Karl Marx nasce em 5 de maio de
1818, em Trier, na Renânia, filho de judeus alemães convertidos ao
cristianismo. Seu pai era um liberal admirador do Iluminismo e a família
Marx tinha como vizinho o alto funcionário do governo da Prússia, barão
Ludwig Von Westphalen, culto aristocrata, pai de Jenny, futura esposa
do jovem Marx.
Eduardo Mancuso *
“transformar o mundo”, disse Marx, “mudar a vida”, disse Rimbaud – para nós essas duas palavras de ordem são apenas uma.
(André Breton)
Em 1841, após alguns anos na universidade – em Bonn e Berlim – onde
conhece a obra filosófica de Hegel, Marx aprova sua tese de doutorado
sobre os pensadores gregos Demócrito e Epicuro, mas o reacionário
governo prussiano recusa uma cátedra ao jovem doutor. Ele assume então a
direção do jornal A Gazeta Renana, mas sua linha editorial democrático
radical leva o governo a fechá-lo. Em 1843, casa-se com Jenny e emigra
para Paris, onde conhece Engels , mergulha na história da Revolução
Francesa e do socialismo e na efervescência das sociedades e dos clubes
operários.
Em 1844, Marx colabora na publicação dos Anais Franco-Alemães e
redige os Manuscritos econômico-filosóficos, também conhecidos como
Manuscritos de Paris. Nessa obra de juventude, Marx define o comunismo
como a superação da “pré-história” humana, e faz uma lúcida previsão:
Para superar o pensamento da propriedade privada, basta o
comunismo pensado. Para suprimir a propriedade privada efetiva, é
necessária uma ação comunista efetiva. A história virá trazê-la, e
aquele movimento que já conhecemos em pensamento como um movimento que
se supera a si mesmo percorrerá na realidade um processo muito duro e
muito extenso.
Em 1845, Marx e Friederich Engels já haviam estabelecido uma sólida
amizade e uma parceria política e intelectual que duraria décadas, e que
se inicia com a elaboração a quatro mãos de A sagrada família, cujo
subtítulo era Crítica de uma crítica crítica (apresentação sarcástica
das idéias metafísicas de alguns filósofos idealistas alemães), em que
definem a essência da sua concepção humanista e materialista da
história: A história nada faz, ela “não possui nenhuma riqueza imensa”,
“não trava nenhuma batalha”. É o homem, o homem vivo, real, que faz tudo
isto, que possui e luta; a “história” não é uma pessoa à parte, que usa
o homem para seus próprios fins particulares; a história nada é senão a
atividade do homem que persegue seu objetivo...
Nesse mesmo ano, expulso da França, Marx vai para Bruxelas, Bélgica.
Ele escreve, então, as geniais e concisas Teses sobre Feuerbach, breves
anotações feitas pelo jovem de 27 anos em seu caderno, marcadas por um
humanismo radical e revolucionário que inaugura a filosofia da práxis.
Engels as chamou de “germe genial de uma nova concepção do mundo”. Com
as Teses sobre Feuerbach, Marx lança as bases de “um novo materialismo”,
profundamente dialético e distinto do materialismo vulgar existente até
então. Na tese 2, Marx afirma a prática como critério de verdade:
A questão de saber se é preciso conceder ao pensamento humano uma
verdade objetiva não é uma questão de teoria, porém uma questão
prática. É na prática que o homem deve comprovar a verdade, isto é, a
realidade efetiva e a força, o caráter terrestre de seu pensamento.
Na tese 3, a prática revolucionária aparece como síntese da mudança do mundo e da autotransformação:
A doutrina materialista da mudança das circunstâncias e da
educação se esquece de que as circunstâncias são mudadas pelos homens e
que o próprio educador deve ser educado. (...) A coincidência da mudança
das circunstâncias e da atividade humana ou autotransformação só pode
ser interpretada e racionalmente compreendida como prática
revolucionária.
E conclui suas anotações com a célebre tese 11:
Os filósofos apenas interpretaram o mundo de forma diferente, o que importa é mudá-lo.
Em 1846, Marx e Engels concluem mais um trabalho conjunto, os dois
volumes de A ideologia alemã. O manuscrito não foi publicado e ficou
entregue “à crítica roedora dos ratos” segundo os próprios autores (sua
primeira edição vem a público apenas no século XX). A ideologia alemã
apresenta a definição clássica sobre a dominação ideológica:
As idéias da classe dominante são, em cada época, as idéias
dominantes; isto é, a classe que é a força material dominante da
sociedade é, ao mesmo tempo, sua força espiritual dominante. A classe
que tem à sua disposição os meios de produção material dispõe, ao mesmo
tempo, dos meios de produção espiritual, o que faz com que a ela sejam
submetidas, ao mesmo tempo e em média, as idéias daqueles aos quais
faltam os meios de produção espiritual.
Em 1847, Marx publica A miséria da filosofia, uma crítica da doutrina
contida na “filosofia da miséria” do pensador anarquista Proudhon.
Segundo Engels A miséria da filosofia também apresenta “os princípios
fundamentais de suas novas concepções históricas e econômicas”; esboça
também a teoria sobre o sujeito revolucionário:
De todos os instrumentos de produção, a maior força produtiva é a
própria classe revolucionária. (...) A condição de emancipação da
classe operária é a abolição de todas as classes (...). No transcurso
de seu desenvolvimento, a classe operária substituirá a antiga sociedade
civil por uma associação que exclua as classes e seu antagonismo; e não
existirá já em poder político propriamente dito, pois o poder político
é, precisamente, a expressão oficial do antagonismo de classe, dentro da
sociedade civil. Enquanto isso, o antagonismo entre o proletariado e a
burguesia é a luta de uma classe inteira contra outra classe, luta que,
levada a sua mais alta expressão, implica numa revolução total.
Marx e Engels ingressam na Liga dos Comunistas (antiga Liga dos
Justos, organização de trabalhadores alemães emigrados), e redigem o
programa do movimento. O Manifesto do Partido Comunista fica pronto e é
editado no início de 1848, pouco antes de explodir as revoluções
européias, a Primavera dos Povos, que apesar da derrota abre um novo
período da luta de classes em escala internacional. Um espectro ronda a
Europa, o espectro do comunismo, assim inicia o mais famoso panfleto
político de todos os tempos, que apresenta como pressuposto que a
história de todas as sociedades até o presente é a história das lutas de
classes, resume a dialética da modernidade com a metáfora tudo que é
sólido desmancha no ar, e conclui com a palavra de ordem: Proletários de
todos os países, uni-vos!
Antevisão genial da globalização capitalista, o Manifesto é mais
atual hoje do que há 150 anos. Para o sociólogo Michael Lowy, a
atualidade do Manifesto Comunista se origina de suas qualidades ao mesmo
tempo críticas e emancipadoras, isto é, da unidade indissolúvel entre a
análise do capitalismo e o chamado à sua destruição, entre o exame
lúcido das contradições da sociedade burguesa e a utopia revolucionária
de uma sociedade solidária e igualitária.
Ainda em 1848, Marx e Engels voltam para a Alemanha e se instalam em
Colônia, onde lançam o jornal Nova Gazeta Renana, mas o processo
revolucionário reflui e Marx faz o balanço político do movimento em As
lutas de classes na França, no qual conclui que o fim do ciclo das
revoluções burguesas abriria a época das revoluções proletárias. Em
março de 1850, na Mensagem ao Comitê Central da Liga dos Comunistas,
Marx utiliza pela primeira vez o conceito de “revolução permanente” como
o processo que levaria “até a conquista do poder estatal pelo
proletariado” e “não em um único país, mas em todos os países dominantes
do mundo inteiro”.
A partir daí, Marx fixa residência em Londres, onde passa anos na
completa miséria, a ponto de algumas vezes não poder ir ao Museu
Britânico, onde realiza suas pesquisas, em razão de ser obrigado a
penhorar seu casaco de inverno para poder comprar papel e continuar
escrevendo. Em 1852, ele escreve outra obra-prima, O dezoito brumário de
Luis Bonaparte, sobre o golpe de estado de Napoleão III na França. As
suas primeiras linhas são célebres:
Hegel observa, em uma de suas obras, que todos os fatos e
personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por
assim dizer, duas vezes. E esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez
como tragédia, a segunda como farsa. (...) Os homens fazem sua própria
história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de
sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas
e transmitidas pelo passado.
