quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

SILENCIADOS E INVISÍVEIS

Por Chico Alencar (*)

Virou negócio, como quase tudo no mundo de hoje. O “cale-se” do rei da Espanha para o presidente da Venezuela sonoriza agora a chamada de celulares e já rendeu cerca de R$ 4 milhões a empresas do ramo. Meio milhão de usuários do aparelhinho reverbera a expressão de gosto duvidoso, em meio aos sinos natalinos que convocam às compras.

Um outro “cale-se”, secular, também fez a riqueza ibérica no processo de colonização das terras do Novo Mundo. Ele foi imposto sobre os nativos da América, explorados em sua força de trabalho e despojados de sua cultura, de seus bens, de sua própria história. Aztecas, incas, maias e diversos outros povos foram silenciados por dinastias a serviço da conquista mercantil-metalista.

Ainda como parte do processo de acumulação primitiva de capital, base da Revolução Industrial que consolidou a hegemonia capitalista no planeta, foi notável o “cala a boca” sobre os povos africanos. Estima-se que o continente foi sangrado, do século XV ao XX, da dominação colonial à espoliação imperialista, em 60 milhões de vidas! Dez vezes mais que o terrível holocausto judeu na 2ª Guerra Mundial. Dos quase 11 de milhões de africanos, de diferentes nações, trazidos como escravos para as Américas, metade veio para o Brasil. Sob os ferros do trabalho e silêncio forçados.

Mas há agora um silenciamento de novo tipo, muito mais relevante que o episódio Juan Carlos/Hugo Chávez, e que deita raízes em nosso passado histórico. Os silenciados do século XXI, herdeiros de nativos e negros escravizados, são os que compõem a massa mestiça de pobres, em especial aqueles que habitam as grimpas dos morros e as periferias de nossas grandes cidades. Para estes, a invisibilidade vem desde o nascimento, porque não há lugar para eles no ordenamento social; algumas autoridades até os consideram bandidos em potencial.

Ao defender a afirmação do Secretário de Segurança do Rio, segundo a qual um tiroteio em favelas da zona sul é diferente de um na Vila Vintém, um leitor escreveu ao O GLOBO, em 24/10: “o fato de as favelas na zona sul se localizarem muito próximas à população justifica inteiramente sua declaração”. São recorrentes as manchetes noticiando a “noite em claro” e o “susto” dos moradores de bairros de classe média ou alta em função de conflitos armados nos morros, como se as pessoas da comunidade favelada no epicentro do confronto não tivessem ficado insones e em desespero...

O avanço conservador grita um polifônico “cale-se” também aos que batalham contra a discriminação étnica e cultural. Até datas que, por justiça, ganham destaque no calendário, afirmando a resistência indígena e a consciência negra, são taxadas de estimuladoras do “ódio racial”, desatentos os críticos do fato de que a escravidão foi também uma forma cruel de racismo.

A sociedade do fundamentalismo de mercado e da egolatria gera um sutil mas feroz apartheid social. Parcelas fora do círculo de hiperconsumo contínuo e crescente, isoladas em grandes guetos, onde as políticas públicas e a autoridade estatal democrática não chegam, vão sendo expropriadas de sua própria condição humana.

Desumanizados, segmentos crescentes desse mundo, especialmente seus jovens, reagem à “ninguendade” a que são condenados através da auto-afirmação despótica no varejo das drogas ilícitas e das armas. São os breves soldados que, iludidos com seu efêmero poder, cumprem as ordens dos inatacáveis atacadistas de um grande e transnacional negócio. À palavra irada desses meninos-falcões, tantas vezes ouvida na forma de tiros, urge sobrepor o clamor contra os empresários - barões da violência crescente, com seus aliados nos poderes públicos, corrompidos com propinas e outros financiamentos, inclusive eleitorais.

Um desafio aos jovens cineastas e jornalistas investigativos: desvendar e reportar os caminhos da produção e circulação das drogas ilícitas e das armas nas altas esferas e nas grandes rodovias, portos e aeroportos. Muito doutor bem falante vai preferir o silêncio e essa invisibilidade que seus esquemas impõem, de mil formas e há 500 anos, aos debaixo.

(*) Chico Alencar professor de História e deputado federal (PSOL/RJ).

"NOVA ESCALADA DA GUERRA" CONTRA ZAPATISTAS, ALERTA PAZ COM DEMOCRACIA.

Da redação do La Jornada,

O Grupo Paz com Justiça, integrado por representantes da igreja católica liderados pelo bispo emérito de San Cristóbal de las Casas e pelo bispo de Santillo, respectivamente, Samuel Ruiz Garcia e Raúl Vera López, por intelectuais, poetas, jornalistas e defensores dos direitos humano divulgou, nesta sexta-feira, um pronunciamento em defesa da autonomia zapatista e adverte que, em Chiapas, há "uma nova escalada da guerra". Seus integrantes garantem que a exemplar autonomia zapatista está sendo desafiada, e com ela o conjunto do movimento social e suas alternativas. A seguir, transcrevemos a íntegra do pronunciamento do Grupo Paz com Democracia.

«Novamente, se ouvem tambores de guerra contra as comunidades zapatistas. Não que, desde 1994, eles tenham deixado de rufar alguma vez, sobretudo desde aquela quinta-feira, 9 de fevereiro de 1995, que marcou a estratégia militar hoje estendida a outros movimentos a regiões. Mas, nestas últimas semanas, eles se deixam ouvir muito mais forte do que se percebia meses atrás, mostrando os novos rostos da contra-insurreição em Chiapas.

