Por Redação do Correio do Brasil, de São Paulo
O economista Ricardo Abramovay, professor-titular do Departamento de
Economia da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA)
da Universidade de São Paulo e Coordenador do Núcleo de Economia
Socioambiental (NESA); além de membro-titular do Conselho Científico da
Maison des Sciences de l’Homme de Montpellier, na França, distribuiu uma
nota à imprensa, neste domingo, longe dos objetivos dos estudos e do
trabalho que desenvolve, para dar voz a uma indignação civil e paterna.
“Não posso deixar de enviar-lhes a nota de meu filho Pedro Vieira
Abramovay, em resposta à repugnante matéria de capa de hoje da revista
(semanal de ultradireita) Veja”, escreveu, em mensagem dirigida à
imprensa e aos amigos, que segue na íntegra:
Nota de Pedro Abramovay
“Nego peremptoriamente ter recebido, de qualquer autoridade da
República, em qualquer circunstância, pedido para confeccionar, elaborar
ou auxiliar na confecção de supostos dossiês partidários. Não
participei de supostos grupos de inteligência em nenhuma campanha
eleitoral. Nunca, em minha vida, tive que me esconder.
“A revista Veja, na edição número 2188 de 2010, afirma ter
obtido o áudio de uma gravação clandestina entre mim e um ex-colega de
trabalho. Infelizmente a revista se recusou a fornecer o conteúdo da
suposta conversa ou mesmo a íntegra de sua transcrição.
“Dediquei os últimos oito de meus 30 anos a contribuir para a
construção de um Brasil mais livre, justo e solidário, e tenho muito
orgulho de tudo o que faço e de tudo o que fiz. Trabalhei no Ministério
da Justiça como Assessor Especial, Secretário de Assuntos Legislativos e
Secretário Nacional de Justiça, conseguindo de meus pares respeito
decorrente de meu trabalho.
“Apesar de ver meu nome exposto desta forma, não foi abalada minha fé
na capacidade de transformação de nosso país e tampouco na crença da
importância fundamental de uma imprensa livre para o fortalecimento de
nossa democracia.
“Pedro Vieira Abramovay – Secretário Nacional de Justiça”
Arapongas e dossiês
Na reportagem do meio de comunicação que encarna o discurso dos
setores mais retrógrados da sociedade conservadora nacional, a
reportagem afirma que “os diálogos aos quais a reportagem teve acesso
foram gravados legalmente e periciados para afastar a hipótese de
manipulação”. Mas não cita a origem da gravação, sem precisar se o
material a que o repórter da revista teria acessado foi produto de um
inquérito, no âmbito de algum processo judicial, ou ato de alguém
contratado para esse fim.
O Correio do Brasil consultou o Ministério da
Justiça acerca da publicação de um dos diálogos, no qual o ministro da
Justiça, Luiz Paulo Barreto, sua chefe de gabinete, Gláucia de Paula, e o
então secretário nacional de Justiça Romeu Tuma Júnior conversam sobre a
origem do poder do diretor da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa —
que teria conseguido, entre outras coisas, evitar o indiciamento de
Gilberto Carvalho, chefe de gabinete do presidente Lula”. Até o
fechamento desta matéria, o ministério não havia se pronunciado.
Presidente do PT, José Eduardo Dutra, em conversa com jornalistas,
neste domingo, também preferiu não comentar sobre o fato de o secretário
exonerado Romeu Tuma Júnior ter confirmado à revista que Abramovay
queixou-se de ser pressionado por petistas para produzir dossiês.