. Serviços domésticos custavam uma ninharia, hoje são quase um luxo.
Como cinéfilo que assiste dezenas de filmes por mês, sempre me impressiona o hábito das famílias norte-americanas ou européias de classe média de lavarem suas próprias louças, arrumarem suas casas, cozinharem sua própria comida, porque também assisto a novela das oito na Globo, onde o mundo ainda é radicalmente dividido entre casa grande e senzala, com empregadas de uniforme realizando serviços domésticos mais insignificantes. Os domésticos das novelas da Globo trabalham a qualquer hora do dia e da noite. Já vi cenas em que empregadas (geralmente lindas moças morenas) são acionadas no meio da noite para fazer um "sanduíche". Sem contar que não possuem vida própria. Os autores quase não se preocupam em lhes dar um status de personagem completo. Suas existências apenas giram em torno da vida de seus patrões.
Entretanto, suponho que o Brasil chegou a um estágio em que não dá mais para ficar se comparando aos EUA ou à Europa. Temos que, definitivamente, inventar a nossa própria cultura, aprimorar nossas instituições ao nosso jeito. E as questões morais deverão ser trabalhadas pelos produtores e distribuidores de cultura com mais responsabilidade e mais talento.
Se o egoísmo é inerente ao ser humano, existe uma razão natural para que ele exista. Ele serve à nossa sobrevivência e nos ajuda a nos consolidarmos como indivíduos perante um coletivo muitas vezes massacrante. É sabido como os egoístas e as pessoas sem escrúpulos tem facilidades para vencer na vida que outros não tem. A própria ambição, uma forma de egoísmo, é venerada e premiada hoje como uma virtude. E de certa forma é uma virtude. Sempre foi. Não adianta nos colocarmos no papel de representantes do bem, porque isso seria falso. O mal que permeia a sociedade também está em nós; não fosse assim, seríamos aberrações. A luta contra o mal não é para extirpá-lo, mas para regulá-lo, ponderá-lo, dominá-lo, usar sua energia selvagem a nosso favor e em favor da sociedade.
Esse foi, portanto, a maior deficiência da campanha de Dilma Rousseff, e que poderá inclusive custar-lhe a vitória. Essa falta de compreensão sobre o caráter egoísta (e humano) desta nova classe média, hoje maioria da população brasileira. Ela é ambiciosa. Não quer saber de eliminar a miséria. Ela quer ficar rica, o que também é uma forma de liberdade, talvez a mais efetiva de todas, e para isso não hesitará em incorporar os valores morais e políticos daqueles no alto da pirâmide.
Então entramos novamente no terreno moral. O próprio fato de analistas atribuírem a não-vitória no primeiro turno a fatores religiosos prova que houve uma carência de um discurso moral na campanha, exclusivamente centrada em estatísticas (apesar da emoção nas imagens).
Comparar os governos FHC e Lula, a meu ver, não comove esse vasto eleitorado marinista.
Dilma deveria explicar a essas famílias que a luta contra a pobreza não implica em prejuízo a seus planos de continuar ascendendo socialmente. Pelo contrário. O país crescerá este ano 7%, uma das maiores taxas do mundo. A continuidade desse processo político e econômico ampliará as oportunidades de enriquecimento e independência econômica. Neste ponto se interligam moral e economia. Marina soube falar ao coração da nova classe média e da juventude, cuja ambição pelo dinheiro gera ao mesmo tempo uma atormentada consciência de culpa que se reflete em maior severidade em relação a valores morais, como a ética na política, de um lado, e maior religiosidade, de outro.
Um setor crescente da classe média brasileira não quer mais esperança. Não quer mais assistência estatal. Não quer bolsa família. Não se empolga com R$ 600 de salário mínimo, porque não quer ganhar salário mínimo. Quer conforto, viagens ao exterior, carro e segurança financeira. O governo também proporcionou isso. Mas não soube mostrar na campanha. Ainda há tempo.