Os paramilitares se movimentam impunemente aos hostilizar os indígenas rebeldes. A ‘justiça’ agrária entrega a grupos camponeses terras que são ocupadas pelos zapatistas desde 1994. O pior do Partido Revolucionário Institucional (PRI) e dos grupos de poder local têm se reagrupado sob a cobertura das siglas do Partido da Revolução Democrática (PRD). O Exército mexicano se reposiciona em território rebelde. Novas estradas apertam ainda mais o cerco militar contra os indígenas insubmissos e suas Juntas de Bom Governo.

Na nomenclatura que nomeia a nova geografia da ignomínia estão ranchos, ejidos, comunidades e municípios como Bénavil, Huitiupán, Bolom Ajaw, Chilón, Água Azul. Neles, a agressão paramilitar contra bases de apoio zapatistas é sistemática. Os episódios de rapina, queima de casas, mortes, ameaças de morte, expropriação de terrenos se sucedem um ao outro. Trata-se de desalojar as comunidades rebeldes de suas terras e territórios. São os raios que anunciam uma nova tormenta.

A Organização para a Defesa dos Direitos Indígenas e Camponeses (OPDDIC) é hoje o que durante 1996 e 1997 foram organismos como Paz e Justiça e Los Chinchulines. Protegidos pelo governo, seus integrantes atacam o zapatismo desde a sua raiz. De vez em quando, a administração estadual monta espetáculos nos quais ex-integrantes deste grupo paramilitar entregam um punhado de armas às autoridades. Trata-se de manobras para ocultar o apoio que realmente lhe oferecem.

O governo de Chiapas e sua representação na assembléia legislativa são integrados por alguns dos mais raivosos membros da oligarquia local. Personagens racistas e repressores como Constantino Kanter e Roberto Albores Guillén gozam de grande influência na administração local. Esta recomposição nos primeiros escalões nada mais é a não ser um reflexo do fortalecimento dos grupos de interesses mais nefastos existentes nos municípios e nas regiões.

Longe de diminuir, a presença do Exército mexicano na área de influência zapatista tem se qualificado e fortalecido. Novos acampamentos e destacamentos têm apertado o cerco, auxiliados pelas novas estradas que, no lugar de promover o progresso, têm servido para que carros blindados e tropas possam circular.

Nós, abaixo-assinados, integrantes de Paz com Democracia, queremos unir nossas vozes às daqueles que, das várias trincheiras, alertam sobre uma nova forma de escalada da guerra em Chiapas. A exemplar autonomia zapatista está sendo desafiada, e, com ela, o conjunto do movimento social e suas alternativas. Hoje, mais uma vez, é necessário que nos mobilizemos em seu apoio».

Pelo grupo Paz com Democracia, Samuel Ruiz García, Raúl Vera López, Pablo González Casanova, Víctor Flores Olea, Juan Bañuelos, Carlos Fazio, Dolores González, Miguel Álvarez, Magdalena Gómez, Pablo Romo, Ana Esther Ceceña, Higinio Muñoz, Gilberto López y Rivas, Alicia Castellanos, Juan Brom, Oscar González, Jorge Fernández Souza, Miguel Concha Malo, José Antonio Almazán González, Paulina Fernández C., Guillermo Almeyra, Héctor de la Cueva y Luis Hernández Navarro.

Para conhecer as atividades da Outra Campanha, visite a página eletrônica:

http://enlacezapatista.ezln.org.mx

Você pode recuperar os textos já divulgados acessando o site:

http://groups.google.com.br/group/chiapas-palestina

Caso deseje, envie seus comentários diretamente ao e-mail corujavermelha@terra.com.br

As informações sobre a 2ª Edição ampliada do livro "EZLN: passos de uma rebeldia" podem ser obtidas junto à Editora Expressão Popular através do e-mail vendas@expressaopopular.com.br ou do telefone (11) 3112.0941.

UM TOUR PELO INFERNO

Por Tali Feld Gleiser.

Dunas, praias, montanhas e lagoas fazem parte da Lagoa da Conceição, um dos recantos mais belos da Ilha de Santa Catarina. Para conseguir voltar mais rápido a casa, o nosso laberíntico sistema de transporte me tem permitido visitar esse lugar tão belo do qual falei acima. A Lagoa sempre me comove. Sempre achei que conseguiria viver sem o mar, mas sem a lagoa e as montanhas, seria muito difícil. Na quinta-feira vim num ônibus com uns 12 israelenses, nacionalidade que se vê habitualmente por aqui. Idade? Idade dos que terminam o (des)serviço militar obrigatório daquele país. O serviço militar para os homens é de 3 anos e para as mulheres de 2. Embora, segundo dados do ano passado, um quarto dos israelenses que chegam aos 18 anos esquiva totalmente o Exército. Mas mesmo assim, os jovens seguem a "tradição" de viajar durante um ano após completarem o (des)serviço militar. Visitam, especialmente o continente americano. Me pergunto o que eles entendem de nós, especialmente depois que o meu primo teve a péssima idéia de ficar em casa durante 24 intermináveis dias, com todas as manias e falta de limites que muitos moradores dos kibbutzim1 têm.