Entre 1857-58, Marx redige vários manuscritos que dão origem aos
chamados Grundrisse (Elementos fundamentais para a Crítica da Economia
Política), que só serão conhecidos um pouco antes da Segunda Guerra
Mundial, publicados pelo Instituto Marx-Engels –Lenin de Moscou, sem
maior divulgação. Devido à sua importância na evolução intelectual da
obra teórica de Marx, os Grundrisse são considerados por alguns
analistas como uma espécie de “elo perdido” entre o “jovem Marx” e a sua
obra da maturidade.
Em 1859, Marx publica Contribuição à Crítica da Economia Política, e
no seu famoso prefácio resume as linhas gerais da sua concepção
materialista da história:
Nas minhas pesquisas, cheguei à conclusão de que as relações
jurídicas – assim como as formas de Estado – não podem ser compreendidas
por si mesmas, nem pela dita evolução geral do espírito humano,
inserindo-se, pelo contrário, nas condições materiais de existência... A
conclusão geral a que cheguei e que, uma vez adquirida, serviu de fio
condutor dos meus estudos, pode formular-se resumidamente assim: na
produção social da sua existência, os homens estabelecem relações
determinadas necessárias, independentes da sua vontade, relações de
produção que correspondem a um determinado grau de desenvolvimento das
forças produtivas materiais. O conjunto dessas relações de produção
constitui a estrutura econômica da sociedade, a base concreta sobre a
qual se eleva uma superestrutura jurídica e política e a qual
correspondem determinadas formas de consciência social. O modo de
produção da vida material condiciona o desenvolvimento da vida social,
política e intelectual em geral. Não é a consciência dos homens que
determina o seu ser; é o seu ser social que, inversamente, determina a
sua consciência. Em certo estágio de desenvolvimento, as forças
produtivas materiais da sociedade entram em contradição com as relações
de produção existentes ou, o que é a sua expressão jurídica, com as
relações de propriedade no seio das quais se tinham movido até então. De
formas de desenvolvimento das forças produtivas, estas relações
transformam-se no seu entrave. Surge então uma época de revolução
social.
Durante sua primeira década em Londres, o único rendimento de Marx
era como colaborador do jornal Tribuna de Nova York, mas após esse
período dificílimo, Engels garante a ele uma ajuda financeira regular, e
um grande amigo, o militante comunista Wilhelm Wolf, deixa-lhe uma
pequena herança. Marx dedica a ele o primeiro volume de O Capital
(1867), que não consegue concluir em vida (Engels edita o volume II em
1885 e o volume III em 1894). Antes de publicar O Capital, Marx termina
os três volumes intitulados Teorias da mais-valia, em que analisa
criticamente o pensamento teórico sobre a economia política,
particularmente o de Adam Smith e David Ricardo.
Em 1864, um congresso realizado em Londres funda a Associação
Internacional dos Trabalhadores (Primeira Internacional) e Marx redige o
seu Manifesto Inaugural, onde assinala que a emancipação dos
trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores. Durante o breve
período de existência da Internacional, Marx se dedica a sua organização
e assume a condição de principal dirigente do Conselho Geral. A derrota
da Comuna de Paris, em 1871, quando o povo parisiense toma o poder na
capital durante mais de dois meses e implanta um governo democrático
revolucionário, mas é esmagado pelo exército francês em um banho de
sangue, sela o destino da Internacional. Para Marx, a Comuna é a
primeira “ditadura do proletariado” da história (baseada no armamento do
povo e no voto direto e universal), e mostra que o governo dos
trabalhadores precisa destruir o Estado burguês e erguer um estado
controlado democraticamente pelos produtores associados, destinado a
desaparecer historicamente junto com a divisão da sociedade em classes
sociais. Marx presta homenagem a Comuna de Paris publicando A guerra
civil em França, e propõe ao Congresso da Internacional de 1872,
realizado na Holanda, a transferência da sede da organização para os
Estados Unidos, em razão da repressão generalizada que se segue ao
massacre da Comuna; porém, a Primeira Internacional deixa de funcionar
em 1876.
A partir da década de 1870, declina a capacidade de trabalho de Marx,
em face do agravamento do seu estado de saúde, mas, preocupado com o
programa adotado pelos socialistas alemães, em 1875 escreve a Crítica ao
Programa de Gotha:
Entre a sociedade capitalista e a sociedade comunista media o
período da transformação revolucionária da primeira na segunda. A este
período, corresponde também um período político de transição, cujo
Estado não pode ser outro que a ditadura revolucionária do proletariado.
Em 1882, no prefácio da edição russa do Manifesto Comunista, Marx
realiza uma previsão ao mesmo tempo heterodoxa (para os padrões do
socialismo até então) e genial: que uma revolução na Rússia pode
constituir-se no sinal para a revolução proletária no Ocidente, de modo
que uma complemente a outra. Em 1883, após a morte de sua esposa e de
sua filha mais velha, Marx falece e é enterrado no cemitério de
Highgate.
Dois séculos depois do desaparecimento do “pensador socialista que
maior influência exerceu sobre o pensamento filosófico e social e sobre a
própria história da humanidade”, conforme ressalta verbete do
Dicionário do Pensamento Marxista; após a social-democracia e o
stalinismo terem sido remetidos para a “lata do lixo da história”; e em
plena crise sistêmica do capitalismo globalizado, que já ameaça a
continuidade da vida humana no planeta; podemos seguramente concordar
com o marxista norte-americano Marshall Berman: “Marx está vivo. E vai
bem de saúde”.
* Eduardo Mancuso é historiador e do comitê organizador do Forum Social Temático "Justiça social e ambiental" - Porto Alegre 2012. |
Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
sábado, 14 de maio de 2011
Karl Marx, 193 anos
Uruguai pede “aviso prévio” e revela insatisfação com barreiras comerciais no Mercosul
Igor Natusch no Sul21
O bloco que surgiu como a oportunidade de revolucionar a relação
econômica entre os países do Mercosul dá sinais de estar vivendo um
momento no qual o livre comércio não é, no fim das contas, tão livre
assim. As barreiras erguidas entre os principais países do Cone Sul
dificulta a circulação entre as portas do comércio sul-americano e
provoca revolta em países de menor força econômica, que se dizem
prejudicados por seus irmãos mais avantajados. O novo capítulo nas
tensões dentro do Mercosul ocorreu na última quinta-feira (12), quando o
presidente uruguaio José Mujica pediu um aviso prévio de 15 dias úteis
antes da adoção de medidas protecionistas por parte dos integrantes do
bloco.
Na proposta, solicita-se também que os anúncios devem ir além das
tradicionais licenças não automáticas, englobando todos os tipos
possíveis de protecionismo. A declaração, aparentemente dotada de um
toque de ironia, revela também a insatisfação do Uruguai com o modo como
os integrantes do Mercosul, em especial a Argentina e o Brasil,
conduzem a relação econômica com os países vizinhos, muitas vezes indo
contra o caráter de livre comércio que se espera de um bloco econômico
do tipo.
Em fevereiro, medidas protecionistas adotadas pelo governo argentino
passaram a dificultar a entrada de 585 produtos fabricados no Uruguai,
atingindo especialmente os setores têxtil, plástico e de couro. Em
conversas com empresários, Mujica já havia criticado a aplicação de
medidas não alfandegárias dentro do bloco econômico – que, somadas com
as “dimensões colossais” de Brasil e Argentina, acabam influindo até
mesmo na escolha de empresas multinacionais, que acabam ignorando o
Uruguai e instalando unidades nos países vizinhos.
“O Uruguai sempre teve restrições com relação ao Mercosul”, conta
Antônio Carlos Fraquelli, economista da FEE. Como exemplo, Fraquelli
lembra que o ex-presidente uruguaio Jorge Batlle Ibáñez chegou a sugerir
que o país deixasse o Mercosul, estabelecendo a partir daí uma relação
comercial bilateral com os EUA. “E Batlle é um colorado, não um blanco.
Ou seja, um político menos conservador”, acentua Fraquelli. No contexto
uruguaio, portanto, não se trata de uma indignação inédita, diz o
economista.