O próprio crescimento econômico e a ascensão social acentuou esse egoísmo, tão natural ao ser humano, que o leva a agarrar-se às suas conquistas com uma espécie de pavor, com medo que o mesmo processo que o levou a ascender socialmente possa beneficiar seus vizinhos. É um sentimento maligno, vil, atrasado, mas perfeitamente humano, e como tal inspirado pelo instinto de sobrevivência. Roma decidiu destruir a bela Cartago apenas pelo medo de que esta ameaçasse sua hegemonia. Os EUA tornaram-se uma grande potência democrática impondo regimes totalitários a seu redor e espalhando miséria. Mesmo as pessoas mais generosas não conseguem resistir a uma pontinha de prazer ao saber do fracasso alheio.
Por isso mesmo, as propagandas do governo sobre as dezenas de milhões de famílias que ascenderam à classe média não comove a maior parte desta mesma classe média. Ela sente, afinal, e com razão, que ascendeu devido a seu próprio esforço e não em virtude das qualidades gerenciais daquela senhora com ar orgulhoso e sobrenome estrangeiro.
E a classe média tradicional propriamente dita não aguenta mais ouvir falar em ascensão social, porque experimenta na pele as consequências danosas desse processo. Até pouco tempo, um filho da classe média conseguia facilmente uma vaga na universidade e depois um cargo nas altas esferas do serviço público. Hoje isso está cada vez mais difícil. Os aeroportos eram vazios e confortáveis. O pobre era invisível, inofensivo, submisso, e agora invade os espaços antes reservados aos do andar de cima. Serviços domésticos custavam uma ninharia, hoje são quase um luxo.
Como cinéfilo que assiste dezenas de filmes por mês, sempre me impressiona o hábito das famílias norte-americanas ou européias de classe média de lavarem suas próprias louças, arrumarem suas casas, cozinharem sua própria comida, porque também assisto a novela das oito na Globo, onde o mundo ainda é radicalmente dividido entre casa grande e senzala, com empregadas de uniforme realizando serviços domésticos mais insignificantes. Os domésticos das novelas da Globo trabalham a qualquer hora do dia e da noite. Já vi cenas em que empregadas (geralmente lindas moças morenas) são acionadas no meio da noite para fazer um "sanduíche". Sem contar que não possuem vida própria. Os autores quase não se preocupam em lhes dar um status de personagem completo. Suas existências apenas giram em torno da vida de seus patrões.
Entretanto, suponho que o Brasil chegou a um estágio em que não dá mais para ficar se comparando aos EUA ou à Europa. Temos que, definitivamente, inventar a nossa própria cultura, aprimorar nossas instituições ao nosso jeito. E as questões morais deverão ser trabalhadas pelos produtores e distribuidores de cultura com mais responsabilidade e mais talento.
Se o egoísmo é inerente ao ser humano, existe uma razão natural para que ele exista. Ele serve à nossa sobrevivência e nos ajuda a nos consolidarmos como indivíduos perante um coletivo muitas vezes massacrante. É sabido como os egoístas e as pessoas sem escrúpulos tem facilidades para vencer na vida que outros não tem. A própria ambição, uma forma de egoísmo, é venerada e premiada hoje como uma virtude. E de certa forma é uma virtude. Sempre foi. Não adianta nos colocarmos no papel de representantes do bem, porque isso seria falso. O mal que permeia a sociedade também está em nós; não fosse assim, seríamos aberrações. A luta contra o mal não é para extirpá-lo, mas para regulá-lo, ponderá-lo, dominá-lo, usar sua energia selvagem a nosso favor e em favor da sociedade.
Esse foi, portanto, a maior deficiência da campanha de Dilma Rousseff, e que poderá inclusive custar-lhe a vitória. Essa falta de compreensão sobre o caráter egoísta (e humano) desta nova classe média, hoje maioria da população brasileira. Ela é ambiciosa. Não quer saber de eliminar a miséria. Ela quer ficar rica, o que também é uma forma de liberdade, talvez a mais efetiva de todas, e para isso não hesitará em incorporar os valores morais e políticos daqueles no alto da pirâmide.
Então entramos novamente no terreno moral. O próprio fato de analistas atribuírem a não-vitória no primeiro turno a fatores religiosos prova que houve uma carência de um discurso moral na campanha, exclusivamente centrada em estatísticas (apesar da emoção nas imagens).