Este grupo cantava e conversava em voz alta como se não houvesse outros passageiros no ônibus. Instantaneamente veio à minha mente Ehud Olmert e seu "se os carros não funcionam, os palestinos podem caminhar". Esta imagem era o contraste com as imagens que a paisagem nos brindava a mim e ao grupo de israelenses. Um sol radiante, o brilho da água. Quando viram que as dunas se aproximavam, ao mais puro estilo israelense, um deles gritou "Rega!" (Espere!) ao cobrador, como se ele soubesse hebraico. Eu os ajudei e puxei da cordinha para que eles descessem pulando e com os olhos resplandescentes, talvez se sentindo em casa em meio à areia. Alegres, bronzeados e saudáveis e correram até as dunas. Nesse momento lembrei de uma notícia que tinha lido de manhã antes de sair: "Qualquer um que violar as fronteiras do Egito terá as pernas quebradas. Não serão toleradas violações das fronteiras do Egito", declarou o ministro egípcio de Assuntos Exteriores, Ahmed Abul Gheit, em uma entrevista com a televisão pública egípcia. É claro que se referia aos palestinos que há duas semanas cruzaram pelo passo da Rafah para poder comprar alimentos, remédios e artigos de primeira necessidade que o bloqueio sionista não deixa entrar em Gaza.

A cada dia que passa me espanta mais a indiferença mundial. Agora é possível ver filmagens, fotos, ouvir depoimentos do sacrifício que os palestinos fazem para continuar vivos. Mas é claro, é o povo escolhido por deus quem ataca com bombardeios constantes, roubando a água potável, não permitindo a entrada de suprimentos, medicinas, deixando que os feridos morram sem atenção médica e o presente do povo palestino se extinga diante da indiferença generalizada. Do que se defendem os israelenses judeus? Não só dos estilingues, as pedras e os foguetes de curto alcance que lançam os palestinos. Se defendem da sua psique doentia, de estar repetindo os mesmos crimes que eles sofreram, de executar minuto a minuto um genocídio cuidadosamente planejado.

O Papa Ratzinger tem razão: o inferno existe e esse inferno se chama Gaza e Cisjordânia. Se chama África. Se chama Iraque. Se chama Afeganistão. Se chama Kurdistão. Se chama Colombia. O inferno está em toda parte onde o povo que habite nesse território não tenha direito a viver em paz com justiça e à sua auto-determinação. A igreja católica e o sionismo são sócios na venda de passagens pro inferno.

1. Em Israel, colônias agrícolas de produção e consumo comunitários, que com o tempo foram perdendo sua orientação socialista para substituí-la pela lógica do mercado.

A COLÔMBIA QUE MARCHOU E A QUE MARCHOU CONTRA OS QUE MARCHARAM

Por Fredy Muñoz Altamiranda - Rebelión.

Há, pelo menos, duas Colômbias. Uma que marchou e outra que não. Uma que votou e continuaria votando para manter um paramilitar e narcotraficante como Álvaro Uribe na presidência, e outra que continuará se opondo a ele, mesmo que assassinem seus filhos, roubem suas terras ou os deixem sem trabalho.

Há uma Colômbia de sentimentos patrióticos virtualizados, garotos e garotas de “bem” que diariamente se indignam, por meio do Facebook, da violência nacional, enquanto enviam à suas listas de e-mail e círculos de amizades eletrônicas, razões pelas quais se sentir orgulhosos do que crêem que é a Colômbia: Juanes, Shakira e Montoya.

Na outra Colômbia há pelo menos sessenta mil famílias que ainda esperam que os paramilitares amigos do governo mafioso de Uribe lhes digam onde enterraram os pedaços mutilados de suas vítimas. Em que fossa comum, de qual fazenda, de qual congressista uribista, estão os despojos de milhares de homens e mulheres, jovens e crianças que pertenciam a outra Colômbia, a que não marchou.

Como tampouco progrediram os camponeses assassinados na XV Brigada Móvel do exército colombiano, que conforme contou um dos próprios assassinos à Procuradoria Geral da Nação, o sargento Alexander Rodríguez, eram tiroteados para se fazerem passar por guerrilheiros e reivindicar cinco dias de descanso por cada morto.

A Colômbia das universidades privadas, dos empregos bem remunerados em lojas, centros comerciais, bancos e empresas prósperas da máfia, a Colômbia proprietária, a que disse poder viajar agora pelas estradas em suas caminhonetes blindadas para visitar suas propriedades de lazer em terras exclusivas do país, roubadas dos camponeses ou dos indígenas e hoje resguardadas por paramilitares, essa Colômbia marchou sim.

Os jovens de bairros que têm aulas nas universidades públicas, com uma passagem de ônibus no bolso e um café da manhã caseiro no estômago, os meninos e meninas que leram mais de um bom livro sobre a história e a origem de nossa violência, os que insistem na democracia participativa e nas mudanças estruturais de um país tomado pelo paramilitarismo, aos que Uribe nem seus assessores cínicos passam a perna, esses não marcharam.

Na minha terra, a Costa Atlântica, os uribistas pretenderam aproveitar a assistência do povo na programação multitudinária do Carnaval de Barranquilla, para fazer crer aos internautas que aquela manifestação cultural centenária e rica era produto de suas convocações virtuais. Mas, somente puderam fazer um rápido e desluzido desfile de carros luxuosos, de eleitores de Uribe que suspenderam a farra por quinze minutos e saíram para dar uma volta no quarteirão, tocando suas buzinas e tirando fotos com o telefone celular para mostrá-las no “Facebook” e dizerem que “milhões de colombianos marcharam”.