Ciente de que a cutucada de José Mujica podia provocar desconforto em
Buenos Aires e Brasília, coube a Sebastián Torres, diretor nacional de
Indústrias do Uruguai, explicar com mais detalhes a quais tipos de
barreira referem-se o pedido de antecedência do governo uruguaio. A
lista inclui cotas, disposições sobre etiquetados, requisitos técnicos,
exigência de apresentação de certificados para autorizar a importação,
medidas sanitárias e relação critério-valor. Contatado pela reportagem
do Sul21, o Itamaraty disse não ter conhecimento das declarações de
Mujica e, portanto, não estar preparado para comentar o caso.
Licenças não automáticas para veículos dividem Brasil e Argentina
Não é apenas na relação com países menos influentes dentro do
Mercosul, como Uruguai e Paraguai, que as aparentes contradições do
modelo se fazem sentir. O Brasil determinou nessa sexta-feira (13) que
as licenças para a entrada de veículos importados no país não serão mais
concedidas de forma automáticas, podendo demorar até dois meses. A
medida está sendo interpretada por alguns analistas como uma retaliação
ao comportamento protecionista da Argentina.
Em resposta, a ministra da Indústria da Argentina, Débora Giorgi,
enviou uma carta ao colega brasileiro Fernando Pimentel, na qual garante
a “inexistência de um impacto negativo sobre as exportações do Brasil à
Argentina” no que toca às medidas adotadas pelo governo de Cristina
Kirchner. Acrescentando que desde 2003 a Argentina manifesta preocupação
com o “persistente e crescente déficit comercial” entre os dois países,
Débora Giorgi conclui dizendo que o Brasil tem imposto dificuldades à
entrada de vários produtos argentinos no mercado nacional, de forma que
não se justificariam as críticas feitas pelo setor privado brasileiro.
De acordo com o economista Antônio Carlos Fraquelli, as discordâncias
se acentuam na medida em que o Mercosul não é nem mesmo um bloco
econômico, ao menos não aos moldes europeus. “Trata-se de uma iniciativa
para integrar mercados”, explica. Falta, segundo ele, mecanismos
existentes no modelo da Europa, como a adoção de institutos monetários
ou de um Banco Central do Mercosul. De qualquer modo, o economista da
FEE acredita que o Mercado Comum do Sul já viveu momentos mais
complicados. “O Mercosul nasceu quando Brasil e Paraguai, por exemplo,
tinham que lidar com inflações altíssimas”, relembra. Apesar das
barreiras internas, a corrente de comércio cresce dentro do Mercosul, de
acordo com Fraquelli, especialmente em função da presença de produtos
de origem chinesa no continente.
A própria situação dos países mais fortes do bloco parece ser um
sinal de que o Mercosul vai estar subjugado, mesmo que temporariamente,
aos interesses dos principais atores econômicos da região. “O Brasil, no
momento, está às voltas com os índices de inflação”, diz o economista
da FEE. “A Argentina, por sua vez, está encarando uma guerra para
controlar a dívida pública, entrou em conflito com os produtores rurais,
maquia a própria inflação. São países que estão, nesse momento,
preocupados com os próprios problemas. O Mercosul, para eles, fica meio
que em standby. E países como o Uruguai e o Paraguai acabam ficando em
uma situação de menor relevância no Cone Sul”.
A definição a respeito do pedido uruguaio deve ficar para a cúpula do
Mercosul que se realizará em Assunção (Paraguai), no final de junho. A
ideia da cúpula, que era celebrar os 20 anos do Mercosul, deve ficar
para trás – afinal, o que conta agora é aparar as arestas e diminuir
tensões, em nome da continuidade do bloco econômico do Cone Sul.
sexta-feira, 13 de maio de 2011
A intolerância é desumanização
Do blog de Manuela D'Ávila
Porto Alegre tem como uma
de suas marcas, a defesa da garantia e da promoção dos Direitos
Humanos. A capital gaúcha – terra do Fórum Social Mundial e da
participação popular – deu mais uma vez, ontem, prova dessa marca. Cerca
de 850 pessoas participaram da atividade que recebeu o sociólogo e
professor português, Boaventura de Souza Santos, reconhecido
internacionalmente pelo trabalho nesta área.
A deputada Manuela d`Ávila, presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, ressaltou a importância de um evento como esse em Porto Alegre. “Temos trabalho junto à CDHM no combate a todas as formas de intolerância. Esse mal atinge milhões de brasileiros que sofrem com o preconceito descabido e com a intolerância de uma pequena parte da nossa sociedade. Ouvir o professor Boaventura mais uma vez reforça nossa luta e nosso trabalho”, disse. Manuela afirmou, também, que "mais do que mudar e criar leis, é preciso mudar a cultura do nosso povo, ou seja, a cultura que ainda valoriza a intolerância e que nos faz vivermos casos de violência exacerbada".
O professor Boaventura falou sobre as diferentes manifestações de intolerância e, também, sobre as formas de fascismo existentes ainda hoje. Disse ele, ainda, que "quando a democracia deixa de ser uma bandeira apenas do povo e passa a ser item do Banco Mundial é preciso refletir. Tantos possuidores de direitos que não os exercem, às vezes destroem a democracia mantendo-a. Isso porque o conceito de democracia é insuficiente”.
Sobre os entraves no exercício da democracia, o professor lembrou que a cidadania é um conjunto de direitos que a gente tem por fazermos parte de um Estado Nação. Na democracia, portanto, temos o poder partilhado. “Hoje, nos vemos, porém, que as instituições estão a perder capacidades de atuação”. Para Boaventura, o nosso tempo é um tempo complexo e contraditório. “O neoliberalismo é uma forma antissocial do capitalismo”, disse.
Para o sociólogo, as maiores manifestações de democracia vieram antes das instituições, revoluções e participação popular. Além disso, trouxe para a discussão a questão das redes sociais, que ocupam cada vez mais espaços no cotidiano das pessoas. Para Boaventura, esse espaço existe e torna-se cada vez mais importante porque as instituições são insuficientes.
Intolerância – sobre a intolerância, Boaventura afirmou que tolerar é muito pouco. Não podemos apenas "suportar". Precisarmos conviver com a diferença, ouvir, aprender com ela. Para exemplificar, o sociólogo trouxe a questão dos paquistaneses. “Quem pode dizer aos paquistaneses que a democracia ocidental é perfeita? Que os direitos existem de fato? Apenas o imperialismo norte-americano tem essa ‘coragem’, coragem de interferir em uma realidade cuja cultura é absolutamente diferente”, lembrou. Isso é intolerância, é não respeitar o diferente.
Fascismo – O Fascismo social é, segundo Boaventura, o resultado da grande concentração de renda, da discriminação sexual, étnica, racial e da desigualdade. Não é nada que se possa comparar a democracia. Segundo o professor, “a intolerância é o poder de veto sobre a vida”. Ele lembrou, ainda, que o apartheid social também é um tipo de fascismo, o social. ”Condomínios fechados de um lado, violência nas zonas selvagens das cidades de outro. Entre esses lados, existe um a apartheid social. De um lado matam jovens negros nas favelas, do outro, carregam moças para atravessar a rua”, citou.
Para Boaventura, outros tipos de fascismo devem ser combatidos. O fascismo territorial (porque há espaços em que Estado não chegou e em que não se permite a entrada do estado), o fascismo do capitalismo financeiro (que submete economias de países à imposições de poucos poderosos), e o fascismo da intolerância.
Este, segundo Boaventura, é fenômeno diferente dos demais. “A desigualdade combina em par com o preconceito. Diferenciação social, hierárquica, de religião, orientação sexual... Isso é intolerância. Isso é uma teia de desigualdade. E precisamos lutar contra isso com força”.
O professor disse, ainda, que "a intolerância é desumanização. Ela existe porque tem três pilares: preconceito, interesse e ideologia. Estas formas estão aumentando sistematicamente. É a guerra de todos contra todos, a guerra do medo, da insegurança. É importante pensarmos que a intolerância desmoraliza e que traz em si uma arrogância explícita. Tolerar é muito pouco. Precisamos enriquecimento mútuo: reconhecemos a diferença e enriquecemos com ela”, defendeu.
O mundo não tem receitas. “Não há ideia universal. Há, sim, ideias incompletas que podem, unidas, construir uma possibilidade”, finalizou Boaventura.