Comparar os governos FHC e Lula, a meu ver, não comove esse vasto eleitorado marinista.
Dilma deveria explicar a essas famílias que a luta contra a pobreza não implica em prejuízo a seus planos de continuar ascendendo socialmente. Pelo contrário. O país crescerá este ano 7%, uma das maiores taxas do mundo. A continuidade desse processo político e econômico ampliará as oportunidades de enriquecimento e independência econômica. Neste ponto se interligam moral e economia. Marina soube falar ao coração da nova classe média e da juventude, cuja ambição pelo dinheiro gera ao mesmo tempo uma atormentada consciência de culpa que se reflete em maior severidade em relação a valores morais, como a ética na política, de um lado, e maior religiosidade, de outro.
Um setor crescente da classe média brasileira não quer mais esperança. Não quer mais assistência estatal. Não quer bolsa família. Não se empolga com R$ 600 de salário mínimo, porque não quer ganhar salário mínimo. Quer conforto, viagens ao exterior, carro e segurança financeira. O governo também proporcionou isso. Mas não soube mostrar na campanha. Ainda há tempo.
O coronelismo eletrônico evangélico
Por Venício A. de Lima no Observatório da Imprensa |
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Estado e Igreja Católica Romana sempre
estiveram muito próximos no Brasil. Herdamos dos colonizadores
portugueses esse vínculo e não foi por acaso que fomos chamados de
"Terra de Santa Cruz" e o primeiro ato solene em solo brasileiro tenha
sido a celebração de uma missa. A Constituição outorgada de 1824 estabelecia o catolicismo como religião oficial do Império. Essa condição perdurou até o início da República quando Deodoro da Fonseca assinou o Decreto 119-A, de 7 de janeiro de 1890. Desde então, instaurou-se a separação oficial entre Igreja e Estado e nos tornamos, do ponto de vista legal, um Estado laico. Na sua origem latina a palavra significa leigo, secular, neutro, por oposição a eclesiástico, religioso. Frente parlamentar Embora no Preâmbulo da Constituição de 1988 conste que ela foi promulgada "sob a proteção de Deus", o inciso I do artigo 19, é claro: I – estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na formada lei, a colaboração de interesse público. Exatamente pelo caráter laico formal do Estado brasileiro, a crescente participação de igrejas no sistema de comunicações e na política vem, gradativamente, merecendo a atenção de analistas e pesquisadores. Coronelismo eletrônico evangélico do cientista político Valdemar Figueredo Filho, originalmente tese de doutorado defendida no Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro, IUPERJ, constitui uma importante contribuição ao entendimento de parcela significativa das relações entre Estado e religião no nosso país. O argumento principal de Figueredo Filho é que "a representação política evangélica é o mesmo que representação das redes de comunicação evangélicas" e "nem mesmo os supostos valores morais comuns ao grupo religioso conseguem o grau de coesão alcançados pelos interesses relacionados à formação, manutenção e expansão de suas redes de comunicação". No contexto legal que regula a concessão, renovação e o cancelamento dos serviços públicos de rádio e televisão no Brasil, isso significa a manutenção de um tipo particular de coronelismo eletrônico, agora o evangélico. A representação evangélica no Congresso Nacional tem aumentado na medida em que também aumenta o percentual de evangélicos no total da população brasileira. Dados levantados por Figueredo Filho para o ano de 2000 indicam que esse percentual já atingia 15,6% contra apenas 9% em 1990. Em relação à representação política, no entanto, há uma diferença fundamental. Se até o final da década de 1980 ela era composta, sobretudo, por usuários do rádio e da televisão (a chamada "igreja eletrônica"), a partir de então ela passou a ser principalmente de concessionários deste serviço público. O pesquisa realizada por Figueredo Filho, baseda em informações da Anatel e da Abert, até março de 2006, revela que 25,18% das emissoras de rádio FM e 20,55% das AM nas capitais brasileiras são evangélicas. Há de se notar, no entanto, que as denominações Pentecostais são as que controlam o maior número de concessões, destacando-se a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), entre