Mas houve uma Colômbia, entre estas duas que falei, que também marchou, para exigir a solução política negociada ao conflito armado, uma troca humanitária de prisioneiros, e a paz com justiça social que mantém em armas a outra Colômbia. E que se essa outra Colômbia armada saiu a marchar, saiu pelas montanhas e pelas selvas do país, a combater, como fazem diariamente, a mercenários estrangeiros, a oficiais e soldados, compatriotas cuja única alternativa de trabalho remunerado tem sido a guerra; e aos novos paramilitares que negociarão com Uribe novos benefícios, em um já lançado terceiro mandato.

Uma Colômbia que marchou (mas não por seguir o jogo do “Facebook”, a extensão da CIA cujos 16 sócios são agentes estadunidenses de inteligência estatal) em Washington cantava em coro: “Uribe, paraco, o povo está até o saco!”

Em Bogotá jovens do Sul da cidade marcharam como de costume nas tribos urbanas, pedindo paz, mas também justiça para seus amigos assassinados por paramilitares cúmplices da polícia, e apontados logo como delinqüentes dados de baixa ou resultado de ajustes de contas entre bandos (quadrilhas), quando realmente eram adolescentes irreverentes, em resistência ao controle social dos paramilitares em seus bairros.

A Colômbia que marchou, marchou convencida de que reelegirão Uribe para quatro anos mais de governo mafioso e paramilitar. Muitos, talvez não sejam conscientes disso.

A Colômbia que marchou contra a marcha de Uribe a realizou, em boa parte, para não serem apontados como amigos dos “violentos”, mas por outro lado para exprimirem saídas distintas ao unanimismo guerrerista.

E a Colômbia que não marchou espera que os ossos de seus familiares apareçam, ou que alguém diga, “Eu os matei” como já fez o narcotraficante, paramilitar e eleitor de Uribe, Hernán Giraldo com 37 assassinatos, entre eles o de Martha Lucía Hernández Turriago, ex-diretora do Parque Tayrona, e o do estudante Hugo Maduro, ex-membro da Juventude Comunista, e hoje uma soma a mais na estatística de um extermínio que não tem fim.

Versão em português: Vanessa Bortucan, Florianópolis.

Luiz Bonfá - O Violao e o Samba - 1962 - Vinil

Créditos: CápsulaDaCultura

1-Inquietação b
(Ary Barroso)
2-Nossos momentos
(Luiz Reis - Haroldo Barbosa)
3-Meu nome é ninguém
(Luiz Reis - Haroldo Barbosa)
4-Lamento no morro
(Tom Jobim - Vinicius de Moraes)
5-Pastorinhas
(João de Barro - Noel Rosa)
6-Você chegou sorrindo
(Luiz Bonfá)
7-Murmúrio
(Djalma Ferreira - Luiz Antônio)
8-Liberdade demais
(Hélio Nascimento - Mariano Filho)
9-Amor em Brasília
(Luiz Bonfá)
10-Saudade da Bahia
(Dorival Caymmi)
11-Copacabana
(Alberto Ribeiro - João de Barro)
12-Amor de solidão
(Maria Helena Toledo - Luiz Bonfá)

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O Cuco (2002) - (Kukushka)


Setembro de 1944, alguns dias antes da Finlândia sair da Segunda Guerra Mundial. Um sniper finlandês acorrentado a uma pedra, Veikko, conseguiu se libertar. Ivan, um capitão do Exército soviético, preso pela Polícia de Frente Secreta 'Smersh ', tem uma fuga de sorte. Eles são soldados dos dois exércitos inimigos. Uma mulher Lapp(região remota da Finlandia, com lingua propria: Sámi), Anni dá abrigo para eles dois em sua fazenda. Para Anni eles não são inimigos, mas apenas homens.
Créditos: MakingOff - dr.Strangelove
Gênero:
Drama / War / Comedy
Diretor: Aleksandr Rogozhkin
Duração: 99 min
Ano de Lançamento: 2002
País de Origem: Russia
Idioma do Áudio: Saami / Finnish / Russian / German
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0308476/

Qualidade de Vídeo:
DVD Rip
Vídeo Codec: DivX 5
Vídeo Bitrate: 825 Kbps
Áudio Codec: MPEG-1 Audio layer 3
Áudio Bitrate: 96 Kbps
Resolução: 708 x 384
Tamanho: 696.0 MiB
Legendas: Selecione
17 Prêmios:
http://www.imdb.com/title/tt0308476/awards

Se você está cansado do que Hollywood tem alimentado as massas por anos e anos, e está procurando uma alternativa fresca e original, assista a este filme. Excepcionalmente bem feito, poderoso, e ainda engraçado. Este filme está fàcilmente no nível de outras obras primas extrangeiras eu tive o prazer de assistir atenção nos passar dos anos - Elling, Amores Perros, Amelie, mama do tu de Y tambien. Preste-lhe atenção, e você não ficará decepcionado.

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terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Por que o Ocidente despreza o Islã

Nas simplificações grosseiras sobre o mundo árabe, a vítima oculta somos nós mesmos. Ao projetarmos sobre o outro nossa visão de atraso, intolerância e fundamentalismo, não enxergamos como estão sob ameaça os melhores valores de nossa civilização

Cláudio César Dutra de Souza, Sílvia Ferabolli

Khaled Hosseini é um fenômeno editorial. Suas duas últimas publicações, O Caçador de Pipas e A Cidade do Sol, figuram nas listas dos mais vendidos nos Estados Unidos, na Europa e no Brasil. A obra de Hosseini é lida por um público ávido por entender como vivem “os muçulmanos”. E ele parece cumprir muito bem o seu papel de (des)informar leigos pelo mundo sobre o que vem a ser o modus vivendi islâmico.