A deputada Manuela d`Ávila, presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, ressaltou a importância de um evento como esse em Porto Alegre. “Temos trabalho junto à CDHM no combate a todas as formas de intolerância. Esse mal atinge milhões de brasileiros que sofrem com o preconceito descabido e com a intolerância de uma pequena parte da nossa sociedade. Ouvir o professor Boaventura mais uma vez reforça nossa luta e nosso trabalho”, disse. Manuela afirmou, também, que "mais do que mudar e criar leis, é preciso mudar a cultura do nosso povo, ou seja, a cultura que ainda valoriza a intolerância e que nos faz vivermos casos de violência exacerbada".
O professor Boaventura falou sobre as diferentes manifestações de intolerância e, também, sobre as formas de fascismo existentes ainda hoje. Disse ele, ainda, que "quando a democracia deixa de ser uma bandeira apenas do povo e passa a ser item do Banco Mundial é preciso refletir. Tantos possuidores de direitos que não os exercem, às vezes destroem a democracia mantendo-a. Isso porque o conceito de democracia é insuficiente”.
Sobre os entraves no exercício da democracia, o professor lembrou que a cidadania é um conjunto de direitos que a gente tem por fazermos parte de um Estado Nação. Na democracia, portanto, temos o poder partilhado. “Hoje, nos vemos, porém, que as instituições estão a perder capacidades de atuação”. Para Boaventura, o nosso tempo é um tempo complexo e contraditório. “O neoliberalismo é uma forma antissocial do capitalismo”, disse.
Para o sociólogo, as maiores manifestações de democracia vieram antes das instituições, revoluções e participação popular. Além disso, trouxe para a discussão a questão das redes sociais, que ocupam cada vez mais espaços no cotidiano das pessoas. Para Boaventura, esse espaço existe e torna-se cada vez mais importante porque as instituições são insuficientes.
Intolerância – sobre a intolerância, Boaventura afirmou que tolerar é muito pouco. Não podemos apenas "suportar". Precisarmos conviver com a diferença, ouvir, aprender com ela. Para exemplificar, o sociólogo trouxe a questão dos paquistaneses. “Quem pode dizer aos paquistaneses que a democracia ocidental é perfeita? Que os direitos existem de fato? Apenas o imperialismo norte-americano tem essa ‘coragem’, coragem de interferir em uma realidade cuja cultura é absolutamente diferente”, lembrou. Isso é intolerância, é não respeitar o diferente.
Fascismo – O Fascismo social é, segundo Boaventura, o resultado da grande concentração de renda, da discriminação sexual, étnica, racial e da desigualdade. Não é nada que se possa comparar a democracia. Segundo o professor, “a intolerância é o poder de veto sobre a vida”. Ele lembrou, ainda, que o apartheid social também é um tipo de fascismo, o social. ”Condomínios fechados de um lado, violência nas zonas selvagens das cidades de outro. Entre esses lados, existe um a apartheid social. De um lado matam jovens negros nas favelas, do outro, carregam moças para atravessar a rua”, citou.
Para Boaventura, outros tipos de fascismo devem ser combatidos. O fascismo territorial (porque há espaços em que Estado não chegou e em que não se permite a entrada do estado), o fascismo do capitalismo financeiro (que submete economias de países à imposições de poucos poderosos), e o fascismo da intolerância.
Este, segundo Boaventura, é fenômeno diferente dos demais. “A desigualdade combina em par com o preconceito. Diferenciação social, hierárquica, de religião, orientação sexual... Isso é intolerância. Isso é uma teia de desigualdade. E precisamos lutar contra isso com força”.
O professor disse, ainda, que "a intolerância é desumanização. Ela existe porque tem três pilares: preconceito, interesse e ideologia. Estas formas estão aumentando sistematicamente. É a guerra de todos contra todos, a guerra do medo, da insegurança. É importante pensarmos que a intolerância desmoraliza e que traz em si uma arrogância explícita. Tolerar é muito pouco. Precisamos enriquecimento mútuo: reconhecemos a diferença e enriquecemos com ela”, defendeu.
O mundo não tem receitas. “Não há ideia universal. Há, sim, ideias incompletas que podem, unidas, construir uma possibilidade”, finalizou Boaventura.
Uma análise marxista do Sistema Único de Saúde do Brasil
Esse artigo tem como objetivo geral fazer uma análise crítica da
já literariamente surrada saúde pública brasileira, fazendo um esboço
geral de seu funcionamento, optando por fazê-lo através de um ponto de
vista que tem como base o paradigma marxista.
Por ROSANGELA ALVARENGA LIMA no CORREIO DO BRASIL
Mais especificamente, tentar-se-á mostrar como a essência do SUS
difere-se bruscamente da aparência socialmente percebida, assim como a
maneira como tal aparência é mantida.
As maneiras como os homens se relacionam e se organizam para a
utilização de suas habilidades e ferramentas para dominar as
consequências natureza, e retirar da mesma aquilo que necessitam para
satisfazer as suas necessidades materiais e históricas; são chamadas por
Marx de modos de produção. Em tal processo define-se, também, a maneira
que se estruturará a produção e a distribuição de posses e meios de
propriedade numa sociedade. Consequentemente, segundo o autor,
estabelecer-se-á como ocorrerá a divisão do trabalho e o acesso aos
meios de produção, ou seja, quem tem ou não tem acesso a eles e, por
conseguinte, determinar as classes sociais.
Conforme o supracitado, este artigo abordará, mais especificamente, a
produção e a distribuição de um bem singular: a saúde . Assim como,
tentará elucidar a maneira como os homens se organizam no combate a
perigos metabólicos (venenos, doenças, síndromes ambientais, etc.).
Partindo da hipótese levantada pelo próprio autor de que só existem duas
classes sociais: a que tem acesso aos meios de produção e a que não
tem; a análise crítica concentrar-se-á na maneira como o Estado,
enquanto um dos donos dos meios de produção de saúde controla a
distribuição desse bem.
A sua escolha se dá pelo fato de que, apesar de haver outros membros
na classe possuidora de tais meios, o proprietário em questão é,
indubitavelmente, o maior dentre eles, já que a maioria da população (de
não possuidores) depende dele para ter acesso à saúde. Não seria
exagero afirmar que o Estado detém o monopólio de sua produção, ou que,
ao menos, opera em ampla vantagem em relação aos demais membros de sua
classe.
Embora seja óbvia a importância da saúde para o ser humano de um modo
geral, a sua relevância para o modo de produção capitalista é
inestimável. Isso se dá pelo fato de ela ser um dos fatores que
determinam o preço e a reprodução da mais crucial das mercadorias
capitalistas: a força de trabalho.
Para Marx, o preço dela varia, como em toda mercadoria, de acordo com
o tempo necessário para a sua fabricação e tudo que é necessário para
manter aquele que a realiza. Isso corresponde a todos os meios (objetos e
mercadorias) necessários para a subsistência do trabalhador, para seu
sustento, conservação e substituição (reprodução), dado o fato de que os
trabalhadores são mortais. A inegabilidade de que a saúde é um desses
meios é inquestionável. Além do mais, ela afeta outras etapas do sistema
produtivo.
O tempo de trabalho, ou seja, o “tempo que requer todo trabalho
executado em grau médio de habilidade e intensidade e nas condições
ordinárias em relação ao meio social convencionado”, afeta diretamente a
produtividade. Quanto menor o tempo de trabalho necessário e, por
conseguinte, menor o valor da mercadoria, maior é a produtividade do
sistema.
A produtividade, por sua vez, resulta e depende da soma da habilidade
média dos trabalhadores com a eficácia dos meios de produção (aparatos,
máquinas e ferramentas em geral) e com circunstâncias puramente
naturais. Este último fator pode se manifestar na forma de perigos
metabólicos (epidemias, contaminações, doenças do trabalho, etc.) que
estão diretamente relacionados à obtenção de saúde. Isso também afetaria
diretamente a média da habilidade dos trabalhadores; supondo que eles
produziriam menos, pior ou até mesmo não produziriam.
Quando se trata de garantir todos os meios necessários para a
subsistência daquele que realiza a força de trabalho (o trabalhador),
para seu sustento, conservação e substituição (reprodução), dado o fato
de que ele é mortal; não se pode negar que a saúde é um desses meios.
Agora resta saber se ela é um objeto útil ou uma mercadoria.
O que distingue uma mercadoria de outros objetos é o fato de que ela
possui um valor de uso, uma utilidade baseada em suas qualidades
naturais. Tal valor de uso é diferente daquele dos demais objetos, pois a
mercadoria não tem utilidade para aquele que a produz e sim para
outros. O seu produtor deseja convertê-la em outra mercadoria diferente.
