Publicação feita na sede do Mata-Borrão chamava a população a participar do movimento
Lorena Paimno Sul21
Durante o movimento da Legalidade, a mobilização popular foi essencial para sustentar a pregação do governador Leonel Brizola pela solução constitucional, diante da crise política que se instalara no país. Espontaneamente ou com o apoio de partidos políticos, surgiram locais para centralizar as atividades. O mais importante, em número de voluntários que se alistaram, foi o 1º Comitê de Resistência Democrática, fundado em 27 de agosto de 1961, “às 11,15 horas”, como consta no Resistência, no Mata-Borrão, pavilhão de exposições localizado na Avenida Borges de Medeiros, esquina Andrade Neves, no Centro de Porto Alegre.
Foi nesse Comitê que surgiu o jornalzinho Resistência, inicialmente com duas páginas, em folhas do tipo ofício, mimeografadas. O advogado Victor Nuñez, que era diretor de Propaganda do Comitê, conseguiu localizar o primeiro exemplar da publicação, nos arquivos do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul.
O número 1 tem como data 29 de agosto e traz o apelo: “Aliste-se, Coopere, Contribua, Ajude!”. Nuñez não se recorda como era feita essa publicação, ou quem eram os redatores. Mas sabe que o efeito multiplicador foi enorme, com a tiragem de milhares de exemplares. Como os trabalhadores gráficos integravam a resistência popular, acredita que possam ter providenciado mais exemplares para a distribuição à população. Como o Mata-Borrão recebia doações de todos os tipos – móveis, máquinas de escrever e até mimeógrafos –, ele conclui que a confecção do boletim não foi difícil.
Mobilização e alerta sobre o imperialismo
No editorial, é enfatizado o “significado da resistência democrática”. A palavra de ordem, segundo o texto, é: “o Rio Grande resistirá”, deduzindo-se que todas as atividades práticas serão consequência dessa ideia. E prega “a organização do povo em torno de comitês verdadeiramente democráticos”, com as seguintes sugestões: formar comitês, esclarecer os amigos e vizinhos, fazer abaixo-assinados, desmascarar os intrigantes e boateiros, participar e organizar passeatas, comícios e concentrações”.
Há outras recomendações sobre como o cidadão pode ajudar a Resistência Democrática: “inscrevendo-se como voluntário; contribuindo financeiramente; prestando serviços nos Comitês, seja em serviços de datilografia, de estafeta, de locução, de plantão”.
Sem isso, acrescenta, “estará aberto o caminho para a ditadura, para uma maior exploração do povo pelos grandes grupos econômicos estrangeiros”. A ameaça dos “trustes estrangeiros” é enfatizada, lembrando que a pressão do imperialismo tentava impedir, naquele momento, a posse do presidente constitucional, João Goulart.
A publicação esclarece que o Comitê escolheu a sua diretoria, de forma “revolucionária”; em três minutos, os cinco integrantes (entre os quais Nuñez) estavam em ação. O presidente era o advogado Fernando Almeida. Já de início, engajaram-se 50 ativistas. Em seguida, “estafetas foram enviados aos bairros e setores, pedindo a estruturação do povo em comandos e comitês”. Outra providência imediata foi o empréstimo de alto-falantes por parte de líderes sindicais, com a finalidade de amplificar a propaganda da resistência.
Este primeiro número comunica, ainda, que, conforme a Tesouraria, no dia 28 de agosto, foram arrecadados Cr$ 32.745,00 (a moeda era o cruzeiro), de contribuições espontâneas da população, dinheiro destinado às atividades do Comitê.
Conforme Victor Nuñez, foram tirados outros números do Resistência, durante a Legalidade. Ele pede que, se alguém tiver em mãos esses exemplares, que comunique, pois irá enriquecer o acervo sobre o 1º Comitê de Resistência Democrática. O advogado acredita que ainda há muito material a ser divulgado sobre o movimento de 1961, e o ano do cinquentenário é ideal para se conhecer mais sobre a Legalidade e seus personagens.