Talvez essa não tenha sido a intenção do autor. Em seus livros, ele parece ser muito claro em situar seus personagens no interior do Afeganistão, mas como o entendimento dos conceitos religiosos, étnicos e de identidade nacional que definem muçulmanos, árabes e afegãos não é o forte da maioria da população, acabam todos sendo identificados, sem distinção, como seguidores do Islã. Essa associação não é de todo incorreta, já que a maioria dos árabes são muçulmanos, assim como o são os afegãos. O grande problema é associar o Islã com os segmentos mais retrógrados e atrasados da sociedade afegã – algo como definir o cristianismo como a religião que queima mulheres e hereges em fogueiras, permite a escravidão e silencia frente aos horrores do holocausto.

Em seu Orientalismo, Edward Said mostrou como a representação literária dos povos orientais, especialmente dos muçulmanos, como bárbaros, primitivos, violentos, decadentes e irracionais legitimou os interesses dos grandes poderes da era colonial. No pós-11 de setembro, a mídia de massas retoma o projeto orientalista e passa a demonizar os muçulmanos com vistas a iniciar um novo ciclo histórico de dominação e subjugação, agora comandado pelos Estados Unidos. Árabes, afegãos, paquistaneses, indonésios, indianos, enfim, qualquer indivíduo que ostente um turbante ou véu na cabeça, ou que pelo menos pareça alguém que usaria esse tipo de vestimenta, é quase que automaticamente definido como fanático, fundamentalista, atrasado e, a palavra do momento, terrorista. O entendimento do cidadão médio, filtrado por aquilo que deve ser mostrado, constrói um Islã wahabista, pleno de explosivos Osamas e reprimidas mulheres sob véus; um povo que corta mãos de ladrões, apedreja condenados até a morte e proíbe, tal como os talibãs, qualquer forma de prazer e diversão. Não é a toa que temos O Livreiro de Cabul, Mulheres de Cabul, qualquer coisa de Cabul vira best-seller e abastece o imaginário de milhões de cidadãos no Ocidente que se horrorizam e se deliciam com esse tipo de representação do “muçulmano”.

Uma época na qual a racionalidade parece estar em extinção

Além de servir às práticas de dominação política, militar e cultural norte-americana, essas projeções do “outro” também servem para reforçar a nossa suposta normalidade em face de um contraponto tão bizarro. Gostamos de nos imaginar como filhos da modernidade, livres de superstições e paixões primitivas que um dia fizeram parte da nossa história, mas que hoje, enfim, libertos, avançamos em direção a uma liberdade nunca dantes sonhada, liberdade essa que foi duramente atacada em 11 de setembro de 2001 pelos fanáticos de Allah.

Mas, sejamos pragmáticos: o que o mundo livre tem a ver com dois prédios destruídos em Nova York ou o que eles simbolizavam? Ficamos menos livres a partir daquele momento? Estamos sendo ameaçados? A resposta, se é que existe apenas uma, seria que, efetivamente, uma parte do mundo está menos “livre”, mas isso diz respeito àqueles poucos que gozam dessa liberdade tão duramente conquistada através de séculos de exploração colonial, invasões e desrespeito à soberania de inúmeros povos, que agora se insurgem de uma forma desagradável para quem pensava que a história havia chegado ao seu fim com o triunfo do capitalismo liberal. Não estaríamos nos focando excessivamente no chamado “fanatismo religioso” muçulmano e esquecendo que vivemos em uma época no qual a racionalidade parece estar em extinção? Fanáticos islâmicos versus fanáticos judeus e suas intermináveis políticas fratricidas; fanáticos católicos irlandeses e norte-americanos; fanáticos amishes; um renascido em Cristo na Casa Branca e um Papa de passado duvidoso, tão ou mais fundamentalista em sua leitura tendenciosa do mundo contemporâneo quanto o mais caricato dos Aiatolás.

Fanáticos os temos para todos os gostos, com a diferença, alguém notará, que “os nossos” não explodem. Ledo engano. Norte-americanos e israelenses explodem a tudo e a todos que ousem ir contra os seus “interesses de Estado”. Os Estados Unidos “previnem” e Israel “se defende”, exatamente do quê? Sim, dos bárbaros, fanáticos e torpes muçulmanos cuja diversão e meta suprema são a de destruir a cultura e a liberdade democrática do Ocidente e, neste ínterim, vão todos à mesma vala comum, do intelectual muçulmano (sim, eles existem!), à mãe de família árabe chegando ao talibã mais raivoso, passando pelos casseurs franceses e suas demais ramificações européias – e contra todos eles é lançado o anátema de terroristas ou fanáticos muçulmanos, em uma das mais absurdas e brutais demonstrações de racismo, ignorância e manipulação midiática da atualidade.