Assim que termina a transação, a nova mercadoria torna-se um objeto
útil para satisfazer as suas necessidades.
Bancada religiosa impede votação do projeto que criminalizaria homofobia no Brasil
Rachel Duarte no Sul21
A pressão da bancada evangélica impediu a votação, na Comissão de
Direitos Humanos do Senado, do projeto de lei complementar 122/06 que
criminaliza os atos de homofobia. Ele seria votado hoje (12) na Comissão
de Direitos Humanos (CDH) do Senado. Em uma sessão que ao final contou
com troca de xingamentos e ofensas entre o deputado Jair Bolsonaro
(PP-RJ) e a senadora Marinor Brito (PSOL-PA), o projeto foi retirado de
pauta sem previsão de retorno, a pedido da própria relatora, senadora
Marta Suplicy (PT-SP). A senadora espera chegar a um texto de consenso.
Antes do término da discussão — encerrada a pedido do senador
Humberto Costa (PT-PE) –. parlamentares se manifestaram sobre o assunto.
A polêmica girou em torno de dois temas: a punição de crimes
resultantes de discriminação por orientação sexual e o direito à
liberdade de expressão e à liberdade religiosa, assegurados pela
Constituição.
Ao salientar a necessidade de acabar com os preconceitos, o senador
Cristovam Buarque (PDT-DF) afirmou ser preciso aprovar um projeto de
consenso que estabeleça a punição para ações contra homossexuais, mas
que garanta a liberdade de manifestação de pensamento fundada na
liberdade de crença. “Talvez seja a hora de esgotamos todos os diálogos
necessários e possíveis e que deixe claro que o Estado regulamenta a
criminalização de preconceito, mas que o Estado não se meta na
‘pecamização’ de qualquer coisa. É preciso esgotar as conversas para que
o texto final não crie outro preconceito, o preconceito contra as
igrejas, contra as crenças”, disse.
Magno Malta (PR-ES) elogiou a decisão de adiar o debate e defendeu a
realização de audiências públicas para ouvir todos os segmentos da
sociedade que querem se manifestar sobre o assunto, como a Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB), os religiosos (católicos e evangélicos), e
homossexuais. Ele informou que apresentaria requerimento com esse
propósito. Segundo o parlamentar, o projeto de autoria da deputada Iara
Bernardi (PT-SP) apresenta uma “série de inconstitucionalidades” desde
sua origem e define uma série de privilégios para os homossexuais.
Segundo a relatora, Marta Suplicy (PT-SP), uma modificação feita no
texto da proposta preserva a liberdade religiosa. A mudança excluiu do
alcance da lei “os casos de manifestação pacífica de pensamento fundada
na liberdade de consciência e de crença”. O texto final exclui do
alcance das punições “os casos de manifestação pacífica de pensamento
fundada na liberdade de consciência e de crença”. E argumentou: “Quando
me colocaram que o problema não era a intolerância e o preconceito, e
sim uma questão de liberdade de expressão dentro de templos e igrejas,
aceitei. A liberdade está preservada”.
A proposta do PL 122/06 modifica a Lei de Racismo para criminalizar
também os atos de homofobia, estendendo a eles as mesmas punições
impostas aos crimes de preconceito racial. O projeto pune com reclusão
de um a três anos condutas discriminatórias, como recusar o atendimento a
gays em bares e restaurantes e reprimir trocas de afeto em locais
públicos, como beijos ou abraços. O item mais polêmico pune com prisão,
de um a três anos, e multa aqueles que induzirem ou incitarem a
discriminação ou preconceito contra os homossexuais.
Para atender às reivindicações da bancada evangélica, Marta incluiu
uma emenda permitindo que todas religiões e credos exerçam sua fé,
dentro de seus dogmas, desde que não incitem a violência. “O que temos
na fé é o amor e o respeito ao cidadão. Me colocaram que o problema não
era intolerância nem preconceito, mas liberdade de expressão dentro de
templos e igrejas. O que impede agora a votação? O que, além da
intolerância, do preconceito, vai impedir a compreensão dessa lei?”,
questionou Marta.
Ao deixar a reunião, o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) afirmou que a
proposta extrapola os direitos à religião, garantidos pela
Constituição, ao punir não apenas as ações, mas também as expressões de
pensamento. “Ninguém é a favor de que os homossexuais sofram agressões
psicológicas ou físicas. Agora, a proposta extrapola pelo fato de não
querer punir os fatos, mas punir as expressões do pensamento e as
palavras”, afirmou.
Como fica com a retirada?
Apesar de ter pedido a retirada da proposta da pauta da CDH, Marta
Suplicy disse que o Senado não pode mais “caminhar na contramão”. “Como é
que a Comissão de Diretos Humanos não vota uma lei que protege milhares
de pessoas?” questionou.
O presidente da Associação Brasileira de
Lésbicas,Gays,Bissexuais,Travestis e Transsexuais (ABGLT), Toni Reis,
está confiante que o PL122/06 seja aprovado e diz que a proposta tem
maioria no Congresso Nacional. “Está bem costurado. Será só uma questão
de tempo”, disse. Segundo ele, a maioria dos parlamentares e senadores
sabem que a intenção do projeto não tem a intenção de “acabar com as
igrejas, mas de garantir o respeito às minorias”. Ele disse que o Brasil
está atrasado na regulamentação da lei que criminaliza a homofobia em
relação a outros 53 países. “O Brasil está sendo reconhecido
internacionalmente sobre tantos aspectos, temos que nos tornar uma
potência também em direitos humanos. Propor um plebiscito para aceitar
os homossexuais é um absurdo. A Constituição Federal diz que todos são
iguais perante a lei”, falou.
Segundo ele, diferente do Supremo Tribunal Federal, que considerou
legal a união homoafetiva na última semana, o Congresso Nacional tem
setores “retrógrados que não sabem interpretar a lei”.
Representação contra Bolsonaro
Durante uma entrevista em que a senadora Marta Suplicy (PTSP)
explicava os motivos da retirada do PL nº 122 da pauta do dia da
Comissão de Direitos Humanos, o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ)
criava tumulto exibindo para as câmeras um folder que, que classificou
de “plano nacional da vergonha”. “O governo está distribuindo nas
escolas de primeiro grau uma cartilha estimulando nossas crianças a
serem gays”, afirmou o deputado. A senadora Marinor Brito (PSol/PA)
reagiu às agressões e à tentativa de intimidação durante a entrevista, e
exigiu que ele se retirasse com os panfletos, que pregam a violência
contra homossexuais.
Na discussão, Bolsonaro demonstrou uma atitude recorrente de
misoginia. Marinor afirma que a atitude do deputado é desrespeitosa e
que se sentiu ofendida em sua feminilidade.
Na semana que vem, o PSOL entrará com representação na Corregedoria
da Câmara dos Deputados. Além disso, a senadora entrará com uma ação
penal na justiça, pelos crimes de injúria e danos morais.
*Com informações da Agência Senado e de assessorias dos senadores.
quarta-feira, 11 de maio de 2011
Jerônimo vive!
Escrito por Mário Maestri no Correio da Cidadania | |
Talvez se deveu à pele escura de ambos ou a terem feito a cavalaria yankee
de bobo por longos anos. O certo é que o codinome dado a Bin Laden,
quando da operação para assassiná-lo, terminou prestando-lhe uma enorme
homenagem – além de registrar o racismo da administração de Barack Hussein Obama II.
Em 1851, Goyaałé, Jerônimo, teve sua família massacrada pelo
exército estadunidense. A seguir, por vinte anos, protagonizou
resistência heróica, criativa e legendária à ocupação das terras
apaches. Em 1886, após render-se com os poucos e últimos seguidores,
viveu o resto da vida como semi-prisioneiro, ditando a um funcionário
estadunidense um fulgurante relato de sua vida.
Osama bin Mohammed bin Awad bin Laden foi filho de uma das mais ricas
famílias sauditas. Integralista fervoroso, partiu em jihad contra a
revolução socialista, laica e democrática afegã, no que foi apoiado
pelos Estados Unidos. A vitória das forças integralistas sustidas pela
Arábia Saudita, pelo Paquistão e, sobretudo, pelos grandes Estados
imperialistas originou o reinado talibã na região.