as emissoras FM, e a Igreja Assembléia de Deus (IAD), entre as AM. Em relação à televisão, além do grande número de programas evangélicos que é transmitido por emissoras de TV abertas, existem também redes cujas entidades concessionárias são igrejas. E, sobretudo, existe um grande número de retransmissoras (RTVs) controladas diretamente por igrejas. A criação de uma Frente Parlamentar Evangélica, ainda em 2003, formaliza a articulação dos interesses evangélicos no Congresso Nacional. Estes são defendidos através da participação de seus membros nas comissões de Comunicação tanto na Câmara quanto no Senado e nas votações das proposições legislativas em plenário. Rádios comunitárias O livro de Figueredo Filho mostra que, a exemplo do que ocorre também em relação às outorgas de rádios comunitárias, número expressivo das concessionárias das emissoras de rádio e televisão (aberta) e RTVs estão vinculadas a entidades religiosas. E mais ainda: seus representantes são atores políticos que atuam de forma articulada no Congresso Nacional na defesa de interesses religiosos e na formação, manutenção e ampliação da suas redes de comunicação. Obviamente os evangélicos não são o único grupo religioso concessionário do serviço público de radiodifusão. E a utilização de concessões públicas não é a única forma de atuação de grupos religiosos na mídia. O livro de Figueredo Filho levanta, todavia, uma questão que não pode ser ignorada: uma concessão pública que, por definição, deve estar "a serviço" de toda a população pode continuar a atender interesses particulares de qualquer natureza – inclusive ou, sobretudo, religiosos? Ou, de forma mais direta: se a radiodifusão é um serviço público cuja exploração é concedida pelo Estado (laico), pode esse serviço ser utilizado para proselitismo religioso? Curiosamente a Lei 9.612/1998 proíbe o proselitismo de qualquer natureza (§ 1º do artigo 4º) nas rádios comunitárias. Uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI 2566 de 14 de novembro de 2001), contra esta proibição, ainda aguarda julgamento no Supremo Tribunal Federal. Até o julgamento, cabe perguntar: a norma que vale para as outorgas de rádios comunitárias não deveria valer também para as emissoras de rádio e de televisão pagas e/ou abertas? [Brasília, julho de 2010] |
O clima de assédio moral entre evangélicos
Por Elias Aredes Junior no blog do nassif
Nassif, Quero dar aqui meu testemunho sobre o clima nas igrejas
evangélicas brasileiras. Sou protestante, cresci na Igreja Metodista e
atualmente frequento a Igreja do Nazareno em Campinas. Concordo com a
tese defendida por Marcos Moniz, mas quero chamar a atenção para outro
aspecto fundamental: o preconceito e o clima de perseguição que existe
dentro das próprias igrejas evangélicas com pessoas de ideário
progressista. Apesar dos esforços de pastores que criaram o Movimento
Evangélico Progressista, a atitude natural é que a pessoa que vota no PT
seja discriminada e colocada de lado na maioria das igrejas. Seja antes
durante ou depois das eleições. Já senti isso na pele.
os e atitudes vividos aqui em Campinas comprovam meu
temor. Basta dizer que, no início do mês passado, recebi diversos vídeos
direcionados contra o PT pelo pastor Paschoal Piragine Junior, da
Primeira Igreja Batista de Curitiba. Suas declarações continham
inverdades e informações deturpadas. Como cidadão que sou, fiz a minha
parte e redigi uma resposta direcionada ao pastor e esclarecendo os
pontos inveridicos. Mandei até para pessoas que considerava como amigos
intimos. O que recebi em troca? Ao invés de um debate saudavel, o fruto
colhido foi preconceito, ignorância e retaliação de todas as partes.
Algumas pessoas colocaram até o meu carater em dúvida em virtude da
minha posição política. Quero deixar claro, porém, que o pastor titular
da igreja que frequento, chamado Fernando Henrique Cavalcante de
Oliveira, nunca fez qualquer comentário danoso. Pelo contrário: é um dos
únicos líderes evangélicos de Campinas que usam o púlpito apenas para
propagar a palavra de Deus e não se envolve com politica. Pode fazer uma
declaração sobre o tema, mas com o objetivo que as pessoas adotem a
consciência como único norte para a definição do voto. Independente do
partido político de preferência da pessoa.