Como se em nossa sociedade as mulheres vivessem em integridade absoluta

O modo como as mulheres muçulmanas são tratadas constitui-se em um escândalo, como se em nossas sociedades as mulheres vivessem em um patamar de integridade absoluto e não fossem estupradas, agredidas e mortas, não bastando isso, ganhassem menos, mesmo trabalhando mais do que os homens, e ainda tendo de se submeter a todo o tipo de tratamento estético, cirúrgico e dietético que já ceifaram a vida de milhares de fêmeas modernas – mortes nas mesas cirúrgicas de lipoaspiração; morte por distúrbios alimentares como bulimia e anorexia; morte por intoxicação de produtos químicos fortíssimos que visam alisar, afinar, reduzir, rejuvenescer e infantilizar cabelos, corpos e mentes.

Durante a guerra da Bósnia, dentre as tantas atrocidades perpetradas contra o povo muçulmano, talvez a pior tenha sido aquela cometida contra suas mulheres. Segundo Tadeusz Mazowiecki, investigador de Direitos Humanos da ONU, que se afastou do cargo em protesto contra a impotência da organização frente aos horrores da guerra, a "limpeza étnica" não foi resultado de ações militares, mas o objetivo principal do conflito. Os sérvios, na sua maioria cristãos ortodoxos, usaram o estupro sistemático como arma de terror para obrigar a população não-sérvia a deixar a região. Mais de 20 mil muçulmanas foram violentadas. Houve casos de mulheres inválidas torturadas com tesoura e cacos de vidro antes de serem mortas. Algumas mulheres escaparam da morte, mas não da humilhação. Quando se viram grávidas de seus estupradores, o bom Papa João Paulo II exortou-as piedosamente a não abortarem essas inocentes vidas, sob ameaça de excomunhão e de uma ida sem retorno para um lugar bem quente no outro mundo...

Aliás, a igreja católica não flexibiliza a proibição do aborto em casos de estupro, nem em casos de fetos anencéfalos e muito menos se a gravidez trouxer risco de vida à mãe. Efetivamente, o cristianismo representado pelo Vaticano não se constitui em nenhum exemplo de tratamento às mulheres que o faça estar em posição de tecer críticas ao Islã. Da mesma forma que não pode endossar a falácia de que o Corão exorta a violência, o genocídio e a usurpação e que a expansão islâmica se fez através da morte, da chacina e do roubo (a propósito: você já leu o Corão?). É necessário recordar que a expansão do cristianismo foi forjada no aço das espadas e à custa de milhões de vidas perdidas e, apesar da recomendação de amor ao próximo dos evangelhos canônicos, a imagem que parece ter sido desenvolvida pelo apologista Paulo de Tarso foi a do Cristo da Espada, o que expulsou os vendilhões do templo a chibatadas, um discurso bem mais palatável para um agonizante e bélico império Romano recém convertido por razões bem mais políticas do que de fé (a propósito: você realmente conhece a história do cristianismo?).

Hanna Arendt já denunciava lobby sionista e superfaturamento do Holocausto

Quanto aos judeus, se foram perseguidos também foram perseguidores e, como “povo eleito” foram intolerantes contra os “não eleitos”, vide a vergonhosa política israelense em relação aos palestinos, confinados em bantustões, segregados, marginalizados e humilhados em nome da proteção dos cidadãos de Israel – mas quem protegerá os palestinos do terrorismo de Estado israelense? (a propósito: você lê jornais?) Na década de 1960, Hanna Arendt já denunciava o lobby da comunidade sionista norte-americana em prol de Israel, o superfaturamento do Holocausto e a participação dos conselhos judaicos na eliminação de seu próprio povo na Alemanha nazista, o que lhe rendeu censuras e ameaças, semelhantes àquelas que Norman Finkelstein recebeu ao publicar A Indústria do Holocausto na década de 1990, denunciando o devir persecutório dos perseguidos além de uma série de outras distorções políticas e ideológicas que infelizmente fazem sofrer não apenas o povo palestino como igualmente a população judaica e israelense, à mercê da manipulação de sua própria história e de seu sofrimento por uma pequena elite religiosa.

Pode ser o Islã hoje um retrato daquilo que o Ocidente foi antes do advento das luzes, momento em que a religião possuía um efetivo poder político e transcendental sobre corações e mentes e que unia os cidadãos em verdadeiras comunidades, ao contrário de hoje, quando a idéia de Deus segue o princípio narcisista-individualista de nossos tempos? Irá o Islã, algum dia, secularizar-se e seus líderes religiosos tornarem-se uma espécie de fantoches nostálgicos como é o Papa na atualidade? Qualquer que seja o cenário a se desenhar no futuro próximo, ainda teremos muitos anos de teocracias e líderes espirituais de diversos matizes a explorar questões políticas e atuar sobre os excluídos da globalização sob a mediação do discurso religioso – mas o Islã não está sozinho no monopólio do irracionalismo! Essa exclusividade é real apenas no contexto rasamente etnográfico dos “romances de burca”, e é uma pena que a leitura desses livros outorgue a um número cada vez mais expressivo de pessoas viciadas em best-sellers o direito de julgar 1,3 bilhões de muçulmanos tendo como ferramenta analítica, única e exclusivamente, esses mal escritos recortes tendenciosos da realidade.