Principalmente desde os anos 1950, o fundamentalismo foi apoiado pelo
grande capital mundial, com destaque para a Inglaterra e os Estados
Unidos, na luta contra o pan-nacionalismo e o socialismo árabe. A partir
de 1989, com a dissolução da URSS e reconversão capitalista dos Estados
socialistas, o integralismo acolheu fortemente os anseios confusos de
libertação nacional e social de vastas populações muçulmanas.
Com o fim da primeira guerra do Afeganistão, Bin Laden envolveu-se com
grupos que se esforçavam para ocupar o vazio político-ideológico árabe e
muçulmano, propondo ordem assentada no integralismo. Estranhos e
refratários a qualquer visão social de mundo, esses grupos orientaram-se
para a luta terrorista, despreocupados, opostos e incapazes de
impulsionar a organização popular, sobretudo independente.
Ao financiar os ataques às embaixadas USA na África, em 1998, ao navio de guerra estadunidense em 2000
e, acima de tudo, ao reivindicar politicamente o ataque às Torres
Gêmeas, em 2001, Bin Laden tornou-se o mais célebre terrorista e a
grande justificativa imperialista para a "guerra ao terror" que
impulsionaria a apropriação das grandes reservas petrolíferas. Em 2003,
fortalecido junto à população estadunidense pelo ataque terrorista, Bush
II lançou seus exércitos na carnificina que conquistaria os campos
petrolíferos iraquianos.
Após o 11 de setembro de 2001, consagrados pela grande mídia, Bin Laden e
sua organização entrariam em crescente eclipse que levaria ao seu
assassinato, em mansão fortificada, em 1º de maio, nas proximidades de Abbottabad,
praticamente desarmado, cercado quase apenas por familiares. Sobrevivia
então devido à quase certa proteção do exército e dos serviços de
inteligência paquistaneses.
Portanto, uma confusão ofensiva. Jerônimo, o verdadeiro, dormia com o
fuzil ao lado e jamais foi surpreendido. Mesmo na derrota, mostrou-se o
mais digno braço armado do povo apache na luta contra os seus algozes.
Mário Maestri é professor do curso e do programa de pós-graduação em História da UPF. E-mail: maestri@via-rs.net |
Há 30 anos, morria Bob Marley, ícone do reggae
Há exatos 30 anos, morria Bob Marley. Considerado o expoente mais alto do reggae, ele tinha apenas 36 anos de idade quando faleceu, vítima de um câncer detectado quatro anos antes. Deixou a vida para assumir na história o papel de ícone.
Três décadas após a sua morte, o "rei do reggae" continua a ser
recordado um pouco por todo o mundo, sendo uma constante fonte de
inspiração para dezenas de novos artistas. Músicas como No Woman No Cry, Could You Be Loved ou I Shot The Sheriff hoje fazem parte de um repertório coletivo da música internacional.
Poucos gêneros musicais dispõem de uma figura central, tão próxima quanto possível da unanimidade, como acontece com o reggae. Bob Marley foi coroado nesse feudo, como o foram Elvis Presley no rock e Michael Jackson no pop.
Acontece que nem todo aquele que se considera roqueiro gosta do som pioneiro e antiquado do rei do rock; e no pop, onde a infidelidade e a amnésia são gerais, Jackson passou uma década no ostracismo e só foi recuperado graças à tradicional necrofilia da indústria fonográfica.
Com Marley é diferente: ele pode não se o favorito de todos, mas é quase onipresente nas coleções de fãs, no repertório de bandas não-autorais e no setlist de festas que se dedicam ao gênero jamaicano.
Para além do gênio musical, sua figura, com enormes dreadlocks e um charuto de marijuana (erva de uso religioso pelos rastafaris) sempre na ponta dos dedos, se tornou quase tão forte quanto a do médico revolucionário Che Guevara e sua boina estrelada, o popstar pacifista John Lennon e seus óculos de aros redondinhos e superguitarrista Jimi Hendrix e seu instrumento canhoto.
O mais conhecido rosto do movimento espiritual Rastafari, defensor de uma mensagem de paz, liberdade e emancipação, denunciador da pobreza, da repressão e da realidade social da Jamaica, Marley deixou, em vida, 14 álbuns – 12 de estúdio e dois ao vivo –, bem como um legado no reggae que permanece sólido até hoje, com mais de 200 milhões de discos vendidos.
“Legend”, lançado originalmente em 1984, continua a ser o álbum mais vendido da história do reggae. Já “Exodus” (1977) foi eleito pela revista Time como um dos melhores álbuns do século 20.
Último registro
A saúde abalada o fez parar os shows, encerrando abruptamente a turnê do disco Uprising (1980), em 23 de setembro de 1980, no palco do Stanley Theatre, em Pittsburgh (Pensilvânia, EUA). É justamente o registro em áudio desta última performance em palco o primeiro produto escolhido pela gravadora da família Marley, Tuff Gong, para marcar a efeméride das três décadas de morte do jamaicano mais famoso do planeta.
Live Forever surge como mais um ótimo registro do carisma de Bob Marley nos palcos. Se apresenta agora como principal rival do clássico Live (1975), seu primeiro disco ao vivo lançado no auge do estouro mundial, num momento em que quase todo mundo do pop estava gravando reggae naqueles anos, até ícones roqueiros como Rolling Stones e Bob Dylan.
Além da ótima performance do protagonista, o som da maior parte do CD é fiel às qualidades dos Wailers como banda, com grande destaque para os irmãos Carlton e Aston ‘Family Man’ Barrett, que formavam o alicerce rítmico absolutamente poderoso e infalível com sua bateria e baixo, onde nem o uso de tantans eletrônicos que na época tinham virado febre na disco-music e new-wave, tiram o brilho. Marley brinca com as divisões de outro hit de sua lavra, Is This Love, que encerra a parte de ótimo som do registro.
O repertório é bem equilibrado entre temas de guerrilha, mensagens positivas, hinos de fé no rastafarianismo, flertes com a africanidade e canções românticas
Herança
Mas nem só de álbuns é feito o legado de Marley. Com 11 filhos legítimos e mais uns três a usar o seu sobrenome (embora não reconhecidos pela família), seria de esperar que algum iria fazer carreira na música. Não foi um, foram vários.
David ‘Ziggy’ Marley, atualmente com 42 anos, canta como o pai e passa mensagens de paz através das letras das suas músicas. Tem um extenso repertório que vem desde 1985 e já ganhou cinco Grammy Awards. É ativista e líder de uma ONG.
Damian ‘Jr. Gong’ Marley, de 33 anos, é o filho mais novo de Bob. Já ganhou três Grammys. Stephen, 38 anos, faz parte da banda do irmão mais velho, Ziggy, e foi produtor dos três álbuns solo de Damian. Da banda – os Melody Makers – fazem também parte Cedella e Sharon, duas das filhas de Bob.
Julian Marley, 36 anos, também é músico. Tem três álbuns editados. Ky-Mani andou uns tempos dividido entre o futebol e a música, acabando por se render à arte. O seu som, para além de reggae, tem base no hip-hop e sons mais urbanos.
Conexão Brasil
Bob Marley esteve no Brasil uma única vez, em março de 1980. No Rio de Janeiro, ele jogou uma partida de futebol ao lado de Chico Buarque, Toquinho, Moraes Moreira e o craque tricampeão Paulo César. Mas, se infelizmente não passou pela Bahia, vale lembrar que dois artistas da terra já estavam antenados ao jamaicano. Em 1971, no exílio em Londres, Caetano Veloso foi o primeiro brasileiro a citar o reggae em Nine out of Ten, do disco Transa.
Oito anos depois, Gilberto Gil lançou Não Chore Mais, versão para No Woman No Cry, de Bob, que virou um hino da anistia no Brasil. “Bob foi um dos grandes intérpretes dessa consciência de exclusão, de desigualdade”, lembra Gil, que em 2002 gravou Kaya N'Gan Daya, com músicas de Bob. “Foi o último artista a quem dediquei atenção profunda. Hoje ainda é das coisas que mais gosto de ouvir”.
Com agências
Poucos gêneros musicais dispõem de uma figura central, tão próxima quanto possível da unanimidade, como acontece com o reggae. Bob Marley foi coroado nesse feudo, como o foram Elvis Presley no rock e Michael Jackson no pop.
Acontece que nem todo aquele que se considera roqueiro gosta do som pioneiro e antiquado do rei do rock; e no pop, onde a infidelidade e a amnésia são gerais, Jackson passou uma década no ostracismo e só foi recuperado graças à tradicional necrofilia da indústria fonográfica.