Outro fato concreto: a igreja Assembléia de Deus, cuja sede em
Campinas está no Parque Itália, por diversas vezes no culto de
quarta-feira fez campanha escancarada contra o Partido dos
Trabalhadores. Mais: chegaram a exibir o vídeo do pastor
Piragine durante o culto e distribuir cópias do vídeo aos frequentadores
do culto. Que são mais de 2 mil pessoas. Agora, o detalhe: o pastor
titular da igreja é Paulo Freire, eleito deputado federal pelo Partido
da República, coligado com o Partido dos Trabalhadores.
Outro detalhe: a maioria das pessoas com quem converso e que
frequentam as igrejas são enfáticas em condenar o PT sobre a posição
sobre o aborto. Dizem o slogan sobre a vida, etc e tal. Mas são
incapazes de discutir temas fundamentais como planejamento familiar e
controle de natalidade. E de se informar que se existe o tema no
programa de governo de Dilma Roussef é para contemplar a ala feminista
do partido. E que os católicos e evangélicos não aprovam o tema. Mas que
nada. Não adianta argumentar: a pessoa que tenta explicar é condenada
sumariamente, sem perdão. Por isso, digo sem medo de errar: esses temas
são proibidos de se discutir dentro das igrejas evangélicas. Existe uma
censura velada e o lema é seguir o líder incontestável.
Um outro tema carregado de preconceito é a união de homossexuais.
Escolher a opção sexual é a opção de cada e se nós, evangélicos
propagamos que é pecado deveríamos amar ainda mais. Por que Cristo antes
de qualquer coisa amou o pecador. Pois eu digo que já
presenciei em uma igreja de Campinas um pastor fazer o seguinte
comentário ao vislumbrar diante de si uma passeata gay: "Tive vontade de
pegar meu carro e jogar em cima daquelas pessoas". Detalhe: a
declaração foi feita diante de um público de, no minimo, três mil
pessoas.
Nassif e colaborares do blog: a verdade é que está instituida na
igreja evangélica brasileira o voto de cabresto. E na maioria das vezes,
a pessoa que declara o seu voto no Partido dos Trabalhadores recebe em
troca retaliação, discriminação e censura. E até a perda de vinculos de
amizade.
Chamo atenção para o seguinte fato: nos Estados Unidos, em 2000 e
2004, presenciaram as suas eleições focadas em aspectos morais. A
orientação sedimentou a vitória de George W. Bush., que certamente
entrou para a história como um dos piores presidentes da história dos
EUA. Não estou dizendo que Serra é o Bush
Por isso, mais do que um texto, este é um apelo de uma pessoa com
ideário progressista e que deseja apenas possuir o direito de exercer a
sua cidadania. E mais: que sonha com o dia em que a igreja evangélica
tenha maturidade e capacidade de contemplar variedade de opiniões.
Guiar-se apenas pela mente de pessoas designadas como comandantes de um
rebanho (pelo menos isso é que deveriam fazer!!!) que adotam a
retaliação politica como norma de conduta.
terça-feira, 5 de outubro de 2010
Fundamentalismos religiosos são ameaça à democracia brasileira
Um dos problemas que afloraram nesta
eleição é o da emergência dos fundamentalismos religiosos católicos e
protestantes, tentando influir nas decisões políticas do país. Até mesmo
a famosa organização fascista-católica Opus Dei, de grande penetração
na Península Ibérica, estaria presente em São Paulo, apoiando o
candidato do PSDB.
Luís Carlos Lopes no Carta Maior
Infelizmente, as eleições presidenciais não
se resolveram no primeiro turno. Ter-se-á que voltar às urnas no próximo
dia 31 de outubro. Nesta data, quando chegar a noite, o novo
presidente(a) será conhecido de todos brasileiros. Ao que parecia, no
primeiro turno, o processo eleitoral teria resolvido a mesma questão.