Passivamente assistimos ao preocupante desmonte de uma série de mitos fundadores da chamada civilização ocidental. Rasgamos a declaração universal dos direitos do homem, herança da revolução francesa, e parece que estamos em vias de reverter os processos de descolonização do pós-guerra, em uma retomada de práticas extrativistas, desrespeito a soberanias nacionais e tentativas de imposição de valores que visam aniquilar as diferenças e promover a intolerância ou algum suposto choque de civilizações. Não aceitar a confusão entre os conceitos de resistência e terrorismo; entender que as mulheres muçulmanas, na sua maioria, não vivem cobertas por burcas, mas são advogadas, engenheiras, médicas, cineastas, jornalistas e professoras com ativa participação em suas sociedades; e ousar duvidar do que nos é informado pelas agências de notícias e intelectuais de diversos matizes — comprometidos com seus governos e seus próprios preconceitos, agindo em uníssono a fim de que tenhamos medo daqueles que ousam contestar a posição vassala que lhes cabe no latifúndio mundial — é condição necessária para que possamos promover um verdadeiro diálogo entre o Islã e o mundo tributário do Ocidente que, para ser realmente livre, precisa aprender a conhecer, compreender e respeitar as diferenças culturais.

Bobby Timmons - Soul Time (1960)

http://i30.tinypic.com/2czub7s.jpg


Bobby Timmons - Soul Time (1960)


Músicos:
Bobby Timmons (piano);
Blue Mitchell (trumpet);
Sam Jones (bass);
Art Blakey (drums)

Gravado em Agosto de 1960.

Musicas:
1. Soul Time
2. So Tired
3. The Touch Of Your Lips
4. S'posin'
5. Stella B.
6. You Don't Know What Love Is
7. One Mo'

Dowloand abaixo:

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Acirra-se o conflito entre capital e trabalho



Escrito por Waldemar Rossi

Os trabalhadores da GM de São José dos Campos vêm resistindo às investidas da empresa para que abram mão dos seus direitos. Surge, então, uma convocação para um amplo movimento de solidariedade da classe e do movimento social com seus companheiros da GM. As notas abaixo falam mais que meus comentários.

Em defesa dos direitos e da livre organização da classe trabalhadora

Nas últimas semanas os operários que trabalham na General Motors do Brasil em São José dos Campos/SP têm resistido bravamente a mais uma ação do Capital que, para aprofundar a exploração contra a classe trabalhadora, lançou um pacote contra os trabalhadores.

A empresa, em meados de janeiro, anuncia para a cidade a contratação de 600 trabalhadores, condicionado a proposta à implementação do banco de horas, redução do piso salarial, congelamento de salários de um setor da produção e turno de 6x2. Além disso, oculta as demissões de 980 trabalhadores que efetuou no final de 2006 e que as contratações serão por prazo determinado de 1 ano.

O governo do PSDB na cidade chama a empresa e o Sindicato dos Metalúrgicos para "mediar um acordo" e oferece para empresa isenção de IPTU e redução de ISS. A empresa agradece, mas diz que depende da implementação das medidas contra os trabalhadores, para trazer "os empregos" para São José.

O debate sobre a GM toma conta da região e os trabalhadores dentro da fábrica sofrem a pressão das chefias diretas e da direção da empresa e mesmo assim resistem e enfrentam quatro assembléias, onde em todas elas a maioria dos operários votou contra a proposta de redução de direitos.

Importante dizer que há mais de 10 anos os metalúrgicos de Campinas, Limeira e São José dos Campos lutam contra a implementação do banco de horas que coloca a vida dos/as trabalhadores/as a mercê da empresa e aumenta o número de acidentes e doenças provocadas pelo trabalho. Lutam contra os patrões e por inúmeras vezes contra sindicatos da CUT, Força Sindical, que não só assinaram acordos como esse que a GM em São José apresentou, mas também entregaram direitos como estabilidade aos/às trabalhadores vítimas de acidentes e doenças provocadas pelo trabalho, além da redução de direitos nos acordos coletivos.

Basta olhar a situação dos trabalhadores nas outras plantas da GM e demais montadoras onde o banco de horas e a redução de direitos foram implementados. As empresas seguiram com as demissões e conseguiram o que mais buscavam, diminuir o valor da força de trabalho.

Bem perto de São José, na cidade de Taubaté, os trabalhadores na Volks sofreram com as demissões em 2006, tiveram salários reduzidos e a imposição do banco de horas e, nos últimos dias, mais um acordo foi assinado entre a empresa e o Sindicato, que inclui pagamento da PLR condicionado a trabalharem 33 sábados em 2008. No 2◦ semestre do ano passado, os metalúrgicos trabalharam todos os sábados.

É ação do Capital para superar suas crises cíclicas: expandir e aprofundar a exploração contra a classe trabalhadora: flexibilizar a jornada, diminuir salários e direitos. Contra isso é preciso avançar na unidade da classe para manter e ampliar direitos.

Intersindical construindo a unidade para enfrentar mais essa ação do capital

Essa investida da GM contra os/as trabalhadores/as na empresa não é um problema exclusivo dos operários que lá trabalham, mas sim um ataque ao conjunto da classe trabalhadora. Por isso a Intersindical tomou a iniciativa de chamar uma discussão com o movimento sindical e popular e construir uma campanha nacional em defesa dos direitos e da livre organização da classe.

Em defesa da livre organização sindical também, pois a Embraer, indústria do setor aeroespacial, impõe uma multa da ordem de 5 milhões de reais contra o Sindicato dos Metalúrgicos de SJC. A multa é por conta de uma ação movida em 99 pela empresa contra o Sindicato, que garante um interdito proibitório impondo multa a cada panfletagem, assembléia e mobilização realizadas na empresa. Essa é uma prática das empresas que conta com o apoio do Estado nas mais diversas categorias pelo país afora.