Com Marley é diferente: ele pode não se o favorito de todos, mas é quase onipresente nas coleções de fãs, no repertório de bandas não-autorais e no setlist de festas que se dedicam ao gênero jamaicano.
Para além do gênio musical, sua figura, com enormes dreadlocks e um charuto de marijuana (erva de uso religioso pelos rastafaris) sempre na ponta dos dedos, se tornou quase tão forte quanto a do médico revolucionário Che Guevara e sua boina estrelada, o popstar pacifista John Lennon e seus óculos de aros redondinhos e superguitarrista Jimi Hendrix e seu instrumento canhoto.
O mais conhecido rosto do movimento espiritual Rastafari, defensor de uma mensagem de paz, liberdade e emancipação, denunciador da pobreza, da repressão e da realidade social da Jamaica, Marley deixou, em vida, 14 álbuns – 12 de estúdio e dois ao vivo –, bem como um legado no reggae que permanece sólido até hoje, com mais de 200 milhões de discos vendidos.
“Legend”, lançado originalmente em 1984, continua a ser o álbum mais vendido da história do reggae. Já “Exodus” (1977) foi eleito pela revista Time como um dos melhores álbuns do século 20.
Último registro
A saúde abalada o fez parar os shows, encerrando abruptamente a turnê do disco Uprising (1980), em 23 de setembro de 1980, no palco do Stanley Theatre, em Pittsburgh (Pensilvânia, EUA). É justamente o registro em áudio desta última performance em palco o primeiro produto escolhido pela gravadora da família Marley, Tuff Gong, para marcar a efeméride das três décadas de morte do jamaicano mais famoso do planeta.
Live Forever surge como mais um ótimo registro do carisma de Bob Marley nos palcos. Se apresenta agora como principal rival do clássico Live (1975), seu primeiro disco ao vivo lançado no auge do estouro mundial, num momento em que quase todo mundo do pop estava gravando reggae naqueles anos, até ícones roqueiros como Rolling Stones e Bob Dylan.
Além da ótima performance do protagonista, o som da maior parte do CD é fiel às qualidades dos Wailers como banda, com grande destaque para os irmãos Carlton e Aston ‘Family Man’ Barrett, que formavam o alicerce rítmico absolutamente poderoso e infalível com sua bateria e baixo, onde nem o uso de tantans eletrônicos que na época tinham virado febre na disco-music e new-wave, tiram o brilho. Marley brinca com as divisões de outro hit de sua lavra, Is This Love, que encerra a parte de ótimo som do registro.
O repertório é bem equilibrado entre temas de guerrilha, mensagens positivas, hinos de fé no rastafarianismo, flertes com a africanidade e canções românticas
Herança
Mas nem só de álbuns é feito o legado de Marley. Com 11 filhos legítimos e mais uns três a usar o seu sobrenome (embora não reconhecidos pela família), seria de esperar que algum iria fazer carreira na música. Não foi um, foram vários.
David ‘Ziggy’ Marley, atualmente com 42 anos, canta como o pai e passa mensagens de paz através das letras das suas músicas. Tem um extenso repertório que vem desde 1985 e já ganhou cinco Grammy Awards. É ativista e líder de uma ONG.
Damian ‘Jr. Gong’ Marley, de 33 anos, é o filho mais novo de Bob. Já ganhou três Grammys. Stephen, 38 anos, faz parte da banda do irmão mais velho, Ziggy, e foi produtor dos três álbuns solo de Damian. Da banda – os Melody Makers – fazem também parte Cedella e Sharon, duas das filhas de Bob.
Julian Marley, 36 anos, também é músico. Tem três álbuns editados. Ky-Mani andou uns tempos dividido entre o futebol e a música, acabando por se render à arte. O seu som, para além de reggae, tem base no hip-hop e sons mais urbanos.
Conexão Brasil
Bob Marley esteve no Brasil uma única vez, em março de 1980. No Rio de Janeiro, ele jogou uma partida de futebol ao lado de Chico Buarque, Toquinho, Moraes Moreira e o craque tricampeão Paulo César. Mas, se infelizmente não passou pela Bahia, vale lembrar que dois artistas da terra já estavam antenados ao jamaicano. Em 1971, no exílio em Londres, Caetano Veloso foi o primeiro brasileiro a citar o reggae em Nine out of Ten, do disco Transa.
Oito anos depois, Gilberto Gil lançou Não Chore Mais, versão para No Woman No Cry, de Bob, que virou um hino da anistia no Brasil. “Bob foi um dos grandes intérpretes dessa consciência de exclusão, de desigualdade”, lembra Gil, que em 2002 gravou Kaya N'Gan Daya, com músicas de Bob. “Foi o último artista a quem dediquei atenção profunda. Hoje ainda é das coisas que mais gosto de ouvir”.
Com agências
Quanto a Azaléia recebeu em isenções fiscais no RS?
Marco Aurélio Weissheimer no rsurgente
O deputado Raul Pont (PT) criticou hoje a versão adotada por setores da oposição sobre o fechamento da unidade da Azaleia, em Parobé. Para ele, a empresa sai do Estado em busca de outro lugar, com mais vantagens fiscais e onde sindicatos não sejam tão atuantes e os salários sejam mais baixos. “A busca do lucro é o princípio do capitalismo. A decisão da empresa reflete esta concepção”, e reflete seu total descomprometimento com os trabalhadores e com o Estado que durantes anos lhe concedeu grandes benefícios fiscais”, afirmou.
Pont responsabilizou a guerra fiscal pela transferência de fábricas para outros estados, lembrando que a Azaléia chegou a ser beneficiada, durante o governo Britto, com mais de R$ 50 milhões do Fundopem. “Esta forma de fazer política industrial gera verdadeiros leilões das finanças públicas em benefício de empresas privadas”, criticou. Para o parlamentar, uma evidência clara de que a empresa não está em crise, são seus investimentos em unidades no exterior. Bem como, não vale o orgumento dos juros e do cambio que é o mesmo no Rio Grande o no Nordeste.
Raul Pont observou ainda que a renúncia fiscal no Rio Grande do Sul equivale a 30% da arrecadação potencial de ICMS. “São isenções concedidas com pouca ou nenhuma contrapartida e sem segurança de permanência da empresa no estado após a fruição dos benefícios”. Ele defendeu a aprovação de um projeto de lei, de sua autoria, que confere transparência à concessão de benefícios fiscais.
O deputado Giovani Feltes (PMDB) reconheceu que a Azaléia recebeu incentivos fiscais no governo Brito, mas observou que foram os governos militares os que mais concederam estes benefícios ao setor calçadista. Ele concordou que parte do problema vivido pela indústria calçadista pode ser explicado pela subvalorização do Yuan e pela entrada de calçados chineses através da triangulação comercial, que burla as barreiras impostas pelo governo brasileiro.
O governador Tarso Genro classificou como “irresponsável” a forma como a indústria anunciou a desativação da unidade em Parobé, sem aviso formal ou qualquer tipo de negociação com o Estado. “Não fomos comunicados sobre a decisão da empresa, que recebeu benefícios fiscais homéricos do povo gaúcho. Aliás, o único comunicado foi o aviso-prévio dado aos empregados demitidos”, declarou. O chefe do Executivo gaúcho anunciou que encomendará uma pesquisa para saber quanto a empresa ganhou em benefícios fiscais nos últimos anos e prometeu se empenhar para que os trabalhadores demitidos encontrem rapidamente outros empregos.
A Azaléia justificou o fechamento da última unidade gaúcha da empresa e a demissão de 800 funcionários pela “perda de competitividade das exportações brasileiras e pela concorrência com os calçados produzidos fora do país”. A empresa tem hoje 27 fábricas de calçados femininos e esportivos em três complexos industriais do Nordeste, além de uma fábrica na Argentina e outra na Índia. A direção da empresa não anunciou quanto recebeu em isenções fiscais no Rio Grande do Sul nos últimos anos, nem quanto paga para os funcionários de suas unidades no Nordeste, na Argentina e na Índia.
terça-feira, 10 de maio de 2011
Noam Chomsky: “Minha reação ante a morte de Osama"
Poderíamos perguntar como reagiríamos se um comando iraquiano
pousasse de surpresa na mansão de George W. Bush, o assassinasse e, em
seguida, atirasse seu corpo no Oceano Atlântico.