Mas isto não ocorreu. Os resultados impuseram a celebração do segundo
turno e para isto os candidatos e eleitores terão que se posicionar. A
política é cheia de surpresas, de revelações que precisam ser claramente
avaliadas.
A disputa voltará a ser, com mais ênfase, a luta contrária ao candidato-síntese das direitas do país. É possível que ambos disputantes digam – verdade ou mentira – que eram ambientalistas desde criancinhas, bem como, sempre defenderam os princípios religiosos, como mais importantes do que os de natureza laica, isto é, os relacionados à política real.
Equívocos sobre equívocos serão cometidos na tentativa de se obter a vitória final. É quase impossível evitar que tal ocorra, quando o objetivo se esvai em trinta dias e o que se quer é vencer de qualquer modo. De todo o jeito, é preciso lembrar que o presidente da República não é e nem será o proprietário das crenças de ninguém e que o Brasil é um país plural, onde convivem modos diversos de se crer. O que se espera é que o futuro presidente(a) garanta a continuação das conquistas dos trabalhadores, as ampliem e eleve o país a um novo patamar possível, do ponto vista social e cultural.
Um dos problemas que afloraram nesta eleição é o da emergência dos fundamentalismos religiosos católicos e protestantes, tentando influir nas decisões políticas do país. Até mesmo a famosa organização fascista-católica Opus Dei, de grande penetração na Península Ibérica, estaria presente em São Paulo, apoiando o candidato oficial do PSDB. O fundamentalismo de origem protestante renovada teria tido o seu peso nas eleições em vários níveis. Padres e pastores ultraconservadores instaram seus fiéis a apoiarem determinados candidatos e participaram na rede de intrigas sociomidiáticas que vem caracterizando esta eleição. Esta atitude vinha sendo desenvolvida em várias campanhas e problemas nacionais. Desta vez, surgiu com maior força e, talvez, para ficar.
O problema dos grupos religiosos fundamentalistas não é de natureza teológica. Eles demonstram possuir, onde atuam, uma visão política antiga que flerta com o fascismo. Segundo estas organizações, a verdade que acreditam devem ser estendidas a todos. As pessoas deveriam simplesmente obedecer como cordeiros a determinação desta minoria. Apesar de numerosos, eles são minoria e não são tão organizados como parecem ser. Suas opiniões flutuam como folhas ao vento, porque são determinadas pelo que ouvem nos seus templos e nas redes de comunicação que dominam. O recado que passaram é que existem e precisam ser considerados. Entretanto, não é difícil ver que suas convicções, quando ultrapassam o terreno religioso, são facilmente moldáveis pelas exigências que pesam sobre todo mundo, vindas da sociedade de consumo e do espetáculo, isto é, do capitalismo contemporâneo.
As próprias características das religiões professadas pelos mais fundamentalistas os aproximam de problemas materiais bastante concretos. O autor destas linhas não crê que o problema seja exatamente o aborto, praticado na ilegalidade por pelo menos três milhões de brasileiras a cada ano. Pensa que existem muitos que não crêem de fato nas mesmas coisas ditas nos templos, nos programas religiosos da TV e das emissoras de rádio, na imprensa religiosa e nos canais internéticos dominados pela ortodoxia da fé. De algum modo, eles sabem disto tudo, mesmo que neguem ou façam de conta que o mundo é exatamente o que eles acham que deveria ser. De fato, o que desejam é ser reconhecidos e precisam para isto provocar e aprender os limites de suas ações. Não se vive o mundo medieval e nem mesmo o da Reforma e o da Contra-Reforma. Queira-se ou não, religião é coisa fundamentalmente de foro íntimo, compartilhada entre iguais em lugares específicos.
É difícil imaginar que todos os eleitores que votaram sob a influência fundamentalista sejam tão radicais, e acreditem na teoria e na prática que suas verdades são inabaláveis. Certamente, entre as ovelhas existem muitas que podem ser desgarradas e entre os padres, os pastores, nem todos, são tão obedientes assim às ordens da conservação. Como quaisquer seres humanos, eles têm dúvidas e esperam ser ensinados a partir de outras fontes de autoridade, além das que se apropriaram de suas consciências. É provável que alguns queiram ser eles mesmos, por não serem absolutamente alienados ou loucos. Esses podem vir a rejeitar posturas de grupo que não contemplem diferenças individuais. Podem se dividir e votar no segundo turno de modo diverso.