É por tudo isso que fazemos um chamado ao conjunto do movimento sindical e popular que não se renderam ao pacto entre o Capital e o Estado a se somarem em mais essa luta.

Uma Campanha Nacional que se inicia no ato que realizaremos no dia 21 de fevereiro em São José dos Campos no Sindicato dos Metalúrgicos a partir das 16:00 horas.

Os/as companheiros/s que estão em regiões mais distantes podem se somar a essa campanha denunciando esse ataque e apoiando a luta dos/as trabalhadores, nos seus jornais, mobilizações e enviando mensagens de solidariedade ativa a essa luta.

Juntos em mais essa batalha da classe!

Mais informações: Ana Paula 12-9762 7849

Mensagens podem ser enviadas ao Sindicato dos Metalúrgicos de SJC pelo e-mail:

secretaira@sindmetalsjc.org.br

A última fronteira

La frontera infinita”, transforma a migração de centro-americanos para os Estados Unidos através do México numa metáfora da condição humana universal nos tempos da globalização conservadora.

No sábado, 9 de fevereiro, entre as duas centenas de filmes ou mais apresentados

No Festival de Cinema de Berlim, filme do mexicano Juan Manuel Sepúlveda, “

na 58ª edição de Festival de Cinema de Berlim – a Berlinale – deu-se a estréia internacional do documentário “La Frontera Infinita”, do cineasta mexicano Juan Manuel Sepúlveda. Sepúlveda, nascido em 1980, é um dos diretores e produtores da nova geracäo mexicana, tendo em seu currículo alguns documentários e filmes produzidos ou dirigidos de 2005 para cá.

O foco do documentário é a migração de centro-americanos para os Estados Unidos através do México, vindos muitos de Honduras e da Guatemala, mas também de outros países. Inclusive o filme foca também a migração dos próprios mexicanos, no caso, de crianças e adolescentes que fogem de seus pais e de suas cidades.

Além de apontar para o grave problema social que está por trás, no meio e adiante dessa migração, o olhar do cineasta mexicano a transforma numa metáfora da contemporaneidade: junto da tragédia social, o filme adquire uma tonalidade épica, exibindo a férrea determinação daqueles que, sem nada ter, e tendo tudo a perder, se arriscam numa aventura em busca do futuro – de algum futuro, cada vez mais distante.

A divisão das perdas nessa dramática corrida em busca de alguma forma de sobrevivência é desigual. O filme começa mostrando os mais frágeis, divididos em dois grupos: as crianças e adolescentes que fogem de suas famílias mas são capturados e conduzidos a um abrigo que tenta devolve-los a seus pais; e os mutilados, aqueles que, tentando como muitos embarcar clandestinamente nos trens de carga acabam caindo, seja de sono ou por outra razão, e tem seus membros decepados pelas rodas da composição. Também comparece, nas primeiras cenas, a visão dos mortos pela polícia da imigração, além de tomadas patéticas da construção da nova cortina de ferro na fronteira dos Estados Unidos.

A linguagem cinematográfica de Sepúlveda é peculiar. Lenta, usando muito as tomadas com câmera fixa numa realidade tão “semovente”, ela prolonga os depoimentos, dando tempo a que as pessoas se expliquem, contem suas histórias, suas decepções e também sua determinação de continuar nas tentativas de atravessar a mirífica fronteira, que deixa de ser uma realidade concreta e passa a ser uma visão onírica.

Na segunda parte o filme se concentra nas viagens migratórias, onde se sucedem as caminhadas extenuantes e as invasões dos trens que passam pelos grupos fatigados. Num flash back muito interessante Sepúlveda exibe tomadas de trens invadidos por camponeses revoltados durante a revolução de 1910, que projetou o México em escala mundial na era das grandes revoluções, tanto no plano real quanto no cinema.

A viagem é fantástica. Premidos pela repressão do próprio México, estes viajantes devem atravessar milhares de quilômetros a pé e nessas caronas ferroviárias improvisadas e perigosas. Provocativamente, o filme se detém ainda a 4 mil quilômetros da fronteira dos Estados Unidos. A fronteira é um sonho distante; todos entregam sua causa “a Deus”, e prometem prosseguir depois se forem apanhados pelos “Migras”, a polícia aduaneira dos dois países, México e Estados Unidos; assim a viagem se torna o objetivo de si mesma. Ela se torna uma motivação, um estilo de vida, e muitos daqueles que ficam pelo caminho, mutilados ou detidos, se não morrem, constroem vidas para eles provisórias, pois a última fronteira guardam para si, aquela que eles decidiram atravessar ao se jogar nessa aventura tão precária quanto grandiosa.

Sepúlveda não aborda no filme o jogo perverso da verdadeira indústria de viagens que existe dentro e em torno desse drama, embora suas marcas estejam presentes, nas viagens arranjadas, nos ônibus semiclandestinos. Seu objetivo é mesmo ressaltar o caréter sobre-humano dessas opções tomadas in extremis, nas condições da falta de rumo a que a cena econômica condena milhões de pessoas. Todos os anos são 500 mil centro-americanos, sem contar os de outros países, como o Brasil, que navegam nessas trilhas dos novos “descobridores”. Muitos deles perecem. Alguns, como os meninos que dizem que seu sonho agora é voltar para casa, talvez se redescubram. Enfim, o filme é um depoimento pungente a vigoroso sobre a condição contemporânea.