- Por Noam Chomsky*, no Guernica Magazine via Tudo em Cima
Fica cada vez fica mais evidente que a operação foi um assassinato
planejado, violando de múltiplas maneiras normas elementares de direito
internacional. Aparentemente não fizeram nenhuma tentativa de aprisionar
a vítima desarmada, o que presumivelmente 80 soldados poderiam ter
feito sem trabalho, já que virtualmente não enfrentaram nenhuma
oposição, exceto, como afirmara, a da esposa de Osama bin Laden, que se
atirou contra eles.
Em sociedades que professam um certo respeito pela lei, os suspeitos são detidos e passam por um processo justo. Sublinho a palavra "suspeitos". Em abril de 2002, o chefe do FBI, Robert Mueller, informou à mídia que, depois da investigação mais intensiva da história, o FBI só podia dizer que "acreditava" que a conspiração foi tramada no Afeganistão, embora tenha sido implementada nos Emirados Árabes Unidos e na Alemanha.
Em sociedades que professam um certo respeito pela lei, os suspeitos são detidos e passam por um processo justo. Sublinho a palavra "suspeitos". Em abril de 2002, o chefe do FBI, Robert Mueller, informou à mídia que, depois da investigação mais intensiva da história, o FBI só podia dizer que "acreditava" que a conspiração foi tramada no Afeganistão, embora tenha sido implementada nos Emirados Árabes Unidos e na Alemanha.
O que apenas acreditavam em abril de 2002, obviamente sabiam 8 meses
antes, quando Washington desdenhou ofertas tentadoras dos talibãs (não
sabemos a que ponto eram sérias, pois foram descartadas
instantâneamente) de extraditar a Bin Laden se lhes mostrassem alguma
prova, que, como logo soubemos, Washington não tinha. Por tanto, Obama
simplesmente mentiu quando disse sua declaração da Casa Branca, que
"rapidamente soubemos que os ataques de 11 de setembro de 2001 foram
realizados pela al-Qaida".
Desde então não revelaram mais nada sério. Falaram muito da "confissão" de Bin Laden, mas isso soa mais como se eu confessasse que venci a Maratona de Boston. Bin Laden alardeou um feito que considerava uma grande vitória.
Também há muita discussão sobre a cólera de Washington contra o Paquistão, por este não ter entregado Bin Laden, embora seguramente elementos das forças militares e de segurança estavam informados de sua presença em Abbottabad. Fala-se menos da cólera do Paquistão por ter tido seu território invadido pelos Estados Unidos para realizarem um assassinato político.
O fervor antiestadunidense já é muito forte no Paquistão, e esse evento certamente o exarcebaria. A decisão de lançar o corpo ao mar já provoca, previsivelmente, cólera e ceticismo em grande parte do mundo muçulmano.
Poderiamos perguntar como reagiriamos se uns comandos iraquianos aterrizassem na mansão de George W. Bush, o assassinassem e lançassem seu corpo no Atlântico. Sem deixar dúvidas, seus crimes excederam em muito os que Bin Laden cometeu, e não é um "suspeito", mas sim, indiscutivelmente, o sujeito que "tomou as decisões", quem deu as ordens de cometer o "supremo crime internacional, que difere só de outros crimes de guerra porque contém em si o mal acumulado do conjunto" (citando o Tribunal de Nuremberg), pelo qual foram enforcados os criminosos nazistas: os centenas de milhares de mortos, milhões de refugiados, destruição de grande parte do país, o encarniçado conflito sectário que agora se propagou pelo resto da região.
Há também mais coisas a dizer sobre Bosch (Orlando Bosch, o terrorista que explodiu um avião cubano), que acaba de morrer pacificamente na Flórica, e sobre a "doutrina Bush", de que as sociedades que recebem e protegem terroristas são tão culpadas como os próprios terroristas, e que é preciso tratá-las da mesma maneira. Parece que ninguém se deu conta de que Bush estava, ao pronunciar aquilo, conclamando a invadirem, destruirem os Estados Unidos e assassinarem seu presidente criminoso.
O mesmo passa com o nome: Operação Gerônimo. A mentalidade imperial está tão arraigada, em toda a sociedade ocidental, que parece que ninguém percebe que estão glorificando Bin Laden, ao identificá-lo com a valorosa resistência frente aos invasores genocidas.
É como batizar nossas armas assassinas com os nomes das vítimas de nossos crimes: Apache, Tomahawk (nomes de tribos indígenas dos Estados Unidos). Seria algo parecido à Luftwaffe dar nomes a seus caças como "Judeu", ou "Cigano".
Há muito mais a dizer, mas os fatos mais óbvios e elementares, inclusive, deveriam nos dar mais o que pensar.
*Noam Chomsky é professor emérito do Departamento de Linguística e Filosofía del MIT. É autor de numerosas obras políticas. Seus últimos livros são uma nova edição de "Power and Terror", "The Essential Chomsky" (editado por Anthony Arnove), uma coletânea de seus trabalhos sobre política e linguagem, desde os anos 1950 até hoje, "Gaza in Crisis", com Ilan Pappé, e "Hopes and Prospects", também disponível em áudio.
Fonte: Cubadebate
Desde então não revelaram mais nada sério. Falaram muito da "confissão" de Bin Laden, mas isso soa mais como se eu confessasse que venci a Maratona de Boston. Bin Laden alardeou um feito que considerava uma grande vitória.
Também há muita discussão sobre a cólera de Washington contra o Paquistão, por este não ter entregado Bin Laden, embora seguramente elementos das forças militares e de segurança estavam informados de sua presença em Abbottabad. Fala-se menos da cólera do Paquistão por ter tido seu território invadido pelos Estados Unidos para realizarem um assassinato político.
O fervor antiestadunidense já é muito forte no Paquistão, e esse evento certamente o exarcebaria. A decisão de lançar o corpo ao mar já provoca, previsivelmente, cólera e ceticismo em grande parte do mundo muçulmano.
Poderiamos perguntar como reagiriamos se uns comandos iraquianos aterrizassem na mansão de George W. Bush, o assassinassem e lançassem seu corpo no Atlântico. Sem deixar dúvidas, seus crimes excederam em muito os que Bin Laden cometeu, e não é um "suspeito", mas sim, indiscutivelmente, o sujeito que "tomou as decisões", quem deu as ordens de cometer o "supremo crime internacional, que difere só de outros crimes de guerra porque contém em si o mal acumulado do conjunto" (citando o Tribunal de Nuremberg), pelo qual foram enforcados os criminosos nazistas: os centenas de milhares de mortos, milhões de refugiados, destruição de grande parte do país, o encarniçado conflito sectário que agora se propagou pelo resto da região.
Há também mais coisas a dizer sobre Bosch (Orlando Bosch, o terrorista que explodiu um avião cubano), que acaba de morrer pacificamente na Flórica, e sobre a "doutrina Bush", de que as sociedades que recebem e protegem terroristas são tão culpadas como os próprios terroristas, e que é preciso tratá-las da mesma maneira. Parece que ninguém se deu conta de que Bush estava, ao pronunciar aquilo, conclamando a invadirem, destruirem os Estados Unidos e assassinarem seu presidente criminoso.
O mesmo passa com o nome: Operação Gerônimo. A mentalidade imperial está tão arraigada, em toda a sociedade ocidental, que parece que ninguém percebe que estão glorificando Bin Laden, ao identificá-lo com a valorosa resistência frente aos invasores genocidas.
É como batizar nossas armas assassinas com os nomes das vítimas de nossos crimes: Apache, Tomahawk (nomes de tribos indígenas dos Estados Unidos). Seria algo parecido à Luftwaffe dar nomes a seus caças como "Judeu", ou "Cigano".
Há muito mais a dizer, mas os fatos mais óbvios e elementares, inclusive, deveriam nos dar mais o que pensar.
*Noam Chomsky é professor emérito do Departamento de Linguística e Filosofía del MIT. É autor de numerosas obras políticas. Seus últimos livros são uma nova edição de "Power and Terror", "The Essential Chomsky" (editado por Anthony Arnove), uma coletânea de seus trabalhos sobre política e linguagem, desde os anos 1950 até hoje, "Gaza in Crisis", com Ilan Pappé, e "Hopes and Prospects", também disponível em áudio.
Fonte: Cubadebate
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