Para convencê-los é preciso repolitizar o debate. A agenda básica do país não é a perseguição às religiões minoritárias e às suas crenças. Espera-se que isto jamais seja o mote de qualquer governo. O Brasil é um país tolerante a qualquer crença e a qualquer movimento religioso. As pessoas devem ser livres para acreditar no que quiserem, mas precisam ser educadas para entender que suas crenças e o modo em que vivem não são únicos. Alguém precisa lhes dizer que não se está na Idade Média, na época do nazifascismo e da ditadura militar. Todos podem ser livres responsavelmente, sabendo os limites sociais de suas liberdades. Ninguém deve impor aos outros, o que acredita como certo e inelutável. A luta é pelo convencimento livre de pressões e imposições é uma conquista que abrange a todos. Mesmo que se saiba que o problema de alguns é o da falta de escolas sérias e de mídias que realmente complementem o processo educacional.
Acha-se estéril uma discussão retórica sobre o problema do aborto. Esta não é uma questão a ser tratada no calor de uma eleição. De outro lado, mais cedo ou mais tarde ele será legalizado. Isto já ocorreu há muito tempo nos EUA, no Canadá, na Europa Ocidental e em Cuba. No Oriente inúmeras nações o legalizaram, tais como a China, a Índia, dentre outras. A América Latina é um bastião contrário, cada vez mais solitário. Todavia, há inúmeros sinais de ruptura. O mais recente foi sua legalização na cidade do México. A marcha é inexorável e precisa ser conhecida de todos. Se ele vier, quem for contrário poderá continuar a sê-lo. Ninguém será obrigado a fazê-lo. Tal como as religiões, isto é, em grande parte do mundo atual, uma questão de foro íntimo. O que tem que acabar é a hipocrisia e a exploração radical das crianças no mundo real.
A disputa voltará a ser, com mais ênfase, a luta contrária ao candidato-síntese das direitas do país. É possível que ambos disputantes digam – verdade ou mentira – que eram ambientalistas desde criancinhas, bem como, sempre defenderam os princípios religiosos, como mais importantes do que os de natureza laica, isto é, os relacionados à política real.
Equívocos sobre equívocos serão cometidos na tentativa de se obter a vitória final. É quase impossível evitar que tal ocorra, quando o objetivo se esvai em trinta dias e o que se quer é vencer de qualquer modo. De todo o jeito, é preciso lembrar que o presidente da República não é e nem será o proprietário das crenças de ninguém e que o Brasil é um país plural, onde convivem modos diversos de se crer. O que se espera é que o futuro presidente(a) garanta a continuação das conquistas dos trabalhadores, as ampliem e eleve o país a um novo patamar possível, do ponto vista social e cultural.
Um dos problemas que afloraram nesta eleição é o da emergência dos fundamentalismos religiosos católicos e protestantes, tentando influir nas decisões políticas do país. Até mesmo a famosa organização fascista-católica Opus Dei, de grande penetração na Península Ibérica, estaria presente em São Paulo, apoiando o candidato oficial do PSDB. O fundamentalismo de origem protestante renovada teria tido o seu peso nas eleições em vários níveis. Padres e pastores ultraconservadores instaram seus fiéis a apoiarem determinados candidatos e participaram na rede de intrigas sociomidiáticas que vem caracterizando esta eleição. Esta atitude vinha sendo desenvolvida em várias campanhas e problemas nacionais. Desta vez, surgiu com maior força e, talvez, para ficar.
O problema dos grupos religiosos fundamentalistas não é de natureza teológica. Eles demonstram possuir, onde atuam, uma visão política antiga que flerta com o fascismo. Segundo estas organizações, a verdade que acreditam devem ser estendidas a todos. As pessoas deveriam simplesmente obedecer como cordeiros a determinação desta minoria. Apesar de numerosos, eles são minoria e não são tão organizados como parecem ser. Suas opiniões flutuam como folhas ao vento, porque são determinadas pelo que ouvem nos seus templos e nas redes de comunicação que dominam. O recado que passaram é que existem e precisam ser considerados. Entretanto, não é difícil ver que suas convicções, quando ultrapassam o terreno religioso, são facilmente moldáveis pelas exigências que pesam sobre todo mundo, vindas da sociedade de consumo e do espetáculo, isto é, do capitalismo contemporâneo.
As próprias características das religiões professadas pelos mais fundamentalistas os aproximam de problemas materiais bastante concretos. O autor destas linhas não crê que o problema seja exatamente o aborto, praticado na ilegalidade por pelo menos três milhões de brasileiras a cada ano. Pensa que existem muitos que não crêem de fato nas mesmas coisas ditas nos templos, nos programas religiosos da TV e das emissoras de rádio, na imprensa religiosa e nos canais internéticos dominados pela ortodoxia da fé. De algum modo, eles sabem disto tudo, mesmo que neguem ou façam de conta que o mundo é exatamente o que eles acham que deveria ser. De fato, o que desejam é ser reconhecidos e precisam para isto provocar e aprender os limites de suas ações. Não se vive o mundo medieval e nem mesmo o da Reforma e o da Contra-Reforma. Queira-se ou não, religião é coisa fundamentalmente de foro íntimo, compartilhada entre iguais em lugares específicos.
É difícil imaginar que todos os eleitores que votaram sob a influência fundamentalista sejam tão radicais, e acreditem na teoria e na prática que suas verdades são inabaláveis. Certamente, entre as ovelhas existem muitas que podem ser desgarradas e entre os padres, os pastores, nem todos, são tão obedientes assim às ordens da conservação. Como quaisquer seres humanos, eles têm dúvidas e esperam ser ensinados a partir de outras fontes de autoridade, além das que se apropriaram de suas consciências. É provável que alguns queiram ser eles mesmos, por não serem absolutamente alienados ou loucos. Esses podem vir a rejeitar posturas de grupo que não contemplem diferenças individuais. Podem se dividir e votar no segundo turno de modo diverso.
Para convencê-los é preciso repolitizar o debate. A agenda básica do país não é a perseguição às religiões minoritárias e às suas crenças. Espera-se que isto jamais seja o mote de qualquer governo. O Brasil é um país tolerante a qualquer crença e a qualquer movimento religioso. As pessoas devem ser livres para acreditar no que quiserem, mas precisam ser educadas para entender que suas crenças e o modo em que vivem não são únicos. Alguém precisa lhes dizer que não se está na Idade Média, na época do nazifascismo e da ditadura militar. Todos podem ser livres responsavelmente, sabendo os limites sociais de suas liberdades. Ninguém deve impor aos outros, o que acredita como certo e inelutável. A luta é pelo convencimento livre de pressões e imposições é uma conquista que abrange a todos. Mesmo que se saiba que o problema de alguns é o da falta de escolas sérias e de mídias que realmente complementem o processo educacional.
Acha-se estéril uma discussão retórica sobre o problema do aborto. Esta não é uma questão a ser tratada no calor de uma eleição. De outro lado, mais cedo ou mais tarde ele será legalizado. Isto já ocorreu há muito tempo nos EUA, no Canadá, na Europa Ocidental e em Cuba. No Oriente inúmeras nações o legalizaram, tais como a China, a Índia, dentre outras. A América Latina é um bastião contrário, cada vez mais solitário. Todavia, há inúmeros sinais de ruptura. O mais recente foi sua legalização na cidade do México. A marcha é inexorável e precisa ser conhecida de todos. Se ele vier, quem for contrário poderá continuar a sê-lo. Ninguém será obrigado a fazê-lo. Tal como as religiões, isto é, em grande parte do mundo atual, uma questão de foro íntimo. O que tem que acabar é a hipocrisia e a exploração radical das crianças no mundo real.
Luís Carlos Lopes é professor e escritor.
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